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1 AS AÇÕES DO PROGRAMA ESTADUAL DE MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS NO MUNICÍPIO DE CAIUÁ-SP 1 Jânio Gomes do Carmo [email protected] Aluno do curso de Bacharelado em Geografia pela FCT/UNESP Campus de Presidente Prudente SP, Bolsista de Iniciação Científica CNPq/PIBIC. Resumo O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas implementado no Estado de São Paulo combateu os problemas decorrentes do processo de modernização da agricultura. Consistiram os objetivos do referido programa, o combate à erosão e aos ravinamentos, estímulo ao manejo adequado dos recursos naturais nas pequenas propriedades rurais e a organização dos agricultores em associações. As ações foram parcialmente financiadas com recursos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e executadas pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) em parceria com os municípios. A CATI, órgão gerenciador, teve como meta atender mais de 90 mil produtores rurais em todo o Estado em mais de 1500 projetos. Destes 70 mil produtores atendidos, distribuídos em 514 municípios, perfazendo 996 microbacias hidrográficas trabalhadas, o que correspondeu a 64,4% das metas estabelecidas. No município de Caiuá foram disponibilizados R$: 524.641,73 por meio do referido programa para atender a 104 proprietários na microbacias do Caiuazinho com R$: 255.018,3 e na do Córrego Água da Invernada com R$: 228.800,71 totalizando 80 produtores. As ações nas duas microbacias foram de mais de 92,1% entre incentivos individuais e coletivos destinados aos produtores rurais para o controle de erosões, recuperação das áreas de preservação permanente, a construção de abastecedouros comunitários, entre outros. O problema observado no município foi à carência numérica de técnicos executores, o baixo nível de organização coletiva e o individualismo dos produtores rurais, a falta de apoio da prefeitura, a demora para elaboração dos projetos, o não entendimento do programa pelos produtores rurais. Palavras-chave: Microbacias, Desenvolvimento Rural, Modernização, CATI, BIRD. Introdução 1 Este texto compete ao GT “GEOGRARFIA RURAL E AGRÁRIA”, por se tratar de assunto s referentes a essa temática, problematizando questões discutidas por alguns autores que tratam da temática “desenvolvimento rural e políticas públicas”.

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Page 1: AS AÇÕES DO PROGRAMA ESTADUAL DE MICROBACIAS … · 2011. 10. 21. · Aluno do curso de Bacharelado em Geografia pela FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente – SP, Bolsista

1

AS AÇÕES DO PROGRAMA ESTADUAL DE MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS NO

MUNICÍPIO DE CAIUÁ-SP1

Jânio Gomes do Carmo

[email protected]

Aluno do curso de Bacharelado em Geografia pela FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente – SP,

Bolsista de Iniciação Científica CNPq/PIBIC.

Resumo

O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas implementado no Estado de São Paulo combateu os problemas decorrentes do processo de modernização da agricultura. Consistiram os objetivos do referido programa, o combate à erosão e aos ravinamentos, estímulo ao manejo adequado dos recursos naturais nas pequenas propriedades rurais e a organização dos agricultores em associações. As ações foram parcialmente financiadas com recursos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e executadas pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) em parceria com os municípios. A CATI, órgão gerenciador, teve como meta atender mais de 90 mil produtores rurais em todo o Estado em mais de 1500 projetos. Destes 70 mil produtores atendidos, distribuídos em 514 municípios, perfazendo 996 microbacias hidrográficas trabalhadas, o que correspondeu a 64,4% das metas estabelecidas. No município de Caiuá foram disponibilizados R$: 524.641,73 por meio do referido programa para atender a 104 proprietários na microbacias do Caiuazinho com R$: 255.018,3 e na do Córrego Água da Invernada com R$: 228.800,71 totalizando 80 produtores. As ações nas duas microbacias foram de mais de 92,1% entre incentivos individuais e coletivos destinados aos produtores rurais para o controle de erosões, recuperação das áreas de preservação permanente, a construção de abastecedouros comunitários, entre outros. O problema observado no município foi à carência numérica de técnicos executores, o baixo nível de organização coletiva e o individualismo dos produtores rurais, a falta de apoio da prefeitura, a demora para elaboração dos projetos, o não entendimento do programa pelos produtores rurais.

Palavras-chave: Microbacias, Desenvolvimento Rural, Modernização, CATI, BIRD.

Introdução

1 Este texto compete ao GT “GEOGRARFIA RURAL E AGRÁRIA”, por se tratar de assuntos

referentes a essa temática, problematizando questões discutidas por alguns autores que tratam da temática “desenvolvimento rural e políticas públicas”.

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O texto elaborado visa apresentar os dados de uma pesquisa de iniciação

científica “O Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas no município de Caiuá –

SP: a análise das microbacias do Caiuazinho e do Córrego Água da Invernada”

financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq/PIBIC).

O objetivo da pesquisa consistiu em analisar a implantação dos projetos de

microbacias hidrográficas no município de Caiuá, através do estudo das políticas

públicas e desenvolvimento rural (municípios, estados e governo federal) capacitadas

com incursões nas microbacias.

Realizou-se o levantamento bibliográfico a respeito da temática

descentralização de políticas públicas, desenvolvimento rural e sustentável, pesquisas

em órgãos governamentais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), onde foram coletados

dados de fontes secundárias. Também houve a realização de um trabalho de campo,

aplicação de formulários junto aos proprietários rurais das duas microbacias

hidrográficas trabalhadas no município, respeitando o percentual de 20% do número

de propriedades localizadas nas respectivas microbacias, perfazendo 21 formulários

na microbacia do Caiuazinho e 16 na microbacia do Córrego água da Invernada. Fora

Realizada entrevistas com os técnicos2 envolvidos diretamente no programa,

engenheiro3 agrônomo e presidentes da associação4 de produtores rurais do

município. E também consultas aos sites do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).

Os projetos de microbacias hidrográficas implementados no município de Caiuá

decorreram das ações do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas

empreendidas no Estado de São Paulo entre os anos de 2000 a 2008, por meio da

parceria entre o Banco Mundial e a CATI (órgão capacitado para coordenar os

projetos).

1- O desenvolvimento agrícola e a Revolução Verde no Pontal do Paranapanema

Os investimentos agrícolas destinados para o Pontal do Paranapanema foram

tardios, devido ao fato desta região ser palco de constantes disputas pela posse da

terra, oriundos de um sistema de colonização feita por “grilagem de terras”, que

2 Durante a implantação do Programa de Microbacias em Caiuá, dois técnicos estiveram envolvidos, destes um já não trabalha mais na casa da agricultura, e o outro se encontra desempenhando funções na prefeitura do município. 3 O engenheiro agrônomo da casa da agricultura é terceirizado pela prefeitura. 4 Foram entrevistados dois presidentes de associações de produtores rurais, o da microbacia do Caiuazinho e Córrego Água da Invernada.

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proporcionou a um pequeno número de pessoas a posse ilegal desses estratos de

áreas, dando início à concentração fundiária no Oeste do Estado de São Paulo.

Consorciados ao intenso processo modernizador dos anos de 1960/70, os

latifundiários tomaram posse dessas terras, com apoio do Estado e da União, através

da instituição do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que também teve

participação no processo de exploração do Pontal do Paranapanema, por volta do ano

de 1965. A adoção do Crédito Rural ocorreu de forma seletiva e diferenciada, não

atingindo de modo igualitário os agentes nele envolvidos, excluindo os pequenos

produtores rurais, destas ações.

Como resultado, ocorreu à expansão dos produtos consubstanciados no

sistema de crédito rural, subsidiando a expansão dos chamados produtos exportáveis

e/ou matérias primas agroindustriais (soja, cana de açúcar, laranja, milho) e a

estagnação e até redução da oferta de produtos tradicionais do abastecimento interno

(arroz, feijão, mandioca, algodão), esta a principal fonte de renda dos pequenos

produtores rurais, conforme afirma Hespanhol (1996).

No Pontal do Paranapanema as ações do Crédito Rural, seguiram de forma

intensa, utilizando o solo, depredando-o com técnicas de plantio rudimentares

aumentando da degradação ambiental. Por meio do uso de matérias primas

agroindustriais, com base quase que exclusivamente, na pecuária de corte De leite, na

prática da monocultura cafeeira e do cultivo do algodão, oriundos do processo

migratório associado à marcha da malha ferroviária para o Oeste Paulista.

Os avanços tecnológicos consubstanciado na Revolução Verde intensificaram

o processo de degradação ambiental. A Revolução Agrícola teve como princípio a

promoção do progresso socioeconômico no campo e a resolução do problema da

fome no planeta, o que de fato não veio a ocorrer como previsto. Todavia, houve uma

mudança na paisagem do campo (relação rural e urbano), aumento da desigualdade

sócio-territorial, e o êxodo rural, no Brasil.

Entretanto, o que procedeu foi uma modificação de comportamento no campo,

mudando toda a isonomia, as características físicas destes estratos de áreas, e

principalmente a relação entre homem e natureza, além de intensificar os impactos

ambientais que ocorreram de maneira perversa, em todo o território, inclusive no

Pontal do Paranapanema, haja vista, o intenso processo de desmatamento realizado

pelos colonizadores durante o período de colonização.

Com a Revolução Verde surgiu novos produtos elaborados em laboratórios,

que deram origem a uma modernização conservadora na agricultura (com a remoção

/ou extirpação dos sujeitos tradicionais, para dar lugar ao progresso, ao avanço

tecnológico), sem, contudo, alterar a história da concentração fundiária e, tampouco,

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minimizar a exclusão social, fatores estes que fazem parte do histórico de uso e

ocupação das terras do Pontal do Paranapanema.

Para Caporal (2004)

O modelo da “modernização conservadora” tornou-se hegemônico embora não seja acessível para a maioria dos agricultores e seja responsável, pelo menos parcialmente, pela exclusão de famílias inteiras e de assalariados rurais. (...) ele chegou apenas a parte das regiões, parte dos agricultores, parte dos cultivos e das criações, de forma seletiva, ao mesmo tempo incluindo e excluindo agricultores (CAPORAL, 2004, p. 4).

Em contrapartida, a crise econômica do final da década de 1970 decorrentes

do I e II choque do petróleo, desacelerou o desenvolvimento rural em todo o país,

inclusive no Oeste do Estado de São Paulo. As alterações na base técnica que era

tido como o novo caminho para sanar os problemas econômico-sociais do campo, não

ocorreram de forma consideráveis, estagnando-se. Consequentemente, o Sistema

Nacional de Crédito Rural (SNCR) entrou em declínio, provocando o esgotamento do

padrão de financiamento na agricultura, pois o governo não conseguiu mais fornecer

subsídios para os agricultores, ressalta Hespanhol (2006).

A partir de meados da década de 1980, iniciou-se discussões para formular

maneiras, no intuito de implementar políticas públicas descentralizadoras, que

pudessem solucionar ou amenizar os problemas sócio-ambientais decorrentes da

modernização agrícola, no Brasil. A discussão ganha notoriedade com promulgação

da nova Constituição Federal no ano de 1988, que promoveu avanços em provimento

da reestruturação ambiental, favorecendo uma maior participação dos municípios na

implementação e no planejamento destas ações públicas.

Desse modo é instituído no Estado de São Paulo ações descentralizadoras do

Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas (PEMH) no intuito de amenizar os

danos causados pela modernização agrícola no país, principalmente no Oeste do

Estado de São Paulo.

2- As Primeiras Ações do Programa de Microbacia na Região Sul do Brasil

As primeiras ações de caráter inovador no país começaram no ano de 1987,

com a implantação do Programa Nacional de Microbacia Hidrográfica, que trabalhou

com o conceito de Bacia Hidrográfica. O objetivo deste programa era propiciar melhor

o aproveitamento da água, usando o sistema de planejamento das bacias

hidrográficas, afirma Sabanés (2002). Para tanto, acreditava-se que trabalhando nesta

perspectiva poderia melhor aproveitar as áreas próximas à captação dos recursos de

água, e com isso diminuir os danos ao meio ambiente.

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As novas especificidades da política nacional objetiva a conscientização

ambiental (conservação dos recursos naturais), fazendo uma releitura a respeito do

processo de modernização da agricultura no país. Para isso, criam-se políticas

públicas de cunho inovador para amenizar os danos causados ao meio ambiente.

Desse modo, no final dos anos de 1980, foi lançado no Estado do Paraná o

“Programa de Manejo das Águas, Conservação dos Solos e Controle da Poluição em

Microbacias Hidrográficas”. O Programa, popularmente ficou conhecido como “Paraná

Rural”, e foi implantado no período de 1989 a março de 1997. Foi instituído também o

“Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em

Microbacias Hidrográficas no Estado de Santa Catarina”, mais conhecido como

“Projeto Microbacias/BIRD” ou simplesmente “Microbacias”, entre os anos de 1991 e

1999.

Tais projetos foram criados em meio a essas novas diretrizes, tendo como

objetivo aumentar a cobertura vegetal do solo, a infiltração de água no solo, reduzir o

escoamento superficial e o controle da poluição, atuando na microbacia com um

caráter comunitário, centralizando suas ações na readequação de estradas, instalação

de abastecedouros comunitários, e na proteção dos mananciais, de acordo com Neves

Neto (2009).

O caráter inovador do Programa Paraná Rural consistiu em promover o

envolvimento da gestão descentralizada de suas ações, por meio da participação de

diversos agentes sociais nele inserido. Com isso, o programa apresentou pontos

positivos, como redução da poluição dos rios, maior abrangência das ações nas

microbacias selecionadas. O Programa de Microbacias instituído no Estado de Santa

Catarina, também contou com financiamento do BIRD (Banco Internacional para

Reconstrução e Desenvolvimento), no qual se destinava 50% das ações financiadas

pelo Banco Mundial.

Esse programa procurou atuar nas áreas destinadas a microbacia tendo elas

como unidade de planejamento e intervenção. Para tanto, as ações estavam

designadas a aumentar a cobertura vegetal, controlar o escoamento superficial,

diminuir os focos erosivos e promover a prática de desenvolvimento sustentável da

agricultura entre os produtores rurais.

Visto a eficiência do Projeto de Microbacias e do Programa Paraná Rural, o

governo do Estado de São Paulo inseriu o Programa Estadual de Microbacias

Hidrográficas com base nas experiências implantadas no Sul do país.

3- As Ações do Programa de Microbacias Hidrográficas no Estado de São Paulo

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As primeiras intervenções do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas

(PEMH) priorizavam o combate a erosão e aos ravinamentos (CATI, 2000) almejando

a conservação destes solos, salientou Hespanhol (2009). As subvenções contavam

com o apoio do estado para o desenvolvimento e inserção das ações em todo o

território paulista.

Entre os anos de 1987 a 1999 foram definidas as áreas de atuação do

programa. No ano de 1994 a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),

almejando ampliar as ações do programa, solicitou recursos ao Banco Internacional

para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), vistos as boas ações desenvolvidas

pelo BIRD no Estado de Paraná. Após várias reformulações, o projeto foi aprovado em

1999 para ser introduzido no período que se estendeu do ano de 2000 até o ano de

2006. No entanto, por outros fatores, a exemplo, a valorização do dólar perante o real,

o Programa foi prolongado até 2008.

Concretizadas as ações do PEMH, a CATI foi o órgão capacitado para

gerenciar o programa no Estado de São Paulo. Os investimentos destinados foram de

mais de 124 milhões de dólares, sendo que destes, mais de 69 milhões de dólares

foram financiados pelo BIRD, que totalizaram mais de 55% das ações, em

contrapartida o Governo do Estado de São Paulo financiou 55 milhões de dólares,

conforme ressalta Hespanhol (2009).

De acordo com a CATI (2000) os principais objetivos do Programa de

Microbacias no Estado de São Paulo eram

(...) amenizar e reverter o quadro de degradação do meio ambiente, promovendo técnicas preservacionistas e metodologias que produzam menor impacto sobre nossos recursos naturais. Ao mesmo tempo, o programa objetiva organizar as comunidades de pequenos produtores, desenvolvendo estratégias que provocam a melhoria do padrão de vida e amenizem o quadro de indigência e marginalização em que convivem atualmente (CATI, 2000, p 1 apud HESPANHOL, 2005, p 11-12).

A CATI contou com o apoio do Banco Mundial para a realização do

levantamento em todo o Estado de São Paulo, elencando os pontos críticos de cada

região, de cada município, de acordo com o (relatório 17074BR). Após análise do

território paulista, estabeleceu-se os critérios de atuação do programa junto aos

produtores rurais, visando um melhor atendimento e direcionamento na concessão dos

benefícios do programa, para os agentes sociais nele inserido.

Sendo assim, as premissas básicas do programa eram

- a definição da microbacia hidrográfica como unidade física de intervenção e análise das ações de desenvolvimento rural, assegurando a eficácia do programa e reduzindo custos de implantação; - a busca da sustentabilidade socioeconômica e ambiental na microbacia;

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- a participação e o envolvimento da sociedade civil e poder público como continuidade das ações, após a implantação do programa; - a descentralização e a transparência nas ações governamentais, e

- a busca de eficiência nas ações do Estado, o que requer esforços

para integrar ações intra e interinstitucionais (CATI, 2001, p.4).

A escolha das microbacias hidrográficas foi realizada com base em critérios

técnicos e socioeconômicos instituídos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(IPEA). Para a escolha, levou-se em consideração alguns fatores, a exemplo a

susceptibilidade a erosão, os elevados índices de pobreza rural, ressalta Hespanhol

(2005). A partir deste levantamento, o Estado de São Paulo dividiu as regiões

agrícolas prioritárias buscando melhores resultados, figura 1.

Figura 01. Classificação das regiões agrícolas paulistas, segundo os níveis de prioridade (PEMH). Fonte: Neves Neto (2009).

No Estado de São Paulo, as ações do programa priorizaram os pequenos

produtores rurais, localizados em áreas onde os focos erosivos eram intensos, áreas

com elevados índices de degradação ambiental, com mais de 70% de recursos do

programa (área prioritária 1) corresponde a cor vermelha na figura 1, já as demais

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áreas prioritárias 2 (laranja) e 3 (amarelo) receberam 27% e 3% dos recursos,

respectivamente por meio da concessão de subvenções individuais e coletivas.

O objetivo da ampliação destas ações eram impulsionar o desenvolvimento

rural sustentável em pequenas propriedades rurais, principalmente as localizadas no

Oeste Paulista, (tida como prioritária), promover melhorias no manejo dos solos, na

qualidade de vida e no meio ambiente.

As práticas individuais consistiram na adubação verde, cerca de proteção de

mananciais, controle de erosão, calcário, fossa séptica biogestora, entre outras. Já as

práticas comunitárias - coletivas, como os abastecedouros, distribuidor de calcário,

roçadeira, semeadora de plantio direto (tração animal) e a roçadeira costal, entre

outros, foram concedidas por intermédio da associação de produtores rurais. No

entanto, era preciso que os produtores rurais formassem grupos de, no mínimo, cinco

beneficiários, devidamente inseridos na microbacia, para ter acesso aos

equipamentos, e estar vinculados a uma associação de produtores rurais dentro da

microbacia.

Durante a implementação do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas,

o corpo técnico envolvido com as ações do PEMH sofreu com um número insuficiente

de pessoas capacitadas. Com os baixos salários pagos ao corpo técnico, o que

provocou a instabilidade no emprego. De certo modo, a falta de comprometimento dos

Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDR) constituídos apenas

formalmente, somente para a capitação de recursos do programa, a falta de confiança

dos beneficiados no poder público, resultam na soma dos muitos problemas

enfrentados pelo programa no Estado de São Paulo.

Outro problema encontrado foi à desvalorização do real frente ao dólar. Pois no

início do programa, a moeda americana encontrava-se mais valorizada, no decorrer da

inserção das ações do programa no Estado de São Paulo, o dólar foi se

desvalorizando, e os recursos destinados ao PEMH sofreram limitações, no que tange

a aquisição de implementos e contração de serviços, afirma Hespanhol (2008).

As metas previam atender os mais de 90 mil produtores rurais distribuídos em

todo o Estado, atendendo mais de 1500 projetos numa área de abrangência de mais

de 4,6 milhões de hectares, de acordo com a CATI, salienta Hespanhol (2008).

Todavia, em pouco mais de oito anos, o PEMH abrangeu 70 mil produtores rurais,

distribuídos em 514 municípios, atendeu 996 microbacias hidrográficas, o que

correspondeu a 66,4 % das metas estabelecidas pelo programa, em todo o Estado de

São Paulo. No que diz respeito à expansão territorial, atingiu cerca de 3,3 milhões de

hectares, perfazendo a 71,74% das metas.

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Como resultado do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas no Estado

de São Paulo, pode-se afirmar que ocorreram mudanças consideráveis nos aspectos

ambientais, na maneira dos técnicos atuarem nas propriedades. O programa

proporcionou uma nova mentalidade entre os técnicos e os produtores rurais,

afirmaram Abramovay (2004) e Hespanhol (2005 2008). Os produtores rurais

passaram a se preocupar com as nascentes, em reconstituir de vegetação nativa às

Áreas de Preservação Permanentes, conforme salientou Neves Neto (2009).

Desta forma, nota-se que as metas estabelecidas não foram plenamente

alcançadas no Estado de São Paulo (CATI, 2007). Mesmo com o não cumprimento

das metas, o programa foi bem aceito entre os produtores rurais dos municípios, pois

pela primeira vez no Estado de São Paulo houve uma política voltada ao atendimento

dos pequenos produtores rurais.

4- O município de Caiuá no contexto de ocupação da Região do Pontal do

Paranapanema

O município de Caiuá localiza-se no Oeste do Estado de São Paulo e pertence

ao Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Presidente Venceslau, o qual faz

parte da 10ª região administrativa, sede Presidente Prudente. A ocupação do

município tem inicio no ano de 1922, mas sua emancipação política ocorre somente no

ano de 1953 com o seu desmembramento do território de Presidente Venceslau.

O processo de colonização do município de Caiuá ocorreu nas primeiras

décadas do ano de 1920 (séc. XX), influenciado pela marcha expansionista para o

oeste do Estado de São Paulo, com o objetivo de agrupar novas áreas ao Planalto

Ocidental Paulista, incorporando a esses estratos de áreas, a monocultura cafeeira,

salientou Monbeig (1984). A configuração destes novos estratos de áreas se consolida

numa das etapas do processo de expansão capitalista, por meio de recursos

disponibilizados pela União, a modo de ocupar e colonizar essas novas áreas recém

desbravadas.

Gil (2007) ressalta que nos primeiros anos de ocupação a região era

caracterizada por possuir “estrutura fundiária baseada na pequena propriedade e a

prática da policultura para o sustento, porém com a predominância do café, definiram

a configuração espacial da região” (GIL, 2007, p. 113-114).

Nos anos seguintes, a ocupação destes estratos de área na região, aumentou

as disparidades regionais, por meio da adoção de políticas públicas de caráter setorial,

em beneficio da industrialização em curso no país, principalmente entre regiões que se

industrializavam e as que se urbanizavam (caso do Pontal do Paranapanema) com

suas bases centralizadas nas praticas agropastoris.

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No que se refere a pratica agrícola, em especial a cafeicultura que por longos

anos foi o principal produto de exportação econômica no país, e do município de

Caiuá, figura 2. O Pontal do Paranapanema sofreu uma intempérie climática neste

estrato de áreas, por conta de uma forte geada no ano de 1975, que assolaram os

cafezais da região, inclusive os de Caiuá. Esse período deu origem a uma

desestruturação na economia regional, o que motivou a evasão populacional para

demais regiões.

Figura 2: localização do município de Caiuá na 10ª Região Administrativa do Estado de São Paulo

Fonte: Carmo (2011).

5 - A implementação dos projetos de microbacias hidrográficas no município de

Caiuá - SP

Entre os anos de 1970 e 2000 houve uma redução de mais de 79,52% da

população total do município de Caiuá. Sabemos que em 1970 (população rural era de

4.029, mais de 76,44% e a população urbana era de 1.241, mais de 23,56%) e nos

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anos de 2000 (a população rural era de 2.423 cerca de mais de 57,80% e a população

urbana era de 1.769, mais de 42,20%, segundo os dados do IBGE). No intervalo entre

as respectivas décadas houve uma redução de 19,64% da população rural e um

aumento de 18,64% da população urbana, de acordo com os Censos Demográficos do

IBGE, como mostra a tabela 1.

Tabela 1. População Rural e Urbana de Caiuá – SP (1970-2000)

Ano População Rural

% População Urbana

% População Total

%

1970 4.029 76,44% 1.241 23,56% 5.271 100%

1980 1.725 58,09% 1.246 41,91% 2.971 100%

1990 1881 56,30% 1.460 43,70% 3.341 100%

2000 2.423 57,80% 1.769 42,20% 4.192 100%

Fonte: IBGE, 2010.

Fatores como a crise no setor cafeicultor contribuíram para que muitos

produtores rurais mudassem de atividade agrícola, como a diversificação em novos

ramos (a pecuária) ou até mesmo, o investimento em novos espaços territoriais, por

meio da aquisição de novas terras no Centro-Oeste do país, plantação de café nas

áreas produtivas. De certa maneira tem-se a concentração da pratica da pecuária

bovina de corte e de leite na região. Sendo ela a principal fonte de renda econômica

deste município, ações destinadas à pratica da pecuária leiteira com uma produção de

mais de 1.200 litros de leite por dia, no ano de 2009, IBGE (2009).

De acordo com as informações do IBGE, atualmente a economia do município

de Caiuá centraliza suas ações no setor agropecuário, representado pelo cultivo de

algodão, feijão e milho, com pouca representatividade se comparado com a produção

nacional.

O Levantamento Censitário de Unidades Agropecuárias (LUPA) 2007-08

realizado pela CATI mostra que, a estrutura fundiária apresenta sua grande maioria

em propriedades com menos de 100 hectares, com cerca de 67,66% concentrados em

propriedades com 10 hectares, que representa 17,20% da área. As pastagens ocupam

mais de 95,82% da área agricultável do município, destinadas para a pecuária de

(corte, leite e mista) seguida pela pratica do cultivo de cana-de-açúcar com 11,96% e

do eucalipto com 1,99% de área.

O Programa de Microbacias apoiou financeiramente os pequenos e médios

produtores, de maneira parcial ou integral através da concessão de incentivos

coletivos e individuais, que totalizam R$ 753.442,71, em áreas onde os problemas

ambientais eram maiores, de acordo com Hespanhol (2005), como os encontrados no

Oeste do Estado de São Paulo, localização do município de Caiuá.

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Em levantamento realizando na base de dados LUPA 2007-08, no município de

Caiuá existem 801 unidades de produção agropecuária. Desse total, 184 localiza-se

nas duas microbacias hidrográficas onde foram realizadas as incursões dos projetos

de microbacias hidrográficas implementados nas microbacias do Caiuazinho (80

propriedades) e a Córrego Água da Invernada (104 propriedades).

O levantamento realizado pela CATI no município de Caiuá aprovou 102

Projetos Individuais de Propriedades (PIP’s), destes 36 na microbacia do Córrego do

Caiuazinho e 66 na microbacia do Córrego Água da Invernada, perfazendo um total de

recursos financiados pelo programa de R$ 483.819,02, segundo informações da casa

da agricultura.

Entre os produtores rurais entrevistados nas duas microbacias hidrográficas

cerca de 70% (21 produtores) receberam ao menos um tipo de incentivo, com um

respaldo maior na microbacia do Caiuazinho com mais de 93,7% (15 produtores) com

adesão do Projeto Individual Propriedade. Entre os produtores rurais entrevistados

houve uma grande adesão de incentivos coletivos beneficiando a grupos de cinco

produtores rurais, sendo que uma parte significativa dos produtores que receberam os

dois tipos de benefícios (individuais e coletivos).

O programa beneficiou um grande número de produtores rurais por meio da

concessão de poços artesianos, que proporcionou aos beneficiados a aquisição de

água, dado que muitas propriedades não tinham, sendo eles o principal fator no que

diz respeito aos pontos positivos do programa no município. Na microbacia do

Caiuazinho 50 e 47,75% dos entrevistados avaliaram as ações do programa como

bom e ótima, concomitantemente, na microbacia do Córrego Água da Invernada os

índices foram de 28,60% e 18,30%, respectivamente, na microbacia do Caiuazinho

foram poucos os produtores que avaliaram as ações do programa como ruim, péssimo

e regular, já na microbacia do Córrego Água da Invernada 28,6% dos entrevistados

avaliaram como péssimo e regular as ações destinada pelo programa, conforme tabela

2.

Tabela 2. Opinião sobre o Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas

Ótimo % Bom % Ruim % Péssimo % Não responderam

%

Microbacia / Caiuazinho

07 43,75% 08 50% - - - - 01 6,25%

Microbacia/ Água da

Invernada

02 18,30% 04 28,60% 04 28,60% 04 28,60%

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Total de produtores

entrevistados

09 30% 12 40% 04 13,33% 04 13,33% 01 3,33%

Fonte: trabalho de campo (março / 2011).

Um dos motivos para a boa avaliação do programa no município de Caiuá

deve-se ao fato dessa ser uma das poucas ações públicas de maior ênfase aos

pequenos produtores rurais. O fato da casa da agricultura do município procurar os

produtores rurais (os mesmos não tem o conhecimento das ações, muitos por não

saber ler e nem escrever, outros por não ficarem sabendo das incursões) acaba

proporcionando um sentimento de valorização entre os produtores. Haja vista que,

eles se sentem desvalorizados socialmente, em virtude da sua baixa escolaridade,

anos de trabalhos árduos no meio rural sem o reconhecimento devido, excluídos

economicamente e culturalmente, e principalmente de políticas públicas.

No que diz respeito ao perfil dos produtores rurais das duas microbacias trabalhadas,

temos um grande número de produtores com idade entre 60 e 70 anos, sendo que na

microbacia do Caiuazinho, mais de 65% dos entrevistados apresentam idade acima

dos 60 anos. Já na microbacia do Córrego Água da Invernada esse percentual é de

50% dos entrevistados. Observa-se também que com o envelhecimento dos

proprietários os sucessores não pretendem ficar na propriedade.

De acordo com o levantamento realizado na microbacia do Caiuazinho, 46,66%

dos entrevistados alegam que os filhos já moram na cidade, muitos deles vão para

estudar e não querem mais saber de voltar para o campo. Na microbacia do Córrego

Água da Invernada a situação é pior, pois 85,71% dos entrevistados moram na cidade.

Nota-se que em boa parte dos casos, os filhos dos produtores procuram novas

oportunidades de trabalho fora do ambiente rural, o que reflete na baixa permanência

deles no ambiente rural. Na microbacia do Córrego Água da Invernada o percentual

dos filhos de produtores rurais que pretendem continuar a residir no meio rural é de

14,29% dos entrevistados, sendo que alguns deles ainda não atingiram a maioridade.

Entre os produtores rurais, as perspectivas de permanecerem no campo são maiores,

por conta da idade elevada e a falta de qualificação profissional, o que dificulta uma

colocação profissional na cidade; muitos produtores rurais alegaram que com

aposentadoria ficaria difícil de sobreviver no meio urbano, pois não há estabilidade

financeira necessária para se manter.

Em relação à previdência social rural, averigua-se a importância deste

beneficio para os pequenos produtores rurais, pois essa é a principal fonte de renda,

sendo poucos os que fazem uso deste benéfico para complementar a renda. Haja

vista que, o capital rural é imprevisto podendo variar de safra para safra, e no caso dos

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pequenos produtores rurais, varia de acordo venda dos produtos junto aos centros

consumidores (supermercados e Ceasa). Nas microbacias do Caiuazinho, do Córrego

Água da Invernada, verifica-se que 76,00% e 78,57% dos produtores rurais

entrevistados são ou possuem familiares aposentados, o que mostra a importância

desta renda para os pequenos produtores rurais.

Outro ponto relevante entre os produtores rurais diz respeito ao baixo nível de

escolaridade na microbacia do Caiuazinho5 68,75% dos entrevistados não cursaram o

nível do Ensino Fundamental Incompleto, o que condiz com a pratica da atividade da

pecuária de corte, as lavouras como as principais atividades exercidas pelos

produtores rurais. A baixa escolaridade, a falta de investimentos faz com que muitos

produtores rurais desempenham atividades agrícolas nos moldes tradicionais de baixa

produtividade e baixo retorno financeiro.

Na microbacia do Córrego Água da Invernada esse quadro é um pouco

diferente, pois apresenta 28,58% dos entrevistados com Ensino Médio Completo e

31,71% dos entrevistados apresentaram o nível superior completo. Há um elevado

nível de tecnificação e capitalização, que proporciona aos produtores desta microbacia

uma maior rentabilidade, principalmente com a produção de gado de corte em larga

escala, conforme a tabela 3.

Tabela 3. Nível de Escolaridade dos Produtores Rurais

Escolaridade Microb. Caiuazinho

% Microb. Água da Invernada

%

Analfabeto 01 6,25% - -

Ens. Fund. Inc. 11 68,75% 02 14,28%

Ens. Fund. Comp.

- - 02 14,28%

Ens. Méd. Inc. 01 6,25% 01 7,14%

Ens. Méd. Comp.

03 18,75% 04 28,58%

Sup. Comp. - - 05 35,71%

Total de produtores

entrevistados

16 100% 14 100%

Fonte: trabalho de campo (março/2011).

5 Outro agravante desse estrato de área, diz respeito a presença do assentamento rural Água

da Invernada II residido por 25 famílias, cujo o presidente da associação é o Lino Damasceno. Ele alega que os principais problemas enfrentados no assentado, diz respeito à falta de auxílios para o desenvolvimento de suas práticas agrícolas, para melhorar a renda dos produtores rurais. (LINO DAMASCENO, 2010).

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Dessa forma nota-se que nas duas microbacias, em sua grande maioria, os

produtores rurais se encontram em idade avançada, muitos são aposentados, e seus

herdeiros não pretendem continuar ou não residem mais no meio rural, muitos não

almejam desenvolver atividades agropecuárias e não estão dispostos a viver da renda

fruto do trabalho no campo, devido ao fato desta atividade que requerer investimentos,

empenho e dedicação, e ainda ter que contar com as intempéries climáticas.

Segundo os técnicos da casa da agricultura envolvidos no programa de

microbacias em Caiuá, boa parte das subvenções direcionadas ao município foi

aproveitada pelos produtores rurais, sendo que algumas não foram adquiridas pelos

produtores por conta da demora para elaborar o Projeto Individual de Propriedade

(PIP).

Entretanto as ações empreendidas pelos projetos de microbacias não são

suficientes para solucionar os desafios enfrentados pelos produtores rurais, em

especial aqueles que dependem das atividades agropecuárias. Mesmo sabendo que

as atividades desempenhadas pelo Programa de Microbacias no município de Caiuá

tenha sido importante, pois teve um grande aceite entre os entrevistados.

As ações do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas - PEMH foram

vistas como positivas entre os produtores rurais, sendo que mais de 70% dos

entrevistados avaliaram as ações do Programa de Microbacias como ótimas e boas,

porém isso é pouco em se tratando do discurso da CATI que preza o desenvolvimento

rural sustentável.

As ações desenvolvidas pelo Programa Estadual de Microbacias Hidrográfica

concederam por meio de subvenções coletivas e individuais, a capacitação dos

técnicos das casas da agricultura, doação de kit de informática com 100% dos custos

financiado pelo projeto. Em contrapartida o objetivo central do programa que era

promover o desenvolvimento rural, gerar renda entre os pequenos produtores, de fato

não ocorreu de maneira efetiva, ou seja, a renda proporcionada pelo PEMH não

alcançou o esperado, que era atingir todos os 90 mil produtores espalhados no Estado

de São Paulo.

Sabe-se que a geração de renda é um mecanismo para indicar a melhoria no

padrão de vida e no bem estar dos produtores rurais situadas nas áreas onde os

projetos de microbacias estiveram atuantes no município.

Nota-se que entre os produtores rurais das microbacias analisadas ocorre certa

descapitalização, o que impede que eles invistam em novas culturas, tecnologias,

fatores estes que acabam desmotivando os jovens a permanecer no meio rural. Por

fim, não trás perspectivas para criar novas alternativas que poderiam gerar renda e

diminuir a evasão do meio rural.

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Outro agravante refere-se aos baixos preços dos produtos agrícolas no

mercado, por conta do atravessador, das condições adversas econômicas e

principalmente a falta de políticas públicas. Nota-se que, o pequeno produtor rural não

tem subsídios para competir no mercado com os grandes produtores rurais o que o

desestimula a investir na propriedade, e aumenta mais ainda vontade de ir para o meio

urbano.

No que se refere às questões ambientais, observa-se que as ações

desenvolvidas no município pelos projetos de microbacias hidrográficas

implementados não resultaram em mudanças significativas na preservação dos

mananciais, mesmo sabendo que, o programa ressarciu em U$ 0,17 por muda

desenvolvida, após um ano.

O principal objetivo alcançado pelo programa nas duas microbacias foi à

conscientização dos produtores rurais a respeito dos problemas ambientais no

município, segundo os técnicos da casa da agricultura muitos produtores passaram a

compreender a importância da preservação ambiental, mesmo sendo contrárias as

medidas preservacionistas em cumprimento junto dos pequenos produtores rurais.

Dessa forma o programa viabilizou mudas nativas para o reflorestamento em

áreas degradadas, além de cercas para a proteção das Áreas de Preservação

Permanente (APP), curvas de nível para o controle da erosão, entre outros benefícios

mais concebidos aos produtores.

Nas microbacias do Caiuazinho e Córrego Água da Invernada, o percentual

dos produtores rurais que cercaram a APP foi baixo com 42,85% (seis produtores) e

6,25% (um produtor). Quando questionados o porquê do não cercamento das Áreas

de Preservação Permanente (APP) 80% (24 produtores) responderam que a

propriedade não é cortada por nenhum curso d’ água, por isso não realizada a pratica

da preservação. No entanto, os produtores rurais sabem da importância da

preservação ambiental, e criticam as medidas adotadas pelos órgãos governamentais

que acaba prejudicando-o, por apresentarem propriedades rurais com áreas de

dimensões reduzidas.

Para uma maior eficácia das ações desenvolvidas pelo programa de

microbacias, é preciso ter uma participação em conjunto entre os órgãos diretamente

envolvidos, principalmente entre os técnicos e os produtores rurais, que por muitas

vezes acabam - se entendendo.

No município de Caiuá foi criada em 2000 a associação de produtores rurais.

De acordo com entrevista realizada em setembro de 2010, o presidente afirmou que o

intuito da associação era para arrecadar recursos do Programa Estadual de

Microbacias Hidrográficas, mas com o passar dos tempos e com o término do

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programa, a associação passou a captar recursos de outras ações do governo,

principalmente por contar com um assentamento rural no município, que direciona

uma grande quantidade de recursos para os assentados. Um dado agravante é o

baixo número de produtores associados que tem freqüentado as reuniões, onde são

discutidos os problemas do município, as políticas públicas destinadas para os

pequenos produtores rurais.

Analisando a participação dos produtores rurais do município que ainda

mantém vínculo com a associação nas duas microbacias trabalhadas constata-se o

baixo nível de envolvimento dos produtores rurais. Observa-se que o nível de

informação é elevado cerca 100% (30 produtores rurais) dos entrevistados sabem da

existência da associação, porém 63,33% dos produtores rurais declaram participar das

reuniões, sendo que 87,25% são da microbacia do Caiuazinho e 35,71% da

microbacia do Córrego Água da Invernada, os produtores rurais que declararam serem

membros desta associação.

Formalmente a existência da associação de produtores rurais atualmente no

município, em função das exigências básicas dos programas governamentais para o

recebimento de verbas, a exemplo o PEMH, INCRA, ITESP e CATI. Segundo os

técnicos entrevistados, durante a implementação do Programa Estadual de

Microbacias Hidrográficas foi importante a participação da CATI e do ITESP para o

recebimento do apoio financeiro do Banco Mundial, e sem eles ficaria difícil receber as

verbas.

Durante a elaboração do PEMH o envolvimento dos produtores rurais esteve

mais presentes. No entanto durante as primeiras ações destinadas ao município para

aquisição das subvenções do Programa de Microbacias no Córrego Água da

Invernada, a procura fora pequena. Segundo os dados do técnico envolvido no

programa, cerca de quatro ou cinco dentre os mais de 40 produtores que se

interessaram pelas ações se beneficiaram, sendo que muitos deles não se

enquadravam nas especificações do Programa/ou não se interessaram por medo ou

por não conhecimento das ações desenvolvidas no Estado de São Paulo.

Já na microbacia do Caiuazinho a procura foi grande. Entre os 84 produtores

deste estrato de área presentes, cerca de 40 a 45 produtores rurais que freqüentavam

as reuniões e se envolviam nas ações do programa. O fato relevante para a eficácia d

do programa nesta microbacia e a presença do assentamento do Engenho II. Por

apresentarem uma associação presente, por conta das próprias necessidades dos

assentados em receber os benefícios concedidos pelo governo houve a aprovação de

mais projetos PIPs, além de contarem com o apoio dos técnicos do Itesp comunicando

os assentados a respeito das ações desenvolvidas pelo de Programa de Microbacias.

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Outro dado relevante é que nesse estrato de área há a presença de um

assentamento rural, fator esse que facilitou o trabalho desempenhado pelos técnicos

da casa da agricultura e da associação, pois os assentados já se encontravam

organizados em associações, cooperaram com os técnicos. As ações do PEMH nesse

território contaram com a parceria com os técnicos do ITESP, muito importante para o

desenvolvimento das ações do Programa de Microbacias no estrato de área da

microbacia do Caiuazinho.

Porém um ponto que diverge a boa aceitação pelos membros da microbacia

às ações do programa, diz respeito à presença dos assentamentos rurais que

proporcionou algumas indagações por parte dos assentamentos não beneficiados com

as subvenções do PEMH, eles não aceitavam que somente o Assentamento do

Engenho II poderia receber as subvenções.

Quanto ao corpo técnico6 existente na Casa da Agricultura para a execução

durante a implementação do Programa de Microbacias. Constata-se havia um técnico,

um engenheiro agrônomo, e um médico veterinário que proporcionou um bom

respaldo das ações desenvolvidas pelo programa no município, mesmo com certa

dificuldade de assimilação dos objetivos do programa por parte dos técnicos e dos

produtores rurais.

Considerações Finais

Os projetos de Microbacias Hidrográfica implementados no município de Caiuá

tinham como metas atender os produtores rurais instalados nas duas microbacias, a

fim de diminuir o processo de degradação ambiental, os focos erosivos, e melhorar a

capacidade produtiva dos pequenos produtores rurais. De certa forma, mesmo com

algumas dificuldades, foram desenvolvidas ações positivas nas duas microbacias.

As ações foram mais eficazes na microbacia do Caiuazinho devido a boa

articulação dos proprietários, haja vista que a presença do ITESP facilitou a

organização dos produtores para a montagem dos projetos individuais de propriedade

(PIP´s), junto com os técnicos da casa da agricultura. As ações nesta microbacia, de

acordo com os dados obtidos por meio do trabalho de campo se pautaram em

recuperar parte das estradas do assentamento, desenvolver os produtores rurais e

resolver o problema a questão da falta de água.

6 Atualmente o corpo técnico e presidido por um técnico que exerce uma função na prefeitura

do município e um engenheiro agrônomo contratado pela prefeitura.

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Já na Microbacia do córrego Água da Invernada, a disparidade no tamanho das

propriedades e a falta de articulação entre os produtores rurais inibiram o trabalho dos

técnicos na elaboração dos projetos, pois na primeira etapa do programa houve muita

dificuldade (técnicos e pequenos produtores rurais) para compreender o andamento

do projeto, o que contribuiu para o retardamento de parte das ações, prejudicando o

desenvolvimento das metas na microbacia

De maneira geral, as ações dos projetos no município de Caiuá, centralizaram-

se na concessão de incentivos individuais e coletivos ao pequeno produtor rural,

capacitação dos técnicos da casa da agricultura, recuperação de áreas preservação

ambiental, readequação das estradas, além de destinar parte das verbas para a

melhoria da infra-estrutura das propriedades rurais, destinando a elas uma maior

quantidade de recursos financeiros, através de subvenções individuais e coletivas.

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