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AS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL Maria de Fátima Araújo da Silva 1 RESUMO A partir da Constituição de 1891 instaurou-se no Brasil o Estado Liberal de Direito. Com a Constituição de 1934 evolui-se para um Estado Social de Direito, em que o Estado assume um papel de prestador de serviços e intervém na vida económica e social. Mas foi com a Constituição de 1988, que o legislador constituinte optou pelos princípios do Estado Democrático de Direito. I – INTRODUÇÃO 1.1 – A sistemática das Constituições do Brasil A redacção oficial é a maneira pela qual o Poder Público brasileiro redige actos normativos e comunicações. Além de atender às disposições constitucionais, a forma dos actos normativos obedecia, até 1998, a tradições que remontavam nalguns casos ao período imperial 2 . A redacção oficial divide a sistemática da lei em sistemática interna (compatibilidade teleológica 3 , ausência de contradição valorativa 4 ou lógica 5 ) e sistemática externa (estrutura da lei). Foi com a Lei Complementar nº 95, de 26 de Fevereiro de 1998, publicada no Diário Oficial da União de 27 de Fevereiro de 1998 que se definiu a sistematização externa a ter em conta na elaboração, redacção, alteração e consolidação das leis, de acordo com o parágrafo único do art. 59 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de Outubro de 1988. A lei é estruturada em três partes básicas, de acordo com o art. 3º da Lei Complementar n.º 95: 1 Licenciada em Direito – Ciências Jurídicas, Universidade Portucalense – 1988; Licenciada em Direito – Ciências Jurídico-Políticas, Universidade Portucalense – 2003. 2 Temos como exemplo a tradição de apor os anos que decorreram desde a independência (e da República) em cada acto legislativo – Decreto de 10 de Dezembro de 1822. 3 Há contradição teleológica entre os objectivos de duas disposições, se a observância de uma delas importa a paralisação dos objectivos visados pela outra. 4 É o que resulta, por exemplo, da consagração de normas discriminatórias dentro de um sistema que estabelece a igualdade como um princípio fundamental. 5 Há contradição lógica se a conduta autorizada pela norma A é proibida pela norma B.

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AS CONSTITUIÇÕES DO BRASIL

Maria de Fátima Araújo da Silva1

RESUMO

A partir da Constituição de 1891 instaurou-se no Brasil o Estado Liberal de Direito.

Com a Constituição de 1934 evolui-se para um Estado Social de Direito, em que o Estado

assume um papel de prestador de serviços e intervém na vida económica e social. Mas foi

com a Constituição de 1988, que o legislador constituinte optou pelos princípios do Estado

Democrático de Direito.

I – INTRODUÇÃO

1.1 – A sistemática das Constituições do Brasil

A redacção oficial é a maneira pela qual o Poder Público brasileiro redige actos

normativos e comunicações. Além de atender às disposições constitucionais, a forma dos

actos normativos obedecia, até 1998, a tradições que remontavam nalguns casos ao período

imperial2.

A redacção oficial divide a sistemática da lei em sistemática interna (compatibilidade

teleológica3, ausência de contradição valorativa4 ou lógica5) e sistemática externa (estrutura

da lei).

Foi com a Lei Complementar nº 95, de 26 de Fevereiro de 1998, publicada no Diário

Oficial da União de 27 de Fevereiro de 1998 que se definiu a sistematização externa a ter em

conta na elaboração, redacção, alteração e consolidação das leis, de acordo com o parágrafo

único do art. 59 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de Outubro de 1988.

A lei é estruturada em três partes básicas, de acordo com o art. 3º da Lei

Complementar n.º 95:

1 Licenciada em Direito – Ciências Jurídicas, Universidade Portucalense – 1988;

Licenciada em Direito – Ciências Jurídico-Políticas, Universidade Portucalense – 2003.2 Temos como exemplo a tradição de apor os anos que decorreram desde a independência (e da República) em cada acto legislativo –

Decreto de 10 de Dezembro de 1822.3 Há contradição teleológica entre os objectivos de duas disposições, se a observância de uma delas importa a paralisação dos objectivos

visados pela outra.4 É o que resulta, por exemplo, da consagração de normas discriminatórias dentro de um sistema que estabelece a igualdade como um

princípio fundamental.5 Há contradição lógica se a conduta autorizada pela norma A é proibida pela norma B.

Parte preliminar – compreende a epígrafe6, a ementa7, o preâmbulo8, o enunciado

do objecto e a indicação do âmbito de aplicação9 das disposições normativas;

Parte normativa – compreende o texto das normas;

Parte final – compreende as disposições relativas à regulamentação das normas de

conteúdo substantivo, disposições transitórias e se for o caso, a cláusula de

vigência10 e a cláusula de revogação11.

A sistematização externa das leis mais complexas observa o seguinte esquema básico:

Parte, Livros, Títulos, Capítulos, Secções, Subsecções e Artigos, podendo utilizar-se também

o agrupamento de assuntos em Disposições Preliminares, Gerais, Finais ou Transitórias (art.

10, V e VIII).

O artigo é a unidade básica para a apresentação, divisão e agrupamento de assuntos

num texto normativo. Quanto à numeração dos artigos a Lei Complementar n.º 95 fixa que ela

será ordinal até o nono artigo e cardinal a partir deste (art. 10, I).

Os artigos desdobram-se em parágrafos ou em incisos; os parágrafos em incisos, os

incisos em alíneas e as alíneas em itens (art. 10, II). Os parágrafos serão representados pelo

sinal gráfico “§”, seguido de numeração ordinal até o nono e cardinal a partir deste,

utilizando-se, quando existente apenas um parágrafo, a expressão “parágrafo único” por

extenso (art. 10, III). Os incisos serão representados por algarismos romanos, as alíneas por

letras minúsculas e os itens por algarismos arábicos (art. 10, IV).

Os parágrafos servem para expressar os aspectos complementares à norma enunciada

no caput12 do artigo e as excepções à regra por este estabelecida (art. 11, II, c).

Os incisos, alíneas e itens destinam-se a discriminações e enumerações (art. 11, II, d).

Os incisos são utilizados como elementos discriminativos do artigo se o assunto nele

tratado não puder ser tratado no próprio artigo ou não se mostrar adequado a constituir

parágrafo.

A alínea, desdobramento dos incisos, é grafada em minúsculas e seguida de parêntese.

O item, desdobramento da alínea, é representado por números cardinais seguidos de ponto.

6 A epígrafe, grafada em caracteres maiúsculos, é formada pelo título designativo da espécie normativa, pelo número respectivo e pelo ano

de promulgação (Lei Complementar nº 95, art. 4º).7 A ementa explicita, de forma sumariada e sob a forma de título, o objecto da lei (Lei Complementar nº 95, art. 5º).8 O preâmbulo indica o órgão ou instituição competente para a prática do acto e a sua base legal (Lei Complementar nº 95, art. 6º).9 O primeiro artigo do texto indica o objecto da lei e o respectivo âmbito de aplicação (Lei Complementar nº 95, art. 7º, caput).10 A vigência da lei é indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento,

reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão aplicação (Lei Complementar nº 95, art. 8º, caput).

11 A cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas (Lei Complementar nº 95, art. 9º, caput).

1.2 – A transferência da Corte portuguesa para o Brasil

Em 22 de Outubro de 1807 os Governos Português e Britânico assinaram uma

convenção secreta, através da qual era garantida a protecção dos navios que transportariam a

Corte portuguesa para o Rio de Janeiro.

E foi assim que logo em 26 de Novembro, o Príncipe Regente D. João anunciou a

transferência da sede da Monarquia portuguesa para o Brasil. No dia seguinte, a Família Real

e a Corte, incluindo Tribunais Superiores, Conselhos e personalidades ligadas à Monarquia,

embarcavam em direcção ao Brasil.

Com a Corte no Rio de Janeiro o governo reorganiza-se. A Secretaria de Estado dos

Negócios Interiores do Reino13 passa a designar-se Secretaria de Estado dos Negócios

Interiores do Brasil.

As duas outras Secretarias, criadas em 1736, mantém-se com as mesmas designações:

Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra14; e Secretaria da Marinha e dos Domínios

Ultramarinos15. O Erário ou Tesouro Real e Público16, criado em Portugal em 1761, passou a

designar-se Secretária de Estado dos Negócios do Brasil e da Fazenda em 1821.

Os assuntos directamente dependentes das decisões Reais estavam confiados ao

Desembargo do Paço.

O sistema judicial compreendia nos tribunais superiores a Casa da Suplicação, para a

qual se recorria das relações.

Após a derrota de Napoleão, em 1814, o Congresso de Viena, que culminou com a

assinatura do Tratado de 8 de Abril de 1815, tratou de restaurar a antiga ordem na Europa,

determinando que as monarquias depostas pela Revolução Francesa reassumissem os seus

tronos. O Congresso de Viena só reconhecia Lisboa como a sede do Governo português,

sendo a situação de D. João no Brasil ilegítima. No entanto, o Príncipe D. João acabou por

assinar o Tratado como Príncipe Regente do Reino de Portugal e do Reino do Brasil.

Deu-se assim um reconhecimento pelas demais potências da existência de um novo

Reino. De forma que, pela Carta de Lei de 16 de Dezembro de 1815 o Príncipe Regente

ordenou que os reinos de Portugal, Algarves e Brasil formassem um só e único reino debaixo

do título: Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves. Portugal e Brasil encontravam-se

12 Cabeça ou enunciado geral do artigo que inclui parágrafos, itens ou alíneas.13 Criada por Alvará de 28/07/1736.14 Criada por Alvará de 28/07/173615 Criada por Alvará de 28/07/1736.

então unidos numa “união real”.

Em 20 de Março de 1816 D. Maria I morreu no Rio de Janeiro, sendo D. João coroado,

nessa cidade, Rei de Portugal, Brasil e Algarves com o nome D. João VI, em 6 de Fevereiro

de 1818.

1.3 – A revolução portuguesa de 1820 e a sua repercussão no Brasil

Em 1820 era geral em Portugal o desejo de regresso do Rei e dos demais órgãos de

Estado. Daí que a Revolução despoletada no Porto em 24 de Agosto de 1820 não tivesse tido

dificuldades em vencer. E em Fevereiro de 1821 as Cortes discutiam as “Bases da

Constituição Portuguesa”, traduzidas depois no Decreto de 9 de Março de 1821. Sobre este

documento veio a ser elaborado o projecto de Constituição apresentado em 25 de Junho desse

ano.

A notícia da revolução do Porto chegou ao Rio de Janeiro em 17 de Outubro de 1820.

D. João VI e seus conselheiros discutiam o que fazer, destacando-se: Tomás António de Vila

Nova Portugal que se opunha às Cortes e defendia a partida do príncipe herdeiro, D. Pedro,

para Portugal; e o conde de Palmela, pró-revolução e defensor do retorno do próprio rei.

Enquanto isso, no Pará, em 1 de Janeiro de 1821 produz-se o primeiro levantamento

popular de adesão à causa liberal, seguindo-se a Bahia em 10 desse mês. Em ambas as cidades

jurou-se, desde logo, fidelidade à Constituição que as Cortes em Portugal viessem a aprovar,

depondo-se os Governadores de nomeação régia e criando-se Juntas Provisórias.

No Rio de Janeiro, em 18 de Fevereiro daquele ano, o Rei tenta tomar o controlo dos

acontecimentos através de uma Carta Régia, publicada em 24 desse mês, informando do

regresso do príncipe D. Pedro a Portugal. Porém, era tarde de mais. A oposição ao rei crescia

junto dos comerciantes e tropas portuguesas, sob a iniciativa de um padre, Marcelino José

Alves Macamboa, que liderou uma manifestação pública de apoio às Cortes na manhã de 26

de Fevereiro de 1821, na praça do Rossio (hoje Tiradentes). Civis e militares reuniram­se sob

o comando do brigadeiro Francisco Joaquim Carreti, para exigir do rei o juramento à

Constituição. O príncipe D. Pedro compareceu à manifestação e tentou acalmar os ânimos,

porém, Macamboa fez chegar ao rei, através de D. Pedro, a exigência do juramento à

Constituição. D. João VI, a conselho de Tomás António de Vila Nova Portugal, atendeu às

exigências de Macamboa através de Decreto, com data de 24 de Fevereiro.

O rei viu-se obrigado a regressar a Portugal e em 7 de Março assinou dois decretos: o

16 Designação alterada por Decreto de 11/03/1808.

primeiro anunciava a sua resolução de transferir a Corte de novo para Lisboa, ficando D.

Pedro encarregado do Governo Provisório do Reino do Brasil até ao estabelecimento da

Constituição; o segundo ordenava a realização de eleições dos deputados às Cortes.

A nomeação de D. Pedro como Príncipe Regente viria a ser concretizada em 22 de

Abril de 1821, através de Decreto, pelo qual se “encarrega o Governo Geral do Brasil ao

Príncipe Real constituído Regente e Lugar-Tenente D'el-Rei”.

No dia 25 de Abril de 1821 o rei regressou a Portugal.

A eleição por sufrágio indirecto dos deputados brasileiros ocorreu entre Maio e

Novembro de 1821, sendo que os primeiros a participarem nas cortes em Lisboa fizeram-no

após 30 de Agosto desse ano.

Nessa data as Cortes já haviam votado o Decreto de 18 de Abril de 1821 que

reconhecia como únicas autoridades as “Juntas Provisórias” instaladas no Brasil pelas revoltas

subsequentes à deposição dos Governadores de nomeação régia em Janeiro de 1821.

Em 29 de Setembro desse ano as Cortes aprovaram importantes disposições relativas

ao sistema de governo e Administração Pública das províncias do Reino do Brasil, que

ficariam directamente responsáveis perante o Governo e as Cortes em Lisboa, ordenando a D.

Pedro o regresso a Portugal.

Estas leis chegaram ao Brasil em 9 de Dezembro, tendo-se formado um movimento de

resistência favorável à permanência de D. Pedro e à unidade política do Brasil

Em 9 de Janeiro de 1822 (dia do “Fico”) o Senado da Câmara do Rio de Janeiro

deliberou transmitir a D. Pedro o pedido das representações populares que solicitavam ao

príncipe que suspendesse a sua partida para Portugal. Este respondeu que ficaria no Brasil,

desacatando as ordens de Lisboa.

No meio das festas que se celebravam em toda a cidade, os soldados da Divisão

Auxiliadora do Exército Português, comandada pelo general Avilez, tentaram obstar aos

planos do príncipe, forçando-o a embarcar para a Europa, conforme tinha ordenado o governo

português. D. Pedro, porém conseguiu escapar à tentativa de sequestro.

Tomando conhecimento das intenções de Avilez, o povo fiel a D. Pedro concentrou-se

no campo de Santana, enquanto a Divisão Auxiliadora tomava posição no alto do Castelo,

preparando-se para romper fogo contra a cidade. D. Pedro dirigiu uma proclamação ao povo,

pedindo, naquela emergência, o empenhamento de todos os brasileiros. Face à gravidade do

momento o general acabou por ceder à intimação que lhe fez o Regente e partiu, logo depois,

para a Europa.

Em 12 de Janeiro de 1822 as Cortes determinaram a extinção de todos os órgãos

superiores de Estado que D. João VI havia criado no Rio de Janeiro, com excepção do

Conselho Superior de Justiça Militar. A Casa de Suplicação do Rio de Janeiro foi

transformada em Relação.

Em 21 de Janeiro, através de Portaria, D. Pedro determina a submissão de todas as leis

emanadas do Reino de Portugal ao seu beneplácito. E em 16 de Fevereiro, por influência do

Ministro do Reino José Bonifácio de Andrada e Silva, convoca o Conselho de Procuradores-

Gerais das províncias do Brasil, eleitos para o efeito. As atribuições desse Conselho seriam

consultivas e reuniria no Paço sob a presidência do Príncipe e com a assistência dos

Ministros.

Porém, o Decreto foi mal recebido pelas Juntas Provisórias do Pará, Maranhão, Bahia

e Minas Gerais, que viram nele um atentado ao juramento de fidelidade a D. João VI e à

Constituição da Monarquia Portuguesa. Por isso, em Maio de 1822 apenas estavam

designados três Procuradores-Gerais: dois do Rio de Janeiro e um de Cisplatina. Face a este

percalço o Governo promoveu uma reunião, em 13 desse mês, entre o povo e as tropas do Rio

de Janeiro para aclamar D. Pedro como “Protector e Defensor perpétuo e Constitucional do

reino do Brasil”.

Em 20 de Maio uma representação popular apresentou-se perante o Senado da Câmara

do Rio de Janeiro a pedir a convocação de uma Assembleia-Geral das Províncias do Brasil.

Em face disto, D. Pedro convocou novamente o conselho de Procuradores-Gerais para 2 de

Junho. Essa reunião destinou-se a obter conselho sobre a situação política vigente.

No dia seguinte, em nova reunião, um dos Procuradores requereu a convocação de uma

Assembleia-Geral das Províncias do Brasil, afirmando que “o Brasil quer independência, mas

firmada sobre a união bem entendida com Portugal”. Nesse mesmo dia, o Príncipe Regente

publicou o Decreto que convocou a primeira Assembleia constituinte do Brasil.

1.4 – A independência

Em 19 de Junho de 1822 foram dadas as instruções para a eleição, por sufrágio

indirecto, dos deputados.

Na sequência, as Cortes portuguesas endureceram a sua posição. E, em 1 e 2 de Agosto

foram expedidos de Lisboa vários diplomas legais destinados a acabar com a posição

brasileira.

Em 1 de Agosto, D. Pedro proibiu as tropas portuguesas de desembarcarem em

território brasileiro sem permissão do governo regencial, declarando que as mesmas seriam

tratadas como inimigas se desobedecessem a esta resolução. Nesse mesmo dia, era feita uma

proclamação ao povo, que rompia com os laços de dependência com a metrópole: “Do

Amazonas ao Prata, não retumbe outro eco que não seja Independência.”

Em 7 de Setembro, encontrando-se D. Pedro com sua comitiva junto ao riacho do

Ipiranga, é alcançado por dois emissários, vindos do Rio de Janeiro, com os despachos que

acabavam de chegar de Lisboa. Com esses despachos, também lhe foram entregues cartas de

José Bonifácio e da princesa D.ª Leopoldina, que ficara no Rio de Janeiro como Regente

interina. Ali mesmo, D. Pedro leu toda a correspondência e, após alguns momentos de

reflexão, arrancou do chapéu as cores portuguesas (fita azul e branca) e gritou, no meio do

espanto e do entusiasmo de todos: “Independência ou Morte!”.

Tendo chegado ao Rio de Janeiro na noite de 14 de Setembro, no dia seguinte, D.

Pedro já se apresentava no Teatro São João com o distintivo, de letras amarelas, fita verde e a

frase “Independência ou Morte!”. Em 21 desse mês, por iniciativa do Senado da Câmara do

Rio de Janeiro, D. Pedro foi aclamado solenemente como Imperador Constitucional do Brasil.

II – A CONSTITUIÇÃO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL, DE 22 DE ABRIL DE 1824

A Assembleia Constituinte veio a iniciar funções em 17 de Abril de 1823, conforme

Decreto de 14 desse mês.

Os trabalhos da primeira Assembleia Constituinte foram morosos, iniciando-se a

discussão dos seus 272 artigos apenas em 15 de Setembro. Em 11 de Novembro apenas

haviam sido aprovados 24 artigos, pelo que em 12 desse mês D. Pedro decretou a dissolução

da Assembleia e convocou uma segunda Assembleia Constituinte.

O projecto de Constituição foi então elaborado por um Conselho de dez membros,

conforme determinado pelo Decreto de 13 de Novembro de 1823.

Em 11 de Dezembro daquele ano o Conselho deu o seu trabalho por terminado. E em

17 desse mês foram expedidas cópias a todas as Câmaras Municipais, a fim de formularem as

observações que lhes parecessem justas.

Foi assim que, por Decreto de 11 de Março de 1824 D. Pedro determinou que a partir

de 15 desse mês o projecto passasse a vigorar como Constituição Politica do Império do

Brasil.

O texto viria a ser publicado como Lei em 25 de Março de 1824.

2.1 – Forma de Governo

De acordo com o art. 1º da Constituição de 1824 “O IMPERIO do Brazil é a

associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e

independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se

opponha à sua Independencia.” O seu território dividia-se em Províncias (art. 2º) e tinha como

forma de Governo a Monarquia hereditária, constitucional e representativa (art. 3º).

2.2 – Poder político

A Constituição de 1824 consagrava no seu art. 9º o princípio da separação de poderes e

pelo seu art. 10 reconhecia a existência de quatro poderes: legislativo, moderador, executivo e

judicial.

Os representantes da Nação eram o Imperador e a Assembleia Geral (art. 11), cabendo

a esta o poder legislativo (art. 13).

A Assembleia Geral funcionava por legislaturas de quatro anos, tendo cada sessão

anual a duração de quatro meses (art. 17). As suas reuniões eram em princípio públicas (art.

24) e as suas deliberações tomadas por maioria absoluta de votos dos membros presentes (art.

25).

A Assembleia Geral era composta por duas Câmaras, de acordo com o art. 14 da

Constituição de 1824:

Câmara de Deputados;

Câmara de Senadores ou Senado.

A Câmara de Deputados era constituída por deputados eleitos para cada legislatura,

uma vez que, de acordo com o art. 35 da Constituição de 1824, “A Camara dos Deputados é

electiva, e temporária.”

O Senado era composto por Senadores vitalícios. Os Senadores eram eleitos por

sufrágio indirecto e maioritário, constituindo listas tríplices, das quais eram escolhidos pelo

Imperador (arts. 40 e 43), sendo Senadores por direito próprio os Príncipes da Casa Imperial,

que tomariam assento no Senado logo que perfizessem 25 anos (art. 46).

O Senado tinha competência exclusiva para julgar os crimes das altas individualidades

do Estado (art. 38 e 47, I e II); convocar a Assembleia, no caso do Imperador o não ter feito,

nos dois meses seguintes ao fim do prazo determinado pela Constituição (art. 47, III);

convocar a Assembleia, após a morte do Imperador, para a eleição da Regência, quando a ela

houvesse lugar, desde que a Regência Provisional o não tivesse feito (art. 47 IV).

A iniciativa das leis competia aos membros de qualquer das Câmaras (art. 52) e aos

Ministros de Estado (art. 53). No entanto, deveria começar na Câmara de Deputados a

discussão de projectos sobre impostos, recrutamentos ou escolha de nova dinastia (art. 36),

bem como a discussão de propostas do Poder Executivo (art. 37).

O projecto, aprovado numa das Câmaras, seria remetido à outra e se aprovado nesta

seria transformado em Decreto e submetido17 à Sanção do Imperador18 que o transformaria

em Lei.

Na falta de acordo entre as duas Câmaras poderia ser requerida a reunião conjunta para

em Assembleia Geral se deliberar (art. 61).

O Imperador tinha o poder de Veto. Porém, se recusasse a Sanção ou nada dissesse

(art. 67), a Assembleia poderia insistir nas duas legislaturas seguintes e à terceira vez

entender-se-ia que o Imperador teria dado a Sanção (art. 65).

Ao Imperador cabiam os poderes moderador e executivo. O poder moderador era um

supra-poder baseado na doutrina de Benjamim Constant e traduzia-se no velar

incessantemente pela “manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais

Poderes Políticos” (art. 98). Este poder permitia ao Imperador intervir nos outros poderes, de

modo a assegurar o seu normal funcionamento. Cabia ao Imperador, de acordo com o art. 101

da Constituição de 1824, no âmbito do poder moderador:

Nomear os Senadores, de acordo com o art. 43;

Convocar extraordinariamente a Assembleia Geral, nos intervalos das Sessões, para

o bem do Império;

Sancionar os Decretos e Resoluções da Assembleia Geral, para que tivessem força

de Lei, de acordo com o art. 62;

Aprovar, e suspender interinamente as Resoluções dos Conselhos Provinciais (arts.

86 e 87);

Prorrogar ou adiar a Assembleia Geral, e dissolver a Câmara dos Deputados, nos

casos em que o exigisse a salvação do Estado; convocando imediatamente outra,

que a substituísse.

Nomear e demitir livremente os Ministros de Estado;

Suspender os Magistrados nos casos do art. 154;

17 O Decreto era submetido a Sanção do Imperador pela fórmula “A Assembléa Geral dirige ao Imperador o Decreto incluso, que julga

vantajoso, e util ao Imperio, e pede a Sua Magestade Imperial, Se Digne dar a Sua Sancção” (Constituição de 1824, art. 62).18 A sanção do Imperador traduzir-se-ia na fórmula “O Imperador consente” (Constituição de 1824, art. 68).

Perdoar e moderar as penas impostas aos Réus condenados por Sentença;

Conceder Amnistias em casos urgentes, desde que assim o aconselhassem a

humanidade e o bem do Estado.

No que diz respeito ao poder executivo, cabia a sua chefia ao Imperador que o

exercitava através dos seus Ministros de Estado (art. 102).

2.3 – Organização territorial

O Estado encontrava-se dividido em Províncias dotadas de um Conselho Geral e de um

Presidente livremente nomeado e demitido pelo Imperador (art. 165).

Para todas as Cidades e Vilas estavam previstas Câmaras, às quais competia o Governo

económico e municipal das mesmas (art. 167). As Câmaras eram electivas, e compostas por

vereadores, sendo que o que obtivesse o maior número de votos, seria o Presidente (art. 168).

2.4 – Direitos Fundamentais

O art. 179 da Constituição de 1824 enumerava os direitos civis e políticos dos cidadãos

brasileiros.

Neste domínio, para além de outros, destacam-se:

A proibição de leis com efeitos retroactivos (inciso III);

A liberdade de expressão (inciso IV);

A liberdade de culto (inciso V);

A obrigação de comunicação, a detidos preventivamente, do motivo da detenção,

nome do denunciante e testemunhas (inciso VIII);

O principio da igualdade (inciso XIII);

A abolição do uso de açoites, tortura, marca de ferro quente e todas as mais penas

cruéis.

O direito de petição (inciso XXX);

A proibição da suspensão da Constituição, no que diz respeito aos direitos

individuais (incisos XXXIV e XXXV).

2.5 – Revisão Constitucional

Sucessivos conflitos com a crescente oposição liberal levaram D. Pedro I a abdicar do

Trono a favor de D. Pedro II, seu filho de 6 anos, em 7 de Abril de 1831. Nessa data, nomeou-

lhe tutor José Bonifácio de Andrada e Silva. No dia seguinte, vinte e seis Senadores e trinta e

seis deputados, reunidos no Senado, tomaram a iniciativa de nomear uma regência provisória,

a fim de manter a ordem. Em 16 de Junho de 1831 foi eleita regularmente pelas duas câmaras

uma nova regência.

Em Setembro de 1833 José Bonifácio de Andrada e Silva foi destituído da tutoria e

sujeito a prisão domiciliar, que se prolongaria até 1835, ano em terminou o processo-crime

instaurado contra ele por conspiração e perturbação da ordem pública.

Neste contexto, o Acto Adicional, que veio a ser publicado em 12 de Agosto de 1834,

estabeleceu a forma de escolha do Regente, em caso de menoridade do Imperador (art. 26),

suprimindo o Conselho de Estado.

O Acto Adicional de 1834 substituiu também, nas Províncias, os Conselhos Gerais

pelas Assembleias legislativas provinciais. Estas eram órgãos muito semelhantes, no modo de

eleição, à Assembleia Geral e tinham competência legislativa própria (art. 10)19, sancionada

pelo Presidente da Província respectiva (art. 13), podendo ainda exercer outros poderes (art.

11). Posteriormente, a Lei n.º 105, de 12 de Maio de 1840, veio a fazer uma interpretação

restritiva do Acto Adicional de 1834 relativamente às competências das Assembleias

Legislativas Provinciais.

III – A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891

A descrença nas instituições monárquicas propagava-se não só na Câmara dos

Deputados mas também no Senado.

Em 1869 e 1870, o Manifesto do Centro Liberal20 e o Manifesto Republicano21

exigiram a supressão da natureza vitalícia da nomeação dos Senadores e dos Conselheiros de

Estado e uma melhor ponderação na influência recíproca das duas Câmaras do poder

legislativo.

A Igreja Católica, por seu lado, contrariada com a submissão da Igreja ao Estado e com

19 Às assembleias foi atribuída competência para elaborar o seu próprio regimento e, desde que em harmonia com as imposições gerais do

Estado, legislar sobre: divisão civil, judiciária e eclesiástica local; instrução pública, excluindo as faculdades de medicina e os cursos jurídicos; expropriação; fixação de despesas e impostos; criação de cargos e empregos; estradas, penitenciárias e outras obras públicas.

20 Publicado no “Jornal do Comércio”, do Rio de Janeiro, em 31 de Março de 1869.21 Publicado no primeiro número do jornal “A República”, em 3 de Dezembro de 1870.

a prisão, em 1874, dos Bispos de Olinda e Belém do Pará por desobediência ao Governo22,

passou a desprezar a Monarquia.

O Exército passou a contestar o Governo, insatisfeito com a redução drástica dos

efectivos e do orçamento desde a Guerra do Paraguai (1864-1870).

A todo este panorama acresceu, para a casa de Bragança, a perda do apoio dos

senhores rurais e da aristocracia esclavagista, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa D.ª

Isabel, em 13 de Maio de 1888.

A República seria proclamada em 15 de Novembro de 1889 na sequência de golpe

militar. Nessa data constituiu-se o governo provisório sob a chefia do Marechal Manuel

Deodoro da Fonseca.

Em 21 de Dezembro de 1889, pelo Decreto nº 78-A, foi “banido do território brasileiro

o Sr D. Pedro de Alcântara e, com ele, sua família” 23 (Decreto nº 78-A, art. 1º), ficando-lhes

vedado possuir imóveis no Brasil. Deveriam igualmente liquidar no prazo de dois anos os

bens dessa espécie que ali possuíssem (Decreto nº 78-A, art. 2º).

Entre as medidas adoptadas pelo Governo provisório, para além da expulsão da

Família Imperial, destacam-se a extinção da Câmara de Deputados; do Senado; do Conselho

de Estado; das Assembleias Provinciais; das Câmaras Municipais (substituídas por

interventores); a nomeação da Comissão para a elaboração do projecto da Constituição; e a

convocação de eleições para o Congresso Constituinte de 1890.

O anteprojecto da constituição ficou concluído em Abril de 1890, tendo sido publicado

pelo Decreto nº 510, de 22 de Junho desse ano. Em 23 de Outubro foi publicado o projecto

que seria submetido ao Congresso Constituinte em 15 de Novembro seguinte.

Em 24 de Fevereiro de 1891 o Congresso terminou o seu trabalho, estabelecendo,

decretando e promulgando a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.

3.1 – Forma de Governo

O Brasil foi declarado como uma República Federativa e adoptou o sistema

representativo, sendo constituído pela união perpétua e indissolúvel das suas antigas

Províncias (Constituição de 1891, art. 1º), as quais passaram a formar Estados (art. 2º); e do

Município Neutro, que passou a Distrito Federal.

Nos Estados, dotados de orçamentos próprios, o Governo Federal podia apenas intervir

22 Motivada pela bula papal censurando a maçonaria, a qual não fora aprovada pelo Imperador.23 Através dos autos de Habeas Corpus n.º 1.974, Olympio Lima e outros tentaram obter o regresso de Gastão de Orleans, Conde d’Eu, e

mais membros da ex-dinastia brasileira de Bragança, o que lhes viria a ser negado em 14 de Janeiro de 1903 pelo Supremo Tribunal

nos casos expressamente previstos no art. 6º:

Para repelir invasão estrangeira, ou de um Estado noutro;

Para manter a forma republicana federativa;

Para restabelecer a ordem e a tranquilidade nos Estados, a pedido dos respectivos

Governos;

Para assegurar a execução das leis e sentenças federais.

3.2 – Poder político

O poder encontrava-se tripartido em legislativo, executivo e judiciário (art. 15).

O poder legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, composto por uma Câmara

dos Deputados e por um Senado Federal (art. 16, § 1º), sendo a duração de cada legislatura de

três anos (art. 17, § 2º).

O sufrágio directo era o meio de eleição dos representantes na Câmara dos Deputados

e do Senado Federal (arts. 28, caput, 30 e 31). O Vice-presidente da República era por

inerência Presidente do Senado (art. 32).

O Congresso Nacional tinha competência para legislar sobre negócios externos;

comércio internacional; moedas e bancos de emissão; pesos e medidas; comunicações; forças

de terra e mar; estado de sítio; justiça federal; Direito Civil; Direito Comercial; Direito

Criminal; Direito Processual da Justiça Federal24; etc (art. 34).

O direito de veto do Presidente da República podia ser exercido tanto em casos de

inconstitucionalidade, como na eventualidade do diploma ser contrário aos interesses da

Nação (art. 37, § 1º). O projecto de Lei era devolvido à Câmara onde se iniciou o processo

legislativo que poderia aprová-lo por maioria de dois terços dos sufrágios em votação

nominal. Nesse caso, o projecto era remetido à outra Câmara, a qual se o aprovasse pelos

mesmos trâmites e pela mesma maioria, o enviava como lei ao Poder Executivo para a

formalidade da promulgação (art. 37, § 3º).

Se o Presidente não procedesse à promulgação no prazo de 48 horas esta caberia ao

Presidente ou Vice-presidente do Senado (art. 38).

O poder executivo era exercido pelo Presidente da República (art. 41, caput), que era

eleito, juntamente com o Vice-presidente, através de sufrágio directo e maioria de votos (art.

47, caput) para um mandato de quatro anos não renovável (art. 43, caput). A sua competência

(art. 48) era exercida com o auxílio de Ministros de Estado (art. 49).

Federal, pelo facto dos membros da Casa de Bragança serem considerados estrangeiros.

A Justiça Federal era constituída por Tribunais Federais de 1.ª instância e um supremo

Tribunal Federal (art. 55). O Supremo Tribunal Federal tinha competência para apreciar a

constitucionalidade das Leis Federais e das Leis e actos dos Governos estaduais (art. 59, § 1º,

b).

3.3 – Organização territorial

O Estado Federal encontrava-se dividido em Estados e Distrito Federal (art. 2º). O

Distrito Federal, constituído pela capital (Rio de Janeiro), era administrado pelas autoridades

municipais (art. 67). Os Estados organizavam-se em Municípios autónomos (art. 68).

Permitiu-se aos Estados procederem à sua incorporação, subdivisão ou

desmembramento depois de obtido o consentimento das respectivas Assembleias Legislativas,

em duas sessões anuais sucessivas e a aprovação do Congresso Nacional (art. 4º).

A Constituição reservava para a União, no planalto central da República, uma zona de

14.400 quilómetros quadrados, a ser oportunamente demarcada para nela se estabelecer a

futura Capital Federal (art. 3º, caput). Previa-se igualmente que efectuada a mudança da

Capital, o Distrito Federal (Rio de Janeiro) passaria a constituir um Estado (art. 3º, parágrafo

único).

3.4 – Direitos Fundamentais

A Constituição de 1891 reproduziu e ampliou, na sua essência, os direitos

fundamentais já consagrados na Constituição de 1824. No entanto, omitiu alguns direitos

sociais como o direito à instrução primária e a garantia da existência de colégios e

Universidades.

Relativamente a garantias pessoais, instituiu-se o Habeas Corpus (art. 72, § 22), para

os casos de um indivíduo sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer violência ou

coacção por ilegalidade ou abuso de poder. O instituto do Habeas Corpus surgiu na legislação

brasileira através do Código de Processo Criminal de 1832. A Constituição de 1891 foi a

primeira das constituições nacionais a inclui-lo expressamente, decorrendo esta garantia

constitucional do princípio da presunção de inocência (art. 72, §§ 13 a 16).

O § 22 do art. 72 da Constituição de 1891 distinguia duas espécies de Habeas Corpus:

o liberatório e o preventivo.

24 As leis processuais dos Estados eram definidas por estes.

O tipo liberatório (ou repressivo) de Habeas Corpus tinha por objectivo fazer cessar

violência ou coação, em curso, derivada de ilegalidade ou abuso de poder.

O objectivo do Habeas Corpus de tipo preventivo seria afastar a ameaça de violência

ou coacção por ilegalidade ou abuso de poder. Com a finalidade de afastar esta ameaça era

expedido um salvo-conduto.

3.5 – Revisão Constitucional

As Emendas Constitucionais aprovadas pelas duas Câmaras do Congresso Nacional de

3 e 5 de Setembro de 1926 viriam a ser publicadas em 7 desse mês. As alterações principais

introduzidas no texto constitucional prenderam-se essencialmente com:

A regulação da intervenção federal nos Estados (Constituição de 1891, art. 6º);

As competências do Congresso Nacional, permitindo-se-lhe legislar sobre

“trabalho” e vedando-se-lhe a concessão de créditos ilimitados (Constituição de

1891, art. 34);

A permissão do veto parcial de Leis (Constituição de 1891, art. 37, § 1º);

A competência da Justiça Federal, impedindo-se a intromissão judiciária em

questões políticas (Constituição de 1891, art. 59 e 60); e restringindo-se o alcance

do instituto do Habeas Corpus (Constituição de 1891, art. 72, § 22).

IV – A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DOBRASIL, DE 16 DE JULHO DE 1934

Em 1930, após as eleições de Março, em que Getúlio Vargas perde as eleições para

Júlio Prestes, começaram a fermentar as ideias revolucionárias. Para isso contribuíram

inúmeros factores: a decepção face à ausência de melhorias na prática da democracia (a

Justiça não era verdadeiramente independente e as oligarquias locais ainda disponham de

poder); as dificuldades da crise económica de 1929; as reivindicações operárias; e o

aparecimento do movimento anarquista.

Assim, em 3 de Outubro de 193025 deflagrou a Revolução e em 24 desse mês foi

deposto o Presidente Washington Luís Pereira de Sousa pelo movimento revolucionário.

Assumiu o poder a Junta Governativa composta pelos Generais Augusto Tasso Fragoso, João

de Deus Menna Barreto e o Almirante José Isaías de Noronha.

25 Júlio Prestes, apesar de eleito e proclamado Presidente da República nunca tomaria posse, em virtude da revolução de Outubro de 1930.

Em 3 de Novembro Getúlio Dornelles Vargas assumiu a Chefia do Governo Provisório

e, pelo Decreto n.º 19.398, de 11 de Novembro de 1930, foram definidos os poderes do

Governo Provisório (art. 1º)26; dissolvidos todos os órgãos legislativos ou deliberativos

existentes (art. 2º)27; e suspensas as garantias constitucionais, declarando-se excluída a

apreciação judicial dos actos do Governo Provisório ou dos interventores federais, praticados

ao abrigo do referido Decreto (art. 5º).

Assegurou-se, no entanto, a continuidade do poder judiciário (art. 3º)28 e a manutenção

do Habeas Corpus em favor dos réus ou acusados em processos de crimes comuns, salvo os

funcionais e os da competência de tribunais especiais.

Em 3 de Maio de 1933 foi eleita29 a Assembleia Constituinte que iniciou os seus

trabalhos em 15 de Novembro desse ano.

No dia 16 de Novembro o Governo enviou a esta Assembleia o anteprojecto da

Constituição elaborado pela Comissão Itamaraty30.

Em 16 de Julho de 1934 os deputados assinaram o texto definitivo da nova

Constituição. No dia seguinte a Assembleia Nacional Constituinte elegeu o Presidente da

República para o quadriénio 1934/1938 (Constituição de 1934, Disposições transitórias, art. 1,

caput).

4.1 – Forma de Governo

Manteve-se a forma de Governo que vinha da Constituição de 1891.

4.2 – Poder político

Pela Constituição de 1934 a coordenação dos poderes foi confiada ao Senado Federal

que passou a coadjuvar a Câmara dos Deputados no exercício do poder legislativo.

O poder legislativo passou a ser exercido pela Câmara dos Deputados, a qual passou a

26 “O Governo Provisório exercerá discricionariamente, em toda sua plenitude, as funções e atribuições, não só do Poder Executivo, como

tambem do Poder Legislativo, até que, eleita a Assembléia Constituinte, estabeleça esta a reorganização constitucional do país; Parágrafo único. Todas as nomeações e demissões de funcionários ou de quaisquer cargos públicos, quer sejam efetivos, interianos ou em comissão, competem exclusivamente ao Chefe do Governo Provisório.” (Decreto n.º 19.398, de 11 de Novembro de 1930, art. 1º).

27 “É confirmada, para todos os efeitos, a dissolução do Congresso Nacional das atuais Assembléias Legislativas dos Estados (quaisquer que sejam as suas denominações), Câmaras ou assembléiás municipais e quaisquer outros orgãos legislativos ou deliberativas, existentes nos Estados, nos municípios, no Distrito Federal ou Território do Acre, e dissolvidos os que ainda o não tenham sido de fato.” (Decreto n.º 19.398, de 11 de Novembro de 1930, art. 2º).

28 “O Poder Judiciário Federal, dos Estados, do Território do Acre e do Distrito Federal continuará a ser exercido na conformidade das leis em vigor, com as modificações que vierem a ser adotadas de acordo com a presente lei e as restrições que desta mesma lei decorrerem desde já. ” (Decreto n.º 19.398, de 11 de Novembro de 1930, art. 3º).

29 Por escrutínio secreto e aberto à participação feminina.30 Foi criada pelo Decreto n.º 21.402, de 14 de Maio de 1932, o qual designou também o dia 3 de Maio de 1933 para a eleição da

Assembleia Constituinte.

ser constituída por duas categorias de representantes:

Quatro quintos dos seus membros, eleito por sufrágio directo e universal: os

representantes do povo (Constituição de 1934, art. 23, caput e § 1º).

Um quinto, eleito por sufrágio indirecto das Associações profissionais: os

representantes das profissões (art. 23 §§ 1º e 3º).

O art. 91 enumerava os assuntos das leis para cuja elaboração era necessária a

colaboração do Senado Federal.

O poder executivo continuou a ser exercido pelo Presidente da República, o qual era

eleito por sufrágio universal, directo, secreto e maioritário (art. 52, § 1º).

O Presidente da República poderia ser eleito para um mandato de quatro anos, não

podendo ser reeleito no quadriénio seguinte (art. 52, caput). Os seus poderes eram sujeitos a

um controlo apertado por parte do Senado Federal (art. 91, II e III), podendo apenas decretar a

intervenção federal nos Estados, nos termos do art. 12, para:

Manter a integridade nacional;

Repelir invasão estrangeira, ou de um Estado noutro;

Pôr termo à guerra civil;

Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes Públicos estaduais;

Assegurar a observância dos princípios constitucionais especificados nas alíneas

“a” a “h” do art. 7º, I, e a execução das leis federais;

Reorganizar as finanças do Estado que, sem motivo de força maior, suspender, por

mais de dois anos consecutivos, o serviço da sua dívida fundada;

Execução de ordens e decisões dos Juízes e Tribunais federais.

No domínio do poder judiciário, a Constituição de 1934 trouxe algumas novidades:

A mudança de designação do Supremo Tribunal Federal para Corte Suprema (art.

63, alínea A);

A inclusão dos Tribunais militares e eleitorais no poder judiciário (art. 63, alíneas

“c” e “d”);

A criação de Tribunais administrativos (art. 79).

4.3 – Organização territorial

Aos Estados era permitido incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se, para

se anexar a outros ou formar novos Estados, somente mediante o consentimento das

respectivas Assembleias Legislativas, em duas Legislaturas sucessivas e aprovação por lei

federal (art. 14).

A administração do Distrito Federal cabia a um Prefeito, de nomeação do Presidente

da República, com aprovação do Senado Federal, e demissível ad nutum cabendo as funções

deliberativas a uma Câmara Municipal electiva (art. 15).

Os Municípios foram organizados de forma a lhes ser assegurada uma maior

autonomia na eleição do Prefeito e vereadores das Câmaras Municipais; na decretação de

impostos e taxas; na arrecadação e aplicação de receitas próprias (art. 13.º).

Além do território do Acre, que viria mais tarde a denominar-se Brasília, o legislador

constituinte previu a constituição de outros territórios nacionais adquiridos pela União, por

qualquer meio legítimo (art. 16, caput).

4.4 – Direitos Fundamentais

A Constituição de 1934 demonstrou uma tendência marcadamente social. Não só na

Declaração de Direitos (Título III – art. 106 a 114) apareceram novos direitos, como também

se desenvolveram outros títulos dedicados à Ordem Econômica e Social e à Família,

Educação e Cultura (Títulos IV e V, respectivamente).

A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934 assumiu um

conteúdo programático, em que o Estado deixa a sua posição de guardião da ordem pública e

passa a actuar no campo da saúde, higiene, educação, economia, assistência e previdência

social, instaurando-se um Estado Social de Direito.

No campo dos direitos e garantias individuais surgiu o Mandado de Segurança (art.

113, n.º 33) para “defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato

manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade”. O mandado não prejudica

as acções petitórias competentes.

Apareceu também nesse artigo a acção popular (art. 113, n.º 38): “Qualquer cidadão

será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou anulação dos atos lesivos do

patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios.”

4.5 – Revisão Constitucional

No caput do art. 178 distinguia-se entre revisão e emenda: “A Constituição poderá ser

emendada, quando as alterações propostas não modificarem a estrutura política do Estado

(arts. 1 a 14, 17 a 21); a organização ou a competência dos poderes da soberania (Capítulos II

III e IV, do Título I; o Capítulo V, do Titulo I; o Título II; o Título III; e os arts. 175, 177,

181, este mesmo art. 178); e revista, no caso contrário.”

Ou seja, haveria lugar a emenda quando as alterações propostas visassem modificar a

estrutura política do Estado ou a organização e competência dos órgãos de soberania. A

emenda serviria para todos os outros casos.

O § 2.º do art. 178 fixava um regime mais apertado para o processo de revisão devendo

a proposta de revisão ser apresentada na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, e

apoiada, pelo menos, por dois quintos dos seus membros, ou submetida a qualquer desses

órgãos por dois terços das Assembleias Legislativas, em virtude de deliberação da maioria

absoluta de cada uma destas. Se ambos por maioria de votos aceitassem a revisão, proceder-

se-ia à elaboração do anteprojecto. Este seria submetido, na legislatura seguinte, a três

discussões e votações em duas sessões legislativas, numa e noutra casa.

Do mesmo modo, o § 3.º fixava a forma pela qual as revisões e as emendas seriam

sistematizadas: as primeiras seriam incorporadas e as segundas anexadas com o respectivo

número de ordem, ao texto constitucional que, nesta conformidade, seria publicado com as

assinaturas dos membros das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Em Dezembro de 1935 três emendas constitucionais tiveram lugar por meio do

Decreto Legislativo n.º 6, de 18 de Dezembro. A primeira permitiu à Câmara dos Deputados,

com a colaboração do Senado Federal, autorizar o Presidente da República a declarar

equiparada ao estado de guerra em qualquer parte do território nacional a comoção grave com

finalidades subversivas das instituições sociais e políticas. O decreto de declaração deveria

indicar as garantias constitucionais que não ficariam suspensas. As outras duas conferiam ao

Poder Executivo poderes para demitir os oficiais das Forças Armadas e os funcionários civis

que participassem em movimentos subversivos das instituições sociais e políticas.

A autorização para a declaração do estado de guerra foi dada através do Decreto

Legislativo n.º 8, de 21 de Dezembro, sendo utilizada pelo Governo em Março seguinte face à

actividade insurreccional comunista. Inicialmente declarado por 90 dias, acabou por durar um

ano, após três prorrogações. Ou seja, a Constituição de 1934 foi executada durante uma parte

considerável da sua vigência com a suspensão das garantias que introduziu.

V – A CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, DE 10 DE NOVEMBRO DE 1937

Em 1937, face ao fim do mandato de Getúlio Vargas, começaram a perfilar-se as

candidaturas para disputar a sucessão.

Em Maio desse ano o Partido Constitucionalista de São Paulo lançou a candidatura de

Armando Sales de Oliveira, que representava uma ruptura com o regime anterior. Como o

Partido Constitucionalista tinha natureza estadual, os partidários de Armando Sales em breve

estenderiam a sua acção por todo o Brasil com a instituição da União Democrática Brasileira.

Os fiéis à Revolução de 1930 (outubristas) reuniram-se à volta da candidatura de José

Américo de Almeida, antigo Ministro da Viação.

Por acção do movimento continuista, constituído pelos mais fiéis apoiantes de Getúlio

Vargas, surgiu a ideia da manutenção do Presidente no poder. Contudo, para isso seria

necessário substituir a constituição de 1934 que, no seu art. 52 fixava que “O período

presidencial durará um quadriênio, não podendo o Presidente da República ser reeleito senão

quatro anos depois de cessada a sua função, qualquer que tenha sido a duração desta.”

Por outro lado, continuava a preocupar as autoridades militares o crescer da actividade

comunista, psicologicamente apoiada pelos acontecimentos da guerra civil espanhola.

E assim, em 30 de Setembro, foi “descoberto” e divulgado um plano insurreccional

(Plano Cohen), que motivou os chefes militares a enviarem ao Presidente da República uma

solicitação de declaração do estado de guerra. No dia seguinte essa declaração foi

efectivamente autorizada, sendo as polícias militares estaduais colocadas sob a jurisdição do

Exército.

Os altos comandos pronunciaram-se então pela substituição da Constituição de 1934 e

em 10 de Novembro a tropa encerrou a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. Nessa

noite o Presidente Getúlio Vargas difundiu na Rádio uma “Proclamação ao Povo Brasileiro”,

em que justificou a substituição da Constituição de 1934 por uma nova entretanto decretada

para entrar imediatamente em vigor, sujeita no entanto à realização de um plebiscito nacional

que nunca veio a ser realizado.

A Constituição de 1937 foi assim outorgada em situação revolucionária com “o apoio

das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional”.

Ao contrário das anteriores, a Constituição de 1937 não é dividida em Títulos,

Capítulos, Secções, etc., sendo os artigos agrupados por rubricas.

5.1 – Forma de Governo

A esfera das atribuições federais foi ampliada. Os Estados podiam legislar sobre as

matérias não reguladas por lei federal e que não coubessem na competência privativa da

União, sendo-lhe permitido exercer qualquer poder que lhes não fosse negado pela

Constituição (arts. 17, 18, 23 e 24).

5.2 – Poder político

Os poderes do Presidente da República foram bastante alargados. Era ele que, como

autoridade suprema do Estado, coordenava a actividade dos órgãos representativos de grau

superior; dirigia a política interna e externa; promovia ou orientava a política legislativa de

interesse nacional; e superintendia a administração do País (art. 73).

No domínio do poder legislativo, o Presidente da República podia expedir decretos e

regulamentos para a execução de Leis (art. 74, a); bem como expedir decretos-leis (art. 74, b),

nos termos dos arts. 12, 13 e 14. Passou também a poder declarar, por si só, o estado de

emergência e o estado de guerra, nos termos do art. 166 (art. 74, k), com as limitações do art.

168, não podendo o Parlamento Nacional suspender o estado de emergência ou o estado de

guerra declarado pelo Presidente da República (art. 166, parágrafo único).

O Presidente da República adquiriu também o poder de dissolver a Câmara dos

Deputados (arts. 76, b e 167, parágrafo único), quando esta não aprovasse as medidas tomadas

em estado de emergência ou de guerra.

O poder legislativo encontrava-se confiado ao Parlamento Nacional, composto pela

Câmara dos Deputados e pelo Conselho Federal (art. 38, § 1º), e era coadjuvado pelo

Conselho da Economia Nacional e pelo Presidente da República (art. 38, caput).

A iniciativa legislativa pertencia, em princípio, ao Governo, podendo ser tomada por

um terço dos Deputados ou dos membros do Conselho Federal. De qualquer modo, não eram

admitidos projectos ou emendas de iniciativa de qualquer das Câmaras que versassem sobre

matéria tributária ou dos quais resultasse aumento de despesa (art. 64).

No domínio do poder judiciário, a Constituição de 1937 deixou de incluir os Tribunais

eleitorais e os tribunais federais de 1.ª instância (art. 90).

Todas as causas seriam julgadas pelos tribunais estaduais, permitindo-se contudo o

recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal nos casos fixados no inciso III do art.

101.

No nº 17 do art. 122 foi consagrada a existência de um tribunal especial31 para

processar e julgar “os crimes que atentarem contra a existência, a segurança e a integridade do

Estado, a guarda e o emprego da economia popular”.

5.3 – Organização territorial

Tal como na Constituição de 1891, os Estados voltam a poder incorporar-se entre si,

subdividir-se, ou desmembrar-se para anexar-se a outros, ou formar novos Estados, mediante

a aquiescência das respectivas Assembleias Legislativas, em duas sessões, anuais

consecutivas. Manteve-se a exigência da sua aprovação pelo Parlamento Nacional (art. 5º,

caput). Contudo, a Constituição de 1937 veio permitir que a resolução do Parlamento pudesse

ser submetida pelo Presidente da República ao plebiscito das populações interessadas (art. 5º,

parágrafo único).

A Constituição de 1937 veio permitir também uma maior intervenção federal nos

Estados com a figura do Interventor nomeado pelo Presidente da República, nos casos

previstos no seu art. 9º.

Previu-se também a possibilidade de um Estado ser transformado em território até o

restabelecimento de sua capacidade financeira, se em três anos consecutivos não arrecadasse

receita suficiente à manutenção dos seus serviços (art. 8º, parágrafo único).

Consagrou-se ainda que os Municípios da mesma região pudessem agrupar-se para a

instalação, exploração e administração de serviços públicos comuns, tendo esse agrupamento

personalidade jurídica limitada aos seus fins (art. 29, caput).

5.4 – Direitos Fundamentais

A Constituição de 1937 não foi posta em execução na maior parte das suas

disposições. Desde logo, a nível de direitos fundamentais (art. 122 e ss), uma vez que o seu

artigo 186 impunha em todo o território nacional o estado de emergência, o qual só viria a ser

levantado em 30 de Novembro de 1945, através da Lei Constitucional nº 16.

5.5 – Revisão Constitucional

Segundo o art. 180 da Constituição de 1937, enquanto não se reunisse o Parlamento

31 Esse tribunal especial viria a tomar a designação de Tribunal de Segurança Nacional pela Lei Constitucional nº 7, de 30 de Setembro de

nacional, o Presidente da República teria o poder de expedir decretos-leis sobre todas as

matérias da competência legislativa da União.

O poder executivo entendeu tal faculdade como abrangendo a competência constituinte

e assim, expediu vinte e uma Leis Constitucionais que alteraram a Constituição de 1937.

Lei Constitucional nº 1, de 16 de Maio de 1938: emendou o art. 122, nº 13, da

Constituição. Esta Lei veio proibir a pena de prisão perpétua e alargar o âmbito da

pena de morte aos casos de insurreição armada contra os Poderes do Estado; actos

destinados a provocarem a guerra civil; tentativas de desmembramento do território

nacional por meio de movimento armado; crime contra a vida, a incolumidade ou a

liberdade do Presidente da República; etc. No entanto salvaguardou que “As penas

estabelecidas ou agravadas na lei nova não se aplicam aos fatos anteriores”.

Lei Constitucional nº 2, de 16 de Maio de 1938: restabeleceu o art. 177 da

Constituição de 1937. A Lei Constitucional nº 2 restabeleceu, por tempo

indeterminado, a faculdade constante do art. 177 da Constituição, ou seja, de

aposentar ou reformar funcionários civis ou militares segundo o livre arbítrio do

Governo.

Lei Constitucional nº 3, de 18 de Setembro de 1940: emendou os arts. 23 e 35 da

Constituição. Esta Lei Constitucional alterou as competências dos Estados.

Lei Constitucional nº 4, de 20 de Setembro de 1940: emendou o artigo 20 da

Constituição. Esta Lei veio alargar as competências da União em matéria de

tributação dos combustíveis.

Lei Constitucional nº 5, de 10 de Março de 1942: emendou os artigos 122, 166 e

168 da Constituição. A alteração ao art. 166 introduziu-lhe um § 2º permitindo que

o Presidente da República pudesse, uma vez declarado o estado de emergência em

todo o país, decretar, com prévia concordância do Poder Legislativo, a suspensão

das garantias constitucionais atribuídas à propriedade e à liberdade de pessoas

físicas ou jurídicas, súbditos de Estado estrangeiro, que, por qualquer forma,

tivessem praticado actos de agressão de que tivessem resultado prejuízos para os

bens e direitos do Estado brasileiro, ou para a vida, os bens e os direitos das pessoas

físicas ou jurídicas brasileiras, domiciliadas ou residentes no País. O objectivo de

tal previsão seria a salvaguarda dos interesses materiais e morais do Estado ou de

seus nacionais. Tal alteração implicou alterações nos arts. 122 e 168 da

Constituição.

1942, que emendou o art. 173 da Constituição de 1937.

Lei Constitucional nº 6, de 13 de Maio de 1942: emendou o § 1º do art. 143 da

Constituição. A Lei Constitucional nº 6 veio permitir a concessão de autorização

para o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da

energia hidráulica, ainda que de propriedade privada, a empresas constituídas por

não nacionais.

Lei Constitucional nº 7, de 30 de Setembro de 1942: emendou o art. 173 da

Constituição. Esta Lei previa uma repartição de jurisdição entre a Justiça Militar e o

Tribunal de Segurança Nacional, a qual seria regulada por lei ordinária.

Lei Constitucional nº 8, de 12 de Outubro de 1942: esclareceu os arts. 177 e 182

da Constituição.

Lei Constitucional nº 9, de 28 de Fevereiro de 1945: emendou os arts. 7º, 9º e

parágrafo, 14, 30, 32 e parágrafo, 33, 39 e parágrafos, 46, 48, 50 e parágrafo, 51,

53, 55, 59 e parágrafos, 61, 62, 64 e parágrafos, 65 e parágrafo, 73, 74, 76, 77, 78 e

parágrafos, 79, 80, 81, 82 e parágrafo, 83, 114 e parágrafo, 117 e parágrafo, 121,

140, 174 e parágrafos, 175, 176 e parágrafo, 179 da Constituição. As alterações

operadas por esta lei foram tão profundas, que se procedeu à republicação da

Constituição. Versaram sobretudo sobre o modo de eleição dos membros da

Câmara dos Deputados, do Conselho Federal e do Presidente da República, os quais

passaram a ser eleitos por sufrágio directo. Suprimiram-se várias disposições e

alterou-se o art. 140, desaparecendo deste preceito a referência às Corporações.

Lei Constitucional nº 10, de 26 de Maio de 1945: emendou o art. 92 da

Constituição, dando-lhe a seguinte redacção: “Os Juízes, ainda que em

disponibilidade, não podem exercer qualquer outra função pública, salvo nos

serviços eleitorais. A violação deste preceito importa a perda do cargo judiciário e

de todas as vantagens correspondentes.”.

Com receio de que Getúlio Vargas tentasse impedir as eleições marcadas para 2 de

Dezembro, as Forças Armadas, em 29 de Outubro, depuseram-no. Como não estavam ainda

constituídos o Conselho Federal, nem a Câmara dos Deputados, foi o Presidente do Supremo

Tribunal Federal investido como Presidente da República.

Lei Constitucional nº 11, de 30 de Outubro de 1945: emendou o art. 92 da

Constituição). Esta lei veio permitir aos Juízes o exercício em acumulação de

funções, não só nos serviços eleitorais mas também em cargos em comissão e de

confiança directa do Presidente da República ou dos Interventores Federais nos

Estados.

Lei Constitucional nº 12, de 7 de Novembro de 1945: revogou o art. 177 da

Constituição). Esta lei fez cessar a faculdade do Governo aposentar ou reformar

funcionários civis ou militares, segundo o seu livre arbítrio.

Lei Constitucional nº 13, de 12 de Novembro de 1945: dispôs sobre os poderes

constituintes do Parlamento que seria eleito a 2 de Dezembro de 1945. Foi

renomeado o Conselho Federal, que readquiriu a sua anterior designação: Senado

Federal.

Lei Constitucional nº 14, de 17 de Novembro de 1945: extinguiu o Tribunal de

Segurança Nacional e dispõe sobre a competência para o processo e julgamento de

crimes contra a existência, a segurança e a integridade do Estado e a guarda e o

emprego da economia popular.

Lei Constitucional nº 15, de 26 de Novembro de 1945: dispôs sobre os poderes

da Assembleia Constituinte e do Presidente da República. A Lei Constitucional nº

15 veio conferir ao Presidente da República, a eleger em 2 de Dezembro de 1945,

os poderes de Legislatura ordinária e de administração no âmbito da União para

expedir todos os actos necessários até ser promulgada a nova Constituição.

Lei Constitucional nº 16, de 30 de Novembro de 1945: revogou o art. 186 da

Constituição. Este diploma constitucional fez cessar o estado de emergência.

Lei Constitucional nº 17, de 3 de Dezembro de 1945: revogou o art. 179 da

Constituição.

Lei Constitucional nº 18, de 11 de Dezembro de 1945: revogou o parágrafo único

do art. 96 da Constituição.

Lei Constitucional nº 19, de 31 de Dezembro de 1945: dispôs sobre a

proclamação e a posse do candidato eleito para a Presidência da República. Esta lei

abreviou o modo de proclamação do Presidente da República e fixou o dia 31 de

Janeiro de 1946 para a respectiva tomada de posse.

Lei Constitucional nº 20, de 2 de Janeiro de 1946: fixou o subsídio dos

Deputados e Senadores, e dá outras providências.

Lei Constitucional nº 21, de 23 de Janeiro de 1946: dispôs sobre a proclamação

do Presidente da República eleito a 2 de Dezembro de 1945. Permitiu-se a

proclamação do Presidente pelo Tribunal Superior eleitoral, independentemente da

resolução final de dúvidas, impugnações ou recursos, desde que a votação

impugnada não pudesse influir no resultado final da eleição.

VI – A CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, DE 18 DE SETEMBRO DE 1946

Pelo Decreto-Lei nº 8.708, de 17 de Janeiro de 1946 foram estabelecidas as normas

regimentais necessárias à instalação da Assembleia Constituinte. Essa Assembleia veio a

instalar-se no dia 2 do mês seguinte.

6.1 – Forma de Governo

Manteve-se o regime representativo, a Federação e a República (art. 1º, caput).

6.2 – Poder político

O poder legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, o qual era composto pela

Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal (art. 37). Funcionava praticamente todo o ano,

de 15 de Março a 15 de Dezembro (art. 39, caput).

Os Ministros de Estado eram obrigados a comparecer perante a Câmara dos

Deputados, o Senado Federal ou qualquer das suas Comissões, quando uma ou outra Câmara

os convocasse para, pessoalmente, prestar informações acerca de assunto previamente

determinado. A falta do comparecimento, sem justificação, importava crime de

responsabilidade (art. 54).

À Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, assim como às suas Comissões, cabia

designar dia e hora para ouvir o Ministro de Estado que lhes quisesse prestar esclarecimentos

ou solicitar providências legislativas (art. 55).

Os membros da Câmara dos Deputados eram eleitos, segundo o sistema de

representação proporcional, pelos Estados, Territórios e Distrito Federal (art. 56).

Os poderes do Presidente da República foram restringidos, encontrando-se enumerados

no art. 87.

No âmbito do poder judiciário foram criados o Tribunal Federal de Recursos (art. 103

a 105) e os Tribunais do Trabalho. O Tribunal Federal de Recursos foi criado para

descongestionar o Supremo Tribunal Federal. Os Tribunais do Trabalho subdividiam-se em:

Tribunal Superior do Trabalho; Tribunais Regionais do Trabalho; e Juntas ou Juízes de

Conciliação e Julgamento (art. 122).

6.3 – Organização territorial

Os Estados passaram a ter ampla autonomia político-administrativa, elegendo os seus

Governadores e os membros das Assembleias legislativas. Essa autonomia foi também

estendida aos Municípios, sendo os Prefeitos e os Vereadores eleitos por sufrágio directo (art.

28, II).

Deu-se atenção ao estatuto dos territórios, podendo “mediante lei especial, constituir-

se em Estados, subdividir-se em novos Territórios ou volver a participar dos Estados de que

tenham sido desmembrados” (art. 3º).

O art. 4º das Disposições Transitórias determinou a transferência da capital da União,

tal como já havia sido consagrado na Constituição de 1934. Assim, em 21 de Abril de 1960

Brasília foi inaugurada e o antigo Distrito Federal do Rio de Janeiro passou a constituir o

Estado do Guanabara (Constituição de 1946, Disposições Transitórias, art. 4º, § 4º)

6.4 – Direitos Fundamentais

O § 24 do art. 141 definia os pressupostos da concessão de mandados de segurança:

“Para proteger direito líquido e certo não amparado por Habeas Corpus, conceder-se-á

mandado de segurança, seja qual for a autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de

poder”.

Esta Constituição suprimiu a pena de morte, com excepção do disposto na legislação

militar e em tempo de guerra com país estrangeiro (art. 141, § 31).

Do art. 206 ao 214 foram descritos os pressupostos e limites dos actos praticados em

estado de sítio, garantindo-se, no entanto, o recurso ao poder judicial no caso de inobservância

de alguma das prescrições aí contidas (art. 215).

6.5 – Revisão Constitucional

Em 31 de Janeiro de 1961 tomou posse o Presidente Jânio Quadros. Contudo, a 25 de

Agosto desse ano renunciou ao cargo.

Na altura estava ausente, em viagem pela República Popular da China, o Vice-

Presidente João Belchior Marques Goulart.

No executivo confrontavam-se duas correntes: por um lado, os Ministros militares32

32 General Odílio Denis, Almirante Sílvio Heck e o Brigadeiro Grüm Moss.

entendiam que João Goulart não dava garantias de estabilidade do exercício das funções

presidenciais; por outro, a corrente legalista entendia dever-se cumprir o preceituado na

Constituição. Do confronto destas duas correntes resultou um compromisso que se traduziu na

Emenda Constitucional nº 4, de 2 de Setembro de 1961, denominada Ato Adicional (Ato

Adicional, art. 20).

Nos termos do art. 1º do Ato Adicional, o poder executivo passou a estar repartido

entre o Presidente da República e o Conselho de Ministros, cabendo a este a direcção e a

responsabilidade da política do Governo, assim como da administração federal.

O Presidente da República passou a ser eleito pelo Congresso Nacional para um

mandato de 5 anos (Ato Adicional, art. 2) e as suas competências foram fixadas pelo art. 3º do

Ato Adicional.

Todos os actos do Presidente da República passaram a ser sujeitos à referenda do

Presidente do Conselho de Ministros e pelo Ministro competente como condição de sua

validade (Ato Adicional, art. 7º).

Ao Presidente da República competia a nomeação do Presidente do Conselho de

Ministros e, por indicação deste, dos demais Ministros de Estado, e a sua exoneração quando

a Câmara dos Deputados lhes retirasse a confiança (Ato Adicional, art. 3º, I).

Depois de nomeado, o Conselho de Ministros comparecia perante a Câmara dos

Deputados, a fim de apresentar o seu programa de Governo. A Câmara dos Deputados, na

sessão subsequente e pelo voto da maioria dos presentes, exprimiria a sua confiança no

Conselho de Ministros. A recusa da confiança importava a constituição de novo Conselho de

Ministros (Ato Adicional, art. 9º, caput e parágrafo único).

Votada a moção de confiança, o Senado Federal, pelo voto de dois terços de seus

membros, poderia, nas quarenta e oito horas seguintes, opor-se à composição do Conselho de

Ministros. Contudo, o ato do Senado Federal poderia ser rejeitado, pela maioria absoluta da

Câmara dos Deputados, em sua primeira sessão (Ato Adicional, art. 10).

Atribui-se competência às duas Câmaras do Congresso Nacional para, em conjunto,

complementar a organização do sistema parlamentar de Governo, exigindo-se a aprovação do

diploma legal pela maioria absoluta dos seus membros (Ato Adicional, art. 22, caput).

No mesmo artigo admitiu-se a delegação legislativa (Ato Adicional, art. 22, parágrafo

único).

Pelo seu art. 23 o Ato Adicional extinguiu o cargo de Vice-Presidente da República.

O caput do art. 21 do Ato Adicional determinou “O Vice-Presidente da República,

eleito a 3 de outubro de 1960, exercerá o cargo de Presidente da República, nos têrmos dêste

Ato Adicional, até 31 de janeiro de 1966, prestará compromisso perante o Congresso

Nacional e, na mesma reunião, indicará, à aprovação dele, o nome do Presidente do Conselho

e a composição do primeiro Conselho de Ministros.”

Paschoal Ranieri Mazzilli, como Presidente da Câmara dos Deputados, assumiu

interinamente a Presidência da República em virtude da renúncia do Presidente Jânio Quadros

e a ausência do Vice-Presidente, em viagem à República Popular da China, até que se

resolvesse a crise política gerada pela renúncia.

Se o primeiro governo não teve problemas de maior com o novo sistema político, o

segundo Governo chefiado por Brochado da Rocha tornou-se quase inviável, mercê do

desentendimento das forças políticas no seio da Câmara dos Deputados. Daí que Brochado da

Rocha tenha desenvolvido esforços para o regresso ao presidencialismo, o que veio a

conseguir através da Lei Complementar n.º 2, de 16 de Setembro de 1962, a qual determinou

a realização de um referendum (art. 2º).

Na sequência do referendum, em 6 de Janeiro de 1963, o qual foi contrário à

continuação da vigência do Ato Adicional, foi votada a Emenda Constitucional nº 6, de 23 de

Janeiro de 1963, que revogou a Emenda nº 4 e restabeleceu o sistema presidencial. Deu-se

também nova redacção ao § 1 do art. 79 da Constituição, pela qual o Vice-Presidente deixou

de exercer as funções de Presidente do Senado Federal.

De 23 de Janeiro de 1963 a 31 de Março de 1964, o mal-estar nas forças armadas

começou a reinar, devido fundamentalmente à devolução de poderes ao Presidente da

República que os militares tinham conseguido retirar-lhe com a Emenda nº 4. Acusado de

estar a serviço do "comunismo internacional", o Presidente João Goulart e o Governo

chefiado por Hermes Lima foram destituídos por um movimento militar que eclodiu na noite

de 31 de Março de 1964. No dia 2 do mês seguinte o Congresso Nacional declarou vaga a

Presidência da República, assumindo-a novamente Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara

dos Deputados.

Destituído João Goulart, os militares constituíram o Supremo Comando da Revolução,

do qual faziam parte o General Costa e Silva, o Brigadeiro Francisco Correia de Melo e o

Almirante Augusto Rademaker.

Em 9 de Abril, o Ato Institucional n.º 1, de autoria de Francisco Campos33, embora

mantendo em vigor a Constituição de 1946, sujeitou-a a importantes modificações. Os

revolucionários manifestaram a legitimidade do exercício do poder constituinte nos seguintes

termos: “A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se

33 Autor da Constituição de 1937.

traduz, não o interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação.

A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta

pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a forma mais expressiva e mais radical do

Poder Constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder Constituinte, se legitima por si

mesma. Ela destitui o governo anterior e tem a capacidade de constituir o novo governo. Nela

se contém a força normativa, inerente ao Poder Constituinte. Ela edita normas jurídicas sem

que nisto seja limitada pela normatividade anterior à sua vitória. Os Chefes da revolução

vitoriosa, graças à ação das Forças Armadas e ao apoio inequívoco da Nação, representam o

Povo e em seu nome exercem o Poder Constituinte, de que o Povo é o único titular.” (Ato

Institucional nº 1, preâmbulo).

Das modificações introduzidas pelo Ato Institucional nº 1 destacam-se:

A atribuição de iniciativa legislativa ao Presidente da República, podendo remeter

ao Congresso Nacional projectos de Emenda Constitucional (Ato Institucional nº 1,

art. 3º) ou de leis ordinárias (Ato Institucional nº 1, art. 4º). Foi-lhe igualmente

atribuída a iniciativa exclusiva dos projectos de lei que criassem ou aumentassem a

despesa pública, não sendo admitidas, em qualquer das Casas do Congresso

Nacional, emendas a esses projectos que aumentassem a despesa proposta pelo

Presidente da República (Ato Institucional nº 1, art. 5º).

A atribuição, ao Presidente da República, do poder de decretar o estado de sítio, ou

prorrogá-lo, pelo prazo máximo de trinta dias, sendo o seu ato submetido ao

Congresso Nacional, acompanhado de justificação, dentro de 48 horas (Ato

Institucional nº 1, art. 6º).

A atribuição de poderes, aos Comandantes-em-Chefe e ao futuro Presidente da

República34, para, no interesse da paz e da honra nacional, e sem as limitações

previstas na Constituição, suspender os direitos políticos pelo prazo de dez anos e

cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluindo-se a

apreciação judicial desses actos (Ato Institucional nº 1, art. 10).

A suspensão, por seis meses, das garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade

e estabilidade, podendo, mediante investigação sumária, os titulares dessas

garantias ser demitidos ou dispensados, ou ainda, com vencimentos e as vantagens

proporcionais ao tempo de serviço, postos em disponibilidade, aposentados,

transferidos para a reserva ou reformados, mediante actos do Comando Supremo da

Revolução até a posse do Presidente da República e, depois da sua posse, por

34 Nos 60 dias imediatos à posse.

decreto presidencial ou, no caso de servidores estaduais ou municipais, por decreto

do Governo do Estado ou do Governador do Estado35, respectivamente, desde que

tenham tentado contra a segurança do Pais, o regime democrático e a probidade da

administração pública. Do acto caberia recurso para o Presidente da República e

para os Tribunais, contudo, o controle jurisdicional limitar-se-ia ao exame de

formalidades extrínsecas, vedada a apreciação dos fatos que o motivaram, bem

como da sua conveniência ou oportunidade (Ato Institucional nº 1, art. 7º).

Em 15 de Abril de 1964, em sessão conjunta do Congresso Nacional, presidida pelo

Senador Auro Soares Moura Andrade, tomou posse o novo Presidente da República,

Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, a fim de completar o quinquénio que

terminava em 31 de Janeiro de 196636.

De Maio de 1964 a 5 de Novembro de 1965 tiveram lugar várias Emendas:

Emenda Constitucional nº 7, de 22 de Maio de 1964: suspendeu,

provisoriamente, e em parte, a vigência do artigo 141, § 3437, da Constituição.

Emenda Constitucional nº 8, de 22 de Maio de 1964: alterou a data38 referida no

artigo 87, XVI, da Constituição.

Emenda Constitucional nº 9, de 22 de Julho de 1964: restringiu os mandatos do

Presidente e do Vice-Presidente da República a quatro anos; modificou as

condições de elegibilidade dos militares e as competências conjuntas da Câmara

dos Deputados e do Senado Federal; e determinou a realização de eleições no ano

de 1966 e a prorrogação dos mandatos do Presidente e Vice-Presidente da

República até 15 de Março de 1967. Alterou os arts. 38, caput; 39, caput; 41; 81;

82; 83; 95, III; 132, parágrafo único; 138; e 203 da Constituição de 1946. Aditou

um § 3º ao art. 45.

Emenda Constitucional nº 10, de 9 de Novembro de 1964: transferiu para a

União a competência da cobrança do imposto territorial rural e estabeleceu

garantias quanto a propriedades.

Emenda Constitucional nº 11, de 31 de Março de 1965: acrescentou o § 2º ao art.

15739 da Constituição.

35 Mediante proposta do Prefeito municipal.36 Por força do parágrafo único do art. 6º da Emenda Constitucional nº 9, de 22 de Julho de 1964, foi o seu mandato prorrogado até 15 de

Março de 1967.37 Suspende a exigência de prévia autorização orçamentária para a cobrança de tributo em cada exercício, até 31 de Dezembro de 1964.38 Data limite para o envio à Câmara dos Deputados, em cada ano, da proposta do orçamento.39 Proibiu a criação, majoração ou extensão de prestações de serviços de carácter assistencial ou de benefícios compreendidos na

Emenda Constitucional nº 12, de 8 de Abril de 1965: deu nova redacção ao § 1º

do art. 2840 da Constituição.

Emenda Constitucional nº 13, de 8 de Abril de 1965: estabeleceu a

simultaneidade das eleições para Presidente, Vice-Presidente da República,

Governadores, Vice-Governadores e Deputados Estaduais.

Emenda Constitucional nº 14, de 3 de Junho de 1965: deu nova redacção aos

arts. 12441 (inciso IX) e 13942 da Constituição.

Emenda Constitucional nº 15, de 5 de Julho de 1965: aditou ao texto

constitucional os artigos 219, 220, 221, 222, relacionados com a obrigatoriedade do

pedido de registro de candidato a qualquer cargo electivo ser sempre acompanhado

de declaração de bens da qual constasse a sua origem.

O país passou a ser governado por decretos-lei, sem a interferência do Congresso

Nacional.

Em 3 de Outubro de 1965 realizaram-se as eleições para os cargos de Governador de

Estado. Face à agitação sentida em certos sectores revolucionários, decorrente da vitória da

oposição nos Estados de Guanabara e Minas Gerais, o Governo preparou um projecto de

Emenda Constitucional, que alargava os seus poderes e que foi enviado ao Congresso

Nacional em 13 de Outubro. Porém, dada a urgência das decisões, o Governo invocou

novamente o mandato revolucionário (Ato Institucional nº 2, preâmbulo, b) e publicou o Ato

Institucional nº 2, de 5 de Novembro, que:

Alterou o Art. 108, § 1º da Constituição, alargando a jurisdição dos Tribunais

militares para repressão de crimes contra a segurança nacional ou instituições

militares praticados por civis.

Alterou a forma de eleição do Presidente e Vice-Presidente da República, passando

estes a ser eleitos por maioria absoluta e votação nominal a ter lugar em sessão

pública do Congresso Nacional (Ato Institucional nº 2, art. 9º).

Alargou o período pelo qual o Presidente da República podia decretar ou prorrogar

o estado de sítio, passando a ser de 180 dias (Ato Institucional nº 2, art. 13).

Atribuiu ao Presidente da República o poder de, ouvido o Conselho de Segurança

previdência social, sem que se encontrasse assegurada a correspondente fonte de custeio total.

40 Possibilita a nomeação, pelos governadores dos Territórios, dos prefeitos das respectivas capitais, bem como pelos governadores dos Estados e Territórios os prefeitos dos Municípios onde houver estâncias hidrominerais naturais, quando beneficiadas pelo Estado ou pela União.

41 Competência privativa do Tribunal de Justiça.42 Inelegibilidades.

Nacional, suspender os direitos políticos até dez anos, cassar mandatos e punir

funcionários (Ato Institucional nº 2, arts. 14 e 15).

Permitiu ao Presidente da República decretar e fazer cumprir a intervenção federal

nos Estados para assegurar a execução da lei federal e para prevenir ou reprimir a

subversão da ordem, embora sujeita à aprovação do Congresso Nacional e sem

prejuízo da execução da intervenção decretada (Ato Institucional nº 2, art. 17, I, II e

parágrafo único).

Consagrou a irrecorribilidade dos actos praticados em execução de diplomas

revolucionários (Ato Institucional nº 2, art. 19, I e II).

Consagrou a faculdade do Presidente da República publicar Atos Complementares

ao Ato Institucional e decretos-leis sobre segurança nacional (Ato Institucional nº 2,

art. 30).

Em Novembro de 1965, através do Ato Complementar nº 4, de 20 desse mês,

lançaram-se as bases para a normalização das instituições políticas com a previsão da criação

de organizações com atribuições de partidos políticos, enquanto estes não se constituíssem

(Ato Complementar nº 4, art. 1º). Assim nasceu a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e

o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sendo o primeiro amplamente maioritário no

Congresso Nacional.

Pelo Ato Institucional nº 3, de 5 de Novembro de 1966, a eleição dos Governadores e

Vice-Governadores dos Estados passou a ser efectuada pela maioria absoluta dos membros

das Assembleias Legislativas respectivas, em sessão pública e votação nominal (Ato

Institucional nº 3, art. 1º, caput).

Marcaram-se as eleições, considerando-se o Vice-Presidente da República e os Vice-

Governadores de Estado eleitos em virtude da eleição do Presidente e do Governador com os

quais forem inscritos como candidatos (Ato Institucional nº 3, art. 2º).

VII – A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL,DE 24 DE JANEIRO DE 1967

Tendo a Constituição de 1946 sido mantida em vigor após a Revolução de 1964 e, por

via disso, sujeita a inúmeras alterações, considerou o Governo ser necessário dotar o país de

uma nova Constituição, que uniformizasse todos os princípios contidos na Constituição e os

tornasse compatíveis com os ideais e princípios revolucionários.

Foi assim que através do Decreto-Lei nº 58.198, de 15 de Abril de 1966 foi nomeada a

Comissão presidida pelo Jurisconsulto Levi Carneiro, com a incumbência de elaborar o

anteprojecto da nova Lei Fundamental (Decreto-Lei nº 58.198, art. 1º e 2º).

A Comissão concluiu o trabalho em 19 de Agosto de 1966, submetendo-o, com

exposição de motivos, à consideração do Presidente da República, por intermédio do

Ministério da Justiça e Negócios Interiores (Decreto-Lei nº 58.198, art. 3º).

Em 3 de Outubro de 1966 o Congresso Nacional elegeu o Marechal Arthur da Costa e

Silva para a Presidência da República, o qual tomaria posse em 15 de Março de 1967.

Entretanto, o Presidente da República Castello Branco, querendo deixar ao seu

sucessor a nova Constituição, através do Ato Institucional nº 4, de 7 de Dezembro de 1966,

convocou extraordinariamente o Congresso, que se encontrava em termo de legislatura a fim

de discutir, votar e promulgar a nova Constituição.

Em 24 de Janeiro de 1967 foi promulgada pelas Mesas das duas Câmaras a nova

Constituição.

7.1 – Forma de Governo

Manteve-se o regime representativo, a Federação e a República (art. 1º, caput).

7.2 – Poder político

O Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, composto pela Câmara dos

Deputados e pelo Senado Federal (art. 29). Funcionava de 1 de Março a 30 de Junho e de 1 de

Agosto a 30 de Novembro (art. 31).

Tal como na Constituição de 1946, os Ministros de Estado eram obrigados a

comparecer perante a Câmara dos Deputados e o Senado Federal ou qualquer de suas

Comissões, quando uma ou outra Câmara os convocasse para, pessoalmente, prestar

informações acerca de assunto previamente determinado. A falta do comparecimento, sem

justificação, importava crime de responsabilidade (art. 40, caput e § 1º).

Os Ministros de Estado, a seu pedido, poderiam comparecer perante as Comissões ou o

Plenário de qualquer das Casas do Congresso Nacional e discutir projectos relacionados com

o Ministério sob sua direcção (art. 40 § 2º).

Os membros da Câmara dos Deputados eram eleitos, segundo o sistema de

representação proporcional, pelos Estados e Territórios (art. 41, caput e § 2º). Cada

Legislatura duraria quatro anos (art. 41, § 1º).

Os membros do Senado Federal eram eleitos por sufrágio directo e secreto, segundo o

princípio maioritário (art. 43, caput).

Permitiu-se a delegação legislativa (arts. 55, 56 e 57). O Presidente passou a ser eleito

pelo sufrágio de um Colégio Eleitoral, em sessão pública e mediante votação nominal (art. 76,

caput).

Quanto ao poder judiciário, consagrou-se que por lei complementar se poderiam criar

mais dois Tribunais Federais de Recursos, um no Estado de Pernambuco e outro no Estado de

São Paulo (art. 116, § 1º). Os Juízes Federais passaram a ser nomeados pelo Presidente da

República, dentre brasileiros, maiores de trinta anos, de cultura e idoneidade moral, mediante

concurso de títulos e provas, organizado pelo Tribunal Federal de Recursos, conforme a

jurisdição respectiva (art. 118, caput).

As decisões do Tribunal Superior do Trabalho tornaram-se irrecorríveis, salvo nos

casos de inconstitucionalidade, em que caberá recurso para o Supremo Tribunal Federal (art.

135).

7.3 – Organização territorial

Permitiu-se aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a adopção e uso de

símbolos próprios (art. 1º, § 3º).

A criação de novos Estados e Territórios passou a ficar dependente de lei

complementar (art. 3º).

A eleição do Governador e do Vice-Governador de Estado era feita por sufrágio

universal e voto directo e secreto (art. 13, § 2).

A autonomia municipal era assegurada pela eleição directa de Prefeito, Vice-Prefeito e

Vereadores realizada simultaneamente em todo o Pais, dois anos antes das eleições gerais

para Governador, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa (art. 16, I); e pela

autonomia administrativa quanto à organização dos serviços públicos locais e à decretação,

arrecadação de tributos da sua competência e aplicação das suas rendas, sem prejuízo da

obrigatoriedade, de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei estadual

(art. 16, II, a e b).

7.4 – Direitos Fundamentais

Mantiveram-se os pressupostos da concessão de mandados de segurança (art. 150, §

1º).

Continuou a proibir-se a pena de morte, com excepção do disposto na legislação

militar e em tempo de guerra com país estrangeiro (art. 141, § 31).

Do art. 152 ao 156 foram descritos os pressupostos e limites dos actos praticados em

estado de sítio, garantindo-se o recurso ao poder judicial no caso de inobservância de alguma

das prescrições (art. 156).

7.5 – Revisão Constitucional

Em 15 de Março de 1967, em sessão conjunta do Congresso Nacional tomou posse o

Presidente Costa e Silva.

Os primeiros meses do Governo de Costa e Silva43 apresentaram uma fase de expansão

na economia e eliminou-se a contenção financeira verificada na administração Castelo

Branco.

Apesar disso, a oposição ao Governo intensificou-se entre 1967 e 1968. Nessa altura o

ex-Governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, juntamente com Juscelino

Kubitschek e João Goulart (no exílio) formara a Frente Ampla, com o objectivo de

redemocratizar o país.

A reacção do Presidente Costa e Silva não se fez esperar: no dia 5 de Abril de 1968,

através da Portaria nº 177 do Ministério da Justiça foi declarada extinta aquela organização.

Em Dezembro de 1968, tendo como pretexto um discurso do Deputado Márcio

Moreira Alves, Costa e Silva decretou o Ato Institucional nº 5, de 13 de Dezembro de 1968,

que vigorou até 1979.

O Ato Institucional nº 5 dava poderes ao Presidente para fechar (recesso), por tempo

indeterminado, o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras de Vereadores

(art. 2º); suspender direitos políticos e cassar mandatos electivos (art. 4º); decretar estado de

sítio e prorrogá-lo por tempo ilimitado (art. 7º); e decretar a intervenção nos Estados e

Municípios, sem as limitações previstas na Constituição (art. 3º).

Foi suspensa a garantia do Habeas Corpus nos casos de crimes contra a segurança

43 Neste período de Governo, ocorreu a mudança do nome oficial do País de «República dos Estados Unidos do Brasil» para «República

Federativa do Brasil», através da Lei nº 5.389, de 22 de Fevereiro de 1968 e Parecer nº H-733, de 04 de Setembro de 1968, da Consultoria-Geral da República).

nacional, a ordem económica e social e a economia popular (art. 10).

Os actos de execução do Ato Institucional ficaram subtraídos à apreciação judicial (art.

11).

O recesso do Congresso Nacional foi decretado pelo art. 1º do Ato Complementar nº

38, de 13 de Dezembro de 1968 e manteve-se por dez meses, o que significou a unificação

dos poderes legislativo e executivo (Ato Institucional nº 5, art. 2º, § 1º). Na sequência dessa

unificação de poderes, o Governo alterou livremente a Constituição em vigor, através de:

Ato Complementar nº 40, de 30 de Dezembro de 1968: alterou os arts. 13, 24,

26, 99, 136 e revogou o § 6º do art. 22 da Constituição.

Ato Institucional nº 6, de 1 de Fevereiro de 1969: alterou os arts. 113, 114 e 122

da Constituição e ratificou as emendas constantes do Ato Complementar nº 40, de

30 de Dezembro de 1968.

Ato Institucional nº 7, de 26 de Fevereiro de 1969: declarou suspensas quaisquer

eleições parciais para cargos executivos ou legislativos da União, dos Estados, dos

Territórios e dos Municípios (art. 7º, caput); permitiu ao Presidente da República

decretar a intervenção federal nos Municípios em que se vagassem os cargos de

Prefeito e Vice-Prefeito, em virtude de renúncia, morte, perda ou extinção do

mandato dos respectivos titulares (art. 7º, § 1º).

Ato Institucional nº 8, de 2 de Abril de 1969: atribuiu ao Poder Executivo dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios de população superior a duzentos mil

habitantes, competência para realizar, por decreto, a respectiva Reforma

Administrativa, observados os princípios fundamentais adoptados para a

Administração federal (art. 1º, caput).

Ato Institucional nº 9, de 25 de Abril de 1969: alterou a redacção do art. 157, § 1º

e 5º e revogou o seu § 11º, de forma a implementar a Reforma Agrária e

expropriações.

Ato Institucional nº 10, de 16 de Maio de 1969: alargou os poderes do Presidente

da República na suspensão de direitos políticos.

Ato Institucional nº 11, de 14 de Agosto de 1969: marcou para 30 de Novembro

as eleições para Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores, que se encontravam

suspensas em virtude do disposto o art. 7º do Ato Institucional nº 7, de 26 de

Fevereiro de 1969; para os municípios em que foi decretada a intervenção federal,

com fundamento no artº 3º, do Ato Institucional nº 5, de 13 de Dezembro de 1968;

ou cujos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito estivessem vagos por outro motivo; e as

estabelecidas pelo art. 80, do Decreto-Lei 411, de 8 de Janeiro de 1969.

A subversão interna agravava-se a cada dia que passava. O sequestro de diplomatas e

seu uso como moeda de troca de presos políticos tornou-se prática corrente.

Em 31 de Agosto de 1969, por força do Ato Institucional nº 12, a Junta Militar

formada pelo Brigadeiro Márcio de Souza Mello (Ministro do Exército); Almirante Augusto

Hamann Rademaker Grünewald (Ministro da Marinha); e General Aurélio Lyra Tavares

(Ministro da Aeronáutica) comunicou ao país o impedimento temporário do Presidente da

República, por motivo de saúde, para o exercício pleno das suas funções e assumiu o Governo

do país, em detrimento do Vice-Presidente da República.

Para travar a subversão, a Junta militar decretou o Ato Institucional nº 13, de 5 de

Setembro de 1969, pelo qual podia, mediante proposta dos Ministros de Estado da Justiça, da

Marinha de Guerra, do Exército ou da Aeronáutica Militar, banir do território nacional o

brasileiro que, comprovadamente, se tornasse inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança

nacional (art. 1º, caput).

O Ato Institucional nº 14, de 5 de Setembro de 1969, veio permitir a aplicação de

penas morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, nos casos de guerra externa

psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva, alterando a redacção do § 11 do art. 150

da Constituição.

O Ato Institucional nº 16, de 14 de Outubro de 1969, declarou vagos os cargos de

Presidente e Vice-Presidente44, marcando o dia 25 de Outubro para a eleição e o dia 30 desse

mês para a posse dos futuros titulares. Os respectivos mandatos cessariam em 15 de Março de

1974.

Pelo Ato Institucional nº 17, de 14 de Outubro de 1969, foi concedido ao Presidente da

República o poder de transferir para a reserva, por período determinado, os militares que

houvessem atentado, ou viessem a atentar, comprovadamente, contra a coesão das forças

armadas, afastando-se, por motivos de carácter conjuntural ou objectivos políticos de ordem

pessoal ou de grupo, dos princípios basilares e do seu fim constitucional (art. 1º).

No dia 17 daquele mês, a Junta Militar promulgou a Emenda Constitucional nº 1 que

importou várias e importantes alterações, entre as quais o alargamento do mandato

presidencial para cinco anos, republicando o texto constitucional.

Em 25 de Outubro o Congresso Nacional elegeu o General Emílio Garrastazu Médici

para Presidente da República e o Almirante Augusto Hamann Rademaker Grünewald para

44 Para tanto foi suspensa, até a eleição e posse do novo Presidente e Vice-Presidente, a vigência do art. 80 da Constituição de 1967.

Vice-Presidente. Nesta altura, o Governo tomou mais fortes medidas para reprimir a oposição.

Os jornais, revistas, rádio e televisão foram sujeitos a censura.

A repressão política e a censura induziram alguns sectores de esquerda a optarem pela

luta armada. Surgiram então as primeiras organizações de guerrilha urbana, das quais se

destacaram a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-PALMARES), comandada

por Carlos Lamarca, que resultou da fusão da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) com

o Comando de Liberação Nacional (COLINA); a Aliança Libertadora Nacional (ALN),

dirigida inicialmente por Carlos Marighela e depois por Joaquim Câmara Ferreira, cuja prática

de luta era a Guerrilha Urbana; e o Movimento 8 de Outubro (MR-8).

Sequestros, assaltos a bancos e até "execuções políticas" eram prática corrente dos

guerrilheiros. O sequestro do Embaixador Norte-Americano Charles Elbrick, pela ALN, que

em troca da sua vida, exigia a libertação dos presos políticos, cuja lista de nomes fizera

publicar pelos jornais, levou o governo a investir grandes recursos no reapetrechamento das

forças armadas. Para reforçar o poder militar foram reorganizados os Departamentos de

Ordem Política e Social (DOPS), encarregados das acções policiais. Nas forças armadas

foram instalados Centros de Operação de Defesa Interna (COD), cujo corpo executivo era

constituído por Departamentos de Operações Internas (DOI). Ao mesmo tempo

desenvolveram-se os Centros de Informação das forças armadas. Muitos brasileiros foram

para o estrangeiro, fugindo da repressão. No Brasil aumentavam as torturas nas prisões.

Paralelamente, assistiu-se a um crescimento económico, o "milagre brasileiro".

Em 15 de Março de 1974 foi eleito para Presidente da República o General Ernesto

Geisel. No período do seu mandato (1974-1979) deu-se a abertura do sistema eleitoral,

permitindo-se a formação de novos partidos; a eliminação parcial da censura; a suspensão dos

Atos Institucionais; a amnistia dos presos políticos; e acabou a repressão policial.

Contudo, após a derrota nas eleições legislativas de Novembro de 1974, através da Lei

nº 6.339, de 1 de Julho de 1976 (Lei Falcão)45, o Governo limitou de forma drástica o acesso

dos candidatos à rádio e à televisão, a fim de evitar mais uma vitória da oposição nas eleições

municipais de 1976.

Em 1977, o MDB conseguiu rejeitar, no Congresso Nacional, um projecto de reforma

judiciária apresentado pelo Governo. Como resposta, este decretou o recesso através do Ato

Complementar nº 102, de 1 de Abril de 1977, e aprovou a reforma por decreto.

Pela Emenda Constitucional nº 8, de 14 de Abril de 1977 o Governo instituiu a figura

45 “ na propaganda, os partidos limitar-se-ão a mencionar a legenda, o currículo e o número do registro dos candidatos na Justiça Eleitoral,

bem como a divulgar, pela televisão, suas fotografias, podendo, ainda, anunciar o horário local dos comícios” (art. 250, § 1º, I da Lei nº 4.737, de 15 de Julho de 1965, alterado pelo art. 50 da Lei nº 4.961, de 4 de Maio 1966 e art. 1º da Lei nº 6.339, de 1 de Julho de 1976).

do Senador biônico, a ser eleito, não pelo povo, mas por um Colégio Eleitoral, cuja maioria

dos seus membros era oriunda do partido governamental – a ARENA.

A Emenda Constitucional nº 11, de 13 de Outubro de 1978 revogou os Atos

Institucionais e Complementares impostos pelos militares e modificou as exigências para a

organização dos partidos políticos. E no ano seguinte, através da Lei nº 6.767, de 20 de

Dezembro de 1979, foi extinta a ARENA e o MDB, restabelecendo-se o pluripartidarismo.

A ARENA passou chamar-se PDS (Partido Democrático Social), e do MDB surgiram

cinco novos partidos: PMDB46, PP47, PT48, PDT49 e PTB50.

Em 19 de Novembro de 1980, a Emenda Constitucional nº 15 restabeleceu as eleições

directas para Governador e Senador, eliminando a figura do Senador biônico.

Em Novembro de 1983, os partidos oposicionistas, PMDB, PP, PT, PDT e PTB,

encetaram a campanha das Diretas Já, visando a introdução de uma emenda constitucional

que permitisse o sufrágio directo nas eleições presidenciais de 1984. O projecto de emenda

constitucional, apresentado por Dante de Oliveira, não foi, contudo, aprovada no Congresso

Nacional.

Em 15 de Janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo de Almeida Neves

para a Presidência da República e José Ribamar Ferreira de Araújo Costa (José Sarney) para

Vice-Presidente. Contudo, a doença inesperada do Presidente eleito, Tancredo Neves, na

véspera da sua posse (15 de Fevereiro de 1985), fez ascender à Presidência da República em

21 de Abril de 1985, o Vice-Presidente.

Durante o seu Governo, o Presidente Sarney acabou com a censura à imprensa,

ampliou o pluripartidarismo e legalizou o sindicalismo e as grandes centrais sindicais.

Foram legalizados, também, os partidos de esquerda tradicionais, como o PCB51 e o

PC do B52, surgindo novos partidos, como o PSDB53, de centro-esquerda, e o Partido Liberal

(PL)54.

46 Partido do Movimento Democrático Brasileiro.47 Partido Progressista.48 Partido dos Trabalhadores.49 Partido Democrático Trabalhista.50 Partido Trabalhista Brasileiro.51 Partido Comunista Brasileiro.52 Partido Comunista do Brasil.53 Partido da Social Democracia Brasileira (formado por antigos membros do PMDB).54 Adepto do neoliberalismo.

VIII – A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, DE 5 DE OUTUBRO DE 1988

Em Novembro de 1986, realizaram-se eleições para Governadores, Senado Federal,

Câmara dos Deputados e Assembleias Estaduais. Nessas eleições, o PMDB elegeu a maioria

dos Governadores e tornou-se maioritário no Congresso Nacional.

Pelo Decreto nº 91.450, de 18 de Julho de 1985, foi instituída a Comissão Provisória

de Estudos Constitucionais, encarregada de redigir o anteprojecto da nova Lei Fundamental.

Este viria a ser publicado no jornal oficial em 26 de Setembro de 1986. O texto final viria a

ser adoptado em 5 de Outubro de 1988.

8.1 – Forma de Governo

No Congresso Nacional, durante os debates relativos à nova Constituição, as opiniões

dividiram-se segundo as duas principais correntes de sistemas de governo: presidencialismo e

parlamentarismo. A definição do sistema de governo viria a ser do povo, através de plebiscito,

(Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, art. 2º) o qual se veio a realizar em 21 de

Abril de 1993, tendo prevalecido a forma de governo republicano e o sistema presidencialista.

8.2 – Poder político

O Poder Legislativo cabe ao Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos

Deputados e do Senado Federal (art. 44).

A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema

proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal (art. 45, caput). Cada

legislatura tem a duração de quatro anos (art. 44, parágrafo único).

O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal,

eleitos por maioria de votos (art. 46, caput).

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, mantêm

a faculdade de convocar Ministros de Estado, podendo também exercer essa faculdade em

relação a quaisquer outros titulares de órgãos directamente subordinados à Presidência da

República, para prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente

determinado, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada

(art. 50, caput).

Os Ministros de Estado detêm a faculdade de comparecer perante o Senado Federal, a

Câmara dos Deputados, ou qualquer de suas Comissões, por sua iniciativa mas mediante

acordo com a Mesa respectiva, para expor assunto de relevância de seu Ministério (art. 50, §

1º).

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão solicitar

informações escritas a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput do

art. 50, importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no prazo de

trinta dias, bem como a prestação de informações falsas (art. 50, § 2º).

O sufrágio é universal, directo e secreto (art. 14, caput).

O Presidente da República é eleito segundo o sistema de duas voltas (art. 77, caput),

para um mandato de quatro anos (art. 82), tomando posse no dia 1 de Janeiro do ano seguinte

ao da realização das eleições (art. 82).

São órgãos de consulta do Presidente da República o Conselho da República (art. 89,

caput) e o Conselho de Defesa Nacional, órgão de consulta do Presidente da República nos

assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático (art. 91,

caput).

Como órgãos do poder judiciário, o art. 92, nos seus incisos I a IV, prevê o Supremo

Tribunal Federal; o Superior Tribunal de Justiça; os Tribunais Regionais Federais e Juízes

Federais; os Tribunais e Juízes do Trabalho; os Tribunais e Juízes Eleitorais; os Tribunais e

Juízes Militares; e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

8.3 – Organização territorial

A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autónomos, nos termos da

Constituição (art. 18, caput).

Prevê-se a aprovação, através de plebiscito, pela população directamente interessada,

da incorporação, subdivisão ou desmembramento dos Estados (art. 18, § 3º)55.

Os Territórios Federais integram a União e a sua criação, transformação em Estado ou

reintegração ao Estado de origem são reguladas por lei complementar (art. 18, § 2º).

Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,

aglomerações urbanas e microrregiões56 (art. 25, § 3º).

55 Para além da aprovação do Congresso Nacional, através de lei complementar.56 Constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planeamento e a execução de funções públicas de

interesse comum.

Os Governadores passam a ser eleitos pelo sistema de duas voltas (art. 28, caput).

Os Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores, são eleitos para mandatos de quatro anos,

mediante sufrágio directo e simultâneo a realizar em todo o País (art. 29, I) no primeiro

domingo de Outubro do ano anterior ao término do mandato dos que devam suceder (art. 29,

II).

8.4 – Direitos Fundamentais

A instituição do Habeas Corpus mantém-se (art. 5º, LXVIII). O mandado de segurança

encontra-se consagrado no art. 5º, LXIX, para direitos não susceptíveis de Habeas Corpus ou

Habeas Data.

O mandado de segurança colectivo pode ser usado por partidos políticos; organizações

sindicais; e Associações (legalmente constituídas há mais de um ano), para defesa dos

interesses dos seus membros (art. 5º, LXX).

A figura do Habeas Data aparece na Constituição de 1988 (art. 5º, LXXII) como o

meio que permite aos interessados conhecer informações que lhes digam respeito e que

constem de registos e bases de dados de autoridades públicas.

O mandado de injunção (art. 5º, LXXI) aplica-se aos casos de omissão de normas

regulamentares que comprometa gravemente o exercício de direitos, liberdades e garantias

constitucionalmente reconhecidos.

A Lei nº 734, de 24 de Julho de 1985 já instituíra a Acção Civil Pública destinada a

reprimir danos causados ao ambiente, a consumidores e aos bens ou direitos artísticos,

estéticos, históricos, turísticos e paisagísticos. Somente com a Constituição de 1988 é que este

instituto teve consagração constitucional (art. 5º, LXXIII).

A Constituição de 1988 alargou o campo dos direitos e garantias constitucionais,

contemplando, para além dos direitos e deveres individuais e colectivos (art. 5º); os direitos

sociais (arts. 6º a 11); a nacionalidade (arts. 12 e 13); e os direitos políticos (arts. 14 a 16).

8.5 – Revisão Constitucional

De acordo com o art. 60 da Constituição de 1988, de 1988 a 1983, foram publicadas as

seguintes Emendas Constitucionais:

Emenda Constitucional nº 1, de 31/03/1992, publicada no D.O.U.57 de

57 Diário Oficial da União.

06/04/1992: dispôs sobre a remuneração dos deputados Estaduais e dos Vereadores.

Emenda Constitucional nº 2, de 25/08/1992, publicada no D.O.U. de

01/09/1992: dispôs sobre o plebiscito previsto no Art. 2º do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias.

Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/1993, publicada no D.O.U. de

18/03/1993: alterou os Arts. 40, 42, 102, 103, 155, 156, 160, 167 da Constituição

Federal.

Emenda Constitucional nº 4, de 14/09/1993, publicada no D.O.U. de

15/09/1993: deu nova redacção ao Art. 16 da Constituição Federal.

Conforme previsto no artº 3º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a

revisão constitucional foi realizada através das seguintes Emendas Constitucionais de

Revisão:

Emenda Constitucional de Revisão nº 1, de 01/03/1994, publicada no D.O.U. de

02/03/1994: acrescentou os Arts. 71, 72 e 73 ao Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias.

Emenda Constitucional de Revisão nº 2, de 07/06/1994, publicada no D.O.U. de

09/06/1994: alterou o caput do Art. 50 e seu § 2º, da Constituição Federal.

Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 07/06/1994, publicada no D.O.U. de

09/06/1994: alterou a alínea "c" do inciso I, a alínea "b" do inciso II, o § 1º e o

inciso II do § 4º do Art. 12 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 07/06/1994, publicada no D.O.U. de

09/06/1994: alterou o § 9º do Art. 14 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional de Revisão nº 5, de 07/06/1994, publicada no D.O.U. de

09/06/1994: alterou o Art. 82 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional de Revisão nº 6, de 07/06/1994, publicada no D.O.U. de

09/06/1994: acrescentou o § 4º ao Art. 55 da Constituição Federal.

Após a Revisão Constitucional de 1994, várias foram as Emendas introduzidas no

texto constitucional, ao abrigo do art. 60 da Constituição:

Emenda Constitucional nº 5, de 15/08/1995, publicada no D.O.U. de

16/08/1995: alterou o § 2º do Art. 25 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 6, de 15/08/1995, publicada no D.O.U. de

16/08/1995: alterou o inciso IX do Art. 170, o Art. 171 e o § 1º do Art. 176 da

Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 7, de 15/08/1995, publicada no D.O.U. de

16/08/1995: alterou o Art. 178 da Constituição Federal e dispôs sobre a adopção de

Medidas Provisórias.

Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/1995, publicada no D.O.U. de

16/08/1995: alterou o inciso XI e a alínea "a" do inciso XII do Art. 21 da

Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 9, de 09/11/1995, publicada no D.O.U. de

10/11/1995: deu nova redacção ao Art. 177 da Constituição Federal, alterando e

inserindo parágrafos.

Emenda Constitucional nº 10, de 04/03/1996, publicada no D.O.U. de

07/03/1996: alterou os Arts. 71 e 72 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, introduzidos pela Emenda Constitucional de Revisão nº 1, de 1994.

Emenda Constitucional nº 11, de 30/04/1996, publicada no D.O.U. de

02/05/1996: permitiu a admissão de professores, técnicos e cientistas estrangeiros

pelas universidades brasileiras e concedeu autonomia às instituições de pesquisa

científica e tecnológica.

Emenda Constitucional nº 12, de 15/08/1996, publicada no D.O.U. de

16/08/1996: outorgou competência à União, para instituir contribuição provisória

sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza

financeira.

Emenda Constitucional nº 13, de 21/08/1996, publicada no D.O.U. de

22/08/1996: deu nova redacção ao inciso II do Art. 192 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 14, de 12/09/1996, publicada no D.O.U. de

13/09/1996: modificou os Arts. 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e deu

nova redacção ao Art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Emenda Constitucional nº 15, de 12/09/1996, publicada no D.O.U. de

13/09/1996: deu nova redacção ao § 4º do Art. 18 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 16, de 04/06/1997, publicada no D.O.U. de

05/06/1997: deu nova redacção ao § 5º do Art. 14, ao caput do Art. 28, ao inciso II

do Art. 29, ao caput do Art. 77 e ao Art. 82 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 17, de 22/11/1997, publicada no D.O.U. de

25/11/1997: alterou dispositivos dos Arts. 71 e 72 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias, introduzidos pela Emenda Constitucional de Revisão

nº 1, de 1994.

Emenda Constitucional nº 18, de 05/02/1998, publicada no D.O.U. de

06/02/1998: dispôs sobre o regime constitucional dos militares.

Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/1998, publicada no D.O.U. electrónico

de 05/06/1998: modificou o regime e dispôs sobre princípios e normas da

Administração Pública, servidores e agentes políticos, controle de despesas e

finanças públicas e custeio de actividades a cargo do Distrito Federal.

Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/1998, publicada no D.O.U. electrónico

de 16/12/1998: modificou o sistema de previdência social e estabeleceu normas de

transição.

Emenda Constitucional nº 21, de 18/03/1999, publicada no D.O.U. electrónico

de 19/03/1999: prorrogou, alterando a taxa, a contribuição provisória sobre

movimentação ou transmissão de valores e de créditos e de direitos de natureza

financeira, a que se refere o Art. 74 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias.

Emenda Constitucional nº 22, de 18/03/1999, publicada no D.O.U. electrónico

de 19/03/1999: acrescentou um parágrafo único ao Art. 98 e alterou as alíneas "i"

do inciso I do Art. 102 e "c" do inciso I do Art. 105 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 23, de 2/09/1999, publicada no D.O.U. electrónico de

3/09/1999: alterou os Arts. 12, 52, 84, 91, 102 e 105 da Constituição Federal

(criação do Ministério da defesa).

Emenda Constitucional nº 24, de 9/12/1999, publicada no D.O.U. electrónico de

10/12/1999: alterou dispositivos da Constituição Federal pertinentes à

representação classista na Justiça do Trabalho.

Emenda Constitucional nº 25, de 14/02/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 15/02/2000: alterou o inciso VI do Art. 29 e acrescentou o Art. 29-A à

Constituição Federal, o qual dispôs sobre os limites de despesas com o Poder

Legislativo Municipal.

Emenda Constitucional nº 26, de 14/02/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 15/02/2000: alterou a redacção do Art. 6º da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 27, de 21/03/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 22/03/2000: acrescentou o Art. 76 ao ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, instituindo a desvinculação de arrecadação de impostos e

contribuições sociais da União.

Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 26/05/2000 e rectificada em 29/05/2000: deu nova redacção ao inciso XXIX do

Art. 7º e revogou o Art. 233 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 29, de 13/09/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 14/09/2000: alterou os Arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal

e acrescentou o artigo 77 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para

assegurar os recursos mínimos para o financiamento das acções e serviços públicos

de saúde.

Emenda Constitucional nº 30, de 13/09/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 14/09/2000: Alterou a redacção do Art. 100 da Constituição Federal e

acrescentou o Art. 78 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,

referente ao pagamento de precatórios judiciários.

Emenda Constitucional nº 31, de 14/12/2000, publicada no D.O.U. electrónico

de 18/12/2000: alterou o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,

introduzindo artigos que criaram o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza.

Emenda Constitucional nº 32, de 11/09/2001, publicada no D.O.U. de

12/09/2001: alterou dispositivos dos Arts. 48, 57, 61, 62, 64, 66, 84, 88 e 246 da

Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 33, de 11/12/2001, publicada no D.O.U. de

12/12/2001: alterou os Arts. 149, 155 e 177 da Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 34, de 13/12/2001, publicada no D.O.U. de

14/12/2001: deu nova redacção à alínea c do inciso XVI do Art. 37 da Constituição

Federal.

Emenda Constitucional nº 35, de 20/12/2001, publicada no D.O.U. de

21/12/2001: deu nova redacção ao Art. 53 de Constituição Federal.

Emenda Constitucional nº 36, de 28/05/2002, publicada no D.O.U. de

29/05/2002: deu nova redacção ao Art. 222 da Constituição Federal, para permitir a

participação de pessoas jurídicas no capital social de empresas jornalísticas e de

radiodifusão sonora e de sons e imagens, nas condições que especificou.

Emenda Constitucional nº 37, de 12/06/2002, publicada no D.O.U. de

13/06/2002: alterou os Arts. 100 e 15 da Constituição Federal e acrescentou os

Arts. 84, 85, 86, 87 e 88 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Emenda Constitucional nº 38, de 12/06/2002, publicada no D.O.U. de

13/06/2002: acrescentou o Art. 89 ao ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, incorporando os Policiais Militares do extinto Território Federal de

Rondônia aos Quadros da União.

Emenda Constitucional nº 39, de 19/12/2002, publicada no D.O.U. de

20/12/2002: acrescentou o Art. 14-A à Constituição Federal, instituindo uma

contribuição para custeio do serviço de iluminação pública nos Municípios e no

Distrito Federal.

IX – CONCLUSÃO

A partir da Constituição de 1891 instaurou-se no Brasil o Estado Liberal de Direito.

Com a Constituição de 1934 podemos afirmar ter-se evoluído para um Estado Social de

Direito, em que o Estado passou a assumir um papel de prestador de serviços, que intervém na

vida económica e social. Mas foi com a Constituição de 1988, que o legislador constituinte

optou pelos princípios do Estado Democrático de Direito, como aliás se refere no seu

preâmbulo: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos

direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a

igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional,

com a solução pacífica das controvérsias…”.

Por um lado, o legislador de 1988 procurou vincular a lei aos ideais de justiça, ou seja,

a de submeter o Estado ao Direito e não à lei em sentido estritamente formal, o que significa

fazer o Estado observar os valores e princípios que estão consagrados na Constituição e são a

base do ordenamento jurídico, como se adoptou entre nós na Constituição de 1976. Por outro,

decorre da consagração do Estado Democrático de Direito a participação do cidadão na vida

política, económica, social e cultural e na actuação e controle da Administração Pública.

Podemos citar o carácter descentralizado da gestão administrativa, com participação da

comunidade (art. 194, VII); e a colaboração da comunidade na protecção do património

cultural (art. 216, § 1º), entre outros.

Podemos afirmar, também, que a Constituição de 1988 consagra um Estado baseado

no princípio da subsidiariedade. De acordo com este princípio:

O Estado deve respeitar os direitos individuais, dando primazia à iniciativa privada

sobre a iniciativa estatal. Assim, o Estado deve abster-se de exercer actividades que

o particular tem condições de exercer por sua própria iniciativa e com seus próprios

recursos, o que implica uma limitação à intervenção estatal.

O Estado deve fomentar, coordenar e fiscalizar a iniciativa privada.

X – BIBLIOGRAFIA

CAETANO, Marcello – Manual de Ciência Política e Direito Constitucional. ed. Coimbra: Livraria Almedina,

1989.

CAETANO, Marcello. Direito Constitucional. ed. Rio de Janeiro: Forense. vol 1 e 2, 1987.

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Association Française des Constitutionalistes / Association Brésilienne des Constitutionalistes – La nouvelle

République Brésilienne : Études sur la Constitution du 5 Octobre 1988 suivies de la traduction de la

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