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ANPUH – Associação Nacional de História / Núcleo Regional de Pernambuco A PRÁXIS POLÍTICA DE DOM HÉLDER Jeziel Gregório / Tiago Azurem / Tiago Macedo

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Page 1: Artigo de Jeziel

ANPUH – Associação Nacional de História / Núcleo Regional de Pernambuco

A PRÁXIS POLÍTICA DE DOM HÉLDER

Jeziel Gregório / Tiago Azurem / Tiago Macedo

Page 2: Artigo de Jeziel

A PRÁXIS POLÍTICA DE DOM HÉLDER: UMA ANALISE HERMENÊUTICA HISTÓRICO-TEOLÓGICO-FILOSÓFICA DE SUA AÇÃO EM VIRTUDE DA

RESISTÊNCIA ÀS ARBITRARIEDADES DE SUA ÉPOCA, DA PAZ E DA JUSTIÇA SOCIAL

Jeziel Gregório da Silva Junior¹, Thiago Azurem Couto Maia e Silva¹, Tiago Macedo

Bezerra Maia2 ¹Alunos da Graduação do Departamento de Letras e Ciências Humanas da UFRPE; 2Aluno da Graduação do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE/Aluno do Curso

de Direito da UNICAP/Bolsista do CNPq-PIBIC

No ano de 1936, o então já desacreditado e decepcionado com as teses defendidas

pelo movimento integralista (AIB, Ação Integralista Brasileira de Plínio Salgado, assim

como os exemplos de sua prática na Alemanha Nazista de Adolf Hitler e na Itália fascista

de Benito Mussolini), rompe com o mesmo, e, distanciando-se das integrais, toma contato

com uma nova percepção humanista, uma concepção teológico-filosófica contemporânea, o

humanismo integral neo-tomista do pensador francês Jacques Maritain (nasceu/morreu),

que lhe foi apresentado por Alceu Amoroso Lima, que, como o Padre Hélder, também

tivera sido simpatizante da AIB.

Através do humanismo integral, verifica-se e observa-se a gênese da proposta de

reconciliação entre o catolicismo e a democracia e, analisando a conjuntura e a ordem

mundial de sua época, condena a todas as formas, tipos, espécies e âmbitos de

totalitarismo, de estado e governo totalitário, de direita extrema e ultra (nazi-fascista),

esquerda (a Rússia estalinista). Jacques Maritain então, dessa maneira e sentido, anuncia e

defende uma “nova vida cristã para o mundo”, com predomínio da democracia e do

respeito e da tolerância às diferenças (alteridade) existentes no pluralismo étnico, político e

religioso. Dessa forma, tantos infiéis, quanto os fiéis, devem participar de um mesmo bem

comum temporal e, portanto, toda a sociedade deve lutar de buscar pelo mesmo, que é

parâmetro e necessidade para o alcanço da felicidade coletiva e social. Para isto, deve haver

a preservação da liberdade (livre-arbítrio) dos indivíduos e grupos, pois afirma que: “A

sociedade não é composta somente de indivíduos, mas de sociedades particulares por

eles(as) formados(as), e uma cidade pluralista reconhece nessas sociedades particulares

uma autonomia tão alta quanto possível.”. Assim, é notória e bastante perceptível a

diferença discrepante que existe entre o pensamento político humanista de Jacques Maritain

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e o pensamento político da juventude integralista do Padre Hélder, que havia publicado, em

1934, no jornal “O Nordeste”, a idéia de que “Uma vez organizado, o Estado Integral, não

poderá permitir que se formem fora do seu circulo de ação qualquer, fora da ordem política,

social e econômica que o possam ameaçar. Nessa esfera de vida nacional, tudo deve ser

controlado e orientado pelo estado integral”, afirmação visível e diretamente influenciada

pelo pensamento e ação do líder fascista italiano Benito Mussolini “Il Dulce”.

As novas idéias presentes no livro de Maritain, iam, ainda, muito além,

transcendendo a concepção de cada um sobre a natureza do estado e, assim, atingiu os

campos de ação (também político) propriamente dito. Maritain, então, propõe que uma

“renovação cristã do mundo” fosse realizada e orientada por pessoas que adotassem e

praticassem um “novo estilo de santidade”. Em sua ação (em qualquer estância), devendo

abolir e abdicar ao uso da força, da agressividade, da coação da violência de uma forma

geral, já que estes configurariam os métodos dos “homens de sangue”. Os cristãos, por

outro lado, optaram pelo uso dos “meios espirituais de guerra”, a saber: “Os meios da

paciência e do sofrimento voluntários, que são prioritariamente do amor e da verdade”. O

pensamento do filosofo francês provocaram choque em Hélder, já que este, dois anos antes,

defendia publicamente o uso da violência como forma de conquista, consolidação,

manutenção e expansão do estado integral. O novo estilo de santidade “impetrado” e

encampado por Maritain, leva o mundo a uma vida essencialmente cristã, um lugar

(espaço) especial que estava reservado à sua publicidade e ao sacrifício, já que “o dos

humanos desvenda os olhos e é suportado por amor”, e “ao esforço difícil da pobreza”, que

são as condutas próprias e relativas a um “novo humanismo”, que “deve existir somente na

ordem espiritual”, mas encarnar-se no ideal de uma comunidade fraterna.

O presente labor, tem a pretensão de ser, mesmo que introdutória, inicial e

superficialmente, um esboço e bosquejo, uma análise histórico-teológico-filosófica da

práxis política de Dom Hélder. Como marcos teóricos e pontos cruciais desta análise, os

quais seguirão uma linha lógica e cronológica de raciocínio, serão fundamentados e

norteados principalmente, pela leitura dos textos neo-textamentários dos evangelhos da

Bíblia Sagrada (a “boa nova” que registra e descreve os ditos e feitos de Jesus Cristo); a

tradição judaico-cristã (que se verifica e se materializa através das missões, das obras, do

apostolado e do magistério de São Paulo); a patrística do alto medievo do ocidente europeu

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(a filosofia teológica dos Santos Padres dentre os quais Santo Agostinho, Aurelius

Augustinus, o Bispo de Hipona, também conhecido como o Africano, o Gladiador da Fé); a

escolástica do baixo medievo europeu ocidental (encontrada na doutrina e obra dos

chamados Doutores da Igreja, cujo maior expoente foi São Tomás de Aquino, o Doutor

Angélico). As posições teórico-práticas teológico-filosóficas foram os princípios fundantes,

fundamentais e basilares de toda a tradição cristã Católica Ocidental. A ligação, de tal

principiologia com a práxis política de Dom Hélder presente na contemporaneidade, nos

dias hodiernos se dá através do pensamento neo-tomista do filósofo francês Jacques

Maritain que congrega, em sua teoria, elementos de toda a tradição católico-cristã

anteriormente relacionado. Nesse sentido, também será fundamental para a compreensão e

entendimento da prática política de Dom Hélder, assim como suas razões de ação, análise

dos pensamentos político-sociais vigentes em sua época, tais como o socialismo científico

advindo das obras de Karl Marx (pensamentos e obras Marxianos) e Friedrich Engels,

assim como da tradição marxista posterior (estudiosos, críticos ou divulgadores do

marxismo), além da doutrina social da Igreja, ou seja, do socialismo cristão verificado em

cíclicas papais como a “Quadragésimo Anno”, “Mater et Magistra”, “Progracio

Poculorum”, “Rerum Novarum, Pacen Interris”, ou seja, na obra e pensamento de alguns

papas vanguardistas, emancipadores e progressistas de seu tempo, como por exemplo os

papas João XXIII, Paulo XI, etc.

Dom Hélder também sofrerá as influencias de várias outras tendências a ele

contemporâneas, tais como: as teses desenvolvimentistas cepalinas de Celso Furtado, o

cientificismo Theillard Chardin, o existencialismo, a fenomenologia, as pedagogias de

Cardjin e de Paulo Freire; aqui citadas apenas como ponto referenciais, pois não serão

objetos de uma análise mais aprofundadas.

Das influencias e aproximações agostinianas, é sabido que o pensamento neo-tomista de

Jacques Maritain se trata de uma adaptação à contemporaneidade dos ideais teóricos e

práticos do tomismo escolástico do baixo medievo europeu ocidental (de Santo Tomás de

Aquino), que, por conseguinte tem suas raízes mais sólidas e seus princípios básicos

desenvolvidos e consolidados a partir das obras patrísticas anteriores, principalmente a de

Santo Agostinho de Hipona, que foi influenciado, diretamente por Platão de Atenas,

discípulo de Sócrates e a Aurelius, apresentado através das obras do pensador neoplatônico

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Plotino. Agostinho, por exemplo, defende o uso do livre-arbítrio, ou seja, da capacidade de

escolha, da liberdade relativa do homem na história, fundamentando-se através do princípio

agostiniano da utilização barrotilidade e da fruição (utti-frui), que tem como máxima amar as

coisas certas, no momento certo, na intensidade certa, ou vulgarmente, da a César o que é de

César e a Deus o que é de Deus. Somente através da reta ordem e razão é que se atingirá

através do respeito ao utti-frui, evoluir espiritual e, conseqüentemente, social e politicamente,

passando-se assim, dos estágios de queda originária, com o nascimento biológico para a

purificação oral daí então para a iluminação e posteriormente para a graça, que significa o

próprio bem ontológico, a saber, a salvação da alma, a paz de espírito, onde a ovelha

desgarrada volta ao rebanho do bom pastor e o filho pródigo retorna a verdadeira casa de seu

pai. Defendendo a idéia de que só Cristo salva, o utti-frui e o princípio da bondade

evangélico-eclesiástica de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo,

é que o cristão, o justo, atingiria os patamares da viera pietas (verdadeira piedade), Vera

caritas (verdadeira caridade) e Vera justicia (verdadeira justiça), que corresponde a máxima

latina “cuique summ tribuere”, ou seja, dar a cada um o que é seu, o que lhe é devido, de

acordo com o seu merecimento (aspecto meritocrático), e, principalmente, sua necessidade

(aspecto de dignidade e cidadania do homem, que será uma inovação, uma melhoria feita ao

principio anteriormente referido). Outro aspecto importante do contructo teórico de Santo

Agostinho, refere-se à ontologia do mal, que considera não como um ser em si, mesmo que

este representasse um não –ser, apenas o devir, o vir a ser. Mas, sim, ele considera o mal

como mero afastamento, ou apenas negação do ser, a saber, Deus.

Em discurso que realizou na Faculdade Católica de Filosofia, como paraninfo, em 1944, o

padre Hélder afirma que os Cristãos devem evitar “o farisaísmo de julgar que nós

burgueses representamos a ordem social e a virtude, ao passo que os comunistas encarnam

a desordem, o desequilíbrio e o desencadeamento das forças do mal...” e completou: “nós

também temos as nossas falhas e os nossos pecados: pois encobrimos injustiças sociais

gritantes com esmolas generosas e espetaculares” (a exemplo da conhecida, antiquada e

ultrapassada política do espetáculo do pão e circo, “panis et circensis”, popular da Roma

antiga dos césares).

As idéias de Maritain foram consideradas por alas conservadoras da igreja como “modernas

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demais” e, por isso, era vista com desconfiança como, por exemplo, Dom Lene que

vigiava as ações do padre Hélder.

INFLUENCIAS E APROXIMAÇÕES TOMISTAS MARITANIANAS:

Jacques Maritain como neo-tomista terá o seu pensamento formulado e consolidado

a partir das teses expostas por santo Tomás de Aquino. O Aquinati, influenciado pelo

pensador da antiguidade clássica greco-romana e maior sistematizador da filosofia pré-

socrática, Aristóteles de Estagira, acredita na evolução através do hábito, considerando este

uma razão prática, a qual chama de sindrése (sintheresys), que corresponde à possibilidade

do homem a agir acertada e corretamente no futuro, baseando-se em erros cometidos no

passado. Para Tomás de Aquino, a justiça seria proporcional, e a aplicação do direito teria

como finalidade, teleologia, o bem e a felicidade social. Nesse ínterim, o estado, o governo,

que exerceria a justiça distributiva, ou seja, a justiça social, deve sempre almejar, priorizar,

proteger e prezar pelo bem coletivo, ou seja, a paz e a felicidade social. O “novo estilo de

santidade” objetiva levar o mundo a uma vida essencialmente cristã, na qual a simplicidade

e i sacrifício; a dos humanos desvenda condutas próprias de um “novo humanismo” não

deve existir somente na ordem espiritual, mas encarnar-se no ideal de uma comunidade

fraterna.

Anuncia e defende uma “nova vida cristã para o mundo”, com o predomínio da

democracia, do respeito e da tolerância às diferenças (alteridade) existentes no pluralismo

étnico político e religioso. Tanto “fiéis quanto “infiéis” devem participar de um mesmo

bem comum temporal e, portanto, toda a sociedade deve lutar de buscar pelo mesmo, que é

parâmetro e necessidade para o alcanço da felicidade coletiva e social.

Condena todas as formas de totalitarismo, sendo até de direita ou de esquerda. (análise de

ordem mundial de sua época).

As duas obras que exercerão grande influencia sobre a formação e o pensamento de

Dom Hélder serão o Humanismo Integral, de 1941 e o Cristianismo e Democracia, ambas

as obras, representam uma bandeira de luto, ratifica-se um pensamento mais democrático e

pluralista. Contemporânea a Dom Hélder e seu amigo Alceu Amoroso Luna, que foi o

introdutor do pensamento maritainiano no Brasil, escreve para a Igreja que ha décadas se

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concentrara no combate ao comunismo, que: “a liberdade tem de ser, precisamente o fruto

de uma democracia social, realmente introduzida e vivida na sociedade ocidental do pós

guerra, na convivência social entre católicos, cristãos não católicos, liberais, socialistas,

comunistas, ou indiferentes”. Assim, percebe-se o caráter ecumênico do pensamento

pluralista presente em ambas as obras e também na prática política de dom Hélder

Para Dom Hélder, como afirma o autor do livro Francisco de Assis e a Revolução

Social:

“Deu uma lição de heroísmo interior para quem só acreditava no heroísmo das armas; deu

uma lição de pobreza para os que só amavam o ouro e as honrarias; deu uma lição de

trabalho para os que somente acreditavam na nobreza dos amos e deu uma lição de alegria

vital e generosa para aqueles que viam o mundo deformado e consideravam o belo corpo

humano, como um aliado obscuro do demônio, ao invés de uma fonte de alegria legítma”.

Dessa maneira, a vida e a obra de São Francisco de Assis mostra-se como uma outra fonte

de inspiração para as transformações que há muito vinham correndo no pensamento e na

ação de Dom Hélder.

Das teses marxianas e marxistas, Hélder vê no socialismo científico a possibilidade

de uma análise de conjuntura crítica, sistemática e bem fundamentada, e com bases

histórico-econômico-filosóficas. Porém critica dessa teoria os caracteres ateus anti-

religiosos e anticlericais do materialismo histórico e do materialismo dialético, assim como

teses críticas sobre a violência aplicada pelos marxistas na sua luta de classes que seria

então um motor da história. Para Marx, o direito é uma conquista resultante de suor,

sangue, lágrimas e esforços advindo dos movimentos e das lutas sociais, e só assim, é que

se poderia chegar ao parâmetro de justiça essencial e verdadeiramente social. Assim, é

contra a violência física ativa da luta de classes marxista, mas, é a favor de uma não

violência ativa, ou seja, de uma violência passiva, uma desobediência civil contra o estado

e a ordem (status cuo) nele vigente.

Além de sua percepção do momento crítico e da redefinição pela qual passava a

igreja brasileira na época e da leitura que começava a fazer dos problemas sociais do pais,

monsenhor Hélder estava inspirado pelo pensamento de Jacques Maritain, que em seu

humanismo integral, descortinava um novo horizonte para os católicos, sacerdotes ou

leigos, que passavam a conceber para si a missão temporal de lutar pela diminuição e pelo

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fim das injustiças, e não só pelo aprimoramento espiritual dos cristãos, alternando-se assim,

a forma como encontravam a relação entre sua fé e as suas atividades sociais e políticas.

As três componentes essências nas concepções filosóficas, política e sociais, que Dom

Hélder defendia, eram: o pensamento filosófico e teológico de Thrillhard Chardin o

conciliara com o conhecimento científico; as concepções cepalinas fundamentavam suas

propostas econômicas para a superação da injustiça dentro dos países de terceiro mundo e

nas relações destes com os paises desenvolvidos; no ponto de vista político, a obra madura

de Jacques Maritain, desde o final dos anos 30, dera o grande impulso que faltava para a

conversão de seu pensamento autoritário integralista numa visão de mundo democrático e

pluralista, ao mesmo tempo que cristã-católico.

Dom Hélder Pretendia que nascesse o movimento das minorias abraãmicas,

obstinadas a lutar como o jovem Davi contra o gigante Golias, para enfrentar “as estruturas

de opressão, que esmagou mais de dois terços da humanidade”, por uma “pressão moral

libertadora”.

O ecumenismo: o nome minorias abraãmicas fora escolhido como uma tentativa de

universalização do movimento, graças ao apelo do nome de Abraão (o grande patriarca)

nas culturas judaicas, judaico-cristã e islâmica (árabe).

Desde os anos 60, Dom Hélder se aproximara, discretamente e gradualmente, de

algumas teses do pensamento marxista, principalmente na condenação à exploração dos

trabalhadores (mais-valia) como fenômeno inerente ao modo de produção e técnica

capitalista (exército industrial de reserva, oriundo da relação existente entre a oferta de

trabalho e a demanda pelo mesmo ,, que gera desemprego)... Forte impressão e impacto,

além da influencia, causou-lhe o livro Marxismo do Cônego Juvenal Arduini, que para

Dom Hélder “tem o dom de expor, de modo objetivo e honesto, nos tornando inteligíveis,

noções difíceis... como a alienação e a mais-valia, que são pontos fundamentais e princípios

basilares da crítica feita por Karl Marx ao capitalismo”.

Sua aproximação e perda de preconceitos com relação ao marxismo, ficou registrada em

uma poesia em homenagem ao padre Lebret , cujo livro “Economia e Humanismo”

considerou uma invenção maravilhosa.

Quem teria “condecorado”, em nome de Cristo, teria sido Karl Marx, levado ao céu pela

crítica ao capital e pela defesa do trabalhador”.

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Ao conseguir realizar as críticas ao capitalismo, Dom Hélder pode perceber

limitações intrínsecas ao conselho de desenvolvimento que defendera até o final dos anos

60, o desenvolvimento econômico capitalista não teria a superação da miséria, que ao

contrário, tente aumentar com o desemprego provocado pelos avanços tecnológicos

necessários ao crescimento das empresas.

Deixa, assim, para segundo plano, a “mística do desenvolvimento”, colocando em seu lugar

a busca pela libertação.

“O desenvolvimento recebido do alto, pré-fabricado sem a participação do povo na

criatividade e nas opções (alienação), mas com a força de trabalho, pode ser tudo, menos

desenvolvimento”

O verdadeiro desenvolvimento seria resultado da libertação dos seres humanos de

todas as formas.de opressão e exploração. Para isso, a evangelização e a educação do povo

deveriam ser “libertadoras”, visando sua “conscientização” quanto às estruturas e

instituições que o oprimem e exploram.

Neste ponto, Dom Hélder estava sendo bastante influenciado pela “pedagogia do

oprimido” do educador Paulo Freire (“A educação como prática de liberdade”, “a

pedagogia da autonomia”, o MCP (Movimento de Cultura Popular), o método de Paulo

Freire mantinha uma certa ligação por conta de varias obras que ambos realizaram no

Recife contra a “educação bancária”, etc...

Dom Hélder e Paulo Freire, mantinham uma certa ligação por conta das obras que

ambos realizaram no Recife, nos anos 60.

Em 29 de maio de 1967, em um congresso sobre a encíclica papal em Genebra, na Suíça,

Dom Hélder se encontra com o intelectual marxista Roger Garaudy. A iniciativa foi de

Dom Hélder que já lera o francês. Fizeram um pacto: Dentro do socialismo, Garaudy,

trabalharia para provar que não existe vinculação necessária entre religião e força alienada

e alienante, como não existe entre socialismo e materialismo dialético.

Para Dom Hélder, a religião não deveria ser encarada como necessariamente

alienada e alienante, um “ópio do povo”, assim como via a possibilidade de defesa da

socialização da sociedade, por alguém não necessariamente materialista. A tarefa do

Arcebispo seria a de trabalhar dentro do Cristianismo Católico (Catolicismo), para acabar a

censura em torno da expressão socialismo.

Page 10: Artigo de Jeziel

Hélder sofrerá censura e ostracismo político, resultantes da polarização ideológica

advinda da ditadura, e na igreja brasileira, por isso, a neutralização de sua capacidade de

influência. Garaudy, que é expulso do Partido Comunista Francês em 1970, converte-se ao

cristianismo e, nos anos 80, ao islamismo (torna-se mulçumano).Tal fato demonstra que

Dom Hélder conseguia dialogar com o marxismo e seus representantes intelectuais, e deles,

também, recebe muita influência.

Em 9 de outubro de 1974, em comemoração ao sétimo centenário de São Tomás de

Aquino, realiza uma palestra na Universidade de Chicago (EUA), com o seguinte titulo: “O

que faria São Tomás de Aquino diante de Karl Marx?”, fazendo com Karl Marx o mesmo

que São Tomás de Aquino fizera com Aristóteles, , redescobrindo valores cristãos no

mesmo. Traça um paralelo entre são Tomás e Karl Marx, tecendo fortes críticas sobre o

segundo, mas sempre enfatizando o seu método de análise da realidade, de uma conjuntura

ou momento histórico específico Dom Hélder “embora em teoria e na prática o marxismo

se parece intrinsecamente anti-religioso e anticristão...”, reconhecia que há “ verdades a

redescobrir e valorizar no marxismo”....”Um aspecto essencial do marxismo: a análise das

relações de produção, que geram as classes, as ideologias, enfim, as superestruturas. Marx,

então, levanta a utopia de uma sociedade sem classes, confraternizada e feliz, mas além, foi

o profeta Isaías, antevendo as armas transformando em arado e, o leão e o cordeiro

comendo juntos, como irmãos (em Cristo)”