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Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 335 As Diferenças Dialetais e Socioeconômicas Existentes na Sala de Aula: Um Olhar Acerca de uma Turma do Sétimo Ano d.o.i. 10.13115/2236-1499.v1n17p335 Raile Cabral Barbosa 1 - UPE Fernando Augusto de Lima Oliveira 2 - UPE Resumo Este trabalho está inserido na área da Sociolinguística Educacional e tem como principal objetivo refletir sobre a grande diversidade linguística que está presente nas salas de aula. A partir da aplicação de um questionário e uma sequência didática no ensino fundamental, mais especificamente no 7° ano, conseguimos mapear aspectos sócio econômicos de uma classe que tem interferências dialetais de estudantes oriundos do estado de Pernambuco e Alagoas. Através desses dados e de observação do uso linguístico dessa turma entendemos alguns aspectos referentes a linguagem utilizada refletindo sobre a importância do agir do professor de língua materna pensado através do reconhecimento das diferenças dialetais dos estudantes. Palavras-chave: Linguagem. Variação. Uso Linguístico. Ensino. Abstract This work is inserted in the area of Educational Sociolinguistics and its main objective is to reflect on the great linguistic diversity that is present in classrooms. From the application of a questionnaire and a didactic sequence in elementary school, specifically in the 7th year, we were able to map socioeconomic aspects of a class that has dialectal 1 Estudante do Curso de Licenciatura em Letras-UPE Campus Garanhuns. E-mail: [email protected] 2 Trabalho orientado pelo professor da Universidade de Pernambuco - Campus Garanhuns, Fernando Augusto de Lima Oliveira. Doutor em Linguística (UFAL) - perspectiva da Teoria da Variação Linguística.

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Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 335

As Diferenças Dialetais e Socioeconômicas Existentes na Sala de

Aula: Um Olhar Acerca de uma Turma do Sétimo Ano d.o.i. 10.13115/2236-1499.v1n17p335

Raile Cabral Barbosa1 - UPE

Fernando Augusto de Lima Oliveira2 - UPE

Resumo

Este trabalho está inserido na área da Sociolinguística Educacional e

tem como principal objetivo refletir sobre a grande diversidade

linguística que está presente nas salas de aula. A partir da aplicação de

um questionário e uma sequência didática no ensino fundamental, mais

especificamente no 7° ano, conseguimos mapear aspectos sócio

econômicos de uma classe que tem interferências dialetais de

estudantes oriundos do estado de Pernambuco e Alagoas. Através

desses dados e de observação do uso linguístico dessa turma

entendemos alguns aspectos referentes a linguagem utilizada refletindo

sobre a importância do agir do professor de língua materna pensado

através do reconhecimento das diferenças dialetais dos estudantes.

Palavras-chave: Linguagem. Variação. Uso Linguístico. Ensino.

Abstract

This work is inserted in the area of Educational Sociolinguistics and its

main objective is to reflect on the great linguistic diversity that is

present in classrooms. From the application of a questionnaire and a

didactic sequence in elementary school, specifically in the 7th year, we

were able to map socioeconomic aspects of a class that has dialectal

1 Estudante do Curso de Licenciatura em Letras-UPE Campus Garanhuns. E-mail:

[email protected] 2 Trabalho orientado pelo professor da Universidade de Pernambuco - Campus

Garanhuns, Fernando Augusto de Lima Oliveira. Doutor em Linguística (UFAL) -

perspectiva da Teoria da Variação Linguística.

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 336

interferences of students from the state of Pernambuco and Alagoas.

Through these data and observation of the linguistic use of this class

we understand some aspects referring to the language used reflecting

on the importance of the action of the mother tongue teacher thought

through the recognition of the dialectal differences of the students.

Keywords: Language. Variation. Linguistic Use. Teaching.

1. Língua: determinante de inclusão ou exclusão na escola?

Quando falamos em língua devemos observar as contribuições da

Linguística enquanto ciência que busca o estudo científico da língua e

linguagem humana. Percebemos então, que essa ciência estuda a língua

sob a perspectiva de diversas vertentes o que descaracteriza a difusão

de uma única definição para o termo.

A língua pode então, conforme Martelotta, Cunha e Costa (2011)

ser analisada a partir do aspecto estrutural, gerativo ou funcional. Pode

relacionar-se ainda, com outras áreas do conhecimento como: a

sociologia, que se interessa pela linguagem enquanto interação social;

com a filosofia, que se preocupa com a relação entre a linguagem e a

realidade; ou ainda com a psicologia, que procura entender o

funcionamento da mente humana no que se se refere à habilidade inata

dessa linguagem que é atribuída à capacidade do homem.

Diante disso, a Sociolinguística também apresenta uma definição

específica para o termo língua, uma vez que, considera os aspectos

sociais como significância para o estudo linguístico. Desta forma, “a

língua é uma instituição social, e portanto, não pode ser estudada como

uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da

cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de

comunicação. ” (Cezario e Votre 2011, pág. 141)

É nesse sentido que se torna imprescindível à análise do contexto

social de todos os falantes envolvidos em uma pesquisa de caráter

científico. Por isso, começaremos por avaliar quais são as

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 337

consequências de um ensino que pode acolher ou rejeitar determinados

usos linguísticos, próprios da comunidade de fala do aluno na escola.

Ao observamos a língua a partir de seu caráter social, não podemos

deixar de perceber a importância e o valor das variantes linguísticas que

representam a pluralidade e diversidade de toda língua observada e

estudada. No entanto, não há como imaginar um trabalho sobre

variação e preconceito linguístico sem antes fazer referência à inclusão

de políticas pedagógicas que desprivatizem a língua padrão e

democratizem o ensino de língua materna.

A instituição escolar tem a capacidade efetiva de trabalhar a

língua/linguagem sob o aspecto científico e democrático que considere,

sobretudo, a necessidade do ensino da língua padrão centrado e

orientado através do respeito à diversidade linguística e cultural.

Sabemos que o primeiro contato aluno-escola é essencialmente

oral, o que promove uma série de julgamentos atribuídos à pessoa que

fala e aos seus interlocutores incluídos no momento da interação verbal.

A acolhida do alunado no ambiente escolar pode, portanto,

tornar-se inclusiva ou excludente, se considerarmos a língua como fator

determinante. A escola aponta suas normas internas, apresenta os

professores e explica seu funcionamento através de uma linguagem

padrão que pode coagir o aluno a não comunicar-se com sua variante,

por medo de ser ridicularizado e exposto publicamente. Esse “medo”

pode então provocar o silenciamento deste aluno.

Diante disso, encontramos um agravante que ocorre quando a

coordenação pedagógica não tem orientação para trabalhar com a

variante (popular) do aluno, o que acaba por contribuir mais ainda com

a disseminação de discriminações no contexto escolar. Diante dessa

situação, na maioria das vezes, o trabalho com linguagem fica

exclusivamente sob responsabilidade do professor de português que

enfrenta uma série de dificuldades, como por exemplo: a falta de apoio

da coordenação, carência de material didático e entre outros.

Na verdade, é extremamente importante a observância do

sentimento de acolhida e respeito promovido pela escola com relação

aos estudantes, para que estes comecem a agir como protagonistas de

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 338

seus saberes. Nesse sentido, os discentes precisam perceber que suas

origens, cultura e linguagem são respeitadas para que se sintam parte

integrante do processo educacional. Na verdade, o que tende a

acontecer, como aponta Magda Soares (1999, p.15) é que:

Os padrões culturais das classes dominadas são

considerados como uma “subcultura” avaliada em

comparação com a cultura dominante, isto é, com

os padrões idealizados de cultura, que constituem

a cultura do grupo social e economicamente

privilegiados. É assim que a diferença se

transforma em deficiência, em privação, em

carência. Trata-se, na verdade, de uma atitude

etnocêntrica, para a qual ser diferente das classes

dominantes é ser inferior.

Percebemos então que a linguagem é considerada a partir da

atribuição de um valor social que privilegia determinada cultura em

detrimento de outra, fazendo com que a linguagem passe a ser vista

como fator determinante de inclusão ou exclusão dentro de um contexto

onde a variante do aluno pode ser respeitada ou estigmatizada,

possibilitando seu desenvolvimento ou coibindo suas ações.

Por isso, é importante que a escola reconheça o pluralismo

linguístico da língua portuguesa, procurando meios de tratar a

diversidade como riqueza linguística, cultural e social e não como

diferença, desigualdade ou privação. Nesse sentido, a escola também

acaba contribuindo para a erradicação de diferenças entre as classes

sociais e entre os diferentes grupos étnicos.

A língua dos diferentes grupos sociais ou das diferentes

comunidades de fala, também deve ser vista, como representação da

cultura, dos costumes e ideologias dessa comunidade linguística.

Discriminar a língua das comunidades de fala é descaracterizar os

parâmetros sociais desses grupos. Por isso, O PCN de Pluralidade

Cultural (1997, p.46) coloca que o trabalho com a diversidade

linguística é muito rico, uma vez que:

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 339

Tratando-se especificamente da temática das

línguas, abrem-se muitas possibilidades de

transversalização com Língua Portuguesa, por

exemplo, pela valorização de diferentes formas de

linguagem oral e escrita, pelo respeito às

manifestações regionais, pela possibilidade de

contato e integração com a diversidade de línguas

e linguagens presentes na vida de crianças e

adolescentes do Brasil.

Não podemos permitir jamais que as diferentes linguagens sejam

discriminadas pela escola contemporânea. Também não podemos

impedir que os alunos possam se expressar por meio de suas próprias

articulações linguísticas. A escola deve, portanto, ensinar a linguagem

padrão, como forma de possibilitar o pleno desenvolvimento linguístico

do alunado frente aos diferentes contextos sócio comunicativos,

respeitando também a linguagem já apresentada pelo aluno, enquanto

representação de seu contexto cultural.

2. As diferenças sociais no ensino público brasileiro: quais

impasses encontramos?

É importante salientar a observância de uma realidade plural no

ensino público brasileiro. Ou seja, precisamos reconhecer uma vasta

gama de diferenças econômicas e sociais que permeiam o ensino,

compreendendo a partir disso o quanto a língua está envolta em

questões socioeconômicas que regulamentam o desempenho

linguístico de todas as pessoas que estão envolvidas no âmbito escolar.

Para entendermos como as questões socioeconômicas agem no

desempenho de nossos estudantes, podemos analisar as seguintes

realidades colocadas por Cagliari (2009, p. 19):

Uma criança que viu desde cedo sua casa cheia de livros,

jornais, revistas, que ouviu histórias, que viu as pessoas

gastando muito tempo lendo e escrevendo, que desde cedo

brincou om lápis, papel, borracha e tinta, quando entra na

escola, encontra uma continuação do seu modo de vida e

acha muito natural e lógico o que nela se faz. Uma criança

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 340

que nunca viu um livro em sua casa, nunca viu seus pais

lendo jornal ou revista, que raramente viu alguém

escrevendo, que jamais teve lápis e papel para brincar, ao

entrar para a escola sabe que vai encontrar essas coisas lá,

mas sua atitude em relação a isso é bem diferente da

criança descrita anteriormente.

A partir desses pressupostos notamos que a escola recebe diferentes

classes sociais que segundo Bagno (1999) apresentam linguagens

socialmente prestigiadas ou estigmatizadas. Diante disso, podemos

considerar ainda, a afirmação de Bernstein apud Soares (1999, p.23),

que aponta “a existência de diferentes tipos de linguagem,

determinados pela origem social, e propõe uma relação causal entre a

classe social a que pertence a criança sua linguagem e seu rendimento

escolar. ”

Na verdade, enxergamos uma realidade brasileira que nem

sempre permitiu às camadas populares o acesso a escolarização. Temos

nesse sentido profundas desigualdades sociais arraigadas no nosso

sistema de ensino, e é somente através das legislações federais que nos

asseguramos do acesso à escolaridade e instrução. É por meio de

documentos normativos como a: Constituição Federal de 1998, que

encontramos a garantia de um ensino público e gratuito como direito

de todos e dever do Estado; na LDB (Lei de Diretrizes Básicas) de

1996, que temos a regulamentação das relações do sistema educacional,

e no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) de 1990, que nos

asseguramos do direito à educação das crianças e dos adolescentes.

O atual panorama de ensino sofre sérios problemas ou

dificuldades como: a desvalorização do profissional da educação,

modificação das relações familiares, formação continuada,

metodologia de ensino autoritária e centrada no professor, além da falta

de estrutura da maioria das escolas.

Todas essas dificuldades repercutem de uma maneira

avassaladora no aluno, principalmente o aluno das classes populares,

que encontram na escola um meio de ascensão social e de acesso aos

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 341

bens culturais. Essa situação também acaba por gerar o fracasso escolar

que vem sendo amplamente discutido pela educação.

Uma forma de erradicar ou minimizar o fracasso escolar das

classes populares em nosso país encontra-se na exigência de efetivação

das legislações vigentes e no encontro com uma pedagogia de ensino

que considere as antagônicas relações sociais. Amaro (1997 p. 28)

mostra que: Devido à prevalência de casos de evasão e repetência

escolar entre alunos pobres, pode-se deduzir daí que o

fracasso escolar tem sido historicamente uma questão de

classe social, agravada pela falta de uma política

educacional comprometida com os interesses e

necessidades dessas populações.

No que tange ao ensino de língua materna percebemos que as

discussões sobre variação e ensino não vêm recebendo a devida

atenção, o que acaba por configurar uma situação complicada e pouco

esclarecedora a respeito do domínio das classes sociais privilegiadas

exercido sobre a linguagem efetivamente reconhecida (língua padrão).

Para Soares (1999, p.77):

É que o ensino de língua materna, entre nós, vincula-se a

uma pedagogia conservadora, que vê a escola como

instituição independente das condições sociais e

econômicas, espaço de neutralidade, de que estariam

ausentes os antagonismos e as contradições de uma

sociedade dividida em classes.

Para compreender o ensino de língua portuguesa e as relações

que o regulamenta precisamos entender as relações políticas e sociais

presentes em uma sociedade capitalista que interfere

consideravelmente no entendimento e no uso da linguagem. Essas

relações políticas acabam por legitimar uma língua padrão em

detrimento de outra língua não padrão que acaba sendo estigmatizada e

sofrendo discriminações linguísticas e sociais.

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 342

Diante disso, visualizamos a urgente necessidade de políticas

pedagógicas que considerem a realidade cultural do aluno como fator

importante para a elaboração de didáticas que tenham como principal

objetivo o domínio pleno e efetivo dos conhecimentos linguísticos.

Deve-se ainda fazer observância de uma metodologia que consiga

incluir o respeito à linguagem não padrão, trazida pelo aluno,

promovendo também o domínio das normas urbanas de prestígio.

3. A escola e a comunidade de fala em estudo

Esta pesquisa foi desenvolvida na Escola Plácido Firmino de

Oliveira situada no distrito de Lagoa de São José, cidade de Bom

Conselho – PE. Pela lei municipal nº 34, de 29-11-1948, foi instituído

o distrito de Lagoa de São José, que conta com o quantitativo de dez

sítios adjacentes. São eles: Sítio Salgadinho, Sítio Brito, Sítio

Marcelina, Sítio Alto do Frutuoso, Sítio Caetano, Sítio Carneiro, Sítio

Oliveira, Sítio Tabocas e Sítio Serrinha. No entanto, a escola abriga

também a comunidade do distrito de Igreja Nova que inclui os Sítios

Cancelas, Boa Sorte e Monte Alegre, além dos alunos que vêm da Serra

das Pias, cidade do estado de Alagoas, que faz fronteira com o

município. Observe no mapa abaixo a localização do distrito com

relação ao município:

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 343

O município de Bom Conselho tinha a meta projetada de

conseguir o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) no

valor de 3,0 pontos para o ano de 2011. Naquele ano, o IDEB alcançado

foi de 2,9 o que deixou o município abaixo da meta por um décimo. No

entanto, a Escola Plácido Firmino de Oliveira alcançou neste mesmo

ano o IDEB de 3,5, superando a meta que foi estipulada para a escola

que era de 2,9.

O mais novo IDEB de 2013 mostra que a escola diminuiu

consideravelmente seu rendimento, pois a meta para este ano era de 3,2,

com a obtenção de 2,2 pontos somente. A nota padronizada e especifica

de língua portuguesa foi de 3,1 pontos, ficando abaixo da nota de

matemática que foi de 3,4. O rendimento escolar baseado na taxa de

Fonte: Google Maps

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 344

aprovação dos alunos do ensino fundamental da escola para o ano de

2013 foi de 0,68 ficando assim sob o resultado de 2011 que foi de 0,78.

Atualmente, a Escola Plácido Firmino de Oliveira atende a

quantidade de duzentos e quarenta e dois alunos e é responsável pelo

ensino fundamental I e II e pela Educação de Jovens e Adultos (EJA)

no ensino fundamental.

A infraestrutura da escola conta com: quatro salas de aula, sala

de secretaria, da direção, dos professores e de informática que por

enquanto se encontra inutilizada. Tem ainda sala de almoxarifado,

banheiros dentro do prédio, pátio coberto, cozinha e quadra esportiva.

São vinte funcionários que trabalham na escola e a comunidade escolar

dispõe de alimentação, e biblioteca para leitura de livros, revistas e

material didático. A escola também faz uso de equipamentos

audiovisuais (Datashow, caixa de som, aparelho de DVD, televisão e

computadores para uso dos professores e coordenação). Os alunos,

porém, não tem acesso à internet, que fica restrita aos docentes e a

coordenação, nem ao laboratório de informática que se encontra

desativado.

No que se refere ao município de Bom Conselho contamos com

os seguintes dados em educação (IBGE 2012)3:

i. Docentes por nível: 84 (oitenta e quatro) professores da

pré-escola, 376 (trezentos e setenta e seis) professores

do ensino fundamental e 60 (sessenta) professores de

ensino médio.

ii. Números de escolas por nível: 43 (quarenta e três)

escolas de ensino pré-escolar, 54 (cinquenta e quatro)

escolas de ensino fundamental e 3 (três) escolas de

ensino médio.

iii. Matrículas por nível: 1.375 (mil trezentas e setenta e

cinco) matrículas na pré-escola, 8.664 (oito mil

3Todas as informações descritas nesse trabalho sobreo município de Bom

Conselho foram dispostas pelo último censo do IBGE (2012).

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 345

seiscentos e sessenta e quatro) no ensino fundamental e

1.464 (mil quatrocentos e sessenta e quatro) no ensino

médio.

Através da coleta de dados no site do IBGE (2012), percebemos

que o ensino majoritário do município é o ensino fundamental, que

conta com a maior quantidade de escolas, professores e matrículas.

Diante disso, optamos por fazer um trabalho no 7° ano do ensino

fundamental II da escola supracitada para fins de pesquisa e análise

sobre a variação linguística e sua relação com o processo de ensino-

aprendizagem. 3.1 Os estudantes

Os discentes envolvidos na pesquisa estão matriculados no

sétimo ano do ensino fundamental, são majoritariamente oriundos da

área rural, com idade entre 13 e 16 anos. Em sua maioria, a turma

provém da rede pública de ensino, e não apresenta índice de evasão

escolar, no entanto, alguns repetiram, uma ou de vezes o ano letivo,

conforme a representação nos gráficos abaixo:

33,3%

66,7%

Localização dos alunos

ÁreaUrbana

Área Rural

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 346

Através do exposto acima percebemos que existe uma

percentagem maior daqueles alunos que estão localizados na área rural.

Nenhum aluno reprovou mais de duas vezes o ano letivo e somente

5,5% dos alunos repetiram duas vezes mesmo ano letivo numa série

escolar. No geral, temos uma percentagem de 66,7% de alunos que

nunca reprovaram com relação a taxa de 27,8% de estudantes que

repetiram o ano letivo em algum momento de sua vida estudantil.

A renda mensal familiar desses alunos varia de um a mais de

dois salários mínimos e seus pais apresentam formações variadas que

vão desde o ensino fundamental I até o ensino superior completo. Suas

situações profissionais da mesma maneira variam consideravelmente

segundo a representação gráfica descrita abaixo:

0,0%20,0%40,0%60,0%80,0%

Nenhumavez

Uma vez DuasVezes

Mais deduasvezes

66,7%

27,8%

5,5% 0%

Índice de Reprovação

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

Menos de umsalário minímo

Mais de umsalário minímo

Mais de doissalarios minímos

44,4%52,8%

2,8%

Renda Mensal Familiar

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 347

No que diz respeito às condições financeiras ou salariais

notamos que apenas 2,8% das famílias recebe mais de dois salario

mínimos e que 44,4% das famílias recebe menos de um salário mínimo

como renda fixa e mensal.

Os dados sobre a escolaridade dos pais mostram uma grande

disparidade ente os dois extremos do gráfico. Diante disso, temos

52,9% de pais com ensino fundamental I incompleto em contrapartida

com 2,9% de pais com ensino superior. No que se refere a profissão

desses pais temos funções variadas indicando a percentagem de: 53%

agricultores, 11% desempregados, 8% autônomos, 7% motorista, 6%

moto táxi, 6% pedreiros, 3% serventes, 3% operadores de produção,

3% caminhoneiro e 3% recepcionistas.

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%52,9%

19,4%

8,3%5,5% 5,5% 5,5%

2,9%

Escolaridade do Pai

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 348

Agricultor 53%

Recepcionista 3%

Autônomo 8%

Caminhoneiro 3%

Motorista 7%

Moto táxi 6%

Servente 3%

Pedreiro6%

Operador de Produção (empresa

de alimentos)3% Desempregado

11%

Profissão do Pai

Autônoma11%

Doméstica 11% Agente

comunitária de saúde

3%Agricultora

17%

Assistente social 5%

Professora 3%

Desempregada (dona do lar)

50%

Profissão da mãe

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 349

Quando analisamos os dados referentes a escolaridade das mães

percebemos também uma diferença de 41,6% de mães com ensino

fundamental I incompleto com relação a 2,9% de mães com ensino

superior concluído. Os valores obtidos através da análise da profissão

das mães conferem a percentagem de: 50% de mães desempregada e

dona do lar, 17% agricultora, 11% doméstica, 11% autônoma, 5%

assistente social, 3% agente comunitária de saúde e 3% professora.

São estudantes que leem e que apresentam pela sua maioria um

gosto mais acentuado pela leitura de gibi ou histórias em quadrinhos.

Através da aplicação do questionário, eles afirmaram gostar mais de

leitura, do que gramática ou produção de texto. O gosto pela leitura dos

alunos dessa turma divide-se basicamente em leituras de: revista (1

aluno), histórias em quadrinhos ou gibis (20 alunos), cordel (1 aluno),

jornal (3 alunos), poesia (4 alunos), livros no geral e histórias de terror

(2 alunos), fábula (1 aluno), romance (1 aluno), livros didáticos de

história (2 alunos) e sites da internet (1 aluno).

0,00%5,00%

10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%40,00%45,00% 41,60%

19,40% 16,60%11,10%

2,90% 5,50% 2,90%

Escolaridade da mãe

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 350

No que se refere ainda ao cuidado ou acompanhamento dos pais

para com rendimento escolar dos discentes percebemos que existe uma

preocupação e um cuidado constante. Abaixo temos a representação

gráfica da situação:

0,0%

100,0% 55,7%16,6%27,7%

Frequência com que você conversa com seus pais

sobre assuntos da escola

Sempre Às Vezes Nunca

0

5

10

15

20

Revis

ta

His

tória e

m…

Cord

el

Jorn

al

Poesia

Liv

ros/H

ist…

Liv

ros/H

ist…

bula

Rom

ance

Liv

ros d

e…

Sites d

a…

1

20

13 4

1 2 1 1 2 1

O que você gosta de ler?

0,0%

100,0% 52,8% 41,7%5,5%

Frequência com que seus pais vão às reuniões de sua escola

Sempre Às Vezes Nunca

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 351

Ao averiguar a relação pais-alunos-escola observamos uma

frequência de 69,5% de pais que sempre procuram se informar sobre o

resultado de seus filhos com relação a 11% de pais que nunca

procuraram saber. Temos ainda a frequência de 52,8% de pais que se

preocupam com as tarefas escolares, 55,7% de pais que conversam com

seus filhos sobre assuntos da escola e 52,8% de pais que vão às reuniões

escolares. A partir disso, notamos que no geral há um envolvimento

considerável entre pais e escola.

Quando questionados sobre variação linguística, obtemos

resultados bem diversos quanto à afirmação de conhecimento sobre a

temática. No que se refere ao conhecimento da norma padrão, todos os

alunos disseram não conhecer o seu conceito ou significado.

0,0%

100,0% 69,5%

19,4% 11,1%

Frequência com que seus pais procuram se informar sobre os

resultados de sua avaliação

Sempre Às Vezes Nunca

0,0%50,0%

100,0%

Gramática Leitura Produção deTexto

8,3%

69,5%22,2%

Qual o conteúdo de Língua Portuguesa você mais gosta?

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 352

Ao analisarmos o conhecimento sobre variação e preconceito

linguístico dos alunos do sétimo ano constatamos que a maioria não

sabia do que se tratava. É interessante visualizar que apesar de termos

a percentagem de 61,1% de estudantes que não sabiam o que é

preconceito linguístico, obtemos a mesma percentagem com afirmação

de que já sofreu algum tipo de discriminação com relação ao seu jeito

de se comunicar.

40,0%

45,0%

50,0%

55,0%

Sim Não

47,2%

52,8%

Você sabe o que é variação linguística?

0,0%

100,0% 52,8%33,3% 13,9%

Frequência com que os pais se preocupam com as tarefas

escolares

Sempre Às Vezes Nunca

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 353

Outro aspecto importante foi a constatação de uma grande

maioria de alunos que acreditavam que deve-se falar do mesmo modo

que escrevemos. Nesse sentido, tivemos a afirmação de 61,1% de

alunos que pensam que fala e escrita devem ser semelhantes. Outra

0,0%

50,0%

100,0%

Sim Não

38,9%

61,1%

Você já ouviu falar sobre preconceito

linguístico?

0,0%

50,0%

100,0%

Sim Não

38,9%61,1%

Você já sofreu algum preconceito decorrente da

discriminação em relação ao seu jeito de se comunicar? Ou

mesmo a sua fala?

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Sim Não

0%

100%

Você sabe o que é norma padrão?

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 354

vertente muito dispare foi a percentagem de 100% de alunos que não

sabiam o que era norma padrão. Isto significa dizer que nenhum aluno

já ouviu falar sobre isso na escola ou em práticas cotidianas.

Essa pesquisa se torna interessante a partir do momento em que

abrange alunos de diversas comunidades de fala.

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

Sim Não

61,1%

38,9%

Você acha que devemos falar do mesmo jeito que escrevemos?

21

21

51

22

111

32

111

0 5 10 15

Sitío Carneiro (comunidade de Lagoa de São José)

Sitío Boa Sorte (comunidade de Lagoa de São José)

Sitío Marcelina (comunidade de Lagoa de São José)

Sitío Brito (comunidade de Lagoa de São José)

Sitío Salgadinho (comunidade de Lagoa de São…

Sitío Olho de Água Velho (comunidade de Lagoa…

Igreja Nova (distrito de Bom Conselho)

Bom Conselho

Local de residência dos alunos

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 355

Percebemos então que a turma do sétimo ano da Escola Plácido

Firmino de Oliveira recebe um discente da sede de Bom Conselho que

migra para o distrito por questões de parentesco e familiaridade, além

disso contamos com alunos do distrito de Igreja Nova que não dispõe

do ensino fundamental II em sua localidade. Sem contar é claro, com

os estudantes da área urbana e rural do distrito de Lagoa de São José,

onde a escola está situada, e com estudantes da cidade de Alagoas que

por proximidade e preferência optam por estudar no distrito de Lagoa

de São José, pertencente ao município circunvizinho (Bom Conselho).

4. Considerações finais

Essa pesquisa nos fez entender que as distinções sócio econômicas

pensadas numa dimensão extralinguística interferem na fala do falante

de uma forma bem particular e significativa. Dessa forma,

consideramos de extrema importância uma abordagem pedagógica

sensível à percepção de diferenças linguísticas no contexto escolar.

Além disso, é preciso considerar a existência de distintas abordagens a

respeito da Língua Portuguesa que precisam ser consideradas para a

construção de um entendimento mais consciente e efetivo da nossa

língua materna. Refletir sobre variação linguística é pois, antes de mais

nada perceber que a língua muda da escrita para a fala mas

principalmente que muda através do uso particular de cada falante dessa

língua mãe que é tão multifacetada e plural.

Por outro lado, pensar em sociolinguística é admitir a influência de

variáveis externas à língua como fatores que dão significado ou

explicação sobre o porquê da ocorrência de mudanças ou variações que

acontecem não só na Língua Portuguesa, mas em outras línguas como

o espanhol, o inglês e o italiano por exemplo.

Essas informações sobre os estudantes do sétimo ano não

representam apenas dados numéricos, mas para além disso a evidência

do perfil de uma turma que pretende avançar no nível de compreensão

da língua vista como objeto de estudo do ensino de português. Dessa

Diferenças Dialetais e Socioeconômicas ... – Barbosa & Oliveira

Revista Diálogos – mar./abr.-2017 – n.° 17 356

forma, ressaltamos a importância do reconhecimento do professor para

com seus estudantes nas dimensões social, econômica e educacional.

E por fim, não teríamos como terminar essa reflexão sem pensar na

importância do desenvolvimento de atividades educacionais que tentem

contribuir de alguma forma com o ensino e mais especificamente com

o ensino público brasileiro que deve ser visto como um laboratório de

análise para constantes mudanças e aprimoramento afim de que se

possa contribuir de forma cada vez mais significativa para os estudantes

inseridos em sua rede.

5. Referências

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20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação

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