as dicotomias saussureanas

4
5/26/2018 AsDicotomiasSaussureanas-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/as-dicotomias-saussureanas 1/4 1 AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS Ferdinand Saussure amplia o horizonte dos estudos linguísticos e mostra que cabe à Linguística ir além do mero estudo dos signos e assim ele estabelece as suas dicotomias que vamos ver a seguir: I. Semiologia/Linguística; II. Signo: Significado/Significante; III. Arbitrariedade/Linearidade; IV. Linguagem: Língua/Fala; V. Sincronia/Diacronia; VI. Sintagma/Paradigma. I – SEMIOLOGIA/LINGUÍSTICA A Semiologia é a teoria geral dos signos, em que consistem e as leis que os regem. Portanto, difere da Linguística por um alcance maior; a Linguística não é senão uma parte dessa ciência geral. Enquanto a Linguística limita-se ao estudo científico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-se não apenas com essa linguagem, mas também com a dos animais e de todo e qualquer sistema de comunicação, seja natural ou convencional. Assim exposto poder-se-á entender que a Semiologia contém a Linguística. No entanto, se formos investigar as teorias de Saussure poderemos encontrar que Saussure considera a soberania da Linguística sobre a Semiologia, num certo aspecto. É que, pelo facto de Saussure não ter tido conhecimento das teorias que já haviam sido divulgadas de Platão a Pierce, ele deduziu que ainda não haviam sido desenvolvidas as bases da ciência que estuda os signos que precisava ser criada. Ele pensou que a Linguística, como já estava bem desenvolvida, poderia servir de apoio para a criação dessa nova ciência, a qual ele designou Semiologia. Daí, a ideia defendida por ele, de que a Linguística, neste aspecto, é soberana à Semiologia. Obs.: Há dois termos: Semiologia (surge na Europa, com Saussure) e Semiótica (nos Estados Unidos, com Peirce). Mas como vos disse durante as aulas, podem utilizar tanto a Semiologia quanto a Semiótica para designarem a ciência dos signos. II. SIGNO: SIGNIFICADO/SIGNIFICANTE O signo linguístico para Saussure é a união do conceito com a imagem acústica. O conceito (ou ideia) é a representação mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada pela formação sócio-cultural que nos cerca desde o berço. Noutras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado (plano das ideias), algo como o lado espiritual da palavra, sua contraparte inteligível, em oposição ao significante (plano da expressão), que é sua parte sensível.

Upload: magustharoth

Post on 16-Oct-2015

7 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

AS DICOTOMIAS SAUSSUREANASFerdinand Saussure amplia o horizonte dos estudos lingusticos e mostra que cabe Lingustica ir alm do mero estudo dos signos e assim ele estabelece as suas dicotomias que vamos ver a seguir:I. Semiologia/Lingustica;II. Signo: Significado/Significante;III. Arbitrariedade/Linearidade;IV. Linguagem: Lngua/Fala;V. Sincronia/Diacronia;VI. Sintagma/Paradigma.

I SEMIOLOGIA/LINGUSTICAA Semiologia a teoria geral dos signos, em que consistem e as leis que os regem. Portanto, difere da Lingustica por um alcance maior; a Lingustica no seno uma parte dessa cincia geral. Enquanto a Lingustica limita-se ao estudo cientfico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-se no apenas com essa linguagem, mas tambm com a dos animais e de todo e qualquer sistema de comunicao, seja natural ou convencional.Assim exposto poder-se- entender que a Semiologia contm a Lingustica. No entanto, se formos investigar as teorias de Saussure poderemos encontrar que Saussure considera a soberania da Lingustica sobre a Semiologia, num certo aspecto. que, pelo facto de Saussure no ter tido conhecimento das teorias que j haviam sido divulgadas de Plato a Pierce, ele deduziu que ainda no haviam sido desenvolvidas as bases da cincia que estuda os signos que precisava ser criada. Ele pensou que a Lingustica, como j estava bem desenvolvida, poderia servir de apoio para a criao dessa nova cincia, a qual ele designou Semiologia. Da, a ideia defendida por ele, de que a Lingustica, neste aspecto, soberana Semiologia.Obs.: H dois termos: Semiologia (surge na Europa, com Saussure) e Semitica (nos Estados Unidos, com Peirce). Mas como vos disse durante as aulas, podem utilizar tanto a Semiologia quanto a Semitica para designarem a cincia dos signos.

II. SIGNO: SIGNIFICADO/SIGNIFICANTEO signo lingustico para Saussure a unio do conceito com a imagem acstica. O conceito (ou ideia) a representao mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representao essa condicionada pela formao scio-cultural que nos cerca desde o bero. Noutras palavras, para Saussure, conceito sinnimo de significado (plano das ideias), algo como o lado espiritual da palavra, sua contraparte inteligvel, em oposio ao significante (plano da expresso), que sua parte sensvel.Por outro lado, a imagem acstica no o som material, coisa puramente fsica, mas a impresso psquica desse som. Melhor dizendo, a imagem acstica o significante. Com isso, temos que o signo lingustico uma entidade psquica de duas faces que esto intimamente unidas e uma reclama a outro. No h significado sem significante.Exemplificando, quando algum recebe a impresso psquica transmitida pela imagem acstica (ou significante) /kpw/ graas qual se manifesta fonicamente o signo copo, essa imagem acstica, de imediato, evoca-lhe psiquicamente a ideia de recipiente utilizado para beber algo. Poderamos dizer que aquilo que o falante associa com o significante /kpw/ corresponderia ao significado Vaso (em espanhol), Glas (em alemo) ou Glass (em ingls).

III. ARBITRARIEDADE/LINEARIDADEO signo lingustico (como j vimos no post anterior), arbitrrio, quer dizer que o significado no depende da livre escolha de quem fala, logo o significante imotivado, isto , arbitrrio em relao ao significado, com o qual no tem nenhum lao natural na realidade. Desse modo, compreendemos porque que Saussure afirma que a ideia (ou conceito ou significado) de mar no tem nenhuma relao necessria e interior com a sequncia de sons, ou imagem acstica ou significante /mar/. Em outras palavras, o significado mar poderia ser representado perfeitamente por qualquer outro significante, da as diferenas entre as lnguas: Mar em ingls Sea, em francs, Mer, em alemo See.O princpio da linearidade que se aplica s unidades do plano da expresso (fonemas, slabas, palavras), por serem estas emitidas em ordem linear ou sucessiva na cadeia da fala, sendo o princpio das relaes sintagmticas (que vamos ver mais a frente). Aqui, importante perceber eu os significantes acsticos, as palavras, formam uma cadeia com uma ordem linear especfica. O Significante, porque de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo e ao tempo vai buscar as suas caractersticas: representa uma extenso e essa extenso mensurvel numa s dimenso. uma linha, ou seja, o Significante existe no espao e na circunstncia e tem uma durao comea e acaba. O discurso reproduz-se na nossa prpria existncia.Os elementos dos significantes acsticos fonemas, slabas, palavras apresentam-se uns aps os outros, tal como podemos comprovar facilmente pela escrita, onde a linha espacial dos sinais grficos substitui a sucesso no tempo. Todos assumem lgica quando proferidos porque apresentam essa mesma ordem, que sugere um sentido compreendido inconscientemente pelo nosso conhecimento de uma determinada lngua.

IV. LINGUAGEM: LNGUA/FALADicotomia fundamentada na oposio social/individual. Saussure afirma que a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossvel conceber um sem o outro, alm disso, implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evoluo: a cada instante, ela uma instituio atual e um produto do passado.A lngua, sendo um produto social da linguagem e um conjunto de convenes necessrias, adotadas pelo corpo social para permitir o exerccio dessa faculdade nos indivduos, existe na coletividade sob a forma de sinais depositados em cada crebro, mais ou menos como um dicionrio, cujos exemplares todos idnticos, fossem repartidos entre os indivduos. Na condio de bem comum, a lngua traz consigo toda a experincia histrica acumulada por um povo durante sua existncia. E a residem as particularidades de cada uma, cujas expresses somente podem ser compreendidas pelos seus falantes nativos, alm das dificuldades para se traduzirem certas expresses que lhe so prprias. Saussure ainda nos ilustra que, se fosse possvel abarcar a totalidade das imagens verbais armazenadas em todos os indivduos, atingiramos o liame/a ligao social que constitui a lngua, afinal ela no est completa em ningum, s na massa que ela existe de modo completo. Dessa forma, mesmo estando internamente armazenada, o indivduo por si s, no pode nem cri-la nem modific-la; ela no existe seno em virtude de uma espcie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade, afinal a lngua a parte social da linguagem, logo exterior ao indivduo.A fala, ao contrrio da lngua, por se constituir de atos individuais, torna-se mltipla, imprevisvel, irredutvel a uma pauta sistemtica. Os atos lingusticos individuais so ilimitados, no formando um sistema. Os fatos lingusticos sociais, bem diferentemente, formam um sistema, pela sua prpria natureza homognea. Vale ressaltar, no entanto, que tanto o funcionamento quanto a explorao da faculdade da linguagem, esto intimamente ligados s implicaes mtuas existentes entre os elementos lngua (virtualidade) e fala (realidade).NOTA: A fala individual e se efetiva no momento em que o falante a concretiza se expressando atravs da lngua. Comporta muitas variantes, dialetos e idioletos. Estes, porm, no alteram a lngua, que um sistema social, independente dos indivduos.

V. SINCRONIA/DIACRONIAPara entend-la, nada melhor que remontar a origem dessas palavras. Ambos os termos so gregos, sendo sincronia construdo de syn "juntamente" e chronos "tempo", significando "ao mesmo tempo", enquanto em diacronia parte-se de dia "atravs" e chronos "tempo", significando "atravs do tempo".Ora, a lingustica diacrnica estudaria, pois, a lngua e suas variaes histrico-temporais, enquanto a lingustica sincrnica estuda a lngua em um certo momento, sem importar a sua evoluo temporal. No importa para a sincronia, por exemplo, que "caligrafia" tenha significado, em um certo tempo, "escrita bela", pois que, ao contrrio da diacronia, aquela se preocupa com a lngua isolada do seu processo de mudanas histricas.Saussure, portanto, considera sincronia o eixo das simultaneidades, no qual devem ser estudadas as relaes entre os fatos existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema lingustico, que pode ser tanto no presente quanto no passado. Noutras palavras, sincronia sinnimo de descrio, de estudo do funcionamento da lngua.Por outro lado, no eixo das sucessividades ou diacronia, o linguista tem por objeto de estudo a relao entre um determinado facto e outros anteriores ou posteriores, que o precederam ou lhe sucederam. E Saussure adverte que tais fatos (diacrnicos) "no tm relao alguma com os sistemas, apesar de os condicionarem". Em outras palavras, o funcionamento sincrnico da lngua pode conviver harmoniosamente com seus condicionamentos diacrnicos.Acrescente-se ainda que a diacronia divide-se em:Histria Externa (estudo das relaes existentes entre os fatores scio-culturais e a evoluo lingustica); eHistria Interna (trata da evoluo estrutural fonolgica e morfossinttica da lngua).VI. SINTAGMA/PARADIGMAAs relaes associativas/combinatrias so sintagmticas. As relaes de coisas que podem ocupar o mesmo lugar, que so relaes de escolha, so paradigmticas. facilmente entendvel com alguns exemplos. Vejam um exemplo semelhante ao que vos dei na aula:Usou o martelo pesado.Levei esse prego enferrujado.Roubaram aquela perfuradora grande.Estragaste este alicate vermelhoRelaes Paradigmticas: "usou", em opo a "levei, roubaram, estragaste"; "o" em opo a "esse, aquela, este"; "martelo", em opo a "prego, perfuradora, alicate" e "vermelho" em opo a "pesado, enferrujado, grande, vermelho".Relaes Sintagmticas: "Usou o martelo pesado.", em opo a "Usou o pesado martelo" ou "martelo pesado o usou".Toda a frase, segundo essa dicotomia no apenas frases, mas tambm palavras e at signos extralingusticos , possui dois eixos: um de seleo (Paradigma) e outro de combinao (Sintagma).Na frase "Eu comprei um carro novo", h possibilidades combinatrias claras, tais como "Um carro novo eu comprei" (mudana de ordem das palavras tem a ver com a linearidade, vista anteriormente) ou outras, como ao acrescentarmos novos termos (paradigmas) orao. Tambm h quase inumerveis possibilidades seletivas, tais como: "eu / ele / tu / Joo / Dina - comprou / vendeu / roubou / explodiu - um / dois / trs / muitos - carros / foguetes / caminhes- novos / velhos / antigos / raros". O eixo de seleo, proposto pela relao paradigmtica, corresponde s palavras que podem ocupar determinado ponto numa sentena/frase.

Fonte: http://semiotica-unicv.blogspot.com.br/2010/05/as-dicotomias-saussureanas.html Acessado em 30/09/2011 - 17h: 00min. (Adaptado pelo professor).