artigo infeccao hospitalar enfermagem (2)

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    A INFECO HOSPITALAR E SUAS IMPLICAES PARA O CUIDAR DAENFERMAGEM

    HOSPITAL INFECTION AND ITS IMPLICATIONS TO THE NURSING CARELA INFECCIN HOSPITALARIA Y SUS IMPLICANCIAS PARA EL CUIDADO DE LA ENFERMERIA

    Milca Severino Pereira1, Adencia Custdia Silva e Souza2,Anaclara Ferreira Veiga Tipple2, Marinsia Aparecida do Prado3

    1 Reitora da Universidade Federal de Gois UFG. Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Faculdade de Enfermagem -FEN/UFG.

    2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da FEN/UFG.3 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da FEN/ UFG.

    RESUMO: Trata-se de um artigo de atualizao tendo como objetivo destacar aspectos conceituaissobre a infeco hospitalar de interesse para o cuidado de enfermagem, evidenciando os fundamentosque norteiam a compreenso deste fenmeno de indiscutvel importncia epidemiolgica para a assis-tncia sade. O tema trabalhado no sentido de evidenciar a responsabilidade em controlar a infecocomo sendo papel inerente aos profissionais da equipe de sade. Destaca-se a formao profissionalvoltada para uma cultura prevencionista como condio necessria para se concretizar um programa decontrole e preveno de infeco, descrevendo-se uma experincia local sobre a importncia das ativi-dades desenvolvidas pelo ncleo de pesquisa na rea, como instrumento que interfere, positivamente,nos resultados das aes dos enfermeiros. Evidencia-se o importante papel do enfermeiro no desenvol-vimento das aes de preveno e controle de infeco e a educao continuada como estratgia deimplementao de medidas eficazes na busca da qualidade do cuidado.

    ABSTRACT: Nursing practices and procedures play an indispensable role in the prevention of hospitalinfection. This review discusses the unquestionable importance of proper nursing practices related tothe control of infection. The establishment of a culture based on prevention is a requirement for anyinfection control program. This paper also explains activities conducted by our research group thatidentified procedures that affirm the role of nursing practices in the prevention and control of infection.It is clear that continuing education represents the main strategy to implement effective measures forproviding quality health care.

    RESUMEN: Las prcticas de la enfermera y los procedimientos juegan un papel indispensable en laprevencin de infeccin del hospital. Este artculo tiene como objetivo destacar los aspectos conceptualesrespecto a la infeccin hospitalaria de grande inters para el cuidado de la enfermera, as como, laimportancia epidemiolgica para la salud. Resalta la formacin profesional volcada para una culturabasado en la prevencin como requisito para cualquier programa de control de la infeccin. Explica lasactividades dirigidas por el grupo de investigacin en esta rea, tambin identific procedimientos queafirman el papel de la enfermera en las prcticas de la prevencin y el control de la infeccin. Lainplementacin de la educacin continuada representa la principal estrategia para desarrollar las medi-das eficaces en la bsqueda de un cuidado con calidad a la clientela.

    Endereo:Milca Severino PereiraRua 1024 Q-64, n 366 Apto 1701Residencial Frei Galvo.74823-040 Setor Pedro Ludovico, Goinia, GoisE-mail: [email protected]

    Artigo original: ReflexoRecebido em: 2 de outubro de 2004Aprovao final: 10 de maro de 2005

    PALAVRAS-CHAVE:Infeco hospitalar. Cuidadosde enfermagem. Infeco preveno e controle.

    KEYWORDS: Crossinfection. Nursing care.Infection prevention &control.

    PALABRAS CLAVE:Infeccin hospitalaria.Atencin de enfermera.Infeccin prevencin &control.

    Texto Contexto Enferm 2005 Abr-Jun; 14(2):250-7.

    Pereira MS, Souza ACS, Tipple AFV, Prado MA

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    INTRODUO

    No nosso cotidiano, dentro do contexto da pres-tao de servio sade, algumas perguntas so apre-sentadas quando o tema Infeco Hospitalar (IH) colocado em discusso: o que significa IH? Quais soas causas da IH? Como preven-las? A quem cabe atarefa de prevenir e controlar a IH? Que implicaestm com o processo de cuidar? Como deve ser a for-mao do enfermeiro para o controle de infeco hos-pitalar? E da equipe de sade?

    Para responder estas perguntas necessrio com-preender que a IH pertence a uma rea do conheci-mento com abordagem multidisciplinar e que a expe-rincia acumulada ao longo dos anos tem derrubadomuitos mitos e fetiches, muitas vezes cristalizados.

    Assim sendo, nos propomos a discutir o tema,tendo como ponto central a atuao do enfermeiro,sua formao e exerccio profissional, suas interfacesno processo de construo e de busca de um cuidadode enfermagem com qualidade. A construo desteartigo est alicerada nos fundamentos tericos, con-ceitos e preceitos disponibilizados na literatura e pelosrgos oficiais de sade, e nos estudos realizados nostreze anos de funcionamento do Ncleo de Estudose Pesquisas em Infeco Hospitalar (NEPIH) da Fa-culdade de Enfermagem (FEN) da Universidade Fe-deral de Gois (UFG).

    COMPREENDENDO O TEMA

    O conhecimento do binmio sade/ doenana perspectiva epidemiolgica revela-se em condionecessria para entendermos a cadeia de causalidades,em que os agentes agressores interagem com nossacapacidade de reao para manter nossa homeostaseou instalar um processo infeccioso.

    Apenas a minoria das pessoas expostas a ummicrorganismo com potencial patognico desenvol-ve infeco, principalmente quando consideramos amicrobiota residente em nossos tecidos, e tambm,que as doenas infecciosas dependem tanto da res-posta do hospedeiro quanto das caractersticas espe-cficas dos microrganismos1.

    A infeco hospitalar definida como aquelaadquirida aps a internao do paciente e que se ma-nifesta durante a internao ou mesmo aps a altaquando puder ser relacionada com a internao ouprocedimentos hospitalares2.

    A grande maioria das infeces hospitalares

    causada por um desequilbrio da relao existente en-tre a microbiota humana normal e os mecanismos dedefesa do hospedeiro. Isto pode ocorrer devido prpria patologia de base do paciente, procedimen-tos invasivos e alteraes da populao microbiana,geralmente induzida pelo uso de antibiticos3.

    Os microrganismos que predominam nas IHraramente causam infeces em outras situaes, apre-sentam baixa virulncia, mas em decorrncia do seuincuo e da queda de resistncia do hospedeiro, o pro-cesso infeccioso desenvolve-se1.

    Aproximadamente dois teros das IH so deorigem autgena, significando o desenvolvimento dainfeco a partir da microbiota do paciente, que podeter origem comunitria ou intra-hospitalar. Em am-bos as situaes, a colonizao precede a infeco, sen-do difcil determinar se o paciente trouxe o microrga-nismo da comunidade ou adquiriu de fonte exgenadurante a internao4.

    Na infeco hospitalar, o hospedeiro o elo maisimportante da cadeia epidemiolgica, pois alberga osprincipais microrganismos que na maioria dos casosdesencadeiam processos infecciosos. A patologia debase favorece a ocorrncia da IH por afetar os meca-nismos de defesa antiinfecciosa: grande queimado;acloridria gstrica; desnutrio; deficinciasimunolgicas; bem como o uso de alguns medica-mentos e os extremos de idade.Tambm favorecemo desenvolvimento das infeces os procedimentosinvasivos teraputicos ou para diagnsticos, podendoveicular agentes infecciosos no momento de sua reali-zao ou durante a sua permanncia4.

    A maioria das IH manifesta-se como complica-es de pacientes gravemente enfermos, em conseq-ncia da hospitalizao e da realizao de procedimen-tos invasivos ou imunossupressores a que o doente,correta ou incorretamente, foi submetido.

    Algumas IH so evitveis e outras no. Infec-es prevenveis so aquelas em que se pode interferirna cadeia de transmisso dos microrganismos. A in-terrupo dessa cadeia pode ser realizada por meiode medidas reconhecidamente eficazes como a lava-gem das mos, o processamento dos artigos e super-fcies, a utilizao dos equipamentos de proteo indi-vidual, no caso do risco laboral e a observao dasmedidas de assepsia.

    Infeces no prevenveis so aquelas que ocor-rem a despeito de todas as precaues adotadas, comopode-se constatar em pacientes imunologicamentecomprometidos, originrias a partir da sua microbiota.

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    A infeco hospitalar e suas implicaes para o cuidar da enfermagem

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    O fato de existir infeces evitveis, aproxima-damente 30%, exige da equipe de sade e das institui-es, responsabilidade tica, tcnica e social no senti-do de prover os servios e os profissionais de condi-es de preveno, revelando-se em um dos pontosfundamentais em todo o processo5. O controle dasinfeces hospitalares inerente ao processo de cui-dar, estando o enfermeiro capacitado para prestar umcuidado mais livre de riscos de infeces.

    A QUEM CABE A RESPONSABILIDADEDE CONTROLAR A IH ?

    A dcada de 70 viveu uma verdadeirareformulao das atividades de controle de infeco.Os hospitais americanos foram progressivamente ado-tando as recomendaes emanadas de rgos oficiais,substituindo seus mtodos passivos por busca ativa,criando ncleos para o controle de infeco eaprofundando em estudos sobre o tema. No Brasil,juntamente com a implantao de um modelo alta-mente tecnolgico de atendimento (cirurgia cardaca),surgiram as primeiras Comisses de Controle de In-feco Hospitalar (CCIH).

    Os anos 80 representaram, nos Estados Uni-dos, uma consolidao das experincias desencadeadasna dcada anterior. As monitoraes microbiolgicasrotineiras de pessoal e ambientes deixaram de ser rea-lizadas, e os mtodos de vigilncia epidemiolgicaforam progressivamente aperfeioados, racionalizan-do o tempo de coleta, utilizando pistas diagnsticas einformatizando progressivamente a consolidao dosdados, liberando tempo para interpretao, desenvol-vimento de atividades educativas e abordagem pr-ativa dos episdios de infeco.

    A dcada de 80 foi muito importante para odesenvolvimento do controle das IH no Brasil. Co-meou a ocorrer uma conscientizao dos profissio-nais de sade a respeito do tema com a instituio deCCIH em vrios Estados do pas. Em junho de 1883o MS publicou a Portaria 196, primeiro documentonormativo oficial. Em 1992 publicou a Portaria 930que entre outros avanos defendia a busca ativa decasos. Em 1997 aprova a Lei 9431, tornando obriga-trio a presena da CCIH e do Programa de controlede IH independente do porte e da estrutura hospita-lar. A implantao e execuo destes programas deve-riam reduzir a incidncia e a gravidade das IH ao m-ximo possvel. Vale destacar que a presena do enfer-meiro como membro das CCIH aparece como su-

    gesto em alguns destes documentos e que na ltimaPortaria, nmero 2616, publicada em 1998, sua presen-a aparece no time dos profissionais que, obrigatoria-mente devem compor essa comisso na qualidade demembro executor dos programas de controle de IH6.

    Outro fator que exerceu grande impacto sobreas aes de controle foi a epidemia de Aids, que setornou um grande desafio, pois as medidas de pre-veno e controle tiveram que ser implantadas paratodos os pacientes independente do risco presumido;alm disso, foi um desafio constante para as aeseducativas e de avaliao de riscos. Este fator foi omais significativo na preveno e controle das IH comimpacto sobre todos os hospitais do mundo. A gravi-dade, a letalidade da doena e inicialmente, a indefiniode suas formas de transmisso contriburam para sen-sibilizar rgos oficiais, hospitais e profissionais quan-to a necessidade de adoo de medidas preventivas7.

    Com isto, a sade ocupacional, no que diz res-peito aos agentes biolgicos, foi se integrando ao con-trole de infeco, incluindo nas estratgias de vigilnciaa observao da equipe de sade, para se identificaros fatores e procedimentos de risco e a adoo demedidas adequadas de controle.

    Em decorrncia disso, em 1987 forampublicadas pelos Centers for Disease Control and Prevention(CDC), normas de precaues universais e isolamen-to de substncias corpreas, definindo cuidados bsi-cos a serem tomados com todos os pacientes, inde-pendentemente de seu diagnstico, e em 1996, reali-zou-se uma ampla reviso destas medidas hoje deno-minadas de precaues baseadas na transmisso e pre-caues padro8.

    Boas prticas assistenciais decorrem da integraode todos os setores e o controle de infeco vem as-sumindo um papel relevante de assessoria. Ele interagecom a sade ocupacional, em medidas de controlereferentes a afastamentos de profissionais, imunizaese preveno de patologias de aquisio hospitalar; atuaem conjunto com a comisso interna de preveno deacidentes, principalmente na nfase s precaues pa-dro; nas comisses de reviso de pronturios e bi-tos, pois fornecem subsdios para deteco de casosde infeco hospitalar e seus fatores de risco; na pa-dronizao de materiais e insumos, procurando racio-nalizar custo/ benefcio das medidas de controle dasinfeces em relao s tecnologias oferecidas; farmciae medicamentos com padronizao deantimicrobianos; auxilia comisses de controle de qua-lidade, por meio de seus indicadores epidemiolgicos;

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    integrao administrao auxiliando nas decisessobre convenincia e prioridade no investimento emtecnologia. Alm disso, assessora a instituio e seusmembros em processos jurdicos6.

    Observamos, com freqncia, a concepo dosprofissionais de que o controle de IH de responsa-bilidade das CCIH, dessa forma se excluem da suaresponsabilidade pessoal, conferindo um super po-der s comisses, que de fato, isoladamente, poucopodem fazer. Por outro lado, esta viso confere aosintegrantes da comisso uma condio de superiori-dade, uma vez que conhecida muito mais comofiscalizadores das medidas institudas para o controle,do que parceiros que devem caminhar juntos nestaconstruo de uma nova prxis no controle de IH,que necessariamente deve ser coletiva.

    O xito do programa est diretamente relacio-nado com o envolvimento de todos. A responsabili-dade de prevenir e controlar a IH individual e cole-tiva. Sem a assimilao e implementao dos proce-dimentos corretos por quem executa no paciente, coma necessria integrao com a equipe da CCIH, o pro-blema da IH sempre ser um entrave na prestao deservios sade.

    Desta forma, cabe ressaltar que oscontroladores de infeco tm a responsabilidade deinstituir a poltica institucional para prevenir e contro-lar a infeco, porm, o sucesso do programa depen-der do envolvimento de todos os profissionais queatuam na prestao da assistncia hospitalar. De nadaadianta o conhecimento do fenmeno e das medidaspreventivas, se quem presta assistncia no as adotano seu fazer profissional. A enfermagem, atravs docuidado prestado, integra o trabalho dos demais pro-fissionais, possibilitando incrementar esta polticainstitucional de CIH.

    O PROFISSIONAL DE SADE E O CON-TROLE DA INFECO HOSPITALAR

    Na assistncia sade, independente de ser pre-veno, proteo ou tratamento e reabilitao, o indi-vduo deve ser visto como um ser integral, que no sefragmenta para receber atendimento em partes. AsIH so multifatoriais, e toda a problemtica de comoreduzir as infeces, intervir em situaes de surtos emanter sob controle as infeces dentro de uma ins-tituio, deve ser resultado de um trabalho de equipe.

    O aprimoramento de recursos humanos emuma instituio, inclusive para racionalizar a

    tecnologia, deve ser prioridade, pois um bom aten-dimento no mensurado somente pelo avanotecnolgico dos equipamentos.

    O hospital que tem filosofia voltada para a va-lorizao dos recursos humanos, buscando introdu-zir, alterar e aprimorar comportamentos e atitudes,est mais prximo de atingir o grau de excelncia deseu atendimento.Dentro da estrutura organizacional,cada trabalhador deve ter papel definido e cumpri-locom a mxima competncia, procurando agir de acor-do com os princpios bsicos de sua profisso.

    Uma das preocupaes crescentes refere-se acomo preparar o profissional de sade para o CIH,considerando a sua interdisciplinaridade. Viabilizar ocontato do estudante com todas as normas e legisla-o orientadora e reguladora da preveno e controlede infeco um importante caminho e quanto maisprecoce isso for feito na graduao, maior a chancedo futuro profissional em assimilar estes ensinamentos.Entretanto, dada a complexidade e abrangncia dainfeco, seu controle e suas implicaes nas aesassistenciais, a preveno e controle devem comporas polticas da instituio e formao profissional, bemcomo, fazer parte da sua cultura.

    Assim sendo, os princpios, normas e postula-dos relacionados preveno e controle da IH devemcompor o currculo dos profissionais da sade de modointegrado, onde as disciplinas especficas para a forma-o profissional dos diferentes cursos possam carregara filosofia e a prtica da preveno e CIH.

    De acordo com nossa vivncia no ensino, oexemplo dado pela equipe de sade, no seu exerccioprofissional, tem maior repercusso na aprendizagemdos alunos do que uma disciplina especfica com to-dos os mtodos e tcnicas recomendadas. As basesdo controle de IH devem ser assimiladas e emprega-das por todas as disciplinas porque so aplicadas, oupelo menos deveriam ser, na realizao de qualquerprocedimento diagnstico ou teraputico, todos osenvolvidos precisam ser atuantes.

    Todas as formas possveis para mudar com-portamento dentro de qualquer organizao requerema escolha de estratgia educacional conjugada a umprograma com objetivos bem definidos. A preven-o e o CIH esto relacionados promoo sade edevem refletir preocupao no sentido de que as pes-soas consigam livrar-se de fatores que as predispempara comportamentos insalubres para si prprias e paraos pacientes. A educao em sade tem como objeti-vo explicitar valores, aumentar a autopercepo acer-

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    ca do problema, promover informaes e habilida-des necessrias tomando-se decises acertadas.

    A INFECO HOSPITALAR NO CON-TEXTO DO CUIDADO DE ENFERMA-GEM

    Grandes avanos cientficos e tecnolgicos ocor-reram, e no entanto, a IH continua a se constituir emsria ameaa segurana dos pacientes hospitalizados,contribuindo para elevar as taxas de morbi-mortali-dade, aumentar os custos de hospitalizao medianteo prolongamento da permanncia e gastos com pro-cedimentos diagnsticos, no negligenciando o tem-po de afastamento do paciente de seu trabalho1- 9.

    O controle de IH constitui um dos parmetrospara garantir a qualidade do cuidado prestado. Na ela-borao de programas com este objetivo, alm daorganizao hospitalar, devemos examinar as caracte-rsticas e finalidades do hospital, tipo de gerenciamento,assistncia e clientela, bem como, os aspectos relacio-nados infra-estrutura.

    Alm do mais, preciso considerar que a IHno qualquer doena infecciosa, mas decorrente daevoluo das prticas assistenciais forjadas no modeloassistencial de caracterstica curativa no qual predomi-nam os procedimentos invasivos tanto para o diag-nstico quanto para a teraputica. Desse modo, nose trata de um fenmeno meramente biolgico e uni-versal e, sim histrico e social9.

    Embora recaia sobre os enfermeiros uma gran-de responsabilidade na preveno e controle das in-feces, suas aes so dependentes e relacionadas.Nesta perspectiva os desafios para o controle de in-feco podem ser considerados coletivos e agrupa-dos em: estrutura organizacional que envolve polticasgovernamentais, institucionais e administrativas, rela-es interpessoais e intersetorias no trabalho enormatizao do servio; batalha biolgica que abor-da a identificao de novos microrganismos e aressurgncia de outros, bem como a resistncia aosantimicrobianos; envolvimento profissional, comenfoque para a falta de conscientizao dos profissio-nal, adeso s medidas de controle e o comprometi-mento com o servio e o paciente; capacitao pro-fissional, destacando-se a educao continuada;epidemiologia das infeces e; medidas de prevenoe controle10.

    Na prtica, o que observamos que os enfer-meiros reconhecem esses desafios e sofrem o impac-

    to decorrente das dificuldades encontradas para ocontrole das infeces. Entretanto, essas dificuldadesno devem constituir-se em fatores impeditivos, massim disparar a busca de caminhos alternativos que avan-cem na perspectiva do controle das infeces.

    Concordamos que o maior avano nesta rea o investimento nos recursos humanos, uma vez queestes esto envolvidos nas diferentes interfaces do con-trole de infeco.11-12 Tais recursos so imprescindveisnesse processo e deve-se, portanto, requerer esforospara o seu constante aprimoramento11.

    A mudana de comportamento, no sentido deracionalizar procedimentos e aprimorar normas e ro-tinas, expressa condio indispensvel ao controle deinfeco, sendo necessrio a motivao dos profissio-nais, promovendo debates, treinamentos, divulgaode informaes. Entretanto, nossa experincia corro-bora com as dificuldades encontradas para a mudan-a de comportamento dos profissionais da rea desade, indicando-nos que necessrio um macio in-vestimento na formao acadmica12-13.

    Entendemos que atuar na formao dos profis-sionais de sade intervir num momento no qual estesesto construindo seus conhecimentos e desenvolven-do habilidades tcnicas para o exerccio profissional.

    Para o aluno recm-ingresso num curso superi-or na rea de sade, no se preconiza nenhum conhe-cimento especfico das competncias que compemo perfil esperado desse profissional. A graduao omomento propcio de formao (maneira pela qualse constitui uma mentalidade, um carter ou um co-nhecimento profissional) ao ensino do controle de in-feco para os alunos da rea da sade14.

    Especialmente no momento em que as polticaspblicas de implantao do SUS e a mudana domodelo assistencial esto ocorrendo, a formao e aeducao continuada representam os esforos quealavancaro o controle de infeco, na suainterdisciplinaridade e intersetorialidade. Caminha-separa um novo fazer de Enfermagem, com modelosde cuidados mais seguros.

    TRABALHO COLETIVO: UMA EXPERI-NCIA POSITIVA EM CONTROLE DEINFECO

    Em 1991 instalamos na FEN/UFG, o Ncleode Estudos e Pesquisas em Infeco (NEPIH), com oobjetivo de criar um grupo de trabalho para estudar epesquisar o fenmeno da infeco em suas diferentes

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    vertentes. Os trabalhos foram iniciados com um projetode pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de De-senvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), en-volvendo uma professora pesquisadora, dois bolsistasdo Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cien-tfica-CNPq (PIBIC-CNPq), duas professoras em for-mao em pesquisa e duas bolsistas voluntrias.

    Durante estes treze anos de funcionamento, pas-saram pelo NEPIH, 35 bolsistas PIBIC/ CNPq; 54bolsistas voluntrios e foram realizadas 36monografias de final de curso de graduao, almde sete de especializao.

    No quadro docente atual, temos quatro profes-soras doutoras, duas doutorandas e duas com o ttulode mestre. Em andamento temos oito dissertaes demestrado, cujo programa foi iniciado na FEN em 2003.Destaca-se que o NEPIH funcionou durante sete anoscom uma professora doutora.

    O reconhecimento da importncia do ncleo,na regio, pode ser inferido pela alta procura, peloshospitais, por enfermeiros (as) que tenham passadopelo NEPIH, para comporem as CCIH. Os alunosque freqentaram o ncleo so habilitados para mon-tar servios e comisses de controle de infeco. Hoje,eles j esto presentes, tambm, no interior do Esta-do. Os nossos bolsistas saem motivados a darem conti-nuidade sua formao acadmica, inscrevendo-se nosprogramas de ps-graduao.

    Com o propsito de explicitar as aes realiza-das pelo NEPIH, detalharemos uma de suas ativida-des que foi realizada em parceria com outra unidadeda UFG no desenvolvimento de um projeto que re-sultou em uma tese de doutorado15, que, mostra pos-sibilidades de ao do enfermeiro em diferentes reasda sade, nas quais se podem desenvolver aes efeti-vas de preveno e controle das infeces.

    Esse estudo vinculado ao Ncleo foi desenvol-vido em uma Faculdade de Odontologia, com o apoiodo seu Conselho Diretor, de integrantes do corpodocente, discente e administrativo, que demonstraraminteresse em discutir estratgias para o controle de in-feco. Na realidade, o estudo veio ao encontro dasexpectativas deste grupo e desencadeou aimplementao de medidas de controle de infeco.

    A primeira ao neste sentido foi a criao deuma comisso que com aprovao do Conselho Di-retor foi instituda a Comisso de Controle de Infec-o da Faculdade de Odontologia (CCIO) da Uni-versidade Federal de Gois em maio de 1998.

    A Comisso formada por professores, tcni-

    cos administrativos e representantes estudantis. Destaforma, as estratgias e conquistas so resultantes deum trabalho coletivo no apenas da CCIO, direo ecoordenao do curso, mas da comunidade acadmi-ca como um todo, motivada para discuti-las, viabiliz-las e implement-las.

    Mudanas na estrutura fsica foram viabilizadaspara que as orientaes tcnicas pudessem serimplementadas, como por exemplo, a construo deexpurgos nos ambulatrios e clnicas, uma vez que osartigos eram lavados nas mesmas pias destinadas la-vagem das mo. Aps a constituio da CCIO, foramconstrudas duas clnicas, as quais tiveram os seus pro-jetos submetidos apreciao da CCIO e sob suaorientao foram levados em considerao aspectosrelacionados ao controle de infeco em odontologia.

    O detergente comum foi substitudo pelo de-tergente enzimtico, apropriado lavagem de artigos.As luvas grossas e os demais Equipamentos de Prote-o Individual (EPI) tornaram-se obrigatrios para ouso nos expurgos. A secagem dos artigos, que era fei-ta com papel-toalha, foi substituda por toalhas de te-cido, de uso nico, cujo processamento foi viabilizadopela Faculdade. Foram institudas rotinas para que to-dos os alunos, nas diferentes disciplinas pudessem serorientados.

    Vrias mudanas referentes ao processamentode artigos foram institudas. Construiu-se um Centrode Esterilizao, adquiriu-se uma autoclave de barrei-ra pr-vcuo, com capacidade de 432 litros, com se-parao entre as reas suja e limpa. O servio hoje coordenado por uma enfermeira, a qual respons-vel pelos controles fsico, qumico e biolgico dos pro-cessos de esterilizao.

    A Comisso de Controle de Infecoimplementou um curso de capacitao para os funci-onrios dos servios gerais, orientando-os sobre asvrias rotinas, como separao dos baldes e luvas paraas reas administrativas, ambulatrios, esterilizao ebanheiros utilizando as cores como diferencial,obrigatoriedade do uso dos EPI, rotina semanal dalimpeza terminal das reas clnicas, descrevendodetalhadamente as etapas do processo, inclusive paraa limpeza concorrente.

    Foi criado um plano de gerenciamento dos res-duos gerados na faculdade (RSS) que implementoucoleta seletiva e demais etapas, que passa atualmentepor adaptaes para atender a RDC n 30616. Foiconstrudo abrigo de resduos infectantes, conformeprojeto da Vigilncia Sanitria do Estado.

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    A infeco hospitalar e suas implicaes para o cuidar da enfermagem

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    Regulamente realizamos dia/ semana interna deControle de Infeco com atividades educativasdirecionadas aos alunos professores, funcionrios tc-nico-administrativos, auxiliares de cirurgio-dentista etcnicos em higiene dental, sobre preveno e contro-le de infeco. Da mesma forma temos participadona realizao de eventos relacionados a este a temabuscando o envolvimento da equipe odontolgica. Emparceria com a Secretaria Municipal de Sade realiza-mos campanha anual vacinao anti-hepatite B paratodos os novos alunos.

    Desde 2001 realizamos a epidemiologia dos aci-dentes com material biolgico na faculdade, cujos da-dos so registrados em uma ficha de notificaoconstruda considerando as especificidades da prticaodontolgica17. A utilizao dessa ficha revela aepidemiologia dos acidentes que tm apoiado as aeseducativas.

    No foi possvel avaliar o impacto do conjuntodessas medidas no ensino. No entanto, h indicativosde mudanas efetivas, e a adoo de Equipamentosde Proteo Individual um exemplo. De uma situa-o bastante vulnervel18, observa-se claramente umanova postura entre docentes e discentes. Os alunos estoconvivendo com um processo diferenciado relativoao Controle de Infeco que incluem mudanas estru-turais e organizacionais.

    Outrossim, verificamos que comeam a ocor-rer discretas mudanas na abordagem terica dos con-tedos relativos ao controle de infeco. Embora vi-gorando a mesma estrutura curricular, desde o ano de1999 os professores integrantes da CCIO so convi-dados nas diferentes disciplinas e sries do curso paraa abordagem de temas relativos ao controle de infec-o. Da mesma forma, todos os cursos de especiali-zao realizados pela Faculdade desde 1999 e o pro-grama de mestrado incluram o Controle de Infecoem seus currculos.

    Evidencia-se, desta forma, um investimento naformao acadmica e na atualizao profissional. Onovo currculo aprovado para inicio em 2005 incluiuuma disciplina denominada Controle de Infeco.Destaca-se que na universidade todos os currculosesto sendo reformulados, neste momento, em aten-dimento s novas diretrizes curriculares.

    Empreendemos, desta forma, muitas frentes deatuao, algumas com resultados imediatos, outras emandamento e at mesmo algumas ineficientes, o que,no conjunto, nos revelam, que possvel a mudanapara prticas mais seguras em sade pelo envolvimentocoletivo organizado.

    A Comisso constituda, inicialmente, atravs doato designativo da Direo da Faculdade, j possuiRegimento Interno e tem voz e voto no ConselhoDiretor da Faculdade. Sem sombra de dvida, estetrabalho representa um exemplo a ser registrado acer-ca da interao e integrao multidisciplinar para abusca de soluo de um problema.

    CONSIDERAES FINAIS

    O controle de infeco hospitalar foi, ao longodos anos, evoluindo e se evidenciando como um fe-nmeno que no se restringe apenas ao meio hospita-lar, mas, tambm, a todos os estabelecimentos da reade sade, nos quais se desenvolvem aes consideradasde risco para o aparecimento das infeces.

    A IH transcende seus aspectos perceptveis econhecidos, situando-se em dimenses complexas docuidado sade na sociedade moderna, ambas emconstante transformao. Assim, a IH um eventohistrico, social e no apenas biolgico, requerendoinvestimentos cientficos, tecnolgicos e humanos paraa incorporao de medidas de preveno e controle,sem perder de vista a qualidade do cuidado prestadopela enfermagem.

    REFERNCIAS

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    A infeco hospitalar e suas implicaes para o cuidar da enfermagem