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Artigo sobre a dimensão simbólica do acarajé. Análise sobre arte culinária, na dimensão simbólica-identitária. Discorre sobre a

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Quem botou grife no acaraj

Quem botou grife no acaraj?Mnica Dias de Souza.Doutora em antropologia. Pesquisadora do Laboratrio de Etnografia Metropolitana (LeMetro/IFCS-UFRJ)E-mail:[email protected] presente artigo apresenta consideraes a respeito das representaes que produziram o acaraj como comida tpica de um grupo religioso (o candombl) e de uma localidade (a Bahia). Tais representaes so foco de disputa religiosa, evanglicos e afro-brasileiros, aquecendo o mercado em que h igualmente concorrncia da legitimidade em torno do conceito da tradio. Grupos e discursos que utilizam o conceito de tradio aparecem como atores no processo do tombamento do quitute como patrimnio cultural, incrementando as vendas e o turismo cultural em diversos pontos que comercializam a comida por diferentes locais do pas, com a grife made in frica ou made in Bahia.

Palavras-chave: Antropologia do consumo. Tradio. Turismo Cultural. Religio afro-brasileira. Disputa religiosa.ABSTRACTWho did put gruiffe on acaraj?

Abstract: The acaraj was used how purpuse to dircuss about tradicion. A tradition that classifies rituals and productss, that rotule them how authentic and recreate productions in this way of thinking. In this meaning, the acaraj isnt including now in the group of ritual foods to become a tidbit appreciated by commom people or voracious consumers of typical foods. Considering the creation process of tradicion, we can observed the real importance of this food with African status that can put it on the category of pure or impure, depend on the group of african origin or evangelic groups who dispute the business of delicacy on somewhere.

Key words: Tradition. Afro-brasileira religion. Dispute religion, identity, memory.

1 Comer, saciar, pensar...

Este artigo um desdobramento das reflexes surgidas num curso sobre antropologia do consumo. Apostei que o acaraj era bom para se comer e para se pensar algumas questes que surgiram nas investigaes que realizava ento em minha pesquisa de doutoramento. Sem maiores pretenses, este texto um exerccio de reflexo acerca das possibilidades de se pensar as construes de significados, como o de tradio utilizado tanto para o tombamento do acaraj como patrimnio cultural quanto para a recente inaugurao de um museu2 dedicado s baianas do acaraj. Foi atravs da crena religiosa que todo o processo de fazer e consumir acaraj se iniciou, at ento era servido como oferenda s divindades do panteo afro-brasileiro e atualmente sua venda serve de contenda inter-religiosa, alimentando rivalidades e contribuindo ao debate sobre tradio, identidade, consumo e pertencimento.O agradvel odor de dend pelas ruas da cidade de Salvador denuncia a forte presena das vendedoras de acaraj. Estima-se a existncia de cinco mil pontos de venda espalhados pela cidade. Este quitute no s comida, aquela que sacia o paladar, tambm fruto de uma srie de interferncias sociais que geraram a atual imagem de patrimnio, a partir do signo da tradio. H sentidos no ato de comer, que expressa as variveis culturais intrnsecas ao. V-se, por exemplo, o consumo dos valores e significados alocados nas ditas comidas tpicas. O acaraj, neste caso, uma comida tpica da Bahia cujo sentido estritamente religioso do sculo XIX foi se transformando ao longo do sculo XX a partir das novas conjunturas scio-culturais, que forjaram para a comida, a feitura e sua venda, novos usos e significados3.

Alguns eventos que produziram o trnsito do acaraj - de comida ritual a aperitivo turstico - demonstram que o ato de comer afasta-se do sentido exclusivo de saciar um simples impulso de sobrevivncia. Evidenciamos, ento, no presente artigo, outros mecanismos que interagem junto funo de encher a barriga, para alm das consideraes meramente fisiolgicas ou de sistemas classificatrios que inscrevem os alimentos em adequados ou inadequados para o consumo seja por que motivo for.Nas ltimas dcadas o corpo pensado como referncia a pertencimento social, que por sua vez est relacionada a um tipo especfico de alimentao. Revistas anunciam dietas para o corpo perfeito, geralmente destaca-se o corpo de atrizes da TV. Tabelas alimentares so publicadas evidenciando um grupo alimentar como sendo perfeito para combater uma srie de malficos fsicos e mentais, aps um tempo o mesmo grupo avaliado por pesquisas e reconsiderado um verdadeiro veneno para a sade4. As informaes sobre alimentao e o alimento circulam e so apropriadas e, no caso do acaraj, a massa feita de feijo frita no dend, virou smbolo da identidade baiana. 2 . Alimento: relaes, encontro, prazer, devoo e outras classificaes

O prazer excessivo em comer pode ser avaliado como gula. A gula levaria a uma dupla punio. Primeiramente o indivduo colocaria sua alma em risco. Norteadora do pensamento ocidental cristo, a filosofia agostiniana denunciava a gula como mecanismo que poria a sade do corpo e da alma sob severo risco de perdio. Encontrar a justa medida seria o correto para que o desejo excessivo da busca pelo prazer de comer no levasse no s a uma conduta de no manuteno da sade, mas, bem como, perdio da alma5. Em tempos atuais a assertiva de Santo Agostinho bem que poderia estampar uma das centenas revistas de dietas alimentares, pois bastante comum a associao entre a gula e o excesso de peso. Comumente tambm se associa este ltimo a um descontrole do indivduo perante suas emoes. O comportamento do sujeito em relao ao alimento seria um indicativo no somente de suas relaes alimentares, mas tambm de suas relaes sociais, pois controlar-se, segundo instrues divulgadas em diferentes meios de comunicao, requer dieta balanceada, cuidados mdicos especiais e exerccios fsicos especficos6, vinculados evidentemente a um modelo corporal compartilhado pelo grupo. Alm deste aspecto, os cdigos de conduta alimentar e o consumo de certos alimentos so atribudos a uma dimenso simblica que garante ao consumidor um posto social. A comida e o comer podem se tornar elementos de distino social7 e o padro coletivamente legitimado magro passa a regular as condutas8.

H grupos religiosos que fazem uso da comida como fonte de atributos mgicos e de elemento que possibilita a comunicao com o plano espiritual. O alimento ritual criaria ou reforaria vnculos entre a divindade e os homens, sendo indispensvel em inmeros rituais por ser atributo necessrio produo da reciprocidade9, fator que operacionaliza as ddivas recebidas.Fora do campo religioso a reciprocidade ocorre de outra forma. Acredita-se tambm na manipulao do alimento como forma de alcanar um objetivo predeterminado como, por exemplo, no intuito de conquistar benefcios tambm espirituais, como o bem estar fsico ou emocional. Assim, o sujeito pode utilizar receitas ou mezinhas que produzam os efeitos desejados em seu relacionamento afetivo. Este uso do alimento acompanhado de rituais particulares e seu preparo pode ser comparado aos mais complexos rituais religiosos, pois, impreterivelmente, deve acompanhar uma escolha criteriosa de materiais, banhos, msicas e, em certos casos, velas, flores, incensos e vestimentas. Alm de uma srie de comportamentos especficos destinados a tal evento. Todo preparo deste ritual pode ser apreendido atravs da costumeira tradio oral, transmitidos geralmente de amiga para amiga, ou atravs de consulta s bancas de jornal da cidade, que propaga cardpios calientes para agradar e/ou agarrar o parceiro(a) pelo estmago, atitude estranha se for compreendida em seu strito senso.

Neste contexto, a ddiva viria do alimento, de sua produo ou dos comensais?

A liturgia da comensalidade entre os grupos sociais permite a larga investigao dos comportamentos humanos, ritos sociais reveladores das representaes postas mesa de cada dia. A comida, ento, no prestaria somente ao simples ato de saciar uma ausncia de alimento ou reposio de vitaminas e outros suplementos que o corpo necessitaria para manter o bom funcionamento: comer um ato social. A associao do ato de comer ao prazer constante em diversas culturas10, como tambm o sua associao produo de beleza ou fora fsica. Comer para obter pele ou cabelos bonitos ou procurar alimentos que saciem a fome e dem sustncia? Quantidade ou qualidade? Estas questes so indicativas de escolhas vinculadas classe ou grupo social, indicando seus habitus11. Entretanto, como bem descreveu o antroplogo Roberto DaMatta (1986), entre o arroz e feijo, comida bsica da mesa de grande parte da populao brasileira, definidor de casos considerados bsicos: isso arroz com feijo, costuma-se dizer de situaes triviais, rotineiras. Arroz e feijo indicam uma relao simblica com o ato de comer: simplicidade na rotina alimentar e na vida, estilo, que indica tambm a necessidade de juntar elementos agregar, relacionar que, no caso do arroz e feijo se acompanha da farinha de mandioca, imprimindo uma mistura que colabora para o feijo deixar de ser preto e o arroz deixar de ser branco.

A comida, diferente do alimento tudo que se como com prazer, escolhido entre os alimentos disponveis. Atravs da comida se definem identidades. A comida na dimenso simblica materializao dos desejos pessoais, fonte de prazer pessoal, aprendizado espiritual e, em mltiplos contextos, serve socializao, reunindo amigos, experts e desconhecidos em torno de mesas e confraternizaes em ambientes pblicos e/ou privados. Servindo, principalmente em nossa cultura como elemento agregador, que se funde de modo que no se sabe se fundamentam as relaes sociais, sendo tais relaes o ato principal que organiza o comer entre famlia, amigos, vizinhos, etc. Comer seria o ato que permite a celebrao de nossas relaes do que propriamente de nossas individualidades.Costumes alimentares orientais, apresentados atravs de matrias exibidas pelos telejornais brasileiros adquirem o perfil de curiosidade nefasta: Eles comem baratas!! E cachorro tambm?!. Neste exemplo, a curiosidade pela comida permite a produo entre o que eles comem com quem eles so. O conhecimento do outro pode ocorrer atravs da curiosidade incitada sobre sua alimentao, logo diferentes hbitos alimentares podem assim ser associados a uma gente diferente e estranha e, mais ainda, apresentada e conhecida exclusivamente por um aspecto extico. Deste extico busco sua frugalidade nas escolhas. Dentre o consumo de tais iguarias tpicas do oriente, destaco o consumo por japoneses do peixe baiacu ou fugu, como conhecido. Considerado venenoso (por conter a substncia tetrodoxina) tratado por especialistas que deixam apenas uma frao do veneno na carne. O veneno age provocando a sensao de envenenamento: formigamento na boca, palpitao no peito e calafrios. Passado este primeiro estgio, o sujeito descreve o sentimento que lhe toma aps a refeio: diz ser tomado por uma euforia, fruto da felicidade por ter vencido a morte. Especialistas afirmam que depois desta fase vem um processo de excitao sexual. Para partilhar de todas estas etapas sensoriais se paga uma pequena fortuna. As finas camadas do sashimi podem no matar a fome de alimento, mas, certamente, sacia-se o desejo de comer, provocando sensaes que podem estar distantes do consumo alimentar cotidiano. A ambigidade fornecida pelo alimento, morrer e prazer, esto implcitas nas dimenses do consumo.

Estes e outros tantos casos demonstram que a alimentao no faz parte de uma mera relao utilitria, comer/saciar, mas est em correspondncia com os valores culturais das sociedades e dos grupos que a compe. Neste sentido a comida adquire status quando associada a um segmento social ou ao seu comportamento. Comidas propagadas como comida de rico pode virar objeto de desejo das camadas empobrecidas que juntam dinheiro para consumi-las. Existe igualmente a possibilidade de inverso, quando a comida que foi historicamente concebida por comida de pobre , como a feijoada, tornar-se prato tpico da culinria brasileira e smbolo de sua nacionalidade, deixando de ser soul food (FRY, 1982) para everybody food.

Existem comidas que so mantidas entrincheiradas em seus nichos de origem, perpetuando-se atravs do imaginrio social e do habitus do grupo. Comportamentos alimentares compem personagens e msicas populares, utilizando duas clssicas distines: ricos e pobres. Para o primeiro grupo, dos ricos, tomo como aspecto significante alimentar o caviar. Alimento que faz parte do imaginrio popular, regula relaes e perpetua um conceito. Acredita-se que algum que consome caviar uma pessoa endinheirada. O uso do termo comer caviar pode representar algum de elevada posio social ou noutro sentido, Este a come sardinha e arrota caviar, uma forma popular de dizer que a pessoa pobre, mas metida a rica ou que deseja transgredir sua condio desejando ou desempenhando tal papel social mesmo que por um breve perodo de tempo.

Outro aspecto significante seria o angu baiana, considerado um prato de pobre. comum preparar um angu ou uma rabada para servir como prato principal de uma batida de laje, um pagode ou uma quermesse de parquia num subrbio. O angu, considerado um alimento menosprezado nas mesas abastadas da populao, era produzido e comercializado por negras forras, escravas ou livres em diversas partes do pas. Especialmente no Rio de Janeiro ao longo do sculo XIX (SOARES, 1998), havia inmeras barracas espalhadas pela cidade, sendo este consumido por trabalhadores e transeuntes pobres. O item bsico deste prato era o mingau de farinha de milho, branco, vermelho ou amarelo, com o molho de midos de porco ou boi espalhados por cima. Estes dois significantes, caviar e angu, foram tomados aqui como uma referncia extremada, generalizadora e quase caricatural, j que nem todos pobres gostam de comer angu baiana e nem todos ricos apreciam o caviar, e h apreciadores de todos os pratos em todas as camadas sociais.

Costumes alimentares adquirem significados no uso e, neste sentido, retomo o acaraj, a comida em questo, para pensar nas motivaes que o retiraram da camarinha e que o torna famoso nas ladeiras da cidade de Salvador e, posteriormente, em diversas cidades do pas. Desejo, sobretudo, compreender sua complexificao simblica, referncia de alimento que, ao longo do sculo XX, ganha status de comida tpica, e, no incio deste sculo, passa a ter sua produo e venda regulamentada por rgos pblicos, pois se torna patrimnio cultural. Neste sentido, pensar sobre a construo histrica do acaraj encontrar aspectos simblicos da produo de sua tradio numa dimenso contempornea da reflexo que permeia a produo dos nossos patrimnios culturais.Este trnsito se inicia quando o saboroso quitute se popularizou no universo leigo, saindo dos terreiros, e tomando as ruas, vendido em bancas, vendas e tabuleiros, atravs das baianas, que passaram a ser reconhecidas como baianas do acaraj. Raul Lody menciona a dcada de 1940 como marco de tal transformao, que interfere tambm no formato clssico do bolinho, que passou a ter um formato maior, parecido com um grande sanduche, para serem recheados de salada ou verdura - cebola, tomate verde e vermelho - algum condimento, ou ainda vatap e camaro defumado com ou sem pimenta (LODY,1995). At ento, o processo de produo e apreciao estava restrito aos templos religiosos das diversas tradies afro-brasileiras, ou seja, produo e consumo estavam relacionados ao ritual religioso destinado especificamente a alguns Orixs. Diante de meu olhar e paladar, eis aqui um bom alimento para comer e pensar, como elaborou Lvi-Strauss.

A presena do alimento e o ato de com-lo ou do-lo constante em diferentes ritos religiosos. No cristianismo, sua divindade maior, Jesus, antes de morrer oferece aos discpulos po e vinho, compreendido simbolicamente como sangue e vinho e sua morte consolidaria tal simbologia, sendo o seu corpo e sangue uma oferta aos seus seguidores. O rito que relembra tal acontecimento festejado dominicalmente e, no pice da cerimnia, a frase: Eu sou o po da vida, refora a idia de sacrifcio do homem-Deus.

Assim sendo, etapa referente alimentao de grande importncia religiosa. Acredita-se que atravs dela se estabeleam conexes entre os planos materiais e imateriais. As oferendas, portanto, permitiriam aos homens a aquisio de sua fora vital, advinda do plano imaterial. Este fortalecimento, em algumas religies de tradio afro-brasileira, por exemplo, denomina-se ax.

Acredita-se que a busca por tal fora pode ser alcanada e mantida atravs das oferendas e que estas agradariam aos deuses. Este tipo de agrado pode ser feito com a inteno de aplacar a ira da deidade. Neste sentido, seria primordial conhecer os desejos da divindade que se quer agradar. Atravs dos mitos correspondentes a cada divindade seria possvel compreender seus gostos, que muitas vezes se manifesta atravs das relaes que estabelecem com seus filhos no plano fsico e entre as divindades que lhes so prximas ou hostis. Na intrincada rede de relaes e atributos psicolgicos tais seres apresentam suas qualidades e defeitos, pois se assemelham aos homens ou vice-versa, demonstrando suas predilees alimentares e tabus. Portanto, ao preparar um alimento ritual e ofert-lo, o devoto aprende um pouco sobre a cosmologia daquela divindade.

fato que o preparo de um alimento ritual precede o ato de faz-lo.O processo de inicia com a demanda desta produo. Geralmente o cliente de uma casa de santo ou adepto religioso apresenta uma necessidade espiritual, encontra-se doente, em desespero, faltando-lhe o amor, emprego ou similar, e diante deste fato sugerido o pedido da oferenda. Neste instante o zelador da casa passa ao fregus uma lista de mercadorias a serem compradas. Cada material inscrito na lista cumpre uma funo ritual e este preparo desencadeia uma srie de posteriores benefcios ou malefcios. Vale ressaltar que todas as etapas posteriores sero por si a continuao de um processo ritual em que o sagrado a tudo permeia e controla. Neste caso, as compras no mercado (MELLO, 1998) so de suprema importncia para a aquisio do benefcio desejado. A escolha dos alimentos, sua aparncia e tamanho, o valor a ser pago, a disposio das mercadorias, o ato de faz-las e todo aparato material que envolve a produo. Isso significa uma especial ateno para com a arrumao dos pratos em tigelas especficas e o local em que ser colocado, por exemplo, testemunhando a todos os envolvidos neste processo as exigncias do santo, a seriedade do rito e a tradio da casa, dentre outras significaes. O processo do preparo cercado de cuidados no falar, andar e mesmo no pensar, instituindo um comportamento asctico a todos os envolvidos. comum ouvir numa cozinha de barraco, num momento de preparao de um prato, uma filha de santo comentar: dessa forma que Ians gosta.

Os princpios que compe tal etapa ritual so perpetuados por meio de vivncia cotidiana neste espao. Como disse acima, geralmente atravs do uso de processos advinhatrios como o If, que se indica a necessidade do preparo do banquete ritual. Os alimentos podem servir tambm a rituais de limpeza ou reforo do ax de uma pessoa. Portanto, atravs da comunicao entre o plano terrestre e o espiritual que se garante a legitimao do cardpio votivo. Comer, dar de comer ou utilizar a comida passando-a no corpo fundamentaria a manuteno da vida espiritual, representando o elo de comunicao entre dois mundos.

3 O que tem no tabuleiro da baiana? Tem acaraj com grife: made in fricaA origem do nome acaraj remete frica. Na frica Ocidental, em alguns locais do golfo de Benim, o acar seria o nome de um bolinho e parte da culinria beninense. A etimologia da palavra acaraj seria composta tambm de ajeum, que em ioruba significa comer. Segundo Raul Lody, as mulheres que vendiam acaraj nas ruas anunciavam o quitute em semi-cantoria: Acar, acar, aj ou O acar j eco olailai . Assim pode ter surgido a palavra acaraj, que significa bolinho de comer.

O acaraj uma comida ritual, produzida com fins religiosos. Seu tamanho e formato tm simbolismos prprios e so endereados a divindades especficas, enquanto os acarajs grandes e redondos so destinados a Xang, os menores so feitos para Ians. Obs e ers preferem os menores e bem redondos. Usualmente a feitura dos acarajs pequenos seguem o costume dos terreiros de Candombl Ktu, Angola, Jej ou de outra nao africana. Quando o acaraj feito de tamanho maior, alongado, geralmente acompanhado de amal, prato preparado com quiabo, dend e pimentas, que integra o cardpio predileto de Ians ou Oy.O acaraj tambm conhecido como bolo de fogo, fruto do dend fervente, cuja cor lembra fogo, em seus tons entre o vermelho e marrom, cores que representam sua ancestralidade. Lembro que estas so as cores que simbolizam Ians, conhecida como moa da tarde, momento em que o cu se avermelha. Ians orix do gnero feminino, representada como grande guerreira, de temperamento quente e sexualmente devotada a seu marido Xang, ou como tambm chamado, Alafim, rei de Oy. Como disse, o bolinho de acaraj serve como oferenda a tal divindade e tambm seu devotado esposo. De modo geral, as oferendas alimentares possuem uma ambigidade interpretativa. oferenda dos devotos s divindades, mas tambm representa a prpria, pois a presena do alimento anuncia igualmente seu comparecimento no lugar.

Numa carta a um amigo portugus, o cronista Luiz dos Santos Vilhenadescrevia nos idos do XIX a movimentao da escravaria a vender sua produo:saem oito, dez ou mais negros a vender pelas ruas a prego, as coisas mais insignificantes e vis: como sejam, mocots, isto mos de vaca, carurus, vataps, mingaus, pamonhas, canjicas, isto , papas de milho, acasss, acarajs, abars, arroz de coco, feijo de coco, angus, po-de-l de arroz [...] ( ........) .

A primeira edio do livro de 1802. O espanto do Sr. Luis em ver uma legio de vendedores de cor, segue a esta prola de confirmao: timos pelo seu aceio, para tomar por vomitrios(Op. cit). Escandalizado, parece que o Sr. Luiz no comprava os acarajs. Talvez, se atualmente fosse um turista de viagem pela cidade, este seria um das primeiras medidas a tomar: degustar uma iguaria local.Por razes diferenciadas o acaraj deixou de ser exclusividade das manifestaes religiosas afro-brasileiras ou propriamente dos afro-brasileiros. Antigas baianas que esto nas ruas de Salvador vendendo os bolinhos por dcadas, foram transformadas em referncia cultural, so quase monumento da cidade, e o quitute vendido por elas rende pequena fortuna mensal, alm de terem sido elevados categoria de smbolo da identidade baiana.

A produo de um alimento votivo para o consumo pago nas ruas, no s apresentou uma culinria sagrada e secreta aos leigos, mas revela a tradio alimentar religiosa. Pense! Come-se nas ruas o que tambm posto como oferta aos deuses nas ruas, nas matas, nos cmodos destinados a resguardar a fora ritual.

Ao quitute associa-se um registro de antiguidade de um povo, o africano, de modo que foi creditado comida um histrico indicando certa permanncia no tempo e no espao, designado de patrimnio. Parte das baianas vendedoras de acaraj na atualidade faz questo de apresentar sua linhagem familiar, indicando uma continuidade com seu passado e empenho em manter a prtica que se considera ancestral. Entretanto, o fazer, esta prtica cotidiana foge dos trmites institudos pelas regras gerais, o habitual ato de cozinhar.4 A produo e o fazer cotidiano: significados em uso

4.1 O fazer: as mulheres e sua herana familiar comum atribuir o aprendizado da produo de acaraj a uma linhagem matrilinear e religiosa. H de se destacar o valor atribudo herana familiar no fazer o acaraj e nas bancas comum encontrar mes e filhas na funo da produo e comrcio do quitute e por vezes consaguinidade e familiaridade do santo so exteriorizadas no local.

Raul Lody (1998, p. 100) destaca o vnculo da venda no tabuleiro ao Candombl:

O ato de vender comida na banca ou caixa de forte vnculo religioso, ligado s Casas de Candombl. As comidas dos santos, os amuletos que compe a venda, projetam o rigor da culinria dos templos, incluindo seus simbolismos e sentidos sagrados.

A presena feminina nos tabuleiros de venda nas ruas expressiva e pode ser associada predominncia desse gnero nos cultos afro-brasileiros, mais especialmente no incio do sculo XX. O histrico feminino do comrcio de rua pode ter referncia no perodo colonial brasileiro, sendo esta uma atividade lucrativa para os senhores que mantinham suas escravas no ganho e para as prprias escravas que viam neste ofcio um modo de poder comprar sua liberdade.

O predomnio da presena feminina nos cultos de origem africana chamou a ateno da antroploga americana Ruth Landes, espanto que nomeou seu livro, Cidade das Mulheres, onde analisa a participao feminina nas casas de candombl baiano. A presena exclusiva das mulheres no culto seria um sinal de manuteno da tradio africana, pois cabia aos homens o papel de assistncia do culto, auxlio financeiro ou participao no toque dos atabaques.

Para algumas vendedoras os tabuleiros de acaraj seriam, mais do que um espao para a comercializao do alimento, uma espcie de vitrine do sagrado. A presena da baiana, em seu traje completo comunicaria o vnculo religioso: vestimenta branca; contas coloridas ao redor do pescoo, as guias de proteo espiritual; fitas, figas, imagens e outros badulaques com sentidos de protetores aparecem estrategicamente colocados na prpria banca ou prximo a ela. H vendedoras que no dispensam o tradicional vasilhame com ervas ao lado de sua banca ou uma travessa de palha com pipocas, smbolos de proteo.

Antes de sair de casa muitas baianas preparam suas vendas. Este o caso relatado por Dona Ivone do Carmo, 69 anos, que vende acarajs ao lado da igreja do Bonfim h 44 anos. Cotidianamente pede proteo aos Orixs, em sua porta coloca farofas de mel para chamar a prosperidade, farofa branca, farofa vermelha. A este cuidado acrescentava tambm gua de alfazema ou gua com mel para jogar no ponto gua, farofa e cachaa so despachadas na porta de casa, em homenagem fora que domina as ruas, o Orix Exu. Alm disso, pequenas pores do acaraj vo para seu altar caseiro e quando chega no ponto de venda lana rua trs pequenos acarajs para abrir seus caminhos. Em tempo, abrir caminho um termo religioso utilizado para designar a possibilidade de facilitar a vida material, garantindo um bom desempenho em suas vendas, lhes trazendo lucro e melhorando a condio de vida.As estratgias devem ser compreendidas luz da trajetria de Dona Ivone, criada num terreiro desde os doze anos de idade e ali iniciada na vida religiosa. Sua atuao no tabuleiro est intermediada pelo sagrado do ponto de vista do ritual que d incio s suas vendas e tambm como princpio gerador, pois foi atravs de uma ordenao de Ins, que se ps neste cargo27.O tipo de vendedora at aqui relatado seguiu a tradio, descrita como referncia experincia anterior no santo. Preparo e venda se interligam, sendo meio e fim, pois a cosmogonia religiosa rege quem produz. Entretanto, o prepara e a venda no esto restritos a este grupo. E assim, o acaraj recheado de outros produtos simblicos. Vamos acompanhando sua produo.Denise sustentava os filhos como diarista, fazendo faxina em domiclio. Amante do acaraj passou a prepar-lo em casa nas festinhas entre familiares e amigos. Foi assim que descobriu uma possibilidade de aumentar a renda familiar. Passados um pouco mais de vinte anos, ela e sua filha, hoje evanglicas, mantm um ponto numa praa prximo sua residncia, sendo agora sustento tambm para seus netos. Me e filha no tm vnculos religiosos com a venda nem to pouco o preparo do bolinho, mas remetem tradio o ato de fazer, pois o fazem h muito tempo.Para o primeiro tipo de vendedores, a arte de fazer o bolinho se perpetua na famlia atravs da prtica religiosa, aprendeu o ofcio com me, tia, av ou parente prximo, geralmente ligado diretamente religiosidade afro-brasileira. Para a segundo, a memria familiar o sustento da produo, atravs dos encontros degustativos em sua casa ou de familiares e nos encontros casuais as praas para consumi-lo com parentes ou amigos.

As duas vivem atualmente da produo e venda do quitute. Ambas vo produzir a massa e frit-las no azeite de dend seguindo a mesma receita. Seria ao final a mesma comida? O acaraj feito por pessoas de origem religiosa evanglica seria o mesmo quitute dos antigos receiturios africanos? Nesta questo reside em grande parte o debate que atualmente orienta a produo dos acarajs entre baianas de diferentes localidades do pas. Vendedoras que no praticam o ritual do candombl so criticadas por desvirtuarem as tradies africanas, pois, acredita-se que se no cumprem os preceitos religiosos, no deveriam utilizar um alimento de origem ritual para ganhar dinheiro. Outro fator de discrdias a renomeao do acaraj, chamado por evanglicos de bolinhos de Jesus. Este um dos pontos cruciais na disputa, ferindo, segundo afro-brasileiros, a tradio que sustenta e d lgica ao tpico. 5. Outros fazeresO processo de produo tradicional do acaraj, aquele que se refere ao quitute devocional, seria: pr o feijo fradinho de molho para descansar por um dia, descascar feijo por feijo, passar os mesmos na pedra (pilo de pedra formado por base, geralmente retangular) para conseguir a textura ideal da massa frita em azeite-de-dend. A massa deveria estar na consistncia correta - cremosa e firme - sob o risco de desandar e estragar todos os bolinhos. O ideal sempre que possvel, durante o processo de fritura, mex-la cuidadosamente. Para misturar os ingredientes as colheres deveriam ser, preferencialmente, de madeira e as panelas utilizadas de barro ou ferro e o cozimento no fogo de lenha. Aqui o cozimento no fogo, sobre a madeira flamejante, contribuiria para sua associao ao Orix Ians. Os procedimentos rituais no preparo do acaraj assegurariam a produo do ax. Acredita-se que, se transgredida tais etapas, a relao aspirada com o santo orix, vodum, inquince ou antepassado - se romperia.

Atualmente, estas etapas rituais raramente so mantidas at mesmo nas funes cerimoniais. H sobrevivncia desta operao nos terreiros que buscam inspiraes no sculo XIX para seus hbitos religiosos. Para estes, o prprio ato de amassar o feijo na pedra era significativo, pois auxiliava a preparar o corpo para receber o orix. Dona Ivone do Carmo comentou que: Tinha de passar o feijo na pedra para dar a ginga no ombro, pra quando o santo pegar a gente.

Observamos que o fogo de lenha foi substitudo pelo fogo a gs, eltrico ou microondas. As panelas de barro trocadas pela rapidez do cozimento na presso. Para o transporte da massa, vasilhames plsticos. A receita e seu tradicional aprendizado oral divulgado em livros de receitas e em sites pela internet.

As transformaes no param, todas estas etapas podem ser substitudas por um composto em p, neste caso, basta adicionar gua e mexer bem. Esta foi a inveno de um baiano, Jos Clarindo Bittencourt, de 58 anos. Segundo ele: "So todos produtos naturais, sem conservantes e de gosto aprovado[...]. A conservao feita pela tcnica de desidratao, pr-cozimento e empacotamento a vcuo. O inventor deste gnero alimentcio deseja tambm lanar uma linha de acarajs congelados a ser preparado no microondas, semelhantes aos salgadinhos de festa que encontramos facilmente nos supermercados.

Apontamos aqui dois processos de transformaes ocorridos na produo e venda dos quitutes tnicos. Primeiramente, na venda, destaca-se a participao das mulheres sem vnculos religiosos e, na produo, o advento de novos mecanismos que contribuem para a acelerao de sua fabricao ficando no passado imemorial o moinho de pedra. Deste modo, a produo se acelera e o custo final diminui, ampliando a possibilidade de vendas no mercado consumidor.

A participao de pessoas sem o legado da tradio religiosa e a rapidez no processo de produo do acaraj resultaram em modificaes comerciais, gerando concorrncias e atritos. Para termos uma noo de quo lucrativo o negcio: uma barraca pode empregar at 26 funcionrios30. No carnaval do ano de 2002 as baianas juntas ganharam cerca de R$ 20 milhes em quitutes. A famosa baiana Dinha revelou que ganha em mdia R$ 40 mil por ms.

O acaraj saiu da gamela ritual para as bancas das baianas, de l para o gosto do fregus nas ruas, restaurantes, festas requintadas, delicatessens, stands culinrios em feira gourmet, em eventos como a Casa cor, nas barracas de festas populares e em shopping center. Um cliente pode contratar um buffet personalizado com os quitutes e a apresentao de danas dos orixs ou ax music.Foram encontradas outras modalidades de preparo do acaraj. Pode ser encontrado em pacotes, semi-preparado, em p. Pode-se encontrar no mercado o acaraj a quilo, o acaraj de milho verde e o acaraj-sade, feito base de soja, produzido com intuito de oferecer um alimento mais saudvel. Digamos que tais tipos podem ser classificados como parte da modernizao dos costumes ou das invenes de tradies, novidades que sem demora podem ser incorporadas como preciosas antiguidades. Para o acaraj de soja, corruptela do acaraj de feijo, j foi inventada uma origem remota, o Oriente. Apesar da dita origem oriental, virou um produto comercializado por micro-empresrias soteropolitana, com o rtulo de identidade baiana.

Mas o que significa ser smbolo de comida baiana? Que conceitos permeiam o sentido de baianidade? O que seria um ethos baiano? Que religiosidade baiana expressa os acarajs e suas vendedoras? A que se referem os negociantes, homens e mulheres, quando resgatam a tradio procurando demonstrar a ancestralidade africana do alimento comercializado?

6 Outras significaes permeando a lei e a tradio

Recentemente as vendedoras passaram a seguir orientaes para a produo e venda do acaraj. Pela determinao do Decreto Municipal 12.175/1998 e portarias subsequentes, que visam regulamentar a profisso, fica tambm deliberada a padronizao da indumentria e do tabuleiro, define-se ainda a distncia mnima de 50 metros entre os tabuleiros, alm de outros detalhes. Tal lei implica numa padronizao que visa tanto as questes culturais, relacionadas ao tombamento do quitute, quanto as associadas poltica pblica de sade, referentes a certos cuidados em sua produo. Retornarei ao final nesta questo, pois veremos que a experincia cotidiana das vendedoras, os fazeres e os usos, imprimem outras significaes na produo do bolinho.

Como conceituar autenticidade? Ou melhor, como conferir titulao de autenticidade? Autntico nos remete ao sentido de genuno, pureza, reduto preservado e intacto e tradio. Gis Dantas (1988) investigou dois terreiros que se autointitulavam nag para compreender o discurso de tradio e pureza. Os terreiros de Alagoas e da Bahia apresentavam quadros referenciais completamente distintos. A idia de preservao est associada ao sentido de pureza, logo quanto mais preservado mais puro e proporcionalmente quanto mais misturado mais impuro. Vale ressaltar que o sentido de pureza pode ser destacado como analogia que expressa igualmente uma ordem social: puro/misturado, impuro/puro, limpo/sujo, ordem/desordem; pares que alm de representar formas de classificao que, dentro de certa estrutura, remete a uma forma de marcar um lugar para si e para os outros.Na venda do acaraj o sentido de pureza associado ao significado de origem. Esta origem mtica relacionada frica (que transcende s transformaes operacionais que o tempo impe) um vetor de produo de identidade para vendedoras e consumidores do produto. Neste caso a pureza estaria associada venda da mercadoria produzida pelas baianas que aprenderam o quitute pela via da linhagem matrilinear e religiosa. Em oposio, seria considerado impura a venda dos acarajs por pessoas sem relaes com rituais religiosos de matriz africana e a presena das mos masculinas na produo dos quitutes35.

A noo de pureza, sinal diacrtico manipulvel em concordncia com a situao, assume outros significados em novos arranjos sociais. O legtimo acaraj das baianas do candombl foi considerado impuro pelo deputado do PFL e pastor Jos de Arimatia, que agrega o valor de legitimidade e pureza ao acaraj de Cristo , considerando os outros impuros. Argumenta que seriam feitos por gente que incorpora anjos decados, do exrcito de Lcifer .

Estamos diante de uma acirrada disputa na venda dos bolinhos de Ians, deidade que representa a guerreira, a fora dos ventos. No trajeto da sada do bolinho da camarinha at o tabuleiro, o aperitivo passou a representar a cultura de um povo: o povo negro; tornou-se smbolo do povo de um Estado brasileiro: o baiano; e no conjunto de produtos apropriados como brasileiros, compem o quadro de comidas tpicas de nossa nacionalidade. Comumente ouve-se a comparao de que ir Bahia e no comer acaraj como ir a Roma e no ver o Papa. Elevado ao grau de popularidade nacional e de importncia para a memria de um povo, a lei sancionada, exposta acima, averba o sentido de pertencimento, que determina a importncia e legitimidade do quitute, classificado como uma propriedade, um bem, tombado pelo Patrimnio Histrico e Artstico Nacional36, considerando como Patrimnio da Cultural Nacional.

Um tombamento ou tombao significa catalogar, relacionar coisas de valor histrico, cultural, artstico, cientfico, esttico, paisagstico, arquitetnico, urbanstico, documental, bibliogrfico, paleontogrfico, museogrfico, toponmico, folclrico, hdrico, ambiental ou afetivo para a populao. O vocbulo tem origem latina e no italiano, tombolare. Quaisquer coisas, materiais ou imateriais, pblicas ou privadas, podem ser tombada pelo Poder Executivo Federal. O acaraj que j tinha condio de Patrimnio Cultural de Salvador, foi tombado no dia 05 de novembro de 2002 amparado pelo decreto nmero 3.551 publicado em dirio oficial no dia 07 de agosto de 2000, assinado pelo ministro da cultura Francisco Weffort e por Fernando Henrique Cardoso, Presidente da Repblica.

A lei estabeleceu quatro modalidades a serem contempladas pelo tombamento imaterial:

os saberes: onde sero inscritos conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades;

- as celebraes: destinado ao registro de rituais, festas e folguedos que marcam a vivncia coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras prticas da vida social; - as formas de expresso: onde sero registradas as manifestaes literrias, musicais, plsticas, cnicas e ldicas; e - os lugares: destinado inscrio de espaos como feiras, mercados, santurios, praas e demais reas onde se concentram e reproduzem prticas culturais coletivas.

O objetivo do tombamento imaterial a manuteno da continuidade histrica do bem e sua relevncia nacional para a memria, identidade e formao da sociedade brasileira. Entretanto, o sentido de preservao deve ser relativizado junto s idias que gerenciam a promoo de um bem ao patamar de autenticidade (GONALVES, 2001). No tombamento impera o desejo de seguridade de uma narrativa encarnada no objeto em questo. O significado da autenticidade, ou seja, de todas as narrativas evocadas na premissa representada pelo vetor acaraj motivo de nossa reflexo.

O que significaria o tombamento de uma comida? Seria um interesse em preservar sua receita original? Sendo assim, preserv-la como fonte de informaes sobre o passado significaria a manuteno de suas origens religiosas no Candombl. No candombl residiria sua matriz, sua ligao orgnica com o passado. Que passado est sendo registrado como fonte de informao para requerer e justificar certo pertencimento da comida? Quais so os elos de significncia que vem sendo inscritos na promoo deste quitute como patrimnio histrico? O que informam sobre a sociedade brasileira? 7. Fazer o consumo cultural

Retornando disputa nas vendas do acaraj e o agenciamento do status de tradio utilizo como referncia os discursos sobre as baianas evanglicas e as baianas do candombl. Neste embate se revelam preciosas relaes estabelecidas no mbito pblico e privado, nas camarinhas e nas praas, que perpassam os debates das respectivas expresses religiosas e de outras inusitadas relaes da trajetria da instituio e preservao deste patrimnio histrico.As vendedoras evanglicas argumentam que sua produo pura porque feita para Jesus ou com inteno voltada para seus princpios religiosos cristos, distante da impureza representada no mal provocado pelos acarajs do povo do santo. Por sua vez, as baianas do candombl esto no confronto afirmando que seus acarajs representam a tradio religiosa afro-brasileira logo, negra e africana, de onde surgiram os bolinhos e que, portanto, o sentido de pureza com significado de autenticidade lhes pertenceria.

Comer um bolinho de uma baiana de Jesus ou dos Orixs faria realmente alguma diferena? A distino certamente foi produzida no prprio consumo da iguaria. Se para o transeunte comum, distante das contendas, mais vale a qualidade do produto, se est crocante ou no, se o dend estava muito usado, etc. para outros seria fatal consumir um acaraj que eventualmente foi feito pelas mos de uma filha-de-santo. Assim, no consumo que focalizo a construo das representaes de tradio e autenticidade que permeiam o debate. O consumo de acaraj ganhou dimenses polticas, alimentando a fome de identidades. a antropofagia cultural, a canibalizao dos costumes, em que se alimenta o corpo e o esprito errante que busca alimentos culturais, agora com selos que atribuem e ratificam certos valores. Apreciados pois, dentro de uma lgica especfica, o consumo serve na atualidade para pensar, agente mediador, produz interaes, como afirma Canclini.Visitei algumas bancas de acaraj em Salvador entre os anos de 2005 e 2007. E habitualmente venho comendo e conversando beira de bancas de acaraj por onde passo. Era com imenso orgulho que as baianas me explicavam que tinham fregueses habituais desde quando abriram seu ponto, algumas h 20 anos. Ainda que no haja restries s bancas por frequentadores especificamente por conta de sua opo religiosa, a quituteira comentou que muitos evanglicos preferiam comer o acaraj produzido pelas evanglicas.

A produo da comida e a crena religiosa aparecem interligadas sugerindo a importncia no somente do que se come, mas como e onde se come. Podemos incluir aqui tambm quem prepara o que se come. Recordo de uma velha lenda publicada num peridico no perodo ps-escravista, ainda no XIX. A matria alarmava para o fato de uma antiga escrava vender com sucesso seus pastis de carne. Seu sucesso incomodou. Sem demora, associaram sua venda prtica de feitiaria. Na disputa pelas vendas dos acarajs so muitas as queixas de que as baianas do candombl utilizam como recurso de vendas a magia.

Ainda que as bancas de acaraj no estampem em cartazes o pertencimento religioso de sua vendedora, este um fator que, aparentemente, seleciona os fregueses mais habituais. Algumas barracas evanglicas mantm o rdio ligado em emissoras crists. Por outro lado, aquelas que fazem seus votos de pertencimento ao candombl deixam mostra suas ervas ou outros signos de pertencimento.O rdio e as ervas nestes casos, so representantes de uma esfera de comunicao, geradores de significao para a comensalidade. Expressam as virtudes patrimonialisticas em questo. Patrimnio da pureza, de Cristo ou do candolbl. Anuncia-se assim as conformidades com as expresses religiosas que, energeticamente se pe em disputa pela banca examinadora e contestadora dos significados afins de pureza e legitimidade. Os adereos dispostos na venda so extremamente eficazes na formao do pblico consumidor, dentro deste quadro geral de contendas.

Utilizando como referncia as palavras do deputado e pastor Jos de Arimatia descritas acima, de que o acaraj de Cristo seria mais puro em oposio ao acaraj feito por gente que incorpora anjos decados, que, neste sentido, poderia ser considerado impuro. Observa-se que os dois grupos proferem a lgica da pureza, como matria esotrica, advinda da graadas foras, respectivamente, de Jeov ou o Ax de Oxal. Deste modo, nos dois casos, o consumo do quitute traz consigo a aquisio tambm de uma certa ddiva dos deuses.

Alm do recheio de camares, salada e pimenta, a produo do acaraj recebe o incremento de significaes sociais importantes para os consumidores. Consumir acaraj de uma baiana e no de outra no significa propriamente comer um tomate menos fresco mas ingerir tambm sua popularidade e/ou tradio. Algumas baianas do candombl foram amparadas por intelectuais, polticos e artistas que colaboraram para aumentar o prestgio de suas quituteiras. Jorge Amado, no livro, Bahia de todos os Santos, fala de Vitorina, que fritava seus acarajs na porta do bar Anjo azul, na rua do Cabea; de Damsia da Conceio, em frente Escola de Belas Artes; de Quitria de Brito, na Baixa dos Sapateiros e de Romlia, mulher de mestre Pastinha, que vendia seus bolinhos no Pelourinho. Dinha uma das famosas baianas afirmou ter sido importante suas amizades na ampliao de seus negcios: Conheci doutor Scrates, doutor Diocleciano, doutor Wilson Lins, Jorge Amado. Desde quando Nizan comeou na publicidade foi me ajudando.Conheci Gil, Caetano e Oliveto.

Amizade com publicitrios famosos pode trazer visibilidade e fama, mas de modo geral as amizades com polticos e empresrios locais garante a manuteno de um certo ponto de venda e linhas de crdito nos bancos. Foi assim tambm com a baiana dona Chica, de 66 anos, que em sua banca conheceu gerentes de banco, advogados e polticos como Paulo Souto, Otto Alencar, Joo Durval, Antnio Carlos Magalhes, Roberto Santos e Manoel de Castro. Seus fregueses tornaram-se amigos influentes na gerao de possibilidades de solidicao e ampliao de seus negcios.

Com tais relaes de amizade, a propaganda passou a ser a alma do negcio. A complexificao das relaes de produo-venda atuais alterou as novas formas de negociar, exigindo uma srie de cursos e relaes de conhecimento e poder, estrutura de venda maior do que os prescritos pelos ritos religiosos tradicionais, que eram, anteriormente, a alma do negcio. Atualmente, existem inmeras formas de produo na escala comercial dos bolinhos. Ainda que tenha espao para diferentes formas de explorao do comrcio deste quitute, servido em buffets, em bancas, restaurantes, dentre outros. O cenrio deste movimento comercial permeado pela expresso religiosa . Edvaldo, o baiano de Jesus, e sua esposa Valciane, so responsveis pela propaganda de seu produto, vendem comida tpica baiana na beira do Canal do Itajur, em Cabo Frio (Rio de Janeiro), e apresentam o acaraj em trs tamanhos: Big, Normal e Infantil. Suas vendas so atradas pelo cordo: acaraj de Jesus. Os conflitos se intensificam, baianas evanglicas acusam as baianas do candombl de produzirem o acaraj do diabo, provocando a ira do povo de santo. Djalma Campos Teixeira, pai-de-santo, radicalmente tradicionalista, reforando a idia de propriedade e pertencimento do quitute sua tradio religiosa: Que os evanglicos vendam cachorro-quente ou milho, mas no acaraj. Se consideram o acaraj comida do demnio, por que esto ansiosos por vende-lo? 42.

As baianas do Candombl apregoam que, se o acaraj mesmo comida do diabo, as evanglicas no deveriam vend-lo, dizem, ainda, que muitas vendedoras evanglicas estariam sendo subvencionadas por suas igrejas para que vendessem o produto a um preo muito abaixo do custo, visando retirar do mercado as seguidoras do candombl. Ttica esta utilizada como estratgia pelos comerciantes chineses com seus negcios de R$ 1,99 no Rio de janeiro43. E por falar em preo, esta uma guerra parte. O quitute pode ser comprado por um real, mas sem camaro.Como definir o preo do quitute? Quanto vale o acaraj? O que determina seu preo? O valor refletiria o embate religioso? Se assim for qual teria o mais alto valor? O acaraj de Jesus? Ou o acaraj de Ians, que a dona do fogo que o prepara? Pensando a comida como mercadoria, podemos tentar determinar hipoteticamente o seu valor atravs da quantidade de ingredientes gastos e o preo pago por eles, ao qual, adicionamos o trabalho humano despendido em tal funo. Mas, ainda assim, o que determina seu preo? O que faz um acaraj custar R$ 3,00 e outro R$ 4,00? Outros chegam a ser vendido por R$ 7,0044! Estaria anexado um outro valor que no computamos, alm do material gasto na produo e da mo-de-obra? O valor simblico eleva consideravelmente os preos. O valor social refere-se ao processo de atribuio de significados pelos produtores e de reconhecimento destes pelos consumidores. Ento, a variao no preo seria determinada pela apresentao do selo, que demonstra a origem: genuinamente tradicional. No entanto, o que seria esta tradio? Reforo de identidades comunais religiosas, de afinidades tnicas ou de linhagens familiares?

Na disputa pela venda legtima da comida v-se ataques e contra-ataques entre as vendedoras. Parte dos evanglicos acusa o vnculo com o candombl o que tornaria impura a comida, sob sua tica. O que teria num acaraj da baiana do candombl alm de feijo fradinho, cebola, sal, pimenta e dend? Segundo as crticas estaria no corpo, que emana a comunho com os orixs, sendo ele um corpo que incorpora e, conseqentemente, corporifica todos os significados religiosos, seja de um modo positivo ou negativo. Assim as mos que preparam a comida esto ligada metafisicamente forma final.A comida votiva, este conhecimento compartilhado por todos os grupos produtores e consumidores do acaraj. Isto rende para ambos o mesmo valor: da africanidade, que se entrepe para alm da usual produo, ou seja, ainda que existam conflitos no aspecto da produo, sua origem determinante na produo de um significado maior. A origem aqui deixa de ser propriamente a comida que se oferta para tornar-se a comida de referncia identitria. Junto a isto est certamente o valor da baianidade entreposta sobre toda a venda, dentro e fora da Bahia, pois em Parati, em Ipanema ou em Rio Branco, no Acre, o selo da baianidade uma referncia consolidada, enquanto dentro do seu territrio, a diviso religiosa segue como marca de legitimidade e dom

Neste embate, costuma-se dizer a respeito da tradiocomo algo que est vinculado a um sentido de propriedade particular, um bem inalienvel. Ao estabelecer isto como um valor, empreende-se a conduta da alienao. Aliena-se o vigoroso processo de intercesses de condutas e valores prprios aos grupos sociais, que mutuamente so influenciados pela passagem do tempo. Diz-se que a ampliao das bancas com mensagens evanglicas e que anunciam a venda do Acaraj de Jesus, seria uma transfigurao cultural, uma apropriao da cultura dos outros.

Mas afinal, seria este o acaraj tradicional? Quem colocou grife no acaraj45? Quem tornou os bolinhos famosos e ficou famoso por causa dele? Romlia, Vitorina, Damsia, Quitria? Dona Chica, na Pituba? Cira, em Itapu? Dinha, no Rio Vermelho? Dad? Regina, na Graa? Dona Ivone, no Bonfim? Neinha nas Mercs? A Claudia em Niteri, no Rio de Janeiro?8 Tradio: autenticamente de quem a procura?A cantiga exalta: Quando eu for para a Bahia e experimentar o que a baiana tem talvez eu vire um baiano tambm

. E aproximadamente desta forma que o monumento ao acaraj se constri, nesta lida que institui lugares de baianidade, atribuindo valores invocadores de passados. Assim, com a possibilidade de experimentar atravs do paladar o que a baiana tem em seu tabuleiro que se vivencia e registra a construo de um certo tempo, seus significados e suas contradies. Neste tempo-tradio tradio est a grife do acaraj, seu valor social. Quem lhe atribui tal valor? As baianas? Quais? So quase quatro mil associadas e tantas outras fora dos cadastros oficiais. As diversas associaes que reclamam em seus nomes a dita autenticidade? Seria a poltica de incentivo preservao das manifestaes populares? Poderia ser o consumo de massa de um turismo cultural? Ou qui o prprio percurso da mercadoria com sua peculiar trajetria terreiro-banca?

O consumo do acaraj nos termos aqui apresentados, surge no contexto religioso em que derivado de um sacrifcio ritual, portanto vinculado a uma identidade especfica; tornando-se referncia de identidade social baiana, revelando-se como elemento pertinente de construo identitria que cabia num amplo sistema de significao cultural. As diferentes apropriaes e usos permeiam o campo religioso e dele extrapola gerando reflexes sobre o mercado e seu consumo. A cultura aqui se manifesta como fonte inesgotvel de articulao de temas, eventos, prticas e valores.

A iguaria atualizada aos padres comerciais contemporneos lgica do mercado global. A etiqueta indicando a procedncia valoriza de sobremaneira o produto, mas convive com a sua stantartizao como a produo da mistura que pode ser feita no microondas, o que poderia ser considerado uma agresso aos preceitos da tradio. O mesmo ocorre com os restaurantes de comida fast food, que vendem o acaraj ou os supermercados, ambos alvo de crticas por parte dos tradicionalistas, ao qual o verdadeiro sabor deve ser associado s bancas de rua e despachadas pelas mulheres vestidas moda baiana. Em nossa era, convive-se com o antagonismo dos avanos tecnolgicos, que aproximam culturas e entendimentos sobre as mesmas. Aps quase um sculo de estudos antropolgicos que apresentaram a cultura como dinmica pretende-se no s preserva-las, mas reserva-las de alteraes. Seguindo a lgica da preservao, o acaraj no deveria ser vendido, se for mantida a regra da ancestralidade. Seguindo a anlise de Canclini, destaco o evento das dissolues das mono-identidades como importante referncia para pensarmos a construo da tradio do acaraj. Uma poltica voltada para a construo de uma unidade nacional teria suprimido as tradies dispersas de etnias e regies para exp-las harmonicamente. O acaraj foi utilizado como smbolo de uma tradio cultural num momento histrico de institucionalizao da identidade nacional, a dcada de 1940. Este no foi o nico fator que determinou o sentido de tradio. O alimento de origem ritual j era tratado como suporte de uma tradio religiosa. Ser alado categoria de smbolo ampliou seu significado e lhes foi atribudo outros valores, como por exemplo, o recente acaraj de Jesus, demonstrando que um bem dinmico e passvel apropriaes igualmente legitimas, sem ser por isso considerado como algo que o afasta de sua essncia afro.A produo por outros grupos, sem vnculos com o Candombl, inseriu novos sentidos ao contexto cultural predominantemente afro-brasileiro vale destacar que na Bahia boa parte das lembranas feitas para turistas fazem meno afro-brasilidade: capoeiras e baianas esto nas pinturas e diferentes objetos venda. Entretanto, os signos de baianidade esto vinculados africandade, que vetor de significados na grife do acaraj. Porm, da mesma forma que o bolinho serviu ao sustento de famlias de Jesus, de santo e de tantas outras, serve ao mercado, gerando riquezas, impostos, associaes comerciais, burocracias, gerenciamentos, empregos e identidades, dentre outras tecituras da rede que o comercializa.A permanncia no tempo, que gera a tradio, estaria neste sentido, presente no consumo do acaraj por pessoas de diferentes credos h dcadas. Esta dinmica sugere uma prtica, um fazer que est em ao, conceito que se transforma no uso cotidiano. Compreende-se que a receita no era um mistrio, trancado a sete chaves. Ao contrrio, revistas, jornais e livros dedicados a receitas regionais divulgam o modo de preparo por todo o pas. Aprendida a receita, os bolinhos foram consumidos em festas, reunies, lanches e ilustraram a vida de diversos sujeitos. Estes, por sua vez, consomem e reproduzem o acaraj acreditando que seguem suas tradies ou preferncias gastronmicas.

Distante do tempo dos piles de pedra que amassavam os feijes deixados de molho durante um dia inteiro as mulheres no vendem mais os bolinhos como forma de arrecadar dinheiro para cumprir com suas obrigaes religiosas. A produo artesanal no est voltada somente para agradar aos deuses, aqueles que em princpio gozavam das prioridades no consumo. Talvez pouqussimas pessoas mantenham o ritual religioso na produo do acaraj fora do consumo ritual, amassando, por exemplo o feijo, em pilo de pedra. Pode-se encontrar o acaraj em p, sendo preparado somente com a adio de gua, produto que se contrape tentativa de implementar regras rituais para a venda do quitute com o objetivo de manter a tradio.A presena masculina nas bancas, j tolerada e, em algumas situes comemorada. H tambm uma exignci ano padro das barracas que foge ao simples tabuleiro coberto por uma manta alva: a caixa de madeira e vidro e os utenslios so de inox e, se possvel, uniformemente indicam uma marca especfica de panelas. Pode ficar de fora tambm da lista da tradio a oferenda de trs acarajs para o santo do dia. Estas inovaes nos trazem as reflexes sobre o sentido de manuteno da tradio. Os novos costumes indicam a normatizao de um comportamento antes singular, vivido e experimentado por religiosas, agora modelados em nome da preservao de um patrimnio pblico, e que se pressupe haja a preservao de um saber verdadeiro, que se materializa num fazer. Este saber fazer se materializaria muito mais nas formas do que propriamente no produto, da as exigncias estruturais, dentre elas a vestimenta. A vestimenta anunciam a tradio e, conseqentemente, para alguns, afiliao religiosa, pois se compreende que a baiana de acaraj um smbolo e assim deve ser preservado. Neste sentido, atravs das regras a serem cumpridas para ser considerada baiana, ser candomblecista e vivenciar os valores da religio, dentro e fora de seu circuito, pode virar mero adereo para atrair as vendas. Por outro lado, as vendedoras crists repudiam tal formalizao dizendo que a vestimenta parte de uma fantasia. A busca pela legitimao do produto atravs do selo da tradio pode gerar inmeras fantasias, reinventando novos modelos de tradiocomo descreve o clebre historiador Eric Hobsbawn (1997). na informalidade do cotidiano, na arte de saber fazer, digo, tanto do preparo quanto na comercializao do produto, que se indicam as formas da manuteno e criao da tradio. Evidenciar ou esconder um pertencimento religioso um dos mecanismos que permitem a uma baiana manter sua clientela. Mas est posto que sua origem nas tradies religiosas afro-brasileiras determina a lgica do fazer e do consumir.Finalmente chegamos na ponta do fio que guia Ariadne pelo tortuoso labirinto, aquele que permite encontrar a sada. O fio que guia, que orienta e movimenta este mercado o consumo. O lucro dele derivado imprescindvel para compreender toda esta polmica por trs da cartografia da tradio. . So centenas de pessoas, sobretudo de mulheres, que sobrevivem devido venda do acaraj. neste consumo multifacetado, por pessoas de diferentes credos e ocupaes que se encontra a reflexo sobre tradio, ou melhor, a tradio que fornece elementos para a grife do acaraj.Vale ressaltar que estes consumidores so, igualmente propagadores das lgicas que envolvem o consumo. Na Bahia o quitute consumido cotidianamente como complemento s outras refeies. Com a dispora nordestina nas ltimas dcadas para diversas regies do Brasil, os bolinhos caram no gosto da populao. neste cair no gosto que reside o mistrio da tradio, pois acompanha sua venda. Junto propaganda do acaraj de tradio est a degustao cultural, quando o consumidor canibaliza seus significados, junto com a pimenta e o dend. Este consumo cultural relevante na disputa, afinal constatamos o prestgio do quitute made in Bahia, e em especial os produzidos e vendidos por algumas baianas originais, fora do seu habitat.

No consumo moderno h uma forte relao com o hedonismo. Para Campbell (2001) ele fruto de escolhas criativas e autodirigidas, guiadas, sobretudo, por tendncias romnticas que indicam valores do bom, verdadeiro e belo, que proporcionariam tanto a legitimao quanto a motivao necessria ao consumo. O autor indica ainda que a busca pela tradio revelaria tal romantismo, que fundamentaria o sentido de pureza e de autenticidade como forma oposta ao da produo da cultura de massa, sem identidades especficas. Deste modo, creio que a esttica romntica acompanha o consumo do acaraj, contribuindo para a ao imaginativa deste alimento recheado de significados.

Por fim, alm dos mecanismos de produo e venda que esto subliminarmente apresentados atravs da produo do quitute, vimos seu consumo que, para alm do contexto religioso, comer ou no comer o acaraj de Jesus, por exemplo, est a canibalizao cultural. Comer um ato social e alimentar-se de comida tpica possibilita, em parte, pertencer aquele grupo. Comer acaraj, na perspectiva afro-brasileira, correr o risco de, por instantes, tal como o consumo do baiacu por japoneses, saborear um aperitivo dos deuses afro-brasileiros e qui deles assemelhar-se momentaneamente. Fino equilbrio que se encontra nos sonhos e fantasias que so despertos na subjetividade do consumo moderno.

Falta este dado

Esto faltando.

Favor rever, se uma citao indireta, est errada a maneira que foi feita.

Se algumaobservao, deveria ser passada em NOTA DE FIM DE TEXTO, cf. as normas da revista.

Falta o ano e a pgina da publicao e da citao.

Falta citar corretamente. Aqui citao direta.

Falta citar corretamente. No est citado onde esta orao foi encontrada.

PROFA. ROGRIA H UM DESCOMPASSO NAS NOTAS DE FINAL DE TEXTO. OBSERVE!

DIZER A ORIGEM DA CITAO, ano, pgina ou informao verbal?

A citao no est referenciada corretamente.

A citao no est referenciada corretamente. Favor ajust-la.

Falta a pgina.

Tem que ir para a Referencia do final do texto e no Nota.

Aqui uma citao, se for no est referenciada.

A nota d a entender que uma citao. Por gentileza porofa. Rogria veja isto.

Quando e onde Dinha disse isto? Por gentileza referenciar.

Aqui uma citao indireta , pois, a autora diz que a baiana Chica ... Referenciar corretamente.

Qual site. indispensvel que se referencie

Falta referenciar.

DE quem, onde, quando, em que pgina. Mesmo sendo 4 palavras, tem que ser referenciadas.

Tem que ser referenciado, aqui texto cientfico.

citao direta sem referenciar aps a citao e no final do texto em REFERNCIAS.

Referenciar, est incorreto. Faltam dados at na Nota de final de texto.

Referenciar.

Referenciar corretamente. Ver nOTA est com informaes incompletas.

Notas

Venho estudando a construo das representaes sociais perspectivado em smbolos religiosos como a escrava Anastcia (2001) e os Pretos-velhos (2006)de personagens religiosos. No mestrado em Histria foi estudado o caso da Escrava Anastcia, dissertao defendida na UFF em 2001. No doutorado em Antropologia foram estudados os Preto-velhos, entidades comumente devotadas na umbanda, tese defendida em dezembro de 2007 na UFRJ.

Recentemente, em junho de 2009, foi inaugurado o Museu em Salvador.

2 Recentemente, em junho de 2009, foi inaugurado o Museu em Salvador.

Recentemente, em junho de 2009, foi inaugurado o Museu em Salvador.

3 Vivaldo da Costa Lima foi um dos pioneiros do estudo antropolgico da alimentao no Brasil, relacionando a comida identidade. Dentre suas investigaes, realizou um estudo sobre o acaraj. Cf. As dietas africanas no sistema alimentar brasileiro. Salvador PEA, 1997.

Vivaldo da Costa Lima foi um dos pioneiros do estudo antropolgico da alimentao no Brasil, relacionando a comida identidade. Dentre suas investigaes, realizou um estudo sobre o acaraj. Cf. As dietas africanas no sistema alimentar brasileiro. Salvador PEA, 1997.

4 Dentre tantas matrias sobre o tema, ver: Faz bem ou faz mal?. Revista poca, 24/03/2006, edio no. 4., discorre sobre viles como o ovo, o chocolate, a gordura, o caf, que em alternados momentos so indicados ou contra-indicados para a sade. A moda, indica a alimentao germinada na matria de capa da Revista Domingo! do Jornal O Globo, em 17/08/2008, anunciando que O suco de luz do sol, chega cidade e cativa consumidores famosos..

Dentre tantas matrias sobre o tema, ver: Faz bem ou faz mal?. Revista poca, 24/03/2006, edio no 4. Discorre sobre viles como o ovo, o chocolate, a gordura, o caf, que em alternados momentos so indicados ou contra-indicados para a sade. A moda indica a alimentao germinada na matria de capa da Revista Domingo, Jornal O Globo, em 17/08/2008. O suco de luz do sol, chega cidade e cativa consumidores famosos, esta foi a chamada de uma matria on line: HYPERLINK "http://g1.globo.com/Noticias/Rio/.html" http://g1.globo.com/Noticias/Rio/.html. Propaga-se que o suco seria oxignio lquido.

4 A Igreja Catlica classifica como gula o indivduo que consome alimentos e bebidas acima de sua capacidade em detrimento de outros irmos, no observando o dom da partilha. Ao praticante deste pecado, chamamos guloso, in: WWW.grupounidospelafe.hpg.ig.com.br

5 Alma e corpo se fundem num s sentido, significando assim a mimese expressa no dito, o que o corpo sente a alma padece. Por tal motivo os pecados da carne ao considerados como penas alma. Santo Agostinho sistematizou as mtuas influncias sofridas por esta dualidade do ser em uma srie de reflexes intitulada Confisses. A gula um desses percursos que levam a alma perdio pelo corpo.

(Santo Agostinho, Confisses, XXXI, 43)

6 O mercado editorial revelador dos costumes e comportamentos atuais relacionados ao corpo e a alimentao. Mensalmente dezenas de revistas apresentam dicas de cuidados que devem ser mantidos com regularidade para a aquisio de um perfil ideal de corpo. Zamboni (1997) destaca em seu estudo que os temas apresentados em tais publicaes so compreendidas coletivamente como divulgadores de novos conhecimentos, muitas vezes baseados em pesquisas cientficas, criando assim um respaldo para os temas abordados.

O mercado editorial revelador dos costumes e comportamentos atuais relacionados ao corpo e a alimentao. Mensalmente dezenas de revistas apresentam dicas de cuidados que devem ser mantidos com regularidade para a aquisio de um perfil ideal de corpo. Zamboni (1997) destaca em seu estudo que os temas apresentados em tais publicaes so compreendidas coletivamente como divulgadores de novos conhecimentos, muitas vezes baseados em pesquisas cientficas, criando assim um respaldo para os temas abordados.

7 Sobre o conceito de distino, ver Pierre Bourdieu (2007) --

Sobre o conceito de distino, ver Pierre Bourdieu (2007) --

8 Compreende-se atualmente que uma pessoa considerada gorda no cui de si. Deste modo, so tratados como culpados pelo distrbio do qual seu corpo representante e considerados fora dos modernos padres estticos (Santanna, 1995).

2 Compreende-se que uma pessoa gorda no se cuida. Deste modo so tratados como culpados pelo distrbio que representa ao serem considerados fora dos modernos padres estticos (Santanna, 1995).

9 A Reciprocidade, ato de dar e receber, segundo Marcel Mauss produz alianas, gerando espcie de pacto em que se geram mtuas ddivas. So inmeras as proposies das relaes de reciprocidade: presentes, festas, esmolas, impostos, etc. Todos aspectos geradores de sociabilidades.

A Reciproicidade, ato de dar e receber, segundo Marcel Mauss produz alianas, gerando espcie de pacto em que se geram mtuas ddivas. So inmeras as proposies das relaes de reciprocidade: presentes, festas, esmolas, impostos, etc. Todos aspectos geradores de sociabilidades.

103 Daniel Miller elaborou em seu texto A Teoria das Compras uma anlise em que as compras para consumo imediato-cotidiano estavam relacionadas s comidas que proporcionavam prazer aos membros de unidades familiares. Alm das mercadorias compradas na tentativa de agradar individualmente os familiares, geralmente, as mulheres que saam s compras reservavam pequenos agrados para si, os presentinhos que podiam ser chocolates, biscoitos ou bebidas de sua preferncia.

11 A noo de Habitus, utilizada por Pierre Bourdieu, remete idia de um imperativo da estrutura sobre a ao do sujeito, que a incorpora na prtica nas formas de ser, pensar e agir.

Durante as olimpadas de 2008, sediada na China, os veculos de comunicao, rdio, jornal e televiso, propagaram as particularidades alimentares daquele povo neste sentido extico, muitas vezes tomando o depoimento do jornalista, que apresentava sua dificuldade em acostumar-se com a cultura alimentar local;, sendo muitas vezes salvo pelos restaurantes ocidentais que se multiplicaram atender a demanda do evento.

134 Marcos Alvito, no livro As cores de Acari (1999), comenta que a comida desejada por muitos moradores em Acari era Lasanha. Em diferentes momentos pude confirmar a preferncia, uUma antiga empregada que trabalhou na minha casa deu de presente para sua me, ndo dia das mes, para a sua me um uma lasanha congelada.

145 Um samba do A msica recente do famoso cantor de pagodes e sambas cantor, Zeca Pagodinho reflete este imaginrio:, brinca: Voc sabe o que caviar? Eu no vi, no conheo, eu s ouo falar.

Pesquisa realizada em duas favelas de So Paulo contatou o uso da farinha de milho, fub, na alimentao da populao local, in: Marie-Caroline Saglio-Yatzimirsky, Comida dos favelados, in: Estudos Avanados, vol 20, n 58, 2006.

16 6 Bater laje usualmente a nomeao de um multiro de obras especfico, aquele que ocorre entre amigos e parentes, que visa auxiliar na construo da casao modo . Costuma-se convidarcomo se fala quando uma pessoa convida amigos, parentes e/ou vizsinhos para colocar a cobertura de uma casa. A laje uma, mistura de vergalho, massa de cimento pedra e areia e tijolos. Geralmente, o anfitrio prepara um prato substancioso para os trabalhadores como o mocot, um cozido, uma rabada, o angu ou outros pratos que sejam igualmente econmicostambm econmicos, pois, afinal preciso poupar o dinheiro para o trmino da casa. Esta expresso de companheirismo, camaradagem e certa solidariedade gera um pacto entre seus membrosparticipantes, para futuras de participaes noutroso no empreendimentos que forem fazer futuramente,, ou seja, no se nega um convite para bater laje, pois voc pode precisar da mo de obra dos amigos num futuro prximo.

17 8A polenta, alimento a base de milho, tambm uma comida ritual; pela cor amarela, smbolo de Oxum, relaciona-se o alimento a este Orix no Rio Grande do Sul. Em relao s vsceras animais, elas foram objetos da observao de Marshall Sahlins quando refletiu sobre a influncia da cultura nas preferncias dos alimentos e sua classificao em comestveis e no comestveis. Estas partes seriam menos apreciadas por pessoas de padro financeiro mais alto; as carnes teriam mais do que um valor estabelecido pela quantidade um valor social, ou seja, apesar de haver uma s lngua num animal esta no teria um preo mais caro por sua raridade, mas um valor bem menor por ser considerada uma parte menos apreciada. (Sahlins,2003,175-176).

A camarinha um espao destinado feitura dos filhos-de-santo, dentre outros rituais privados do candombl.

199 Por exemplo, as iniciadas de Ians no podem comer caranguejo ou abbora; as pessoas que tm Oxum como Orix principal no deve comer peixe sem escama, principalmente o tubaro (LODY: 1998, p.40).

O benefcio que se quer alcanar, como a melhora da sade pode ser mensurvel? A respeito do sentido do dinheiro e do valor dos servios espirituais ver Batista (2007), Os deuses vendem quando do: os sentidos do dinheiro nas relaes de troca no candombl, in Mana, vol. 13 no. 1.

2110 A partilha de partes que no foram destinadas divindade faz parte do ritual do sacrifcio. Ver: Mauss, Marcel (2003).

229 Oficina de Cultura Popular, por Raul Lody, in: www.marcha.com.br

Vilhena, Luis. A Bahia do sc. XVIII, pp 130-1.

bastante comum vermos pelas ruas de Salvador turistas pedindo para serem fotografados ao lado das baianas do acaraj. Algumas fazem disso o seu ofcio. H lojas que mantm uma mulher carcterizada nos trajes tpicos como chamariz para suas vendas.

2512 Escravos de ganho eram aqueles que vendiam nas ruas, atravs de um comrcio ambulante ou nos tabuleiros, o excedente de uma pequena produo caseira de leite, ovos, aves, frutas, verduras e legumes ou produes como diversos doces. Tambm vendiam servio como entrega de jornais, carregadores de peas, de gua ou detritos excrementais que, no caso do Rio de Janeiro, eram jogados nas praias ou rios mais prximos.

2613 LANDES, Ruth. Cidade das Mulheres. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002.

Correio da Bahia, op. cit

27 Conferir em: http://soteropolitanosculturaafro.wordpress.com/2007/10/30/acara/

Correio da Bahia, 23 de janeiro de 2003.

HYPERLINK "http://www.estado.estadao.com.br/editoriais/2001/04/01/eco079.html" http://www.estado.estadao.com.br/editoriais/2001/04/01/eco079.html

15 Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2001/04/01/eco079.html

30 16 Correio da Bahia, 27 de janeiro de 2003., c

3117 idem.

3218 Observao mais que participante: Na feira Gourmet ocorrido em maio de 2003 no cais do porto do Rio de Janeiro o stand baiano era um dos mais procurados, um acaraj que na rua geralmente pagamos R$ 3,50 custava R$ 5,00 a degustao, ou seja, de tamanho bem pequenino somente para apreciar o sabor da culinria baiana.

3319 Dad, a rainha da cozinha baiana, abriu um restaurante no evento de Braslia. Correio Brasiliense, 10 de novembro de 2000.

Consultar: HYPERLINK "http://www.aquinapraia.com.br/arnold/" \t "_top" www.aquinapraia.com.br/arnold/

20 Foi produzido inicialmente pela baiana Nira, em Camaari. Ver: Correio da Bahia, 27 de janeiro de 2003.

3523 Apesar de ser considerado um sacrilgio os homens participam desse comrcio lucrativo. Um bom exemplo de perfil masculino seria o professor de Educao Fsica, mestrando da Ufba, Jos Antnio Vieira, 37 anos, que junto com o irmo aprendeu o ofcio enquanto ajudava a me, atualmente possui trs pontos de venda dentro de shopping. Ver: Correio da Bahia, 27 de Janeiro de 2003.

24 Jornal da Igreja Crist Manancial de Vida Porto Alegre Porto Alegre/RS. Em 23/06/2002.

3625 O IPHAN foi criado em 1937, incio da ditadura de Getlio Vargas, no mbito do ento Ministrio da Educao e Sade de Gustavo Capanema. O rgo contribuiu para unificar prticas culturais moldando-as ao sentido de tradies nacionais.

3726 O trabalho de Alexandre Corra faz menes a respeito da forma desagregadora como tratado o patrimnio imaterial, alerta para a necessidade de pensar o patrimnio como uma forma de integrar o homem sua produo: uma re-integrao bio-cultural, na qual o homem, a vida e todos os seres so colocados no mesmo plano de ao memorial. ConferirIn: CORRA,: Alexandre. Mudanas no paradigma preservacionista clssico: Reflexes sobre patrimnio cultural e memria tnica (resumo de conferncia). Outras referncias: Jornal O Estado, 10 de agosto de 2000 e 31 de outubro de 2001; site Jus Naveganti www1.jus.com.br. BENJAMIN, Roberto (Presidente da Comisso Nacional de Folclore). O Ministrio Pblico e a Preservao dos Bens Imateriais.

Canclini, Nestor. Consumidores e Cidados, p. 51-52.

No Rio de Janeiro,(especialmente na banca da Cobal, em Botafogo e nas barracas da feira de Ipanema e, em Niteri, no Campo de So Bento.

Conferir: http://www.overmundo.com.br/overblog/acara-parte-2

Idem blog Overmundo.

28Foi mantida a grafia original.

4229 Larry Rohter (The New York Times). Baianas do acaraj, entre os orixs e o evangelho, in: O Estado de So Paulo, Cidades, 02 de Dezembro de 2001.

42

43 Ver Neiva Cunha e Pedro Paulo Mello em seus estudos sobre o comrcio popular no Rio de Janeiro, em especial: Reinventando etnicidades e ambincias urbanas num mercado popular carioca. http://www.ess.ufrj.br/site_coloquio/mesa4_04.pdf

30 O Estado de S. Paulo, 3 de junho de 1999.

31 O SENAC ofereceu cursos para as baianas do acaraj, Curso de Segurana Alimentar, pois testes laboratoriais induzidos pela pesquisadora Eleonor Mota, chefe do Departamento de Farmcia e tecnolgica e Administrativa da Faculdade de Farmcia da UFBA, comprovaram que o dend reutilizado pelas baianas prejudicavam a qualidade do produto. Outra pesquisa mostrou a presena de coliformes fecais nos bolinhos. Cf. Cincias Press, no 134, 15 de agosto de 1995; Boletim Informativo do SENAC, 30 de junho de 2003

44 .Valor do acaraj na Feira de Ipanema, n Rio de Janeiro em 2009.

32 Para anlise de valor de uso/valor de troca/trabalho, ver MARX, Karl. A mercadoria, in: O capital, tomo I, vol.1

45 Crnica de Mrcia Rios: Grife Acaraj, in: www.carnax.com.br

Eu quero Acaraj, msica de Mauricio Masuda. Ver: HYPERLINK "http://www.viuvideos.com/video/Xo-XUApCJ9s/eu-quero-acaraje-mauricio-masuda-original-song" http://www.viuvideos.com/video/Xo-XUApCJ9s/eu-quero-acaraje-mauricio-masuda-original-song

4934 O historiador Eric Hobsbawn define as tradies inventadas como aquelas que buscam estabelecer vnculos com o passado histrico como uma continuidade bastante artificial. O autor define ainda como sendo um conjunto de prticas, normalmente reguladas por regras tcita ou abertamente aceitas; tais prticas de natureza ritual ou simblica, visam inculcar certos valores ou normas de comportamento atravs da repetio, o que implica, automaticamente, uma continuidade com o passado. HOBSBAWM, ric. A Inveno das Tradies, in: HOBSBAWM, ric & RANGER, Terence. A Inveno das Tradies. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 8-9.

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Outros:

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Ofcio das Baianas do Acaraj Dossi IPHAN 6

Jornal O Estado, 10 de agosto de 2000 e 31 de outubro de 2001;

PROFESSORA ROGRIA, por gentileza verificar as notas, pois, esto com a numerao errada. O que est no texto no bate com o que esta no final do texto.

Referncias

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