artigo - o princípio do contraditório - dierle nunes

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  • 5/11/2018 Artigo - O princpio do contraditrio - Dierle Nunes

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    IO J I\I~VISTA S fN TE SE D E D IR EIT O C IV IL ", P RO CE SS UA L C IV IL1111111l lh lic aG iio d a E di to ra S in te se p er te nc en te a l OB ln fn rr na cd es O b je tiv as P ub li ca cc es J ur ld ic as L td a.1 '1111111;111;110im e str al d e d ou tr in a, j ur is pr ud en cia , e o ut ro s a ss un to s d e D ir eito C iv il e P ro ce ss ua l C iv il .I tl dt l~ o s d ir ei to s r es er va do s. P ro ib id a a r ep ro du ca o p ar cia l o u t ota l, s em c on se nti me nto e xp re ss o d os e dit or es .(Ill c nn ce ito s e m iti do s e m t ra ba lh os a ss in ad os s ao d e r es po ns ab ili da de d e s eu s a ut o r es . O s o ri gi na is n ao s er aod ov ol vid os , m e sm o n ao p ub lic ad os . O s a rt ig os s ao d iv ulg ad os n o i di om a o ri gin al o u t ra du zi do s.0:: u co rd ao s s el ec io na do s p ar a e st a R ev is ta c or re sp on de m , n a In te gr a, a s c 6p ia s o bti da s n as s ec re ta ria s d osr u sp o c ti vo s t ri b u na i s.H is tr ih u ld a e m t od o 0 territ6rio nacional ,l . d i toracac Het ron ica : Ed it o ra S i n te s eI i r u \ I u r n : 7.700 exemplaresIl ll siU n ( ca pa e revista) : Y v on e M u ch a le

    D ad os I nte rn ac io na is d e C ata lo ga ~a o n a P u bl ic ac ao ( CI PI

    R EV IS TA S IN T ES E D E D IR EIT O C IV IL E P RO C ES SU AL C IV IL -P or to A le gr e: S fn te se , v . 1, n. 1, set /out , 1999P ub li c a g a o p e ri 6 di c aBimestralv. 5, n. 29 , maio/jun. , 2004ISSN 151918261. D ir ei to c iv il - p er i6 di co s - B ra si l2. D ir ei to p ro c es su a l c iv il

    CDU: 3 4 7. 9 (0 5 ) ( 8 1)COD: 34 7

    [B ib l io t e c a ri a r e s p o n sa v e l : H ele na M aria M ac ie l C RB 10/851)

    E d it o ra S f nt e sel OB I nfo rm ar ;i ie s O bj eti va s P ub li ca r; ii es J ur fd ic as L td a.

    R. An t on i o Na g ib I b ra h im , 3 50 - A g ua B ra n ca05036 060 - S ao P au lo - S PCa i xa P o s ta l 6 0 03 6 - 0 5 03 3 9 7 0

    T el ef on es p ar a C on ta ta sCobr.n~. : Sao Paulo e g ra n de S a o P a u lo ( I I) 3 6 1 3 .5 2 2 2

    Doma is L o c al id a d os 0800.782717SA C 0 S lI po rl o T o cl ll co : S 6 0 P o u lo u l l r o n d oS l iDPaulo ( 1 1 ) 3 6 1 3 . 3 9 00

    O U I 1 1 1 1 1 8 LocnlhluduM 0000.703900I In l lo v n vAo : l l rn n d u SA u I 'oulo ( 1 1 ) 3 6 1 3 . 3 000

    1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 LOllollI l", lo. 1 I 1 1 1 1 1 1 1 1 1 : I U O OINlInNUi www,llnluuulII

    SumarioDoutrinas1. A Reforma do Processo de Execucao e 0 Problema da Coisa JulgadaInconstitucional (CPC, Artigo 741, Paraqrafo Unico)

    Humberto Theodoro Junior 52. A Duracao dos Processos: Alguns Dados Comparativos

    Jose Carlos Barbosa Moreira 283. C6digo de Defesa do Consumidor e a Jurisprudencia do Tribunal de Justicade Sao Paulo

    Enio Santarelli Zuliani 374. Responsabilidade Civil e Administrativa em Materia Ambiental

    Evandro Alves da Silva Grili 595. Principio do Contradit6rio (0)

    Dierle Jose Coelho Nunes 736. Responsabilidade Civil do Estado no Direito Brasileiro

    Ronaldo Bretes de Carvalho Dias 140

    Jurisprudencia1. Supremo Tribunal Federal 862. Superior Tribunal de Justica 923. Tribunal de Justica do Distrito Federal , 954. Tribunal de Justica de Sao Paulo 995. Tribunal de Justica de Minas Gerais 1026. Tribunal de Justica do Rio Grande do Sul 1077. Tribunal de Justica de Golas 1098. Tribunal de Alcada Civil de Sao Paulo (10) 1129.Tribunal Regional Federal da 1a Reqiao 11710. Tribunal Regional Federal da 4a Reqiao 1221.1. Emontario de Jurisprudencia 124

    Assunto Especial1.Rouponaabilidndo Civil do Estado (I)

    Doutrinu: Rospousnbilidado Civil do Estado no Direito BrasileiroHcuiultlt, Brttt.o do Cnrvulho Dins 140

    I I I ': Illtll ILt' lI10do . lur lupr udouciu Hi!)

    indica Alfab6tloo Rernl iva , 10~

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    IIIJ CI'C N "; ),O ~ ~MUi(hJUII/;)'004 I II 1 I I'I'IUNI\

    ruvogando-se as disposicoes em contrario da leqislacao preteritaque se inclinavam pela responsabilidade objetiva.

    ~ram essas as nossas modestas conclus6es acerca da questao que1108 foi entregue para estudo, respeitando as consistentes opini6es(iolltrinarias em contrario,

    Estamos convictos de que 0 debate e a pluralidade de ideias s6 trazbOll~ficiosao Direito enquanto ciencia, com reais possibilidades de apontarCilllu.nhose solucoss para a controvertida aplicacao dos preceitos normativoslo.\atlvoSa - ainda jovem - tematica ambiental.REFERENCIAS BIBLIOGRAFICASIlA~CHO JUNIOR, Jose Alfredo de Oliveira. Responsabilidade civil por dana aomeiodmblente. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.I"IORILLO .,~ , Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. Sao Paulo:Saralva, 2000..MAC~DO, Paulo Affonso Leme. Diretto ambiental brasileiro. 10. ed. rev., atuaL edlUpLSao Paulo: Malheiros, 2002.~ILARE, Edis. Direito do ambiente - doutrina, pratica, jurisprudencia, glossario. 2.d. rev., atuaL e ampL Sao Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

    o Principio do Contradit6rioDierle Jose Coelho Nunes

    Mestre/Doutorando emDireito Processual- PUC/MG, AssessorTecnico da Escola Superior de Advocacia, da Ordem dos

    Advogados do Brasil- ESA-OAB/MG, Professor do Curso dePos-Gredueceo Lato Sensu em Direito Processual, do Institutode Educeciio Continuada -IEC-PUC/MG, Professor do Cursede Pos-Greilueceo Lato Sensu em Direito Publico, do CentroUniversiterio de Varzea Grande - UNIVAG/MT, Professor doCurso de Graduaqao da Faculdade Mineira de Direito - FMDPUC/MG, Professor do Curso de Graduaqao da Faculdade deDireito de Sete Lagoas - FADISETE-FEMM/MG, Advogado.

    s uMAR r o : Considerag6es iniciais; Breve analise hist6rica doprincipio; Leituras do conteudo do principio e sujei tos docontradit6rio; Modos de exercicio do contradit6rio; Processoexecutivo e contradit6rio; 0 contradit6rio como garantia de nao-surpresa; Consideracoes finais.

    "Garantia fundamental de justica e regra essencial doprocesso e 0principiodo contradit6rio, segundo 0qual todas as partes devem ser colocadas emgrau de expor ao juiz as suas raz6es antes que ele pronuncie a sua decisao[...].As partes devem poder desenvolver as suas defesas de modo pleno esem arbitrarias limitacces. Qualquer disposicao legal que esteja emcontraste com esta regra deve considerar-se inconstitucional e por issoinvalida." (traducao livre)

    CONSIDERA;lio.Valeripermanenti del processo. Rivista di DirittoProcessuale. Padova: Giuffre. n. 1.1989. p. 2.

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    'III RDCPC N 29 - Maio-Jun/2004 - DOUTRINA RDCPC N 29 - Maio-Jun/2004 - DOUTRINA 75

    Porem, diferenciou 0 procedimento do processo pela existencia neste(It)uma estrutura dialetica que possibilita a participacao dos interessados a1;18epreparat6ria do provimento (decisao). Esta permite a simetria deposicoes subjetivas garantindo a qualquer dos participantes do processo aIiossibilidade de dialogar e de exercitar urn conjunto de controles, de reacoeso de.escolhas dentro desta estrutura."

    Entrementes, paulatinamente 0principio foiperdendo sua importanciaetico-ideoloqica, 0 que de urn certo modo coincide com a transicao de urnprocesso liberal dominado pelas partes (Sache derParteien) para urn processoonde 0 protagonista e 0 juiz, que exerce amplos poderes ativos na estruturaprocessual.

    Chegou-se a crer, nos anos 30 do seculo passado, que a falt a docontradit6rio (afalta da cooperacao das partes) nao impedia a obtencao deuma decisao justa."

    Determinada corrente doutrinaria ligada a concepcao autoritaria daAlemanha nacional-socialista chegou ao extrema de defender a supressaodo contradit6rio no processo civil e a absorcao do "processo de partes" noprocedimento oficioso de [urisdicao voluntaria.'?

    Ap6s 0 segundo p6s-guerra, com a mais ampla constitucionalizacaode garantias processuais, 0 estudo destas eo interesse pela colaboracaodas partes proporcionam novos horizontes de analise para 0 principio docontradit6rio.

    o processo que durante 0 liberalismo privilegiava 0 papel das partese que, ap6s os grandes movimentos reformistas pela oralidade e pel ainstauracao do principio autoritario, implementou urn ativismo judicial queprivilegiava a figura do juiz passa emurn estado democratico, com a releiturado contradit6rio, a permitir uma melhora da relacao juiz-litigantes, de modoa garantir urn efetivo dialoqo dos sujeitos processuais na fase preparat6riado procedimento (audiencia preliminar para fixacao dos pontos contro-vertidos), e na fase de problematizacao (audiencia de instrucao e julgamento),permitindo a comparticipacao na estrutura procedimental.

    Existiria, assim, processo, quantas vezes a norma predisponha para 0cumprimento de uma atividade a estrutura dialetica que permita aosiuteressados de participar a fase de recoqnicao dos pressupostos sobre acondicao de reciproca e simetrica paridade, ou seja, existiria processo todavcz que houvesse 0 contraditorio."

    Evidentemente que de la para ca percebeu-se que a estruturacao deum processo necessita da implernentacao de urn conjunto de garantiasprocessuais constitucionais, modele constitucional de processo, na qual 0contraditorio constitui uma importante mas nao a unica garantia.

    Mas, independente deste fat0, 0 estudo do contradit6rio dentro daperspectiva de urn Estado constitucional democratico ouEstado democraticode direito e de enorme atualidade e utilidade na analise e construcao deuma estruturacao processual constitucionalmente adequada.

    Neste estado democratico, os cidadaos nao podem mais se enxergarcomo sujeitos espectadores e inertes nos assuntos que lhes tragam interesse,o sim serem participantes ativos e que influenciem no procedimentolormativo dos atos administrativos, das leis e das decisoes judiciais, e estec ') 0 cerne da garantia do contradit6rio.

    BREVE ANALISE HIST6RICA DO PRINciPIO LEITURAS DO CONTEUDO DO PRINciPIO E SUJEITOS DOCONTRADIT6RIOSobre a antiga paremia grega audiatur et altera pars costuma-se

    nlicercar 0 principio do contraditorio."Desde 0direito comum, passando pelo inicio do seculo XIX,0principio

    1 1 1 1 1 considerado urn simbolo dos direitos naturais, sendo que a literatura(!11opeia costumava afirmar que ele encontrava seu fundamento em urn"1)1 incipio de razao natural", sendo imanente ao processo."

    Emuma acepcao tradicional, 0 principio do contradit6rio e entendidotao-somente como urn direito de bilateralidade da audiencia, possibilitandoas partes a devida informacao e possibilidade de reacao."

    E a aplicacao do denominado direito de ser ouvido pelo juiz. Assim,bastariam 0 dizer e 0 contradizer das partes para garantir 0 seu respeito,

    9 BETTI. Diritto processuale civile. Rorna, 1936, p. 89, apud PICARDI, Nicola. IIprincipia del contraddittorio.Rivista di Diritto Processuale. Milano: Cedam, n. 3,juJ./set. 1988, p. 677.10 BAUMBACH. Zivilprozess und freiewillige Gerichtsbarkeit. Zetischrift derakademie furDeutsches Recht.

    1938, p. 583, npud PICARDI, Nicola. Ilprincipia del contraddittorio, cit., p. 677.11 C(uno j/l tuHlnVt1ltlVII MILLARI 0 principio nstaboloco a concoi to do quo "(. ..J lwn do sor oirlll.'lllln/)(l.'I

    11111( ,0# : nl 1 1 I / I U r / I , / I ) . / t ! /'1 IIlJrllU:1Gin hlll / t ,ur-ul (Or-und.IUlty. < / t il l ho i rl w lm if . IU t l tJ (In/Hlmn), I t , u u l m l t " l l J / " fill

    I, FAZZALARI, El io. Diffusione del processo e compiti della dottrina, cit., p. 869.(I ktom, ibidem, p. 870.'/ I'ICAHDI, Nicola. IIprincipio del contraddittorio. Rivista di Diritto Ptocessunle. Milnno: < : 0 < 1 1 1 1 1 1 , n. 3, jill./" " I . . 1 9 1 1 1 3 , p. 673.II f ~ r _ I'H:I\HIH Nlnol", 111111111 . '/ , , /0 do l ( . 'o l l tr lH ld/U .o ri f l , (lit", l'. 11'/:10'14,

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    inesmo que estas acoes nao encontrassem ressonancia na estruturaprocedimental e no conteudo das decis6es, permitindo, deste modo, tao-somente uma participacao ficticia e aparente.

    Ocone que essa visao de urn contradit6rio estatico+' somente podeatender a uma estrutura procedimental monologicamente dirigida pelaperspectiva unilateral de formacao do provimento pelo juiz.

    Porem, ao notar a insuficiencia do conteudo atribuido ao contradit6rio,o ja 0 vislumbrando como garantia dinamioa= e como nucleo do processo."a doutrina tentou aproxima-lo do conteudo da garantia de defesa e deigualdade formal.

    Tal situacao e presente, por exemplo, na doutrina italiana, em face daausencia de texto expresso em sua Constituicao, ate bern pouco tempo, quegarantisse 0 contradit6rio. Desta maneira, este teria sido elevado aperspectiva constitucional por forca da interpretacao do 20 de seu art.24,15 que estabelece a garantia de defesa, e/ou do 1, do art. 3,que garantea igualdade formal."

    Essa aproximacao conceituallevou a confiquracao de perfis dinamicospara 0 contradit6rio, atribuindo as partes possibilidades de participacaopreventiva sob qualquer aspecto fatico oujuridico que esteja sendo discutido() julgado, cunhando-se a seguinte equacao: "defesa = contradit6rio =participacao = audicao preventiva" Y (traducao nossa)

    Contudo, de acordo com 0 entendimento de ANDOLINA e VIGNERA,IHi que se fazer uma nitida distincao entre os conteudos da garantia docontraditorio e da garantia de defesa: a primeira disciplina as relacces dostitulares dos interesses contrapostos (as partes), ao passe que a segunda

    absoluto de 1a administraci6n de justicia organizada, encuentra iguaimente expresi6n en e1 preceptoromano: audiatur et aiteraparsyen e1proverbio en rima de1a Alemania medieval. 'Eines mannes redistJreinered, derrichter soIl diedeelverhoerenbeed' ('laalegaci6n de unsolohombreno esalegaci6n; eljuezdebe oir a ambas pettes')", In: MILLAR, Robert Wyness. Los principios formativos del procedimientocivil. Buenos Aires: Ediar, 1948, p. 47.

    I? ANDOLINA, Italo; VIGNERA, Giuseppe. II modele costituzionale del processo civile Italiano. Torino:Giappichelli Editore, 1990, p, 154.

    I:I 1\.8 garantias dinamicas permitem 0 efet ivo gozo de direitos reconhecidos e atribuidos pelo textoconstitucional, ou melhor dizendo, como assevera COMOGLIO, garantias em sentido dinamico sao"l... quegli strumenti giurisdizionale che siano specificamente previsti - avanti ad organi di giustiziaccatitiizionele ad internazionale - per assecurare condizioni effetive di godimento a qualsiasi diritto'utribuito' 0 'riconosciuto' da quelle norme fondemantalli". In: COMOGLIO, Luigi Paolo. Garanzie",,"I.ituzionale e "giusto processo" (modelli a confronto). Revista deProcesso. Sao Paulo: Revista dos'1\ ibunais. n. 90, abr. /jun. 1998, p . 101.

    1,1 I'JCARDI, Nicola. II principio delcontraddittorio, cit., p. 677.II, (;(JLASANTI, Vittorio. Principio del contraddittorio e procedimenti speciali. Rivista diDiritto Processuale.

    !'"dova: Cedam, n. 4, 1975, p. 577-619.III I'lli'llporcepcao da discussao no direito italiano, cf. ANDOLINA, !talo; VIGNERA, Giuseppe. IImodelo

    j."III.II.I1>,iOlIllIr;el proC"-'H() civik italiano, cit., p. 149-157, passim. PICARDI, Nicoln, Il principio tie!",,,,I.lIl( ldiU.o,-jo, nit" p, 11'/11.

    1 '/ I\N I J( ) I, IN I \, 1 1 ., ,1 0 ; V lI l NJ I: It I\ , I 1 1 1 " ", 1 '1 ' '' ' 1 I 11 1 n ri l l/ n I!IJ11ti1.lIy.i(lJIII/IIIJII/11f"m""I"'lvll~ IIMIt~!I", "ll, p. nil.

    RDCPC N 29- Maio-Jun/2004 - DOUTRINA 77

    estabelece uma forma organizat6ria entre as relacoes dessas mesmas partescom 0 juiz."

    Assim, cunha-se a percepcao italiana do contradit6rio que permitesomente as partes seu exercicio;" excluindo deste 0 6rgao julqador.P

    Esta garantia exige a paridade de armas entre as partes ou seja, .. [...Jde meios processuais dirigidos a fazer valer as pr6prias raz6es" .21 (traducaonossa)

    Ressalte-se que qualquer aproximacao entre contradit6rio e defesanao e mais cabivel na Italia face a recente alteracao normativa do textoconstitucional com a emenda de 23 de novembro de 1999 e a colocacao no 2 do art. 111 da assertiva de que 0 ..[...J processo se desenvolve nocontradit6rio entre as partes, diante de urn juiz terceiro e imparcial" (traducaonossa), introduzindo de modo autonomo a garantia.22

    A leitura do contradit6rio e dos sujeitos que 0 exercitam e urn tantodivers a em outros ordenamentos.

    Na Franca, 0 atual art. 16 do Noveau Code de Procedure Civile impedeojuiz de fundamentar a sua decisao sobre aspectos juridicos que ele suscitoude oficio sem ter antecipadamente convidado as partes a manifestar as suasobservacoes."

    Assim, a garantia opera nao somente no confronto entre as partes,transformando-se tambem num dover-onus para 0 juiz, que passa a ter queprovo car de oficio 0 previa debate das partes sobre quaisquer quest6es defato ou de direito determinantes para a resolucao da dernanda.s?

    Na Alemanha, 0 conteudo da clausula estabelecida no texto do art.103, 10, da Lei Fundamental da Republica Federal da Alemanha como

    18 ANDOLINA, Italo: VIGNERA, Giuseppe. Il modelo costituzionale delprocessocivil italiano, cit., p. 159.19 FAZZALARI, Elio. Diffusione del processo ecompiti della dottrina, cit., p. 870-873, passim.20 Como afirma GONQALVES, valendo-se dos ensinamentos de FAZZALARI, no Direito brasileiro, "l...[ 0

    contradit6rio e a garantia de participacao, em simetrica paridade, das partes, daqueles a quem sedestinam os efeitos da sentenc;:a, daqueles que sao os 'interessados', ouseja, aqueles sujeitos doprocessoque suportarao os efeitos doprovimento e da medida jurisdicional que ele vier a impor. [...J a participacaoem contradit6rio se desenvolve 'entre as partes', porque a disputa se passa perante elas, e las sao asdetentoras de interesses que serao atingidos pelo provimento". In: GONQALVES, Aroldo Plinio. Tectiiceprocessual e teoria do processo.Rio de Janeiro: Aide, 1992, p. 120-121. FAZZALARI afirma que: "Lleutotedel1'atto finale non 9, inVBCB uncontradittore quante volte sia estraneo agli interessi in contesa, cioe nonsia parte di quella situazione (cosi, il giudice, l'arbitro) {... il giudice deveessere'estraneo' rispetto alIasituazione sostanziale ehe sia per essere creata da quel provvedimento e rispetto aititolari diessa, c ioe e idestinatari degJieffetti della misura giuridizionale. Thle'estraneita' (0 'terzieta ') "e la base su cuipoggiala 'impsrzielite' delgiudice". In: FAZZALARI, Elio. Istituzioni di diritto processuale.8.ed. Milano: Cedam,1996, p. 86-313, passim.

    21 ANDOLINA, Italo; VIGNERA, Giuseppe. IImodelo costituzionale delprocesso civil italiano, cit., p. 107.22 MONTESANO, Luigi. La garantia costituzionale del contraddittorio e i giudizi civili "di terza via". RivistaeliDiritto Processuale.Padova: Cedam, n. 4, out./dez. 2000, p. 930.~:I OLIVJo:IHI\.,Cllrioll Alberto Alvaro de. 0 juiz e 0 principio do contradit6rio. Revista de Processo, n. 73,

    1 1 1 ' 1 . / 1 1 " ' 1 . '1111)4, 1> . 'I.~~i l I tl >M ( H 1 I !1 f ), I dllUI IIUI ~IC I . l f lftHly-i t! I fonf.l t .l ly. itJII t ,/u II II"JIIII(,O 1){()(.'WIIIO" (ltIo(/ollf II I,'OII(IOIII,()), 011.., p. " "14.

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    'lfl _ : _ R ~D : : : . _ C : : : . _ P : : : . _ C : : . . . :: . N : . _ o _ : 2 : . : : 9 _ - _ : M : : : : :: a : . : : io : _ _ - : : J u : : : : n : : /: : 2 . : : : _ OO : : 4 : _ - _ : : . D : . : : O : . : : U T ~R ~ I ~N ~A

    "direito de ser ouvido pelo juiz"25 (Rechliches Gehor) possui urn alcancesimilar ao frances face a interpretacao do Tribunal Constitucional Federal(Bundesverfassungsgericht), nao s6 operando seus efeitos no confronto entreas partes, mas, sim, convertendo-se tarnbem num dever para 0magistrado,de modo que se atribui as partes a possibilidade de posicionar-se sobrequalquer questao de fato ou de direito, de procedimento ou de merito, de talmodo a poder influir sobre 0 result ado dos provimentos.w Aomagistrado eimposto 0 dever de provocar 0 debate preventivo, com as partes, sobre todasas questoes a serem levadas em consideracao nos provimentos.'?

    Impoe-se, assim, a leitura do contradit6rio como garantia de influenciano desenvolvimento e result ado do processo."

    Esta perspectiva tambern encontra res soriancia na tecnica daOrdenanca Processual alema (ZPO) que, ap6s a reforma de 1976, sofreu osinfluxos do denominado Modelo de Sttutqart."

    Ao analisar 0 oorrtaudo dos dispositivos presentes nos 13930e,especialmente, 278,31 entre outros, da Ordenanqa Processual eletxuireformada, vislumbra-se que 0 direito de participacao das partes naoconstitui "urn acrescimo inutil ou superfluo" ,32de modo que 0 aumento dos

    /of) WALTER, Gerhard. I diritti fondamentali nel processo civile tedesco. Rivista diDiritto Processuale. Padova:Cedam, n. 3. jul ./se t. 2001. p. 734.

    :'.6 TROCKER. Nicolo, Processo civile e costituzione. Problemi de diritto tedesco e italiano. Milano: Giuffre.1974. p. 646.

    :'.7 WALTER. Gerhard. I diritti fondamentali nel processo civile tedesco, cit ..p. 735. HABSCHEID noticiavaem 1978 esta tendencia de leitura do preceito const ituc ior ial, ao afirmar : "Em conformidade com umadecisao do Bundesverfassungsgericht. 0 direito de ser ouvido pode assim ser definido: 0 tribunal naodeve ~tilizar na sua decisao senao as fatos e provas sabre as quais as partes puderam tomar posicaoantenormente, a saber, em 110SS0 contexto, dos quais elas puderam ter tido conhecimento. Isto deul ugar a uma discussao ext remamente surpreendente [ .. .1para saber se exist e um direi to de tomarconhecimento das reflex6es juridicas do tribunal , e se 0 juiz deve ter uma 'entrevista juridica' com aspartes". In: HABSCHEID. Walther J. As bases dodireito processual civil. Revista de Processo. Sao Paulo:Revista dos Tribunais, n. 11. jul.Zset. 1978. p. 141-142.

    ;~II TROCKER. Nicol6. Processo civile e costituzione. Problemi de diritto tedesco e it al iano, ci t .. p. 371.COMOGLIO. Luigi Paolo. La garanzia costituzionale dell'azione ed ilprocesso civile. Padova: Cedam.1970. p. 118.

    ;~\J Para um conhecimento um pouco mais adequado desta reforma alema, cf. NUNES. Dier le Jose Coelho.a recurso como possibilidade juridico-discursiva das garantias do contradit6rio e da ampla defesa. BeloHorizonte: PUC-Minas. 2003. p. 43 et seq. (Dissertacao de mestrado). Ou NUNES. Dierle Jose Coelho.Direito constitucional ao recurso. Franca: Lemos e Cruz. No prelo.

    :HJ " 139. 0 presidente deve fazer com que as partes se expressem inteiramente sobre os fatos dec isivosoformulem pedidos uteis, e.particularmente completem as alegag6es insuficientes dos fatos invocadoso indiquem meios de prava. Com este objetivo, sempre que seja necessaria, discutira 0 assunto e 0Iit ig io com as par tes e tara perguntas sobre 0 aspec to fat ico e jur idico do confl ito. 0 presidente deved uunar a atencao sobre as consideracoes e os pontos que devem ser levados em conta de oficio, Sanrmim for requerido. deve permitir a formulacao de perguntas a cada membra do tribunal." (traducaonossu)

    :11 "!i 2'70. 1 . . 1 III- 0 juiz 96podo apoiar sua decisao num aspecto juridico considerado insignificante pelaPIII!.It, ou quo Iho tuuhn JlIHI/Jlldo desapercebido, se the tiver dado oportunidnrlo do IIlflllifnstor-so It10"PIIII.(I, nnlvo (jlll1111111 Nt1 l.t nf.nrdo umn quostno mornmente acossorin." (tnllliIlJ(\11 IIW:HW)

    :I~~ (tutJVIt:IA, vnlurulu J ! i f J ; t t1o~1I1HllllllllolIl.OII do ' I' HOCKI' : n, e l l: .' :'11111"l...l.()dl=l e:HUHt qIHHd. l\u I1 l11111111 .11 WHtI=IflIJl111 f 'l N l.w h tl 1 n " , . I\h Ulln lllH I N tl1 11 1 "~llnlfl(\II()IH lin IIlllultmvOl fnNltl l"r)NutJItulif l'I\UUIIUtli 11111tillliH 1 1 1 1 1 1 # : 1 1

    R D C P C N 2 9 - M a io - J u n / 2 0 0 4 - D O U T R I N A 79

    poderes dos juizes nao significou reducao das garantias de defesa das partes,tanto que os pontos del ineados por estas devem ser levados em conta nafundamentacao das decisoes, e ao juiz nao e dada a possibilidade de decidirde oficio sem 0 anterior e previo conhecimento das partes.

    Ja no Brasil, 0contradit6rio encontra fundamento constitucional noart. 50, inc. LV da CRFB, mas sua leitura, ordinariamente, e tao-somenteaquela de bilateralidade de audiencia que permite tao-somente a analiseestatica ou formal do conteudo da garantia.

    o que piora ainda mais a situacao e a credulidade reformista brasileirade que tao-somente com 0 constante reforco de poderes judiciais, compossibilidades cada vez mais recorrentes da pratica solitaria da decisao,rasolver-se-ao todas as mazelas de nosso sistema processual.

    Esta percepcao equivocada ao lade de uma neqliqencia ao papeldial6gico e problematizante doprocesso conduz a urn esvaziamento dopapeldo contradit6rio em nosso Pais e a reducao de sua utilizacao dentro de umapercepcao democratic a da aplicacao de tutela.

    Perceba que tal reducao nao decorre, em regra, de uma rna estruturacaotecnica de nossos procedimentos Ieqislados;" mas, sim, de sua analiseinadequada, que despreza as balizas procedimentais estabelecidas em nossomodele constitucional de processo. Quando, na verdade, elas impoem urnminimo de estruturacao formal que permita uma preparacao met6dica e umaproblematizacao adequada, pais s6 assim serao proporcionados resultadospraticos, celeres e constitucionalmente suficientes.

    MODOS DE EXERCicIO DO CONTRADIT6RIOo contradit6rio nao constitui uma obriqacao, mas, sim, uma faculdade

    que se resolve em onus processual, pois nao existe a necessidade do seuexercicio, mas, sim, a possibilidade de faze-lo atuar de modo a garantir acada urn dos interessados uma equivalericia e correspondoncia nas

    Federal]. 0 direito do Rechtliches Gehor resul ta portanto del ineado como direito de inc idirem ordem aqualquer quest ao, de fato ou de direi to, de rito ou de meri to, cuja solucao possa inf luir na decisaojurisdicional. E essa solucao vern comparti lhada por grande parte da doutrina, a qual vail enfim,convencendo-se de que as aleqacoes ou deducoes jur idicas dos interessados nao sao um acrescimoinutil e superfluo, mas 0 exercicio da garantia de acao e de defesa e que a individuacao e a interpretacaoda norma a aplicar nao constituem uma prerrogativa intangivel e exclusiva domagistrado". In: GOUVEIA.Lucio Grassi de. 0 dever de cooperacao dos juizes e tribunais com as part es - uma anali se sob a 6ticado direito comparado (Alemanha, Portugal e Brasil). Revista da ESMAPE. v. 5. n. 11. jan.! jun. 2000. p .259-260.

    :13 Porcoba, entretanto, que 0 dever de consul ta as par tes decorrente dopr incipio tacnico da cooperacaointorsubjotiva e do principio do contradit6rio nao possui a mesma estruturacao existente nosordonnmoutos frances 0 alernao, cf. NUNES. Dierle Jose Coelho. a recurso como possibilidade juridico-ril"ulllllivlI dllll fJIIIIII.ti,1h '/0 cOlltrndltorio 0 do empln detesn, c it . p . 46 c t. seq. Ou NUNES. Dior io J056(!llulhn, 1'"ftlt,lI UIHlUUf,lH:iOlIllJ 110trWIIIUfI, 1,'lIl1lfm: LOlllOIJ () C[IIi':. No prulo,

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    respectivas posicoos, explicando de maneira constante e nao epis6dica umaserie de escolhas, de controles e reacoes que podem ser feitas.P'

    Deste modo, ele precisa ser compreendido como canone essencial detodo 0 iter procedimental formador do provimento, possibilitando umaconstante participacao dos interessados no desenvolver do procedimento,impondo instrumentos adequados para 0 seu exercicio concreto, de modo apermitir 0 dialoqo entre os sujeitos processuais."

    Seu exercicio jamais podera ser remetido a apreciacao discricionariadojuiz nem amera iniciativa dos interessados, mas deve ser normativamentegarantido de modo a possibilitar a interlooucao em todo 0 espaco proces-sual."

    devido ao fato que seu exercicio preventivo impossibilitaria a eficacia doprovimento, caso a parte contraria tomasse cimcia do pedido.v'

    A possibilidade de deferimento de provimentos sem a oitiva da partecontraria (inaudita altera parte) possui previsao tecnica noBrasil, tanto paraprovimentos cautelares (art. 804,CPC),quanto antecipat6rios (art. 273, CPC),mas seu exercicio devera somente ser acatado quando, alem de observadosos permissivos legais, ocorra no caso concreto maior adequabilidade deaplicacao de algum outro principio constitucional, em detrimento da aberturae aplicacao do contradit6rio.

    as modos de seu exercicio sao dois: a) preventivo, antecipado ou exante (sua forma genuina), ou seja, aquele possibilitado no procedimentoformativo do provimento; b) sucessivo, postecipado ou ex-post (impr6prio),ou seja, aquele manifest ado para a eficacia e controle do provimento ap6sseu proferimento."

    a contradit6rio antecipado possibilita 0 efetivo dialoqo dos sujeitosprocessuais anterior a formacao do provimento, permitindo, como impoenossa Constituicao (art. 5, inc. LV),que as partes facam valer suas propriasrazoes emposicao de simetrica paridade. Isto evidentemente impoe a adocaode instrumentos tecnicos id6neos para sua implementacao."

    Ocorre que isto conduz a uma necessaria releitura do conteudo dagarantia, de modo a the impor uma aplicacao dinamica e nao estatica, a fimde que a estrutura processual consiga se adequar a sua implernentacao.

    Dentro da perspectiva trabalhada e para 0 controle de seu exercicio, 0contradit6rio possui urn nexo profundo com a garantia de fundamentacaodas decisoes, uma vez que 0 juiz, ao enunciar os fundamentos da decisaodeve levar em consideracao os resultados do contradit6rio, delineando oprocedimento formativo do provimento com a indicacao efetiva da possivelparticipacao dos interessados em todos os seus aspectos relevantes, sejamoles faticos e/ou juridicos.P

    A ausencia do contradit6rio antecipado, apesar de criticado por muitos,l) justificado por uma respeitavel doutrina para alguns pedidos liminares,

    Quando nao existir melhor adequabilidade de outro principio em facedo contradit6rio, nao existiria razao para proferimento de decisao sem aabertura do debate preventivo.

    Uma possivel hip6tese de aplicacao de contradit6rio sucessivo serianaquele em que urn dos pais, que nao detem a guarda do menor, tenta fugirdo pais, e 0outro requer judicialmente e liminarmente a concossao de medidade busca e apreensao do menor inaudita altera parte e a obtem, pois 0exercicio do contradit6rio antecipado, com a citacao e a espera do tempo deresposta, inviabilizaria 0 resguardo doprincipio domelhor interesse domenor,que possuiria melhor adequabilidade de aplicacao no caso concreto.

    Outro modo de exercicio do principio do contradit6rio sucessivo e 0possibilitado pelo direito constitucional ao recurso mediante 0 institutotecnico do recurso, que cria urn espaco procedimental para seu exerciciosucessivo, permitindo ao juizo ad quem a analise de questoes ja debatidaspelas partes, mas levadas, ou nao, em consideracao pelo 6rgao julgador deprime ira instancia em sua decisao, ou de quest6es suscitadas pelo juizo deprimeira instancia de oficio ou sem a participacao de todas as partes emseu provimento, implementando, assim, urn espaco de debate;"

    PROCESSO EXECUTIVO E CONTRADITORIONao e incomum a neqacao do carater contradit6rio do processo

    executivo, 0 que 0 desnaturaria para alguns como verdadeiro processo.Alguns chegam mesmo a negar a execucao como urn processo de

    partes, negando ao devedor (executado) essa condicao, em face da funcaorealizadora e satisfativa desta que tao-somente permite a atuacao doconteudo de provimento ja criado pelo processo de coqnicao (titulo executivo:11 COLASANTI. Vittorio. Principio del contraddittorio eprocedimenti specieli, cit., p. 583.

    .u . Idorn, ibidem, p. 611.:lli lt lom, ibidem, p. 602.: 1 ' / lrkuu, ihirlom, p. 5B7-bU!1 .:lll 1

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    judicial) ou de ate ao qual a lei atribua tal eficacia (titulo executivoextrajudicial}."

    Para esses, a atividade executiva, pelo seu carater pratico e material,desenvolver-se-ia inaudita altera parte, de modo unilateral, mediante atosde imediata aqressao do patrimonio do devedor face a legitima desigualdadedas partes decorrente da eficacia incondicionada do titulo executivo.P

    Entrementes, partindo desse horizonte de analise, 0 devedor seriacompletamente alijado de sua dignidade humana, tornando-se verdadeiroobjeto da atividade executiva.

    Assim, mesmo acatando a reducao de sua incidencia na execucao, 0contradit6rio permite nesta que 0 devedor se posicione sobre qualquermateria que influa em sua esfera juridica.

    Deste modo, parte da doutrina acata a existencia de urn contradit6rioparcial ouatenuado na execucao em relacao aos temas submetidos aodialoqoentre as partes e aos provimentos judiciais nele ocorrentes.v'

    'Ial decorreria das peculiaridades estruturais deste procedimento, massem possibilitar a plena igualdade das partes, que do contradit6rio e a razaomais profunda."

    Assim, na execucao, deve ser possibilitada a discussao preventivadas partes sobre qualquer questao a ser analisada, como, v.g., as condicoesda acao," no entanto, as questoes de merito serao remetidas ao contradit6riodinamico, possibilitado dentro da acao incidental de embargos do devedor.

    o CONTRADIT6RIO COMO GARANTIA DE NAo-SURPRESAComo se viu, a percepcao ampliativa dos sujeitos do contradit6rio

    conduz a uma extensao de sua implementacao, pois seus perfis dinamicosua leitura francesa e germanica criam para 0 magistrado uma verdadeiraimpossibilidade de aplicar a tutela, ordinariamente, sem 0 previo debatecom os sujeitos parciais, impondo-lhe urn dever de provocar 0 contradit6riosobre todas as materias decididas, mesmo que de conhecimento oficioso.

    oativismo judicial que permitia aomagistrado 0 exercicio de urn poderpraticamente solitario ganha uma baliza procedimental constitucionalimportantissima que, sem esvaziar os poderes diretores do 6rgao judicial,ndequam-nos a urn perfil democratico e comparticipativo.

    1/. Cl. a discussao, In: TARZIA, Giuseppe. II contraddittorio nel processo esecutivo, cit., p. 196-197.1:\ '\,/\RZIA, Giuseppe. II contraddittorio nel processo esecutiva, cit., p. 198-202, passim. 1 1 l r luu i, ibidem, p. 204.,11, VI':I!iJJi:. lllt.orv()llt.o ()I)()VII (1i,1 crodito nell'espropriaziane forzata. Milano, lOGli, p. '111, npnd. TAR7.IA,

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    E evidente que este modo de entendimento doprincipio deve encontraruma ostruturacao tecnica que permita seu exercicio sem negligenciar anecessidade de rapidez do terrnino do processo.

    Assim, delineiam-se procedimentos onde existe uma fase meto-dicamente exata de preparacao dos sujeitos processuais com a fixacao detodas as questoes (pontos controvertidos) juridic as , faticas e probat6rias,para a seguir ser realizada uma fase de problematizacao das questoes jafixadas com reduzida ou inexistente margem de surpresa aos sujeitosprocessuais.

    Isto, pois, e uma preocupacao constante, ha algum tempo, dos juristaseuropeus do fen6meno cada vez mais recorrente da decisao de surpresa"(Uberraschungsentscheidungen)48 ou di terza via,49 quando 0 provimentonao deriva do contradit6rio entre as partes, mas da escolha autonoma e, asvezes, arbitraria do juizo.

    Tanto e verdade que um dos pontos da recente reforma do processocivil austriaco de 2002 (Zivilverfahrens-Novelle 2002) foi a proibicao no "182an de decis6es de surpresa, impondo ao juiz 0 dever de discutir com aspartes aleqacoes de fato e de direito, evitando a obtencao de decisoes frutode pr6prios convencimentos solitarios nao submetidos a necessariadiscussao preventiva acerca dos elementos alegados, meios probat6riosdeduzidos e atividades desenvolvidas pelas partes'" au por ele pr6prio.

    Deste modo, 0 contradit6rio constitui uma verdadeira garantia de nao-surpresa, que impoe ao juiz 0 dever de provocar 0 debate acerca de todas asquestoes, inclusive as de conhecimento oficioso, impedindo que em "solitariaonipotencia" aplique normas ou embase a decisao sobre fatos comple-tamente estranhos a dialetica defensiva de uma ou ambas as partes. 51

    Toda vez que 0 magistrado nao exercitasse ativamente 0 dever deadvertir as partes quanto ao especifico objeto relevante para 0 contradit6rio,o provimento seria invalidado, sendo que a relevancia ocorre se 0 ponto defato ou de dire ito constituiu necessaria premissa ou fundamento para adecisao."

    47 SOUSA, Miguel Teixeira de. Aspectos donovo processo civil portuques. Revista de Processo, Sao Paulo:Revista das Tribunais, n. 86, abr./ jun. 1997, p. 177.

    48 TROCKER, Nicolo. Processo civile e castituzione. Problemi de diritto tedesco e italiano, cit., p. 659.49 FERRI, Corrado. Sull'effettivita del contraddittorio. Rivista trimestraIe diDiritto e Procedura Civile.Milano:

    Giuffre, 1988, p. 781.liO HENKE, Albert. Prime osservazioni sulla riformadel diritto porcessuale austriaco. Rivista di Diritto

    l'mt:Os.,"nla. Padova: Giuffre, n. 3,2003, p. 818.

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    Assim, 0 contradit6rio nE W incide sobre a existencia de poderes dedecisao do juiz, mas, sim, sobre a modalidade de seu exercicio, de modo afazer do juiz urn garante da sua observancia e impondo a nulidade deprovimentos toda vez que nao exist a a efetiva possibilidade de seuexercicio.F

    Em relacao as partes, 0 contradit6rio aglomera urn feixe de direitosdele decorrentes, entre eles: a) direito a uma cientificacao regular durantetodo 0 procedimento, ou seja, uma citacao adequada do ato introdutivo dademanda e a intimacao de cada evento processual posterior que the permitao exercicio efetivo da defesa no curso do procedimento; b) 0 direito a prova,possibilitando-Ihe sua obtencao toda vez que esta for relevante; c) emdecorrencia do anterior, 0 direito de assistir pessoalmente a assuncao daprova e de se contrapor a aloqacoes de fato ou atividades probat6rias daparte contraria ou mesmo oficiosas dojulgador; d) 0 direito de ser ouvido ejulgado por urn juiz imune a ciencia privada (private informazioni), que decidaa causa unicamente com base em provas e elementos adquiridos no debatecontraditorio.P'

    Algo porem deve ser ressaltado, as perspectivas ora trabalhadas naopodem ser vislumbradas com urn objetivo protelat6rio e formalista, pois aanalise do contradit6rio ha muito deixou de possibilitar uma mera enunciacaoformal, mas, sim, demonstram que a indicacao preventiva dos pontosrelevantes da controversia constitui urn instrumento insubstituivel para umarapida e correta decisao.P

    E evidente que para tanto faz-se mister a utilizacao adequada da fasepreparat6ria do procedimento, de modo a impedir idas e vindas constantespelo aparecer constante de novas quest6es.

    Os sujeitos processuais devem, deste modo, assumir a responsa-bilidade na utilizacao adequada da fase preparat6ria do procedimento,efetivamente preparando-se para tal, e nao encarando 0procedimento comouma serie de formalidades desnecessarias e descabidas de sentido.

    E da assuncao das respectivas faculdades, poderes e onus que ocorreraa obtencao de resultados praticos, celeres e constitucionalmente adequados.

    CONSIDERAy6ES FINAlSAs ponderacoes delineadas neste breve ensaio demonstram que a

    leitura dinamica da garantia do contradit6rio, como incentivador ao aspecto

    1>3 Iclom, ibidem, cit., p, 793.I.~ C:OMOGLIO, Lulul PUllin. (Inrrmeio costituzionaie e "qiusto processo" (modotll n (,"oIlli'nnto), c lt ., p , 113111.

    hh 1"I , : IUt l, (lIlIlIl,l" 111I1I'"n"u/II/I,l tlnl I'1I11i.rII,lrlIUor/n, 1111. . ,p, '/!l4.

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    dia16gico do procedimento, imp6e uma efetiva comparticipacao dos sujeitosprocessuais em todo 0 iter formativo das decis6es.

    Insta, deste modo, registrar que 0 papel do julgador deixa de assumirurn perfil extremamente pesado de canal da carga axio16gicada sociedade'"para torna-lo 0 diretor ativo do processo que, dialogando com as partes,encontra a melhor aplicacao da tutela mediante a procedimentalidadediscursiva e nao atraves de urn exercicio solitario do poder.

    A comparticipaoao advinda da leitura dinamica do contradit6rio (edeoutras garantias processuais constitucionais) importa uma democratizacaodo sistema de aplicacao de tutela mediante a assuncao de responsabilidadede todos que dele facam parte.

    Somente deste modo chegaremos a uma aplicacao de tutela comresultados uteis e de acordo com as perspectivas de umEstado Democraticode Direito.

    110 IJI N A M A I I I : ( i, Cfill(lirio Rangel. A instrumentalidade doprocesso. Sao Paulo: Malheiros, 2001, p. 294. Ct., , 1 1 1 1 1 ' 1 1 fl 1'''' til "I I I 1 I . l u 1 0 d ll llpl icnq ilo do tutela polo juJgador. In: LEAL, Rosemiro Pereira. Thoriaprocessuel"" ' ' ', , ' /~n l l l l l i " 1 1 " , , Ilftol'n"llI: 1,II,"ly,~On7.,p. no III. ""'I .