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1047Processo sade-doena: um estudo dasrepresentaes sociais de trabalhadores com DoRt
| 1 Vanusa Caiafa Caetano, 2 Danielle Teles Cruz, 3 Girlene Alves Silva,
4 Isabel Cristina Gonalves Leite, 5 Simone Meira Carvalho |
1 Professora adjunta da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]
2 Professora auxiliar da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]
3 Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]
4 Professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]
5 Professora assistente da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]
Recebido em: 05/09/2011.Aprovado em: 21/06/2012.
Resumo: o artigo origina-se de pesquisa que analisou as representaes sociais do processo sade-doena entre trabalhadores portadores de distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DoRt), usurios do Centro de Referncia em sade do trabalhador (CeRest) de Juiz de Fora, MG. o recurso de apreenso das informaes foram entrevistas semiestruturadas, realizadas junto a 12 trabalhadoras com idade entre 29 e 55 anos. as informaes foram submetidas a anlise temtica. a partir dos temas de anlise, chamados representao da sade e representao da doena, para essas trabalhadoras, o adoecimento e a incapacidade laboral representam uma lacuna dolorosa e a destruio dos projetos de vida. os quadros de deteriorao das condies de vida e degradao do trabalho, refletidos sobre a sade das trabalhadoras, nos levam a sustentar que a preveno dos problemas de sade que encontraria maior grau de resoluo seria o replanejamento da organizao do processo de trabalho e da efetiva atuao das polticas pblicas de sade, atravs de representaes simblicas mais amplas sobre sade, doena e cura. Palavras-chave: sade; doena; trabalhador; DORT; representao social.
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Introduoa reestruturao do processo produtivo verificada nas ltimas dcadas implicou
alteraes diretas na sade do trabalhador, modificando o perfil de adoecimento e
sofrimento desses indivduos. Dependendo da forma de organizao do processo
de trabalho, o cotidiano no ambiente laboral configurado por contextos nos
quais os modos de se trabalhar, de lidar com o tempo e equipamentos so
seguramente danosos sade (sato, 2002). Dentro desse contexto, observa-
se um aumento significativo dos distrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (DoRt), que se configuram atualmente como importante problema
de sade pblica (HoeFel et al., 2004; WalsH et al., 2004). a incapacidade
e a sintomatologia, bem como o sofrimento dos portadores de DoRt,
apresentam causas e consequncias socialmente engendradas que no devem ser
desconsideradas (WalsH et al., 2004).
Caracterizados pela dor forte, os DoRt costumam contrastar com leses
relativamente benignas e com poucos sinais objetivos, sendo este um paradoxo
de confuso entre profissionais envolvidos com a sade ocupacional, pela
invisibilidade orgnica desta patologia (WalsH et al., 2004). alm de contribuir
para a deteriorao das relaes laborais e sociais, consequentemente, a baixa
expectativa quanto capacidade futura para o trabalho tambm observada
(BRasIl, 2006). na opinio de Wnsch Filho (2004), a adoo de uma
poltica em sade do trabalhador que possa nortear as aes dos diferentes nveis
governamentais dever ter influncia substancial para o desenvolvimento da
sociedade, melhorando a qualidade de vida das pessoas.
no contexto das contradies postas pelo mundo do trabalho no qual o
processo de adoecimento est dentro de toda essa cadeia do processo produtivo,
buscando valorizar os elementos das representaes dos trabalhadores em processo
de adoecimento, esta pesquisa teve como objetivo analisar as representaes sociais
do processo sade-doena entre trabalhadores com DoRt usurios do sistema
nico de sade (sus), inseridos no Programa de Reabilitao Fsica do Centro
de Referncia em sade do trabalhador (CeRest), atravs do Departamento
de sade do trabalhador (Dsat), do municpio de Juiz de Fora, MG.
De acordo com os registros consultados do CeRest/Dsat, encontramos
1.800 trabalhadores cadastrados no Programa de Reabilitao Fsica, entre
acidentes de trabalho e doenas relacionadas ao trabalho. Porm o nmero de
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1049trabalhadores atualmente frequentes em mdia 300 por ms, calculado a partir
dos dados encontrados no perodo de 12 meses. a maioria deles se encontra em
afastamento ou desempregados, tendo sua doena comunicada ao Inss, atravs
da Comunicao de acidente de trabalho (Cat).
ancoragem terica e metodolgica do estudoo presente estudo foi desenvolvido numa abordagem qualitativa, que busca
conhecer e trabalhar aspectos particulares do universo dos significados, valores
e atitudes que compreendem o espao das relaes e fenmenos dos sujeitos
(MInaYo, 2004). Desse modo, pensar o processo de adoecimento do trabalhador
nos remete a valorizar esses sujeitos tomando em considerao a experincia e a
vivncia no somente como trabalhador, mas tambm suas representaes sobre
processo de sade-adoecimento. assim, tomamos como abordagem terica a
teoria das Representaes sociais.
a teoria das Representaes sociais nos ajuda a compreender o universo que
abarca a sade do trabalhador e as representaes dos trabalhadores com DoRt,
configurando-se como elo entre as interfaces do processo sade-adoecimento.
esta teoria possibilita a integrao de aspectos implcitos e explcitos do
comportamento dos indivduos, resultantes da interao social, o que nos leva ao
entendimento da realidade e dos fenmenos humanos a partir de uma perspectiva
coletiva, sem perder o olhar da individualidade (Caetano; CRuZ; leIte,
2009; sIlVa et al., 2007; JoDelet, 2001).
De acordo com Moscovici (1978), a ideia de representao vai alm da noo
de atitude, imagem e opinio, destacando a diferena existente entre elas. Para o
autor, no existem nas representaes sociais rupturas entre o universo externo e
o interno ao indivduo ou grupo. Isso nos remete ao fato de que sujeito e objeto
no so distintos; em um contexto ativo, o objeto da representao vai sendo
construdo pela pessoa ou coletividade. Portanto, a representao toma como base
as relaes existentes entre a memria e a capacidade de continuar a imaginar, o
que a torna um processo dinmico e em movimento.
Herzlich (1972), ao se referir ao papel das representaes na vida dos
indivduos, alerta-nos para o fato de ser a representao um dos instrumentos
pelos quais o indivduo ou o grupo apreende seu ambiente. um dos nveis
em que as estruturas sociais lhe so acessveis e elas exercem papel fundamental
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na formao da comunicao e das condutas sociais. na mesma perspectiva,
Wagner (1998, p. 10) diz que as representaes significam mais do que uma
imagem esttica de um objeto na mente das pessoas; elas compreendem tambm
seu comportamento e a prtica interativa de um grupo.
se as representaes sociais exercem papel fundamental na dinmica das
relaes sociais e prticas, porque respondem s seguintes funes: funes de
saber que permitem compreender e explicar a realidade, funes identitrias que
definem a identidade e permitem proteger a especificidade do grupo, funes de
orientao que guiam os comportamentos e as prticas e, finalmente, as funes
justificadoras, visto que permitem a posteriori a justificativa das tomadas de
posio e comportamentos (aBRIC, 1998). Portanto, para Jodelet (2001, p. 22),
representao social uma forma de conhecimento, socialmente elaborado e
partilhado, tendo uma viso prtica e concorrendo para a construo de uma
realidade comum a um conjunto social.
enfatizamos que a elaborao e o funcionamento de uma representao podem
ser entendidos pelos processos de objetivao e ancoragem que compreendem a
articulao entre o contedo cognitivo e as determinaes scio-histricas em que
surgem e circulam as representaes. no processo de ancoragem que consiste a
associao cognitiva do objeto podendo ser este ideias, relaes, acontecimentos,
doenas a um sistema preexistente de pensamento social e nas transformaes
da realidade sobre a qual intervm. Isto , ancorar transformar o novo, o no
familiar em familiar, para uma aceitao do desconhecido atravs de um processo
de classificao estruturante que d forma especfica ao conhecimento sobre o
objeto, tornando-o concreto (JoDelet, 2001).
Desse modo, no processo de elaborar e reelaborar representaes sobre o
processo de sentir-se saudvel ou se perceber doente que nos subsidiamos desse
referencial para compreender esse universo de tomada de atitude direcionada ao
objeto socialmente significante que o processo sade-doena.
O local do encontroo local onde aconteceram os encontros com os trabalhadores foi o Centro de
Referncia em sade do trabalhador1(CeRest), localizado no municpio de
Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, que atende Macrorregio de sade que
congrega 37 municpios da Zona da Mata Mineira.
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1051Os sujeitos e a apreenso das informaesRealizamos a coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas, de
forma individual, registradas em microgravador. os entrevistados foram
escolhidos a partir dos dados de caracterizao que compem a primeira fase da
pesquisa que teve como critrio de incluso estarem inseridos no Programa de
Reabilitao Fsica do CeRest desde o ano de 2006 e com nexo ocupacional
de DoRt. assim, o convite foi feito para todos os trabalhadores de ambos
os sexos que preenchiam o critrio acima referido. no entanto, no estudo,
como o acesso s trabalhadoras desde o incio da pesquisa foi mais fcil, pela
prpria natureza de as mesmas seguirem as recomendaes teraputicas e serem
mais acometidas pelos DoRt, constitui-se, portanto, um grupo de sujeitos
composto pelas trabalhadoras.
Foram entrevistadas 12 trabalhadoras. a idade variou entre 29 e 55
anos, caracterizadas de maneira que o anonimato permanecesse preservado,
identificadas por suas inicias. elas so oriundas de categorias profissionais
similares sobre o ponto de vista social, com baixa qualificao e remunerao.
Dentre as funes identificadas, encontramos: trs costureiras, duas em servios
gerais, duas domsticas, faxineira, auxiliar de fisioterapia, operadora de caixa,
enroladeira de papel higinico e secretria de digitao. Verificamos que as
trabalhadoras iniciaram suas vidas profissionais precocemente, sendo a idade
mnima descrita de seis anos e a mxima de 14 anos, ambas consideradas como
trabalho infantil.
segundo turato (2003) e Minayo (2004), a amostragem deve ser intencionada
pela busca proposital de indivduos que vivenciam o problema em foco e/ou
tm conhecimento sobre ele. o nmero de entrevistas se encerrou quando as
informaes alcanadas foram consideradas suficientes e atingiram a reincidncia
das informaes.
a entrada do pesquisador no campo se deu tomando a relao que a
universidade Federal de Juiz de Fora (uFJF) e o CeRest desenvolvem estudos
no campo da pesquisa e capacitao na sade do trabalhador. Desse modo, a
escolha desse cenrio facilitou o acesso aos sujeitos desse estudo. na ocasio do
primeiro contato com os trabalhadores, quando a pesquisadora se apresentava,
era de acordo com o interesse deles e a disponibilidade agendada com a data e o
horrio da entrevista.
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Os aspectos ticos da pesquisaas trabalhadoras receberam informaes sobre a pesquisa e, aps concordarem em participar, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (tCle). Ressalta-se que a pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica e Pesquisa (CeP) da universidade Federal de Juiz de Fora (uFJF), sob o parecer n 326/2007. nessa ocasio, eram reafirmados os compromissos com o anonimato das trabalhadoras participantes.
A organizao dos achados seguimos como referncia as trs etapas cronolgicas sugeridas por Bardin (1977), para a organizao da anlise: pr-anlise, descrio analtica e interpretao inferencial. uma vez categorizadas as falas das entrevistadas mediante os objetivos propostos, foram feitas as inferncias necessrias com base na literatura cientfica, visando alcanar o objetivo pretendido no presente estudo.
os resultados da anlise das representaes sociais da sade e doena entre trabalhadoras com DoRt sero apresentados em dois momentos: no primeiro, analisaremos as representaes da sade e, no segundo, as representaes da doena.
Resultados e discusso dos achadosseguindo as proposies para a anlise e interpretao dos dados, as unidades temticas abaixo descritas sero apresentadas de forma a expressar o contedo presente nas representaes sociais das trabalhadoras envolvidas no estudo.
A representao da sade a representao elaborada para a sade nos remeteu aos significados reducionistas que a explicavam, como ausncia de doena, segundo depoimentos a seguir:
ah! eu acho que sade quem no tem uma doena, assim que... Quem no tem sa-de aquele que tem uma doena, que como cncer... eu tenho sade, sim! (eanl)
sade no ter dor nenhuma, no ter nada... aquelas dorzinhas, dor de cabea, que d e passa... agora uma dorzinha que fica assim perturbando, muito ruim... (aIao)
observamos, na anlise, que essas representaes nos apresentam a condio de sade como ausncia de sinais e sintomas indicadores de algum agravo sade, ou at mesmo a presena instalada de doena. a concepo apresentada pelas
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1053mulheres no que diz respeito sade parece no considerar o indivduo como
um ser integral inserido em um contexto ambiental, social, econmico e poltico.
Portanto, vulnervel as questes ligadas dentro desses contextos.
segundo Minayo e thedim (1997), os trabalhadores, de uma maneira
geral, associam a sade com a capacidade de poder trabalhar e a doena com
a incapacidade. eles vivenciam o corpo como uma fonte de subsistncia, de
reproduo e de aquisio de bens. a sade assim entendida, e a doena por
sua oposio, constituem valores fundamentais de suas vidas, segundo os
depoimentos a seguir, dentro de uma viso mais ampliada: sade tudo, sem sade a gente no faz nada, a gente um zero esquerda. u... sade tudo, essencial na vida da gente. sem sade no vai a lugar nenhum. (DRl)
e... porque quando a pessoa saudvel, a pessoa no toma remdio, para mim eu acho isso. ento quem dependente do remdio... eu no me acho uma pessoa saudvel. ento... o problema de sade tudo. (MJBs)
o entendimento da sade como ausncia de doena e como sade do corpo
parece estar relacionado aos fenmenos identificados na sociedade como crise
informacional e institucional, evidenciando que a sade ainda entendida
de forma imediatista, o que pode indicar a dificuldade de comportamentos
preventivos por parte dos trabalhadores (leFF, 2001).
a doena no trabalho, enquanto fenmeno particular e social, que revela ou
oculta o contedo das mediaes que a originam, no deve ser tratada como
uma unidade analtica simples, dissociada de seus eixos mediadores. Deve ser
considerado todo o contexto social, econmico, psquico, estabelecendo uma
nova interpretao para que aes preventivas sejam alcanadas (Caetano;
CRuZ; leIte, 2009).
se em um dado momento as trabalhadoras trazem representaes sobre a sade
ancoradas na condio de ausncia de doenas, elas tambm, ao vivenciarem novas
experincias, compartilharem novos saberes e pela necessidade de fazer a gesto
cotidiana do seguimento da DoRt em suas vidas, elaboram suas representaes
sobre a sade para alm do conceito de sade como ausncia de doena, ao grau
de superao do adoecimento, de superao da dor e da incapacidade. Desse
modo, ao buscarem um sentido para a vida, e rechaando o rtulo da inutilidade,
elas comparam doenas mais graves como forma de sobrepujar sua situao,
conforme recortes das falas:
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ah, porque, sei l, porque eu no sou invlida igual o pessoal olha para mim, e me v como uma invlida, eu no acho que eu no sou assim... eu ainda tenho alguma utilidade... eu no me sinto incapaz totalmente... (DRl)
e assim convivendo com muita dor, mas no posso reclamar, porque eu j melhorei bastante... sade, boa no, mas eu tento passar por cima, porque se eu for parar para valorizar minha sade um pouco assim das coisas, no vou viver, porque tanta coisa... a... se eu queixar assim... Presso alta eu no tenho, no tenho diabete, no tenho nada disso. (Jsa)
Isso perto de muitos problemas na vida, ele no nada... no um problema grave que eu tenho no, mas a gente tem uma no sei... eu sou uma pessoa que eu no, eu no tenho que ficar reclamando, porque tem coisas, situao na vida muito pior com certeza... (eanl)
o conceito de sade vem se transformando ao longo das ltimas dcadas,
sobretudo quando se articula com propostas de modelos de ateno sade adotados.
ao passarmos de um modelo hospitalocntrico para um modelo assistencial
promotor da sade, preventivo, pela participao popular e a interdisciplinaridade
dos diferentes profissionais da sade, esperado que os sujeitos elaborem novas
representaes sobre o entendimento do que venha a ser sade. nesta nova ordem,
por vezes percebido que o sentido dado sade j no como o avesso da doena,
mas como a busca do equilbrio do ser humano, devendo, portanto, romper os
estreitos limites da assistncia curativa (CHaMM, 1988).
a representao da sade abarca fatores que condicionam e determinam a
vida do sujeito, garantindo uma vida livre de dor, em um corpo organicamente
equilibrado, segundo os relatos a seguir: voc ter uma vida saudvel... caminhar. alimentao boa. Praticar esporte, que no o meu caso, que eu no fao, n? nem caminhar ultimamente eu tenho cami-nhado mais. no beber, no fumar, procurar dormir mais cedo... (eIPM)
voc ter o que comer, andar bem alimentado e no depender do sus... para mim, tudo isso a sade. eu no me considero saudvel, para eu ser saudvel eu no tinha que ter nada disso. (lMBM)
esta concepo pode estar relacionada com a constatao de que as
polticas pblicas como um todo se encontram cada vez menos eficientes, no
proporcionando um atendimento efetivo populao. tais prticas assistenciais
encontram-se fragmentadas e desarticuladas com os princpios e diretrizes
que norteiam o sus, contrapondo-se s polticas de promoo da sade e
humanizao, violando o direto sade (BaHIa; sCHeFFeR, 2010).
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1055no obstante, todo o cuidado com o corpo no poder eximir o adoecimento,
cujos fatores causais podem ser mltiplos nos ambientes laborais, relativos ao
processo de organizao do trabalho. Para essas trabalhadoras, o adoecimento
e a incapacidade laboral representam uma lacuna dolorosa e a destruio dos
projetos de vida.
a representao da doenanesta categoria, apresentamos a discusso sobre as representaes das
trabalhadoras acerca da doena DoRt, que capaz de trazer limitaes
e incapacidades que repercutem tanto no desenvolvimento de atividades de
vida diria quanto no da prpria vida social, comprometidas pela dor e perda
de movimento, bem como pela sensao de dependncia. os recortes dos
depoimentos ilustram essas representaes: nunca dependi de ningum para fazer nada para mim... agora dependo dos outros pra quase tudo... Interfere em quase tudo! Para voc ter uma ideia no posso jogar um baralho... eu no consigo empurrar o carrinho, eu comeo a passar mal... (DRl).
Diria, lavar, por exemplo, assim... ariar uma panela... eu no tenho firmeza para ariar uma panela, esfregar uma roupa... Voc se sente uma pessoa assim intil... s vezes entendeu... a voc comea a juntar... a idade, o tempo, aqui fora, o desempre-go, como que est entendeu... Como voc vai arrumar um emprego, uma carteira sua que est carimbada l... (eanl).
se eu tiver que fazer uma dieta eu no posso por causa dos medicamentos. Cami-nhar... no posso, porque esses problemas... ele te prende de uma maneira ou outra... Voc fica presa, tipo uma priso, uma cadeia aberta, porque voc no pode ter uma vida normal igual a todo mundo tem... eu acredito que... eu no volto mais o que eu era antes... De tarde eu falava... Fulana a minha patinha est quebrada, porque eu no aguentava nem balanar. (eIPM).
as falas das trabalhadoras configuram em adoecimento sobre as quais tiveram
suas vidas alteradas em funo do trabalho. Isso implica a necessidade de se
reconhecer como o trabalho modifica o trabalhador, ressaltando a importncia
das aes dos servios de sade ocupacional destinadas a avaliar as situaes de
risco ou de alteraes de sade no trabalho (RoCHa; FellI, 2004).
outro agravante a situao econmica, dificultada ainda mais em funo do
afastamento do trabalho. as entrevistadas do presente estudo demonstram essas
caractersticas, muitas vezes pelo medo de perderem o emprego e de no terem
como arcar com as despesas familiares e pessoais. nesse contexto, elas realizavam
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as tarefas laborais, ainda que com dor, podendo piorar o quadro em funo da
necessidade de manter a renda familiar, conforme os discursos configurados abaixo:e chegou um tempo que eu no estava tendo assim rendimento no trabalho. a, dei continuidade, continuei trabalhando mesmo com dor... eu ficava assim... se eu falar, vou perder um emprego, onde que eu vou arrumar um servio? ... eu j estava assim com uns 40 anos, onde que eu vou arrumar um servio com tanta menina nova no mercado... disputando. (eanl).
eu trabalhava umas 12 horas... e hora que fosse fazer um exame, ia dar que eu estava com problema e no ia poder trabalhar, endividada e sem dinheiro para pagar minhas dvidas... eu enrolava papel higinico, tinha produo de 3000 rolos por dia... Quem no desse produo ia ser demitido, eu logo fiquei assim,fiquei com medo deles me demitirem, eu precisando trabalhar para limpar meu nome. a eu conseguia dar a produo. (aIao)
eu acho que o problema da costura, nessas fbricas, a minha produo era alta demais, voc entendeu... ento quanto mais eu produzisse, mais eu ganhava, o salrio aumen-tava, voc entendeu?... a para mim compensava, eu dava tudo de mim... (eIPM)
Para neves e nunes (2010), alguns significados inerentes ao mundo
do trabalho so vivenciados pelos trabalhadores, como a dor que precisa ser
calada, o sofrer contido, refletindo a necessidade de a pessoa manter-se
sempre apta para o trabalho, ntegra na sua totalidade e produtiva aos olhos
das exigncias do trabalho. ou seja, calar a dor seria mimetizar um tipo ideal
de trabalhador, adequado a este sistema capitalista de produo. entretanto,
essas trabalhadoras sabem o que as fez adoecer, so capazes de identificar os
riscos presentes nos ambientes de trabalho, tais como a presso temporal, os
movimentos repetitivos, o aumento da produo, a competitividade, dentre
outros, conforme os depoimentos: excesso de servio e presso... o tempo era curto e muito servio. era servio pesado, posio errada... eu tinha que contar as cuecas, separar as cores, mandar para m-quina, fazer molde, tudo vinha em cima de mim. eu cada vez piorando... pegando aqueles rolos com 19 quilos, num lugar apertado, caixa caindo em cima de mim, caixa de 26,30 quilos... (DRl).
trabalhei noite, no turno da noite, trabalhei durante o dia... Mas era s produo... Carretas e mais carretas chegando... s vezes no tinha l as coisas pra fazer papel higinico, eles botavam l para encher carretas, aqueles fardos enormes, para encher uma carreta enorme. (aIao).
trabalhando! overloque... tinha que cortar e ficava o dia inteiro assim. Passava e cortava, a os dedos ficaram duros... meu olho partia, no conseguia olhar pro cho. Me sinto podre... mais podre, brao podre, tudo podre.Isso s a gente que tem que sabe. (aMs).
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1057este modelo capitalista que visa produo em detrimento das condies
de sade do trabalhador capaz de transformar o sentimento de um indivduo
produtivo em algo que no serve mais, intil e que pode ser descartado. na
opinio de lacaz (2007), a relao entre trabalho e sade-doena parte da ideia
cartesiana do corpo como mquina, o qual se expe a fatores de risco. Dessa
maneira, as consequncias do trabalho para a sade so resultantes da interao
corpo (hospedeiro) com fatores (fsicos, biolgicos, qumicos, mecnicos)
existentes no ambiente de trabalho. assim, os limites de tolerncia e limites
biolgicos de exposio distinguem a interveno na realidade laboral, no
sentido de adaptar o ambiente e as condies de trabalho dentro de parmetros
preconizados para a mdia de trabalhadores normais quanto suscetibilidade
individual aos fatores de risco.
estas trabalhadoras so, frequentemente, expostas discriminao no
trabalho, na famlia, na sociedade, nos servios de sade e percias mdicas. tais
circunstncias impem s mesmas um sofrimento intenso, agregando sentimentos
de invalidez, humilhao e preconceito, seguido da invisibilidade orgnica dessas
patologias, restando-lhes apenas a sintomatologia subjetiva existente perante a
dor. alguns depoimentos configuram esta situao: eu me sentia o resto do ser humano, a coisa mais triste, as ltimas das pessoas... sabe quando voc est passando mal e a pessoa fala... Fulana, suas mos no esto incha-das, porque voc est muito gorda... ser que voc no est vendo que isso aqui inchao... aqui, olhe minhas mos. (lMBM).
eu tenho medo quando a gente d o vale transporte, o trocador olha para sua cara e olha pro vale, e olha pro brao. um afasta de voc para no te esbarrar sabe, muito chato, humilhante... muita discriminao... a gente sofre muito preconceito, de-mais. (Mas).
tudo [choro] nibus... Que seja alguma coisa que tenha que assinar, eu custo para conseguir pegar e prender o papel... eu me sinto constrangida, porque o pessoal no sabe, e um mnimo que eu no consigo, a eu fico chateada... [choro]. ... s que eu sinto que eu poderia fazer mais, e no d... (Jsa).
os quadros de deteriorao das condies de vida e degradao do trabalho
e seus reflexos sobre a sade das entrevistadas nos levam a sugerir que, para a
realidade local estudada, a preveno dos problemas de sade que encontraria
maior grau de resoluo seria o replanejamento da organizao do processo de
trabalho e da efetiva atuao das polticas pblicas de sade articulada com
outros setores que atuam nesse campo, tornando o servio mais efetivo. assim, a
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busca de instrumentos que privilegiem medidas de preveno deve ser ampliada,
incorporando o conhecimento dos trabalhadores para que melhorias nas condies
de trabalho e defesa da sade possam ser potencializadas (laCaZ, 2007).
Dentre outras repercusses, localizamos representaes da doena que
encontram o desgaste fsico e emocional consequente da busca constante de
tratamentos e do descrdito comumente vivenciado pelos sentimentos de
impotncia, frustrao e falta de expectativas futuras associadas perda da
capacidade laboral e a questionamentos da identidade e da prpria vida, em sua
razo de ser. ento assim, realmente muda a vida da gente toda e muito. ah... representa assim... insatisfao, n? Muito grande e... como se a gente fosse assim... Como que eu vou falar... como se a gente fosse intil... ento, assim, muita frustrao, insatisfao, a gente poder... Voc poder fazer tudo, no sentir dor. (sMsR).
a eu estava sem remdio, eu no estava saindo de casa, porque eu fico assim, ... [tremendo], com medo, eu no fao nada... eu no aguento de dor... Do jeito que est, est muito ruim [choro], eu no estou vivendo, estou vegetando, porque isso para mim no vida, ficar dentro de casa trancada sem fazer nada... (aRR).
a eu paro de comer, no consigo comer... s gua, s coisa que me desce reto, que eu no consigo mastigar, porque se eu mastigar eu mastigo a lngua... eu no consigo comer de jeito nenhum. eu no era assim... eu era normal. e esse brao fica morto... fica morto, dormente. agora eu no fao mais nada... (Mas)
Pior para mim ficar do jeito que eu estou sabe... di muito, eu ando com remdio na bolsa para tirar a dor. eu me sinto pssima (voz trmula), tem hora que d vontade de juntar tudo e sumir no mundo... estou vivendo no escuro... olha quanta coisa j acarretou desde o tempo que eu parei por causa desse ombro pra c. olha como minha sade... (las).
Para laplantine (1991), o normal e o patolgico so pensados em termos de
harmonia e desarmonia, equilbrio e desequilbrio, e a doena considerada como
um desarranjo, por excesso ou falta. Dessa forma, qualquer que seja a diversidade
dos sistemas de representaes advindas deste modelo, a uma compreenso
danosa se ope uma compreenso funcional. Cada indivduo caracterizado
pela particularidade nica de um equilbrio e predisposio a determinado desequilbrio, razo pela qual cada um estar sujeito a sua prpria doena.
a experincia da doena ento vivenciada de maneira que podemos destacar
o conceito da lngua inglesa para doena sobre a qual laplantine (1991) nos
chama ateno. a lngua inglesa possui tripla terminologia: disease (a doena tal como ela apreendida pelo conhecimento mdico), illness (a doena como
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1059 experimentada pelo doente) e sickness (um estado muito menos grave e mais incerto que o precedente; em geral o mal-estar) (laPlantIne, 1991, p. 15).
o autor tambm destaca que o vocbulo illness pode ser entendido como dois pontos de vista: doena-sujeito e doena-sociedade, o que reflete a experincia
subjetiva do doente e comportamentos scio-culturais ligados doena.
Baseada nesta perspectiva terico-metodolgica, a compreenso do adoecer
deve ser entendida como recortes de uma realidade vivida do ser doente, para que
polticas e aes que contemplem os trabalhadores sejam efetivamente aplicadas
(GoMes; MenDona; Pontes, 2002). Independentemente do modelo
terico adotado pelo profissional, torna-se necessrio ampliar a compreenso do
processo de sade e a conscientizao de que o corpo biolgico desenvolvido
dentro de um ambiente cultural e social distintos entre os pares. Dessa forma,
os sentimentos, as experincias e a histria de cada um so fatores que devem ser
considerados nas inmeras estratgias de interveno (auGusto et al., 2008).
Consideraes finais os resultados do presente estudo nos mostraram que as mulheres trabalhadoras
representam a sade como valores fundamentais de suas vidas, assim como a
ausncia de doena. no obstante, a doena foi representada pela incapacidade
e limitaes que repercutem no desenvolvimento das atividades de vida diria e
da vida social, comprometidas pela dor, agravadas pela perda dos movimentos,
vivenciadas pelos sentimentos de impotncia e degradao das condies de
vida e trabalho.
Configurados como sndromes complexas, vistos de maneira fragmentada
dentro de uma concepo mecanicista do organismo humano e caracterizados
por seus sintomas subjetivos e pela ausncia de sinais clnicos objetivos, os DoRt
representam, na ntegra, do ponto de vista da sade pblica, um grave problema
que demanda ateno e medidas de carter emergencial.
tais questes podem estar relacionadas pela constatao de que as polticas
pblicas como um todo ainda so pouco eficientes, pois no proporcionam
atendimento efetivo populao. essas prticas assistenciais precisam ser
pensadas de maneira articulada com os princpios e diretrizes que norteiam o
sus pensar e fazer uma prtica de sade dentro dessa perspectiva e buscar
superar a violao do direto sade. Dessa forma, sustenta-se uma clara defesa
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em considerarmos a necessidade da preveno dos problemas de sade atravs de
uma ateno humanizada, integral e equnime com responsabilizao, vnculo e,
sobretudo, o replanejamento dos processos de organizao do trabalho.
esta pesquisa no pretende esgotar o assunto, mas sugere que estudos posteriores
continuem examinando continuamente a representao que os trabalhadores com
DoRt elaboram sobre o processo de adoecer, bem como focalizar tambm a
participao dos profissionais de sade nas estratgias de reduzir a vulnerabilidade
ao adoecimento e s incapacidades. acrescenta-se o fato de no deixar de valorizar
o papel das instituies como cenrio no s gerador de adoecimento, mas como
responsvel em propor ambiente de trabalho saudvel ao trabalhador.2
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Nota1 o CeRest caracteriza-se por atender trabalhadores com DoRt e/ou que sofreram algum tipo de acidente de trabalho. Realiza, dentro de uma trajetria de intervenes, orientaes e um programa especial de atendimento para esses trabalhadores, composta por assistente social, mdicos, psiclogos e fisioterapeutas. 2 V.C. Caetano planejou o estudo, realizou a coleta e anlise dos dados e foi o redator principal do artigo; I.C.G. leite e G.a. silva colaboraram no planejamento do estudo, na anlise dos dados e na redao do artigo. D.t. Cruz e s.M. Carvalho contriburam na confeco do artigo.
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Health-disease process: a study of social representations of workers with WMSDSsthis paper was based on a study that examined the social representations of health-illness process among workers with work-related musculoskeletal disorders (WMsDs), users of the Reference Center of occupational Health (CeRest) in the city of Juiz de Fora, state of Minas Gerais. Information was collected through semi-structured interviews with 12 workers, aged between 29 and 55 years. Data were subjected to thematic analysis. the themes of analysis called representation of health and representation of illness set that, for these workers, illnesses and labor disability represent a painful gap and the destruction of life projects. tables of deterioration of living conditions and work degradation, reflected on the health of workers, refer us to sustain that the prevention of health problems that would find a higher degree of resolution would be the replanning of work process organization and effective performance of public health policies, through symbolic representations of broader health, illness and healing.
Key words: health; disease; workers; WMSDs; social representation.
Abstract