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ARTIGO PDE 2010

MEMÓRIAS CULTURAIS DE CASTRO E CURITIBA

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Professora: Ana Maria Nachornik

Área/Disciplina PDE: Paraná: História e Historiografia

Núcleo Regional de Educação: Curitiba

Instituição de Ensino Superior: Universidade Federal do Paraná - UFPR

Professor Orientador: Dr. Dennison de Oliveira

Tema: Memórias Culturais de Castro e Curitiba

Delimitação do Título: Castro: Sede Temporária da Capital do Paraná, em 1894.

RESUMO: O presente artigo é resultado de uma pesquisa aprofundada sobre o tema “Memórias Culturais de Castro e Curitiba”,tendo como título: “Castro: sede temporária da capital do Paraná, em 1894”, para resgatar a história política e social da cidade de Castro, durante o período em que foi, temporariamente a capital interina do Paraná, em função de Curitiba ter sido ocupada por tropas gaúchas devido a Revolução Federalista. A escolha do tema e do título do projeto deveu-se a constatação do desconhecimento pela maioria dos alunos de que a cidade de Castro já foi sede provisória do governo doEstado do Paraná, por três meses, em 1894, devido à invasão das tropas federalistas que marcou um período sangrento da história paranaense. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, bem como fotografias dos monumentos centenários ainda existentes e preservados, desde o século XIX, nas duas localidades estudadas, além de uma Unidade Didática com atividades pedagógicas lúdicas,destinadas àimplementação do projeto PDE– Projeto de Desenvolvimento Educacional,na Escola Estadual Dona Carola, em Curitiba, aos alunos da 8ª série do ensino fundamental.Tanto o Projeto como a Unidade Temática também foram utilizados no Curso GTR – Grupo de Trabalho em Rede,para professores de escolas e colégiosde diferentes municípios paranaenses que expressaram interesse pelo assunto abordado, onde foram feitas discussões e valiosas trocas de experiências com o tema trabalhado.

PALAVRAS-CHAVE: Castro; capital provisória; revolução federalista;

ludopedagógicas; monumentos centenários; Barão do Serro Azul.

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INTRODUÇÃO

Este Artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa sobre uma

parcela importante da história paranaense quando a sede do Município de

Castro,por três meses, durante a Revolução Federalista tornou-se a sede temporária

do Governo do Paraná.

Para alcançar os objetivos propostos, foram pesquisadas as literaturas referentes ao

patrimônio histórico centenário da revolução de 1894 existentesnos Municípios de

Castro e Curitiba. Patrimônio este que em sua maioria continua relativamente bem

preservado engrandecendo a memória cultural dos paranaenses.

Um dos objetivos primordiais do trabalho foi o envolvimento dos alunos neste

importantíssimo aprendizado histórico, ensinando-lhes, de forma lúdica, ou seja,

brincando e aprendendo de maneira agradável o resgate histórico do Paraná que

remonta ao século XIX.

De acordo com Schmidt e Cainelli (2010, p. 150):

(....) quando aprendem história, os alunos estão realizando uma leitura do mundo

onde vivem e, assim, o tempo presente pode se tornar o maior laboratório de estudo

para a aprendizagem em história, pois é neste tempo, com as memórias que foram

preservadas, que o aluno começa a entender que a história também se faz fora da

sala de aula e que o passado se faz presente nas praças, nos monumentos, nas

festas cívicas, nos nomes de ruas e colégios.

Outro objetivo foi anecessidade da expansão do processo ensino-aprendizagem

com atividades que possibilitem ao aluno explorar e expor fora do ambiente escolar

suas ideias e impressões, tornando significativo àquilo que se aprende, ensinando-o

a respeitar o patrimônio cultural paranaense que testemunha o passado local, em

memória dos diferentes grupos formadores da nossa sociedade.Essa forma de

trabalho é corroborada porSchmidt e Cainelli (2010, p. 150), que assim se

expressam:

A partir dessa percepção, os alunos desenvolvem a capacidade de fazer perguntas aos homens de outros tempos, sobre o lugar onde vivem e sobre os objetos que conhecem em museus ou arquivos,verificando a diferença entre os homens de outras épocas e os contemporâneos e que os homens do passado fazem parte de sua história.

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O projeto de intervenção pedagógica foi aplicado aos alunos da 8ª série do

Ensino Fundamental, da Escola Estadual Dona Carola, no Município de Curitiba/PR.

As atividades foram feitas com base no projeto “Memórias Culturais de Castro e

Curitiba” tendo como título “Castro: sede temporária da capital do Paraná, em 1894”,

para que os alunos do ensino fundamental tenham conhecimento desse tema

pouquíssimo divulgado pela mídia e que não consta dos currículos escolares do

Ensino Fundamental e Médio. Constatou-se que a única forma do aluno acessar

esse tema tão importante da história do Paraná, bem como do Brasil, é através de

pesquisa por conta própria.

Ao indagar os alunos da referida escola se elestinham conhecimento da

transferência da sede do governo do Paraná para Castro no passado, verificou-se

que possuíam algumas informações gerais da História do Paraná, mas nunca sobre

a transferência da capital paranaense. É lamentável que este tema não constedos

livros oficiais distribuídos aos alunos. Infelizmente privilegia-se a História Geral, a

história dos povos de outros países, desvalorizando a história local, desprezando a

história do nosso país e deixando de lado acontecimentos tão importantes ocorridos

no Estado doParaná.

Este projeto objetiva suprir este déficit dos livros escolares, proporcionando

uma aprendizagem agradável, de modo a despertar a curiosidade dos nossos

educandos, com o intuito de que eles, ao observarem um monumento histórico,

percebam o seu significado histórico e cultural, bem como toda a trama ocorrida com

as pessoas no passado tanto de Curitiba como nos demais municípios do Paraná.

Contribui também para um olhar diferenciado em relação às belezas históricas da

cidade onde vivem e de lugares que futuramente visitem. Pretende-se ainda que

sejam multiplicadores destas informações tão valiosas, sobre a vida dos nossos

antepassados, resgatando a história política, social e cultural dos municípios

envolvidos no episódio da Revolução Federalista.

A técnica proposta de ensino/aprendizagem ludopedagógica se deu através

da confecção de jogos pedagógicos, calendários e de marcador de páginas, com

gravuras das instituições centenárias existentes desde o período estudado e que

permanecem preservados até os dias atuais. Também, foi passado um filme “O

Preço da Paz” para um melhor entendimento do que ocorreu no Paraná, durante a

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invasão dos revoltosos federalistas. Assim, os educandos além do conhecimento

sobre o tema puderam perceber a importância de se preservar os monumentos

históricos que são um legado às futuras gerações.

Também, como temas transversais, foram transmitidosconteúdos sobre as

dificuldades dos meios de transporte e de comunicação do período estudado, bem

como sobre o papel decisivo que o Paraná desempenhou nesta revolução

sangrenta, impedindo que os revoltosos continuassem sua marcha até o Rio de

Janeiro, que era a capital brasileira.

Durante os estudos os alunos passaram a perceber como,graças aos

combatentes paranaenses aliados do presidente Marechal Floriano, a nossa

República foi consolidada e os revoltosos federalistas derrotados. Entenderam que a

consolidação da nossa República foi conseguida pela atitude heroica e corajosa do

General Carneiro que, através da defesa da Lapa, mesmo estando esta cidade

cercada pelos revoltosos federalistas, conseguiu resistir bravamente aos ataques,

sem aceitar rendição, até ser ferido e morto em 09 de fevereiro de 1894. Essa

resistência prolongada impediu que os revoltosos federalistas seguissem para São

Paulo e depois para o Rio de Janeiro, dando tempo para que o Marechal Floriano

conseguisse reorganizar a sua defesa e expulsar os invasores. Compreenderam que

essa resistência impediu que os paulistanos, não sofressem ataques e nem saques,

ficando livres de uma luta sangrenta em seu território.

Até 1870, a localidade de Rio Negro fazia parte do município da Lapa, do qual

distam hoje 54 km por terra. No Paraná, o centro da Revolução Federalista foi asede

do Município da Lapa, onde as forças legalistas foram cercadas pelos

revolucionários, resistindo de 10 de janeiro a 15 de fevereiro de 1894 (DENISSON,

2011). Para Narozniak (2010, p. 127)“no Paraná, os gaúchos revoltosos foram

detidos graças a um pequeno grupo de soldados tendo a frente o general Carneiro.

A nação é grata a esses heróis. Tanto é que a Quinta Região Militar passou a ser

denominada “Heróis da Lapa””.

Embora os sitiados fossem derrotados, o cerco da Lapa atrasou de forma

significativa as operações dos revolucionários, sendo considerado um episódio

decisivo no conjunto daquelas campanhas militares. Na Lapa – na qual até então se

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incluía a região de Rio Negro – centenas de civis e combatentes de ambos os lados

perderam a vida.

De acordo com Mocellin (1989, p. 7), em 1892, no Rio Grande do Sul, Júlio de

Castilhos é reconduzido ao poder, mas seus adversários, inconformados, iniciam

atos de hostilidade que culminam com a guerra civil ou Revolução Federalista

considerada por muitos historiadores como a mais bárbara das revoluções latino-

americanas, sendo denominada de a Revolução da Degola.

Para Sêga (2008, p. 86) a Revolução Federalista é a denominação mais

conhecida da série de conflitos armados que ocorreram nos três Estados do Sul do

Brasil entre 1893 e 1895. Alguns autores paranaenses chamam-na de “Revolução

de 1894” porque esse foi o ano no qual os federalistas ocuparam o Estado.

Fernandes (2003, p. 94,95) relata que no Rio de Janeiro surgiu uma revolta

na marinha, chamada Revolta da Armada, liderada pelo almirante Custódio de Melo.

A Revolução Federalista teve início no Rio Grande do Sul em 1893 e no ano

seguinte, apoiada por uma esquadra da Marinha, partiu do Sul com destino ao Rio

de Janeiro, com o fim de derrubar o governo militarista de Floriano Peixoto. O líder

mais destacado dos revoltosos federalistas foi Gumercindo Saraiva.

Rosa Filho (1999, p. 16) destaca que a luta, adstrita ao Rio Grande do Sul em seu

começo, teve seu raio de ação ampliado com a aliança feita entre federalistas e os

participantes da Revolta da Armada (Rio de Janeiro) em 1891. Esta sedição

decorreu de atritos havidos entre os líderes do novo regime e a oficialidade da

Marinha. Logo os chefes federalistas e os da Marinha se uniram para derrotar as

tropas florianistas. Segundo Wachowicz (1977, p. 106) os federalistas receberam a

alcunha de “maragatos”, termo pejorativo de origem castelhana e que significa

“pessoa desqualificada”. Já os florianistas, que eram os legalistas, ficaram

conhecidos por “pica-paus”, devido ao tipo de armamento que possuíam.

Segundo Fernandes (2003, p. 95,96) os revoltosos gaúchos tomaram Santa

Catarina e declararam Florianópolis, então chamada Desterro, de capital provisória

do Brasil; e de lá partiram para dominar o Paraná, chegar a São Paulo e daí o Rio de

Janeiro (capital do Império e também capital da República, até 1960). No Paraná

tomaram Paranaguá, Tijucas e Curitiba. O governador Vicente Machado saiu

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estrategicamente, no dia 19 de janeiro de 1894, transferindo a capital para Castro,

no entanto, no dia 20 de janeiro os federalistas assumiram o governo e durante 100

dias governaram o Paraná. Os federalistas eram um verdadeiro terror, pois eram

tidos como falanges praticando saques e massacres por onde passavam. Por isso,

devido a essas circunstâncias tão difíceis é que os habitantes da Lapa decidiram

não se render. Ao saber disso, Floriano mandou o coronel Gomes Carneiro deslocar-

se de São Paulo para comandar a resistência da Lapa.

As tropas federalistas sitiaram a cidade no dia 14 de janeiro de 1894 e

durante vinte e seis dias, os lapeanos, praticamente isolados do resto do mundo,

resistiram. Havia combates diários, com mortos e feridos de ambos os lados. Os

mais prejudicados eram os lapeanos, pois toda a população, mulheres, crianças e

idosos, todos conviveram com o horror do cerco, do isolamento e dos combates.

Após 26 dias dessa heroica resistência, com a morte, em combate, do Coronel

Carneiro os lapeanos se renderam, aparentemente derrotados; no entanto, essa

resistência da Lapa foi o túmulo da revolução federalista, pois o tempo que os

federalistas gastaram (26 dias), até dominar a Lapa, foi o suficiente para as forças

florianistas se organizarem em São Paulo e os revolucionários não conseguiram

entrar naquele Estado e tiveram que voltar ao Paraná, rumo ao Sul, derrotados e

perseguidos.

Para muitas pessoas a coragem cívica e o heroísmo dos lapeanos salvou a

república que, embora governada por um ditador militar, ainda assim o regime

republicano e democrático que temos atualmente no Brasil deve muito ao município

da Lapa.

Uma certa memória dos eventos defende que, embora o ideário da revolução

federalista, fosse de criar uma federação de estados com certa independência, a

vitória do federalismo naquele momento resultaria, provavelmente, numa ditadura

caudilhesca, que precisaria ser derrubada logo adiante. O cerco e resistência da

Lapa é uma das páginas mais bonitas e exemplo mais edificante da história do Brasil

e que as novas gerações, principalmente de paranaenses, precisam saber.

Oney Borba (1986, p. 104,105,107) relata que, em janeiro de 1894, os

maragatos tomaram a cidade de Castro e o Governo revolucionário nomeou outro

prefeito local, juntamente com seis camaristas (Câmara Municipal) da confiança dos

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revoltosos. Era o governo dos “maragatos”. Nada de extraordinário fez esse governo

em Castro. Procedia como os anteriores: todas as funções públicas passaram para

seus correligionários, inclusive o cargo de zelador do cemitério. Era, como se dizia

no tempo, uma “derrubada” total dos adversários.

Havendo o forte da revolução se dado em território paranaense muitos danos

sofremos: milhares de homens morreram em escaramuças e combates cerrados. As

tropas revolucionárias e do Governo não faziam prisioneiros, degolavam os

adversários. Não havia processo, nem tribunal, nem ata, nem ordem escrita. Nesta

luta fratricida predominou o banditismo. O fuzilamento do Barão do Serro Azulbem

como de seus companheiros na Serra do Mar, por ordem de um militar, o general

Ewerton Quadros, horrorizou a Nação. O Barão do Serro Azul foi considerado traidor

da Pátria e por isso preso e depois fuzilado. No entanto, por ele ser o presidente da

Junta do Comércio, os maragatos trataram da obtenção de avultada quantia em

dinheiro, sob a ameaça de saque na cidade. Então o Barão tratou do pagamento

desta quantia com o chefe do novo governo civil provisório, que se instalara em

Curitiba, Dr. Menezes Dória, nomeado pelos federalistas. O principal objetivo do

Barão foi salvar a população curitibana, notadamente o comércio, de um saque de

consequências imprevisíveis, por parte dos maragatos. Nascimento Junior (1993, p.

3) destaca o importante desempenho de Ildefonso Pereira Correa, o Barão do Serro

Azul, por ter sido o intermediário dos interesses da população curitibana ameaçada

de saques e outras violências pelos maragatos, chefiados pelo caudilho Gumercindo

Saraiva. Coube ao Barão do Serro Azul parlamentar com os invasores tendo em

vista poupar Curitiba das tropelias e abusos revolucionários. O Barão funcionou

como um“juiz da paz” moderado e persuasivo, com todo peso de sua influência e

prestígio. Enredado numa comissão de “empréstimos de guerra” a que foi obrigado a

aceitar, viu-se na mira da vindita republicana. Mas salvou a cidade de Curitiba e a

integridade das famílias. No entanto, quando as tropas enviadas pelo Marechal

Floriano recuperaram o controle do Estado, Serro Azul e mais cinco companheiros,

Balbino Carneiro de Mendonça, Presciliano Correa, José Lourenço S. Guedes,

chefes de conhecidas famílias curitibanas e parnanguaras, foram impiedosamente

fuzilados na Serra do Mar, na noite de 20 de maio de 1894. Tornou-se o Barão do

Serro Azul grande mártir da cidade e do comércio; morreu porque amou e defendeu

esta cidade.

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Ainda segundo Borba (1997, p. 4), Curitiba voltou a ser capital do Estado

quando as tropas do comandante coronel Firmino Pires entraram na cidade

abandonada pelos revolucionários. Vicente Machado que acompanhava o coronel e

na qualidade de vice-presidente em exercício, assinou o decreto nº 25, com data de

29 de abril, revogando o decreto nº 24, restabelecendo a capital novamente em

Curitiba. O título de presidente do Estado era o nome pelo qual eram chamados os

governantes dos Estados brasileiros, até 1928, equivalente ao atual cargo de

governador do Estado.

METODOLOGIA

Após a apresentação do Projeto e da Unidade Temática aos alunos, foi feito

um breve relato sobre a Revolução Federalista no Paraná, além da entrega de um

resumo com os principais acontecimentos desta revolução, bem como a relação dos

principais patrimônios históricos centenários, ainda existente em Curitiba e Castro,

desde a época deste conflito.

A primeira atividade da Unidade Temática refere-se à biografia dos

personagens que tiveram uma destacada participação na revolução de 1894:

Marechal Floriano Peixoto, General Carneiro, General Pêgo Junior, Dr.

VicenteMachado, General Ewerton de Quadros e o Barão do Serro Azul (Ildefonso

Pereira Correa). Os alunos formaram seis grupos e cada grupo escolheu um

personagem como objeto de sua pesquisa, depois resumiram as informações,

acrescentaram as referências bibliográficas e colaram seus trabalhos em

cartolinasque ficaram expostas no mural da sala de aula para o conhecimento dos

alunos de outros grupos. Esta atividade despertou o interesse dos educandos que

tiveram um maior conhecimento da vida, costumes, coragem e determinação dos

personagens históricos estudados e o que mais chamou a atenção deles foi

observar tantas dificuldades nos meios de transporte e de comunicação do período

estudado, por isso aproveitaram para fazer comparações com a atualidade, sobre a

facilidade e rapidez de comunicar-se com pessoas de qualquer lugar do nosso

planeta, assim como os meios de transportes, rápidos e confortáveis, bem ao

contrário dos que eram utilizados na última década do século XIX.

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Na segunda atividade, através de um jogo pedagógico, os alunos,

organizados em duplas, confeccionaram uma trilha pedagógica, em cartolina dura ou

papel canson colorido constando de retângulo, caracol ou trilha sinuosa, divididas

em 40 casas, numeradas de 1 a 40 e ainda colocaram dez perguntas como

obstáculos, em alguns dos números, com o conhecimento prévio das respostas.

Nesta atividade os alunos utilizaram tampinhas de garrafa e de pasta dental para

marcar cada avanço do jogo, conforme a numeração do jogo de um dado. O

vencedor era o que primeiro chegasse ao número 40. Para esta atividade foram

utilizadas duas aulas, uma para a confecção do jogo e a outra para o entretenimento

dos alunos.

Na terceira atividade, os alunos assistiram a um filme denominado “O Preço

da Paz” e depois responderam 10 perguntas sobre o mesmo. O objetivo foi para

identificar os principais personagens que fizeram parte desta trama revolucionária,

bem como as dificuldades nos meios de transporte e de comunicação, os tipos de

vestimentas e os costumes da época estudada.

A quarta atividade que seria um passeio turístico em Curitiba, para conhecer

os principais patrimônios históricos centenários estudados não foi possível efetuar

por falta de transporte. Em substituição a ela, os alunos pesquisaram as imagens na

internet e, como não tínhamos fotografias, eles imprimiram as gravuras que eram os

objetos do estudo.

Na atividade número cinco os alunos confeccionaram cartões postais dos

locais que deveriam ter sido visitados por eles. Foram aproveitadas as gravuras

anteriormente impressas da internet. Cada aluno escolheu um monumento histórico

que mais despertou o seu interesse. Cada imagem era colada em cartolina ou papel

mais resistente, como o papel canson ou vergê, previamente recortados no tamanho

de um cartão postal. No verso do cartão algumas havia informações a respeito do

patrimônio escolhido.

Na atividade número seis, para ampliar o conhecimento e a reflexão sobre a

presença da arte histórica na cidade onde nossos alunos moram ou estudam, cada

grupo escolheu doze patrimônios históricos estudados (gravuras), alternando os de

Curitiba com os de Castro e produziram um calendário para o ano de 2012. Estes

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calendários foram feitos em papel canson por um grupo e outros fizeram em papel

vergê.

E a última atividade, serviu para despertar o interesse dos alunos na

preservação do meio ambiente, através da confecção de marcadores de páginas

artesanais, com as sobras dos papéis e materiais utilizados nas outras atividades,

como nos cartões postais ou nos calendários. Com isso, além da união de

conhecimentos históricos e de reciclagem dos materiais utilizados nas outras

atividades anteriores, foram confeccionados os marcadores de páginas que se

transformaram em presentes muito úteis, práticos e fáceis de serem produzidos.

Para tal atividade, os alunos recortaram o marcador no tamanho de 18,0 cm

por 4,0 cm, aproximadamente e colaram uma gravura reduzida de um dos

patrimônios escolhidos, de Curitiba ou de Castro, num lado do marcador, e no outro

lado, escreveram o seu nome, o nome do monumento, a cidade e a data da sua

construção ou inauguração. Cada aluno usou a sua criatividade da melhor maneira

possível para enfeitar os marcadores de páginas. Esta atividade foi feita

individualmente, pois cada aluno confeccionou o seu marcador para presentear um

colega da sala, fazendo a troca destes presentes artesanais como lembrança.

A APLICAÇÃO DA TÉCNICA

Para o embasamento de se utilizar o lúdico no aprendizado dos alunos,

constatou-se a necessidade de um ensino reflexivo e dinâmico, expandindo o

processo de ensino-aprendizagem com atividades que possibilitem ao aluno explorar

e expor suas ideias e impressões, tornando significativo àquilo que se aprende na

Escola.

De acordo com Schmidt e Cainelli (2010, p. 54), “é necessário destacar que,

do ponto de vista didático-pedagógico, só é relevante a aprendizagem que seja

significativa para o próprio aluno”.

As técnicas lúdicas fazem com que o educando aprenda com prazer, alegria e

entretenimento, sendo importante lembrar que a educação lúdica está distante da

concepção ingênua de passatempo ou brincadeira vulgar. É de primordial

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importância a utilização de brincadeiras e dos jogos pedagógicos no processo

pedagógico, pois os conteúdos podem ser ensinados por intermédio de atividades

predominantemente lúdicas.

O presente artigo procura conceituar o lúdico, demonstrando a sua

importância no desenvolvimento intelectual do aluno e dentro da educação como

uma metodologia que possibilita mais vida, prazer e significado ao processo de

ensino e aprendizagem, tendo em vista que é particularmente poderoso para

estimular a vida social e o desenvolvimento construtivo do educando.Segundo

Santos (1999), “do ponto de vista pedagógico, o brincar tem-se revelado como uma

estratégia poderosa para a criança aprender”.

Quando bem aplicada e compreendida, a educação lúdica poderá contribuir

para uma melhor qualidade de ensino, ajudando nossos alunos a serem críticos

construtivamente, num aprendizado mais descontraído, útil e duradouro, sendo uma

diversão aprender novos conteúdos propostos, desenvolvendo a criatividade e a

capacidade de raciocínio, com mais facilidade para trabalhar em equipe, reciclando

suas emoções e construindo seus conhecimentos pedagógicos.

Em relação ao patrimônio histórico representado pelos monumentos é

importante destacar que Freire (1997, p. 88) destaca que “os monumentos

espalhados pela cidade, assim como as antigas esculturas gregas nos jardins da

Antiguidade, funcionariam no mundo moderno como um elo entre o passado (que

representam) e o futuro para o qual se dirigem. Ligam ainda o “eu” a todos os outros

de uma comunidade ausente”.

Por sua vez, o trabalho com os monumentos no ensino de história é muito

importante na ressignificação dos espaços públicos pela demonstração de seus

significados históricos e dos papéis desempenhados pelos sujeitos na construção

dos monumentos. É preciso que o ensino de história consiga estabelecer um elo

entre o que se ensina na escola e os saberes que circundam o meio onde vive esse

aluno no presente vivido (Schmidt e Cainelli, p. 153).

Os alunos fizeram os calendários e os marcadores de páginas para

presentear seus amigos e familiares, além de terem memorizado com mais

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facilidade os conteúdos propostos e desta forma passaram a ter uma melhor

conscientização do valor do patrimônio histórico da sua cidade, assim como o

Em relação à exibição do filme “O Preço da Paz”, Carriéri (1985, p. 64,65) evidencia

que os filmes históricos mostram a história da humanidade como se tivessem sido

filmado ao vivo e a importância dessas imagens cinematográficas é que elas se

gravam em nossa memória, substituindo as antigas versões oficiais.

De acordo com Miucci, o cinema transformou-se em uma grandediversão das

populações da era contemporânea, devido ao prazer de assistir imagens em

movimento, atraindo multidões de espectadores.

Rosenstone (2006) destaca que o cinema constitui-se em um dos maiores,

senãoomaior, suporte da memória histórica coletiva das sociedades

contemporâneas.

Desde as suas origens o cinema é capaz de criar uma impressão de

realidade, conforme Gunning relata que a primeira projeção de filmes, em Paris, em

1895, causou pânico na plateia, temerosa de vir a ser atropelada pelo trem que

parecia que ia se arremessar para fora da tela.

No relato de Xavier (1984) o cinema norte-americano, a partir de 1915,

transformou-se num grande contador de histórias, com imagens. Com a sonorização

dos filmes, em 1929, o cinema passou a ser chamado de “janela para o mundo”,

deixando de lado o cinema mudo, sendo possível ver as imagens e ouvir os sons a

elas associados, em perfeita sincronia. A partir de 1930, o filme colorido, inovação

bem mais cara que o filme rodado em preto e branco.

Conforme afirma Napolitano e Capelato (2007, p.65) “uma imagem vale por

mil palavras”. Inclusive, de acordo com Oliveira, a linguagem cinematográfica tem

uma enorme capacidade de resumir e sintetizar amplos períodos da história em

apenas poucas cenas.

Por isso, foi de grande valia a exibição do filme aos alunos,os quais passaram

a ter uma maior compreensão do período histórico abordado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No transcorrer deste Artigo procurou-se estabelecer a necessidade de

explicar que o Paraná desempenhou um papel decisivo e de relevo nesta revolução

sangrenta, proporcionando ao governo central do Marechal Floriano, na época o

símbolo da República e da legalidade, o tempo suficiente para a aquisição no

estrangeiro de uma esquadra, bem como para a organização, em São Paulo, das

forças necessárias para deter e repelir o avanço federalista. A prolongada resistência

da Lapa foi decisiva na concretização destes planos e impediu o ataque ao Estado

de São Paulo, o qual desta forma teve o sossego e o tempo necessário para

mobilizar-se.

No entanto, ensinar estes conteúdos, através de atividades pedagógicas

lúdicas na implementação do Projeto PDE, foi de grande importância devido a uma

maior motivação e reflexão dos alunos, na transmissão de tão importante resgate da

história do Paraná, bem como dos seus patrimônios históricos centenários.

Constatou-se na aplicação da metodologia que é uma forma mais prazerosa de

aprender, fixar e de memorizar fatos.Esses temas não devem permanecer

desconhecidos por parte dos educandos, pois eles serão no futuro os

multiplicadores dessas informações, e repositórios desse conhecimento tão

importante da história do Paraná e do Brasil.

Os alunos que participaram da implementação deste projeto são

adolescentes, mas o interesse foi grande ao perceberem que as brincadeiras não se

destinaram somente para eles, mas para que também pudessem dar aplica-las em

casa, aos seus irmãos menores e até a título de um aprendizado a mais na vida

futura,quando exercerão as suas atividades profissionais.

Assim como para o professor é bem mais prazeroso utilizar uma dinâmica

diferenciada em sala de aula constatou-se que para os alunos a experiência foi

muito valiosa, atrativa e que causou um grande bem estar geral na turma, tanto que

outras turmas, de outros turnos, também manifestaram o desejo de participar do

ensino/aprendizagem desse tema.

Finalmente, destaca-se que tanto o projeto como a Unidade Temática também foram

utilizados no Curso GTR (Grupo de Trabalho em Rede), para professores de escolas

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e colégios de diferentes municípios paranaenses que expressaram interesse pelo

assunto abordado, onde foram feitas discussões e valiosas trocas de experiências

sobre o tema abordado. Esse empenho por parte dos outros docentes reforça a tese

aqui discorrida sobre a não abordagem desse tema tão importante para a história

paranaense e brasileira nas aulas dessa disciplina. Espera-se assim, com esse

artigo contribuir para o resgate desse patrimônio histórico, bem como ressaltar que o

ensino/aprendizagem utilizando-se da técnica do lúdico é um importante instrumento

para a fixação de conhecimentos de forma prazerosa para os alunos e professores.

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