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O património arqueológico no solo Urbano: caso Cidade Velha, Património
da Humanidade
Hamilton Jair M.L.Fernandes
IIPC
A identidade de um povo se define, historicamente através de múltiplos aspectos
da sua cultura, como a língua, as relações sociais, os comportamentos colectivos de todo
grupo humano socialmente organizado. Esses tem um carácter imaterial e anónimo,
dado que são produtos da colectividade. O monumento histórico e a cultura imaterial
são condensadores de todos esses valores, e o bem patrimonial se reveste de um elevado
valor simbólico que assume e resume a essência da cultura a que pertence.
Segundo Jordi Tresserras e Josep Hernández1, citando o poeta inglês T.S Eloit
(1948) «(...)inclusive os mais humilde dos objectos materiais, que é produto e símbolo
de uma particular civilização, é emissário de uma cultura que é proveniente (...)»
Mas existem certos componentes intrinsecos ao conceito cultura, que se repetem
ao longo dos tempos e de espaços, fazendo com que esses objectos sejam merecedores
de uma atenção especial e consequentemente conservados por aglutinarem valores
únicos e insubstituíveis, considerando-os de Bens Patrimoniais. Esses podem ser de
diversa natureza, como por exemplo históricos, arqueológicos, artísticos, etnológicos, e
podem manifestar-se num bem patrimonial material (tangível) ou imaterial (intangível).
A UNESCO define bem patrimonial como ”(…) qualquer objecto,
independentemente da sua origem e do seu proprietário, que tenha uma grande
importância para o património cultural dos povos, tais como monumentos de
arquitectura, conjuntos arqueológicos, obras de arte, manuscritos, livros e outros
objectos de interesse artístico, histórico o arqueológico”.
Hoje em dia, a noção moderna de património põe ênfase num critério objectivo e
científico na selecção desses bens, tendo em linha de conta todos os objectos e lugares
portadores de informações, independentemente da época e região de produção.
1 TRESSERAS J.J y HERNANDEZ J.; “Gestion del Património Cultural”. Ed. Arial, Barcelona 2006
Ao longo do século XX se foram construindo algumas concepções teóricas, em
torno do património histórico localizados nos centros urbanos. Mas a elas estavam
intrínsecas as necessidades de clarificar outros conceitos e terminologias, como era o
caso de monumentos, ruínas, centro histórico, e inclusive sítio histórico, sendo todas
elas vistas como uma tentativa de aproximação entre a cultura e o urbanismo,
imperando uma perspectiva estrutural, a cidade concebida como espaço social e
histórico.
A sincronia entre a Cultura e a Cidade, “entendida a primeira como um conjunto
de todo tipo de manifestações de uma sociedade e a segunda como um contentor de
memória social”2, apresenta-se como um problema de planificação urbanística das
cidades históricas actuais. Neste sentido, é importante sublinhar que, qualquer
intervenção sobre o património localizado nos espaços urbanos, terá que contemplar o
problema de integração entre o espaço urbano e paisagístico, a ordenação do território, a
evolução e o desenvolvimento, a renovação e o crescimento urbano, etc.
Figura 1. Cidade Velha, Património da Humanidade (2009)
A ordenação do território, o crescente desenvolvimento das cidades históricas,
encaradas como uma realidade sócio-cultural dinâmica, exige a adopção e conjugação
de programas científicos de carácter transdisciplinar. A arqueologia e a arquitectura têm
uma responsabilidade comum, que é de propiciar um “projecto da cidade histórica ”.
2 Carta de Restauro de 1972
Antes de mais resulta importânte sublinhar o conceito de conjunto histórico,
segundo a Reunião de Nairobi de 1976, organizada pela UNESCO, que define o
conjunto histórico como a delimitação de espaço urbano enquanto território histórico e
humano vivo, como a todo tipo de construções e espaços cuja coesão e valor são
reconhecidos desde o ponto de vista arqueológico, arquitectónico, pré-histórico,
histórico, estético ou sócio – cultural.
Do nosso ponto de vista, o conjunto histórico aporta acima de tudo a integração de
valores sócio – culturais que caracterizam o conceito de ecologia cultural da cidade. A
integração de monumentos, grupos de edifícios históricos no entorno físico da Urbi,
exige a aquisição de programas dirigidos à revitalização dos mesmos, a fim de dotá-los
de um uso social original, ou diferente, mas que seja compatível com as funções
didácticas e pedagógicas que aportam.
Antes de debruçarmos sobre o tema por nós proposto – “O património
arqueológico no solo urbano: caso do Sitio histórico da Cidade Velha Património
da Humanidade” – urge citar a Carta de Veneza de 1964, adoptada pelo ICOMOS, em
relação a definição das terminologias que usaremos nas próximas paginas “ (…)
monumento histórico abrange não só os trabalhos de simples arquitectura, mas
também o enquadramento urbano ou rural onde se encontram as evidências de uma
civilização em particular, um desenvolvimento significativo ou um acontecimento
histórico (…)”.
Ainda suscita algum interesse sublinhar outras definições, também importantes
para o trabalho em apresso, como do casco antigo ou casco histórico. Eles são
empregados para fazer referência a uma delimitação espacial concreta dentro da cidade,
respondendo fundamentalmente aos fins técnicos e operativos inerentes ao ordenamento
do território urbano.
Já que a nossa explanação apresenta um carácter nacional, apesar de focalizar-se
num sítio concreto, também é-nos exigido o recurso á legislação cabo-verdiano em
matéria de património cultural, a fim de clarificar tais conceitos, como sendo “ Sítios
histórico – obras do homem ou obras conjuntas do homem e da natureza, espaços (…)
de maneira a serem delimitados geograficamente, notáveis pelo seu interesse histórico,
arqueológico, artístico, cientifico ou etnológico.” 3
A mesma normativa dá ênfase ao conceito de monumento histórico,
anteriormente citado, como “obras de arquitectura, composições importantes ou
criações mais modestas, notáveis pelo seu interesse histórico, arqueológico, artístico,
cientifico, técnico ou social, incluindo as instalações ou elementos decorativos (…)”4.
Todo este enquadramento legal e conceptual, não tem uma pretensão de
incidirmos a fundo nesta questão de normativa – diga-se de passagem que é um tema
interessante e necessário pincelar a partir de uma reflexão crítica – mas sim dotar o
leitor curioso de algumas ferramentas pertinentes para uma melhor interpretação e
conhecimento sobre a gestão do património arqueológico no solo urbano.
As intervenções sobre monumentos ou conjuntos localizados em solos urbanos, a
relativamente pouco tempo eram motivo de controvérsia por parte dos estudiosos da
matéria, uma vez que esta materia causava uma certa descontextualização do resultado
em relação ao seu entorno urbanístico, paisagístico e sobretudo histórico-social em
função do próprio objecto. Esta tese deve-se à concepção romântica e neoclassicista da
cidade, herdada do século XIX.
As atrocidades contra o conjunto monumental situado nos centros urbanos durante
as duas grandes guerras do século XX, despertaram algumas posições defensivas. Pode
ser considerado como o marco para o surgimento da Carta de Atenas de 1931, onde
foram introduzidos pela primeira vez conceitos como restauração e conservação,
aplicados à intervenção urbanístico.
Posteriormente, a Carta de Veneza de 1964, acima citada, acabou por aprofundar
em termos contextual o conceito do Conjunto e Sitio Histórico. A relação entre o
património e a cidade volta a ganhar força com a adopção do termo “conservação
integrada”, que de acordo com M. MUDARRA, visa “(…) a integração de
3 Lei nº 102/III/90 – Preservação, a defesa e a valorização do património cultural cabo-verdiano.
4 IDEM
monumentos, grupos de edifícios e sítios no entorno físico da cidade actual através de
programas dirigidas a revitalização dos monumentos e edifícios antigos(…)”
(MUDARRA, M.; 1994, 11)
Arqueologia urbana. Origem e concepção
O período renascentista é marcado pelo advento da procura do saber científico,
aliado ao retorno artístico, estético e estilístico da gloriosa antiguidade clássica. Esse
mesmo período histórico é caracterizado, por acesas e frutíferas discussões sobre os
limites desse saber científico. Por um lado os emergentes estudiosos e intelectuais,
sedentos em dar a conhecer a suas pesquisas em várias áreas do saber e por outro a
instituição eclesiástica, ainda amarrada às concepções dogmáticas herdadas a partir do
século II da nossa era.
Acrescenta-se que, o período acima citado ficou marcado pelo surgimento de
algumas correntes teórico-filosoficas e outras com algum cunho empírico, nas
emergentes escolas/universidades europeias, caso da arqueologia que era praticado por
curiosos e cuja principal preocupação era a colecção de objectos raros.
Definido de forma simplista a arqueologia, disciplina científica que estuda as
culturas e os modos de vida do passado, a partir da análise de vestígios materiais,
ganhou uma dinâmica científica a partir dos finais do século XIX, no quadro dos
descobrimentos das grandes civilizações desaparecidas, caso da Babilónia e
Mesopotâmia.
Com origens bastante remota, a arqueologia tem tido uma grande evolução nestes
últimos séculos, graças ao enorme contributo quer doutras ciências e disciplinas, quer
da parte dos seus postulados teóricos e os seus respectivos seguidores.
Segundo definiu Colin Renfrew5 (…) a história da arqueologia é a história das
grandes descobertas, é a evolução do modo de investigar, e uma mudança de atitude na
forma como que questiona, o que se questiona do passado (…). A definição do passado
histórico de cada civilização foi sempre, uma grande inquietude dos povos. O interesse
5 Renfrew, C e Bahn, P.; « Archeology: Theories, Method and Practice», London (1996)
em guardar as suas memórias através das relíquias, estruturas e, todo o tipo de restos
materiais, mostrou desde muito cedo essa preocupação.
De acordo com Suetonio6, o Imperador César Augusto, coleccionava restos de
esqueletos de animais desaparecidos e armas de povos antigos. O interesse coleccionista
manteve-se, e recrudesceu na Renascença, sobretudo quanto a arte clássica, apesar de na
altura as peças serem vistas sob a perspectiva estético – ornamental, e não como
possíveis fontes de informação. É nessa época que surge pela primeira vez o termo
arqueologia, como se entende actualmente. Mas etimologicamente essa palavra é de
origem grega «arkhaiologos – ciência do antigo».
Com a criação das academias de história, a visão que se tinha do passado, através
de objectos e estruturas, começou a ser alterada e o contributo de ciências como a
geologia, e antropologia, e a própria historia, foram cruciais para a autonomização da
ciência arqueológica. A partir dessa data, muitas foram as descobertas7 que cooperaram
para essa afirmação científica.
O século XX, marca uma viragem no que diz respeito aos métodos e técnicas de
abordagem cientifica, com a aparecimento de novas concepções teóricas - Nova
Arqueologia, movimento surgido nos anos 1950/60 e criada pelo arqueólogo
difusionista Lewis Roberts Binford – e novas áreas de actuação arqueológica, que
muitos defendem como uma ramificação “das arqueologias”, cita-se a Arqueologia
Industrial, a Arqueologia da Paisagem, a Arqueologia Forense, etc.
A arqueologia ao longo do seu percurso, enquanto ciência humana e social, tem
tido um papel importante na fundamentação e glorificação de muitas ideologias
6 Gaius Suetonius, nascido em Roma no ano 69.dc, foi um dos grandes historiadores e estudioso da época
Romana, retratando sobretudo a vida das grandes personalidades do seu tempo. 7 A antiga cidade – estado de Tróia, descoberto pelo arqueólogo alemão Heinrich Schliemann, entre os
anos de 1870 e 1890. Situada na Ásia Menor (Actual Turquia), Tróia era um grande centro comercial e
cultural.
O túmulo do jovem Faraó egípcio Tutankhamon descoberto em 1922 pelo arqueólogo britânico Howrd
Cárter e sua equipa. Neste enterramento encontraram peças de ouro, tecidos, armas e textos sagrados do
antigo Egipto.
nacionalistas8, e mais do que isso, ela serviu e servirá como trave mestra para a
afirmação da identidade cultural dos povos, a valorização do seu passado histórico, e
também para a elevação ou refutação de algumas crenças primitivas9.
No que respeita, ao valor sócio – politico da arqueologia, parafraseando Jorge de
Alarcão10
(…) a arqueologia é politica e socialmente útil porque ajuda a descobrir que
tudo no mundo afinal é relativo: verdade, justiça, racionalidade, sistemas políticos e
económicos. A arqueologia ajuda, assim, a construir o pluralismo democrático que
urge reforçar no plano político e instaurar no campo das ciências humanas e sociais
(…)
Figura 2. Escavação arqueológica no Concheiro de Salamansa – São Vicente
(2005)
Dotado de um método de trabalho próprio, e em consonância com outras ciência e
disciplinas auxiliares, a arqueologia estende a sua pratica a qualquer período histórico.
8 Entre os anos de 1920 e 1930, Benito Mussolini antigo ditador italiano, e um dos grandes mentores do
regime fascista, empreendeu cerca de 160 expedições arqueológicas dentro e fora da Itália, com intuito de
descobrir o passado glorioso do vasto império Romano, e desta forma despertar o espírito nacionalista dos
italianos e fundamentar o seu regime ditatorial. 9 No ano de 1784, o 3º presidente dos E.U.A Thomas Jefferson, organiza a primeira escavação científica
na história da Arqueologia. Essa expedição arqueológica visava identificar alguns túmulos índios, afim de
comprovar a veracidade da crença sobre a primitividade da cultura indígena. 10
Alarcão, J. «Para uma Conciliação das Arqueologia» Edições Afrontamento (1996)
Mas, como qualquer outra ciência, existem certas restrições no seu campo de
investigação, que em regra é ditada pelas necessidades analíticas e didácticas. Para fazer
face a isso, as várias correntes epistemologias da ciência arqueológica tem-se debatido
em torno de questões de grande importância metodológica, e a sua aplicabilidade
enquanto saber científico.
A arqueologia abarca diversas «arqueologias», unidas pelos diversos métodos
utilizados, mas diferenciando-se de acordo com o período, a cronologia correspondente:
Arqueologia Pré – histórica, (que constrói as suas hipóteses com base apenas em dados
materiais, devido a inexistência de fontes documentais; arqueologia proto – histórica,
Arqueologia histórica - clássica, medieval, moderna e industrial). Todas elas utilizam
fontes escritas, mas em complementaridade com fontes matérias.
A ciência arqueológica, actualmente é encarada sob uma nova perspectiva,
desprendendo-se dos parâmetros tradicionais de trabalho, que se limitava a uma
interpretação descritiva das peças11
– tipológica e cronologicamente. Ela passou a
preocupar-se mais com a cultura material, as relações sociais (entre os indivíduos e os
próprios objectos) e a contextualização das estações, objectos de estudo, com o seu
meio envolvente.
Essas novas concepções, ou ditas por outras palavras, postulados teórico –
filosóficos que tem acompanhado a ciência arqueológica ao longo da sua caminhada,
tem travado entre si “uma verdadeira luta”, com intuito de, numa lógica cientifica,
comprovarem as suas teses referentes aos demais aspectos relacionados com essa
ciência.
Convergindo entre si nalguns aspectos considerados comuns, mas contrariando-se
em muitos outros, as novas arqueologias tem deambulado ao sabor de certas conjunturas
histórico-sociais e de uma subjectividade muitas vezes condicionadas pelos ideais dos
seus defensores.
11
Arqueologia Histórico – Culturalista. De acordo com Jorge Alarcão, (…) foi a única maneira de fazer a
arqueologia ate a década de 70 do século XX…. Tinha como principal objectivo a classificação
tipológica dos vestígios (…)
A arqueologia Histórico – Culturalista foi a única maneira de fazer a arqueologia
até a década de 70 do século passado. Embora com uma visão muito limitada, ela cinge
o seu trabalho numa simples classificação tipológica e cronológica tanto dos artefactos,
como das estações objectos de estudo. Desta forma, ignora todo o tipo de relação
existente quer entre os indivíduos, quer também entre estes e o meio físico que os
envolvem.
Em contrapartida, as novas correntes epistemológicas surgidas a partir da segunda
metade do século XX, privilegiam mais as relações entre o homem e o meio ambiente
natural que o circunda, embora sem descurar as relações sociais e económicas
estabelecidas. Este postulado teórico salienta a função adaptadora da cultura ao meio
físico.
Figura 3. Estrutura de uma “cabana”e um vaso de boca para baixo. Escavação
arqueológica no Concheiro de Salamansa – São Vicente (2005)
Embora posicionando-se em extremos opostos, pode-se concluir que todas as
teses defendidas por essas correntes têm tido um papel revolucionário, na forma como
se processa a investigação arqueológica. Desde a escolha da temática a ser estudada,
passando pelo trabalho de terreno, até a fase conclusiva, para se fazer um trabalho
cientificamente qualitativo é necessario apoiar-se nesses postulados.
É nos finais da década de 70 em França e Inglaterra, que surge uma especialidade
dentro da vasta gama de estudo da ciência arqueológica, a arqueologia que se faz no
solo urbano – Arqueologia Urbana – e que se apresenta como um excelente
instrumento de gestão patrimonial e territorial dos centros históricos.
Essa intervenção cientifica no território urbano, nem sempre foi alheia á certas
discussões que se foram travando tendo como epicentro o binómio Conservação do
Património versus Desenvolvimento Urbanístico, que alias é tema de um subcapítulo,
deixando brechas para algumas interpretações mal intencionadas e que olham o escavar
dos centros urbanos com traços histórico – arqueológicos, como sinonimo de
constrangimento de ordem social e económico.
A arqueologia urbana encontrou “espaço” no compêndio científico a partir dos
inícios da década acima citada do século XX, onde as primeiras intervenções foram
realizadas em Grã-Bretanha (cidade de Londres em 1973) e posteriormente noutras
paragens do velho continente.
A especial relevância vai para os trabalhos realizados em Roma no ano de 1976,
apresentando-se como um centro de experiencia catalisador dessa nova pratica
arqueológica. A este propósito, podemos destacar os trabalhos de A. Carandini12
, com a
renovação e utilização dessas novas praticas arqueológicas nas escavações de Ostia13
.
Neste pequeno enquadramento histórico é importante ressalvar que, aliado a
progressiva introdução da investigação arqueológica nos espaços urbanos, foram se
criando instituições de acompanhamento técnico e cientifico, com competências para
fazerem o acompanhamento dessas intervenções, mas acima de tudo apoiar e controlar
na gestão de ordenamento do território urbano.
12
CARANDINI A.; Contro lo sterro y per lo scavo. Roma 1976 (traduzido: Contra o desenterro a favor
da escavação)
13 Principal porto marítimo do Império romano.
Pode-se definir a arqueologia urbana, como sendo a adopção das técnicas e dos
métodos de investigação arqueológica dentro de um determinado espaço urbano. A sua
valorização deve-se a “construção” de novas técnicas de intervenção e as concepções
sistemáticas ou analíticas aportadas pela Nova Arqueologia nos inícios da década de 80.
O seu surgimento está inerente à necessidade de regulamentar o forçado
desenvolvimento das cidades históricas, destacando – se como um instrumento eficaz
tanto para os programas de revitalização dos centros urbanos, como para o estudo da
evolução cronológica e urbanístico dos mesmos.
Qualquer estudo arqueológico neste campo tem de ser precedido, de um plano de
acção que faz uso dos seguintes conceitos:
Intervenção de preservação e manutenção
Intervenção de restauração e emergência
Intervenção de Investigação
O cumprimento das recomendações da UNESCO que definem os princípios
internacionais que regulam as intervenções arqueológicas (1956), com a conjugação dos
métodos de restauração arquitectónica, defendidas tanto pelo arquitecto francês Viollet
Le Duc, como pelo inglês John Ruskin, e mais recentemente pelo arqueólogo e
restaurador espanhol Joaquim Barrio, põe em evidencia a necessidade dessa
interdisciplinaridade que esse novo campo de estudo arqueológico exige.
O vasto património arquitectónico, definido como um conjunto de edifícios e/ou
ruínas, que com o passar do tempo adquiriram um valor simbólico excepcional, divido a
sua originalidade arquitectónica e pertença a uma determinada conjuntura histórica, esta
imersa no conceito do património cultural. Desta forma é legitimo afirmar que, tanto os
vestígios arqueológicos como os traços da arquitectura colonial patentes no conjunto
patrimonial da Cidade Velha perfilam, como um valor de peso para o reconhecimento
da Ribeira Grande enquanto um dos mais importantes centros urbanos do período
colonial.
Figura 4. A cidade Velha concebida como um “achado arqueológico”. Fonte
IIPC
O estudo arqueológico da cidade acarretou uma vantagem, que foi a criação de um
projecto global de investigação, ou seja toda a cidade histórico – patrimonial passam a
ser visto como um todo. Nesta perspectiva houve a necessidade de criação de
ferramentas de gestão do espaço urbano, onde a valorização patrimonial, o diagnostico e
a planificação, acabaram centralizando-se num único documento de extrema
importância que é a Carta de Risco Arqueológica.
A linha conceptual desse documento, se baseia em trabalhos de investigação, aos
quais estavam assentes algumas exigências metodológicas, com o fim de conseguir uma
serie de objectivos que vão desde investigação histórico-arqueologico do território, até a
definição das medidas de gestão (protecção, conservação e difusão).
Para o mundo académico/universitário, como é obvio, a arqueologia no solo
urbano é sempre vista com olhos apetecíveis, uma vez que é mais um campo de estudo
passível de trazer à luz todo um levantar de questões, cujas respostas podem depender
dos resultados encontrados – muito embora prematuro, cita-se o exemplo das ultimas
escavações arqueológicas de emergência feitas na Cidade Velha, património da
Humanidade.
Para a classe político/administrativo, a arqueologia feita no solo urbano pode ser
vista de dois ângulos. Para justificar podemos elucidar dois exemplos paradigmáticos.
Nos inícios do século XX, sobretudo a partir da década de 30, os regimes fascistas
italianos (antigo Império Romano) e alemãs (Germanos) empreenderam grandes
escavações arqueológicas nas cidades dos seus respectivos países, afim de legitimar as
suas convicções ideológicas nos grandes feitos dos seus antepassados, muitas delas
baseadas em crenças mitológicas feitas a partir de uma abordagem parapsciologica.
A segunda, muito debatida e tida como a dicotomia entre a conservação do legado
patrimonial e o desenvolvimento urbanístico, acarreta consigo algumas impopularidades
e conflitos no seio da classe dirigente menos ávido e sensibilizado no que diz respeito
ao património cultural, vendo uma escavação arqueológica dentro de um contexto
urbano como causador de transtornos, sobretudo a nível da circulação rodoviária e
comercial.
O Sitio histórico da Cidade Velha
Descoberto/achado pela armada portuguesa a 3 de Dezembro de 1460, na senda da
conjuntura expansionista europeia do século XV, o arquipélago de Cabo Verde situa-se
a 500km do continente, ao largo do promontório africano com o mesmo nome.
Formado por dez ilhas e cinco ilhéus, numa superfície de apenas 4033km2, o seu
clima árido e semi – árido é explicado, pela sua localização na zona sub – saheliana do
continente africano, contando apenas com duas estações muito irregulares (estação de
chuva e estação de seca).
Contudo, desde muito cedo se percebeu que a localização privilegiada de Cabo
Verde, iria contribuir muito ás pretensões da metrópole descobridora – tentativa de
conquistar toda a costa atlântica do continente africano e os rios da Guine, prosseguindo
rumo ao sul, com vista ao descobrimento do caminho marítimo para a Índia.
Figura 5. Cidade Velha. Fonte IIPC
Após uma primeira tentativa infrutífera de povoar as ilhas em 1462, quatro anos
mais tarde, graças a uma intervenção régia – concedendo privilégios fiscais e
comerciais, criou-se o primeiro aglomerado populacional de Cabo Verde e o primeiro
centro colonial nos trópicos – Vila da Ribeira Grande, sede da donataria do sul,
concedida a António de Nóli, que no ano supra citado se transfere para Cabo Verde,
acompanhado por alguns familiares, criados e outros casais algarvios, e assume a
referida capitania a sul da Ilha de Santiago.
Cita-se que essa politica administrativa da Coroa, com o estabelecimento das
capitanias-donatarias, como um modelo de promoção do estabelecimento populacional
nos novos territórios descobertos, não teve os mesmos resultados anteriormente
alcançados nas outras ilhas atlânticas, caso da Madeira e dos Açores.
O inicio do povoamento pela ilha de Santiago – Vila de Ribeira Grande –
obedeceu a vários factores. A primeira por ser a maior ilha do arquipélago, mais fértil e
que de uma forma geral melhores condições oferecia para o assentamento de uma
povoação.
Esse aglomerado era formado por uma pequena parte de população europeia -
atraídos pelos benefícios então concedidos, e por uma grande fracção de escravos,
oriundos dos rios da Guine e de toda a costa ocidental da Africa (muito embora a
maioria destinava - se ás transacções comerciais no famoso comercio triangular –
Africa, América, Europa).
O encontro de culturas e raças diferentes, deu origem a uma miscigenação étnico
– cultural peculiar, onde veio a originar muitos aspectos característicos e genuínos do
homo cabo-verdiano, marcado também por um grande traço de religiosidade cristã,
imposta pela aculturação reinol.
É este facto que acabou por legitimar, a então vila de Ribeira Grande como o
berço da nação, e de toda a cultura cabo-verdiana.
A vila da Ribeira Grande, devido ao seu posicionamento geo – estratégico era o
centro de passagem obrigatória de todo o fluxo marítimo do atlântico, tornando-se num
sítio cada vez mais atraente para os grandes navegadores da altura (cita-se o exemplo,
da passagem de Vasco da Gama, no seu caminho para a Índia, de Cristóvão Colombo
em 1498, na sua terceira viagem para as Américas), oferecendo boas condições de
defesa natural, possuindo uma ribeira navegável, um excelente ancoradouro, e nascentes
de agua doce potável.
A igreja, ao longo de toda a epopeia expansionista do século XV, exerceu um
papel capital na cristianização e ladinização dos povos. Ombreando ao lado do poder
monárquico, a sua importancia era bem visível pela construção na época de inúmeras
igrejas e capelas, pela edificação de seminários e escolas clericais.
É neste contexto sócio – religioso que, pela bula papal de 31 de Janeiro de 1533 –
Clemente VII – a pedido do rei de Portugal D. João III, criou-se a Diocese de Santiago
de Cabo Verde e Guine e a respectiva sede do bispado, na pequena vila quinhentista que
emergia.
Figura 6. Ruínas da Torre da Misericordia e da Sé Catedral – Cidade Velha.
Fonte IIPC
Consequentemente estavam reunidas as condições para a elevação da Ribeira
Grande à categoria de cidade, consumado no mesmo ano de 1533, possuindo todo um
aparelho administrativo e judicial capaz de responder ás demandas que pudessem surgir.
Embora com uma população bastante reduzida – até aos meados do século XVI,
cerca de 500 habitações – a cidade foi-se desenvolvendo em torno do seu ancoradouro,
prolongando-se até ao interior do vale, e pelas plataformas limítrofes que vieram a
originar os três principais bairros da cidade, S. Brás, S. Sebastião, e S. António.
Ao longo de três séculos de história, o pequeno burgo colonial ganhou uma
grande importância enquanto primeiro centro administrativo, religioso e económico nos
trópicos, o que justificou a construção de grandes edifícios, de carácter religioso e
militar, a destacar:
Fortaleza Real de S. Felipe: domina a cidade nos seus altos 120 metros
de altitude. Foi mandada construir pelo rei Felipe I de Portugal (Felipe II de
Espanha) em 1587, para defender a colónia portuguesa de sucessivos ataques
dos piratas/corsários ingleses e franceses, cita-se o exemplo de Francis Drake, e
Jacques Cassard.
A sé catedral: a primeira construída em Africa, sendo até a presente data
única sé de Cabo Verde. Começou a ser construída em 1556, numa localização
privilegiada, frente ao oceano.A sua construção demorou cerca de 120 anos,
devendo-se tal facto ás varias crises internas da própria instituição clerical, e
também na sua relação com o poder monárquico. Todavia é de realçar, que dois
anos apôs a sua edificação, o grande orador português o padre António Vieira na
sua passagem para o Brasil em 22 de Novembro de 1642, fez algumas pregações
e baptismo. O seu declínio é contemporâneo à queda da própria cidade,
devendo-se a uma grande intempérie e a sucessivos ataques dos piratas.
Encontra-se actualmente em estado de ruínas.
Convento/igreja de S. Francisco: mandado construir em 1634 por uma
rica proprietária natural da ilha – Joana Coelho – durante muito tempo foi um
local, de acolhimento dos frades capuchinhos.
Igreja Nossa senhora do Rosário: construída em 1495, é a mais antiga
igreja colonial do mundo. Inicialmente era uma pequena capela gótica de estilo
manuelino, construída pelos homens negros livres da ilha em devoção á santa.
Com o passar do tempo começou a ser ampliada, ganhando contornos que ainda
hoje são visíveis.
Pelourinho ou Picota: erguido em 1512 em mármore branco, era o
símbolo do poder judicial e administrativo. Também funcionava como uma
verdadeira praça comercial, visto que situava-se a uns escassos metros do
ancoradouro da cidade.
A esses legados materiais construídos, podemos acrescentar outras ruínas ou
estruturas arqueológicas, das quais os vestígios de encontram num estado avançado de
deterioro e sob a qual urge uma intervenção de emergência, cita-se o exemplo das ruínas
da casa do Governador, da companhia Grão-Para e Maranhão, do colégio dos Jesuítas,
igreja de Nossa Senhora de Conceição e de São Pedro, e os pequenos fortes. Mas sobre
essas estruturas arqueológicas, debruçaremos mais a fundo nos próximos capítulos.
Figura 7. Igreja Nossa Senhora de Rosário-Cidade Velha. Fonte IIPC
Todos os monumentos acima citados, fazem parte de um legado importante para a
historia de Cabo Verde em particular, e de toda a humanidade em geral, visto que são
traços característicos marcantes de um dado período da historia humana (expansão
ultramarina e tráfico negreiro – comercio triangular) e são exemplos naturais de um tipo
de construção arquitectónico, que ilustra um estádio significativo da historia da
humanidade.
Todavia, a cidade teve um ciclo de vida relativamente curto, porque a sua
decadência, segundo reza a historia, processou-se num ritmo bastante acelerado. Foi
provocada, principalmente pela perda definitiva da posição da cidade como entreposto
do comércio internacional e pelo clima de insegurança, gerado pelos constantes ataques
dos navios piratas, que cobiçavam as riquezas que ali geravam.
É nesse contexto que, a 13 de Dezembro de 1769 fica consumada a queda
definitiva da cidade da Ribeira Grande. A sede do bispado é transferida para a vila da
Praia, seguindo-lhe o governo, e no ano de 1858 a vila de Praia de Santa Maria é
elevada à categoria de cidade.
Da Urbe Quinhentista da Ribeira Grande à Cidade Velha Património da
Humanidade. A configuração do Espaço Urbano
A configuração urbana do aglomerado que a antiga vila da Ribeira Grande
ocupada obedeceu a uma lógica geográfica dependente das características orográficas.
Consta-se que até à metade da centúria de dezésseis não se introduziram grandes
alterações, sendo a instalação a volta do ancoradouro. Segundo o Arquitecto Fernando
Pires, “após a consolidação do povoado (…), este seguiu um percurso normal de
crescimento, paralelamente à intensidade do comércio desenvolvido pelos moradores
com a costa da Guiné (…)”. Na sua analise o citado autor acrescenta “(…) O núcleo que
se tinha formado, junto ao porto, já se tinha expandido mais para nascente e para a
margem esquerda da Ribeira que atravessava a cidade (…)”14
.
Esse panorama urbanístico muda drasticamente após a elevação da vila de Ribeira
Grande a categoria de cidade e diocese, o que obrigou a alguns investimentos por parte
da Coroa. Esses investimentos passaram por uma reconfiguração do espaço atendendo
as novas necessidades da cidade, que a partir de 1560 já contava com mais de 500
vizinhos.
No ano de 1626 os oficiais do rei Filipe II descreviam a cidade, frisando a
existência de três grandes bairros, o de São Pedro, o de São Sebastião, e o de São Brás.
O primeiro, situando na margem esquerda da ribeira era o maior, fazendo parte três
ruas: a rua de S. Pedro, ou rua da Direita, a rua da Carreira e da Banana,
respectivamente. Essas eram consideradas as ruas mais importantes da cidade, onde
viviam as pessoas mais abastadas do burgo, funcionários régios e comerciantes.
O bairro de São Brás, situado na zona noroeste da cidade, era constituído por uma
única rua designada por rua da Cidade ou rua de Direita de São Brás, que dividia o
bairro em duas partes. Considerado o bairro mais sadio da cidade e por se situar em
frente ao mar, era habitado pelos padres da Companhia de Jesus, que nas primeiras
14
Pires Fernando (2007); “Da Cidade da Ribeira Grande à Cidade Velha em Cabo
Verde: Analise Histórico-Formal de Espaço Urbano – séc. XV a XVIII”. Uni-cv. Praia
décadas dos século XVII compraram uma serie de lotes para a construção das suas
residências.
Por ultimo o bairro de São Sebastião situado entre os 30 e 40 metros acima do
nível do mar a sudeste da cidade. O bairro foi erigido nos arredores da Sé Catedral, com
uma única rua que ligava a Sé à Fortaleza Real de São Filipe.
O Largo do Pelourinho também se configurou como um espaço importante, onde
se instalaram os primeiros povoadores e onde foram construídas alguns “sobrados” e
armazéns que funcionavam como zona comercial ao pé do porto. Consta-se que do
espaço adjacente ao Largo do Pelourinho, faziam parte três ruas, sendo elas a da
Misericórdia, a do Calhau e a do Porto.
Durante o século XVI adopta-se então um “programa” de construção de edifícios
de carácter religioso, militar, administrativo e civil. A título de exemplo, cita-se que foi
nesse período que se procedeu a ampliação da igreja de Nossa Senhora de Rosário. Mas
a mas majestosa edificação foi sem dúvida a Igreja da Misericórdia em 1556, ao mesmo
tempo que a Sé Catedral. Também no bairro de São Sebastião foi construído o palácio
episcopal situado nas cercanias da Sé.
No que se refere aos edifícios de carácter administrativo, o engenheiro Antonio
Andreas ilustra na sua planta, datada de 1769, o que supostamente poderia ser o edifício
da câmara municipal situado na margen esquerda da ribeira, no inicio da rua da Banana.
Ainda citando, o Arquitecto Fernando Pires “(…) um edifício separado para a
prisão aparece na referida planta (…) no Largo de Pelourinho, com afrente orientada
para o terreiro da Misericórdia (…) onde funcionava o hospital. Os mais significativos
edifícios existentes no burgo eram casas de alguns funcionário da Corão ou alguns ricos
comerciantes da cidade (…)”15
.
15
A gestão do património arqueológico; Historia das intervenções
Numa altura em que muito se tem debatido, sobre um possível chegada ás ilhas,
povos da costa ocidental do continente africano e Árabes, antes da segunda metade do
século XV, é cada vez mais notório a importância que a arqueologia vem adquirindo, na
ultima década do século XX, e isso tem recrudescido cada vez mais, e a titulo de
exemplo, o realce vai para a segunda fase das escavações no Concheiro de Salamansa.
As primeiras intervenções arqueológicas e de restauração arquitectónica, que se
conhecem na Cidade Velha datam do ano 1960, realizadas pelo governo colonial
português, da qual não há registos científicos.
Desde a década de 80 do século passado, que a cidade berço de Cabo Verde tem
sido palco de inúmeras intervenções arqueológicas pontuais, sobretudo nalguns
edifícios testemunhos da inquestionável importância da antiga vila da Ribeira Grande na
Historia da Humanidade durante os séculos XV, XVI, XVII e XVIII.
Caso de exemplo é a Sé Catedral em 1986 e 1989 respectivamente, em que as
escavações arqueológicas foram levadas a cabo por uma equipa de arqueólogos
portuguesas liderados pelo arqueólogo Clementino Amaro. Posteriormente, sobretudo a
partir dos finais da década de 90, sucederam-se varias outras intervenções arqueológicas
e arquitectónicas centrando-se na consolidação das ruínas a partir do processo de
anastilosis, com o objectivo de garantir a autenticidade arquitectónica do edifício em
causa. Todos esses trabalhos foram coordenadas pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira e
sua equipa ao serviço do Instituto Português do Património Arquitectónico.
A referida missão tinha como principal objectivo, a reabilitação arquitectónica
daquele monumento seiscentista, e a recuperação de alguns espólios e túmulos da época,
a partir de escavações arqueológicas.16
Os resultados desta intervenção foram
importantes para o conhecimento de toda a extensão do edifício. No seu interior foram
descobertos alguns enterramentos de membros do clero, e outros notáveis da ilha.
16
Amaro. C; «Escavações Arqueológicas na Cidade Velha», in Revista Oceanos nº 5, Novembro de 1990
Citam-se as intervenções arqueológicas noutros edifícios, com a Fortaleza Real de
S. Felipe, e Convento/Igreja de São Francisco. A elas podemos acrescentar as
escavações arqueológicas realizadas a partir do ano 2002, com a segunda fase das
intervenções na Fortaleza Real, Convento São Francisco, Igreja Nossa Senhora do
Rosário, Igreja Nossa Senhora de Conceição, Colégio dos Jesuítas, e Hospital/Igreja da
Misericórdia.
Em 1999, com a colaboração da Agencia Espanhola de Cooperação Internacional
e Desenvolvimento (AECID), começaram as intervenções arqueológicas e
arquitectónicas no quadro do projecto de Salvaguarda do Património Histórico e
Arquitectónico de Cidade Velha, financiada pelo governo espanhol. Este projecto visou
alguns edifícios imponentes dentro do contexto monumental da cidade, caso da
Fortaleza Real de São Filipe, Pelourinho, Rua da Banana, Igreja Nossa Senhora do
Rosário e Convento/Igreja de São Francisco.
No ano de 2005, procedeu-se a primeira fase do projecto de escavação
arqueológica na antiga capela de Nossa Sra. de Conceição, Convento dos Jesuítas e
Hospital/Igreja da Misericórdia, sob a coordenação do IIPC, em colaboração com a
Universidade de Cambridge (Inglaterra) e Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.
Essas intervenções foram parcelarmente concluídas já no decurso do ano 2006,
com a vinda da mesma equipa. E teve como principal objecto a maximização dos
resultados da primeira campanha.
Acrescenta-se que a preocupação com o património arqueológica da Cidade
Velha, hoje património da Humanidade, que pelas evidencias matérias históricas não é
tarefa só dos nossos dias.
Ás intervenções acima exemplificadas, podemos acrescentar os trabalhos
seguimento das obras de colocação/canalização da rede de agua percurso Santa Clara –
Cidade Velha/Praia, no ano de 1986, promovida pelo então governo de Cabo Verde, sob
a égide construtiva de uma empresa italiana e acompanhadas pelos técnicos do
Ministério da Cultura.
O sucesso da campanha derivou do facto da Cidade Velha na altura não era alvo
de cobiças sócio-economicas e de jogos politico-partidarios, o que foi um factor
favorável para o bom desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos a que se pode
acrescentar a indiferença por parte da pacata população residente.
Figura 8. Estrturas de um edificios encontrados durantes as escavações
arqueologicas, no ambito do projecto de Rede Sanitaria da Cidade Velha
Na sequencia das obras de saneamento da cidade, levadas a cabo pela edilidade
local – Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago – nos finais da ano transacto
(2009) foram descobertas algumas evidencias materiais moveis e imóveis, que de
acordo com algumas conclusões prematuras, tratam-se vestígios do período áureo da
vila e Ribeira Grande (Sec. XVI-XVII).
O seu seguimento, e tendo em consideração a lei de base de património cultural
cabo-verdiano acima referido, foi feito pelos arqueólogos cabo-verdianos afectos ao
quadro do Instituto de Investigação e do Património Culturais, em parceria com a
Unidade Arqueológica da prestigiada Universidade britânica de Cambridge, que
aportaram todo o seu know-how.
Um dos grandes handcap desses trabalhos prende-se com o facto de se tratar de
uma intervenção de emergência, muito embora tenha um carácter preventivo e de
salvamento. Isso implica trazer a baila uma questão anteriormente mencionada,
conservar e preservar o legado patrimonial encontrado e pertencente a um dos períodos
mais marcantes da historia da Humanidade – trafico de escravo e comercio triangular
atlântica – ou destrui-la afim de não travarem a normal dinâmica de desenvolvimento
daquela cidade histórico-patrimonial?
Embora a arqueologia é notoriamente conhecida como uma ciência destrutiva na
medida em que para fazer uma escavação arqueológica é necessário alterar o contexto
original dos achados, para uma cidade património da Humanidade é fundamental
mitigar os impactos dessa destruição, ou pelo menos torná-la aos olhos dos visitantes
como algo atractivo desde ponto de vista turístico.
Em jeito de resumo podemos realçar que todas essas intervenções contribuíram
para o aumento e conhecimento desse legado histórico, bem como a comprovação das
cronologias absolutas propostas pelos documentos escritos da época, permitindo
inferências de diversas naturezas como sendo:
No plano urbanístico, as intervenções levadas a cabo na Rua de Banana e
Rua Carreira possibilitaram o conhecimento do traçado original destas duas ruas
localizadas na plataforma adjacente ao nível do mar, bem como comprovar a
disposição original da praça central situada na rua de Calhau – apesar de carecer
de uma escavação mais exaustiva.
A nível arquitectónico, foi possível trazer à luz, as verdadeiras dimensões
de edifícios como o convento/igreja de São Francisco, e da divisão interna da Sé
Catedral, da Fortaleza Real de São Felipe e da Igreja do Nossa Senhora de
Rosário, que também foram alvos de intervenções arquitectónicas. Ainda neste
apartado urge realçar a importante faina para o conhecimento integral de toda a
área da antiga capela de Nossa Senhora de Conceição bem como do Seminário
dos Jesuítas.
Os restos móveis – moedas, crucifixos, manilhas, correntes, peças
cerâmicas – foram importantes veículos de transmissão de informações de
índole, económico, sócio-politico, religioso e cultural. O estudo da flora e da
fauna teve o seu papel destacado a partir dos testemunhos encontrados como
ossos de animais, e pólen das plantas.
Figura 9. Pavimento do periodo aureo da cidade de Ribeira Grande. Sec XVI
Contudo, existem alguns edifícios de carácter civil, militar e religioso que também
carecem de um estudo exaustivo nesse domínio, como é o caso da antiga Igreja/Hospital
da Misericórdia, dos fortes de Santo António, São Veríssimo e São Braz, assim como as
demais capelas erguidas por toda a cidade de acordo com as fontes escritas.
A dicotomia entre a Conservação do Património e o Desenvolvimento
Urbanístico.
Dando pistas para uma futura reflexão, como é alias a intenção dessa nossa
intervenção, podemos citar alguns casos de cidade históricas que têm lidado com esse
dilema, e que na maioria dos casos, tem-se conseguido um ponto de equilíbrio e ganhos
extraordinários.
Na sequência das obras da terceira linha de metro de Roma, nos últimos anos tem-
se deparado com muitas estruturas arqueológicas, pertencentes ao antigo império
romano, o que fez com que a Cidade de Roma fosse apelidada como o maior Museu
Subterrânea do mundo. De entre elas, foram descobertas o Ateneu do Imperador
Adriano, datada do século II a.c.
Tendo em consideração os ganhos que a cidade de Roma tem tido durante os
últimos 30 anos devido ao seu legado patrimonial arqueológico e arquitectónico, a
sensibilidade dos decisores políticos e sobretudo da população – vendo no fluxo
turístico o principal recurso económico da cidade – “obrigaram” a que o técnicos
(engenheiros e arquitectos) desviassem o traçado original da rede metropolitana e que o
escavassem numa profundidade de 30 metros.
Este exemplo pode ser tido como ponto conciliador e de entendimento entre os
trabalhos de melhoria urbana e o preservar do património cultural, dado que ambos são
prioritários e que de uma forma directa afectam o bem-estar da população.
Outro exemplo que propomos sublinhar, mas num sentido completamente
antagónico ao anteriormente citado é o do pequeno núcleo urbano de Cercadilla, na
cidade espanhola de Córdoba.
No âmbito do projecto de extensão da rede ferroviária de alta velocidade na região
a sul de Espanha, com o propósito de levar esse meio de transporte ás instalações do
EXPO SEVILHA de 1992, foi encontrado o maior palácio romano da Península Ibérica,
mandado construir pelo Imperador Maximiano entre os anos 293 e 305 da nossa era.
Devido às exigências e a pressão de resultados a curto prazo, houve a necessidade
de destruir a maior parte desse magnifico complexo arqueológico, pertencente a um dos
períodos mais marcantes da história da humanidade. Essa decisão surgiu após varias
discussões entre a classe politica, ávida por deixar a sua marca num dos eventos sócio –
económicos de maior envergadura no velho continente, e o mundo académico/cientifico,
consciente do valor histórico e patrimonial dos achados arqueológicos de Cercadilla
Parafraseando o arquitecto Marcelo Brito (BRITO 2009; 12), “ as cidades e os
conjuntos históricos estão submetidos á profundas transformações funcionais e sociais,
configurando-se como realidades urbanas onde convivem em tensão permanente, a
tensão da mudança, velhas e novas funções”. Ainda afirma que “A conservação e
gestão das cidade da Lista de Património estão encontrando dificuldades para integrar
o turismo, assim como para adaptar as paisagens do passado ás novas funcionalidades,
preservando a multifuncionalidade”.
Encontrar um equilíbrio entre a cidade do progresso e a cidade da cultura não é
nada fácil. Esse equilíbrio torna-se ainda mais complicado, uma vez que essas cidades
históricas e culturais tornam – se potenciais recursos turísticos, o que atrai milhares de
visitantes, consequentemente problemas do ponto de vista de conservação e de gestão
patrimonial.
Alias, o citado autor acrescenta ainda que, (…) as razões que justificam a
inscrição de um bem na Lista do Património Mundial, ou seja, seu valor excepcional,
singularidade e autenticidade, são as mesmas pelas quais milhões de turistas desejam
visita-lo. Porem, embora o desenvolvimento do turismo possa contribuir para a
revitalização funcional dos centros históricos, o incremento dos fluxos de visitantes (…)
representa uma crescente ameaça (…)” isso no que se refere á conservação e
preservação desses sítios históricos.
A potencialidade que o património cultural urbano possui como referencial de
identidade de uma determinada sociedade, pelo seu valor social, económico, cultural e
ambiental, pode se constituir em um importante factor para impulsionar um
desenvolvimento sustentável quando trabalhada e empregada adequadamente, desde
perspectiva do turismo cultural.
Conclusão
Este trabalho visou em primeiro lugar, alertar para a importância que exerce o
estudo arqueológico da cidade, a sua contribuição para a criação de um plano de gestão
do património, capaz de contribuir para uma correcta conservação, preservação e
difusão do legado cultural, bem como, apontar a importância que este estudo tem
enquanto recurso de desenvolvimento sustentável da população.
A gestão do património histórico a partir da arqueologia urbana tem como ponto
de partida o estudo e a conservação de determinados objectos e estruturas especialmente
apreciados, produzidos pela actividade humana no passado e que perduram até aos
nossos dias, exigindo desta maneira a sua divulgação enquanto legado do passado. Por
esta razão, a definição e modalidades de execução das actividades, para todo o
património cultural tem de estar articulado em torno das seguintes orientações
estratégicas:
Aplicação de uma concepção integrada das actividades de escavação,
conservação, restauração e reabilitação dos sítios culturais com o objectivo de
contribuir para a sua valorização enquanto produto cultural.
.
Contribuição para o fortalecimento das capacidades endógenas do país,
mediante a formação idónea dos especialistas na preservação e fomento do
património cultural
A aquisição de um plano de gestão, entendido como um conjunto de actuações
programadas com o objectivo de conseguir uma óptima conservação dos bens
patrimoniais e o seu uso adequado ás exigências sociais contemporâneas, apresenta
como principais funções:
Identificação e documentação dos bens patrimoniais;
Estudo e conservação dos mesmos
Divulgação e interpretação
Em conformidade com as constatações acima descritas, o Plano de Gestão tem
que ser metódicamente bem concebida, e focando como objectivos fundamentais:
1- Conservação e protecção do conjunto histórico – patrimonial da Cidade
Velha
A conservação das áreas urbanas históricas, só pode ser eficaz, se estiver
integrada numa política coerente de desenvolvimento económico – social e se tomarmos
em consideração a planificação territorial e económica a todos os níveis. Não se pode
ver a cidade histórica só do ponto de vista da recuperação estética, mas também há que
ter em consideração todas as actividades que se desenvolvem e sobretudo, os seus
habitantes.
A conservação do carácter histórico – cultural da região e das área
limítrofes do território, e todos aqueles elementos matérias que determinam sua
imagem, como sendo a originalidade arquitectónica dos edifícios, o traçado
urbano, e a relação entre população e o entorno. Qualquer ameaça a estes valores
compromete a autenticidade patrimonial da Urbis e supõe um empobrecimento
do património herdado.
A planificação da reabilitação tem de ser precedida de estudos
multidisciplinares. É necessario incluir uma análise de dados arqueológicos,
históricos, sociológicos e económicos, a fim de conseguir uma relação
harmónica entre a área urbana histórica e os futuros conjuntos habitacionais.
Para garantir o cumprimento eficaz dos pontos acima citados, é fundamental:
Introdução de sistema de conservação preventiva;
Conclusão da reabilitação/restauro dos monumentos;
Reforçar a capacidade técnica dos intervenientes na conservação e
gestão do Sítio
Adopção de uma politica de sensibilização da população na
temática de conservação e restauração do património histórico – cultural;
Criação e aplicação de dispositivos legais para a protecção de
todo o Sítio Histórico, de acordo com as normas nacionais e internacionais
vigentes.
2-Estudo/Investigação do conjunto histórico – patrimonial da Cidade Velha
Projecto integral de Arqueologia Urbana – a cidade concebida como um
achado arqueológico: Investigação, Integração e Difusão (cientifica, pedagógica,
patrimonial):
Concepção de um plano de arqueologia de salvamento integral;
Coordenação única dos projectos de investigação arqueológica:
Execução de um projecto permanente de pesquisa de arqueologia
subaquática;
Elaboração de uma carta de risco de conjunto patrimonial – Carta
Arqueológica;
Criação de um Sistema de Informação do Património Histórico Urbano.
Registo Informático e elaboração de ficha de diagnóstico do
conjunto histórico – patrimonia;l
Informação gráfica Geo – referenciada;
Formação de um núcleo de investigação multidisciplinar permanente,
com o objectivo de aprofundar o conhecimento do Sítio.
Cooperação e colaboração cientifica entre os centros de investigação
nacionais e estrangeiras
3-Difusão/Divulgação do Sitio histórico
Musealização integral de todo o conjunto histórico – patrimonial da
Cidade Velha, segundo os conceitos da Nova Museologia → Eco – Museu:
Edifício museu → Território
Colecções → Património
Publico → Comunidade
Apresentação in situ do conjunto arquitectónico e arqueológico
que compõe o sitio
Criação de Parques arqueológicos e dos respectivos centros
interpretativos, bem como nos lugares de interesse etnológicos – com uma
sinalização infografica do sitio, reconstrução dos elementos arquitectónicas,
e recriação de situações históricas vividas através de meios audiovisuais.
Criação de núcleos museológicos que caracterizam os aspectos
antropológicos relacionados com os mais diversos aspectos sócio – cultural,
da comunidade
Dotar de um programa de interpretação, que permita expor a
importância de cada estrutura construída – arqueológico e arquitectónico – e
o seu relação com o entorno paisagístico.
Introdução de ferramentas didácticas e pedagógicas no sistema educativo
nacional, com o propósito de engajar toda a classe académica nacional na
problemática do património.
Presença da arqueologia de campo, arqueologia subaquática e de toda a
cultura imaterial nos programas de turismo cultural
Fundação de uma escola de património (onde os aspectos relacionados
com a sensibilização e formação já foram retratados nos capítulos anteriores)
Realização de seminários, conferencias e ateliers, de carácter científico –
pedagógico, sobre o passado, presente e futuro da região
Criação de um sítio web e de uma revista científica, em que toda a
publicação girará em torno das investigações sobre o sítio.
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