as cidades mÉdias no desenvolvimento urbano e regional: uma anÁlise da dinÂmica ... · 2019. 9....

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1. Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade de Brasília. E-mail de contato: [email protected] 2. Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade de Brasília. E-mail de contato: [email protected] AS CIDADES MÉDIAS NO DESENVOLVIMENTO URBANO E REGIONAL: UMA ANÁLISE DA DINÂMICA DEMOGRÁFICA E ECONÔMICA DO NORDESTE BRASILEIRO Gracielly Portela da Silva¹ Fernando Luíz de Araújo Sobrinho² RESUMO As transformações estruturais ocorridas no Brasil durante a década de 1970 promoveu uma redistribuição populacional e econômica nas cidades. Com isso, as cidades médias assumiram um papel preponderante nesse processo devido seu nível de complexidade da divisão do trabalho, oferta considerável de infraestrutura produtiva e uma função articuladora e de intermediação entre as grandes e pequenas cidades. Em consequência da organização espacial brasileira, cujo processo de transformações estruturais não se distribuiu de forma uniforme no território, a concentração demográfica e econômica aconteceu nos grandes centros urbanos. Com isso, as cidades médias concentraram-se, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste, no entorno ou com influência das metrópoles e capitais estaduais. No Nordeste, as cidades médias desenvolveram-se no entorno das regiões metropolitanas e interioranas, desse modo assumiram um papel estratégico para o desenvolvimento regional, tendo como reflexo as políticas econômicas dos anos 1990 e 2000 que aumentou consideravelmente a oferta de emprego na região. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo o estudo da difusão das cidades médias no Nordeste brasileiro, dando enfoque para as questões demográficas e econômicas a partir do ponto de vista da organização e produtividade das cidades selecionadas, com o intuito de compreender como as características estruturais afetam o desempenho dessas cidades. Quanto à metodologia, a pesquisa fez a opção pelo método hipotético- dedutivo e tem como forma de abordagem a pesquisa quantitativa. Usa-se a definição de cidades médias a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicado (IPEA) que classificam cidades médias entre 100 a 500 mil/habitantes, no entanto, será considerada a estrutura interna e a rede urbana das cidades selecionadas. Para medir a densidade demográfica fez-se o uso do Sistema de Informação Geográfica (SIG) mediante ao uso de banco de dados do IBGE. Quanto ao aspecto temporal, optou-se pelo recorte dos anos de 1991, 2000 e 2010, referentes aos últimos sensos demográficos e pela maior dinâmica econômica vivenciada pelo o Nordeste nesses períodos. A pesquisa justifica-se pela necessidade de um entendimento mais amplo do desenvolvimento da região Nordeste a partir das transformações do espaço urbano do conjunto das cidades médias. Dessa forma, a presente pesquisa buscou compreender como as cidades médias nordestinas vêm se organizando e como sua configuração afeta no desenvolvimento urbano e regional a partir do crescimento populacional e das atividades econômicas, bem como da sua estruturação na rede urbana brasileira. Palavras-chave: Organização espacial; Cidade; Nordeste; População; Economia.

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Page 1: AS CIDADES MÉDIAS NO DESENVOLVIMENTO URBANO E REGIONAL: UMA ANÁLISE DA DINÂMICA ... · 2019. 9. 18. · Estatística (IBGE), que classifica as cidades médias como aglomeração

1. Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade de Brasília. E-mail de contato: [email protected]

2. Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade de Brasília. E-mail de contato: [email protected]

AS CIDADES MÉDIAS NO DESENVOLVIMENTO URBANO E REGIONAL: UMA

ANÁLISE DA DINÂMICA DEMOGRÁFICA E ECONÔMICA DO NORDESTE

BRASILEIRO

Gracielly Portela da Silva¹

Fernando Luíz de Araújo Sobrinho²

RESUMO

As transformações estruturais ocorridas no Brasil durante a década de 1970 promoveu uma

redistribuição populacional e econômica nas cidades. Com isso, as cidades médias assumiram um

papel preponderante nesse processo devido seu nível de complexidade da divisão do trabalho, oferta

considerável de infraestrutura produtiva e uma função articuladora e de intermediação entre as

grandes e pequenas cidades. Em consequência da organização espacial brasileira, cujo processo de

transformações estruturais não se distribuiu de forma uniforme no território, a concentração

demográfica e econômica aconteceu nos grandes centros urbanos. Com isso, as cidades médias

concentraram-se, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste, no entorno ou com influência das

metrópoles e capitais estaduais. No Nordeste, as cidades médias desenvolveram-se no entorno das

regiões metropolitanas e interioranas, desse modo assumiram um papel estratégico para o

desenvolvimento regional, tendo como reflexo as políticas econômicas dos anos 1990 e 2000 que

aumentou consideravelmente a oferta de emprego na região. Nesse sentido, este trabalho tem como

objetivo o estudo da difusão das cidades médias no Nordeste brasileiro, dando enfoque para as

questões demográficas e econômicas a partir do ponto de vista da organização e produtividade das

cidades selecionadas, com o intuito de compreender como as características estruturais afetam o

desempenho dessas cidades. Quanto à metodologia, a pesquisa fez a opção pelo método hipotético-

dedutivo e tem como forma de abordagem a pesquisa quantitativa. Usa-se a definição de cidades

médias a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicado (IPEA) que classificam cidades médias entre 100 a 500 mil/habitantes, no

entanto, será considerada a estrutura interna e a rede urbana das cidades selecionadas. Para medir a

densidade demográfica fez-se o uso do Sistema de Informação Geográfica (SIG) mediante ao uso de

banco de dados do IBGE. Quanto ao aspecto temporal, optou-se pelo recorte dos anos de 1991,

2000 e 2010, referentes aos últimos sensos demográficos e pela maior dinâmica econômica

vivenciada pelo o Nordeste nesses períodos. A pesquisa justifica-se pela necessidade de um

entendimento mais amplo do desenvolvimento da região Nordeste a partir das transformações do

espaço urbano do conjunto das cidades médias. Dessa forma, a presente pesquisa buscou

compreender como as cidades médias nordestinas vêm se organizando e como sua configuração

afeta no desenvolvimento urbano e regional a partir do crescimento populacional e das atividades

econômicas, bem como da sua estruturação na rede urbana brasileira.

Palavras-chave: Organização espacial; Cidade; Nordeste; População; Economia.

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THE MIDDLE CITIES IN THE REGIONAL URBAN DEVELOPMENT: NA

ANALYSIS OF THE DEMOGRAPHIC AND ECONOMIC DYNAMICS OF

NORTHEAST BRAZIL

ABSTRACT

The structural transformations that occurred in Brazil during the 1970s promoted a population and

economic redistribution in the cities. As a result, medium-sized cities have played a major role in this

process due to their level of complexity of the division of labor, considerable supply of productive

infrastructure and an articulating and intermediation function between large and small cities. As a

consequence of the Brazilian spatial organization, whose process of structural transformations was

not uniformly distributed in the territory, the demographic and economic concentration happened in the

great urban centers. As a result, medium-sized cities were concentrated mainly in the South and

Southeast regions, in the surroundings or with influence of the state capitals and capitals. In the

Northeast, medium-sized cities developed around metropolitan and inland regions, thus taking on a

strategic role for regional development, reflecting the economic policies of the 1990s and 2000s that

considerably increased the supply of jobs in the region. In this sense, this work has the objective of

studying the diffusion of medium cities in the Brazilian Northeast, focusing on the demographic and

economic issues from the point of view of the organization and productivity of the selected cities, in

order to understand how the structural characteristics affect the performance of these cities. As for the

methodology, the research made the option by the hypothetical-deductive method and has as a form

of approach the quantitative research. The definition of medium-sized cities from the Brazilian Institute

of Geography and Statistics (IBGE) and the Institute of Applied Economic Research (IPEA), which

classifies medium-sized cities between 100 and 500 thousand inhabitants, will be considered. the

urban network of the selected cities. In order to measure demographic density, the Geographic

Information System (GIS) was made using the IBGE database. As for the temporal aspect, we opted

for the cut of 1991, 2000 and 2010, referring to the latest demographic senses and the greater

economic dynamics experienced by the Northeast in these periods. The research is justified by the

need for a broader understanding of the development of the Northeast region from the transformations

of the urban space of the set of medium-sized cities. Thus, the present research sought to understand

how the Northeastern medium-sized cities are organizing and how their configuration affects urban

and regional development based on population growth and economic activities, as well as its structure

in the Brazilian urban network.

Keywords: Spatial organization; City; Northeast; Population; Economy.

1. INTRODUÇÃO

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Com a urbanização acelerada, comum em países periféricos, intensificou-se o

aumento do número de cidades com tendência de aglomeração nos núcleos com

mais de 100 mil habitantes. As transformações estruturais ocorridas no Brasil

durante a partir da década de 1970 promoveu uma redistribuição populacional e

econômica nas cidades. Com isso, as cidades médias assumiram um papel

preponderante devido seu nível de complexidade da divisão do trabalho, oferta

considerável de infraestrutura produtiva e uma função articuladora e de

intermediação entre as grandes e pequenas cidades.

Após a reestruturação econômica e financeira, a região nordeste passou a se

beneficiar com o dinamismo de empregos formais e a maior oferta e qualidade de

serviços. Com isso, as cidades médias passaram atrair populações e apresentar um

papel significativo na rede urbana brasileira e na divisão do trabalho.

Nesse sentido, a presente pesquisa tem como pressuposto o estudo dessa

dinâmica populacional e econômica nas cidades médias nordestinas, cuja

classificação adotada está aliada a definição do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), que classifica as cidades médias como aglomeração populacional

entre 100 e 500 mil habitantes, tendo como recorte temporal as décadas de 1990,

2000 e 2010.

A pesquisa faz uma sucinta caracterização do processo de urbanização

brasileira, evidenciando a dinâmica populacional entre as regiões brasileiras e como

se deu o processo de promoção das cidades médias no Nordeste como

consequência da reestruturação industrial por qual passou o país.

Em seguida buscou apresentar a dinâmica demográfica e econômica das

cidades médias nordestinas. Por meio da coleta de dados no site do IBGE foi

possível a elaboração de mapas de densidades a partir da distribuição populacional

nos setores censitários das cidades médias, evidenciando que a concentração

populacional está pautada na distribuição da infraestrutura urbana e na maior

dinâmica econômica de cada setor das cidades.

2. ASPECTOS GERAIS DA URBANIZAÇÃO BRASILEIRA

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A urbanização brasileira teve como base a expansão da agricultura comercial

e a exploração mineral. No entanto, ela consolida-se somente a partir do século XX

quando o crescimento populacional urbano ganhou relevo em função do

desenvolvimento do processo de industrialização que estabeleceu uma nova lógica

econômica e territorial.

Ao longo do século XX o processo de urbanização aconteceu, em sua grande

maioria, desarticulada com as políticas de planejamento urbano. Isso promoveu um

aumento demográfico nas cidades desacompanhado da ampliação da infraestrutura,

resultando no desordenamento urbano com inúmeras carências sociais,

habitacionais, empregos e ambientais.

Aliado a isso, os contrates de desenvolvimento entre as regiões brasileiras

foram bastante acentuados em virtude da divisão inter-regional do trabalho. Com

isso, a região sudeste ganhou avanços mais importantes no processo de

urbanização (Tabela 1).

Região 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Brasil 31,24 36,16 44,67 55,92 67,59 75,59 81,23 84,36

Norte 27,75 31,49 37,38 45,13 51,65 59,05 69,83 73,53

Nordeste 23,42 26,4 33,89 41,81 50,46 60,65 69,04 73,13

Sudeste 39,42 47,55 57 72,68 82,81 88,02 92,03 92,95

Sul 27,73 29,5 37,1 44,27 62,41 74,12 82,9 84,93

Centro-Oeste

21,52 24,38 34,22 48,04 67,79 81,28 86,81 88,8

Tabela 1 - Taxas regionais de urbanização (%). Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940-2010.

Percebe-se que a taxa de urbanização da região Sudeste manteve-se sempre

a frente das outras regiões, inclusive, mais urbanizada do que o país como um todo.

No caso do Nordeste, de 1940 a 1950 manteve-se na penúltima colocação entre as

regiões mais urbanizadas, ganhando apenas da região Centro-oeste. Nos anos

posteriores, 1960 a 2010 a região Nordeste figurou-se como a menos urbanizada do

país, excetuando o período de 1991 quando esteve à frente da região Norte.

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Sobre essa diferenciação regional ocasionado pela divisão territorial do

trabalho em escala nacional, Santos (2018) relata que:

[...] cada período entendem-se as particularidades e o movimento próprio de cada subespaço e as formas de sua articulação no todo. Esse enfoque se impõe, pois, a cada momento histórico, as heranças dos períodos passados também têm papel ativo na divisão territorial do trabalho atual. O movimento, no território, do geral e do particular, tem de ser entendido não apenas hoje, como ontem. É assim, que podem explica-se não apenas esses dados estatísticos que são as diferenças regionais dos índices de urbanização, mas também dados estruturais, como as diferenças regionais de forma e de conteúdo da urbanização (SANTOS, 2018, p. 67).

Em comparação ao quantitativo demográfico correspondente às regiões

durante o período de 1950-2010 evidencia-se uma grande concentração no Sudeste,

seguido por Centro-oeste e Sul. Enquanto, o Norte e Nordeste seguem como as

regiões com os menores percentuais de população urbana (Tabela 2).

Brasil e Grande Região

1950

1960

1970

1980

1991

2000

2010

Brasil 36,16 45,08 55,98 67,70 75,47 81,23 84,36

Norte 29,64 35,54 42,60 50,23 57,83 69,83 73,53

Nordeste 26,40 34,24 41,78 50,71 60,64 69,04 73,13

Sudeste 47,55 57,36 72,76 82,83 88,01 90,52 92,95

Sul 29,50 37,58 44,56 62,71 74,12 80,94 84,93

Centro-oeste 25,91 37,16 50,94 70,68 81,74 86,73 88,80

Tabela 2 - Percentual populacional urbano (%). Fonte: IBGE – SIDRA, Censos Demográficos, 1950

a 2010.

A partir dos anos de 1970 a urbanização concentrada motivou o aumento do

número populacional nos núcleos urbanos, em especial aqueles com mais de 100

mil habitantes. Isso promoveu o início do processo de macro urbanização, que

revelou um Brasil de características heterogêneas com inúmeras desigualdades

socioespaciais que refletem nas cidades por meio da carência de infraestrutura,

especulação fundiária e imobiliária, problemas nos transportes, periferização da

população, falta de emprego e entre outros.

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Santos (2018) ressalta que a partir da urbanização concentrada há uma

multiplicação das cidades de tamanho intermédio, para posteriormente iniciar o

estágio de metropolização.

Com a consolidação das metrópoles, movida pela formação do mercado único

nacional, que esteve presente em apenas alguns pontos do espaço, Santos (2018)

relata um movimento de concentração-dispersão, onde foi possível atingir as mais

variadas localidades, possibilitando a desconcentração da produção, tanto agrícola

como industrial. Com isso a migração para as grandes metrópoles foi atenuando, o

que possibilitou um ritmo mais acelerado do crescimento das cidades médias, que a

partir daí assumiram um novo papel perante a rede urbana nacional.

Em consequência da organização espacial brasileira, cujo processo de

transformações estruturais não se distribuiu de forma uniforme no território, a

concentração demográfica e econômica aconteceu nos grandes centros urbanos.

Com vista equilibrar o sistema urbano nacional, uma das estratégias adotadas

pela política urbana foi à promoção de programas governamentais de otimização da

infraestrutura nas cidades médias nacionais. Na visão de Amorim Filho e Serra

(2001) a intenção dessa política era conceder um papel de “dique” as cidades

médias com o intuito de absorver parte dos fluxos migratórios com destino às

metrópoles.

Destarte, o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND, 1971) estabeleceu

uma política de elevação da produtividade da agricultura no Nordeste a fim de

controlar os altos fluxos migratórios da população para outras regiões. Enquanto o II

PND (1974) dirigiu um maior apoio as cidades médias das áreas menos favorecidas

economicamente com a intenção de minimizar os fluxos migratórios ao Sudeste

(AMORIM FILHO E SERRA, 2001).

No entanto, segundo Amorim Filho e Serra (2001, p. 14), a intenção de

diminuir as diferenças regionais nunca esteve prioritariamente como objetivo da

política de desenvolvimento urbano e regional. Para os autores, a finalidade seria

“desconcentrar dentro de um certo limite espacial, para não colocar em xeque os

níveis de produtividade alcançados nos grandes centros urbanos do país”.

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Outra estratégia de política urbana nacional ocorrida ainda na década de

1970 foi o Programa de Cidade de Porte Médio, que teve início em 1976 e encerrou

em 1986, financiado pelo Governo Federal e o Banco Mundial (STEINBERGER E

BRUNA, 2001).

Nos últimos anos, as cidades médias nordestinas passaram por um acelerado

processo de urbanização caracterizado pela elevação da taxa de crescimento

populacional e econômico resultado da formação de novas centralidades dessas

cidades. As cidades médias nordestinas passaram a obter uma maior importância na

rede urbana brasileira, intensificando a atração de novos postos de comércio e serviços

especializados após a redefinição da centralidade urbana (SPOSITO, 1998).

3. METODOLOGIA

Em termos metodológicos, a pesquisa constituiu-se de uma revisão sobre

urbanização brasileira e o desenvolvimento das cidades médias. Além disso, foi

realizado levantamentos de indicadores populacionais e econômicos nos bancos de

dados do IBGE.

Com vista uma melhor visualização espacial, foi elaborado mapas de

densidade demográfica com aporte das geotecnologias a partir da coleta de dados

populacionais dos setores censitários das cidades médias nordestinas, referente aos

dados do Censo Demográfico de 2010.

4. AS CIDADES MÉDIAS NORDESTINAS E SUAS DINÂMICAS

CONTEMPORÂNEAS

As cidades médias nordestinas crescem a cada censo, algumas dessas

cidades têm apresentado taxa de crescimento geométrico maior do que o Nordeste

(Tabela 3). Seu crescimento vem ao encontro do desenvolvimento de estratégias

para o desenvolvimento regional desde a década de 1970, que resultou na

contenção de migrações para as grandes cidades. Com isso, foi possível expandir o

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sistema socioeconômico e da maior eficiência na produção de bens e serviços

(PERREIRA, MORAIS E OLIVEIRA, 2016).

Cidades Médias Nordestinas – 100 a 500 habitantes

Ano Taxa de Cresc. Geo.

UF Cidades 1991 2000 2010 1991/2000 2000/2010

PI Parnaíba 105.104 124.988 137.485 1,94% 0,96% CE Caucaia 147.601 226.088 290.220 4,85% 2,53% CE Crato 70.280 83.917 100.916 1,99% 1,86% CE Juazeiro do Norte 164.922 202.227 240.128 2,29% 1,73% CE Maracanaú 156.410 179.170 207.635 1,52% 1,49% CE Sobral 103.868 134.508 166.310 2,91% 2,14% MA Caxias 84.331 103.485 118.534 2,30% 1,37% MA Imperatriz 210.051 218.673 234.547 0,45% 0,70% MA Timon 90.814 113.066 135.133 2,46% 1,80% RN Parnamirim 48.593 109.139 202.456 9,41% 6,37% RN Mossoró 177.331 199.081 237.241 1,29% 1,77% PB Campina Grande 307.468 337.484 367.209 1,04% 0,85% PB Santa Rita 76.490 100.475 103.717 3,08% 0,32% PE Cabo de Santo Agostinho 109.763 134.486 167.783 2,28% 2,24% PE Camaragibe 99.407 128.702 144.466 2,91% 1,16% PE Caruaru 182.012 217.407 279.589 1,99% 2,55% PE Garanhuns 89.206 103.435 115.356 1,66% 1,10% PE Olinda 341.394 360.554 370.332 0,61% 0,27% PE Paulista 207.708 262.237 300.466 2,62% 1,37% PE Petrolina 125.273 166.279 219.215 3,20% 2,80% PE Vitória de Santo Antão 85.363 99.342 113.429 1,70% 1,33% AL Arapiraca 130.963 152.354 181.481 1,70% 1,76% SE Nossa Senhora do Socorro 67.516 131.279 155.823 7,67% 1,73% BA Alagoinhas 99.508 112.440 124.042 1,37% 0,99% BA Barreiras 70.870 115.784 123.741 5,61% 0,67% BA Camaçari 108.232 154.402 231.973 4,03% 4,15% BA Ilhéus 144.232 162.125 155.281 1,31% -0,43% BA Itabuna 177.561 191.184 199.643 0,82% 0,43% BA Jequié 116.885 130.296 139.426 1,21% 0,68% BA Juazeiro 102.266 133.278 160.775 2,99% 1,89% BA Lauro de Freitas 44.374 108.385 163.449 10,43% 4,19% BA Porto Seguro 23.315 79.619 104.078 14,62% 2,72% BA Simões Filho 44.419 76.905 105.811 6,29% 3,24% BA Teixeira de Freitas 74.221 98.688 129.263 3,22% 2,74% BA Vitória da Conquista 188.351 225.545 274.739 2,02% 1,99% NE NORDESTE 25.776.279 32.975.425 38.821.258 2,77% 1,65%

Tabela 3: Crescimento população das cidades médias nordestinas – 1991 a 2010.Fonte: IBGE – SIDRA –

Censo Demográfico 1991 a 2010.

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Conforme Terceiro, Espindola e Carneiro (2018), as tendências de adensamento

populacional e altas densidades nas cidades médias ainda não se assemelham as de

grande porte. No entanto, em função do crescimento populacional e econômico dessas

cidades, em geral desacompanhado de políticas urbanas sustentáveis, os autores

expõem a preocupação do surgimento, em longo prazo, de problemas vinculados a

desigualdades espaciais, congestionamento no trânsito e a falta de saneamento

básico.

A Figura 1 apresenta os mapas de densidades demográficas das cidades

médias nordestinas, nota-se que o adensamento populacional predomina no

entroncamento das rodovias, e nas cidades litorâneas encontra-se adensada próximo

ao mar. Com os mapas da ocupação urbana é possível verificar que a população

dessas cidades encontra-se adensadas em uma determina porção espacial em função

de um maior dinamismo econômico e da oferta de infraestrutura. Enquanto, que nas

outras porções das cidades predomina a baixa densidade demográfica, devido ao

pouco investimento em infraestrutura urbana.

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Figura 1: Mapas de Densidade das Cidades Médias Nordestinas. Organizado pelos autores.

Além do atrativo populacional, as cidades médias nordestinas têm sido alvos

de novos investimentos empresariais no setor da indústria, do comércio e serviços.

Nesse contexto, essas cidades vêm contribuindo no desenvolvimento urbano-

regional da rede urbana brasileira, em face de possuírem uma economia de

aglomeração que ao longo das ultimas décadas tem promovido o crescimento do

Produto Interno Bruto (PIB) (MOTTA E MATA, 2009).

5. CONCLUSÃO

Tendo por base os últimos três Censos Demográficos, a pesquisa evidenciou

um aumento considerável no número de cidades médias no nordeste brasileiro.

Visto que essas cidades, em especial a partir da década de 1990, assumiram um

papel relevante na rede urbana brasileira, que além de conter o processo migratório

contribuiu também no desenvolvimento do país com ampliação da infraestrutura de

transporte, comunicação e rede elétrica.

A reestruturação produtiva pela qual passou o Brasil foi o fator determinante

no crescimento populacional e desenvolvimento econômico das cidades nordestinas.

Nisso, as cidades médias passaram a ter um maior poder decisivo locacional, de

investimentos públicos, no aumento do número de empregos formais e melhoria na

oferta de produtos e serviços. E através da sua função articuladora entre as grandes

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e pequenas cidades, assumiram uma função estratégica no desenvolvimento

regional.

Com isso, as cidades médias nordestinas passaram a apresentar maiores

crescimentos no PIB e na urbanização do que outras cidades brasileiras, e em

função disso, passaram a ser um atrativo populacional. Em termos demográficos, a

cidades médias crescem mais rápido do que aquelas cidades com mais de 500 mil

habitantes, em vista serem cidades que nos últimos anos tem desenvolvido e

elevado o número de oferta de atividades urbanas, em especial nos setores

secundários e terciários.

REFERÊNCIAS

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