as cores das milÍcias de jesus de nazarÉ: uma … · a busca pelas origens dos primeiros...

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NEARCO – Revista Eletrônica de Antiguidade 2014, Ano VII, Número I – ISSN 1972-9713 Núcleo de Estudos da Antiguidade Universidade do Estado do Rio de Janeiro 213 AS CORES DAS MILÍCIAS DE JESUS DE NAZARÉ: UMA ABORDAGEM SOBRE A PLAUSIBILIDADE HISTÓRICA E TEOLÓGICA DAS ORIGENS SOCIOÉTNICAS DOS SEGUIDORES DO MESSIAS João Batista Ribeiro Santos 1 RESUMO A busca científica do Jesus histórico tem fornecido farto material para a pesquisa dos efeitos diretos provocados por aquele movimento messiânico. Mas, para quem quer evitar qualquer tipo de proselitismo, ainda restam perguntas sem resposta. Entendemos que historicamente pode-se fazer grandes descobertas em território sírio. Assim sendo, partindo de documentos legais e evidências sociais, procuramos abordar as origens identitárias dos primeiros seguidores de Jesus de Nazaré. Palavras-chave: Cristianismo primitivo; Etnicidade; Crítica social RÉSUMÉ La recherche scientifique du Jésus historique a fourni suffisamment d'éléments de recherche sur les effets directs causés par ce mouvement messianique. Mais, pour ceux qui veulent éviter toute forme de prosélytisme, il y a des questions encore sans réponse. Nous croyons que historiquement on peut faire de grandes découvertes en territoire syrien. Par conséquent, à partir de témoignages et de documents juridiques, nous cherchons à traiter les origines sociales de l'identité des premiers disciples de Jésus de Nazareth. Mots-clés: Christianisme primitive; Ethnicité; Commentaire social 1 Mestre em Ciências da Religião, com especialidade em literatura e religião no mundo bíblico, pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e mestre em História, com especialidade em história antiga, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected]

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  • NEARCO Revista Eletrnica de Antiguidade 2014, Ano VII, Nmero I ISSN 1972-9713 Ncleo de Estudos da Antiguidade Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    213

    AS CORES DAS MILCIAS DE JESUS DE NAZAR: UMA ABORDAGEM SOBRE A PLAUSIBILIDADE HISTRICA E TEOLGICA DAS ORIGENS SOCIOTNICAS DOS SEGUIDORES DO MESSIAS

    Joo Batista Ribeiro Santos1

    RESUMO

    A busca cientfica do Jesus histrico tem fornecido farto material para a pesquisa dos efeitos diretos provocados por aquele movimento messinico. Mas, para quem quer evitar qualquer tipo de proselitismo, ainda restam perguntas sem resposta. Entendemos que historicamente pode-se fazer grandes descobertas em territrio srio. Assim sendo, partindo de documentos legais e evidncias sociais, procuramos abordar as origens identitrias dos primeiros seguidores de Jesus de Nazar.

    Palavras-chave: Cristianismo primitivo; Etnicidade; Crtica social

    RSUM

    La recherche scientifique du Jsus historique a fourni suffisamment d'lments de recherche sur les effets directs causs par ce mouvement messianique. Mais, pour ceux qui veulent viter toute forme de proslytisme, il y a des questions encore sans rponse. Nous croyons que historiquement on peut faire de grandes dcouvertes en territoire syrien. Par consquent, partir de tmoignages et de documents juridiques, nous cherchons traiter les origines sociales de l'identit des premiers disciples de Jsus de Nazareth.

    Mots-cls: Christianisme primitive; Ethnicit; Commentaire social

    1 Mestre em Cincias da Religio, com especialidade em literatura e religio no mundo bblico, pela

    Universidade Metodista de So Paulo (UMESP) e mestre em Histria, com especialidade em histria antiga, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected]

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    Os senhores me desculpem. Mas, devido ao adiantado da hora,

    me sinto anterior s fronteiras (Carlos Drummond de Andrade)

    A busca pelas origens dos primeiros cristos no mais permite aos textos do Novo

    Testamento, como documento textual, a ltima palavra para os pressupostos quanto

    interpretao de testemunhos arqueolgicos, necessrios para procedimentos

    cientficos em relao lonjura histrica do evento narrado. Para a reconstruo

    histrica a cultura material e o contexto das periferias siro-palestinas, muito mais do

    que centros urbanos como Jerusalm e Tiberades, permitem-nos processar o

    desenvolvimento do movimento liderado por Jesus de Nazar, ou Jesus, o Nazareno

    (Ieson tn aut Nazarth/Ieson tn Nazoraon). Para o Paulo Augusto de Souza

    Nogueira (2010, 19-21), ao separar-se do judasmo, seu horizonte fundante, o

    cristianismo formativo ganha autonomia e torna-se helenstico-romano, trafegando do

    particular para o universal. Essa expanso no diminui a pertena dos grupos

    populacionais perifricos ao verdadeiro Israel, mesmo com a dupla peculiaridade em

    relao ao judasmo rabnico, assinalada por Paulo Nogueira (2010, 27), ou seja, a

    submisso poltico-militar aos romanos e a interao cultural com o mundo

    helenstico-romano. Com base nisto, no quadro da evoluo histrica dos tempos os

    acontecimentos escatolgicos, t eschta (as ltimas coisas), a evidenciao de

    eschtos krnos (o ltimo tempo), com Jesus de Nazar passam a designar eschtos

    kairs (o tempo justo) e o prprio Jesus torna-se o novum ultimum.

    Apercebidos da ruptura em construo, nem mesmo a complexidade religiosa

    delimitadora dos ambientes de atuao de Jesus consegue desassociar os seguidores,

    pois eles tm em comum a insatisfao com a opresso romana e com a excluso do

    judasmo templar, motivo pelo qual muitos grupos tornam-se guerrilheiros. Mas a

    esperana messinica o decisivo fator de convergncia ao lder. A escatologia judaica

    pode explicar o fenmeno marcado pela vinda do Messias, como evento essencial.

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    de sua caracterstica romper com o tempo cclico e apontar para um tempo final sem

    sair da histria, nada de mitos e ritos (LE GOFF, 2012, 328), pois o Jesus histrico,

    que como qualquer pessoa faz parte de histria, no sendo outra coisa que uma

    pessoa histrica, foi removido da ordem mtica (STEGEMANN, 2012, 26). Quanto a

    isso, a constatao de Franois Chtelet (1996, t. 1, 23) de que na viso hebraico-crist

    o esprito o formador do futuro humano como tal,2 ainda que aqui possa ser vista

    retrospectivamente como um laivo metafsico no denominador da filosofia da histria,

    no o contradiz. Dada a sua importncia, o evento torna-se determinante para a

    humanidade, produo da histria, mesmo sem uma causa que comprove a

    temporalidade como projetada (CHTELET, 1996, t. 1, 25-30). Assim a presena de

    Jesus de Nazar pe fim espera e a esperana, que se tornara o prius, desata o n da

    hesitao formada pelos anncios tradicionais dos messias. A partir desta concepo

    torna-se possvel ao Filho do Homem, o prprio Deus, rejeitar a designao

    monrquica de filho de Davi (LE GOFF, 2012, 329); por isso os espoliados o seguem,

    sem o perigo da escravido.

    Como lembrou com justeza Wolfgang Stegemann (2012, 29), a pesquisa

    histrica sobre Jesus de Nazar representa uma construo no interesse perspectivo

    de seus autores, assim sendo, buscaremos o que Franois Chtelet (1996, t. 2, 394-

    402) chamou de considerao historiogrfica dos fatos, possibilitada atravs de

    uma associao da vida poltica como tal, necessria para o pensamento cientfico da

    histria, para ento apresentar uma hermenutica do documento cannico de Mateus

    4.23-25 e seus reflexos na sociedade hodierna.

    2 Para Franois Chtelet (1996, t. 1, 23), refletir sobre o pensamento cristo faz parte da constituio do

    esprito do historiador.

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    INTERAES SOCIOTNICAS SOB A TEXTUALIDADE TEOLGICA

    As bases bblicas que permitem uma abordagem cientfica da justia em favor do

    pobre e de lutas de libertao, em que a teologia seja encontrada em dilogo

    multidisciplinar com as cincias humanas, tm origem nas leis cuneiformes sumrias,

    que tambm influenciaram as leis assrias, babilnicas e hititas.

    Siete son los cdigos o recopilaciones de leyes en escritura cuneiforme de los que hasta el momento tenemos noticia: las Leyes de Ur-Namma y las Leyes de Lipit-Itar en lengua sumeria; las Leyes de Enunna, las Leyes de Hammurapi, las Leyes Asirias y las Leyes Neobabilnicas en lengua acadia; y las Leyes Hititas en lengua hitita. Los siete documentos presentan los suficientes rasgos comunes como para agruparlos en un nico gnero literario, en el cual habra que incluir tambin los dos de la Biblia (xodo 21.222.6; Deuteronomio 21.125.11) y el cdigo romano de Las Doce Tablas (c. 450 a.C.). En efecto, La formulacin de la ley en el antiguo Israel procede de una tradicin legal a la que pertenecen los cdigos cuneiformes, cuyos primeros testimonios fueron las leyes sumerias, y que probablemente tuve su influencia en la primitiva ley romana (MOLINA, 2000, 17).

    Dos cdigos de leis (MOLINA, 2000) destacamos dois pargrafos das leis de Lipit-

    Itar (quinto rei da I Dinastia de Isin, c. 1934-1924); sobre a compra-venda ou

    arrendamento de terrenos: 11 Si un hombre le daba su huerto en alquiler a un

    horticultor para que lo cultivase, el horticultor le garantizaba al dueo del huerto que

    (ste) obtendra, en dtiles, la dcima parte de las palmeras; sobre o pagamento de

    impostos: 23 Si el dueo de una hacienda, o la duea de una hacienda, no

    satisfaca los impuestos por dicha hacienda (y) otra persona se haca cargo (de

    pagarlos), (el dueo o la duea) no era desahuciado a lo largo de tres aos; (si pasados

    estos tres aos) el hombre que haba pagado los impuestos por la hacienda tomaba

    posesin de la hacienda, el dueo de la hacienda no haca ninguna reclamacin. H

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    em um cdigo de leis que tem sido considerado como fragmento das leis de Ur-

    Namma (primeiro rei da III Dinastia de Ur, c. 2113-2096), mas cujo rei-autor

    annimo, que destacamos dois pargrafos sobre o cultivo de roas: 1 Si un

    hombre [...] la hacienda de (otro) hombre, [...] su hacienda, (entonces) el propietario

    del grano pretaba juramento (y) el propietario de la hacienda [...] el grano-...; 2 Si

    un hombre [...] la hacienda de (otro) hombre, ... [...] el testigo ... [...], (entonces) el

    propietario de la hacienda *...+ grano all. Apenas estes exemplares de prtica legal

    so suficientes para dimensionar o carter humanitrio favorvel sobrevivncia do

    pobre das leis sumrias que influenciaram diretamente jurisconsultos do antigo

    Oriente-Prximo por mais de dois milnios.

    A prtica legal remonta poca de Yemder Nasr, cerca de 3000-2900 a.C., cujos

    textos so denominados kudurru, e os documentos privados comearam a aparecer

    em uruppak, cerca de 2600-2450 a.C. (MOLINA, 2000, 26-27). Em situao existencial

    um tanto diferente, mas geogrfica e politicamente semelhante, os mnemones

    israelitas, sacerdotados e historiadores-juristas deuteronomistas responsveis pela

    tradio legal bblica, apresentam Deus como aquele que intervm histrica e

    inexoravelmente em favor do miservel; sua sentena deve ser conhecida a partir de

    um juzo sem associao com as justias retributiva e distributiva, que pode ser

    definida a priori como justitia adiutrix miseri. Para Rinaldo Fabris (1991, 23), o motivo

    de aqueles que esto em uma situao de misria e humilhao terem a preferncia

    de Deus est no modo de agir de Deus; eles so o alvo para onde a gratia enviada,

    cujo intuito evitar que continuem representando um problema socioeconmico.

    No desenvolvimento deste pressuposto, definidor das motivaes relacionais

    dos seguidores de Jesus de Nazar, a camada literria de redao mateana

    denominada de Bem-aventurana a preleo para o empoderamento guisa de

    artilharia para as milcias (SANTOS, 2010), porque as fragilidades devem ser

    transformadas em fora. Em vista disto, tanto para a abordagem das socioetnias

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    quanto para o problema das relaes humanas o documento cannico de Mateus

    4.23-25 constitui fonte indispensvel:

    4.23 E circulava em toda a Galileia ensinando nas sinagogas deles e anunciando o evangelho do reino e curando toda doena e toda fragilidade no povo. v. 24 E saiu a fama dele para toda a Sria, e trouxeram a ele todos os que passavam mal [tos kaks echontas], com vrias doenas, e afligidos por torturas [basnois sunechomnous] [e] endemoninhados e lunticos [seleniazomvous; talvez, epilpticos+ e paralticos, e curou a eles. v. 25 E seguiram a ele muitas multides da Galileia e Decpolis e Jerusalm e Judeia e alm do Jordo.3

    Como a indicao territorial do texto recai na Sria, o movimento de Jesus

    extrapola a Galileia (ZEILINGER, 2008, 10);4 portanto, entre os seus seguidores esto

    pessoas oriundas da regio mais intertnica do antigo Oriente-Prximo.5 So

    3 Traduo literal realizada do evangelho segundo Mateus 4.23:

    . v. 24 [] , . v. 25 (ALAND, Barbara; ALAND, Kurt; KARAVIDOPOULOS, Johannes; MARTINI, Carlo M.; METZGER, Bruce M. (eds.). The New Testament Greek. 4

    th rev. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft,

    1993).

    4 Em contrrio, Anthony J. Saldarini (2000, 132): O apelo e a reciprocidade mais amplos de Jesus ao

    mundo no judeu so sugeridos por diversas notaes geogrficas na introduo de Mateus ao ministrio galileu de Jesus (4,23-25). Primeiro, est dito que Jesus percorre toda a Galileia, o que exagero, pois suas viagens limitaram-se, na maior parte Baixa Galileia e regio nordeste. Depois, consta que sua fama espalhou-se por toda a Sria, com o que provvel que o autor queira dizer o norte da Galileia, talvez at Antioquia. Por fim, multides, no s da Galileia, mas at da Decpole, ao sul e ao leste da Galileia, de Jerusalm e da Judeia e da regio alm do Jordo (Pereia) seguiam Jesus. provvel que devamos entender que as multides que vm da Galileia, da Pereia e da Decpole sejam judaica. A Sria, onde a fama de Jesus se espalhou, tinha populao diversificada, at mesmo importante minoria judaica. O contedo judaico das prelees e revises legais no suficiente para afirmar a univocidade das multides, ainda porque as multides ouvem com distino a Jesus. Concordamos, entretanto, com a interpretao posterior de Saldarini, quando afirma que a mesma multido que desce do norte e encontra-se com os demais grupos populacionais forma a audincia do Sermo da Montanha.

    5 H uma vasta bibliografia sobre as regies que compreendem o antigo Oriente-Prximo, da qual

    destacamos: LIVERANI, Mario. Antico Oriente: storia, societ, economia. Biblioteca Storica Laterza. 8. ed.

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    encontrados entre antigos srios os maiores grupos populacionais do antigo Oriente,

    dentre eles os abiru, qualificados operrios em terra e mar, alm de guerrilheiros

    contra foras de ocupao imperiais no Mediterrneo, e os campesinos e beduinos

    mediterrneos designados pelos egpcios de 3w/shasu. Foi no territrio srio que

    floresceu um dos maiores imprios antigos, Khatt/Hitita, e o comrcio com os

    imprios mesopotmicos Assria e Babilnia, alm das relaes internacionais com a

    sia Menor, envolvendo compra e venda de minrios, tecidos, madeira e outros

    produtos. Na Transjordnia esto os citadinos moabitas, edomitas e amonitas, e os

    campesinos amalequitas, ambos antigos inimigos dos israelitas. Desse movimentado

    mundo, do qual o Egito participava ora como aliado, ora como potncia invasora,

    cristalizou a maior simbiose tnica e cultural que se tem notcia no Mediterrneo at a

    emergncia do Imprio Romano.

    Com referncia a esse processo, todos os protetorados estabelecidos na Sria-

    Palestina durante o primeiro milnio a.C. (neoassrio, neobabilnico, persa,

    macednio/grego e romano), por seus povoamentos coloniais, por um lado, e

    ocupaes administrativas e militares, por outro, intensificaram as transies

    identitrias, mormente a fluidez tnica dos grupos populacionais autctones, e

    transformaram o meio ambiente. Esse mundo se mantm complexo, e s um olhar

    panormico politicamente atento e radicalmente crente capaz de perceber

    compreensivamente, mesmo em perspectiva, a construo multitnica empreendida

    por Jesus de Nazar atravs das multides que o seguem, sua capacidade de liderar

    Roma: Editori Laterza, 2009; PEYRONEL, Luca. Storia e arqueologia del commercio nellOriente antico. Roma: Carocci Editore, 2008; MICHEL, Ccile. Au-del des frontires: le commerce des assyriens en Asie Mineure au dbut du IIe millnaire av. J.-C. In: NOBRE, Chimene Kuhn; CERQUEIRA, Fabio Vergara; POZZER, Katia Maria Paim (ed.). Fronteiras e etnicidade no mundo antigo. Anais do V Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Clssicos. Pelotas, 15-19 de setembro de 2003. Pelotas, RS: Editora e Grfica da Universidade Federal de Pelotas; Canoas, RS: Editora da Universidade Luterana do Brasil, 2005. p. 69-86.

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    comunitariamente tantos quereres polticos e saberes religiosos, tantas divergncias e

    convergncias ontogenticas.

    J. Andrew Overman (1999, 70-71) apresenta uma panormica geogrfica das

    transformaes demogrfica e poltica a que chega a Sria-Palestina. Overman afirma

    que o movimento de Jesus de Nazar estabeleceu-se na Baixa Galileia, sua extenso

    para a fronteira galileia-libanesa foi uma exceo; apesar das conhecidas romarias de

    seguidores da Decpole, muita gente vinha do litoral de Tiro e Sidnia. Isso explica-se

    pelo fato de ser mais fcil o trnsito leste-oeste, pois no possui altiplanos

    semelhana das faixas centrais norte-sul que dificultam as viagens a p. Outro dado

    relevante, pouco difundido, que a Baixa Galileia no era um conjunto isolado e

    atrasado de aldeias. Alm de uma importante estrada construda pelos romanos para

    as suas guarnies, na cidade porturia de Aco iniciava uma estrada que passava por

    Nazar, Can, Naim, chegava ao lago da Galileia e seguia para Damasco, na Sria.

    Distante cinco quilmetros de Nazar, Sforis foi um centro cultural, administrativo e

    poltico com vida urbana luxuosa, que teve como rival Tiberades, uma cidade com

    qualificaes de capital com palcio e governante, senado e conselho municipal,

    frum e fortaleza. Overman ainda lembra que foi nesse meio ambiente e contexto que

    Jesus empreendeu a sua misso, Mateus escreveu seu evangelho e os rabinos

    fundaram o judasmo rabnico.

    Com esse olhar atento, vemos descer ao encontro de Jesus os moradores da

    Sria, rumo Galileia no entorno do vale do Jordo, onde encontram-se com os

    descendentes dos antigos samaritanos e os jerosolimitas, o povo dalm Judeia e,

    completando o generoso colorido tnico e cultural, as populaes transjordanianas.

    So fugitivos dos romanos e emigrados? A narrao mateana tem o propsito de

    demonstrar a abertura da sua ekklesa, conceito e membresia fundante, mas

    mormente dizer que houve uma difuso de seres humanos pagos e judeus do

    norte da frica, do Mediterrneo e Egeu, da Mesopotmia e da sia Menor que, ao

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    receberem a bendio de Jesus de Nazar, tornam-se as suas milcias6 e

    posteriormente se fazem Reino de Deus.

    Apesar de conceitualmente operar dentro do tempo e dos paradigmas judaicos,

    sem alinhar-se, Jesus de Nazar circulou fora das fronteiras polticas de Israel. Era

    notria a existncia de judeus na Cesareia de Filipe e na Sria, inclusive em contato

    com comerciantes fencios nos limites de Tiro, mas nunca nos centros urbanos,

    sempre nas pequenas aldeias rurais espalhadas pelo interior. O que parece incentivar

    as peregrinaes pelas aldeias proibidas so, paradoxalmente, os textos rabnicos que,

    ao favorecer o arrocho tributrio, colocavam as terras srias no mesmo parmetro das

    terras nos arredores de Jerusalm; nessa mesma linha, no que tange observao da

    Hallakah, a Sria era vista como parte da terra de Israel (FREYNE, 2008, 74). Destarte,

    no apenas as identidades mas tambm as fronteiras eram fludas e estavam em

    constante transio. Projetando o cenrio, Sean Freyne (2008, 88) diz que a imagem

    de Abrao viajando por uma terra habitada por diversos grupos tnicos, inclusive

    inimigos tradicionais do Israel histrico, e encontrando o Deus que guiava as suas

    viagens em muitos pontos desse territrio, ressoa, com efeito, de modo marcante em

    diversos pontos da histria de Jesus. Da, a nosso ver, a resoluta indistino de Jesus

    ao conceder o direito diferena, no qual todos so filhos de Abrao.7

    Ao trazer o encurvado (heb.: anaw; gr.: sugkptousa)8 para o contexto do

    uis (filho), Jesus opera no domnio da histria social siro-palestina uma

    ressemantizao para a designao de filho na mesma medida em que far com

    6 A pesquisa que desenvolvemos com o tema especfico das Bem-aventuranas comprovou que as

    milcias aludidas por Jesus de Nazar no eram designao de anjos, mas representava a sua multido de seguidores que estava disposta a morrer por ele (SANTOS, 2010).

    7 Mas esta, filha de Abram, sendo a quem de fato Satans prendeu dezoito anos (Lucas 13.16); *...+

    porque tambm este filho de Abram (Lucas 19.9).

    8 Nesta ampla categoria esto presentes o pobre, o marginal social e o doente. Na experincia

    cotidiana das sociedades mediterrneas do sculo I, doentes crnicos so exemplos expressivos para o grupo dos pobres (veja apenas Mt 4.23s) (STEGEMANN, 2012, 423, n. 890).

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    abba (pai) e com makarisms (bendio). Alis, existem muitas bem-aventuranas

    nas literaturas e inscries tumulares judaicas e gregas, como declaraes a homens

    que obtiveram sucesso profissional, agraciados com uma mulher virtuosa, filhos bem-

    educados etc. Contudo, as bem-aventuranas de Jesus de Nazar (Mateus 5.3-12;

    texto mais antigo: Lucas 6.20-23) no so literatura sapiencial, mas ditos (logia)

    profticos (BORNKAMM, 2005, 132; SANTOS, 2010). Considerando o tema das

    relaes cotidianas, nas informaes do captulo 4.24-25 do evangelho segundo

    Mateus est a introduo das bem-aventuranas enunciando a origem, ao menos

    em parte, dos bem-aventurados. Alm disso, os kerigmata remontam em parte ao

    prprio Jesus de Nazar.

    A multido presente nomeada como [vs] os pobres [em esprito] de carter

    social e econmico, ou seja, os que esto propensos a fazer a vontade de Deus;

    portanto, nada de um grupo religioso, camada social ou populao tnica unvoca.

    Dirigem-se queles que nada tm a esperar do mundo, mas que dependem e esperam

    tudo de Deus; que no podem viver sem a justia que somente Deus pode estabelecer

    no mundo. Nas qualificaes acrescidas pobres em esprito e puros de corao

    h uma clara chamada de ateno aos religiosos, pois a questo distintiva e pode,

    portanto, excluir a qualquer tempo tantos deles. Temos aqui a confirmao de que o

    Nazareno no demonstra nenhum interesse pelo domnio intemporal de Deus,

    totalmente tomado pela ativa espera de seu anunciado domnio soberano que influi

    sobre o hoje histrico (BARBAGLIO, 2011, 294). Isso no se d ao acaso, Jesus elabora

    os seus logia s margens beneficiado, em aparente paradoxo, pela tendncia de

    diferenciao entre poder e religio praticada pelo judasmo, que tem uma religio e

    um templo prprios mas no domina o sistema poltico (THEISSEN, 2009, 124).

    importante acentuar que os protestos no violentos de Jesus contra as

    camadas dirigentes de todos os segmentos da sociedade, inserindo no Reino de

    Deus as populaes marginalizadas, no tm carter apoltico, apenas no age

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    segundo a poltica de um mundo cujo poder maligno e cujo domnio demonaco. H

    questionamentos polticos contra as polticas romanas, as religiosidades palestinas, as

    ticas eletivas, as morais seletivas e o sistema de valores dos membros das camadas

    dirigentes. Muito da indignao gerada pela espoliao econmica. Segundo Uwe

    Wegner (2006, 118-119), baseado nas historiografias de Flavio Josefo, da renda da

    produo anual da Palestina, entre 44 e 45 milhes de denrios (cerca de 14,75

    toneladas de ouro macio), 1/6 dos impostos (100 talentos de prata) era recolhido na

    Galileia; as pessoas que no pagavam os impostos (tributum capitis e o tributum

    soli/agri) poderiam ser escravizadas ou condenadas morte, no importando as

    condies ecolgicas de plantio/colheita ou perda da safra.

    Diante desse quadro, Jesus de Nazar inaugurou um novo modus politicus: com

    a nova destinao do Reino de Deus, acrescenta opo judaica pela justia a

    prioridade pelos encurvados, por isso o evangelho t euangglion ts basilea tn

    ourann. Em adio, tratando-se de pobreza em termos de escassez de bens, no

    espiritual, insere no debate poltico-econmico os encurvados. Christopher Rowland

    (2005, p. 494) chama a ateno de que mesmo sem importar-se com as divises que

    provoca, Jesus visto como um rei,9 cuja realeza est oculta temporalmente; quando a

    mesma tornar-se manifesta10 ele j estar entre os encurvados. A estranheza,

    portanto, tende a aumentar.

    Assim a profecia irrompe em meio condio humana como uma ao divina.

    Como no pode ser entendida apenas espiritualmente, a profecia resistncia aos

    grupos religiosos e poltico-econmicos privilegiados e rejeio discriminao de

    quem no participa das linhagens de parentesco daqueles grupos. Uma revoluo

    acontece em meio s multides: no querer e na ao de Deus, o seu reinado pertence

    aos pobres e s crianas. Por qu? Porque a pobreza mais do que uma questo 9 Cf. Mateus 21.5,15.

    10 Cf. Mateus 25.31,46.

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    econmica e est associada opresso dos poderosos. Aos agora sem honra deve

    pertencer o poder! Assim, haver oportunamente novas relaes entre as pessoas,

    onde todas sero iguais. Com relao aos reis e poderosos, os pobres no so sditos,

    so mais valiosos11 e desempenharo a funo a um s tempo real e divina de

    construir e promover a paz.

    Essa misso salvfica a princpio messiado-escatolgica, depois poltico-eclesial

    , entranhada da espiritualidade intangvel da Torah, transmite a possibilidade de um

    mundo sem nenhuma espcie de fronteira, antissectria. Com efeito, as pessoas so

    reaproximadas para a convivncia e as labutas da vida, e as tradies, divinizadas e

    paganizadas, so colocadas em seus devidos lugares. Por isso consideramos que

    Gnther Bornkamm (2005, 134) afirma com inegvel justeza que nada nos autoriza a

    especificar um grupo religioso, exatamente por romper os limites das religies, o que

    leva-nos questo-chave inquirida por Giuseppe Barbaglio (2011, p. 114), baseado no

    evangelho segundo Mateus, acerca do tipo de relao que Jesus de Nazar estabelece

    ao revisar as ticas do seu tempo e proclam-las como thos legal do Reino de Deus.

    A resposta questo de Barbaglio requer situarmos as mencionadas

    preocupaes de Jesus de Nazar. As multides tm necessidade de ajuda divina, e o

    fato de Jesus ser a presena de Deus entre o povo (Immanuel/Emmanouel) por si s

    o coloca em conflito com os lderes institucionais. Com efeito, discordamos de Anthony

    J. Saldarini (2000, p. 61) quando afirma que textualmente o povo designao

    teolgica a todo o povo de Israel. Ao contrrio, daquelas multides muitos no eram

    judeus e, dado o carter do messiado de Jesus, com suas relaes marginais, todos os

    encurvados estavam autorizados e eram acolhidos pelo prprio Jesus a segui-lo.

    Esta multietnicidade e intersociabilidade faziam parte do seu conceito de ekklesa e

    so o seu grande legado identitrio.

    11

    Cf. Mateus 6.29; 12.42.

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    CONSIDERAES FINAIS

    Procurou-se abordar historiograficamente os primeiros seguidores de Jesus de Nazar

    onde no apenas o Evangelho e sua percope indicativa fossem as fontes de pesquisa,

    posto que a cultura material coetnea proporciona-nos uma acuidade privilegiada para

    a busca dos fatos. Jesus de Nazar deve ser situado nas reaes tirania de Herodes, o

    Grande, o tributarismo e o controle poltico romanos, que afetavam diretamente os

    campesinos, e os conflitos com a aristocracia sacerdotal (HORSLEY; HANSON, 1995,

    104). Esse barril de plvora social provoca o despertar de memrias messinicas

    populares e as revoltas de partidos judaicos antirromanos e antitemplares. Ajuntam-

    se, assim, mutuamente bandidos sociais e campesinos, ambos vistos como vtimas de

    injustias, sendo que os bandidos so protegidos pelos campesinos como a heris e

    transmissores da esperana de que a opresso sofrida reversvel. Nesse caso, as

    memrias lendrias recebem o seu fundo de histria e a justia divina corporaliza-se.

    Na Roma antiga o cristo representava uma atitude de superstitionis, uma

    ameaa, pois superstitis algo que est acima, sobre; superstre estender sobre.

    Nesse sentido, o Deus cristo ameaava como potncia universal e sobre a vida,

    portanto se sobrepunha ao prprio espao figurativo do Estado (MANIERI, 2013, 43).

    A ameaa era o que representava a antissociabilidade na perspectiva das elites, mas

    isso d-se porque a vida religiosa reintegrada a uma vida poltica que prioriza o

    encurvado. Em adio, o processo histrico envolvendo as duas primeiras geraes

    de cristos, ainda no sculo I e no contexto da guerra entre romanos e judeus,

    conceitua a poltica como uma ao que deve nascer da compaixo. Poucos sculos

    depois, o cristianismo (a Igreja!) apodera-se de krnos e mamons, teologiza a honra e

    a virtude, e, em consequncia, torna-se historicamente passivo.

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    DOCUMENTOS TEXTUAIS

    ALAND, Barbara; ALAND, Kurt; KARAVIDOPOULOS, Johannes; MARTINI, Carlo M.;

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    FREYNE, Sean. Jesus, um judeu da Galileia: nova leitura da histria de Jesus. So Paulo:

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    LE GOFF, Jacques. Histria e memria. 6. ed. Campinas: Editora da Universidade

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    Artigo Recebido em: 30 de junho de 2013.

    Aprovado em: 30 de janeiro de 2014.

    Publicado em: 30 de abril de 2014.