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Recorde: Revista de História do Esporte Artigo volume 1, número 1, junho de 2008 Silvana Goellner 1 “AS MULHERES FORTES SÃO AQUELAS QUE FAZEM UMA RAÇA FORTE”: ESPORTE, EUGENIA E NACIONALISMO NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX Profa. Dr. Silvana Vilodre Goellner 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre, Brasil [email protected] Recebido em 2 de fevereiro de 2008 Aprovado em 25 de fevereiro de 2008 Resumo Fundamentada na abordagem teórico-metodológica da história cultural e nos estudos de gênero, este artigo discute a importância atribuída ao esporte na política de fortalecimento da população brasileira branca no início do século XX. Evidencia, sobretudo, que para essa política se efetivar foi necessário investir no fortalecimento do corpo feminino, pois segundo os ideais nacionalistas em voga naquele momento, somente um corpo forte poderia gerar uma raça forte. Traduzem-se como fontes primárias desta pesquisa, documentos produzidos neste período, bem como as 88 edições da primeira revista cientifica específica da área da educação física. Através da técnica da análise de conteúdo foi possível compreender que o discurso nacionalista brasileiro, ao buscar o refinamento da raça, fez a apologia da saúde da mulher branca identificando a atividade física como a melhor forma de fortalecê-la e aprimorá-la. Palavras-chave: esporte; eugenia; nacionalismo. Abstract “Strong women are those who make strong race”: sport, eugenics and nationalism in Brazil in the early 20 th century Based on the theoretical-methodological approach of cultural history and in gender studies, this paper discusses the importance given to sports in the domestic policy of strengthening the Brazilian white population in the beginning of the 20 th century. In order to analyze the role occupied by sport in this process, I have analyzed many sources of research, moreover, the 88 issues of the first physical education and 1 . Pesquisadora Produtividade em Pesquisa do CNPq.

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  • Recorde: Revista de Histria do Esporte Artigo volume 1, nmero 1, junho de 2008 Silvana Goellner

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    AS MULHERES FORTES SO AQUELAS QUE FAZEM UMA RAA FORTE: ESPORTE, EUGENIA E NACIONALISMO NO

    BRASIL NO INCIO DO SCULO XX Profa. Dr. Silvana Vilodre Goellner1

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Porto Alegre, Brasil [email protected]

    Recebido em 2 de fevereiro de 2008

    Aprovado em 25 de fevereiro de 2008

    Resumo

    Fundamentada na abordagem terico-metodolgica da histria cultural e nos estudos de gnero, este artigo discute a importncia atribuda ao esporte na poltica de fortalecimento da populao brasileira branca no incio do sculo XX. Evidencia, sobretudo, que para essa poltica se efetivar foi necessrio investir no fortalecimento do corpo feminino, pois segundo os ideais nacionalistas em voga naquele momento, somente um corpo forte poderia gerar uma raa forte. Traduzem-se como fontes primrias desta pesquisa, documentos produzidos neste perodo, bem como as 88 edies da primeira revista cientifica especfica da rea da educao fsica. Atravs da tcnica da anlise de contedo foi possvel compreender que o discurso nacionalista brasileiro, ao buscar o refinamento da raa, fez a apologia da sade da mulher branca identificando a atividade fsica como a melhor forma de fortalec-la e aprimor-la. Palavras-chave: esporte; eugenia; nacionalismo.

    Abstract

    Strong women are those who make strong race: sport, eugenics and nationalism in Brazil in the early 20th century

    Based on the theoretical-methodological approach of cultural history and in gender studies, this paper discusses the importance given to sports in the domestic policy of strengthening the Brazilian white population in the beginning of the 20th century. In order to analyze the role occupied by sport in this process, I have analyzed many sources of research, moreover, the 88 issues of the first physical education and

    1. Pesquisadora Produtividade em Pesquisa do CNPq.

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    sports journal. Making use of the technique of content analysis, it was possible to understand that the Brazilian nationalist discourse, by searching the refinement of the race, defended white beauty, and, therefore, identified womens body as the most important instrument for the obtainment of this, identifying in sports the main means of educating womens body, strengthening it, and perfecting it. Keywords: sport; eugenics; nationalism.

    Introduo

    Nos primeiros anos do sculo XX a populao brasileira era composta,

    majoritariamente, por negros escravos ou descendentes. Essa composio tnica passou

    a ser alvo de diferentes intervenes em nvel nacional cujos objetivos estavam

    direcionados para o refinamento da raa visto que, para as elites brancas, os negros eram

    considerados como seres inferiores. Muitas das aes planejadas para atingir esse

    intento partiam das observaes de autores estrangeiros para quem o Brasil, apesar de

    ser um belo pas, um dos mais belos que existem no mundo conforme apresentao de

    da Reveu de lExposition Universelle por ocasio da Exposio Universal de Paris, em

    1889 (PESAVENTO, 2005), era um pas condenado mestiagem (GOBINEAU, 1874;

    LAPOUGE, 1896; LE BON, 1907).

    Dentre as inmeras aes desenvolvidas em prol do fortalecimento da raa

    branca tais como a vigilncia sobre o casamento inter-racial, a realizao do exame pr-

    nupcial e a esterilizao de doentes, algumas se voltaram para o robustecimento do

    corpo e a potencializao da sade. Dentre elas destacam-se as recomendaes

    contrrias ao uso do fumo e do lcool, prtica sexual intensa e a poucas horas de sono

    bem como as prescries em favor dos banhos de mar, da exposio ao sol, da

    alimentao adequada e da realizao de atividades fsicas (GOELLNER, 2003).

    No que diz respeito s prticas esportivas, desde o final do sculo XVIII existiam

    no Brasil muitas tradies pr-esportivas, como por exemplo, as cavalhadas e jogos. O

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    campo esportivo em seu sentido moderno (BOURDIEU, 1983) desenvolveu-se somente

    a partir das dcadas de 1830/1840 com o surgimento de clubes de remo, turfe e

    atletismo (MELO, 2001; LUCENA, 2001) e, estes eram freqentados pelas elites

    urbanas e brancas. Considerado como carter aristocrtico, familiar e saudvel o esporte

    passa a ser recomendado como uma prtica que possibilita o desenvolvimento orgnico

    e social dos indivduos tornando-os mais fortes e conscientes de seus deveres para com a

    sociedade e a Nao.

    Incorporar esta nova crena nas prticas cotidianas dos brasileiros e constituir de

    forma duradoura uma moral em prol do fortalecimento da Nao compunham o

    imaginrio social dos primeiros anos do sculo XX. Para viabilizar tal intento era

    necessrio investir no equilbrio funcional e morfolgico dos indivduos brancos de

    forma a no retardar, mas tambm no precipitar o seu desenvolvimento orgnico,

    sobretudo daqueles que eram mais fracos. A constituio de uma raa forte se faria

    mediante a eliminao dos sinais de enfraquecimento. Nas palavras de eminente

    intelectual do perodo:

    Se necessrio para o vigor da espcie que todos os imperfeitos sejam destrudos, sobreponhamo-nos natureza no destruindo os imperfeitos com austeridade drica, que mandava lanar ao Taigete as crianas disformes e punia a obesidade como um vicio o que seria deshumano, mas tornando-os perfeitos o que seria altruistico; no eliminando os fracos, o que seria selvagem, mas eliminando-lhes a fraqueza o que dever da sciencia (AZEVEDO, 1920, p. 4)

    A idia de fraqueza no se relacionava somente s questes orgnicas, estava

    tambm, e principalmente, ligada carncia de atributos morais que levavam a

    populao indolncia e ao desnimo. Dentro desta perspectiva, os exerccios fsicos so

    apresentados como um poderoso instrumento modelador das formas e agente de

    ordenao dos corpos que, pela prtica sistemtica, aumentaria o capital-sade da

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    populao. Em funo dessa percepo, o esporte inicia, gradativamente, a adquirir

    importncia no cenrio cultural das cidades e a educao fsica inserida como disciplina

    integrante do plano nacional de educao cuja ao, no interior do contexto escolar,

    deveria desenvolver, ao mximo, as virtudes da raa e as aptides hereditrias de cada

    indivduo. O ensino da depurao racial deveria acontecer desde a infncia pois

    educar as crianas a conhecer os fatores que perturbariam as condies da boa sade em defesa dos interesses da raa, da famlia e da ptria exigia a instalao de dispensrios higinicos, voltados puericultura, em todas as fbricas, bem como a construo, em todas as cidades do pas, de ginsios de educao fsica, facilitando o aperfeioamento fsico e mental das futuras geraes (MONTELEONE, 1929 apud MOTA, 2003, p. 33).

    Advoga-se, ento, em favor de uma educao fsica e esportiva que, pautada por

    um estatuto cientfico e ao mesmo tempo moral, estivesse articulada medicina e s

    normas jurdicas em favor de uma nova ordenao dos corpos, fortalecendo, assim, a raa

    branca ideal imaginrio de um povo ameaado pela mestiagem.

    Baseados na teorizao darwinista de que a atividade fsica atuava no

    fortalecimento orgnico e, portanto, no aprimoramento da espcie, muitos dos discursos

    e prticas que circularam no Brasil do incio do sculo XX mencionavam que o

    refinamento da raa estava diretamente relacionado com o fortalecimento da populao.

    Nesse sentido, no pouparam esforos para criar condies de educar, fortalecer e

    aprimorar o corpo feminino branco, observado como o principal instrumento para

    atingir uma raa branca, representada como superior e perfeita.

    Fundamentao terico-metodolgica

    Fundamentada no aporte terico dos estudos de gnero (SCOTT, 1988;

    BUTTLER, 1990; MESSNER e SABO, 1990; LOURO, 1995) e da histria cultural

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    (HUNT, 1989; LE GOFF, 1998; PESAVENTO, 2004), o objetivo deste artigo analisar

    a importncia atribuda s prticas corporais e esportivas na poltica nacional de

    fortalecimento da populao brasileira na primeira metade do sculo XX. Analisa, mais

    especificamente, diferentes discursos e prticas que, pautados pelos ideais eugnicos e

    nacionalistas em voga naquele momento, apontaram para a necessidade investir no

    aprimoramento do corpo feminino branco como um meio de atingir tal intento.

    Considerando o corpo como uma construo histrica e social (SOARES, 2001;

    GOELLNER, 2005; AZARITO e SOLMON, 2006) sobre o qual se inscrevem marcas

    vinculadas ao feminino e ao masculino, a categoria de gnero utilizada para analisar os

    discursos e prticas que representam a mulher como a clula-mater de uma sociedade

    em processo de regenerao.

    A adoo do gnero como ferramenta terica e analtica justifica-se pela

    possibilidade que oferece de desconstruir a representao naturalizada de que homens e

    mulheres constroem-se masculinos e femininos pelas diferenas corporais e que essas

    diferenas justificam determinadas desigualdades, atribuem funes sociais, determinam

    papis a serem desempenhados por um ou outro sexo (GOELLNER, 2007). Possibilita,

    sobretudo, identificar que os corpos, as gestualidades, as representaes de sade,

    beleza, performance, sexualidade so construes histricas que, em diferentes tempos

    e culturas foram associadas aos homens e/ou as mulheres, produzindo, ainda,

    representaes de masculinidades e feminilidades.

    Considerando que os corpos no se traduzem em matria universalmente

    edificada pelos desgnios da natureza, enfatizo a importncia da utilizao do gnero

    como uma categoria analtica visto que esse conceito importante para perceber os

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    processos pelos quais, no interior de redes de poder2, a diferena biolgica tomada

    para explicar desigualdades sociais gestando, assim, formas de incluso e excluso de

    sujeitos e grupos.

    Vrios outros argumentos poderiam ser utilizados para demarcar a importncia

    dos estudos de gnero no campo da Educao Fsica e do esporte, no apenas nas

    abordagens historiogrficas. No entanto, um deles, por si s, j garante sua existncia: o

    gnero nos constitui, inscreve-se na nossa carne. Isso significa perceber que os corpos

    carregam discursos como parte de seu prprio sangue (BUTLER apud PRINS e

    MEIJER 2002, p.163). Eles, os discursos, se acomodam no corpo e os generificam.

    No caso especfico deste texto, o foco de anlise est centrado nas mulheres

    brancas e na valorizao de uma representao de feminilidade que considera virtuosa a

    mulher que ou se tornar a me de filhos hgidos e fortes.

    A articulao entre gnero e raa3 aqui considerada porque as recomendaes

    em favor da realizao atividades fsicas e esportivas visando aprimorar o corpo

    feminino no so direcionadas para as mulheres brasileiras em geral, mas para um grupo

    especfico: as mulheres brancas. O Brasil dos primeiros anos do sculo XX, ao

    considerar o branco europeu como a referncia tnica a ser perseguida no apenas

    centrou na colorao da pele o principal elemento a classificar as raas como tambm

    investiu na construo de uma identidade racializada cujo objetivo era embranquecer a

    populao.

    2. Poder aqui tomado a partir da teorizao de Michel Foucault (1992) que o percebe como difuso,

    descentralizado e horizontal. 3. Raa e etnia so aqui compreendidas como categorias sociais discursivamente construdas que ao longo da

    histria da humanidade tm sido utilizadas para hierarquizar os sujeitos, considerando-os no apenas diferentes, mas, sobretudo, desiguais (HOOKS, 1992).

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    A opo pela abordagem histrica para subsidiar este artigo est ancorada na

    compreenso de que a vida social inescapavelmente histrica (THORPE, 2006). Razo

    pela qual tempo uma categoria de anlise importante, no apenas para os estudos

    historiogrficos, mas tambm para anlises de cunho sociolgico (ABRAMS, 1980;

    GRIFFIN, 1995), inclusive, no campo da sociologia do esporte (MAGUIRE, 1995;

    THORPE, 2006).

    Para analisar as relaes entre esporte, raa, gnero, eugenia e nacionalismo, no

    contexto brasileiro do incio do sculo XX, foram utilizadas como fontes primrias de

    investigao, diversos documentos produzidos neste perodo tais como: livros

    publicados sobre educao, esportes e educao fsica, manuais mdicos, anais de

    congressos cientficos, publicaes da Sociedade Eugnica de So Paulo alm de uma

    variedade de documentos oficiais produzidos pelo governo brasileiro. Foi considerada,

    ainda, como fonte privilegiada de pesquisa, a Revista Educao Physica - primeiro

    peridico cientifico da rea da educao fsica e do esporte publicado no Brasil, cuja

    circulao se deu no perodo compreendido entre maio de 1932 e setembro de 1945,

    totalizando oitenta e oito edies.

    At o final dos anos 30, a educao fsica brasileira era ainda uma rea muito

    incipiente, no havia escolas de formao de profissionais (surgir apenas em 1939) e o

    saber dos professores geralmente se limitava instruo prtica dos esportes e da

    ginstica. Os esportes, por sua vez, estavam em plena expanso com o surgimento,

    desde o final do sculo XIX, dos clubes recreativos, agremiaes, federaes,

    campeonatos, demonstraes atlticas, clubes de ginstica, parques de lazer e estdios

    esportivos (ALTMANN et alli, 2001).

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    dentro deste cenrio, que a Revista Educao Physica tornou-se um importante

    instrumento para a divulgao das idias eugnicas visto que se configurava como um

    peridico cientfico e pedaggico a instruir os sujeitos que atuavam no campo das

    prticas corporais e esportivas4. Alm disso, foi um meio de divulgao de idias

    nacionalistas uma vez que, desde 1930, vigorava, no Brasil, um governo centralizador

    que culminou com a instaurao de um regime ditatorial (1937-1945). Este governo

    implementou vrias aes ligadas educao fsica e ao esporte, considerados como

    pilares do projeto de engrandecimento da Ptria para o qual se fazia necessrio o

    fortalecimento da populao, a depurao racial e a construo de um sentimento de

    identidade nacional5.

    Como ferramenta metodolgica foi utilizada a anlise de contedo cujos

    documentos foram analisados em separado e, posteriormente, relacionados entre si.

    Desse entrecruzamento entre as diferentes fontes de pesquisa (livros, revistas, manuais

    mdicos, anais de congressos cientficos e documentos oficiais) foram elaboradas

    unidades de significado que possibilitavam melhor compreender como, no incio dos

    anos XX, no Brasil, foram articuladas as representaes de raa e gnero com o esporte

    e com o discurso nacionalista. Entendemos que o esporte um espao generificado, no

    entanto, nossa anlise no se restringe apenas a essa a categoria de anlise. No caso

    especfico deste estudo, a articulao entre gnero e etnia permitiu compreender que o

    4. Em outubro de 1932 vai surgir a Revista brasileira de educao Fsica, publicada pelo Exrcito brasileiro.

    5. Corresponde a este perodo a criao do Instituto Brasileiro de Eugenia (1920); do Ministrio dos

    Negcios da Educao e da Sade Pblica (1931); da Escola de Educao Fsica do Exrcito (1933), da Diviso de Educao Fsica do Departamento Nacional de Educao (1937); da Escola Nacional de Educao Fsica e Desportos da Universidade do Brasil (1939); a instalao da Comisso Nacional de Desportos (1939) e do Conselho Nacional de Desporto (1941). Alm disso, na Constituio Nacional, promulgada em 1937, a Educao Fsica passa a ser uma disciplina curricular obrigatria para todas as instituies de ensino.

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    discurso nacionalista brasileiro buscou a valorizao da beleza branca como uma forma

    de refinamento da raa.

    O Brasil no incio do sculo XX: a branquidade construda

    A escravido no Brasil teve incio com a produo de acar na primeira metade

    do sculo XVI quando os portugueses traziam os negros de suas colnias na frica para

    utilizar como mo-de-obra nos engenhos do Nordeste. Esse sistema ampliou-se para os

    setores da agricultura, pecuria e extrao de minerais em diversos estados da nao

    perdurando at 1888, quando foi abolida. Identificada pela elite branca como

    fundamental para o desenvolvimento da economia nacional, a fora de trabalho dos

    negros sustentava o modelo econmico vigente voltado, predominantemente, para a

    exportao de produtos oriundos da produo dos grandes latifndios. Segundo dados

    publicados pelo governo brasileiro, em 1900, os negros compunham cerca de 60% da

    populao, em um total de, aproximadamente, 14 milhes de habitantes (REIS, 2000).

    No continente americano, foi o pas que mais importou escravos africanos, totalizando

    cerca de 4 milhes de homens, mulheres e crianas, o equivalente a mais de um tero de

    todo comrcio negreiro mundial (REIS, 2000).

    Com o final do regime escravagista, o governo federal adotou uma poltica de

    incentivo imigrao, fundamentalmente de europeus, cujo trabalho assalariado passou

    a substituir a mo-de-obra dos escravos. Entre 1884 e 1933, o Brasil recebeu por volta

    de 4 milhes de imigrantes em sua maioria, portugueses, italianos, alemes e espanhis

    (REIS, 2000) que, primeiramente, atuaram na agricultura e pecuria e, a partir das

    primeiras dcadas do sculo XX, no cenrio urbano, visto que estava iniciando o

    processo da expanso industrial brasileira.

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    O Brasil que se modernizava buscava inspirao na civilizao europia

    ocidental e, diante da ameaa da mestiagem, buscou na cincia elementos para

    justificar a supremacia branca. Neste contexto possvel perceber o quanto a noo de

    raa uma categoria discursiva que historicamente tem operado cultural, poltica e

    simbolicamente em favor dos brancos, que deveriam ser cada vez mais aprimorados

    quanto s suas capacidades fsicas e morais de forma a diferenciarem-se dos negros

    escravos ou dos descendentes destes.

    Assim o era para as elites brasileiras que, identificadas com os europeus,

    buscavam fazer do Brasil uma nao construda a partir de suas referncias polticas,

    culturais e econmicas. A prpria poltica imigratria foi pensada dentro dessa

    perspectiva: atrair imigrantes brancos se traduzia em uma outra estratgia do

    embranquecimento da raa pois, evitar a mestiagem, era uma forma de garantir s

    elites o seu pedigree (MARQUES, 1994, p. 88).

    Nos primeiros anos do sculo XX, a constituio homognea do povo brasileiro

    passou a ser o pilar fundamental de um projeto de humanidade centrado na valorizao

    do corpo gil, viril, saudvel, potente e branco (GOELLNER e FRAGA, 2004). O

    disciplinamento e a crena na transformao da sociedade atravs da padronizao do

    corpo brasileiro se tornaram mais sofisticados ao ganharem contornos cientficos mais

    apurados, cuja referncia primeira era a eugenia movimento poltico-cientfico que

    visava ampliar as qualidades daqueles que ainda estavam para nascer. Uma cincia que

    pretendia legar boas caractersticas s geraes futuras (SILVA, 2007).

    Renomados intelectuais brasileiros comeam a fazer referncia s atividades

    fsicas como instrumento privilegiado para desenvolver ao mximo as virtudes da raa

    e as aptides hereditrias de cada indivduo pois, ao atuarem no equilbrio funcional e

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    morfolgico dos indivduos aumentavam a sade da populao (MELO e MANGAN,

    1997; DAOLIO, 2003). Em funo de argumentos como este, o esporte passa a ser

    amplamente difundido cuja fraqueza e desnimo s se mantinha por que os sujeitos no

    haviam desenvolvido suficientemente atributos fsicos como virilidade, hombridade e

    coragem. Atributos esses fundamentais para a idia da constituio do corpo-nao: um

    corpo que representasse o brasileiro liberto e moderno e que se distanciasse, sobretudo,

    do corpo negro ainda que estes fossem os corpos que constituam, nesse momento, a

    maioria pobre da populao.

    Os ideais eugnicos foram, gradativamente, incorporados pela elite brasileira que

    percebia nesta cincia um instrumento primoroso para constituir uma raa elevada e, ao

    mesmo tempo, utilizar diversos dispositivos para barrar e impedir o surgimento

    daqueles considerados inferiores e ameaadores aos projetos nacionais. (MOTA, 2003).

    O ano de 1918 pode ser considerado como marco das investidas sistemticas da eugenia

    no Brasil, com a criao da Sociedade Eugnica de So Paulo, apenas alguns anos aps

    o surgimento da The Eugenics Education Society, na Inglaterra em 1907-1908, da The

    Eugenics Record Office nos Estados Unidos em 1910 e da French Eugenics Society em

    Paris em 1912 (STEPAN, 1996).

    O embranquecimento da raa, ao fazer parte da poltica nacional de

    desenvolvimento do pas, foi amplamente difundido na sociedade brasileira encontrando

    apoio em diferentes categorias profissionais. Mdicos, intelectuais, militares, dirigentes

    polticos, professores, instrutores de atividades fsicas se integraram a esse projeto e,

    atravs da especificidade de sua interveno no plano social e educacional, no

    pouparam esforos para consolid-lo (SCHWARCZ, 1993). Das vrias aes a serem

    desenvolvidas para esse aprimoramento racial, uma delas foi consensual e amplamente

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    destacada: o fortalecimento do corpo feminino a ser conquistado atravs da prtica de

    atividades fsicas.

    As mulheres fortes so aquelas que fazem uma raa forte

    A inteno de fortalecer o corpo feminino mediante a prtica de atividades

    fsicas objetivando prepar-lo para a conduo de uma maternidade sadia orientou a

    incluso das mulheres no universo das prticas corporais e esportivas em diferentes

    pases como, por exemplo, na Argentina (RODRIGUEZ, 2001; SCHARAGRODSY,

    2006), Alemanha (PFISTER, 2001; HARTMANN-TEWS e LUETKENS, 2003),

    Estados Unidos (GUTTMANN,1991; BIRRELL e THEBERGE, 1994), Reino Unido

    (SCRATON, 1992; WHITE, 2003), Frana (ARNAUD e TERRET, 1996; LIOTARD e

    TERRET, 2005), Itlia (DE GRAZIA, 1981 ), Espanha (ARMAR Y BORBN, 1994;

    AJA, 2002) e Portugal (HASSE, 2001; CRUZ et alli, 2005).

    No caso especfico do Brasil, na virada do sculo XIX para o XX, ao

    fortalecimento do corpo feminino visando uma maternidade sadia agregou-se um

    objetivo de cunho nacionalista que conferia s mulheres brancas o papel de fortalecer a

    Nao mediante a regenerao fsica e racial da sua populao. Em 1884, o mdico

    Eduardo de Magalhes advertia:

    Com a fraqueza das mes comea a do homem pois da mulher fraca, depauperada, nervosa, mal nutrida, no se espera filho bem constitudo, nem que possa amament-lo convenientemente: o recm-nascido representa uma clula do organismo de seus progenitores, mxime da me. A predestinada a reproduzir a espcie, garantir a validez, habilitar o homem a ser homem, apto a lutar pela vida utilmente para si, para a famlia e para a ptria, no devidamente educada entre ns para o desempenho de sua misso sublime (1884, p. 123).

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    Tanto quanto realizar um bom casamento, evitando, por exemplo, as relaes

    inter-raciais, fortalecer o corpo feminino branco passa a ser identificado como uma

    necessidade nacional (KEHL, 1926; BESSE, 1996; GOELLNER, 2003). O corpo

    feminino (e tambm o masculino), pois a fraqueza, a indisposio e a debilidade, vistas

    como males sociais, afetavam e prejudicavam homens e mulheres, ainda que de forma

    diferente. Impelir os sujeitos atividade fsica era uma necessidade, no entanto,

    deveriam ser resguardadas as especificidades da natureza dos corpos que, por serem

    considerados como distintos, reclamavam prticas diferenciadas. Educar para a

    imposio fsica equilibrada era a finalidade do trabalho muscular destinado aos homens

    brancos; exercitar os corpos para suportar os desgnios maternais era a misso reservada

    s mulheres brancas. Segundo Fernando de Azevedo, um importante intelectual da

    poca,

    O que preciso, no entanto, ter sempre em vista na educao fsica a diferena do sexo... Os rgos de agresso e defesa no homem reclamam violncia de movimento, na mulher apenas gestos suaves, a quase quietude. Por exemplo, o olhar do homem est habituado a produzir o medo e os sinais da energia e do mando; o da mulher veludoso e educa-se em atra-los. A violncia e o exerccio no homem criam as asperezas da superfcie do corpo pelo desenvolvimento de ossos e msculos. A maternidade ou a sua predestinao avoluma as formas do ventre, nos seios e nos membros inferiores (1939, p. 94)

    Afirmaes como estas permitem compreender as diferentes atribuies

    conferidas aos brasileiros e s brasileiras no processo da regenerao da raa. Nas

    diversas fontes analisadas a constante recorrncia construo de maternidade sadia se

    justifica porque esta considerada como a mais sublime misso da mulher. Uma

    habilidade natural, essencial e inevitvel. (HAYS, 1996, p.156), seu destino e no uma

    opo pessoal. Em contrapartida, no existe meno alguma educao dos homens

    em favor de uma paternidade sadia. A exercitao de seus corpos busca formar tipos

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    perfeitos, expresso do equilbrio plstico-morfolgico, congregando dois princpios

    atribudos como fundamentais e inseparveis: fora e beleza. Para formar uma raa

    elevada era imprescindvel essa correlao, visto que a regenerao fsico-moral

    masculina s se completaria se o aprimoramento fsico tambm se estendesse s

    mulheres: as verdadeiras guardis da raa (SCRATON, 1992). Para atingir tal intento

    era preciso dar visibilidade cultura fsica feminina, redirecion-la aos propsitos

    higinicos e eugnicos exigidos pelo corpo-nao moderno afinal, so as mulheres

    fortes aquelas que fazem uma raa forte (TISSI, 1919, p. 32).

    O projeto nacional de fortalecimento orgnico dos corpos, de aprimoramento dos

    valores morais e da construo de uma raa forte refora representaes tradicionais de

    gnero visto que reafirmam concepes dominantes de masculinidade e feminilidade.

    No mbito especfico das mulheres, enfatiza-se a imagem da mulher maternal, bela e

    feminina (GOELLNER, 2003). Uma mulher para quem o exerccio corporal deveria

    atuar em prol do seu revigoramento sem lhe destituir a harmonia das formas, a beleza e

    a graciosidade.

    O temor de que a prtica de atividades fsicas pudesse masculinizar a mulher ou,

    ainda, ferir sua feminilidade fez com que muitas das recomendaes que circulavam

    nesse momento estivessem voltadas para: a) o incentivo incluso de meninas e

    moas em programas de atividades fsicas; b) o cuidado para essas atividades fossem

    minuciosamente controladas, de forma a no extrapolarem os limites compatveis com

    natureza feminina, considerada como mais frgil que a dos homens. O termo

    masculinizaro da mulher indicava, no apenas alteraes no comportamento e na

    conduta das mulheres, mas tambm no seu corpo cuja aparncia deveria evitar o

    estigma da excessiva musculatura e a implcita lesbiandade (HARGREAVES, 1998).

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    Dentro deste contexto, o esporte passou a ser recomendado como uma atividade

    necessria ao aprimoramento fsico feminino. O primeiro livro escrito por um autor

    brasileiro sobre educao fsica e esporte para mulheres foi publicado no ano de 1930.

    J nas suas primeiras pginas aparece, explicitamente, a vinculao destas prticas com

    a preparao para a maternidade:

    A falta de vigor fsico tem na mulher conseqncias piores que nos homens. A funo primordial da mulher a procriao e todo o preparo fsico no deve perd-la de vista. Podemos mesmo adiantar que a constituio fsica mais importante que a intelectual; enquanto a primeira pode determinar, quando m, a extino das descendncias em poucas geraes, a segunda passvel de desenvolvimento indefinido de gerao em gerao. Os retardados intelectuais podem ser eficientemente combatidos; os fsicos constituem uma tara terrvel, de funestas conseqncias para a reproduo da espcie e o aperfeioamento da raa. As inteligncias privilegiadas nem sempre se transmitem aos filhos, mas a herana das taras fsicas quase sempre irremedivel, fatal, quando em tempo no intervm processos especiais para preveni-la (RANGEL SOBRINHO, 1930, p. 07).

    Escrito por um tenente do Exrcito brasileiro esse livro exemplar para

    ilustrar a afirmao dos elos que nesse perodo se fazia entre nacionalismo, eugenia,

    sade e atividade fsica. Em outra passagem do livro podemos ler a seguinte

    afirmao:

    Nunca ser demasiado encarar a importncia do esporte para a mulher. Quanto mais nos aprofundarmos nos estudos tendentes a efetivar a eugenia da raa, nas pesquisas destinadas a solucionar os problemas relativos sade humana, a dar ao homem e mulher o mximo de sua eficincia fsica para a vida, mais nos compenetramos da importncia capital da Educao Fsica feminina. mister que nos convenamos da verdade irrefutvel desse dogma - a mulher precisa de esporte! Precisamos identificar a mulher com a prtica racional dos exerccios fsicos, educ-la para uma compreenso elevada dessa forma salutar de atividade que, tanto contribui para a conservao de sua sade e de sua beleza, para a manuteno de sua mocidade e de sua eficincia (RANGEL SOBRINHO, 1930, p. 21).

    s atividades fsicas, portanto, conferida a tarefa de corrigir as deficincias da

    raa brasileira ao mesmo tempo em que deve modelar o corpo feminino desenhando

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    sobre ele novos contornos onde a harmonia corporal, a graa, a doura e a delicadeza

    devem ser preservadas. A construo de um organismo feminino forte estava assentada

    no trinmio sade, fora e beleza, pois desse trinmio resultaria a fora de uma

    gerao de novas criaturas, e, por conseguinte, de um novo pas.

    No Brasil, as primeiras iniciativas de participao de mulheres em prticas

    esportivas podem ser observadas na segunda metade do sculo XIX. At aquele

    momento, a estrutura extremamente conservadora da sociedade brasileira no lhes

    permitia muitas aparies nos espaos pblicos. Com independncia do Brasil, a

    chegada de imigrantes europeus e com a propagao das idias eugnicas e higinicas

    esse quadro comea paulatinamente a mudar. Obviamente que essa mudana foi lenta e

    muito mais significativa para as mulheres da elite, pois estas tinham maior acesso aos

    bens culturais, escolarizao e s novidades do continente europeu. Alm disso, eram

    brancas e a elas era dirigido o discurso do fortalecimento do corpo e, por fim, da raa.

    Vale lembrar que a prtica de atividades fsicas no era popular na sociedade brasileira

    do perodo. Era, na maioria das vezes, uma prtica relacionada elite e se caracterizava

    como aristocrtica, familiar e saudvel (ALTMANN et alli 2001; MOURO e

    VOTRE, 2003).

    Turfe, remo, natao, esgrima, tnis, arco e flecha, ginstica e ciclismo, so

    algumas das modalidades que, inicialmente, registram o maior nmero de mulheres

    praticantes. No entanto, ser nas primeiras dcadas do sculo XX que vai acontecer uma

    maior insero das mulheres no campo do esporte seja nas dimenses do lazer, da

    educao escolar e da competio ocasionando, com isso, uma maior circulao das

    mulheres nos espaos pblicos destinados ou no prtica de atividades fsicas. nesse

    perodo tambm, que o a ginstica adquire importncia na instituio escolar como uma

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    forma de educao das meninas objetivando prepar-las para serem as futuras mes. A

    moa de hoje, sem dvida, vir a ser a me de amanh. Prepar-la fisicamente e dar-lhes

    os necessrios esclarecimentos, assentar alicerces slidos da gerao futura (ARENO,

    1938, p. 16).

    O Boletim de Eugenia, publicao mensal da Sociedade Eugnica de So Paulo,

    em vrias de suas edies publicou matrias referentes aos benefcios do esporte para as

    mulheres. Vejamos:

    em face da procriao que avulta a importncia do esporte para a mulher. Ela precisa no apenas estar apta para o exerccio pleno daquela funo, mas estar tambm em condies fsicas para gerar seres fortes. cuidando de seu prprio corpo, de sua sade, de sua eficincia fsica que a mulher adquire os conhecimentos prticos indispensveis a realizar uma vida sadia e a forjar uma gerao forte; praticando esporte a mulher far desta uma verdadeira escola de sade, conhecer melhor os preceitos da higiene, os melhores processos de alimentao, como funciona o organismo, qual a estrutura do corpo, como ele se desenvolve e o que se deve fazer para a sua melhor conservao e para o seu maior rendimento, interessar-se- mais pela sua vida fsica, corrigir suas deficincias orgnicas, combater seus defeitos e preparar-se- melhor para dar espcie filhos so e filhos fortes (SOCIEDADE EUGNICA DE SO PAULO, 1929, p. 42)

    Se por um lado o incentivo participao feminina no universo das atividades

    corporais e esportivas estava voltado para a maior insero na vida social daquele

    tempo, por outro, estava absolutamente atrelada poltica nacionalista em voga que,

    assentada na eugenia e no higienismo, identificava o corpo feminino como o local

    privilegiado para a construo de uma nova raa. Alm disso, ao anunciarem os

    contornos corporais ideais das mulheres brancas estes discursos enunciavam o lugar do

    outro, do negativo, do intolervel nos corpos brasileiros. O outro, nesse caso, o corpo

    negro que em muitas das fontes consultadas sequer foi nomeado.

    Essa afirmao pode ser evidenciada em diferentes documentos publicados no

    Brasil, dentre eles, a primeira revista cientfica de Educao Fsica. Dada a sua grande

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    receptividade em todo o territrio nacional e, tambm, em alguns pases da Amrica do

    Sul tais como Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Venezuela, a Revista Educao

    Physica tomada aqui como uma fonte privilegiada de informaes e de divulgao dos

    ideais nacionalistas e sua articulao com as questes de raa e gnero no Brasil do

    incio do sculo XX.

    A Revista Educao Physica: esporte, eugenia e nacionalismo

    Criada em 1932, por um grupo de professores civis de educao fsica, a Revista

    Educao Physica caracterizou-se como um importante meio de circulao de

    informaes sobre as atividades fsicas, pois, alm de textos escritos por autores

    brasileiros, seus editores recorriam traduo de artigos estrangeiros tanto para

    viabilizar a regularidade e continuidade da publicao como para assegurar ao peridico

    um perfil cientfico. Nos quatro primeiros anos a Revista circulou com periodicidade

    semestral, tornando-se mensal de janeiro de 1937 at a sua ltima edio, publicada em

    setembro de 1945. Registra seu primeiro editorial:

    Revista Tcnica que visa apoiar a causa da educao fsica: divulgando os princpios cientficos que servem de base a educao fsica; favorecendo o surto dos esportes, como fator de aperfeioamento da raa; incentivando a formao de tcnicos especialistas; propagando os fins morais e sociais das atividade fsicas; despertando a ateno publica para este aspecto do problema educativo; coadjuvando o governo e instituies particulares na execuo de seus programas esportivos (LOYOLA, 1932, p. 02).

    Embora a Revista Educao Physica no tratasse especificamente das atividades

    fsicas femininas, esse foi um tema recorrente nas suas pginas visto que seus editores

    estavam sintonizados com o discurso nacional-patritico6. Os artigos, reportagens,

    6. Hollanda Loyola, principal editor da revista, atuou como responsvel tcnico pela Educao Fsica junto

    ao Ministrio da Educao durante o perodo do Estado Novo (1937-1945).

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    textos e as pesquisas que publica, ao mesmo tempo em que incentivam s mulheres a

    aderirem a prtica de atividades esportivas, enfatizam a importncia da exercitao

    fsica na formao fsica e moral da juventude, na regenerao da raa, no cuidado para

    com a sade e a beleza e na construo da identidade nacional. Tanto quanto as outras

    fontes investigadas, a mulher da qual a Revista fala e para quem fala a mulher branca,

    de classe mdia ou da elite.

    Ao analisar todas as edies da Revista notria a apologia que faz beleza

    branca. Nos seus oitenta nmeros, h uma nica referncia mulher negra, formada pela

    juno de uma fotografia de pgina inteira, com um pequeno texto assinado por

    Fernando Azevedo:

    Aplicada convenientemente em geraes sucessivas, teremos logo, com a regenerao social pela educao fsica, um povo que se encaminhe mais depressa para o nosso verdadeiro tipo tnico, representante caracterstico e genuno de uma raa que possa ir florescendo atravs da idade, em lindas flores - rubra nos glbulos sanguneos de seiva e morena na tez queimada da pele, graas ao vigor fsico e a este belo sol tropical, que atapeta de verde as encostas das montanhas e pontua de flores os campos de nossa exuberante natureza (Azevedo, 1939, p. 8).

    A fotografia publicada mostra o corpo de uma jovem mulher negra, que no tem

    rosto nem expresso, pois exibido de costas, com os cabelos parcialmente ocultos e

    est sendo banhado por uma pequena quantidade de gua que escorre de um vaso que

    carrega no ombro direito. O corpo que se v nesta imagem tem uma musculatura

    delineada, bonito, sensual e ertico. No entanto, destitudo de identidade. um corpo

    estrangeiro para essa Revista, pois no remete o leitor a imagin-lo construdo atravs

    de atividades fsicas. Esta imagem e o texto que o acompanha, ocultam a identidade

    tnica desta mulher uma vez que a explicao dada para a cor da pele, que no branca,

    recai na ao bronzeadora do sol e no nas marcas que fazem lembrar a raa qual

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    pertence. Ao negar sua origem afirma-se o mito da superioridade racial branca mesmo

    em um pas cuja conformao tnica passava ao longe dessa suposta branquidade

    (SCHWARCZ,1993).

    Revista Educao Fsica, n. 8, p. 12.

    Em se tratando de refinamento racial, na experincia desenvolvida na

    Alemanha Nacional-Socialista que a Revista Educao Physica busca elementos para

    exemplificar como uma Nao poderia desenvolver programas de atividades fsicas

    voltados o aperfeioamento da sade e do vigor dos corpos. Ao longo das suas edies

    so publicados vrios textos e imagens que mencionam as estratgias de aprimoramento

  • Recorde: Revista de Histria do Esporte Artigo volume 1, nmero 1, junho de 2008 Silvana Goellner

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    da raa ariana. Muitos deles fazem referncia explcita exercitao fsica das

    mulheres:

    Em nenhum pas do mundo, a educao fsica est merecendo tanta ateno por parte do governo, a eugenia do povo preocupa tanto os dirigentes nem os esportes esto mais bem regulamentados do que na Alemanha. O Nacional Socialismo, com o seu programa de rejuvenescimento da Alemanha encarou, como um dos elementos principais para a constituio das nacionalidades, a eugenia do povo, o aprimoramento racial, partindo do principio de que no h pas forte com um povo fraco. Notvel, o entusiasmo da mulher alem pelos esportes. Eu as vi, s centenas, fazendo ginstica, remando, nadando, praticando esgrima, cavalgando, etc. A mulher alem, da gerao que est se formando, forte, de impressionante robustez, exuberante de sade, produzir, necessariamente, filhos sadios, hgidos (LOYOLA, 1937, p. 27).

    Em que pese as diferenas dos ideais eugnicos existentes entre o Brasil e a

    Alemanha, a glorificao da maternidade faz parte o discurso oficial dos dois pases. Em

    nome da formao de uma gerao futura, justificam-se estratgias de cunho racista, seja

    por mitificar a branquidade, seja por no conferir visibilidade ao que era considerado

    desviante da representao de corpo e de nacionalidade que se queria evidenciar

    (BOCK, 1991; PFISTER, 1997). Essa talvez seja uma das razes pelas quais no se

    encontram corpos negros nas pginas da Revista Educao Physica, mesmo que fora

    delas eles existissem em profuso sendo facilmente visualizados nas ruas das cidades.

    A recorrncia aos exemplos advindos da Alemanha justifica-se pela

    aproximao poltica entre os dois pases. Getulio Vargas, ento presidente do Brasil,

    nutria forte simpatia pelas idias de Adolf Hitler e, nesse sentido, empenhou-se em

    desenvolver estratgias de aproximao entre os dois pases. Alm de acordos

    comerciais, da permisso para a circulao no Brasil de livros, jornais e revistas editados

  • Recorde: Revista de Histria do Esporte Artigo volume 1, nmero 1, junho de 2008 Silvana Goellner

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    na Alemanha7, da restrio entrada no pas de imigrantes judeus8, possibilitou

    intercmbios culturais entre brasileiros e alemes. Na dcada de 30, por exemplo,

    permitiu que o governo alemo montasse um servio de transmisso de distribuio de

    filmes educativos destinados a escolas teuto-brasileiras localizadas em diversos estados

    do pas. Dentre os temas abordados nos filmes destacavam-se as prticas eugnicas

    obtidas atravs da realizao de exerccios ginsticos (VON SIMSON, 1998).

    Casamento, maternidade, procriao e refinamento da espcie so funes e

    papis sociais designados mulher branca ou ariana cujo corpo observado como o

    local a abrigar e nutrir uma prole sadia e hgida. Ariana ou no, a perfeio branca que

    a Revista Educao Physica faz questo de exibir em suas pginas como smbolo de

    beleza e feminilidade. Razo pela qual possvel afirmar que a Revista no passiva

    em relao aos discursos eugnicos e nacionalistas em voga na Alemanha e no Brasil:

    ao contrario, uma instncia que os produz e reproduz. Afinal, se a preservao da

    famlia necessria para a estruturao da sociedade brasileira, tambm o a educao

    da mulher branca, considerada como o pilar sobre o qual se sustenta a prpria Nao.

    Consideraes finais

    Ser bela, maternal, feminina e saudvel era um desejo produzido e expresso no

    apenas pela Revista Educao Physica e pelos documentos aqui citados, mas pelo

    imaginrio social de um pas que identificava na mulher um elemento importante para a

    sua modernizao. Juventude, beleza, ousadia, disposio, sade, perseverana,

    7. Entre 1930 e 1942 circulam, no trs estados do sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Paran e Santa Catarina)

    12 jornais editados na Alemanha, dois deles com periodicidade de seis dias na semana. 8. A Circular n 1127, publicada em 1937 adverte: Fica recusado visto no passaporte a toda pessoa que se

    saiba, ou por declarao prpria (folha de identidade) ou qualquer outro meio de informao segura, que

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    dedicao, prudncia, so atributos que, neste contexto, transformam-se em virtudes a

    serem conquistadas mediante a participao das mulheres em diferentes espaos sociais,

    dentre eles, os espaos onde se realizavam as atividades fsicas e esportivas.

    O incentivo a uma maior insero das mulheres em diferentes instncias

    culturais continha, em si mesmo, discursos emancipatrios e conservadores, pois, ao

    mesmo tempo em que incentivavam as mulheres adeso a pratica de atividades fsicas,

    atravs destas reforavam uma representao hegemnica de feminilidade. Pensando

    especificamente no Brasil do incio do sculo XX, ainda que as atividades fsicas

    tenham possibilitado certa emancipao para algumas mulheres, essa no se entendeu

    para o conjunto das mulheres brasileiras dado que a poltica vigente, ao combinar,

    nacionalismo e branquidade, invisibilizou as negras e imputou as brancas a tarefa de

    civilizar, elevar e redimir o Brasil e no transform-lo.

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