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Entre Tanto revista da faculdade de ciências e tecnologia distribuição gratuita N.º3 Setembro 2007 http://www.fct.unl.pt/ ISSN 1646-6721

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EntreTantorevista da faculdade de ciências e tecnologia distribuição gratuita

N.º3 Setembro 2007 http://www.fct.unl.pt/

ISSN 1646-6721

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_Destaques FCT

_Entrevista FCTProfessor José Santos Oliveira

_Iniciativas da Biblioteca

_Empresas FCT ACACIA

_Investigação FCT

_Mulheres na Ciência

_Notícias FCT

_Novos Mestres e Doutores

_CrónicaAntónio Perez Metelo

Permitida a citação, ainda que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações, sob quaisquer meios, desde que indicando sempre a sua origem.

Propriedade e Edição FCT /UNL – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte de Caparica 2829-516 Caparica (www.fct.unl.pt; [email protected])

Director Fernando Santana Editora Luísa Pedroso ([email protected]) Fotógrafo Mário Sousa Colaborações nesta Edição Ana Maria Lobo, Ana Pereira, António Brandão

Moniz, António Perez Metelo, Eurico Cabrita, Gabriela Almeida, José Paulo Santos, Maria Rosa Paiva, Paula Diogo e Rosário Duarte Participação Editorial Biblioteca da

FCT/UNL Conselho Editorial José Moura (presidente), Palmira Costa, Rita Monteiro e Luísa Pedroso Concepção Gráfica e paginação Designpúblico, soluções globais, lda. (www.

designpublico.com) Impressão Tipografia Lobão (www.tipografialobao.pt) Tiragem desta Edição 2500 exemplares

FCT 2007/08 : 95% de vagas preenchidas na 1.ª Fase

Não resisti à tentação deste título, para poder par-tilhar a minha satisfação pelos excelentes resultados con-seguidos pela nossa Faculdade na 1.ª Fase do Concurso Nacional de Admissão ao Ensino Superior deste ano. Em 1070 vagas oferecidas, preenchemos 1020, o que pratica-mente já não se verificava desde o tempo em que o número de novos alunos era um dado adquirido. A circunstância do panorama para as universidades ter sido muito favorável, talvez devido a alguma redução na procura do ensino politécnico, ou, mais importante, porque as classificações de Matemática melhoraram (caso das en-genharias), não deve impedir o orgulho que sentimos pelos nossos resultados. De facto, se num ano de “boa colheita” para todos a Faculdade não tivesse alinhado pelo padrão geral, estaríamos então perante uma situação muito pre-ocupante. Os resultados mostram assim que a posição da Fa-culdade no contexto universitário nacional está consolidada e que para isso terá, seguramente, contribuído o esforço conjunto realizado pela Escola para a sua promoção e afirmação. Temos portanto de continuar, com a humildade que o bom senso recomenda, mas com o entusiasmo de que so-mos capazes e que com a melhoria de acessibilidades que o metro de superfície trará (início de funcionamento previsto para Dezembro próximo), nos arriscamos a ser imbatíveis!

Parabéns!

Fernando SantanaDirector da FCT

NESTAEDITORIAL

n.º 3 Setembro 2007

EDIÇÃO

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Depósito legal n.º 251725/06 ISSN 1646-6721

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foto da capa Figura extraída da exposição “Proteins We Love” - José J. G. Moura, Pedro Tavares e Ludwig Krippahl (Biblioteca Campus de Caparica, Abril 2007)

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LICENCIATURAS INOVADORAS No âmbito das comemorações do 30.º Aniver-sário da FCT, realizou-se no passado dia 4 de Junho, o debate “As Licenciaturas Inovadoras da FCT – sua génese e evolução”, no qual participaram Miguel Tel-les Antunes, Luís Archer, José Filipe Santos Oliveira, Madalena Quirino, Hermínio Duarte-Ramos e João José Fraústo da Silva. Todos estes professores acom-panharam de alguma forma a constituição da Facul-dade de Ciências e Tecnologia e estiveram envolvidos

na criação de algumas Licenciaturas que lhe estão as-sociadas e que eram, à época, inovadoras. Foi o caso da Engenharia Informática, da Engenharia Sanitária que depois evoluiu para Engenharia do Ambiente e do curso de Engenharia dos Materiais. Mas a FCT não foi só pioneira em algumas Licenciaturas, foi também responsável pela introdução de disciplinas inovadoras como, por exemplo, Microbiologia e Genética Molecu-lar, Biossegurança e Bioética. Passados 30 anos não pensamos nas dificuldades iniciais, mas a verdade é que as coisas nem sempre foram fáceis e disso mesmo tiveram oportunidade de falar os intervenientes neste debate.

Os participantes no debate “ As licenciaturas inovadoras da FCT – sua génese e evolução”. Ao centro os moderadores do debate: o Prof. José Moura e o Director da FCT

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UMA VISÃO DE FUTURO Tão importante como conhecer o passado é ter uma visão de futuro. Com esse objectivo, a Comissão encarregue de comemorar o 30.º Aniversário da FCT organizou um outro debate, para o qual convidou jo-vens professores da Faculdade a falar dos “Próximos 30 Anos da FCT – Visões de Futuro”. Não se trata de fazer futurologia mas, como referiu o Prof. António Brandão Moniz, numa intervenção que precedeu o de-bate, “desenvolver visões construídas que nos permi-tam tomar decisões”. O uso de cenários, algo que é comum na política e na economia, pode ser impor-tante se estes forem utilizados como ferramentas de antecipação, que nos ajudam a agir. Se é certo que, com Bolonha, a mudança já começou, das intervenções proferidas pelos jovens professores fica a ideia de que muita coisa mais vai ter de mudar: a nível do ensino, da ligação da Universidade à sociedade e às empresas, na forma de governação da Faculdade e na qualidade de vida do Campus, que tem de ser ainda mais verde, mais sustentável e mais atractivo para se viver, estu-dar e trabalhar em....2037.

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EXPOSIÇÃO DE LIVROS CIENTÍFICOS DA AUTORIA E EDIÇÃO DA FCT No âmbito das comemorações dos 30 Anos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, a Direcção da Faculdade e a Comissão Organizadora das Comemorações tiveram a ideia de compilar todos os livros produzidos ou editados pela FCT, de forma a criar mais uma “memória” colectiva da instituição. Esta recolha materializou-se na mostra de um conjunto representa-tivo de livros científicos de autoria ou edição da responsabilidade de Docentes da FCT. Basicamente, tratou-se de uma exposição bibliográfica que reuniu obras de carácter científico e pedagógico, algumas generalistas e outras al-tamente especializadas, que pretendem atingir um público diversificado.

O Director da FCT com o Director e a Coordenadora da Biblioteca

30 ANOS AO SERVIÇO DA FCT No dia 4 de Junho, além do debate sobre as Licenciaturas inovadoras da FCT, realizou-se também uma sessão de homenagem a todos aqueles, docentes e funcionários, que pertencem à Faculdade há 30 anos. Nesta data especial, e como testemunho de apreço pela sua dedicação ao longo destas três décadas, os homenageados receberam, em vez da tradicional me-dalha, uma pequena escultura em mármore da autoria de Jorge Pé-Curto. Trata-se de uma réplica da obra “Figura Cindida com Ave” que o escultor criou para o Campus da FCT.

Entrega de lembrança aos funcionários com 30 anos de serviço

Os participantes no debate “Próximos 30 anos da FCT – visões de futuro”. Ao centro os moderadores do

debate: O Prof. José Moura e o Director da FCT

Os livros expostos são da autoria e edição da FCT

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José Manuel Fonseca, presidente da Comis-são Instaladora, assume como objectivo primordial da Associação “trazer de volta os antigos alunos e fazer deles estudantes ao longo da vida”. A importância dos antigos alunos para a FCT é, na opinião deste Professor, indiscutível. Por um lado, “podem ter um papel crítico em relação à Faculdade” e, por outro, “serem portadores de novas ideias quanto à forma da FCT se actualizar e responder com maior eficácia ao que o mercado procura”. A Associação de Antigos Alunos da FCT está, nesta altura, a proceder em simultâneo à sua organi-zação e divulgação e à recolha de inscrições, sendo de salientar que já reuniu algumas centenas. Este pro-cesso culminará com a realização de uma Assembleia Geral, onde será eleita a primeira direcção, e de um almoço/convívio no dia 10 de Novembro. Esta data foi simbolicamente escolhida, já que dois dias depois, a 12 de Novembro, se realiza a ceri-mómia oficial de encerramento das comemorações do 30.º Aniversário da FCT.

FCT REENCONTRA-SE COM ANTIGOS ALUNOS A constituição da Associação de Antigos Alunos da FCT/UNL era uma ideia antiga, que se concretizou no dia 16 de Abril. O facto de tal acontecer quando a Faculdade comemora o seu 30.º Aniversário, não passa de uma coincidência, mas nem por isso menos feliz. Graças a uma conjugação de esforços e de von-tades conseguiu-se, finalmente, reunir as condições necessárias para o arranque da Associação de Antigos Alunos da FCT, cuja autorga da escritura de constitui-ção teve lugar no passado dia 16 de Abril. Um grupo de trabalho, constituído por cinco professores (quatro da FCT/UNL e um do ISEL), encar-regou-se de preparar os estatutos da nova Associação. De acordo com esses estatutos, podem ser associados todos os que tenham obtido na FCT os graus de Licen-ciado ou Mestre, ou um Diploma de Pós-Graduação ou de Doutor pela UNL, em área científica da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Aos antigos alunos será fornecido um cartão que lhes dará os mesmos direitos dos actuais estudan-tes, nomeadamente, acesso à cantina, à Biblioteca ou aos campos desportivos. Por outro lado, pretende-se encontrar mecanismos que promovam a participação activa dos antigos alunos nas muitas actividades que decorrem no Campus de Caparica.

Consciente das profundas alterações que se estão a operar no contexto universitário nacional, em particular no que concerne à gestão das instituições, a FCT tem procurado enfrentar de forma directa os pro-blemas que lhe estão associados, em vez de, como seria mais cómodo, deixar tudo como está e ir gerindo even-tuais consequências da mudança que se adivinha.Nesse sentido, a FCT realizou uma auto-avaliação, iniciativa que teve uma excelente resposta por parte de todos os Sectores Departamentais da Faculdade. O processo de auto-avaliação esteve a cargo de uma equipa de peritos da Universidade de “Southampton” e do “Imperial College” de Londres. Posteriormente, o Conselho Directivo reuniu-se com os Sectores Departamentais para reflexão/discus-são sobre um novo modelo de gestão para a FCT, bem como sobre o “ied” (indicador de eficiência por docen-te), tendo por base os resultados do referido processo de auto-avaliação. Sob o lema “antecipar o futuro – gerir a mudança”, a reunião decorreu no passado dia 20 de Julho no Con-vento dos Capuchos. O encontro contou também com a participação da Associação de Estudantes, tendo cons-tituído um importante momento de análise conjunta de instrumentos indispensáveis à sustentabilidade da Fa-culdade. Os documentos referentes ao novo modelo de gestão da FCT e ao indicador de eficiência por docente, encontram-se agora em discussão interna, de forma a que todos possam participar no futuro da sua escola. Ou melhor, ser parte integrante da mudança que se espera sustentada e eficaz.

O FUTURO DA FCT EM DISCUSSÃO

“Antecipar o futuro – gerir a mudança” foi o tema do encontro

Os Órgãos Directivos da FCT reunidos no Convento dos Capuchos

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A representante da Conservatória do Registo Civil procede à leitura da acta de constituição da Associação de Antigos Alunos da FCT, na presença do Director da FCT e dos membros da Comissão Instaladora

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EXPO FCT 2007FACULDADE ABRE AS SUAS PORTAS À CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Foi a 13 de Abril, durante todo o dia e grande parte da noite, que a FCT esteve de portas abertas para, de forma inovadora e apelativa, mostrar o que de melhor se faz nesta Faculdade. A iniciativa envolveu todos os sectores da Faculdade nas várias ver-tentes científicas e tecnológicas, com o objectivo de divulgar a sua investiga-ção e mostrar exemplos de inovação tecnológica. A animação começou logo pela manhã com a chegada de de-zenas de camionetas, provenientes de vários pontos do País. O sol e o calor

que se fez sentir, como se de um ver-dadeiro dia de Verão se tratasse, aju-dou à festa. À chegada, além de simbóli-cas prendas, os alunos receberam um passaporte que, mais para o final do dia, lhes iria dar a possibilidade de ga-nhar valiosos prémios, nomeadamen-te computadores portáteis e bolsas de estudo. Para tal, tiveram de realizar o maior numero possível de activida-des e amealhar carimbos. E foram muitas e apelativas as actividades que os jovens puderam experimen-

tar e realizar, sempre de uma forma lúdica, mesmo quando o tema era a Matemática ou a Física. E porque viver num Campus universitário é também sinónimo de tempos livres e descontração, não fal-tou a componente de lazer. Houve mui-ta música, concertos variados, dança, tunas e desportos radicais. No final, o sentimento geral era de grande grande satisfação, na certeza de que a iniciativa foi um gran-de sucesso. Só o vento não esteve de feição e o prometido passeio de balão não se realizou.

Quase três mil alunos, professores e familiares, vindos de todo o país, encheram o Campus de Caparica

para viverem um dia diferente.

Foram muitas e apelativas as actividades que os jovens puderam experimentar. E também não faltou

a animação, com dança, música e muito mais...10

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Professor e investigador em engenharia sistémica, Hermínio Duarte-Ramos estabeleceu teorias em várias áre-as do conhecimento que ensinou e implementou diversas práticas societais, sobretudo em segurança contra incên-dios, automação de sistemas industriais, controlo cognitivo, interface humano-máquina e complexidade sistémica. As suas ideias e teorias podem ser conferidas no livro “Eu o Outro e os Outros”, apresentado por ocasião da sua lição de jubilação e distribuído por todos os que assisti-ram à cerimónia. Trata-se de uma vasta obra, que ascende às 350 páginas, onde o professor Hermínio Duarte-Ramos descre-ve e documenta a sua saga ao longo de 50 anos dedicados à educação e tecnologia, ciência e arte, comunicação social e filosofia da cognição.

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INAUGURAÇÃO OFICIAL DA NOVA BIBLIOTECA DA FCT/UNL A funcionar desde Setembro de 2006 a Biblioteca do Campus de Caparica foi oficialmente inaugurada dia 28 de Maio, numa cerimónia que contou com a presença do Reitor da UNL e da Presidente da Câmara Municipal de Almada. Da autoria dos arquitectos José Fernando Gonçal-ves e Paulo Providência, o edifício destaca-se pela sua qua-lidade arquitectónica e funcionalidade. Trata-se de um projecto moderno e inovador, de traço simples e depurado, que reúne o espólio de nove pe-quenas bibliotecas que, até agora, se encontravam espalha-das pelo Campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Com uma área bruta de 6 500 m2, a nova Biblioteca da FCT/UNL tem 5 pisos, mais de 4 km de estantes, 6 salas de leitura, 522 lugares, 40 gabinetes de trabalho individu-al, 8 para trabalho em grupo, 50 computadores disponíveis, sala de exposições, auditório, bar, entre muitas outras fun-cionalidades. A importância desta infra-estrutura, não só para a FCT, mas também para a própria Universidade Nova e para

toda a comunidade envolvente, foi salientada por todos os in-tervenientes nesta cerimónia. A abertura da Biblioteca à comunidade é mesmo considerada “uma das prioridades” pelo seu Director. De acordo com o Prof. José Moura, a comunidade exterior à Faculdade pode usufruir “de todas as facilidades oferecidas: consulta em livre acesso, utilização de periféricos (impresso-ras e fotocopiadoras), computadores e pesquisa informática de bases de dados”. Este novo equipamento está também aberto a todos aqueles que simplesmente queiram vir tomar um café e ler o jornal diário no famoso “preguiçómetro”, uma espécie de sala de convívio que fica paredes meias com o bar da Biblioteca. Esta aposta forte na relação com o exterior traduz-se também numa intensa e permanente colaboração com a Câ-mara de Almada, tal como se verifica uma importante inte-racção cultural entre a Biblioteca da FCT e, por exemplo, a Casa da Cerca, o Museu da Cidade ou o Teatro de Almada. Por ocasião da cerimónia de inauguração da nova Biblioteca da FCT/UNL, foi assinado um protocolo entre a YDreams e a Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, que prevê a instalação desta empresa tecnológica, nascida na FCT, no futuro Madan Parque de Ciência.A ÚLTIMA LIÇÃO DO

PROFESSOR HERMÍNIO DUARTE-RAMOS

“Pensamento e Acção do Humano Sistémico” foi o tema escolhido pelo Professor Doutor Hermínio Duarte-Ramos para a sua lição de jubilação, proferida no passado dia 18 de Junho no Grande Auditório da FCT, no Campus de Caparica. Nesta última lição, o professor catedrático da FCT/UNL enunciou as ideias fundamentais que desenvolveu na vida universitária, em Portugal, Angola e Alemanha. Perante uma vasta plateia, abordou, nomeadamen-te, as linhas gerais da actividade de engenheiro electrotéc-nico, em projectos e obras de energia e controlo em vários aeroportos internacionais, indústrias de metalomecânica e electrónica ou comunicações e domótica.

A Cerimónia de Inauguração da nova Biblioteca da FCT/UNL à qual se associaram a Presidente da Câmara de Almada e o Reitor da Universidade Nova de Lisboa

O Prof. Duarte-Ramos na sua última lição

A homenagem da Tuna da FCT

O Prof. Duarte-Ramos recebe uma lembrança do Reitor da UNL

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houve evidentemente pessoas da Universidade que puderam dar desde logo uma ajuda importante.Criou-se, assim, uma estrutura na UNL que resultou da contribuição da sociedade civil, uma contribuição muito sé-ria da Ordem dos Engenheiros e uma contribuição muito grande da OMS. O primeiro curso correu muitíssimo bem e, entretanto, a OMS convidou-me para ir aplicar o mesmo modelo no Cen-tro de Referência das Nações Unidas em Engenharia do Am-biente que estava a ser montado em Rabat. E eu fui durante três anos destacado para as Nações Unidas para concretizar essa tarefa. Durante esse período o curso ficou a cargo do meu amigo e professor Soares Barreto. Quando voltei, retomei as minhas funções sem probelma algum. Insisti para que ele ficasse, mas ele já estava na altura doente e não pude contar com a colaboração dele como eu desejava.

O Professor proferiu, recentemente, a sua última Lição, portanto tem uma carreira enorme para trás sempre li-gada a esta Faculdade. Que balanço faz da sua relação com a FCT? Nunca teve vontade de se ir embora, de fazer outras coisas...?Dei sempre mais importância à Faculdade do que a mim pró-prio, ou seja, fui dizendo que não aos sucessivos convites que tive para ir para fora. Neste momento, os meus sentimentos são contraditórios: de contentamento por ter terminado a minha carreira; mas também de alguma angústia por aquilo que deixei... O que deixei não me satisfaz.

Mas, apesar disso, o balanço que faz é positivo…Depende da perspectiva que quisermos adoptar. É evidente que, do ponto de vista de realizações, criei o curso de Enge-nharia do Ambiente, criei dois mestrados, orientei 22 douto-ramentos e dezenas de mestrados...portanto, é evidente que desse aspecto não se pode dizer que seja uma obra pequena. Agora, que podia ser muito melhor...

E a quem atribui a culpa por não ter sido melhor?Olhe, certamente que eu também tenho culpa, porque em certas alturas eu cedi ou em determinadas alturas não tive a consciência necessária para chamar a atenção para os ris-cos do corporativismo…

Escolheu para tema da sua Lição de Jubilação “Reflexões sobre o uso eficiente da água”. Porquê?Porque é um dos problemas críticos do país e do mundo. Com as alterações climáticas, a nossa dependência da água aumentou de forma muitíssimo grande, estamos numa situa-ção crítica que tenderá a agravar-se cada vez mais, quer em termos de dimunição dos recursos hídricos, quer em termos do aumento da desertificação. A nossa situação é muitíssimo grave e não vale a pena termos ilusões.

Portanto foi, de certa forma, uma chamada de atenção ou um grito de alerta, que quis deixar nesta sua última Lição..Exactamente.

O facto de todo o seu percurso profissional estar ligado às questões do ambiente significa que o Professor é particu-larmente sensível a esta área ...Bom, às questões do ambiente e, em especial, às da água. Eu sempre fui uma pessoa responsável pelos problemas li-gados à água, metido em todos os processos que levaram ao desenvolvimento da legislação da água.

Este acto formal da Jubilação que implicações teve a nível profissional e pessoal? Como é que o sentiu? Como um fim ou como uma passagem para uma nova etapa?Como um fim não, um fim só quando as pessoas morrerem...A nossa legislação permite que os professores jubilados con-tinuem a dar a sua colaboração nos cursos. Neste momento, tenho a meu cargo dois cursos de pós-graduação. A minha perspectiva, a menos que haja uma alteração da legislação ou que a casa não me queira, é continuar por cá a tomar conta desta parte.

Portanto, não sentiu nenhum efeito em especial...Não, não. A única vantagem que senti foi o ver-me livre de muita da parte burocrática que tinha atrás de mim.

Isso significa que deixa de ser o responsável por este sector...Exactamente. Fico apenas responsável pela parte científica e pedagógica dos dois cursos de pós-graduação de que lhe falei.

E significa também que vai ficar com mais tempo livre para fazer outras coisas. Já tem projectos?Hoje mesmo vieram buscar o manuscrito de mais um li-vro sobre resíduos, que já está pronto. Tirando isso estou a orientar quatro doutoramentos e tenho, obviamente, agora, tempo para pensar e para escrever muita coisa… As pesso-as, por vezes, não têm bem consciência do que significa ser professor universitário em termos de exigência e de dispo-nibilidade.

Encara então esta fase com algum entusiasmo...Eu não diria com entusiasmo, mas com a consciência de que é uma evolução normal. É evidente que eu tenho de pensar que tenho de me retirar, que ninguém é indispensável. O que esta nova situação permite é fazer uma transição suave entre a fase de trabalho intenso – a que eu tinha – e uma fase de trabalho mais calma. Já estou apenas a dar as aulas de mes-trado, o que significa que dou duas a três aulas por semana. O que não é nada de especial, mas que me mantém ocupado e a par daquilo que se passa.

Imagino que, ao fim de tantos anos a dar aulas, já esteja um pouco cansado...Não, não, de maneira nenhuma. Eu gosto muito de dar aulas. É das coisas que mais me agrada fazer!

Nesse tempo, havia uma agitação grande na sociedade portu-guesa. Estamos a falar dos anos 70, da pré-revolução. Quem trabalhava, na altura, em empresas de saneamento básico tinha presente a necessidade da existência de um curso de engenharia sanitária em Portugal. Fizeram-se reuniões com o objectivo de definir o perfil que deveria ter um curso desses. E, ao fim de dois anos de trabalho, tínhamos uma proposta concreta. Mas onde realizar esse curso? O Técnico estava em completa desorganização e, portanto, não oferecia garantias para montar lá qualquer estrutura estável. Eu era professor em Agronomia, falei com o Prof. Fraústo, colocámos a hipó-tese da minha vinda para a Nova para lançar esse curso... e assim foi. Um curso que tem a particularidade de ser o único – de que eu tenha conhecimento – que foi proposto fora da Universidade e que foi aceite. A Universidade deu-lhe corpo e traduziu-o numa realidade. Repare que a situação, na altura, era muito complexa do ponto de vista social: Portugal tinha uma taxa de cobertura das necessidades de saneamento básico incrivelmente baixa. Apenas 4% da população dispu-nha de recolha de esgotos, cerca de 20% de fornecimento de água e 25% de recolha de lixo.

Ou seja: o curso, no fundo, resultou do facto de ter sido de-tectada uma necessidade concreta na sociedade. Era im-prescindível formar pessoas nessa área?Não havia pessoas formadas, havia algumas pessoas que ti-nham feito formação nesta área por sua conta e risco, tinham ido tirar cursos lá fora. A maior parte dos especialistas não eram especialistas...A grande coragem que teve o Prof. Fraústo foi o ter-me dado luz verde no sentido de conseguirmos uma coisa que foi o se-guinte: as ajudas das pessoas do exterior, das empresas que vieram até à Universidade para dar algum apoio nessa par-te digamos, da aplicação, da prática. Quanto à parte básica,

DAR AULAS NÃO O CANSA

Como começou a relação do Professor com a FCT?A minha relação com a UNL começou em 1973 quando o Prof. Fraústo da Silva – que era o Reitor – me lançou o desa-fio de criarmos um curso na área do ambiente. Nessa altura, não existia nenhum. A ideia era a de começarmos com En-genharia Sanitária. Tínhamos já ligações muito sérias com a OMS (Organização Mundial da Saúde) que se vieram a tradu-zir em ajudas várias para o arranque do nosso curso.

PROFESSOR JUBILADO JOSÉ FILIPE SANTOS OLIVEIRA

Em trinta anos quase tudo mudou, incluin-do a Faculdade que ajudou a criar. E mesmo que, nos dias de hoje, olhe para a Faculdade com algum desencanto, a sua vida confun-de-se com ela. O Professor José Filipe Santos Oliveira fez todo o seu percurso profissional ligado à FCT/UNL e, apesar dos muitos convites que recebeu, nunca se foi embora. Aqui criou um curso à época inovador, o de Engenha-ria Sanitária, que depois evoluiu para En-genharia do Ambiente. “Reflexões sobre o uso eficiente da água” foi o tema que esco-lheu para a sua Lição de Jubilação. Não só porque sempre esteve ligado às questões do ambiente, e muito em particular às da água, mas também porque quis aproveitar a sua última lição para deixar um grito de alerta.

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fct biblioteca

As fontes de informação em suporte electrónico es-tão cada vez mais presentes nas bibliotecas. Conscientes de que o domínio de técnicas de pesquisa e de competências implícitas à utilização destes recursos de informação não são inatas, há já alguns anos as bibliotecas, em todo o mun-do, têm vindo a assumir um papel mais activo junto dos seus utilizadores criando programas de Formação de Utilizadores, cujo objectivo é transmitir estratégias de pesquisa e de opti-mização dos resultados na recuperação de informação, bem como divulgar os serviços ao seu alcance. Percebendo a importância e a necessidade de pro-gramas de formação deste âmbito, para todos os que são uti-lizadores da Biblioteca do Campus de Caparica, a Biblioteca organizou, entre Março e Junho e a título experimental, um conjunto de nove sessões temáticas. A partir de Setembro de 2007 o programa de formação de utilizadores passará a funcionar de forma sistemática em todos os semestres. Para dar resposta aos diferentes níveis de necessi-dade dos utilizadores o programa de formação encontra-se organizado em três níveis. A formação base destina-se a todos os alunos do 1.º ano e decorrerá no início de cada ano lectivo. O ano lec-tivo de 2007/2008 será o ano de arranque deste nível de for-mação. Estas acções procurarão dar a conhecer a Biblioteca aos novos alunos, informá-los sobre os recursos de infor-mação que terão ao seu dispor durante a sua permanência na FCT, familiarizá-los com os serviços existentes e chamar a atenção para normas de conduta adequadas ao espaço da Biblioteca.

A formação avançada destina-se aos alunos do 2.º e 3.º anos e aos alunos de pós-graduação, docentes e in-vestigadores. Na formação de nível avançado procurar-se-á dotar os formandos com conhecimentos que lhes permitam pesquisar e utilizar com sucesso as fontes de informação electrónica existentes na FCT. As várias acções de formação planeadas para este nível terão uma calendarização feita com antecedência, para cada um dos semestres e a duração média de duas horas. Os utilizadores poderão consultar o calendário de formação e inscrever-se nas acções em que estiverem interessados, através da página da Biblioteca em:

http://biblioteca.fct.unl.pt/CDB/index.php?option=com_content&task=view&id=136&Itemid=197&lang=pt

O calendário da formação para o primeiro semestre, do ano lectivo de 2007/2008, estará disponível a partir de Outubro. As inscrições são gratuitas e não há limite de inscrições por utilizador. O número máximo de formados por acção de for-mação é de doze pessoas. O terceiro nível de formação será organizado em função de pedidos feitos por docentes ou pelos departamen-tos, que poderão surgir em qualquer altura do ano, sempre que se justifique. Os destinatários potenciais deste tipo de formação serão grupos ou turmas de alunos, investigadores ou docentes com interesses específicos de pesquisa numa determinada área científica. Através do Serviço de Referência, qualquer utiliza-dor poderá solicitar apoio personalizado na pesquisa e loca-lização de informação e documentação, sempre que neces-sitar.

Ana Alves Pereira coordenadora da Biblioteca

Rosário Duartecoordenadora da Formação

CONVERSAS NA BIBLIOTECA O objectivo das conversas na Biblioteca é trazer à FCT personalidades das mais diversas áreas para falar de temas actuais e de indiscutível interesse. E a verdade é que a iniciativa está a cativar cada vez mais participantes. Na última conversa realizada, o orador foi o jorna-lista António Peres Metelo que nos trouxe um tema desafian-te e provocatório: “Porque é tão difícil sair desta crise?” Antes, foi a vez do enólogo Virgílio Loureiro nos surpreender com o tema “De Platão ao Mateus Rosé”. Uma interessante conversa que terminou com ... uma prova de vinhos. As conversas na Biblioteca, realizadas periodica-mente, já trouxeram à FCT, por exemplo, Odete Santos para falar de paridade, Isabel do Carmo que abordou as doenças do comportamento alimentar e o chefe Luís Baena que fa-lou de gastronomia molecular.

FORMAÇÃO DE UTILIZADORES OU COMO PROCURAR UMA AGULHA NO PALHEIRO

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CIÊNCIA EM FORMA DE ARTE Proteins we love foi uma exposição na forma de arte molecular, que esteve patente na Biblioteca da FCT/UNL en-tre 4 de Abril e 2 de Maio. Da autoria dos Professores José Moura, Pedro Ta-vares e Ludwig Krippal, esta exposição mostrou-nos que também pode haver uma relação íntima entre ciência e arte, entre cientistas e proteínas. E essa relação resultou num conjunto de painéis que, nas palavras dos autores, pretendeu “revelar a beleza fundamental da estrutura 3D de proteínas de que gostamos”. De que eles gostam e que tão bem conhecem: são proteínas da classe das metaloproteínas, às quais, os três cientistas têm dedicado parte dos seus estudos. Um exposição original, onde a imaginação do cien-tista se une à do artista para nos oferecer ciência em forma de arte.

PROTEINS WE LOVE:

O director da biblioteca apresenta o enólogo Virgílio Loureiro

Exposição “Proteins we love” Em primeiro plano, painel com a estrutura tridimensional da Desulforedoxin: a metaloproteína mais simples contendo um átomo de ferro coordenado por 4 cisteínas

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ENTREVISTA A JOÃO RIBEIRO

POUCAS, MAS “GRANDES”João Ribeiro, 53 anos, nunca pensou (em) vir a ser pintor. Começou pela arquitectura, mas abandonou os estudos e foi trabalhar para o “Diário Popular” onde esteve 11 anos e onde fez de tudo, desde contabilista a maquetista. Foi então que resolveu voltar a estudar. Desta vez pintura, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. E, quando terminou a licenciatura tinha 39 anos. Mas já pintava há muito tempo e já participava em exposições. Em 1985, alcançou maior notoriedade quando participou na II Bienal de Chaves e ganhou o prémio “Espírito Santo Esteves”. Desde essa altura, tem desenvolvido, de forma regular, um trabalho com uma “personalidade” muito própria, que se tem materializado em numerosas exposições colectivas e individuais.“Deuses de Jardim” foi a sua mais recente exposição. Esteve na sala de exposições da Biblioteca da FCT.

Desde que começou a pintar já passou por diversas fases, pelo menos assim o dizem os entendidos, nomeadamente figurinista e abstracta. Como define esse percurso ? Em que fase se encontra actualmente?Enquanto estudante de pintura, no princípio dos anos 80, quase todos faziamos figuração, chamava-se figuração narrativa, havia um retorno de quase todos os jovens artistas ao gesto, ao atelier, isto, depois de nos anos 70, ter havido um grande período de abstração. Havia o caso de um crítico ser, ao mesmo tempo, ensaísta, historiador e artista, porque teorizava... esse conceptualismo acabou por se esgotar. Então, no princípio dos anos 80 aconteceu uma coisa muito importante, isto também enquadrado no pós-modernismo, do olhar para aquilo que tinham sido as vanguardas do início do Séc. XX, os artistas retomaram o gosto pelo gesto, voltaram ao atelier... o artista passou de novo a ser pensante e fazedor. Porque o fazer é uma coisa muito importante. Nos anos 80, isso tornou-se mesmo muito importante... e eu, enfim, estava dentro desse ritmo. No final dos anos 80, tive uma curta experiência abstracta. Foi uma coisa que aconteceu durante mais ou menos três anos. Era como se eu não tivesse mais histórias para contar que se enquadrassem dentro daquela figuração narrativa e parti para uma aventura de pintura abstracta que terminou em 91 e voltei de novo à figuração. E é por aí que me mantenho hoje em dia.

Como definiria a sua pintura? A minha pintura é uma pintura que se pode chamar de figuração narrativa e que vai tendo vários picos. Há várias características na minha pintura: uma é a questão de ser uma pintura texturada, outra é os fundos muito ambíguos, tridimensionais. De-pois, há também algum humor que eu vou tentando pôr nas séries que vou fazendo.

Parece que as suas pinturas nos remetem sempre, ou quase sempre, para um mundo de fantasia, seres fantásticos, universos míticos e oníricos. Isto é verdade, porquê?Parte é verdade. Repare, quando eu falo de figuração narrativa é como se eu esti-vesse o tempo todo a criar bocas de cena, o que eu proponho são histórias. Talvez aqui nos “Deuses de Jardim” tenha sido a primeira vez que eu não o tenha feito, que eu tenha já apresentado uma história porque eu, durante estes anos todos de pintura figurativa fui como que arranjando uma série de signos, indo buscar aqui, tirando dali... fui de certo modo construindo o alfabeto da minha pintura. Possi-velmente, aos olhos de muitas pessoas, essas histórias podem remetê-las para universos oníricos, mas eu sempre tive o cuidado de fazer, como um cientista, e levo isso muito a sério, uma aproximação rigorosa a uma série de outros universos e depois tratá-los, tentando transgredir. Por exemplo, eu tenho uma série sobre imagens religiosas, outra sobre imagens de alquimia.

Falando agora da exposição que trouxe à FCT. Como é que surgiu o tema “Deuses de Jardim” ?Um dia estava apanhar sol no jardim e vi uma formiguinha e lembrei-me daquele filme “Querida encolhi as crianças”, em que um cientista maluco encolhe os filhos e ficam muito mais pequenos que a formiga. A formiga aparece como um mamute aos olhos dos miúdos. E pus-me a pensar qual o tamanho que o jardim teria se a formiga fosse do meu tamanho, fiz uma regra de três simples e deu-me à volta de 193 quilómetros. De repente comecei a perceber que um Jardim, enquanto ecossistema, pode perfeitamente contar a parábola do poder e foi assim mais ou menos que fui construindo a ideia. E, pela primeira vez, sou eu que reduzo o espectro da fruição e assumo uma parábola, uma pequena história... normalmente não o faço.

Então, esta exposição representa, de certa forma, uma viragem...Sim, é um rodar, um virar. Quer em termos técnicos, quer também no sentido em que, a partir de agora, conto eu próprio histórias.

Quanto tempo demorou a preparar esta exposição? Foi pensada especificamente para este espaço?Muito, demorou muito tempo. Resultou de um convite do Prof. José Moura que aceitei com muita honra e orgulho. E logo, quando vim ver o espaço, percebi que tinha de fazer poucas pinturas, mas de grande dimensão.

O que vai acontecer com esta exposição. Há planos para ela?Não, até porque são quadros muito grandes e não é muito fácil...

Quanto a outros projectos...Estou neste momento a preparar três exposições em grupo, não são colectivas são em grupo, no Norte. Duas no próximo ano, uma delas com o escultor Vítor Ribeiro. Tenho uma outra exposição, em Outubro deste ano, na Galeria Municipal de Matosinhos em que vou apresentar objectos que têm a ver com uma fase anterior. Os objectos já estão feitos, são biombos, oratórios...

fct biblioteca

“DEUSES DE JARDIM”: UMA EXPOSIÇÃO DE JOÃO RIBEIRO

Inserida nas comemorações dos 30 anos da Faculdade de Ciên-cias e Tecnologia, o pintor João Ribeiro apresentou, no espaço de exposição da Biblioteca do Cam-pus de Caparica, um conjunto de obras que intitulou de “Deuses de Jardim”.

João Ribeiro, nascido em Lisboa em 1955, é licenciado em Pintura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Foi distinguido com o Prémio de Pin-tura “Espírito Santos Esteves” na II Bienal de Chaves e encontra-se representado nas colecções da Caixa Geral de Depósitos, Ban-co Comercial Português, CTT, Museu de Arte e Pintura Diogo Gonçalves em Portimão, Mu-seu da Cidade de Vila Franca de Xira, Câmara Municipal do Seixal, Consulado-Geral de Portugal no Canadá e noutras colecções na-cionais e estrangeiras. Realizou dezenas de exposições individu-ais e participou em muitas mais colectivas.

Deus Cinco/ técnica mista sobre cartão/ 2007

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Nas duas páginas: os quadros que João Ribeiro pintou para a exposição “Deuses de Jardim”

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A acácia é uma árvore ou arbusto da família das le-guminosas. Existem mais de 1 500 espécies em todo o mun-do. Ao contrário, o negócio da ACACIA Semiconductor, não tem muita concorrência. A analogia vem do facto da acácia ser uma das árvores mais eficientes em termos energéticos, uma vez que necessita de muito pouca água. E essa é uma vantagem competitiva da ACACIA empresa: a aposta numa tecnologia inovadora, a nível mundial, que lhe permite criar circuitos integrados de interface entre sinais analógicos e sinais digitais extremamente eficientes em termos do con-sumo de energia eléctrica. Além do mais, Acacia também se escreve e se lê da mesma forma, quase em todas as línguas, desde o Inglês ao Japonês. Sediada na Faculdade de Ciências e Tecnologia, no Campus de Caparica, a ACACIA Semiconductor, foi fundada no final de 2003 por Bernardo Henriques, actual CEO da em-presa, por dois professores do Departamento de Engenha-ria Electrotécnica da FCT/UNL, João Goes e Nuno Paulino, e ainda por Bruno Vaz, Doutorado pela FCT/INL. A ideia de constituir a empresa surgiu quando Ber-nardo Henriques regressou do estrangeiro e, como o próprio explica, “em conversa com o amigo João Goes, antigo colega do Instituto Superior Técnico, decidiram que era altura de criar algo diferente em resposta às necessidades do merca-do mundial dos circuitos integrados no campo das interfaces entre sinais analógicos e sinais digitais”. Nessa altura, acrescenta, “o João estava a desen-volver técnicas inovadoras de design de circuitos integrados aqui na FCT, no Grupo de Microelectrónica, e então achámos que era uma altura boa para criarmos uma empresa”. Esta

foi sensivelmente a mesma área de Doutoramento de Ber-nardo Henriques: concepção e desenvolvimento de circuitos integrados para interface de sinais analógicos com sinais digitais. A empresa começou a funcionar em 2004, com capi-tal dividido pelos próprios fundadores, e, logo em 2005, a ACACIA dá o grande salto. “Fechámos um contrato com duas sociedades de capitais de risco nacionais - a Change Partners e a ISQ Capital - e tivemos também acesso ao fi-nanciamento do Programa NEST (Novas Empresas de Su-porte Tecnológico)”, afirma Bernardo Henriques.Se numa primeira fase a sua actividade consistiu no desen-volvimento dos primeiros produtos, na aplicação do conceito e na angariação dos primeiros clientes, a empresa está neste momento numa fase de expansão. Segundo o CEO da ACACIA, “decorrem conversações com investidores internacionais para passarmos à segunda velocidade que é, objectivamente, expandir o negócio”. A necessidade de expansão não surpreende se pen-sarmos que os circuitos integrados estão cada vez mais vo-cacionados para aplicações digitais. Há um imenso campo de aplicações, quer em comunicações, sem fios ou com fios, quer em dispositivos de electrónica de consumo que neces-sitam de interfaces para converter os sinais analógicos do mundo real nos sinais digitais de “zeros” e “uns” capazes de serem entendidos e processados pelos microprocessadores.

ACACIA SEMICONDUCTOR

INTERFACES EM CIRCUITOS INTEGRADOS INOVADORAS E DE BAIXO CONSUMO

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Há ainda a área dos sensores que está em grande evolução e na qual a ACACIA tem já produtos em fase avançada de desenvolvimento. Mas afinal qual é o modelo de negócio da ACACIA, uma vez que se trata de uma empresa pequena, com pouco mais de uma dezena de funcionários, e que produz chips em pequenas quantidades? Bernardo Henriques esclarece “ nós estamos especializados nos interfaces e licenciamos os nossos projectos a clientes maiores que vão depois integrar as nossas soluções dentro dos seus chips.” E, acrescenta “o cliente vai utilizar a nossa base de dados, num conjunto pré-definido de produtos, uma vez ou mais e, por-tanto, é uma negociação semelhante a um licenciamento de software porque a propriedade intelectual desta parte é nos-sa, não do cliente”. É o chamado negócio de licenciamento de tecnologia. E o seu cliente-tipo é a empresa que faz chips em grandes quantidades. O cliente não pode fazer o que lhe apetecer do circuito que tem o nosso produto dentro. Assim sendo, uma parte muito importante do negócio da empresa prende-se com a execução de protótipos. Ainda de acordo com Bernardo Henriques “temos de protótipar nós próprios os nossos produtos, mas sempre em pequenas quantida-des”. Neste momento, a empresa tem em fase de teste 22 novos produtos, alguns dois quais com características de de-sempenho que os colocam no topo do respectivo segmento de mercado a nível mundial. A ACACIA é uma empresa 100% exportadora. O maior cliente é japonês, os restantes vão da Coreia aos Estados Unidos, passando pela Europa, onde se destaca a Agência Espacial Europeia para a qual está a desenvolver um circuito integrado para conversão de sinal.De acordo com o CEO da ACACIA, a empresa apresenta es-sencialmente duas vantagens competitivas, “uma é a tecno-logia que temos estado a desenvolver, e que tem a ver com a inovação a nível de design, a outra prende-se com um software proprietário que utilizamos para a concepção das nossas soluções e que nos permite aumentar cerca de 10 vezes a nossa produtividade”.

Bernardo Henriques faz questão ainda de salientar que o que permite distingir os produtos da empresa da con-corrência resulta da ACACIA desenvolver soluções muito eficientes em termos energéticos, porque consomem pouca corrente. Quanto à colaboração com a FCT/UNL, esta faz-se através de projectos com alunos. “Desde que os projectos de fim de curso dos alunos se enquadrem nas nossas ne-cessidades, nós pagamos-lhes uma bolsa”, salienta este responsável. Por outro lado, há também alguma colaboração em projectos de investigação. Ainda recentemente foi desen-volvido, em colaboração com o Departamento de Eng. Elec-trotécnica da FCT, um sensor para aplicações biomédicas, produto que resultou na publicação de um importante paper nesta área. A vantagem da ligação à Faculdade, nomeadamente através dos seus administradores que são também profes-sores, é que estes facilmente podem detectar nas suas tur-mas talentos e atraí-los para a empresa. Até porque esta é uma área difícil que exige muita formação e conhecimentos de diversas áreas. E é também uma área em expansão, onde a procura é maior do que a oferta, e onde existe uma grande falta, a nível mundial, de engenheiros analógicos.

Bernardo Henriques, CEO da ACACIA

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Maria Paula DiogoProf. Associada do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da FCT/UNL

Em 1956 a American Society for Engineering Edu-cation estabeleceu que todos os cursos de engenharia nos Estados Unidos deviam ter 1/5 de disciplinas não técnicas, integrando explicitamente matérias das áreas da economia, da sociologia, da história e da filosofia. Actualmente assiste-se, nos Estados Unidos, na Europa e no Japão1, a um esforço conjunto de diversos organismos governamentais e profis-sionais para reforçar nos curricula dos cursos de engenha-rias as disciplinas de ciências sociais (as denominadas STS - Science, Technology and Society), como forma fundamen-tal de ensinar os engenheiros “a comportarem-se como se o não fossem”2, desenvolvendo os denominados “people-oriented curricula”.3

O que obviamente está por detrás desta fórmula algo provocadora é a consciência de que, cada vez mais, o ensino da engenharia e das ciências tem de ser pensado em termos da construção de uma nova geração de engenheiros socialmente responsáveis. Em termos absolutos a questão não é nova, mas a sua integração de forma pensada e sis-temática no ensino revela-se inovadora e demonstra como é importante não desistirmos de pensar a profissão de en-genheiro de forma contínua e crítica. No fundo trata-se de desenvolvermos nos nossos alunos/futuros engenheiros competências para serem capazes de trabalhar com pes-soas de áreas não técnicas e de pensarem na sua própria profissão como algo que interage necessariamente com toda a sociedade.4 Neste contexto, movimentos como Engineers without Borders, Engineers for a Sustainable World, Green Engineering, etc., têm vindo a tornar-se cada vez mais in-fluentes na indicação dos parâmetros que regem as escolhas empresariais.

Tornar efectiva esta componente ética da engenha-ria implica “desenhar” nos nossos alunos uma identidade histórica enquanto tecnólogos, que lhes permita pensar a engenharia em termos multiculturais, quer no tempo, quer no espaço. O ensino nas disciplinas científicas e técnicas é “a-histórico”: pretende-se transmitir aos alunos o conheci-mento mais actualizado nas diversas áreas e torná-los pro-ficientes no uso desses mesmos conteúdos cognitivos. Esta abordagem, embora necessária, promove frequentemente uma imagem idealizada da ciência e da tecnologia como co-nhecimento que “flui” no exterior da sociedade, e dos seus

praticantes como grandes homens, heróis de uma saga he-róica a um pequeno passo de uma visão autista da produção da ciência e da tecnologia está, assim, dado.

O que pretendemos com as disciplinas a cargo da Secção de História e Filosofia da Ciência e da Tecnologia do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas não é, como tantas vezes ouvimos dizer, “polir” os futuros engenheiros ou cientistas, para que, em situações públicas, não cometam gaffes embaraçosas, ou ensinar-lhes gramática, ortografia ou como expor um trabalho. Obviamente que é muito desa-gradável para a nossa faculdade ver ex-alunos seus exprimi-rem-se de forma incorrecta ou referirem-se ao Iluminismo como um período em que se “inventa a luz eléctrica” ou de Galileu como “um dos grandes cientistas da Grécia Clássi-ca”. Mas este tipo de competências deve ser disponibilizado através de cursos extracurriculares ou livres, que podem ser frequentados pelos alunos que os considerem necessários para a sua formação. Às disciplinas da nossa área cabe uma responsa-bilidade de natureza completamente diferente, muito mais estruturante, porque definidora do perfil do licenciado/mes-tre dos nossos cursos. O que nos move enquanto docentes na faculdade é, pois, muito mais do que evitar embaraços: é contribuirmos para dotar os nossos alunos com uma ética de responsabilidade social que lhes permita estar de forma consciente e interventiva na sociedade contemporânea, uma sociedade global e de risco. São estes os novos desafios que se põem aos engenheiros e cientistas, individual e colectiva-mente, longe de um tempo em que ser um bom técnico era suficiente.

Como conseguir este objectivo? As experiências americana e de alguns países europeus indicam que os programas organizados em termos da denominada “micro-ética”, ou seja construídos em torno de uma abordagem in-ternalista, têm falhado nos seus objectivos, o que contrasta com o êxito de programas baseados numa perspectiva multi-temporal, em que os alunos se apercebem da variedade das relações entre ciência/tecnologia/sociedade.5 Parece-nos,

assim, que duas grandes linhas devem presidir ao nosso tra-balho: primeiro, construir uma cultura tecnocientífica sólida, baseada numa abordagem histórica e crítica que permita compreender e reflectir sobre as diversas geometrias de intervenção da ciência e da técnica na sociedade europeia; segundo, compreender a natureza humana, construída, do conhecimento científico e tecnológico, ou seja incorporar as noções de sucesso, de fracasso, de temporabilidade e de ris-co, permitindo a construção de uma consciência ética que se incorpore plenamente na dimensão profissional dos nossos futuros engenheiros.

Os programas das disciplinas de História da Ciên-cia, História da Tecnologia, Aspectos do Pensamento Con-temporâneo, Bioética e Filosofia da Ciência e da Tecnologia e, brevemente, Ética e Responsabilidade Social dos Enge-nheiros, estruturam-se, precisamente, de acordo com os princípios acima indicados e pretendem contribuir para que a nossa faculdade forme engenheiros e cientistas de nível internacional, quer em termos estritamente técnicos (tarefa que, naturalmente, deixamos nas mãos dos nossos colegas especializados em áreas tecno-científicas e científicas), quer em termos de prática de uma cultura de responsabilidade profissional. Ao contrário, pensamos que a introdução de disciplinas de forma casuística e amadorística, muitas vezes ao sabor de modas momentâneas ou de interesses pessoais, com programas de nível mais próximo do ensino básico ou secundário que do ensino superior, em nada contribui para a excelência do ensino que a Faculdade de Ciências e Tecnolo-gia deseja promover.

Também em termos de avaliação temos procura-do traduzir as nossas opções formativas: os testes/exames surgem como elementos de avaliação da aprendizagem de conteúdos, enquanto a participação nas aulas e os trabalhos (ensaios críticos, recensões críticas, breves monografias te-máticas) incentivam ao uso prático desses mesmos concei-tos, aplicados a novas situações, estimulando as capacida-des de análise e expositivas dos alunos.

1/5 OU O NÚMERO MÁGICO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

É nossa convicção que a Secção de História e Filo-sofia da Ciência e da Tecnologia, com uma prática pedagó-gica de mais de um quarto de século a cargo de um corpo de doutorados especializados na área (embora com forma-ções de base diferentes), e nela reconhecidos nacional e in-ternacionalmente, com uma larga experiência de ensino de disciplinas da área das ciências sociais e das humanidades a alunos de formação científica tem e deve continuar a ter um papel determinante na construção do perfil do engenhei-ro/FCT. Neste contexto reiteramos a posição de diálogo que sempre assumimos com os diversos departamentos, no sen-tido de encontrarmos, dentro dos parâmetros de qualidade que defendemos, as melhores soluções para cada caso.

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1 Para uma lista mais longa ver Downey, G., “Engineering as Problem Definition and Solution: An STS Reality Project in Engineering Education, Proceedings of the 1st INES Conference: Locating Engineers:Education, Knowledge, Desire, Virgínia Tech, Setembro 2006 2 “On Teaching Engineers to not Be Like Engineers”. Este “lema” tem sido aplicado como estrutura de base do curso de STS no Virginia Tech, sob a orientação do Professor Gary Downey, que tem já cerca de uma década de leccionação. Veja-se igualmente as normas das organizações americanas Accreditation Board for Engineering and Technology http://www.abet.org/ (ABET, 2000) e da National Academy of Engineering (NAE, 2004) 3 Veja-se, por exemplo, as experiências curriculares na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. 4 Nos critérios indicados pela ABET, indica-se explicitamente que os engenheiros devem desenvolver competências no sentido de “understanding of professional and ethical responsability”, “having a broad education necessary to understand thje impact of engineering solutions in a global and societal context” and “having a knowledge of contemporary issues” (ABET Criteria, 2000, criteriom 3, f.g.h.). .). Ver também Graeme Gooday, “U-rated not X-rated: reassessing how science students could benefit from learning history of science,” http://www.prs.heacademy.ac.uk/

5 Herkert, J. R, “Ways of Thinking about and Teaching Ethical Problem Solving: Microethics and Macroethics in Engineering”, Science and Engineering Ethics, 11 (2005), 373-385.

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RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR A Rede Nacional de Ressonância Magné-tica Nuclear (RNRMN) foi constituída tendo como base a reunião de várias candidaturas aprova-das para financiamento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia no concurso público rela-tivo ao programa nacional para o reequipamento científico de 2002. À RNRMN foi atribuído um fi-nanciamento, por parte da FCT, de 6,5 M€, tendo como pólos a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de Tecnologia Química e Biológica da UNL, o Ins-tituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, a Faculdade de Ci-ências da Universidade do Porto, a Universidade do Minho e a Universidade da Madeira. Estas ins-tituições reúnem treze espectrómetros dos mais variados campos e equipados com uma varieda-de de sondas específicas para aplicações em lí-quidos, sólidos, microimagem, etc. No departamento de Química da FCT/UNL foram instalados dois espectrómetros, um de 600 MHz equipado com uma sonda fria e outro de 400MHz, correspondente a um financiamento de cerca de 1,25 M€. Também na FCT, no âmbito da RNRMN, foi actualizado o espectrómetro de 300 MHz de sólidos, instalado no CENIMAT – Depar-tamento de Ciências dos Materiais.

No departamento de química da FCT/UNL existem actualmente três espectrómetros de ressonância magnética nuclear, ou RMN, dois de campo baixo, operando a uma fre-quência de 400 MHz e um de campo alto, de 600 MHz, equi-pado com uma crio-sonda. O primeiro aparelho de 400 MHz, ARX400, foi instalado no DQ em 1994 e, no final de 2006, che-garam os novos AVANCE400 e AVANCE600 que estão opera-cionais desde o início de 2007. Estes novos espectrómetros foram adquiridos através do programa de reequipamento científico da FCT e estão integrados na Rede Nacional de Ressonância Magnética Nuclear (ver caixa). Os laboratórios de RMN do DQ, além de apoiarem as aulas em diversas dis-ciplinas, prestam serviço, não só aos investigadores deste Departamento e da FCT, mas também à comunidade cientí-fica exterior à FCT, assim como a empresas.

Mas qual a importância destes equipamentos e da técnica de RMN para a comunidade científica em geral? A RMN é a técnica que tira partido das propriedades magnéticas dos núcleos medindo a sua absorção nas radio-frequências. Trata-se de um fenómeno físico que pode ser explicado através da mecânica quântica das propriedades magnéticas dos núcleos. A primeira condição fundamental para que esta técnica possa ser aplicada é a de que o núcleo possua um momento magnético intrínseco e um momento angular. Nem todos os núcleos satisfazem esta condição, só aqueles que possuem um número ímpar de protões ou neu-trões. Entre os mais estudados estão os núcleos de hidrogé-nio-1 e carbono-13. Estes núcleos estão presentes em toda a matéria orgânica. A RMN foi descrita pela primeira vez em 1938 por Isidor Rabi e em 1952, Felix Bloch e Edward Mills Purcell,

foram laureados com o prémio Nobel da Física pela sua con-tribuição para “o desenvolvimento de novos métodos de me-dições magnéticas nucleares precisas e descobertas rela-cionadas”. Estes investigadores descobriram que os núcleos magnéticos, como 1H ou 31P, absorviam energia, no compri-mento de onda das radiofrequências, quando colocados num campo magnético de uma determinada força, específica para cada núcleo. Quando se dá esta absorção de energia diz-se que o núcleo está em ressonância. O interesse da técnica como ferramenta analítica advém do facto de o mesmo tipo de núcleos, de átomos di-ferentes numa molécula, ressoarem a frequências diferen-tes para um dado valor de força de campo magnético. Estas frequências de ressonância podem ser relacionadas com o ambiente químico em que os núcleos se situam e, como tal, são uma riquíssima fonte de informação estrutural acerca da molécula. Trata-se de uma das mais importantes técnicas para a obtenção de informação física, química, electrónica e estrutural das moléculas, de um modo não destrutivo, po-dendo fornecer informação acerca da estrutura tridimensio-nal e da dinâmica das moléculas no estado líquido ou sóli-do. Quando explorada ao máximo esta técnica permite-nos construir o mapa tridimensional da posição relativa de todos os átomos de uma proteína ou de um produto natural. O desenvolvimento da técnica de RMN, como técni-ca analítica em química e bioquímica, tem acompanhando o desenvolvimento da tecnologia electromagnética. Por exem-plo, o aumento da força do campo magnético, utilizado para possibilitar o fenómeno de ressonância magnética, tem sido crucial para o desenvolvimento da técnica, uma vez que tanto a resolução como a intensidade, ou seja a sensibilidade, dos sinais de RMN aumentam com o aumento da força do campo magnético. Por este motivo a corrida aos campos magnéti-cos mais altos não pára. Neste momento o campo magnético mais alto disponível no mercado é o de 22,31 T correspon-dente a uma frequência de 950 MHz em 1H. Outra possibilidade para aumentar a sensibilidade, ou seja, a razão sinal ruído (S/N) é através da redução da temperatura das bobinas emissoras de radiofrequência e dos respectivos pré-amplificadores. Para isso foram desen-volvidas sondas criogénicas em que as bobinas da sonda de RMN são arrefecidas com hélio gasoso criogénico. Trata-se de uma tecnologia sofisticada que permite um aumento de sensibilidade de cerca de três a quatro vezes na razão S/N e que se traduz em reduções de cerca de nove vezes no tempo das análises. Esta tecnologia permitiu expandir grandemen-te os intervalos de concentração das amostras em estudo, aumentando deste modo a eficiência dos espectrómetros. Até ao início de 2007 o campo mais alto existente em Portugal era de 500 MHz, sendo este um dos principais limites ao desenvolvimento da técnica em Portugal. A ins-talação no DQ de um campo magnético de 600 MHz, equi-pado com uma sonda criogénica constitui, deste modo, um importante marco na história desta técnica no Campus de Caparica e no país.

Eurico CabritaProf. Auxiliar do Departamento de Química da FCT/UNL

REDE NACIONAL DE

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA DA FCT TEM O MAIS SENSÍVEL ESPECTÓMETRO DE RMN DE PORTUGAL

A instalação no Departamento de Química de um campo magnético de 600 MHz, equipado com uma sonda criogénica, constitui um importante marco na história da Ressonância Magnética Nuclear no Campus da Caparica e no País. É que, até ao início de 2007, o campo mais alto existente em Portugal era de 500 MHz.

O Prof. Eurico Cabrita explica ao Director da FCT a importância deste novo equipamento para a Faculdade

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º3 | EntreTanto | Setembro 2007

O tremendo impacto que o desenvolvimento tecno-lógico presentemente exerce na dinâmica das civilizações modernas e no equilíbrio dos ecossistemas, tem progres-sivamente forçado a vigilância analítica de variadissimos sectores de actividade antropológica. São disso exemplo a monitorização de efluentes e o controlo de qualidade em produção industrial. Esta situação colocou as Ciências Ana-líticas no cerne de uma actividade interdisciplinar que tem por fim o desenvolvimento de metodologias analíticas inova-doras aptas a fiscalizar, de um modo rápido e fiável, a com-posição química e/ou biológica de todos os materiais que interactuem directa, ou indirectamente, com o consumidor ou com a Natureza. Uma das principais apostas tem sido o desenvolvimento de dispositivos analíticos simples baseados na integração entre componentes biológicos e tecnológicos, os chamados biossensores. É precisamente nesta linha que se enquadram alguns projectos de investigação em decur-so no grupo de BioInorgânica (Dept. Química/REQUIMTE) e que têm por principal objectivo o desenvolvimento de bios-

sensores electroquímicos com utilidade em Segurança Am-biental e Alimentar. Concretamente, os projectos privilegiam a exploração de metaloenzimas de origem bacteriana cujos substratos sejam de interesse analítico (como é o caso das redutases do nitrito), na construção de sensores selectivos e sensíveis, e que obviem o recurso a químicos poluentes. Os aspectos mais críticos residem na imobilização estável da componente proteica sobre a superfície condutora sem perda de competência catalítica, e garantindo a comunicação eficaz entre a enzima e o transdutor. Neste sentido, têm sido testadas diferentes estratégias de imobilização/conexão elec-trónica, que vão desde o recurso a polímeros não-condutores associados a mediadores redox, a polímeros funcionalizados gerados electroquimicamente, passando pelo uso de argilas modificadas, até ao encapsulamento não mediado em filmes de sol-gel. As várias configurações de bioeléctrodo assim obtidas foram caracterizadas e avaliadas do ponto de vista analítico, algumas das quais em regime de colaboração com a Faculdade de Farmácia (UP) ou com a Univ. Joseph Fourier (Grenoble).

Gabriela AlmeidaInvestigadora do REQUIMTE (Laboratório Associado de Química Verde – Tecnologias e Processos Limpos)

O Modelo Padrão é a teoria mais completa que os físicos actualmente dispõem para descrever os blocos do edifício que é o universo. Segundo esta teoria, tudo o que nos rodeia é feito de quarks e leptões (como os electrões) e exis-tem quatro forças fundamentais. As forças mais familiares são o electromagnetismo e a gravidade (que não é descri-ta pelo Modelo Padrão). As menos conhecidas são a força forte e a força fraca. A força forte liga os núcleos atómicos, tornando-os estáveis. Sem ela não haveria nenhum átomo à excepção do hidrogénio; nem carbono, nem oxigénio, nem vida. A força fraca é responsável pelas reacções nucleares, tais como aquelas que ocorrem no Sol. Apesar de o seu enorme sucesso, o Modelo Padrão tem sérias deficiências. Por exemplo, o Modelo Padrão não explica as massas dos leptões, neutrinos e quarks, e porque é que mais de 90% do universo é constituído por massa des-conhecida (massa negra). Estão em curso experiências que testam os limi-tes do Modelo Padrão, quer a nível subatómico como as que serão feitas no Large Hadron Collider (LHC) do CERN, um acelerador de partículas circular com 27 km de perímetro que acelerará protões a uma velocidade correspondente a 99.999999% da velocidade da luz, e a nível atómico como as experiências feitas com átomos exóticos no Paul Scherrer Institute (PSI) na Suiça. Os átomos exóticos são sistemas atómicos forma-dos em estados altamente excitados quando uma partícula exótica (antiprotão, muão, pião, kaão, etc.) de carga negativa e tempo de vida suficientemente longo, substitui um electrão num átomo comum, ligando-se às orbitais atómicas de nú-meros quânticos principais altos. Como a massa das partícu-las exóticas é superior à massa dos electrões (por exemplo, a massa dos kaões é cerca de 1 000 vezes superior à massa dos electrões) orbitam muito próximo dos núcleos e a ener-gia de ligação destas partículas é muito mais elevada do que a correspondente dos electrões.

Formação de um átomo kaónico

INVESTIGAÇÃO EM BIOSSENSORES ENZIMÁTICOS

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PROJECTO “ÁTOMOS EXÓTICOS” O projecto “Átomos Exóticos” financiado pela FCT (POCTI/FAT/44279/02), coordenado por José Paulo Santos da FCT/UNL e que integra in-vestigadores da FCT/UNL, da FC/UL e da Univer-sité Paris 6/ Ecole Normale Supérieure, tem como objectivo o cálculo das energias de ligação das partículas em vários átomos exóticos. Os valores obtidos permitirão obter informação precisa sobre a partícula que orbita, sobre diversas proprieda-des nucleares e sobre as interacções forte e fraca entre a partícula exótica e o núcleo.

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ÁTOMOS EXÓTICOS

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O FUTURO DO TRABALHO E A REESTRUTURAÇÃO DA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO: O PROJECTO WORKS

O estudo da organização do trabalho no processo de reestruturação da sociedade da informação e do conheci-mento é objecto do projecto europeu WORKS (Work organi-sation and restructuring in the Knowledge Society). Trata-se de um projecto integrado (IP) tendo sido aprovado em 2005 pela Comissão Europeia, envolvendo 17 parceiros de 13 países da UE 1, e que tem a participação portuguesa através do IET (Centro de Investigação em Inovação Empresarial e do Tra-balho) e da FCT-UNL (pela sua Fundação). Trata-se do maior projecto europeu sobre este tema, e que procura estudar como o emprego, a aprendizagem e as práticas de trabalho se estão a adaptar aos processos de mudança das cadeias de valor, e que efeito tem essa mudança na organização do trabalho. Tendo em consideração o contexto global e a diver-sificação regional na Europa, o projecto está identificando ainda as melhores práticas e os caminhos para a convergên-cia, levando a cabo um conjunto de estudos de caso acerca da reestruturação das cadeias de valor em pontos estratégicos (tecnologias de informação, vestuário, indústria alimentar, serviços públicos) que clarifiquem as mudanças na organi-zação do trabalho nas organizações e redes empresariais. Neste estudo internacional, pretende-se ainda estabelecer um quadro comparativo a nível regional dos aspectos ins-titucionais, políticos e de negociação relacionados com as mudanças do local de trabalho e o seu impacto nas organi-zações e nos indivíduos. Desenvolvem-se metodologias para levar a cabo in-vestigação qualitativa sobre a organização do trabalho que sejam suficientemente rigorosas para permitir a comparabi-lidade, enquanto mantém a sensibilidade para as diferenças culturais e institucionais. De um modo geral, pode dizer-se

que este projecto contribui para uma área de investigação europeia (ou ERA – European Research Area) integrada, en-volvendo investigadores exteriores ao projecto e contribuindo para a formação de investigadores. A participação dos parceiros sociais e dos utilizado-res potenciais dos resultados do projecto é um critério im-portante na organização de todo o trabalho de investigação. De igual modo, será o desenvolvimento de um trabalho de análise prospectiva baseado na investigação empírica (e não numa simples extrapolação). Será uma contribuição para estender as perspectivas acerca do futuro do trabalho, in-cluindo as perspectivas de futuro como orientação central em diferentes estádios do projecto, incluindo uma perspecti-va de processo na análise das mudanças na organização do trabalho. Isso permite uma descrição detalhada dos diversos processos de mudança. E permite, ainda, uma análise deta-lhada dos quadros institucionais da organização do trabalho e da sua dinâmica. Deste modo, o principal objectivo de WORKS é a melhoria do conhecimento acerca das mudanças no trabalho na sociedade do conhecimento, as suas forças orientadoras, as suas implicações para o uso do conhecimento e das qua-lificações e da qualidade de vida.Em particular, as novas formas de organização do trabalho serão analisadas tendo em consideração as cadeias de valor globais e os contextos institucionais regionais.

Mais informação em www.worksproject.be

António Brandão Moniz (IET, FCT-UNL)[email protected]

1 Bélgica (Univ. Lovaina e FTU-Namur), Alemanha (FZK e ISF), Áustria (FORBA), Portugal (IET/FFCT-UNL), Reino Unido (Univ. Essex e LMU), Itália (IRES), Suécia (ATK), Hungria (ISB), Grécia (Univ. Panteion-Athens), Holanda (Univ. Twente), França (CEE), Noruega (Sintef) e ainda a Bulgária (IS). A Dinamarca passou a integrar este consórcio (nrcwe).

Resumindo, o projecto InStory engloba três verten-tes complementares: a vertente informativa que pretende dar ao visitante toda a informação histórica e artística sobre o local visitado, assim como outras informações práticas, nomeadamente os serviços disponíveis ou os percursos re-comendados; a vertente lúdica e educativa, cujo objectivo é aprender de forma divertida, incentivando os visitantes a par-ticipar nas histórias desenvolvidas no local visitado (nestas narrativas podem intervir personagens virtuais); e a vertente interactiva, que remete para a possibilidade dos visitantes interagirem entre si, numa fase posterior. Já na Web, podem registar a experiência que tiveram na Quinta da Regaleira, ligando os conteúdos digitais fornecidos com conteúdos cria-dos durante a visita (fotografias, vídeos ou mesmo som). É desta forma que surge a noção de Comunidade. Pela pos-sibilidade de cada um contribuir, em simultâneo, para as memórias digitais de outros utilizadores e para a memória digital do próprio espaço.

PRÉMIO PARA PROJECTO COORDENADO PELA FCT

O projecto InStory venceu o 1.º Prémio, na cate-goria Web/Telemóveis, atribuído pela Associação para a Promoção do Multimédia em Portugal.

Coordenado por Nuno Correia, Professor Auxiliar do Departamento de Informática da FCT/UNL, o projecto InStory começou a ser desenvolvido em 2004, com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, para a Quinta da Re-galeira, em Sintra. Basicamente, trata-se da criação de nar-rativas interactivas para dispositivos móveis, telemóveis ou PDAs. Além da coordenação, a equipa de investigação do InStory integra outros elementos da FCT/UNL, nomeada-mente a designer Rute Frias e o Eng. Tiago Martins, assim como investigadores do Instituto Superior Técnico, coorde-nados pelo Prof. Joaquim Jorge, da Universidade de Évora, sob orientação da Prof. Teresa Romão, e a Prof. Helena Bar-bas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Prestes a ser concluído, este projecto inovador, mesmo a nível internacional, está actualmente na fase de testar os equipamentos e a forma como são usados pelos utilizadores. O InStory vem, de certa forma, revolucionar o modo como os utilizadores se relacionam com o espaço que visitam. “Os visitantes vão tendo acesso à informação à me-dida que se vão movendo no espaço físico...é uma espécie da caça ao tesouro”, explica Nuno Correia. A interactividade joga aqui um papel distintivo, uma vez que o utilizador pode escolher o conteúdo a que quer aceder, podendo optar pelo modo informativo ou narrativo. Paralelamente, está a ser desenvolvido no Depar-tamento de Informática da FCT um outro projecto, relacio-nado com este, e que tem por base o doutoramento do Eng. Rui Jesus na área da pesquisa e classificação de imagem. Segundo Nuno Correia, no caso específico da Quinta da Re-galeira, “o objectivo é verificar como é que as pessoas que tiram fotografias ou fazem vídeos, neste espaço museológi-co, depois acedem a esses materiais e constroem a noção de comunidade”.

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A UE está empenhada em perceber as mudanças no trabalho na sociedade do conhecimento

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Acesso a informação num dispositivo móvel

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Coexistem, na sociedade contemporânea, percep-ções muito díspares relativamente à situação das mulheres cientistas, quer em Portugal, quer na Europa, raras vezes fundamentadas em dados quantitativos. A última edição da publicação She Figures (Comu-nidade Europeia, 2006) revela que, em 2004 (últimos dados disponíveis), as mulheres constituiam, no espaço Europeu, 29% do total dos trabalhadores nas áreas das Ciências e Engenharias. Tal cifra poderia, à partida, parecer encora-jadora, visando uma futura integração plena das mulheres na sociedade do conhecimento. Não obstante, uma análise mais profunda dos dados permite verificar que, entre 1998 a 2004, a taxa de incremento da participação de mulheres nestas profissões cresceu apenas 0.3%, enquanto que a dos homens subiu 2%. Constata-se ainda que a participação das mulheres no mercado de trabalho qualificado, isto é, em pro-fissões que requerem educação pré-universitária completa, como por exemplo técnicos laboratoriais, aumentou, no mesmo período, 4%, enquanto que a dos homens subiu 2%. Estamos portanto perante um cenário onde se desenrolam duas tendências opostas: feminização das profissões de nível médio qualificado e masculinização das profissões de topo, altamente qualificadas. Seguirá Portugal um padrão idêntico? Actualmen-te, cerca de 65% dos Licenciados no país são mulheres. No entanto, a representatividade do género diminui drastica-mente à medida que a carreira académica progride – Figura. Note-se que este tipo de gráficos apresenta um formato se-melhante para qualquer país, independentemente do ano a que se reporta. São geralmente designados por “gráficos em tesoura” (passe a liberdade de representação adoptada, que numa publicação científica seria substituída por diagramas de barras), pois permitem visualizar o “desaparecimento”, ou “poda”, das mulheres cientistas à medida que aumenta a responsabilidade, o reconhecimento social e, obviamente, o salário, dos cargos ocupados. Verifica-se assim que, entre 1997 e 2003, a percen-tagem de mulheres licenciadas subiu 9%, e a de doutoradas, que constituem agora 56% do total, cresceu 7%. Porém, des-tas apenas 40% são contratadas como Professoras Auxiliares, sendo particularmente preocupante o facto da percentagem

de mulheres nesta categoria ter diminuído cerca de 4%, no decorrer dos mesmos 6 anos. Passando ao degrau seguinte, só 33% dos docentes na categoria de Professor Associado são do sexo feminino, tendo, entre 1997 e 2003, este escalão perdido 1% de mulheres. Entre os Professores Catedráticos houve uma subida de 4% de mulheres, que constituem cerca de 21% do total. Actualmente, em Portugal, existe apenas uma Rei-tora, de um total de 14 Universidades com representação no CRUP. Por seu turno, a Academia das Ciências de Lisboa dis-tingue, como Académicos Efectivos, 54 homens e 4 mulheres, de um total de 229 membros, considerando conjuntamente todas as classes e nacionalidades, dos quais apenas cerca de 8% são mulheres. A Tabela 1 revela-se um importante indi-cador, verificando-se que, em 2004, mais de 70% dos painéis constituídos pela principal entidade financiadora da ciência em Portugal, a Fundação para a Ciência e Tecnologia, para atribuição dos meios que viabilizam a investigação, não inte-graram mulheres. Anacrónico será o facto de, no transcurso dos primeiros quatro anos do século XXI, a percentagem de painéis de avaliação sem mulheres ter aumentado 12.1 % ! O fenómeno do progressivo eclipse das mulheres, à medida que os cargos de topo se aproximam, não é po-rém específico das carreiras universitárias. Trata-se antes de uma tendência generalizada, que se observa na compo-sição dos quadros superiores, maioritariamente gerados por nomeações, assim como naquela de órgãos, estruturas e/ou comissões às quais são atribuídas funções de decisão. Além disso em Portugal, segundo dados disponibilizados pelo Ins-tituto de Emprego e Formação Profissional, IEFP, relativos a todos os estratos profissionais, ordenados segundo as qua-lificações dos trabalhadores, verifica-se que a percentagem

MULHERES NA CIÊNCIA EM PORTUGAL E NA EUROPA

Figura – Variação da percentagem de mulheres (M) e de homens (H), para os diferentes escalões da carreira académica. Portugal, 1997 e 2003.

www.dq.fct.unl.pt/qoa/amonet_grafico_tesoura.htm

Tabela 1 – Composição dos painéis para selecção dos projectos de investigação a financiar.

Fonte: Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Lisboa, 2007.

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“Actualmente, cerca de 65% dos Licenciados no país são mulheres.”

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de mulheres desempregadas aumenta à medida que aumen-ta o seu nível de escolaridade – Tabela 2. Segundo a mesma fonte de dados constata-se que, considerando todas as profissões e níveis de qualifica-ção, os salários das mulheres são, em média, inferiores aos dos homens em cerca de 23%. É particularmente relevante notar que as diferenças salariais, sempre em desfavor das mulheres, são de apenas 6% no escalão dos Aprendizes e Praticantes, de 15% para os Profissionais Semiqualificados e Qualificados, de 17% para os Quadros Médios, recebendo, por fim, as mulheres que integram Quadros Superiores, 30% menos do que os seus congéneres homens. A Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas, AMONET foi fundada em Novembro de 2004. AMONET era uma deusa do baixo Egipto, mulher do Deus Amon e gera-dora do vento norte que “… fazia surgir ordem a partir do caos e insuflava, nas mentes das elites, a sabedoria de que necessitavam para poder governar”. Contam-se, entre os objectivos da AMONET, fo-mentar sinergismos, resultantes da contribuição de cien-tistas, mulheres e homens, conducentes ao avanço e a uma nova perspectivação do papel da Ciência e da Tecnologia na sociedade. Conscientes da sua responsabilidade, isto é do contributo que deverão aportar aos programas e estratégias de desenvolvimento, a nível nacional, europeu e mundial, as mulheres cientistas consideram indispensável que seja al-cançada uma efectiva igualdade / paridade de género, poten-ciando assim o aproveitamento pleno dos recursos humanos. No decorrer de pouco mais de dois anos, tem vindo a AMONET a desenvolver um conjunto diversificado de acti-vidades, que vão desde Acções de Sensibilização para a pro-blemática do género, levadas a cabo no norte, centro e sul do país, particularmente dirigidas aos jovens cientistas, até um congresso internacional, que decorreu em Março de 2006 na Fundação Calouste Gulbenkian e que atraiu a Portugal cien-tistas de topo de quase todos os continentes. Tal só foi possí-vel graças ao apoio que, desde o início, muitos homens, mu-lheres e instituições, generosamente têm dispensado a esta Associação. Em paralelo, trabalha-se para o fortalecimento de ligações em rede com organizações internacionais congé-neres, tendo Portugal sido eleito para o Conselho de Admi-

nistração da European Platform of Women Scientists, EPWS, onde é representado pela Professora Doutora Ana Lobo. No presente ano Europeu para a igualdade, Janez Potocnick Comissário Europeu para a Ciência e Investigação afirma: “… as mulheres continuam sub-representadas em Ciência, em especial nas posições de topo. (…) a sua parti-cipação crescente será decisiva para a competitividade eu-ropeia. Não pode haver descriminação com base no género, caso a União Europeia pretenda atingir o objectivo dos 3% e alcançar uma economia alicerçada no conhecimento, o que será essencial para a sustentabilidade da competitividade da Europa.”. Belas palavras, bela intenção, só que não há bela … com tal distorção.

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Tabela 2 – Desempregados inscritos nos Centros de Emprego do IEFP. Portugal, Janeiro de 2005.

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FCT E PGR ASSINAM PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO A Faculdade de Ciências e Tec-nologia e a Procuradoria-Geral do TCA Sul celebraram, no passado dia 27 de Julho, um protocolo de cooperação no domínio do ambiente. Tendo em conta o papel cada vez mais relevante que as questões ambien-tais desempenham no actual contencio-so administrativo, o protocolo prevê que a FCT/UNL, através do Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente, pres-te assessoria técnica ao Ministério Público em matéria de ambiente, ordenamento do território e urbanismo, Durante a assinatura deste proto-colo, que decorreu na Procuradoria-Geral da República, o Procurador Fernando Pinto Monteiro referiu que é sua intenção alargar este tipo de cooperação com a FCT a ou-tros tribunais.

PRÉMIOS APDSI Numa sessão que decorreu no Auditório da Biblioteca da FCT, fo-ram entregues, no passado dia 5 de Julho, os Prémios APDSI aos melhores trabalhos na disciplina de “Sociologia das Novas Tecnologias de Informação”, referentes ao presente ano lectivo e ao anterior. Atribuídos pela APDSI – Associação para a Promoção e Desenvol-vimento da Sociedade da Informação, os prémios relativos ao ano lectivo de 2005/06, deram o 1.º lugar ao trabalho “Contributo das plataformas multia-gente para a evolução da economia digital”, desenvolvido pelos estudantes de Engenharia Electrotécnica e Computadores, Filipe Feijão, Gonçalo Cândido, Luís Ribeiro e Nuno Veríssimo. Em 2.º lugar ficou o trabalho “Aplicação de células de combustível na indústria automóvel”, pelos estudantes da mesma licenciatura, Anália Silva, Ana Caeiro, Bruno Silva e Ricardo Leote. Na edição de 2006/07, o prémio foi atribuído em 1.º lugar ao trabalho “Características e implicações sociais da RFID – Radio Frequency IDentifica-tion” dos estudantes Rute Duarte, Pedro Miguel e João Valente. Em 2.º lugar foi premiado o trabalho “Uma plataforma para mapeamento de ontologias” de Hélio Martins. Estes estudantes estão também na fase final dos seus estudos (licenciatura ou mestrado) em Engenharia Electrotécnica e Computadores. A sessão, que foi presidida e aberta pelo Prof. Doutor Fernando Santana, Director da FCT, contou com a presnça do Prof. Doutor José Dias Coelho, Presidente da APDSI que apresentou as actividades da Associação e procedeu, em conjunto com o Prof. Doutor António Brandão Moniz, responsá-vel e regente da disciplina do DCSA, à entrega dos prémios. Também o Prof. Doutor Adolfo Steiger Garção, Presidente do Departamento de Engenharia Electrotécnica, teve oportunidade de proferir algumas palavras sobre o in-teresse desta disciplina no curso, o papel da APDSI, e a importância desta iniciativa.

Assinatura do protocolo entre o Director da FCT e a PG do TCA Sul, representada pela Procuradora-Geral-Adjunta-Coordenadora, Maria Manuela Flores Ferreira

O Prof. Doutor Brandão Moniz entrega um dos prémios APDSI

Maria Rosa PaivaSócia número 1 da AMONET

Ana Maria LoboPresidente da AMONET http://www.amonet.org

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PROFESSOR DA FCT/UNL VENCE PRÉMIO CIENTÍFICO IBM Ludwig Krippahl, Professor do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL foi o vencedor do Prémio Científi co IBM 2006. O trabalho vencedor, que relaciona a informática às ciências da vida, teve por base a Tese de Doutoramento deste Professor da FCT, intitulada “Integração da Informação Estrutural de Proteínas”. Trata-se, mais concretamente, do desenvolvimento de programas informáticos para o estudo da estrutura das proteínas e da forma como se relacionam entre elas. O Prémio Científi co IBM, no valor de 15 000 euros, foi instituído em 1990 com a fi nalidade de distinguir trabalhos de elevado mérito no campo das Ciências da Computação, estimulando jovens investigadores portugueses, como menos de 36 anos de idade, a divulgarem a sua investigação. Os trabalhos, que têm obrigatoriamente de ser submetidos em Língua Portuguesa e em nome individual, são avaliados por um júri constituído por um grupo de cientistas portugueses de elevado prestígio internacional e reconhecidamente líderes das principais áreas do conhecimento a que o Prémio Científi co IBM está associado e por um representante da Companhia IBM Portuguesa.

PROFESSORA DA FCT NA EUROPEAN PLATFORM OF WOMEN SCIENTISTS A Professora Ana Lobo, do Departamento de Quí-mica da FCT/UNL, foi eleita para a Direcção da European Platform of Women Scientists, organização que foi legal-mente constituída na Bélgica em Novembro de 2005. Com sede em Bruxelas, a European Platform of Wo-men Scientists realizou, recentemente, dias 27 e 28 de Abril de 2007, a sua primeira Assembleia Geral. Contudo, esta organização reúne já mais de 100 associações de 30 países europeus e representa mais de 8 mil mulheres cientistas de todas as áreas – Ciências Sociais, Engenharia e Tecnologia, Medicina, Química, Física, Humanidades, Ciências Económi-cas e Artes.

CÂMARA DE ALMADA DISTINGUE PROFESSORES DA FCT A Câmara Municipal de Almada distinguiu com me-dalhas de ouro a Prof. Doutora Elvira Fortunato (Departamen-to de Ciência dos Materiais) e o Prof. Doutor António Câmara (Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente). À Professora Elvira Fortunato, que nasceu em Al-mada, foi atribuída a medalha de ouro na categoria de Méri-to e Dedicação da Cidade de Almada, pelo trabalho científi co que tem desenvolvido a nível internacional. António Câmara, que além de professor catedrático e investigador é também Director da YDreams, recebeu a Medalha de Ouro da Cidade de Almada. Nesta cerimónia, realizada no dia 10 de Julho, o Município de Almada homenageou ao todo 48 personalida-des e instituições pelo trabalho desempenhado em vários domínios da vida colectiva do concelho. A sessão terminou com um espectáculo de Carlos do Carmo e da Sinfonieta de Lisboa, tendo ainda a participação especial do pianista Mário Laginha.

31 ALERTA IMAGENS À DESCOBERTA

A Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvi-mento Curricular lançou o CD-ROM 31 Alerta – Ima-gens à Descoberta, cujos autores, Elisa Marques e Pedro Sousa são, respectivamente, doutoranda e pro-fessor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL.Dirigido a toda a Comunidade Educativa, nomeadamente a Docentes dos Ensinos Básico e Secundário, a Especialistas da área da Educação e a Animadores de Museus, este CD-ROM Multimédia é um produto pedagógico, essencialmente do âmbito da Expressão e da Educação Plástica, mas que promove igualmente o desenvolvimento de competências transversais, recorrendo à interligação de saberes de várias áreas disciplinares. O CD-ROM 31 Alerta – Imagens à Descoberta é constituído por actividades/jogos de natureza interactiva que incidem sobre a cultura artística portuguesa, ao mes-mo tempo que pretendem desenvolver nas crianças novos modos de olhar e ver o mundo visual, estimulando a sua capacidade de análise e interpretação de realidades cultu-rais e estéticas do quotidiano.

FCT APOIA LANÇAMENTO DO NOVO LIVRO DO PROF. ARMANDO LENCASTRE

“Da Física e Metafísica à Boa Nova de Jesus de Nazaré”, é o título do mais recente Livro do Prof. Doutor Ar-mando Lencastre, no qual se propõe partilhar com o leitor as suas refl exões e vivências, adquiridas ao longo da sua vida pessoal e profi ssional. O lançamento público da obra decorreu no Audi-tório da Biblioteca da FCT no dia 27 de Junho e a sua apre-sentação esteve a cargo do Prof. Doutor Fernando Santana, Director da FCT/UNL. Armando Lencastre foi Professor Catedrático con-vidado da FCT/UNL, onde foram criados o Laboratório de Hi-dráulica Prof. Armando Lencastre, o Prémio Armando Len-castre e a Fundação Armando Lencastre. Entre os muitos cargos que ocupou, Armando Lencastre foi Presidente Na-cional (Bastonário) da Ordem dos Engenheiros; Presidente do Conselho Consultivo da Secretaria de Estado da Investiga-ção Cientifi ca; Presidente do Conselho Consultivo do LNEC; Fundador e Primeiro Presidente da Academia de Engenharia. A Ordem dos Engenheiros atribuiu o seu nome ao auditório principal da sua sede em Lisboa. É autor de sete livros téc-nicos de entre os quais se distingue o “Manual de Hidráulica Geral”, traduzido para quatro línguas.

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FÓRUM FCTCIÊNCIA E TECNOLOGIA Com o objectivo de divulgar a sua oferta educativa, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL realizou o Fórum FCT – Ciência e Tecnologia. Uma iniciativa que decorreu entre 18 e 27 de Maio, no Centro Comercial Almada Fórum. Durante os dez dias em que decorreu este Fórum, a FCT, através dos seus diferentes Departamentos de Ensino, teve a oportunidade de mostrar a sua oferta educativa e de prestar esclarecimentos e informações sobre os respectivos cursos. Mais do que uma mera montra de cursos, esta foi uma mostra interactiva, uma vez que os visitantes puderam realizar actividades e experiências científicas, conduzidas por docentes e alunos da Faculdade.

CLUBE MATH

O Departamento de Matemática da FCT/UNL criou o Clube Math para alunos do 5.º ao 12.º ano de escola-ridade. O objectivo é ensinar Mate-mática de forma divertida. Foi no passado dia 2 de Ju-nho que se realizou a sessão inau-gural do Clube Math. Uma iniciativa do Departamento de Matemática da FCT/UNL que pretende dar a conhe-cer uma faceta diferente e divertida da Matemática, estimulando assim o gosto pela disciplina. Em cada sessão do Clube Math, a realizar uma vez por mês, são propostas actividades diferen-ciadas, consoante a idade dos alu-nos: iniciados (alunos do 2.º Ciclo), juvenis (alunos do 3.º Ciclo) e junio-res (alunos do Ensino Secundário). Com esta iniciativa preten-de-se igualmente demonstrar a utili-dade da Matemática na resolução de questões do quotidiano, estimular a criatividade e a capacidade de racio-cínio e de resolução de problemas. Para participar no Clube Math basta enviar um e-mail para [email protected], indicando nome, idade, escola, ano de escolaridade e contactos.

FCT ACOLHEU OLÍMPIADAS REGIONAIS DE FÍSICA 2007 DA REGIÃO DO SUL E ILHAS A Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL foi este ano es-colhida para receber as Olímpiadas Regionais de Física 2007 da região do Sul e Ilhas. O objectivo desta fase, que decorreu dia 12 de Maio, foi o de apurar os alunos para a competição a nível nacional, cujos vencedores irão depois participar nas Olimpíadas Internacio-nais de Física. Nas Olimpíadas Regionais de Física participaram alunos de Es-colas Secundárias e Básicas nacio-nais, públicas e privadas, desta região. As Olimpíadas Regionais de Física 2007 são uma organização con-junta do Departamento de Física da FCT e da Delegação Regional do Sul e Ilhas da Sociedade Portuguesa de Física.

SEMANA SAUDÁVEL, DA CULTURA E DO ESPÍRITO ACADÉMICO

Foi uma semana repleta de iniciativas a que decorreu de 21 a 26 de Maio no Campus da FCT. Numa mis-tura saudável e equilibrada houve um pouco de tudo, do desporto à cultura, não esquecendo o espírito académico.No âmbito da semana saudável foram realizados, por exemplo, rastreios à vi-são, à audição, à saúde oral e à tensão arterial e ao colesterol. Numa tenda montada na ave-nida principal da FCT, houve também demonstrações de modalidades des-portivas e actividades radicais para to-dos os gostos.Uma mostra de núcleos e equipas des-portivas, teatro, música clássica, café concerto, serenata e arraial académico foram outras das actividades incluídas na semana da cultura, desporto e es-pírito académico.

DESPERTAR PARA A CIÊNCIA “Espaço de Ciência Eureka” foi o título de uma exposição reali-zada na Escola Secundária Manuel Cargaleiro, na Amora, na qual o De-partamento de Ciência dos Materiais da Faculdade da FCT/UNL participou com diferentes protótipos. Contactar com a ciência, nomeadamente com a Física e a Química em contextos diferentes dos do programa curricular, desenvolver o espírito criativo e o gosto pela pesquisa e descoberta, foram alguns dos objectivos desta iniciativa.

Aspecto geral do Fórum FCT que decorreu no Centro Almada Fórum

O “Stand” da FCT na Futurália

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A FCT NA FUTURÁLIA

A Faculdade de Ciências e Tecnologia marcou, uma vez mais, presença na Futurália – Feira da Juventude, Quali-ficação e Emprego, que decorreu entre 18 e 21 de Abril na FIL (Parque das Nações). Iniciada em 1998, com o nome de Fórum Estudante, a Futurália recebeu este ano milhares de visitantes, o que mostra bem a importância que tem para os jovens, principal-mente quando se trata de escolher o seu curso superior. A exposição foi este ano co-organizada pela Câmara de Lisboa e pela AIP que apostaram “num produto reciclado que mantém o melhor do Fórum Estudante, mas que combi-na ensino, qualificação profissional e empregabilidade”. A Universidade Nova de Lisboa esteve representada por todas as suas Unidades Orgânicas, tendo por cartão de visita a qualidade da sua oferta educativa.

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IV FÓRUM INOVA O Grupo Local BEST Almada organizou mais uma edição do Fó-rum Inova. Trata-se de um ciclo de conferências, que se realiza anual-mente desde 2003, com o objectivo de trazer à FCT/UNL temas relacio-nados com diversas tecnologias de ponta, de modo a cativar e esclare-cer os alunos sobre esta temática. Os temas desta quarta edi-ção do Fórum INova, que decorreu entre 22 e 25 de Maio, incidiram so-bre as áreas da Bioinformática e dos Materiais. A iniciativa, que contou com vasto painel de conferencistas, foi uma excelente oportunidade para os participantes aprofundarem os seus conhecimentos nestas duas áreas. Na ocasião foi também feita a apresentação do BEST – Board Of European Students of Tecnology, uma organização sem fins lucrativos que funciona à base do voluntariado e é feita por estudantes, para estudantes. Existem 29 grupos locais BEST espa-lhados por 29 países com o objectivo de dar aos estudantes de Tecnologia a possibilidade de participarem em projectos de âmbito internacional.

JORNADAS TECNOLÓGICAS E FEIRA DE EMPREGO, ESTÁGIOS E BOLSAS DA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DA UNL

Durante uma semana – de 7 a 11 de Maio – realizaram-se no Campus de Caparica, as Jornadas Tecnológicas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Dirigida a alunos, docentes, investigadores e empre-sas, a iniciativa incluiu conferências, debates e workshops em áreas tão diferentes quanto actuais, tais como a nanotecnologia, a indústria cosmética, as energias alternativas e o empreendedorismo. Em simultâneo, decorreu a JOB-SHOP – Feira de Emprego, Estágios e Bolsas, cujo objectivo foi o de fomentar a aproximação entre o mundo empresarial e a FCT/UNL, através da promoção dos perfis e competências dos diplomados por esta Faculdade, a divulgação de oportunidades de projectos profissionais, o incentivo ao empreendedorismo e o desenvolvimento de competências de empregabilidade. Os visitantes da Feira de Emprego, Estágios e Bolsas da FCT/UNL 2007, tiveram a oportunidade de contactar diversas empresas dos mais variados ramos, conhecer políticas de selecção e recrutamento, assim como disponibilizar o seu curriculum vitae.

Das quatro edições do concurso realizadas em Portugal, esta é a terceira vitória para a FCT. Em 2004, o primeiro ano em que se realizou o concurso a nível nacional, o lema era “imagina um mundo onde a tecnologia permite derrubar fronteiras”. A FCT ganhou com o projecto “Collaborative Networked Environment“, cujo objectivo era ligar várias pessoas, que se encon-travam em locais diferentes, a participar num projecto comum. A final foi no Brasil. No ano seguinte, a FCT repetiu a proeza com outra equipa e levou à final, no Japão, o projecto “Per-sonal Digital Trainer”. Nesse ano o mote terminava em “...levar uma vida saudável”. Quem tem estado sempre ligado ao concurso, directa ou indirectamente, é o docente Tiago Cardoso. Primeiro porque tudo começou na sua disciplina “Em-presas Virtuais”, depois porque, mesmo no ano passa-do, em que a FCT não venceu, foi convidado a integrar o júri do concurso na final internacional, que decorreu na Índia. Este ano, Tiago Cardoso faz parte da “Imagine Cup Competition Advisory Committee”, uma comissão constituída por seis pessoas (três da microsoft e três convidadas). Para este docente, a participação dos alunos neste concurso é importante “porque é uma prova de que sabem aplicar o que aprenderam”. Por outro lado, acrescenta, “ver um aluno seu ganhar, não deixa de ser também um reconhecimento para a Faculdade”. Ainda de acordo com Tiago Cardoso, “além de levarem o nome da Faculdade lá fora, participar no Imagine Cup é sempre uma experiência fantástica”. Apesar de ter sempre uma agenda muito intensa, a iniciativa permite um “intercâmbio cultural fabuloso”.

FCT VENCE PELA 3.ª VEZ O CONCURSO IMAGINE CUP

A ideia é imaginar um mundo melhor com a aju-da da tecnologia... a proposta é da Microsoft que promove o Imagine Cup, um concurso destinado a jovens universitários que vai na quarta edição nacional, quinta a nível mundial.José Santos, Pedro Faleiro e Rui Milagaia, alunos da Facul-dade de Ciências e Tecnologia da UNL, formam a equipa vencedora do Imagine Cup 2007, na categoria principal, a de Software Design. Os três finalistas do Mestrado Integrado em Enge-nharia Electrotécnica e de Computadores da FCT vão agora representar Portugal na final internacional, que este ano de-corre em Seul, na Coreia. O projecto vencedor, por ser o mais original, deno-mina-se “Digital Kitchen Assistant” (DKA) e, basicamente, trata-se de um software auxiliar de cozinha que ajuda as pessoas menos habilitadas a escolher e a confeccionar dife-rentes tipos de pratos ou bebidas. Mas o DKA é muito mais do que um livro de receitas. Acrescenta-lhe as vertentes edu-cativa e lúdica, uma vez que estimula a aquisição de conhe-cimentos de forma criativa e divertida. Ao mesmo tempo que aprende a cozinhar, o utilizador pode adquirir informação complementar sobre a história, a geografia ou a cultura do país de origem das receitas.

Foram muitos os jovens que acorreram à Feira de Emprego...

A equipa que a FCT levou ao Imagine Cup 2007

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º3 | EntreTanto | Setembro 2007

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Entre 15 de Fevereiro e 31 de Julho de 2007 a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa graduou várias dezenas de alunos. A lista que se segue revela os novos Doutores e Mestres por área curricular:

NOVOS MESTRES E DOUTORESNA FCT/UNL

BioenergiaMestre Rute Catarina França LourençoMestre Carlos Alberto dos Santos Matos

BioquímicaDoutora Cristina Maria Grade Couto da Silva CordasDoutor Jorge da Silva Dias

Ciências da EducaçãoMestre Elsa Maria Gonçalves Neves MarquesMestre António Gualdim Saraiva RodriguesMestre Carlos Manuel Mata de Faria PicadoMestre Jesuína Maria Fialho Varela

Ecologia, Gestão e Modelação de Recursos MarinhosMestre Manuel dos Santos HortaMestre Rita Isabel de Oliveira Soares Branco DominguesMestre Mafalda Sofia da Silva Pinheiro Candeias

Engenharia BiomédicaMestre Maria Neyra Brandão de VasconcelosMestre Joana Crisna Gonzaga Caseiro Carreira PanacaMestre Mónica Beato CoelhoMestre Raquel Cruz da ConceiçãoMestre Joana Filipa Santos de Sousa

Engenharia Electrotécnica/Especialidade Telecomunicações Doutor Paulo Miguel Montezuma de Carvalho

Engenharia Electrotécnica e de ComputadoresMestre Ana Celeste Alegre MarquesMestre Sérgio Miguel da Silva Onofre

Engenharia FísicaDoutora Carla Marina Madruga da FonsecaMestre Pedro Manuel Duarte Gonçalves AmaroMestre Rui Montenegro Val-do-Rio PintoMestre Diana Jorge Pimparel Alves Nuno PintoMestre Diana Filipa Carmo Guimarães

Engenharia Física/Especialidade Óptica AplicadaDoutor Pedro Henriques Bernardes

Engenharia IndustrialDoutor António João Pina da Costa Feliciano Abreu

Engenharia InformáticaMestre Sérgio Miguel Rodrigues LopesMestre Rossana Henriques dos SantosMestre Gracindo José Miguel MachadoMestre Ana Sofia Carapinha da Cunha LopesMestre Ana Sofia Querido RitoMestre Pedro Miguel Vicente Soares GarrinhasMestre Ricardo Martins FerreiraMestre Paulo Jorge Lago Silva QuaresmaMestre Ricardo Fortuna Raminhos

Engenharia Química/Especialidade Operações Unitárias e Fenómenos de TransferênciaDoutor José Luís Cardador dos Santos

Engenharia de MateriaisMestre Prudência Maria Barreira Valente

Engenharia SanitáriaMestre Lisete Calado EpifâneoMestre Manuela Ferreira JustinoMestre Nelson Carlos Marques Alves Correia

Estatística e OptimizaçãoMestre Sandra Inês da Cunha Monteiro

FísicaDoutor João Duarte Neves Cruz

Física Laboratorial, Ensino e História da FísicaMestre João Paulo dos Santos Pinto

Geologia para o EnsinoMestre Alice de Fátima Ramalho da SilvaMestre Maria Leonor Costa RamalhoMestre Ana Sofia Nobre MendãoMestre Alberto Carlos Viegas Monteiro

Gestão de Políticas AmbientaisMestre Rui Pedro Soares da Cruz Ramalho PereiraMestre Peter Paiva PitrezMestre Pedro Miguel Salina Ferro de BeçaMestre Rui Manuel dos Santos Almeida Marvão Pereira

História e Filosofia das CiênciasMestre Cristina Maria Campos RamalhoMestre Hélio de Jesus Ferreira Oliveira PintoMestre Conceição Barreira Pimenta

Lógica ComputacionalMestre Gastón Eduardo Tagni

Matemática Doutora Maria do Carmo Proença Caseiro BrásMestre Pedro Miguel Marques Nunes

Matemática/Especialidade EstatísticaDoutor João Filipe Lita da Silva

Ordenamento do Território e Planeamento AmbientalMestre Luís Manuel Moreira da SilvaMestre Jorge Manuel Melgueira VicenteMestre Rui Noel Alves Vera-CruzMestre Célia Ribeiro Pires PataMestre Luís Miguel Ferreira Rodrigues

Tecnologia Alimentar/QualidadeMestre Irene Stuart Torrie de CarvalhoMestre Camila Lobo MiretMestre Carla Sofia de Oliveira RodriguesMestre Lídia Inês Guardado de Sousa

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º3 | EntreTanto | Setembro 2007

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Chegados a 2002, ficou claro que era preciso tra-var a fundo a despesa pública, aguentar o recuo inevitável da construção civil e das vendas de bens de consumo duradou-ros em ressaca de sobre-expansão e reestruturar as empre-sas de bens transaccionáveis, abrindo-as à sofisticação tec-nológica e aos padrões mais exigentes da internacionaliza-ção. A dificuldade de fazer estas três coisas ao mesmo tempo reside no facto de, ao contrário das recessões nas últimas três décadas, já não estar à mão das autoridades financei-ras do país o recurso à desvalorização competitiva da moeda. Antes, um bem titulado em escudos, deixava de repente de custar 100, para valer 85. Voltava, transitoriamente, a ter um preço competitivo lá fora, mesmo que a tal desvalorização representasse um empobrecimento geral, pago em inflação e recuo do poder de compra dos salários. Ela era, no fundo, a admissão, expressa num número preciso, de que os portu-gueses, criando a riqueza que conseguiam criar, estavam a viver acima das suas capacidades e possibilidades. Evaporada a mágica desvalorização da moeda, resta a cada unidade produtiva pôr em marcha a sua via interna para a competitividade, através da redução de custos, da raciona-lização de factores e processos produtivos, de maior intensi-dade tecnológica. O objectivo é de reter mais valor dentro de cada empresa e tornar-se relevante nos imensos mercados abertos por esse mundo fora. Deixou de haver uma solução, exigem-se hoje setenta mil soluções sustentadas. Do Estado, os parceiros da zona euro e os bons princípios da responsabilidade fiscal reclamam o ajustamen-to das despesas públicas a um nível financiável, sem sobres-saltos, ao longo de todo um ciclo económico. Ou seja, nos bons e nos maus dias do crescimento económico. Os cortes de benefícios e a redução real do nível de vida dos funcioná-rios públicos não deixam dúvidas a ninguém da dimensão dos sacrifícios pedidos aos servidores e beneficiários do nos-so Estado Social. Ao milhão e meio de famílias endividadas, aperta-das no seu rendimento disponível pelo desemprego acresci-do, pelos aumentos salariais colados à inflação e pela subida dos juros do euro nos últimos dois anos, impõe-se a modera-ção no consumo corrente e no endividamento adicional a mais longo prazo. Tudo somado, temos aqui os ingredientes da receita amarga para reequilibrar as contas públicas e privadas e re-lançar a competitividade das produções nacionais e o cresci-mento da economia. Num pano de fundo difícil, cuja supera-ção levará vários anos: comparando os níveis de qualificação europeus, entre os 5,6 milhões que constituem a população activa nacional, 2 milhões estão abaixo dos mínimos neces-sários para aceder aos patamares de produtividade que a nossa adesão ao clube dos ricos nos impõe. E isso não se resolve por decreto de um qualquer governo. Depende de grande parte da população portugue-sa. Ou encontra a força e o ânimo para ultrapassar atrasos ancestrais, ou a saída desta difícil crise será transitória e in-consistente.

Quando, no início do novo milénio, tudo parecia an-dar de feição para a economia do país, com o escudo a de-saguar soberanamente no euro, quatro golpes consecutivos viraram do avesso as expectativas e as atitudes dos agen-tes económicos. A economia europeia começou a abrandar e a reduzir a procura dirigida às exportações portuguesas; o cliente n.º 1, a Alemanha, virou-se parcialmente para a Europa de Leste, que, com a adesão à União Europeia, lhe abriu novos mercados e novos produtores a custos reduzi-dos no seu quintal das traseiras; a China entrou com ímpeto no Velho Continente com o seu vestuário e os seus têxteis a preços imbatíveis a nível planetário e o petróleo, bem como um conjunto de matérias-primas, iniciou uma escalada de preços que só recentemente abrandou. As empresas exportadoras começaram a perder clientes, a procura externa dirigida a elas tornou-se mais exigente e selectiva, a compressão das margens de lucro deixou de funcionar como porta de saída transitória. Como se tudo isto não chegasse, a nível interno, famílias, empresas e Estado -todos, sem excepção!- baixa-ram a guarda que lhes permitisse encaixar melhor esses quatro golpes demolidores. A brusca descida das taxas de juro, colocou ao alcance de mais de um milhão de famílias portuguesas o apartamento novo, o primeiro carro, os equi-pamentos domésticos, como nunca haviam tido antes. Com os juros reais em mínimos históricos, a resposta racional só podia ser o endividamento galopante. Só que a preocupação redistributiva dos governos Guterres, em vez de contraba-lançar a embaratecida oferta de bens com austeridade nas despesas públicas, alargou o perímetro do Estado Social até ao ponto de rotura. Em 2001 soou a campainha de alarme: Portugal averbou o questionável privilégio de ser o primeiro país na zona euro a pisar o risco dos 3% do PIB, o défice máxi-mo tolerado.

ANTÓNIO PEREZ METELO

NOTAS PARA A DIFÍCIL SAÍDA DA CRISE

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