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Função Pública, Educação e projecto pioneiro da Escola Secundária de Silves No quadro da corrente acção governativa sob o pretexto do combate ao défice do orçamento de estado e da sacrossanta necessidade de proceder à redução da despesa com funcionários públicos, os professores estão a ser apontados como o mal do sistema educativo e os culpados maiores pelas taxas de abandono escolar e pelos níveis do sucesso educativo (!!!), num ataque desenfreado e sem paralelo no pós - 25 de Abril à ética, profissionalismo, dignidade e competência da larga maioria da classe docente deste país. O governo PS ao pretender ganhar a opinião pública para as suas políticas, não resistiu ao populismo e objectivamente mete no mesmo saco realidades tão heterogéneas e díspares como professores, médicos, enfermeiros, juízes, magistrados judiciais e pessoal dos tribunais, auxiliares de acção educativa, trabalhadores, funcionários e técnicos da administração local (administração regional e central) funcionários da segurança social, guardas, polícias, etc, etc, tentando veicular a mensagem de que predomina o excesso de pessoal na função pública e sobretudo impera o laxismo e o ineficiente desempenho profissional nestes sectores. Não ignoro, claro, que nestas como em todas as profissões e classes sociais há muita incúria, inépcia e mediocridade. O que é inaceitável, contudo, são as generalizações que se fazem, é o constante espezinhar de direitos, é o fechar de olhos ao quadro legal, às condições

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Page 1: Artigo educacaojulho2006

Função Pública, Educação e projecto pioneiro da

Escola Secundária de Silves

No quadro da corrente acção governativa sob o pretexto do combate ao défice do orçamento de

estado e da sacrossanta necessidade de proceder à redução da despesa com funcionários

públicos, os professores estão a ser apontados como o mal do sistema educativo e os culpados

maiores pelas taxas de abandono escolar e pelos níveis do sucesso educativo (!!!), num ataque

desenfreado e sem paralelo no pós - 25 de Abril à ética, profissionalismo, dignidade e

competência da larga maioria da classe docente deste país. O governo PS ao pretender ganhar

a opinião pública para as suas políticas, não resistiu ao populismo e objectivamente mete no

mesmo saco realidades tão heterogéneas e díspares como professores, médicos, enfermeiros,

juízes, magistrados judiciais e pessoal dos tribunais, auxiliares de acção educativa,

trabalhadores, funcionários e técnicos da administração local (administração regional e central)

funcionários da segurança social, guardas, polícias, etc, etc, tentando veicular a mensagem de

que predomina o excesso de pessoal na função pública e sobretudo impera o laxismo e o

ineficiente desempenho profissional nestes sectores. Não ignoro, claro, que nestas como em

todas as profissões e classes sociais há muita incúria, inépcia e mediocridade. O que é

inaceitável, contudo, são as generalizações que se fazem, é o constante espezinhar de direitos,

é o fechar de olhos ao quadro legal, às condições de trabalho e organização que são

determinadas e arquitectadas “por cima” e ao desfoque da realidade sócio-económica e cultural,

apontando-se por tudo e por nada o dedo à função pública como se qualquer país desenvolvido

pudesse sobreviver sem ela. É perceptível igualmente que em algumas áreas da função pública

há má distribuição dos recursos humanos e neste ou naquele organismo excesso de pessoal

contratado mas, muitas vezes tal acontece, curiosamente, ao abrigo dos “jobs for the boys/girls”,

que tanto jeito tem dado ao bloco central de interesses, que vem (des)governando ciclicamente o

país em esquema rotativo. Porém, não é combatendo com a bestialidade os professores,

protagonistas das mudanças de que o sector carece, que se inverterá o rumo da educação em

Portugal.

É com trabalho criativo e pioneiro ao nível do país como é o caso concreto do projecto da

Escola Secundária de Silves (ESS) consubstanciado na concepção e execução do Manual da

Qualidade (Sistema de Gestão da Qualidade), segundo os requisitos da norma internacional ISO

9001(2000), a que se seguiu a Auto-Avaliação da Escola, em consonância com o Modelo de

Avaliação EFQM, num longo processo gradual de envolvimento de diversos actores (35

docentes e 3 não docentes, alunos, encarregados de educação e comunidade exterior, Centro

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de Formação João de Deus) que se desenrolou de Janeiro de 2005 a Maio de 2006 que se torna

possível passar do sonho à realidade, elevar qualitativamente o processo educativo e aproximá-

lo dos níveis de excelência.

No contexto da Auto-Avaliação da Escola foi elaborado o respectivo Plano de Acção de Melhoria

(a 2/3 anos) que identifica as principais “oportunidades de melhoria” (pontos fracos), define as

acções (17), os meios, os prazos, os responsáveis e o resultado esperado. Prevê-se que a partir

de 2007, e após a realização de auditorias internas e externas, a Escola Secundária de Silves se

habilite à almejada Certificação de Qualidade. Ora, tudo isto, caros leitores, foi concretizado –

não por determinação superior – ao invés, resultou apenas e tão só da livre iniciativa e da

consciência profissional que imbui a maioria dos docentes.

Francisco Martins

Economista, Professor do Ensino Secundário