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Entrevista - Terry Cook

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    InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeiro Preto, v. 3, n. 2, p. 142-156, jul./dez. 2012.

    Desde 1998, Terry Cook professor visitante do programa de ps-graduao em Estudos de Arquivologia do Departamento de Histria da Universidade de Manitoba, Winnipeg, Canad, como tambm consultor em arquivologia, editor freelance e escritor. Ele tambm administrou cursos em cincia arquivstica na Universidade de Michigan (Estados Unidos) e na Universidade Monash (Austrlia). De 1975 a 1998, ele foi arquivista, gerente e executivo snior do Arquivo Nacional do Canad, agora Biblioteca e Arquivos do Canad, onde foi o diretor responsvel pela avaliao e eliminao de documentos em todo o tipo de mdia para o governo do Canad. Ele tambm desenvolveu vrias e influentes polticas e estratgias de implementao de Arquivos Nacionais nas reas de macro-avaliao, amostragem, documentos regionais e documentos eletrnicos. Ele adotou tanto a teoria como a prtica em sua vida profissional, ou seja, tanto os conceitos sobre fundos de arquivo como as estratgias usadas para colocar estes conceitos na prtica do mundo real de documentos e administrao pblica.

    Ele atuou 18 anos, no total, como Editor Geral na Archivaria, a revista acadmica nacional da Associao Canadense de Arquivistas; como Editor da Associao Histrica Canadense de Documentos Histricos agora o peridico da Associao; e tambm foi Editor da srie Historical Booklets. Ele tambm membro do conselho editorial de peridicos acadmicos em arquivologia no Canad, Estados Unidos e Europa.

    Alm de ter publicado cerca de 80 ensaios, agora em seis continentes, ele escreveu ou editou cinco livros, e est atualmente trabalhando no seu sexto livro, para editoras da Frana, Holanda, Estados Unidos, Espanha e Canad, alm da autoria de inmeros guias e inventrios publicados para o Arquivo Nacional do Canad. Foi responsvel por institutos de avaliao, documentos digitais, arquivologia ps-moderna e tica arquivstica, em todo o Canad e internacionalmente, especialmente, em vrias oportunidades, na Austrlia, Irlanda, Espanha e frica do Sul; palestrando em vrias conferncias em todos os continentes, e discursando em plenrio para o encontro quadrienal do Congresso Internacional de Arquivos em Pequim, em

    Colaboraram nesta entrevista: Profa. Dra. Solange Puntel Mostafa e Prof. Dr. Eduardo Ismael Murguia

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    1996, e para Mesa Redonda da ACI em Quebec em 2007 e, em Oslo, em 2010. Ele visitou o Brasil em 1997 e proferiu palestras no Rio de Janeiro e em So Paulo.

    De 1998 a 2006, ele foi o principal lobista da Associao de Arquivistas Canadenses a preparar apresentaes escritas e testemunhar perante o Parlamento canadense sobre questes de polticas de informao federal, tais como privacidade, dados do censo, mdia digital, e a criao da Biblioteca e Arquivos do Canad. Atualmente, seus principais interesses de pesquisa incluem avaliao arquivstica, arquivologia ps-moderna, teoria arquivstica, e a histria arquivstica e ideias arquivsticas. Atualmente est escrevendo um livro sobre a histria do Arquivo Pblico Nacional do Canad.

    Obteve seu doutorado em Histria na Universidade de Queen em Kingston, Ontrio, em 1977. Em sua trajetria de historiador arquivista, de arquivstica tradicional arquivstica ps-moderna, desafiando muitas das premissas bsicas de sua profisso, o seu trabalho tem sido reconhecido por diversos prmios e honrarias, incluindo sua eleio como Membro da Sociedade Americana de Arquivistas, Membro da Society of Canadian Office Automation Professionals, e Membro da Associao Canadense de Arquivistas. Em 2010, ele foi eleito Membro da Sociedade Real do Canad (o maior reconhecimento para os estudiosos e cientistas em todas as reas acadmicas no Canad), tendo sido o primeiro estudioso da cincia arquivstica, como uma disciplina separada, a receber tal honra.

    InCID: O senhor estudou histria em seu doutorado e editou revistas cientficas na rea de histria e tambm escreveu ensaios na rea. No entanto, tornou-se um arquivista, um arquivista especialmente conhecido por repensar de forma radical a nossa profisso. Qual foi o momento decisivo de virada na sua trajetria? E como a histria afetou a sua viso sobre fundos de arquivo?

    Terry Cook: Meu campo especial da histria era a histria intelectual, s vezes chamada de histria das ideias. Em histria geral, e especialmente na histria intelectual, o historiador est sempre tentando responder pergunta Por qu? Por que determinada coisa aconteceu? Por que uma pessoa ou grupo pensou ou agiu de uma determinada maneira? Por que algumas ideias tm influncia e outras desvanecem? Por que as pessoas, em algum momento no passado, percebem

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    as condies econmicas ou sociais como sendo melhor (ou pior) do que realmente eram, e, portanto, agiram de acordo com suas percepes, suas crenas, suas suposies, ao invs de responder realidade de fato? claro que o historiador deve saber o que aconteceu, onde, quando, com quem e como. Mas, para mim, as respostas a estas perguntas fornecem a estrutura, o contexto, que levam sondagem de respostas para questes mais interessantes sobre os por qus.

    Ento, meu momento decisivo foi quando comecei a perguntar por qu? logo no incio da minha carreira de arquivista, em relao s ideias e processos arquivsticos, ao invs de perguntar sobre tpicos de pesquisa histrica. Por exemplo, por que o princpio da provenincia to venerado na nossa profisso, fornecendo um contexto para os documentos, ligando-os sua instituio de origem, quando claramente havia, para registros governamentais complexos, vrias instituies de origens, no apenas uma? Por que a avaliao arquivstica foi baseada na tentativa de espelhar tendncias de pesquisa na histria acadmica, quando membros de vrias outras profisses tambm usam arquivos, e cada vez mais, para no falar de pessoas que no fazem parte de profisses acadmicas formais: romancistas, artistas, chefs, dramaturgos, ambientalistas? Por que a profisso arquivstica, at cerca de 20 anos atrs, geralmente insistia que o arquivista fosse um guardio, neutro e objetivo, quando a avaliao arquivstica, era obviamente, para citar um exemplo, tanto ativa como subjetiva? Por que insistimos em ser percebidos como guardies de documentos antigos, quando estvamos na verdade a moldar o arquivo. Ao invs de manter arquivos, ns fazemos arquivos. E esse foi o principal momento de virada para mim: ns, como uma profisso, somos to obcecados em cuidar do produto (o documento, o mapa, a fotografia) que negligenciamos o processo (a funo de registrar ou administrar ou a atividade por trs da confeco de mapas, fotografias, ou correspondncia), incluindo o processo de arquivar o arquivo. Por que temos os documentos que temos em fundos de arquivos? Por que os descrevemos da forma como fazemos? Por que adotamos uma mitologia profissional de guarda passiva ao invs de mediao ativa com o passado? Por qu?, Por qu?, Por qu? Para encontrar as respostas, eu fui estudar a histria da arquivologia para questionar a teoria arquivstica atravs de uma lente ps-moderna.

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    InCID: O senhor diz que o princpio fundamental da nossa profisso, o princpio de provenincia, no merece a ateno que tem recebido to amplamente. Poderia falar mais sobre isso?

    Terry Cook: A inteno do princpio de provenincia era manter os documentos dentro de seu contexto, de modo que seu valor como prova/evidncia, fosse mantido. Eu sou um grande defensor da preservao de documentos num contexto rico, sejam estes documentos antigos ou novos registros digitais. O problema que os pioneiros da arquivologia definiram contexto de forma muito limitada, relacionado instituio de origem, em uma estrutura burocrtica. Eu estou mais interessado no que se passa dentro desta instituio. So as funes, programas e atividades que ocorrem dentro da instituio que geram registros, no a instituio em si. Alm disso, a relao prxima de um-para-um que se assume entre funo e estrutura na teoria clssica da arquivstica, simplesmente no mais verdadeira nas organizaes modernas. As atividades do processo de trabalho e as funes (que esto mais num nvel macro) que as produzem, agora existem em muitas instituies, espalhadas pelo espao geogrfico e ao longo do tempo, j no refletindo uma organizao mono-hierrquica. O computador e as revolues em telecomunicao aceleraram radicalmente esta descentralizao e difuso, a tal ponto que as funes operacionais agora atravessam todos as formas de linhas estruturais e organizacionais.

    Dcadas atrs, Peter Scott e Chris Hurley da Austrlia, lamentaram de forma mais proeminente, embora muitos outros internacionalmente acabaram se uniram a eles de forma crescente, o fracasso arquivstico em forar os muitos processos ou funes e atividades mltiplas para a criao de sries e agrupamentos de arquivos em uma nica estrutura administrativa para descrever arquivos, e chamando esta provenincia e os documentos resultantes, de fundos de arquivo. Mesmo na poca de Jenkinson, o sistema de registro oficial centralizado do prprio governo britnico no chegou a operar na forma clssica assumida pelos primeiros tericos arquivsticos. Este sistema foi impedido na poca, como estudos recentes mostram, por convenes informais, prticas localizadas, expectativas sociais e normas culturais: estes formam o verdadeiro contexto dos arquivos. Estas so as muitas variveis que os prprios arquivistas devem pesquisar a fim de entender o contexto real e mais profundo, e portanto, serem capazes de executar todas as funes arquivsticas embasados num entendimento muito melhor de contexto e, portanto, de significado de documentos. O conhecimento da pesquisa que os arquivistas

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    adquirem sobre o contexto, ser ento transmitido para os pesquisadores, de modo que os documentos arquivsticos possam ser usados com mais sutileza e nuances.

    Em suma, ns arquivistas precisamos nos perguntar: o que acontece provenincia quando as culturas organizacionais e os discursos do local de trabalho so ento transformados de vertical para horizontal, de controlador para colaborador, de foco limitado e sem contexto para o contexto de redes, de decreto executivo para consenso interno, de foco no processo dialgico enriquecido, com documentos criados nestas realidades sociais e culturas organizacionais usando esses novos protocolos, tendo em vista contextos radicalmente diferentes, isto , um tipo de provenincia radicalmente diferente, enquanto ns ainda assim pensamos hierarquicamente e organizamos nossos arquivos e nossas ferramentas descritivas de acordo com o pensamento estruturalista hierrquico? Ao fazer isso, os arquivos perdem cada vez mais o contato com a realidade do contexto dos documentos na administrao moderna, quando ligamos a provenincia de documentos uma nica entidade estruturalista. Falando francamente, essa abordagem, na minha opinio, faz com que a provenincia seja irrelevante, e de fato at perigosa para a era digital. um fardo do passado que devemos rejeitar.

    Mas e se ns interpretarmos provenincia de forma diferente, no em termos de estruturas administrativas, onde a criao dos documentos e seu uso ocorreu, mas sim focar em primeiro lugar, e principalmente, na funo da criao dos documentos e nas mltiplas relaes de seu uso original e contnuo, ento, uma nova vida toma lugar em nosso princpio central de definio de provenincia. O foco do princpio de provenincia se deslocaria para a funo, atividade, discurso e comportamento, ao invs de, como no passado, permanecer centrado nas estruturas, cargos, mandatos e origem. Este fato abre a possibilidade de apresentar mltiplas origens e mltiplas ordens para situar os documentos ao invs de permitir uma nica perspectiva. Esta nova abordagem adotaria metadados extensos e documentos de autoridade ao documentar esses elementos contextuais mais profundos; envolvendo a criao complexa, usos e relaes de documentos atravs de toda sua histria contnua, desde a sua entrada nos arquivos. A nova provenincia funcional refletiria a realidade dos documentos em seus contextos e histrias inter-relacionadas, em constante evoluo, abrindo ao invs de se fechar em ordens hierrquicas fixas.

    Vrios escritores chamaram esta nova e complexa provenincia de ps-custdia ou ps-moderna ou funcional; ou tambm denominada como provenincia ambiental ou social ou virtual; ainda

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    tem sido descrita como uma busca de reconhecimento de padres e coeso narrativa nos processos de criao de documentos. Em todos esses casos, o significado de provenincia transformado de suas origens estruturalistas para um discurso contnuo centrado em funes, atividades, processos, foras sociais, e nas relaes pessoais e organizacionais e culturas que coletivamente levam a criao de documentos, dentro e atravs de vidas pessoais e organizacionais em constante evoluo. A nova provenincia oferece mltiplas perspectivas e

    muitas ordens de valor, ao invs de uma ordem fixa.

    InCID: Como ento o senhor definiria provenincia neste novo mundo contextual da era digital que descreveu?

    Terry Cook: Eu diria que o princpio de provenincia deve focar no contexto dessas funes, processos e atividades da pessoa, grupo ou organizao que leva criao de documentos, dentro e atravs de organizaes e vidas pessoais em constante evoluo; interagindo com co-criadores e usurios (que esto em constante mudana) do documento, refletindo diferentes culturas organizacionais e de gesto, ou necessidades pessoais e psicolgicas, e muitas vezes, idiossincrticas e sempre dinmicas; convenes de trabalho e interao humana apropriadas para atividades, (frequentemente) de curto prazo, achatadas, horizontais, e em rede. Provenincia, em suma, est ligada virtualmente, atravs de mltiplas relaes, fludas e dinmicas, entre a criao ou atividades de criao e o documento resultante e suas diversas audincias. Provenincia liga documentos a estas relaes multifuncionais e de atividade, em vez de ao seu lugar estrutural de origem. A principal atividade intelectual e acadmica do arquivista, em termos de descrio, conduzir pesquisa sobre a histria e a natureza dessas complexas relaes, de modo que possamos iluminar, em todas as funes arquivsticas, para ns mesmos e para os nossos usurios, os ricos contextos que envolvem os documentos no mundo real.

    Se me permite acrescentar a essa definio ns devolvemos aos documentos sua completa provenincia, transformando, desta forma, informaes em nossos arquivos em possibilidades de conhecimento. Se ns, os arquivistas do mundo pudermos fazer isso, se pudermos mostrar aos pesquisadores e sociedade, a rica provenincia dos documentos, ento, em 50 ou 500 anos, os usurios de arquivos iro confiar na autenticidade dos documentos como evidncia, porque o

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    documento ter sido demonstrado a partir de um contexto real, fivel, crvel e bem explicado, em vez de ser forado em um quadro estruturalista simplista.

    InCID: O senhor mencionou que rejeita a abordagem clssica da avaliao arquivstica que foi apresentada por TR Schellenberg, de escolher documentos para a guarda arquivstica de longo prazo, com base em tendncias conhecidas ou esperadas de pesquisa futura. Por qu?

    TerryCook: Alm da impossibilidade de prever o futuro olhando para uma bola de cristal, a abordagem de Schellenberg valor atravs do uso para avaliao espelhando ou antecipando tendncias histricas repleta de dificuldades conceituais: o que dizer de tendncias em constante mudana na historiografia, o que resultaria em documentos arquivsticos parecidos com uma colcha de retalhos, muito fragmentados, para no falar do risco destes documentos serem enviesados pelo lobby de um grupo bem organizado de usurios; e o que dizer de um crescente nmero de usurios de arquivos provenientes de uma grande variedade de disciplinas no-histricas (Bilogos, por exemplo, ou climatologistas, ou engenheiros, ou enfermeiros) para os quais a formao histrica do arquivista esclarece muito pouco; e os usurios no acadmicos (genealogistas ou aficionados por ferrovias ou navios) e usurios de polticas pblicas (como os que tratam com criminosos de guerra ou vrios tipos de pedidos de indenizao para enchentes ou desastres similares); e sobre arquivos como provas para a proteo dos direitos humanos de cidados e povos indgenas; ou ainda sobre arquivos sendo capazes de refletir cidados marginalizados na sociedade que no usam arquivos e cujas necessidades ou interesses seriam excludos de qualquer medida de uso passado? H dezenas de exemplos no Canad, em todos os nveis de governo, desse tipo de problemas. Como o terico arquivstico alemo Hans Booms brilhantemente observou, ligar avaliao tendncias e padres histricos de uso, resulta em pouco mais do que arquivistas experientes e com educao em histria que empregam intuio sutil baseada em sua capacidade de empatia com os acontecimentos histricos... mesmo que eles normalmente no queiram admitir. Vrios processos judiciais no Canad lidando com a falta de documentos deixaram bem claro que avaliao baseada na empatia, intuio e experincia no constituem, nas palavras de Booms, padres de valor auto-evidentes, para dizer

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    o mnimo. Tal abordagem simplesmente j no era mais eticamente defensvel numa era de maior responsabilizao, incluindo responsabilizao por parte dos arquivistas.

    E alm desses problemas conceituais com a abordagem de avaliao focada no uso, h tambm problemas metodolgicos srios. Como poderiam os arquivistas medir, eles prprios, padres de uso passado (mesmo assumindo que a instituio arquivstica tenha documentado muito bem esse processo ao longo de muitos anos) como um preditor vlido de valor provvel quando no h igualdade de condies em que esse uso ocorra: alguns documentos sendo restritos ao uso de dispositivos de acesso, fragilidade fsica ou fracos dispositivos de pesquisa; ainda outros documentos, sendo muito populares e intensamente utilizados em exposies arquivsticas e citados em muitos livros e artigos de pesquisadores, difundidos inclusive atravs de microfilmagem e digitalizao de arquivos criando, portanto, um circuito auto perpetuador de mais e mais uso? Temos ainda, o uso baseado em calendrio para conduzir avaliao arquivstica, no final do ciclo de vida operacional do documento, que muitas vezes ocorreu vrias dcadas depois dos primeiros documentos serem colocados em arquivos que esto sendo avaliados. Esta passagem de tempo prolongada permitia que alguma perspectiva histrica se desenvolvesse de forma mais clara, como Schellenberg esperava. Mas o luxo do tempo no mais possvel. Dado o enorme volume de documentos em papis na modernidade e seus perodos de reteno muito mais curtos com o objetivo de reduzir os enormes custos de armazenamento, e especialmente a transitoriedade tecnolgica de suas contrapartes geradas por computador, agora a avaliao tem que ocorrer antes, durante, ou logo aps a criao dos documentos, no algumas dcadas depois.

    InCID: O senhor desenvolveu a "macro-avaliao" como uma melhor forma de conduzir avaliao arquivstica. O senhor pode descrever suas principais caractersticas?

    Terry Cook: Em resumo, numa nica sentena, macro-avaliao avalia o valor social tanto do contexto funcional-estrutural como da cultura do local de trabalho em que os documentos so criados e usados pelo seu criador(es), e a inter-relao dos cidados, grupos, organizaes o pblico com este contexto funcional-estrutural. Se a avaliao tradicional designa o valor a longo prazo do contedo dos documentos, ou uma srie de documentos, por seu valor potencial de investigao, a macro-avaliao avalia a importncia do contexto funcional de sua criao e

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    uso contemporneo. A avaliao trata de documentos enquanto que a macro-avaliao trata de seu contexto mais amplo (ou macro).

    Retornando a este foco social que forma a base conceitual ou terica da macro-avaliao, os socilogos postularam que todas as sociedades refletem, em diferentes graus, uma interao de trs vias de estruturas sociais, funes sociais, e cidados (individualmente ou como membros de diversos grupos sociais). De modo correspondente, a macro-avaliao procura sugerir como tais valores sociais podem ser determinados na realidade, analisando os atributos e especiais pontos de interseco (e s vezes, de conflito), entre estas trs entidades contextuais inter-relacionadas: 1) os criadores de documentos (ou seja, estruturas, agncias, instituies, burocratas), 2) os processos scio-histricos (isto , funes, programas, atividades, transaes servios que o Estado oferece aos cidados, e que os cidados demandam do governo) e 3) os cidados, clientes, constituintes, ou grupos, os quais estas funes e estruturas afetam, e que por sua vez influenciam

    tanto a funo como a estrutura, direta ou indiretamente, explcita ou implicitamente. A macro-avaliao requer que os arquivistas pesquisem a natureza desses agentes e aes, e especialmente, as interconexes e inter-relaes entre eles e, em seguida, atribuam maior importncia, ou valor a certos fatores funcional-estruturais e interaes dos cidados em comparao aos outros. A macro-avaliao , portanto, uma abordagem de avaliao baseada na provenincia, onde o contexto social da criao de documentos e uso contemporneo (e no o que se imagina de uso de pesquisa) estabelea o seu valor relativo. Portanto, a macro-avaliao tambm reflete novas e mais ricas concepes sobre provenincia que eu mencionei no incio da entrevista.

    Esta anlise funcional para arquivistas significa que o ambiente contextual em que os documentos so criados determinado por todos esses fatores: macro-funes, funes, sub-funes, estruturas e instituies) e, por sua vez, pelas suas culturas organizacionais, programas, atividades, e transaes e especialmente interaes com clientes, bem como por processos de criao de documentos, sistemas de manuteno de registros, e diferentes meios de registro e tecnologias de registro. Ao focar a pesquisa de avaliao arquivstica na anlise e avaliao, isto , avaliando a importncia destas funes, programas e atividades e interaes dos cidados, em primeira instncia, ao invs de avaliar milhares de milhes de documentos, ou dezenas de milhares de sistemas, sries e colees de documentos, o arquivista capaz de ver toda a floresta, ao invs de apenas algumas rvores. A viso de todo o contexto, em ltima anlise, significa que

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    os documentos mais pobres e duplicados so mais facilmente identificados e eliminados, e que o documento mais sucinto, disponvel na melhor mdia e na melhor localizao para uma determinada funo, mais facilmente avaliado para a preservao arquivstica. Se a apreciao do valor de documentos, tradicionalmente, tem sido chamada de avaliao, ento a apreciao deste universo funcional maior apropriadamente chamada de macro-avaliao. E se a pesquisa feita pelo arquivista nesta matriz funcional-estrutural completa e reflete diferentes nuances, os documentos resultantes, identificados como arquivsticos, iro melhor refletir os valores sociais, simplesmente porque a macro-avaliao olha para os processos (e para suas evidncias documentais) enquanto que a sociedade se forma (e continuamente se re-forma) de acordo com seus prprios valores em constante mudana. Portanto, ao fazer isso, a macro-avaliao combina uma decomposio funcional de cima para baixo de desejos amplos da sociedade expressos atravs do parlamento nas funes e atividades do Estado com uma ateno de baixo para cima considerando a interao corretiva do cidado com esse estado.

    Movendo-se deste modelo terico para a estratgia implementvel, a macro-avaliao muda o foco inicial e principal de avaliao do documento e quaisquer valores de pesquisas futuras que o mesmo possa conter para o contexto funcional em que o documento criado. A macro-avaliao, portanto, foca na provenincia conceitual, virtual ou funcional do tipo que discutimos anteriormente. Usando conhecimentos obtidos com pesquisa, atravs da anlise funcional do arquivista, incluindo uma anlise da interao da funo e estrutura, de organizao dinmica cultural, de sistemas de manuteno de documentos, e do envolvimento e interao do cidado/cliente com a instituio ou funo, o arquivista, quando faz uma avaliao, faz trs grandes conjuntos de perguntas: 1) quais so as funes e atividades mais importantes do criador a serem documentadas (ao invs de qual documentao deve ser mantida)? 2) quem na coordenao e implementao dessas funes-chave, programas e operaes da instituio teria a responsabilidade principal de criar um documento, que tipo de documento seria, e com quem essa pessoa corporativa interagiria, tanto em sua criao como em seu uso operacional

    posterior? e 3) como que o cidado interage com este universo funcional, e como que os cidados tem geralmente aceitado e apoiado, ou protestado e desafiado os programas e servios relacionados? Somente depois que essas perguntas so respondidas atravs de uma metodologia de pesquisa de macro-avaliao, o arquivista pode ento focar realisticamente os verdadeiros documentos, ou srie de documentos, que provavelmente tm maior valor potencial arquivstico

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    para o processo, que para distingui-lo da macro-avaliao, poderia ser chamado de "micro-avaliao" (isto , avaliao tradicional aplicando critrios tais como idade, extenso, singularidade, intervalo de tempo, completude, afinidade/relao com outros registros, fragilidade, confiabilidade, manipulabilidade, etc.) em qualquer nvel maior de detalhes que possa garantir ou que os recursos permitam. A macro-avaliao no ignora a micro-avaliao, ou

    caractersticas especficas da mdia, mas apenas a coloca em um lugar ou contexto mais lgico. Claro, bem antes da fase da micro-avaliao, as respostas (baseadas em pesquisa do arquivista) para as trs maiores questes em nvel macro, mencionadas h pouco, significa que grandes volumes de documentos podem ser destrudos sem uma investigao mais aprofundada no nvel micro, poupando agncias e arquivos, tempo, espao, trabalho e dinheiro considerveis no processo de avaliao e eliminao de documentos.

    Quarenta anos atrs, Hans Booms desafiou a profisso arquivstica ao documentar a sociedade ativamente, estrategicamente, e de forma cuidadosa. Com efeito devastador, ele mostrou que as teorias de avaliao do passado deixavam o arquivista nu, um imperador sem roupas, selecionando arquivos por intuio ou com desinteresse, privilegiando assim, criadores poderosos ou usurios influentes. Metodologias de avaliao baseadas em tais pressupostos tericos so indefensveis e, portanto, no podem ser levadas em conta, e eu acrescentaria, so antiticas. A subjetividade inevitvel e impacto significativo de uma avaliao arquivstica pode muito bem intimidar os arquivistas que enfrentam o desafio honestamente, mas Booms aconselhou, tal jornada exige apenas que o viajante possua o insight e a vontade de chegar s concluses necessrias e agir sobre as mesmas. A macro-avaliao esta jornada.

    InCID: O senhor mencionou que estudou a histria arquivstica? Poderia nos contar o que aprendeu com isso?

    Terry Cook: Meu discurso em plenrio no Congresso Internacional de Arquivos em Pequim, em 1996, foi uma anlise da histria das ideias dos arquivos por arquivistas, desde a publicao do manual holands em 1898. Esse discurso foi bastante expandido num artigo para a Archivaria e foi traduzido para 10 ou mais idiomas. Eu tambm estudei a histria dos arquivos, de forma mais geral, no Canad, e o prprio Arquivo Nacional do Canad em maior detalhe, e as biografias de alguns arquivistas lderes. Devo reconhecer que minhas limitaes lingusticas significam que

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    estou baseando minhas concluses na evoluo histrica das ideias arquivsticas e da profisso de arquivista nas investigaes histricas em pases de idioma ingls como o Canad, Estados Unidos, Austrlia, Nova Zelndia e frica do Sul; bem como nas ideias europeias que foram traduzidas para o idioma ingls, principalmente da Holanda, Frana, Itlia e Alemanha. No entanto, minhas concluses parecem ter relevncia, em termos gerais, em discusses com arquivistas de outras reas lingusticas, incluindo Portugal, Espanha, Noruega, China, e assim por diante. No meu ponto de vista, a anlise da histria das ideias arquivsticas requer ouvir o discurso arquivstico do tempo ou lugar envolvidos. A anlise arquivstica histrica requer revisitar as principais discusses profissionais que os arquivistas lderes tinham sobre o seu trabalho e um com o outro. Exige ouvir novamente, e obter compreenso dentro do contexto de seu tempo, e o nosso prprio, os seus pressupostos, ideias e conceitos.

    Nesta abordagem, teoria arquivstica e terico arquivstico, no se referem, respectivamente, a um conjunto imutvel de princpios fixos e seus defensores constantes em vrios domnios da prtica. Esse tipo de perspectiva histrica demasiado Positivista e ultrapassada para um observador do final do sculo XX adotar, apesar de que essa era a posio tradicional arquivstica at por volta de 1980. Em vez disso, o pensamento arquivstico, ao longo do sculo passado deveria ter sido visto como em constante evoluo, sempre em mutao, uma vez que se adapta mudanas radicais na natureza dos documentos, organizaes que sempre criam documentos, sistemas de manuteno de documentos, usos de documentos, e de tendncias mais amplas em termos culturais, legais, tecnolgicos, sociais e filosficos na sociedade. Ideias arquivsticas formadas em um tempo e lugar refletem muitos desses fatores externos, cujas ideias so muitas vezes reconstrudas, mesmo redescobertas em outro tempo e lugar, ou reformuladas ao longo de geraes no mesmo lugar. Os melhores tericos arquivsticos so aqueles que tm sido capazes de reconhecer e expressar essas mudanas radicais na sociedade e, ento, lidar conceitualmente com o seu impacto na teoria e prtica arquivstica. Essa expresso forma nosso discurso coletivo, o meta-texto ou narrativa animando nossa prtica profissional e, desta forma, o foco devido de uma histria intelectual de arquivos.

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    InCID: O senhor percebe determinadas fases histricas em arquivos modernos? Qual foi a nossa meta-narrativa ao longo do sculo passado?

    Terry Cook: Eu acredito que h quatro estruturas amplas, ou maneiras de pensar, ou paradigmas, sobre arquivos tanto em ideias como aes. J passamos por dois destes e, estamos no terceiro, e o quarto est se apresentando muito fortemente, e a nossa esperana para o futuro. Eu s posso resumi-los aqui, e remeter o leitor para um artigo que est prestes a ser

    publicado na revista Archival Science onde eu lido com este assunto de forma muito mais detalhada. Eu nomeei estes quatro paradigmas de evidncia, memria, sociedade e comunidade.

    O primeiro paradigma arquivstico foca na guarda de um resduo natural de documentos mais antigos como evidncia, e o foco principal da profisso do arquivista, como guardio imparcial, estava no arranjo e descrio para colocar esse resduo jurdico no contexto para uso e entendimento pela posteridade como fontes documentais autnticas e confiveis. Evidncia foi o conceito-chave do primeiro paradigma, e este conceito dominou o discurso profissional at a dcada de 1930, e continua at o presente como uma preocupao importante na rea. Hilary Jenkinson foi o pensador chave no mundo onde se fala o idioma ingls.

    O segundo paradigma arquivstico estava claramente preocupado com a avaliao de documentos como fontes histricas, com o historiador-arquivista criando de forma subjetiva um recurso de memria cultural, em vez de guardar um legado jurdico herdado de evidncia mais antiga. Este recurso de memria foi gerido de forma mais eficiente por empresas cada vez maiores usando ferramentas empresariais e processos modernos, para apoiar novas abordagens para avaliao e descrio. O arquivo resultante era, claro, ainda evidncia de atividade humana e organizacional, mas o contexto em que essa evidncia foi criada, avaliada, adquirida, descrita e entendida, tinha se transformado. Memria o conceito-chave do segundo paradigma arquivstico, que floresceu de 1930 a 1970, antes de mostrar suas fraquezas. Theodore Schellenberg foi o pensador chave aqui.

    O terceiro paradigma arquivstico estava claramente focado em arquivos como um recurso social, que era discernido, avaliado, adquirido e descrito por arquivistas, por direito prprio, como especialistas em documentos, para uma grande variedade de usos, um recurso da sociedade que respeitava cada vez mais a natureza pluralista e ambgua do mundo ps-moderno e digital ao invs dos padres monolticos que tinham dominado as estruturas arquivsticas anteriores, fossem

  • Entrevista: Terry Cook

    InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeiro Preto, v. 3, n. 2, p. 142-156, jul./dez. 2012.

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    estas jurdicas ou histricas. Arquivos tambm deixaram de ser um recurso cultural e de patrimnio subjacente elite acadmica para se tornar uma base social para a identidade e justia. A prpria identidade do arquivista foi ancorada em ser o especialista liderando a sociedade para encontrar sua identidade atravs de memrias compartilhadas fundamentado em concepes mais sofisticadas de evidncia. Identidade o conceito-chave do terceiro paradigma a busca da prpria identidade do arquivista como um mediador consciente ajudando a sociedade na formao de suas mltiplas identidades recorrendo memria arquivstica e como um agente ativo protegendo evidncia em face da complexidade acelerada de organizaes sociais e mdia digital em mudana rpida.

    O desafio para arquivistas agora em 2012 alcanar arquivos mais democrticos, inclusivos, holsticos, coletivamente escutando muito mais aos cidados do que o Estado, bem como respeitando as formas de conhecimento, evidncia e memria natural do pas, ao invs do que ocorreu nos primeiros trs paradigmas. Para documentos ainda adquiridos pelos arquivos convencionais, como a estratgia de documentao de Helen Samuels h muito expressada, a avaliao e aquisio seria colaborativa e cooperativa e interativa, online, e assim tambm seria a descrio e preservao, a fim de encontrar a melhor localizao para a preservao dos melhores documentos com mximo de contexto participativo-iluminado uma Wikipedia para fontes arquivsticas. Alm do que os arquivos j estabelecidos adquirem, existe um grande nmero de documentos remanescentes em comunidades que lanam uma luz importante na sociedade. Ao invs de tirar tais registros de suas comunidades, o novo modelo sugere capacitar essas comunidades para cuidar de seus prprios registros, especialmente seus documentos digitais, em parceria com percia archivstica profissional e infraestruturas arquivsticas digitais, juntamente com o profundo sentido de compromisso e orgulho das comunidades no seu prprio patrimnio e identidade. Comunidade o conceito chave do quarto paradigma arquivstico, agora, ficando vista, uma democratizao de arquivos apropriada ao ethos social, aos padres de comunicao e requisitos comunitrios da era digital.

    Concluindo, creio que os paradigmas arquivsticos tm variado atravs de quatro fases: de legado jurdico memria cultural engajamento social arquivamento na comunidade. O arquivista foi transformado, de acordo com estas quatro fases, de guardio passivo avaliador ativo mediador da sociedade facilitador da comunidade. O foco do pensamento arquivstico passou igualmente

  • Entrevista: Terry Cook

    InCID: R. Ci. Inf. e Doc., Ribeiro Preto, v. 3, n. 2, p. 142-156, jul./dez. 2012.

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    de evidncia memria identidade e comunidade, assim como as correntes intelectuais mais amplas da sociedade mudaram de pr-moderna moderna ps-moderna e contempornea. claro que h sobreposies. Vertentes de todos as quatro mentalidades esto interligadas. Esta discusso trata da nfase, no de definio rgida. Mas na comunidade arquivstica, pode ser que ns arquivistas, sejamos capazes de descobrir uma nova identidade que concilie nossas misses individuais (e muitas vezes tradies antagnicas) de evidncia e memria.

    E assim fazendo, podemos entender melhor e, portanto, enriquecer nosso prprio senso de comunidade de arquivistas. Essa comunidade deveria ser capaz de abraar as diferenas ao invs de estar fundada ou numa mitologia animada ou na excluso dos diferentes e outros, enquanto a evidncia defende a minimizao da memria e destituio de seus defensores, mediadores no-arquivsticos ou, vice-versa, a memria defende descartar guardies de evidncia como estritamente legalista. Ao ancorar suas atividades e abordagens cada vez mais diversificadas, atravs de um envolvimento com o que as comunidades viviam e suas prticas evidncia-memria-identidade, a prtica (e identidade) arquivstica pode permanecer plural e diversificada, sem se tornar simplesmente fraturada em campos desconectados ou dilacerada por lutas pela supremacia de uma escola de pensamento versus outra. A comunidade arquivstica, como um modelo, tem muito a oferecer aos arquivistas, assim como os arquivistas tm muito a oferecer comunidade arquivstica.

    Eu acredito que a comunidade arquivstica mantm a promessa de maior habilidade para abrigar a pluralidade, diversidade e diferena (tanto em termos de nossas prprias prticas divergentes, atravs de espao, tempo e tradies, como em termos de comunidades sociais e culturais muito diferente com as quais nos envolvemos.) Vendo paradigmas arquivsticos mudando atravs do tempo, atravs do estudo da histria arquivstica, cada era interpreta novamente evidncia e memria, e assim, redefine a identidade arquivstica e sua relao com as comunidades sociais, nos libertando para abraar novas direes mais uma vez para a era digital. A alternativa, como o arquivista terico canadense Hugh Taylor nos alertou, correr o risco de nos tornarmos fsseis flutuando nos remansos estagnados de irrelevncia social.

    Entrevista enviada em: nov. 2012