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1047 Processo saúde-doença: um estudo das representações sociais de trabalhadores com DORT | 1 Vanusa Caiafa Caetano, 2 Danielle Teles Cruz, 3 Girlene Alves Silva, 4 Isabel Cristina Gonçalves Leite, 5 Simone Meira Carvalho | 1 Professora adjunta da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereço eletrônico: [email protected] 2 Professora auxiliar da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereço eletrônico: [email protected] 3 Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFJF. Endereço eletrônico: [email protected] 4 Professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFJF. Endereço eletrônico: isabel. [email protected] 5 Professora assistente da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereço eletrônico: [email protected] Recebido em: 05/09/2011. Aprovado em: 21/06/2012. Resumo: O artigo origina-se de pesquisa que analisou as representações sociais do processo saúde-doença entre trabalhadores portadores de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), usuários do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Juiz de Fora, MG. O recurso de apreensão das informações foram entrevistas semiestruturadas, realizadas junto a 12 trabalhadoras com idade entre 29 e 55 anos. As informações foram submetidas a análise temática. A partir dos temas de análise, chamados “representação da saúde” e “representação da doença”, para essas trabalhadoras, o adoecimento e a incapacidade laboral representam uma lacuna dolorosa e a destruição dos projetos de vida. Os quadros de deterioração das condições de vida e degradação do trabalho, refletidos sobre a saúde das trabalhadoras, nos levam a sustentar que a prevenção dos problemas de saúde que encontraria maior grau de resolução seria o replanejamento da organização do processo de trabalho e da efetiva atuação das políticas públicas de saúde, através de representações simbólicas mais amplas sobre saúde, doença e cura. Palavras-chave: saúde; doença; trabalhador; DORT; representação social.

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  • 1047Processo sade-doena: um estudo dasrepresentaes sociais de trabalhadores com DoRt

    | 1 Vanusa Caiafa Caetano, 2 Danielle Teles Cruz, 3 Girlene Alves Silva,

    4 Isabel Cristina Gonalves Leite, 5 Simone Meira Carvalho |

    1 Professora adjunta da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]

    2 Professora auxiliar da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]

    3 Professora adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]

    4 Professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]

    5 Professora assistente da Faculdade de Fisioterapia da UFJF. Endereo eletrnico: [email protected]

    Recebido em: 05/09/2011.Aprovado em: 21/06/2012.

    Resumo: o artigo origina-se de pesquisa que analisou as representaes sociais do processo sade-doena entre trabalhadores portadores de distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DoRt), usurios do Centro de Referncia em sade do trabalhador (CeRest) de Juiz de Fora, MG. o recurso de apreenso das informaes foram entrevistas semiestruturadas, realizadas junto a 12 trabalhadoras com idade entre 29 e 55 anos. as informaes foram submetidas a anlise temtica. a partir dos temas de anlise, chamados representao da sade e representao da doena, para essas trabalhadoras, o adoecimento e a incapacidade laboral representam uma lacuna dolorosa e a destruio dos projetos de vida. os quadros de deteriorao das condies de vida e degradao do trabalho, refletidos sobre a sade das trabalhadoras, nos levam a sustentar que a preveno dos problemas de sade que encontraria maior grau de resoluo seria o replanejamento da organizao do processo de trabalho e da efetiva atuao das polticas pblicas de sade, atravs de representaes simblicas mais amplas sobre sade, doena e cura. Palavras-chave: sade; doena; trabalhador; DORT; representao social.

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    Introduoa reestruturao do processo produtivo verificada nas ltimas dcadas implicou

    alteraes diretas na sade do trabalhador, modificando o perfil de adoecimento e

    sofrimento desses indivduos. Dependendo da forma de organizao do processo

    de trabalho, o cotidiano no ambiente laboral configurado por contextos nos

    quais os modos de se trabalhar, de lidar com o tempo e equipamentos so

    seguramente danosos sade (sato, 2002). Dentro desse contexto, observa-

    se um aumento significativo dos distrbios osteomusculares relacionados ao

    trabalho (DoRt), que se configuram atualmente como importante problema

    de sade pblica (HoeFel et al., 2004; WalsH et al., 2004). a incapacidade

    e a sintomatologia, bem como o sofrimento dos portadores de DoRt,

    apresentam causas e consequncias socialmente engendradas que no devem ser

    desconsideradas (WalsH et al., 2004).

    Caracterizados pela dor forte, os DoRt costumam contrastar com leses

    relativamente benignas e com poucos sinais objetivos, sendo este um paradoxo

    de confuso entre profissionais envolvidos com a sade ocupacional, pela

    invisibilidade orgnica desta patologia (WalsH et al., 2004). alm de contribuir

    para a deteriorao das relaes laborais e sociais, consequentemente, a baixa

    expectativa quanto capacidade futura para o trabalho tambm observada

    (BRasIl, 2006). na opinio de Wnsch Filho (2004), a adoo de uma

    poltica em sade do trabalhador que possa nortear as aes dos diferentes nveis

    governamentais dever ter influncia substancial para o desenvolvimento da

    sociedade, melhorando a qualidade de vida das pessoas.

    no contexto das contradies postas pelo mundo do trabalho no qual o

    processo de adoecimento est dentro de toda essa cadeia do processo produtivo,

    buscando valorizar os elementos das representaes dos trabalhadores em processo

    de adoecimento, esta pesquisa teve como objetivo analisar as representaes sociais

    do processo sade-doena entre trabalhadores com DoRt usurios do sistema

    nico de sade (sus), inseridos no Programa de Reabilitao Fsica do Centro

    de Referncia em sade do trabalhador (CeRest), atravs do Departamento

    de sade do trabalhador (Dsat), do municpio de Juiz de Fora, MG.

    De acordo com os registros consultados do CeRest/Dsat, encontramos

    1.800 trabalhadores cadastrados no Programa de Reabilitao Fsica, entre

    acidentes de trabalho e doenas relacionadas ao trabalho. Porm o nmero de

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    1049trabalhadores atualmente frequentes em mdia 300 por ms, calculado a partir

    dos dados encontrados no perodo de 12 meses. a maioria deles se encontra em

    afastamento ou desempregados, tendo sua doena comunicada ao Inss, atravs

    da Comunicao de acidente de trabalho (Cat).

    ancoragem terica e metodolgica do estudoo presente estudo foi desenvolvido numa abordagem qualitativa, que busca

    conhecer e trabalhar aspectos particulares do universo dos significados, valores

    e atitudes que compreendem o espao das relaes e fenmenos dos sujeitos

    (MInaYo, 2004). Desse modo, pensar o processo de adoecimento do trabalhador

    nos remete a valorizar esses sujeitos tomando em considerao a experincia e a

    vivncia no somente como trabalhador, mas tambm suas representaes sobre

    processo de sade-adoecimento. assim, tomamos como abordagem terica a

    teoria das Representaes sociais.

    a teoria das Representaes sociais nos ajuda a compreender o universo que

    abarca a sade do trabalhador e as representaes dos trabalhadores com DoRt,

    configurando-se como elo entre as interfaces do processo sade-adoecimento.

    esta teoria possibilita a integrao de aspectos implcitos e explcitos do

    comportamento dos indivduos, resultantes da interao social, o que nos leva ao

    entendimento da realidade e dos fenmenos humanos a partir de uma perspectiva

    coletiva, sem perder o olhar da individualidade (Caetano; CRuZ; leIte,

    2009; sIlVa et al., 2007; JoDelet, 2001).

    De acordo com Moscovici (1978), a ideia de representao vai alm da noo

    de atitude, imagem e opinio, destacando a diferena existente entre elas. Para o

    autor, no existem nas representaes sociais rupturas entre o universo externo e

    o interno ao indivduo ou grupo. Isso nos remete ao fato de que sujeito e objeto

    no so distintos; em um contexto ativo, o objeto da representao vai sendo

    construdo pela pessoa ou coletividade. Portanto, a representao toma como base

    as relaes existentes entre a memria e a capacidade de continuar a imaginar, o

    que a torna um processo dinmico e em movimento.

    Herzlich (1972), ao se referir ao papel das representaes na vida dos

    indivduos, alerta-nos para o fato de ser a representao um dos instrumentos

    pelos quais o indivduo ou o grupo apreende seu ambiente. um dos nveis

    em que as estruturas sociais lhe so acessveis e elas exercem papel fundamental

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    na formao da comunicao e das condutas sociais. na mesma perspectiva,

    Wagner (1998, p. 10) diz que as representaes significam mais do que uma

    imagem esttica de um objeto na mente das pessoas; elas compreendem tambm

    seu comportamento e a prtica interativa de um grupo.

    se as representaes sociais exercem papel fundamental na dinmica das

    relaes sociais e prticas, porque respondem s seguintes funes: funes de

    saber que permitem compreender e explicar a realidade, funes identitrias que

    definem a identidade e permitem proteger a especificidade do grupo, funes de

    orientao que guiam os comportamentos e as prticas e, finalmente, as funes

    justificadoras, visto que permitem a posteriori a justificativa das tomadas de

    posio e comportamentos (aBRIC, 1998). Portanto, para Jodelet (2001, p. 22),

    representao social uma forma de conhecimento, socialmente elaborado e

    partilhado, tendo uma viso prtica e concorrendo para a construo de uma

    realidade comum a um conjunto social.

    enfatizamos que a elaborao e o funcionamento de uma representao podem

    ser entendidos pelos processos de objetivao e ancoragem que compreendem a

    articulao entre o contedo cognitivo e as determinaes scio-histricas em que

    surgem e circulam as representaes. no processo de ancoragem que consiste a

    associao cognitiva do objeto podendo ser este ideias, relaes, acontecimentos,

    doenas a um sistema preexistente de pensamento social e nas transformaes

    da realidade sobre a qual intervm. Isto , ancorar transformar o novo, o no

    familiar em familiar, para uma aceitao do desconhecido atravs de um processo

    de classificao estruturante que d forma especfica ao conhecimento sobre o

    objeto, tornando-o concreto (JoDelet, 2001).

    Desse modo, no processo de elaborar e reelaborar representaes sobre o

    processo de sentir-se saudvel ou se perceber doente que nos subsidiamos desse

    referencial para compreender esse universo de tomada de atitude direcionada ao

    objeto socialmente significante que o processo sade-doena.

    O local do encontroo local onde aconteceram os encontros com os trabalhadores foi o Centro de

    Referncia em sade do trabalhador1(CeRest), localizado no municpio de

    Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, que atende Macrorregio de sade que

    congrega 37 municpios da Zona da Mata Mineira.

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    1051Os sujeitos e a apreenso das informaesRealizamos a coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas, de

    forma individual, registradas em microgravador. os entrevistados foram

    escolhidos a partir dos dados de caracterizao que compem a primeira fase da

    pesquisa que teve como critrio de incluso estarem inseridos no Programa de

    Reabilitao Fsica do CeRest desde o ano de 2006 e com nexo ocupacional

    de DoRt. assim, o convite foi feito para todos os trabalhadores de ambos

    os sexos que preenchiam o critrio acima referido. no entanto, no estudo,

    como o acesso s trabalhadoras desde o incio da pesquisa foi mais fcil, pela

    prpria natureza de as mesmas seguirem as recomendaes teraputicas e serem

    mais acometidas pelos DoRt, constitui-se, portanto, um grupo de sujeitos

    composto pelas trabalhadoras.

    Foram entrevistadas 12 trabalhadoras. a idade variou entre 29 e 55

    anos, caracterizadas de maneira que o anonimato permanecesse preservado,

    identificadas por suas inicias. elas so oriundas de categorias profissionais

    similares sobre o ponto de vista social, com baixa qualificao e remunerao.

    Dentre as funes identificadas, encontramos: trs costureiras, duas em servios

    gerais, duas domsticas, faxineira, auxiliar de fisioterapia, operadora de caixa,

    enroladeira de papel higinico e secretria de digitao. Verificamos que as

    trabalhadoras iniciaram suas vidas profissionais precocemente, sendo a idade

    mnima descrita de seis anos e a mxima de 14 anos, ambas consideradas como

    trabalho infantil.

    segundo turato (2003) e Minayo (2004), a amostragem deve ser intencionada

    pela busca proposital de indivduos que vivenciam o problema em foco e/ou

    tm conhecimento sobre ele. o nmero de entrevistas se encerrou quando as

    informaes alcanadas foram consideradas suficientes e atingiram a reincidncia

    das informaes.

    a entrada do pesquisador no campo se deu tomando a relao que a

    universidade Federal de Juiz de Fora (uFJF) e o CeRest desenvolvem estudos

    no campo da pesquisa e capacitao na sade do trabalhador. Desse modo, a

    escolha desse cenrio facilitou o acesso aos sujeitos desse estudo. na ocasio do

    primeiro contato com os trabalhadores, quando a pesquisadora se apresentava,

    era de acordo com o interesse deles e a disponibilidade agendada com a data e o

    horrio da entrevista.

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    Os aspectos ticos da pesquisaas trabalhadoras receberam informaes sobre a pesquisa e, aps concordarem em participar, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (tCle). Ressalta-se que a pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica e Pesquisa (CeP) da universidade Federal de Juiz de Fora (uFJF), sob o parecer n 326/2007. nessa ocasio, eram reafirmados os compromissos com o anonimato das trabalhadoras participantes.

    A organizao dos achados seguimos como referncia as trs etapas cronolgicas sugeridas por Bardin (1977), para a organizao da anlise: pr-anlise, descrio analtica e interpretao inferencial. uma vez categorizadas as falas das entrevistadas mediante os objetivos propostos, foram feitas as inferncias necessrias com base na literatura cientfica, visando alcanar o objetivo pretendido no presente estudo.

    os resultados da anlise das representaes sociais da sade e doena entre trabalhadoras com DoRt sero apresentados em dois momentos: no primeiro, analisaremos as representaes da sade e, no segundo, as representaes da doena.

    Resultados e discusso dos achadosseguindo as proposies para a anlise e interpretao dos dados, as unidades temticas abaixo descritas sero apresentadas de forma a expressar o contedo presente nas representaes sociais das trabalhadoras envolvidas no estudo.

    A representao da sade a representao elaborada para a sade nos remeteu aos significados reducionistas que a explicavam, como ausncia de doena, segundo depoimentos a seguir:

    ah! eu acho que sade quem no tem uma doena, assim que... Quem no tem sa-de aquele que tem uma doena, que como cncer... eu tenho sade, sim! (eanl)

    sade no ter dor nenhuma, no ter nada... aquelas dorzinhas, dor de cabea, que d e passa... agora uma dorzinha que fica assim perturbando, muito ruim... (aIao)

    observamos, na anlise, que essas representaes nos apresentam a condio de sade como ausncia de sinais e sintomas indicadores de algum agravo sade, ou at mesmo a presena instalada de doena. a concepo apresentada pelas

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    1053mulheres no que diz respeito sade parece no considerar o indivduo como

    um ser integral inserido em um contexto ambiental, social, econmico e poltico.

    Portanto, vulnervel as questes ligadas dentro desses contextos.

    segundo Minayo e thedim (1997), os trabalhadores, de uma maneira

    geral, associam a sade com a capacidade de poder trabalhar e a doena com

    a incapacidade. eles vivenciam o corpo como uma fonte de subsistncia, de

    reproduo e de aquisio de bens. a sade assim entendida, e a doena por

    sua oposio, constituem valores fundamentais de suas vidas, segundo os

    depoimentos a seguir, dentro de uma viso mais ampliada: sade tudo, sem sade a gente no faz nada, a gente um zero esquerda. u... sade tudo, essencial na vida da gente. sem sade no vai a lugar nenhum. (DRl)

    e... porque quando a pessoa saudvel, a pessoa no toma remdio, para mim eu acho isso. ento quem dependente do remdio... eu no me acho uma pessoa saudvel. ento... o problema de sade tudo. (MJBs)

    o entendimento da sade como ausncia de doena e como sade do corpo

    parece estar relacionado aos fenmenos identificados na sociedade como crise

    informacional e institucional, evidenciando que a sade ainda entendida

    de forma imediatista, o que pode indicar a dificuldade de comportamentos

    preventivos por parte dos trabalhadores (leFF, 2001).

    a doena no trabalho, enquanto fenmeno particular e social, que revela ou

    oculta o contedo das mediaes que a originam, no deve ser tratada como

    uma unidade analtica simples, dissociada de seus eixos mediadores. Deve ser

    considerado todo o contexto social, econmico, psquico, estabelecendo uma

    nova interpretao para que aes preventivas sejam alcanadas (Caetano;

    CRuZ; leIte, 2009).

    se em um dado momento as trabalhadoras trazem representaes sobre a sade

    ancoradas na condio de ausncia de doenas, elas tambm, ao vivenciarem novas

    experincias, compartilharem novos saberes e pela necessidade de fazer a gesto

    cotidiana do seguimento da DoRt em suas vidas, elaboram suas representaes

    sobre a sade para alm do conceito de sade como ausncia de doena, ao grau

    de superao do adoecimento, de superao da dor e da incapacidade. Desse

    modo, ao buscarem um sentido para a vida, e rechaando o rtulo da inutilidade,

    elas comparam doenas mais graves como forma de sobrepujar sua situao,

    conforme recortes das falas:

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    ah, porque, sei l, porque eu no sou invlida igual o pessoal olha para mim, e me v como uma invlida, eu no acho que eu no sou assim... eu ainda tenho alguma utilidade... eu no me sinto incapaz totalmente... (DRl)

    e assim convivendo com muita dor, mas no posso reclamar, porque eu j melhorei bastante... sade, boa no, mas eu tento passar por cima, porque se eu for parar para valorizar minha sade um pouco assim das coisas, no vou viver, porque tanta coisa... a... se eu queixar assim... Presso alta eu no tenho, no tenho diabete, no tenho nada disso. (Jsa)

    Isso perto de muitos problemas na vida, ele no nada... no um problema grave que eu tenho no, mas a gente tem uma no sei... eu sou uma pessoa que eu no, eu no tenho que ficar reclamando, porque tem coisas, situao na vida muito pior com certeza... (eanl)

    o conceito de sade vem se transformando ao longo das ltimas dcadas,

    sobretudo quando se articula com propostas de modelos de ateno sade adotados.

    ao passarmos de um modelo hospitalocntrico para um modelo assistencial

    promotor da sade, preventivo, pela participao popular e a interdisciplinaridade

    dos diferentes profissionais da sade, esperado que os sujeitos elaborem novas

    representaes sobre o entendimento do que venha a ser sade. nesta nova ordem,

    por vezes percebido que o sentido dado sade j no como o avesso da doena,

    mas como a busca do equilbrio do ser humano, devendo, portanto, romper os

    estreitos limites da assistncia curativa (CHaMM, 1988).

    a representao da sade abarca fatores que condicionam e determinam a

    vida do sujeito, garantindo uma vida livre de dor, em um corpo organicamente

    equilibrado, segundo os relatos a seguir: voc ter uma vida saudvel... caminhar. alimentao boa. Praticar esporte, que no o meu caso, que eu no fao, n? nem caminhar ultimamente eu tenho cami-nhado mais. no beber, no fumar, procurar dormir mais cedo... (eIPM)

    voc ter o que comer, andar bem alimentado e no depender do sus... para mim, tudo isso a sade. eu no me considero saudvel, para eu ser saudvel eu no tinha que ter nada disso. (lMBM)

    esta concepo pode estar relacionada com a constatao de que as

    polticas pblicas como um todo se encontram cada vez menos eficientes, no

    proporcionando um atendimento efetivo populao. tais prticas assistenciais

    encontram-se fragmentadas e desarticuladas com os princpios e diretrizes

    que norteiam o sus, contrapondo-se s polticas de promoo da sade e

    humanizao, violando o direto sade (BaHIa; sCHeFFeR, 2010).

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    1055no obstante, todo o cuidado com o corpo no poder eximir o adoecimento,

    cujos fatores causais podem ser mltiplos nos ambientes laborais, relativos ao

    processo de organizao do trabalho. Para essas trabalhadoras, o adoecimento

    e a incapacidade laboral representam uma lacuna dolorosa e a destruio dos

    projetos de vida.

    a representao da doenanesta categoria, apresentamos a discusso sobre as representaes das

    trabalhadoras acerca da doena DoRt, que capaz de trazer limitaes

    e incapacidades que repercutem tanto no desenvolvimento de atividades de

    vida diria quanto no da prpria vida social, comprometidas pela dor e perda

    de movimento, bem como pela sensao de dependncia. os recortes dos

    depoimentos ilustram essas representaes: nunca dependi de ningum para fazer nada para mim... agora dependo dos outros pra quase tudo... Interfere em quase tudo! Para voc ter uma ideia no posso jogar um baralho... eu no consigo empurrar o carrinho, eu comeo a passar mal... (DRl).

    Diria, lavar, por exemplo, assim... ariar uma panela... eu no tenho firmeza para ariar uma panela, esfregar uma roupa... Voc se sente uma pessoa assim intil... s vezes entendeu... a voc comea a juntar... a idade, o tempo, aqui fora, o desempre-go, como que est entendeu... Como voc vai arrumar um emprego, uma carteira sua que est carimbada l... (eanl).

    se eu tiver que fazer uma dieta eu no posso por causa dos medicamentos. Cami-nhar... no posso, porque esses problemas... ele te prende de uma maneira ou outra... Voc fica presa, tipo uma priso, uma cadeia aberta, porque voc no pode ter uma vida normal igual a todo mundo tem... eu acredito que... eu no volto mais o que eu era antes... De tarde eu falava... Fulana a minha patinha est quebrada, porque eu no aguentava nem balanar. (eIPM).

    as falas das trabalhadoras configuram em adoecimento sobre as quais tiveram

    suas vidas alteradas em funo do trabalho. Isso implica a necessidade de se

    reconhecer como o trabalho modifica o trabalhador, ressaltando a importncia

    das aes dos servios de sade ocupacional destinadas a avaliar as situaes de

    risco ou de alteraes de sade no trabalho (RoCHa; FellI, 2004).

    outro agravante a situao econmica, dificultada ainda mais em funo do

    afastamento do trabalho. as entrevistadas do presente estudo demonstram essas

    caractersticas, muitas vezes pelo medo de perderem o emprego e de no terem

    como arcar com as despesas familiares e pessoais. nesse contexto, elas realizavam

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    as tarefas laborais, ainda que com dor, podendo piorar o quadro em funo da

    necessidade de manter a renda familiar, conforme os discursos configurados abaixo:e chegou um tempo que eu no estava tendo assim rendimento no trabalho. a, dei continuidade, continuei trabalhando mesmo com dor... eu ficava assim... se eu falar, vou perder um emprego, onde que eu vou arrumar um servio? ... eu j estava assim com uns 40 anos, onde que eu vou arrumar um servio com tanta menina nova no mercado... disputando. (eanl).

    eu trabalhava umas 12 horas... e hora que fosse fazer um exame, ia dar que eu estava com problema e no ia poder trabalhar, endividada e sem dinheiro para pagar minhas dvidas... eu enrolava papel higinico, tinha produo de 3000 rolos por dia... Quem no desse produo ia ser demitido, eu logo fiquei assim,fiquei com medo deles me demitirem, eu precisando trabalhar para limpar meu nome. a eu conseguia dar a produo. (aIao)

    eu acho que o problema da costura, nessas fbricas, a minha produo era alta demais, voc entendeu... ento quanto mais eu produzisse, mais eu ganhava, o salrio aumen-tava, voc entendeu?... a para mim compensava, eu dava tudo de mim... (eIPM)

    Para neves e nunes (2010), alguns significados inerentes ao mundo

    do trabalho so vivenciados pelos trabalhadores, como a dor que precisa ser

    calada, o sofrer contido, refletindo a necessidade de a pessoa manter-se

    sempre apta para o trabalho, ntegra na sua totalidade e produtiva aos olhos

    das exigncias do trabalho. ou seja, calar a dor seria mimetizar um tipo ideal

    de trabalhador, adequado a este sistema capitalista de produo. entretanto,

    essas trabalhadoras sabem o que as fez adoecer, so capazes de identificar os

    riscos presentes nos ambientes de trabalho, tais como a presso temporal, os

    movimentos repetitivos, o aumento da produo, a competitividade, dentre

    outros, conforme os depoimentos: excesso de servio e presso... o tempo era curto e muito servio. era servio pesado, posio errada... eu tinha que contar as cuecas, separar as cores, mandar para m-quina, fazer molde, tudo vinha em cima de mim. eu cada vez piorando... pegando aqueles rolos com 19 quilos, num lugar apertado, caixa caindo em cima de mim, caixa de 26,30 quilos... (DRl).

    trabalhei noite, no turno da noite, trabalhei durante o dia... Mas era s produo... Carretas e mais carretas chegando... s vezes no tinha l as coisas pra fazer papel higinico, eles botavam l para encher carretas, aqueles fardos enormes, para encher uma carreta enorme. (aIao).

    trabalhando! overloque... tinha que cortar e ficava o dia inteiro assim. Passava e cortava, a os dedos ficaram duros... meu olho partia, no conseguia olhar pro cho. Me sinto podre... mais podre, brao podre, tudo podre.Isso s a gente que tem que sabe. (aMs).

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    1057este modelo capitalista que visa produo em detrimento das condies

    de sade do trabalhador capaz de transformar o sentimento de um indivduo

    produtivo em algo que no serve mais, intil e que pode ser descartado. na

    opinio de lacaz (2007), a relao entre trabalho e sade-doena parte da ideia

    cartesiana do corpo como mquina, o qual se expe a fatores de risco. Dessa

    maneira, as consequncias do trabalho para a sade so resultantes da interao

    corpo (hospedeiro) com fatores (fsicos, biolgicos, qumicos, mecnicos)

    existentes no ambiente de trabalho. assim, os limites de tolerncia e limites

    biolgicos de exposio distinguem a interveno na realidade laboral, no

    sentido de adaptar o ambiente e as condies de trabalho dentro de parmetros

    preconizados para a mdia de trabalhadores normais quanto suscetibilidade

    individual aos fatores de risco.

    estas trabalhadoras so, frequentemente, expostas discriminao no

    trabalho, na famlia, na sociedade, nos servios de sade e percias mdicas. tais

    circunstncias impem s mesmas um sofrimento intenso, agregando sentimentos

    de invalidez, humilhao e preconceito, seguido da invisibilidade orgnica dessas

    patologias, restando-lhes apenas a sintomatologia subjetiva existente perante a

    dor. alguns depoimentos configuram esta situao: eu me sentia o resto do ser humano, a coisa mais triste, as ltimas das pessoas... sabe quando voc est passando mal e a pessoa fala... Fulana, suas mos no esto incha-das, porque voc est muito gorda... ser que voc no est vendo que isso aqui inchao... aqui, olhe minhas mos. (lMBM).

    eu tenho medo quando a gente d o vale transporte, o trocador olha para sua cara e olha pro vale, e olha pro brao. um afasta de voc para no te esbarrar sabe, muito chato, humilhante... muita discriminao... a gente sofre muito preconceito, de-mais. (Mas).

    tudo [choro] nibus... Que seja alguma coisa que tenha que assinar, eu custo para conseguir pegar e prender o papel... eu me sinto constrangida, porque o pessoal no sabe, e um mnimo que eu no consigo, a eu fico chateada... [choro]. ... s que eu sinto que eu poderia fazer mais, e no d... (Jsa).

    os quadros de deteriorao das condies de vida e degradao do trabalho

    e seus reflexos sobre a sade das entrevistadas nos levam a sugerir que, para a

    realidade local estudada, a preveno dos problemas de sade que encontraria

    maior grau de resoluo seria o replanejamento da organizao do processo de

    trabalho e da efetiva atuao das polticas pblicas de sade articulada com

    outros setores que atuam nesse campo, tornando o servio mais efetivo. assim, a

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    busca de instrumentos que privilegiem medidas de preveno deve ser ampliada,

    incorporando o conhecimento dos trabalhadores para que melhorias nas condies

    de trabalho e defesa da sade possam ser potencializadas (laCaZ, 2007).

    Dentre outras repercusses, localizamos representaes da doena que

    encontram o desgaste fsico e emocional consequente da busca constante de

    tratamentos e do descrdito comumente vivenciado pelos sentimentos de

    impotncia, frustrao e falta de expectativas futuras associadas perda da

    capacidade laboral e a questionamentos da identidade e da prpria vida, em sua

    razo de ser. ento assim, realmente muda a vida da gente toda e muito. ah... representa assim... insatisfao, n? Muito grande e... como se a gente fosse assim... Como que eu vou falar... como se a gente fosse intil... ento, assim, muita frustrao, insatisfao, a gente poder... Voc poder fazer tudo, no sentir dor. (sMsR).

    a eu estava sem remdio, eu no estava saindo de casa, porque eu fico assim, ... [tremendo], com medo, eu no fao nada... eu no aguento de dor... Do jeito que est, est muito ruim [choro], eu no estou vivendo, estou vegetando, porque isso para mim no vida, ficar dentro de casa trancada sem fazer nada... (aRR).

    a eu paro de comer, no consigo comer... s gua, s coisa que me desce reto, que eu no consigo mastigar, porque se eu mastigar eu mastigo a lngua... eu no consigo comer de jeito nenhum. eu no era assim... eu era normal. e esse brao fica morto... fica morto, dormente. agora eu no fao mais nada... (Mas)

    Pior para mim ficar do jeito que eu estou sabe... di muito, eu ando com remdio na bolsa para tirar a dor. eu me sinto pssima (voz trmula), tem hora que d vontade de juntar tudo e sumir no mundo... estou vivendo no escuro... olha quanta coisa j acarretou desde o tempo que eu parei por causa desse ombro pra c. olha como minha sade... (las).

    Para laplantine (1991), o normal e o patolgico so pensados em termos de

    harmonia e desarmonia, equilbrio e desequilbrio, e a doena considerada como

    um desarranjo, por excesso ou falta. Dessa forma, qualquer que seja a diversidade

    dos sistemas de representaes advindas deste modelo, a uma compreenso

    danosa se ope uma compreenso funcional. Cada indivduo caracterizado

    pela particularidade nica de um equilbrio e predisposio a determinado desequilbrio, razo pela qual cada um estar sujeito a sua prpria doena.

    a experincia da doena ento vivenciada de maneira que podemos destacar

    o conceito da lngua inglesa para doena sobre a qual laplantine (1991) nos

    chama ateno. a lngua inglesa possui tripla terminologia: disease (a doena tal como ela apreendida pelo conhecimento mdico), illness (a doena como

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    1059 experimentada pelo doente) e sickness (um estado muito menos grave e mais incerto que o precedente; em geral o mal-estar) (laPlantIne, 1991, p. 15).

    o autor tambm destaca que o vocbulo illness pode ser entendido como dois pontos de vista: doena-sujeito e doena-sociedade, o que reflete a experincia

    subjetiva do doente e comportamentos scio-culturais ligados doena.

    Baseada nesta perspectiva terico-metodolgica, a compreenso do adoecer

    deve ser entendida como recortes de uma realidade vivida do ser doente, para que

    polticas e aes que contemplem os trabalhadores sejam efetivamente aplicadas

    (GoMes; MenDona; Pontes, 2002). Independentemente do modelo

    terico adotado pelo profissional, torna-se necessrio ampliar a compreenso do

    processo de sade e a conscientizao de que o corpo biolgico desenvolvido

    dentro de um ambiente cultural e social distintos entre os pares. Dessa forma,

    os sentimentos, as experincias e a histria de cada um so fatores que devem ser

    considerados nas inmeras estratgias de interveno (auGusto et al., 2008).

    Consideraes finais os resultados do presente estudo nos mostraram que as mulheres trabalhadoras

    representam a sade como valores fundamentais de suas vidas, assim como a

    ausncia de doena. no obstante, a doena foi representada pela incapacidade

    e limitaes que repercutem no desenvolvimento das atividades de vida diria e

    da vida social, comprometidas pela dor, agravadas pela perda dos movimentos,

    vivenciadas pelos sentimentos de impotncia e degradao das condies de

    vida e trabalho.

    Configurados como sndromes complexas, vistos de maneira fragmentada

    dentro de uma concepo mecanicista do organismo humano e caracterizados

    por seus sintomas subjetivos e pela ausncia de sinais clnicos objetivos, os DoRt

    representam, na ntegra, do ponto de vista da sade pblica, um grave problema

    que demanda ateno e medidas de carter emergencial.

    tais questes podem estar relacionadas pela constatao de que as polticas

    pblicas como um todo ainda so pouco eficientes, pois no proporcionam

    atendimento efetivo populao. essas prticas assistenciais precisam ser

    pensadas de maneira articulada com os princpios e diretrizes que norteiam o

    sus pensar e fazer uma prtica de sade dentro dessa perspectiva e buscar

    superar a violao do direto sade. Dessa forma, sustenta-se uma clara defesa

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    em considerarmos a necessidade da preveno dos problemas de sade atravs de

    uma ateno humanizada, integral e equnime com responsabilizao, vnculo e,

    sobretudo, o replanejamento dos processos de organizao do trabalho.

    esta pesquisa no pretende esgotar o assunto, mas sugere que estudos posteriores

    continuem examinando continuamente a representao que os trabalhadores com

    DoRt elaboram sobre o processo de adoecer, bem como focalizar tambm a

    participao dos profissionais de sade nas estratgias de reduzir a vulnerabilidade

    ao adoecimento e s incapacidades. acrescenta-se o fato de no deixar de valorizar

    o papel das instituies como cenrio no s gerador de adoecimento, mas como

    responsvel em propor ambiente de trabalho saudvel ao trabalhador.2

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    Nota1 o CeRest caracteriza-se por atender trabalhadores com DoRt e/ou que sofreram algum tipo de acidente de trabalho. Realiza, dentro de uma trajetria de intervenes, orientaes e um programa especial de atendimento para esses trabalhadores, composta por assistente social, mdicos, psiclogos e fisioterapeutas. 2 V.C. Caetano planejou o estudo, realizou a coleta e anlise dos dados e foi o redator principal do artigo; I.C.G. leite e G.a. silva colaboraram no planejamento do estudo, na anlise dos dados e na redao do artigo. D.t. Cruz e s.M. Carvalho contriburam na confeco do artigo.

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    Physis Revista de Sade Coletiva, Rio de Janeiro, 22 [ 3 ]: 1047-1062, 2012

    Health-disease process: a study of social representations of workers with WMSDSsthis paper was based on a study that examined the social representations of health-illness process among workers with work-related musculoskeletal disorders (WMsDs), users of the Reference Center of occupational Health (CeRest) in the city of Juiz de Fora, state of Minas Gerais. Information was collected through semi-structured interviews with 12 workers, aged between 29 and 55 years. Data were subjected to thematic analysis. the themes of analysis called representation of health and representation of illness set that, for these workers, illnesses and labor disability represent a painful gap and the destruction of life projects. tables of deterioration of living conditions and work degradation, reflected on the health of workers, refer us to sustain that the prevention of health problems that would find a higher degree of resolution would be the replanning of work process organization and effective performance of public health policies, through symbolic representations of broader health, illness and healing.

    Key words: health; disease; workers; WMSDs; social representation.

    Abstract