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Revista do Produtor Rural 62 [Ovinocultura] A ovinocultura no estado do Para- ná, outrora vista como atividade com lucratividade marginal nas propriedades rurais, principalmente pela falta de organização na cadeia produtiva, encontra-se em franca as- censão. Atualmente, o Paraná conta com cinco cooperativas que coorde- nam o abate, o preparo de cortes es- peciais e a oferta regular de carne de cordeiro para os mercados consumi- dores e, o mais importante, a garantia de pagamento de um preço justo pelas carcaças comercializadas. Um dos principais fatores relacio- nados à lucratividade do ovinocultor é a eficiência reprodutiva do rebanho. Nas raças especializadas para produ- ção de cordeiros tipo carne, um núme- ro significativo de ovelhas apresenta prenhez gemelar e até mesmo trige- melar que, se devidamente manejadas, resulta em índices de natalidade e des- mame superiores a 100%. Entretanto, não basta ter cordeiros para ofertar ao mercado, é fundamental que os mes- mos tenham peso e acabamento de carcaça desejados a uma tenra idade (média de 4 meses). Para tanto, é pre- ciso ter genética de qualidade, ou seja, instituir um programa de melhora- mento genético no rebanho, conside- rando-se a raça escolhida, a partir de carneiros (machos reprodutores) com características fenotípicas desejáveis para a raça em questão e que tenham o potencial de produzir descendentes Inseminação artificial em ovinos por laparoscopia (prole) que apresentem desempenho produtivo (ganho de peso e acabamen- to de carcaça) com maior eficiência a cada geração. Atualmente, muitos ovinocultores utilizam reprodutores de baixo valor comercial e, não raramente, alternam estes machos com outros criadores a fim de economizar recursos naquele que é, ou deveria ser, o principal mul- tiplicador de genética de qualidade, ou seja, o carneiro reprodutor. A inseminação artificial, se bem orientada e conduzida, é uma impor- tante alternativa para incrementar o melhoramento genético dos rebanhos. Em condições normais, é preciso 2 a 3% de carneiros reprodutores para monta de um lote de 100 ovelhas. Quando se adota a inseminação, ape- nas um carneiro (fenotipicamente su- perior e de maior valor comercial) é capaz de servir um número bem maior de ovelhas na temporada reprodutiva. Quando o carneiro reprodutor encontra-se na propriedade, a inse- minação poderá ser feita em ovelhas que manifestam cio natural ou com cio sincronizado com hormônios da esfera reprodutiva, o que permite inseminar todas as ovelhas sem a necessidade de detecção de cios, ou seja, prati- car a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em apenas um turno do dia. Quanto à técnica, utiliza-se a insemina- ção artificial cervical superficial pela via vaginal quando se emprega o sêmen fresco (recém-colhido do carneiro), fres- co diluído (que possibilita inseminar um maior número de ovelhas com apenas um ejaculado), ou ainda o sêmen dilu- ído refrigerado (que torna possível in- seminar as ovelhas até 12 horas após o sêmen ser colhido do carneiro repro- dutor). Esta modalidade de insemina- ção é simples e rápida, sem qualquer prejuízo para os animais. O percentual de ovelhas que resulta prenhe está na dependência de vários fatores, como a condição nutricional e sanitária do re- banho, a época do ano, a qualidade e a modalidade de uso do sêmen (fresco ou refrigerado), se o cio é natural ou induzido com hormônios e, ainda, a ex- periência da equipe técnica. Outra alternativa bastante interes- sante é a inseminação das ovelhas com sêmen descongelado, a semelhança do que é largamente praticado com vacas. Neste caso, o ovinocultor ou um con- domínio de criadores poderá adquirir um carneiro de alto mérito genético e valor comercial e submetê-lo a colhei- tas regulares de sêmen para fins de congelação. Esta prática pode ser feita na própria propriedade onde o carnei- ro está alojado. As doses de sêmen (pa- lhetas) congeladas são armazenadas em botijões criogênicos (em nitrogê- nio líquido) por tempo indeterminado, até que o produtor decida utilizá-las na inseminação das ovelhas. Além dis- so, estas doses de sêmen congelado servirão como um “seguro do carneiro” Guilherme de Medeiros Bastos 1 , Luiz Henrique Silveira Martins 2 , Mariana Garcia Kako Rodriguez 2 , Marcela Ambrogi 2 , Guilherme da Silva Dranca 2 , Naidiel Renã Galon 2 , Andressa Pereira de Souza 2 , Julian Michel Tschonka 2 , Odilei Rogério Prado 3 , Alda Lúcia Gomes Monteiro 3 1 Prof. Adjunto B – UNICENTRO, Guarapuava-PR. Coordenador do Laboratório de Reprodução Animal (ReproCentro). Fone (42) 8403-6265. E-mail: [email protected] 2 Estagiário(a) do ReproCentro. Aluno(a) de graduação em Medicina Veterinária – UNICENTRO, Guarapuava-PR. 3 Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos - LAPOC - Departamento de Zootecnia – UFPR, Curitiba-PR.

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Page 1: Artigo laparoscopia rev prod rural 2012

Revista do Produtor Rural62

[Ovinocultura]

A ovinocultura no estado do Para-ná, outrora vista como atividade com lucratividade marginal nas

propriedades rurais, principalmente pela falta de organização na cadeia produtiva, encontra-se em franca as-censão. Atualmente, o Paraná conta com cinco cooperativas que coorde-nam o abate, o preparo de cortes es-peciais e a oferta regular de carne de cordeiro para os mercados consumi-dores e, o mais importante, a garantia de pagamento de um preço justo pelas carcaças comercializadas.

Um dos principais fatores relacio-nados à lucratividade do ovinocultor é a eficiência reprodutiva do rebanho. Nas raças especializadas para produ-ção de cordeiros tipo carne, um núme-ro significativo de ovelhas apresenta prenhez gemelar e até mesmo trige-melar que, se devidamente manejadas, resulta em índices de natalidade e des-mame superiores a 100%. Entretanto, não basta ter cordeiros para ofertar ao mercado, é fundamental que os mes-mos tenham peso e acabamento de carcaça desejados a uma tenra idade (média de 4 meses). Para tanto, é pre-ciso ter genética de qualidade, ou seja, instituir um programa de melhora-mento genético no rebanho, conside-rando-se a raça escolhida, a partir de carneiros (machos reprodutores) com características fenotípicas desejáveis para a raça em questão e que tenham o potencial de produzir descendentes

Inseminação artificial em ovinospor laparoscopia

(prole) que apresentem desempenho produtivo (ganho de peso e acabamen-to de carcaça) com maior eficiência a cada geração.

Atualmente, muitos ovinocultores utilizam reprodutores de baixo valor comercial e, não raramente, alternam estes machos com outros criadores a fim de economizar recursos naquele que é, ou deveria ser, o principal mul-tiplicador de genética de qualidade, ou seja, o carneiro reprodutor.

A inseminação artificial, se bem orientada e conduzida, é uma impor-tante alternativa para incrementar o melhoramento genético dos rebanhos. Em condições normais, é preciso 2 a 3% de carneiros reprodutores para monta de um lote de 100 ovelhas. Quando se adota a inseminação, ape-nas um carneiro (fenotipicamente su-perior e de maior valor comercial) é capaz de servir um número bem maior de ovelhas na temporada reprodutiva.

Quando o carneiro reprodutor encontra-se na propriedade, a inse-minação poderá ser feita em ovelhas que manifestam cio natural ou com cio sincronizado com hormônios da esfera reprodutiva, o que permite inseminar todas as ovelhas sem a necessidade de detecção de cios, ou seja, prati-car a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em apenas um turno do dia. Quanto à técnica, utiliza-se a insemina-ção artificial cervical superficial pela via vaginal quando se emprega o sêmen

fresco (recém-colhido do carneiro), fres-co diluído (que possibilita inseminar um maior número de ovelhas com apenas um ejaculado), ou ainda o sêmen dilu-ído refrigerado (que torna possível in-seminar as ovelhas até 12 horas após o sêmen ser colhido do carneiro repro-dutor). Esta modalidade de insemina-ção é simples e rápida, sem qualquer prejuízo para os animais. O percentual de ovelhas que resulta prenhe está na dependência de vários fatores, como a condição nutricional e sanitária do re-banho, a época do ano, a qualidade e a modalidade de uso do sêmen (fresco ou refrigerado), se o cio é natural ou induzido com hormônios e, ainda, a ex-periência da equipe técnica.

Outra alternativa bastante interes-sante é a inseminação das ovelhas com sêmen descongelado, a semelhança do que é largamente praticado com vacas. Neste caso, o ovinocultor ou um con-domínio de criadores poderá adquirir um carneiro de alto mérito genético e valor comercial e submetê-lo a colhei-tas regulares de sêmen para fins de congelação. Esta prática pode ser feita na própria propriedade onde o carnei-ro está alojado. As doses de sêmen (pa-lhetas) congeladas são armazenadas em botijões criogênicos (em nitrogê-nio líquido) por tempo indeterminado, até que o produtor decida utilizá-las na inseminação das ovelhas. Além dis-so, estas doses de sêmen congelado servirão como um “seguro do carneiro”

Guilherme de Medeiros Bastos1, Luiz Henrique Silveira Martins2, Mariana Garcia Kako Rodriguez2, Marcela Ambrogi2, Guilherme da Silva Dranca2, Naidiel Renã Galon2, Andressa Pereira de Souza2,

Julian Michel Tschonka2, Odilei Rogério Prado3, Alda Lúcia Gomes Monteiro3

1Prof. Adjunto B – UNICENTRO, Guarapuava-PR. Coordenador do Laboratório de Reprodução Animal (ReproCentro). Fone (42) 8403-6265. E-mail: [email protected]

2 Estagiário(a) do ReproCentro. Aluno(a) de graduação em Medicina Veterinária – UNICENTRO, Guarapuava-PR.3Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos - LAPOC - Departamento de Zootecnia – UFPR, Curitiba-PR.

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caso o mesmo venha a óbito ou tenha (no futuro) a sua qualidade de sêmen prejudicada pela época do ano, lesões ou enfermidades. A partir de um ejacu-lado é possível congelar entre 40 e 60 doses de sêmen, estando a quantidade na dependência do volume e da con-centração de espermatozoides do eja-culado, bem como da concentração de espermatozoides desejada por dose (palheta). Opcionalmente, o produtor poderá adquirir sêmen congelado de carneiros de diferentes raças em cen-trais especializadas na produção e co-mercialização de sêmen congelado.

O resultado da inseminação, ou seja, o diagnóstico de quais ovelhas resultaram prenhes, poderá ser realiza-do por ultrassonografia a partir de 28 dias, prática esta que é simples, rápida e não oferece riscos a ovelha nem ao embrião/feto. A partir daí, as ovelhas vazias (não gestantes) poderão ser inse-minadas pela segunda vez ou o carneiro poderá repassá-las pela monta natural.

Uma limitação do sêmen congela-do é que a técnica de inseminação não deverá ser realizada pela via cervical superficial (conforme descrito acima para sêmen fresco ou resfriado), pois resulta em percentuais de prenhez abaixo de 10% (Prado et al., 2012), uma vez que a dose apresenta menor concentração e viabilidade (tempo de vida) dos espermatozóides descon-gelados em comparação àqueles ob-tidos no ejaculado recém-colhido do carneiro. A técnica de eleição e que é mundialmente praticada para a inse-minação de ovelhas com sêmen des-congelado é a laparoscopia (Figura 1). Ela permite depositar o sêmen descon-gelado diretamente no interior do úte-ro da ovelha, “encurtando caminhos” e possibilitando que um número ade-quado de espermatozóides adentre o oviduto e fertilize o óvulo.

As ovelhas que serão submetidas à inseminação por laparoscopia devem ser preferencialmente, submetidas à sincronização/indução de cios com hormônios da esfera reprodutiva. A inseminação artificial em tempo fixo (IATF) é realizada entre 55 e 60 horas após o término da aplicação dos hor-mônios. Com uma equipe experiente é possível inseminar 50 ovelhas em um turno, totalizando 100 animais ao dia.

A técnica consiste em conter a ovelha em decúbito dorsal (barriga para cima) em uma maca específica conforme demonstrado na Figura 1. Após lavagem e antissepsia (lavagem com desinfetante) do ventre do animal, é feita anestesia local em torno de 5cm abaixo do úbere, em ambos os lados direito e esquerdo, onde é feita uma “pequena incisão” na pele com bistu-ri. Nestas “incisões” são introduzidos trocateres (cânulas) por onde passam o laparoscópio (ótica) e um aplicador de sêmen contendo a dose descongelada, sendo o aplicador recoberto por uma bainha plástica contendo uma agulhi-nha de insulina (pequena e fina) na ponta. Ao visualizar o útero, o insemi-nador encosta a referida agulhinha no órgão (útero) e ela penetra na “luz” (lú-men) do útero onde o sêmen é deposi-tado. Feito isso, é realizado um ponto isolado simples com fio reabsorvível (não precisa ser removido) na pele onde foi anteriormente feita a peque-na incisão e aplicado spray cicatrizan-te. Os animais são liberados da maca e vão imediatamente para o pasto ou aprisco, seguindo o manejo normal da propriedade. O tempo médio decorrido entre a colocação da ovelha na maca, a

inseminação e a liberação do animal é de 4 minutos.

A laparoscopia não oferece riscos à vida nem ao trato genital da ovelha. O percentual médio de prenhez mun-dialmente aceito para esta técnica com sêmen descongelado é de 50%. Este percentual é semelhante ou pouco in-ferior ao obtido na monta natural do carneiro em um único cio. Geralmente o produtor contabiliza o resultado pró-ximo a 100% de prenhez ao final da temporada reprodutiva ou com base na parição, mas neste caso as ovelhas já manifestaram vários cios e foram cobertas repetidas vezes (a cada cio) pelos carneiros.

O Laboratório de Reprodução Ani-mal da Unicentro (ReproCentro) tem re-alizado pesquisas utilizando a metodo-logia de inseminação por laparoscopia com sêmen descongelado. Um dos pré--experimentos foi realizado em Castro – PR, durante o mês de dezembro de 2011, na propriedade do Sr. Armando Rabbers, onde ovelhas Texel desma-madas e mantidas em regime de con-finamento foram submetidas à inse-minação por laparoscopia com sêmen descongelado de um mesmo carneiro (Souza et al., 2012). A dieta dos animais

Prof. Guilherme Bastos: inseminação de ovelhas por laparoscopia

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Tabela 1: Percentual de prenhez de ovelhas Texel confinadas (Castro, PR), submetidas ao protocolo hormonal curto ou longo de sincronização de cios e inseminadas em tempo fixo por laparoscopia com sêmen descongelado em dezembro de 2011.

Tabela 2: Percentual de prenhez de borregas Ile de France e cruza Hampshire Down (Guarapuava, PR) mantidas a pasto e suplementadas com silagem de milho sem (Grupo 1) ou com (Grupo 2) adição (mistura) de concentrado na silagem e inseminadas em tempo fixo por laparoscopia com sêmen descongelado em junho de 2012 (dados não publicados).

Fonte: Adaptado de Souza et al. (2012).

Protocolo hormonal Nº total de ovelhas Nº de ovelhas prenhes

Percentual de ovelhas prenhes

Curto (6 dias) 23 13 56,5%

Longo (12 dias) 20 13 65,0%

Total (média) 43 26 60,5%

Tratamento (dieta) Nº total de borregas Nº de borregas prenhes

Percentual de borregas prenhes

Grupo 1:sem concentrado 18 14 77,7%

Grupo 2:com concentrado 16 14 87,5%

Total (média) 34 28 82,3%

desde o dia em que foi iniciada a apli-cação de hormônio para sincronização de cios até o dia da inseminação (perí-odo de 14 dias) foi composta por 500 g de fubá de milho, 200 g de concen-trado (18% de PB; Castrolanda 04B) e 3 kg de silagem de milho por cabeça. Do dia seguinte à inseminação até o 35° dia (momento da ultrassonografia para detecção de prenhez), a dieta foi composta por 300 g de fubá de milho, 200 g de concentrado (16% de PB) e 3 kg de silagem de trigo por cabeça. Du-rante todo o período experimental os

animais tiveram livre acesso à água e suplemento mineral para ovinos (SMO, Castrolanda).

Neste estudo, parte das ovelhas foram submetidas à sincronização de cios com esponja vaginal contendo hormônio por 6 dias (protocolo curto) e, o outro grupo de animais por 12 dias (protocolo longo). As ovelhas perma-neceram sem contato com carneiros até a ultrassonografia que foi realizada 35 dias após a data da inseminação. Os resultados de prenhez estão demons-trados na Tabela 1.

Outro estudo (pré-experimento; da-dos ainda não publicados) foi realizado em Guarapuava – PR, no mês de junho

de 2012, na propriedade do médico veterinário Leonardo Mattos Leão, utili-zando borregas (dois dentes) da raça Ile de France e algumas cruza Hampshire Down. Neste estudo, as borregas foram mantidas em pasto de Hermátria (Her-mátria altíssima) durante o dia. A noite, ao serem encerradas separadamente no aprisco, metade dos animais (Grupo 1) recebeu suplementação com 1 kg de silagem de milho/cabeça/dia e, a outra metade dos animais (Grupo 2), recebeu a mesma quantidade de silagem de mi-lho misturada a 300 g (cabeça/dia) de

concentrado (RAO – OVINOS, Agrária) para ovinos. A suplementação com sila-gem (para ambos os grupos) e concen-trado (apenas para as borregas do grupo 2) teve início no dia que iniciou o trata-mento hormonal (14 dias antes da inse-minação) e finalizou no dia da ultrasso-nografia para identificação das borregas prenhes (32 dias após a inseminação), totalizando 46 dias de suplementação. Durante todo o período experimental as borregas receberam sal mineral (Ovino-fós Pasto, Tortuga®) à vontade. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efei-to da suplementação com concentrado sobre o percentual de prenhez destas borregas inseminadas por laparoscopia

com sêmen descongelado. Não houve repasse da inseminação com carneiros, sendo os resultados de prenhez exclusi-vos da inseminação. Os resultados estão demonstrados na Tabela 2.

Um dos fatores limitantes da lapa-roscopia é o alto custo dos equipamen-tos e a necessidade de veterinário es-pecializado. Com o intuito de substituir a técnica da laparoscopia por simplifi-car e reduzir o custo da inseminação de ovelhas com sêmen descongelado foi desenvolvido no Brasil, há alguns anos, um kit comercial denominado “Aplica-dor Expansor Ovino” que, mediante pin-çamento (pela vagina) e tração do óstio cervical em direção à vulva, permitiria o alinhamento dos anéis cervicais (fisio-logicamente tortuosos), a transposição do aplicador pelo colo do útero (cérvix) e a deposição do sêmen desconge-lado no interior do corpo do útero da ovelha, o que resultaria em percentu-al de prenhez similar ao da técnica de laparoscopia. Esta técnica é chamada de inseminação intra-uterina pela via transcervical. Entretanto, a equipe do ReproCentro implementou vários ex-perimentos (Prado et al., 2011; alguns dados não publicados) utilizando o “Aplicador Expansor Ovino” em dife-rentes rebanhos, raças e utilizando três modalidades de sêmen (fresco, resfria-do e descongelado) e os percentuais de prenhez nunca ultrapassaram 19% (ge-ralmente abaixo de 10%). Suspeita-se que nas raças trabalhadas (Ile de France, Texel, Suffolk e Santa Inês) o “Aplicador Expansor Ovino” perfura o colo do úte-ro (cérvix) das ovelhas, sendo o sêmen depositado na cavidade abdominal.

Embora a técnica transcervical aparentemente não resulte em danos irreversíveis ao trato genital nem com-prometa a fertilidade subsequente das ovelhas, uma vez que a maioria delas resultou prenhe a partir do repasse com os carneiros, o “Aplicador Expansor Ovi-no” é desaconselhado pela nossa equi-pe, permanecendo a laparoscopia como a metodologia padrão e recomendada para a inseminação de ovelhas com sêmen descongelado. O ReproCentro foi equipado com recursos oriundos de projetos de pesquisa e extensão rural, e está pronto para prestação de serviços na área de reprodução de ovinos, bovi-nos e equinos (Tabela 3).

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Tabela 3: Relação dos serviços ofertados pelo Laboratório de Reprodução Animal da Unicentro (Re-proCentro).

Prestação de serviços em Reprodução Animal Espécie

Serviços ofertados Ovina Bovina Equina

Diagnóstico de prenhez por ultrassonografia x x x

Sexagem fetal por ultrassonografia x x x

Inseminação artificial convencional x x x

Inseminação artificial por laparoscopia x

Exame ginecológio x x

Cesariana x x

Vulvoplastia x x x

Exame andrológico x x x

Congelação de sêmen x x x

Transferência e congelação de embriões x x x

Descongelação e inovulação de embriões x x x

Análise de sêmen congelado x x x

AgradecimentosAo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –

CNPq, pelo suporte financeiro (Projeto n°574674/2008-0). Aos ovinocultores Armando Rabbers e Leonardo Mattos Leão por disponibilizar os animais para os estudos.

Referências Bibliográficas

Odilei Rogério Prado, Alda Lúcia Gomes Mon-teiro, Guilherme de Medeiros Bastos, Carlos Henrique Kulik, Thiago Augusto Cruz. Efeito da adição de plasma seminal ovino ao sêmen descongelado na inseminação artificial de ovelhas pela via cervical superficial. Syner-gismus Scyentifica UTFPR, Pato Branco, 07 (1), 2012 (Resumo Expandido).

Andressa Pereira de Souza, Guilherme de Me-deiros Bastos, Odilei Rogério Prado, Julian Mi-chel Tschonka, Luiz Henrique Silveira Martins, Naidiel Renã Galon, Alda Lúcia Gomes Montei-ro, Francisco Romano Gaievski. Desempenho reprodutivo de ovelhas Texel confinadas e submetidas a protocolo hormonal curto ou longo de sincronização de cios e insemi-nadas por laparoscopia durante a estação reprodutiva. Anais da 49ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2012 - CD--ROM (Resumo Expandido).

Odilei Rogério Prado, Guiherme de Medeiros Bastos, Bruno Bueno Saab, Moana Rodrigues França, Fernando Hentz, Rogério Ferreira. Fer-tilidade de borregas submetidas a protocolo curto ou longo de indução de cios e insemi-nadas em tempo fixo com sêmen resfriado ou descongelado na contra-estação repro-dutiva. Anais da 48º Reunião Anual da Socie-dade Brasileira de Zootecnia, 2011 - CD-ROM (Resumo Expandido).