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Análise da logística reversa: estudo de caso em uma empresa do ramo
de transporte de passageiros e encomendas
Patricia Guarnieri (UnB) – [email protected]
Dayana Hass de Almeida (SECAL) [email protected]
Giovanna Terezinha de Souza Monteiro (LG CONTÁBIL) [email protected]
Resumo: Vários fatores têm motivado o crescimento das discussões sobre o tema logística reversa: a sanção e
regulamentação da PNRS – Política Nacional dos Resíduos Sólidos; a necessidade de um diferencial
competitivo sustentável em relação à concorrência; os curtos ciclos de vida dos produtos e a busca
constante pelo desenvolvimento sustentável. Desta forma, a necessidade da implementação da
logística reversa passa a ser um fato incontestável para empresas que atuam em diversos segmentos.
Muitas empresas realizam atividades de logística reversa informalmente, por meio dos canais reversos
de pós-consumo e pós-venda. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar como ocorre a destinação
dada aos resíduos gerados por uma empresa de transporte de passageiros e encomendas estabelecida
na região dos Campos Gerais, verificando as antagens obtidas com sua adoção e analisando a postura
da empresa frente às demandas ambientais. Para isso foi realizada uma pesquisa aplicada, exploratória,
descritiva, qualitativa, cujo procedimento metodológico foi o estudo de caso. A coleta de dados
ocorreu por meio da observação direta, entrevista semi-estruturada e análise documental. Verificou-se
que a empresa realiza processos de logística reversa informalmente, obtém vantagens de diversas
naturezas e adota uma postura reativa frente às demandas ambientais.
Palavras chave: Gerenciamento de resíduos sólidos, Logística reversa, Política Nacional de
Resíduos Sólidos, Posicionamento frente às demandas ambientais.
Analysis of reverse logistics: a case study in a company of
Passengers and orders transportation
Abstract Several factors have driven the growth of the discussions on the subject reverse logistics: the sanction
and regulamentation of National Solid Waste Policy (PNRS), the need for a sustainable competitive
advantage over the competition, the short product life cycles and constant search for sustainable
development. Thus, the need to implement reverse logistics becomes an indisputable fact for
companies that operate in different segments. Many companies carry out activities of reverse logistics
informally, by means of reverse channels of post-consumption and post-sales sub-areas. The purpose
of this paper is to show how occurs the solid residues management of a company carrying passengers
and orders established in the region of Campos Gerais, checking advantages obtained and the
company's position face of environmental demands. In order to attain this purpose it was carried out an
applied, exploratory, descriptive, qualitative research, the methodological procedure adopted was the
case study. The data was collected through direct observation, semi-structured interviews and
documentary analysis. It was found that the company performs reverse logistics processes informally,
takes various kinds of advantages and takes a reactive positioning face of environmental demands.
Key-words: National Solid Waste Policy, Positioning face environmental demands, Reverse
Logistics, Solid residues management.
1 Introdução
A logística reversa tornou-se um assunto que influencia e ganha cada vez mais espaço nas
discussões e decisões no ambiente empresarial, vários fatores motivaram o crescimento destas
discussões: a sanção e regulamentação da PNRS – Política Nacional dos Resíduos Sólidos; a
necessidade de um diferencial competitivo sustentável em relação à concorrência; os curtos
ciclos de vida dos produtos e a busca constante pelo desenvolvimento sustentável. A
sociedade não mais aceita o descaso das empresas com o meio ambiente; os consumidores
buscam produtos eco friendly; a legislação impõe duras penas para as empresas que não
cumprirem adequadamente as obrigações ambientais, de forma a responsabilizá-las por sua
postura e impelindo-as a implementar estratégias operacionais consistentes para com o meio
ambiente.
Tendo em vista a recente sanção e regulamentação da Lei Federal 12.305/10 que trata da
Política Nacional dos Resíduos Sólidos, regulamentada pelo Decreto Federal 7.404/10, os
atores responsáveis pela geração e gestão dos resíduos sólidos estão percebendo a necessidade
e a urgência da implementação de práticas da logística reversa. A PNRS estabelece que até
2014 haverá o fim dos lixões e a implementação efetiva da coleta seletiva, que ocorrerá com o
apoio de cooperativas de catadores e Poder Público. Além disso, também estabelece a
obrigatoriedade da logística reversa para alguns tipos de resíduos (agrotóxicos e suas
embalagens, lâmpadas, pneus, pilhas e baterias e eletroeletrônicos, embalagens diversa) e
também inclui a responsabilidade compartilhada entre todos os atores responsáveis pela
geração e gestão de resíduos sólidos (fabricantes, atacadistas, varejistas, importadores, Poder
Público e consumidores finais).
Desta forma, a necessidade da implementação da logística reversa passa a ser um fato
incontestável para empresas que atuam em diversos segmentos. Ocorre que muitas empresas
realizam atividades de logística reversa informalmente, por meio dos canais reversos de pós-
consumo e pós-venda: reuso, remanufatura, desmontagem, reciclagem, doação, incineração,
venda ao mercado secundário, e quando não há mais meios de recuperação, a destinação final
ambientalmente correta. Por meio da realização das atividades as empresas podem obter
vantagens de diversas naturezas: legal, ambiental, logística e econômica e/ou financeira.
Sendo assim, o objetivo deste artigo é apresentar como ocorre a destinação dada aos resíduos
gerados por uma empresa de transporte de passageiros e encomendas estabelecida na região
dos Campos Gerais sob o ponto de vista da logística reversa, verificar quais as vantagens
obtidas com sua adoção, bem como analisar a postura da empresa frente às demandas
ambientais e a existência de sistemas que gerenciem os valores movimentados por estas
atividades.Para isso foi realizada uma pesquisa aplicada, exploratória, descritiva, qualitativa,
cujo procedimento metodológico foi o estudo de caso. A coleta de dados ocorreu por meio da
observação direta junto aos processos da empresa, entrevista semi-estruturada e análise
documental.
Verificou-se que a empresa realiza processos de logística reversa informalmente, obtém
retorno econômico e financeiro com a destinação dos resíduos, bem como vantagem legal por
atender a legislação referente ao gerenciamento de resíduos sólidos, vantagem logística por
promover a operacionalização dos retornos e também ambiental por ter sua imagem
corporativa atrelada a práticas ambientalmente corretas. A postura da empresa frente às
demandas ambientais tem sido reativa e observou-se que a empresa não dispõe de um sistema
integrado de informações quanto aos valores movimentados pela logística reversa.
2 Metodologia da pesquisa
Neste trabalho a pesquisa pode ser classificada, do ponto de vista de sua natureza, como uma
pesquisa aplicada, a qual segundo Silva e Menezes (2001), objetiva gerar conhecimentos para
aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Do ponto de vista de seus
objetivos, a pesquisa é considerada exploratória e descritiva. É uma pesquisa descritiva, pois
visa descrever com exatidão os fenômenos da realidade estudada e não demanda a utilização
de métodos e técnicas estatísticas rigorosas, na qual o ambiente natural é a fonte direta para
coleta de dados e, é também exploratória, pois trava um maior conhecimento do problema,
através de pesquisas bibliográficas, levantamento e/ou estudo de caso, conforme definem (Gil,
1991; Andrade, 1999).
Do ponto de vista da forma de abordagem a pesquisa é qualitativa, complementada também
pela pesquisa quantitativa. A diferença básica entre estes dois tipos de pesquisa é a natureza
dos dados. Enquanto que a primeira se preocupa com a realidade que não pode ser
quantificada, trabalhando com um universo de significados, aspirações, crenças, valores e
atitudes, relacionando-os a processos e fenômenos; a segunda por outro lado, se atém a obter
dados numéricos, os quais são também importantes para demonstrar a realidade estudada. No
entanto, é importante ressaltar que o conjunto de dados quantitativos e qualitativos não se
opõem, ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage
dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia (Chizzotti, 2006; Minayo, 1994; Silva e
Menezes, 2001).
No que tange ao procedimento técnico, esta pesquisa utilizou o estudo de caso, que de acordo
com Gil (1991, p. 58) “[...] é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos
objetos de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento”. Yin (2001)
complementa que este procedimento é um estudo empírico que investiga um fenômeno atual
dentro de seu contexto de realidade. O estudo de caso foi realizado em uma empresa do ramo
de transporte de passageiros e encomendas, localizada na região dos Campos Gerais. Para a
coleta de dados foram utilizados três tipos de instrumento de pesquisa, os quais são:
i)Entrevista semi-estruturada; ii)Observação direta e; iii)Análise documental. De acordo com
Yin (2001), a combinação de dois ou mais instrumentos de pesquisa proporciona maior
confiabilidade nas constatações obtidas com o estudo de caso.
Devido a não existir na empresa uma área responsável pela Gestão Ambiental, a entrevista
semi-estruturada foi realizada com os responsáveis e colaboradores dos departamentos de
Contabilidade, Qualidade, Suprimentos, Encomendas, Área Técnica Operacional;
Manutenção, Higienização, Tráfego e Almoxarifado, os quais direta ou indiretamente estão
envolvidos com o manejo e gerenciamento dos resíduos gerados pela empresa. Com base na
pesquisa bibliográfica, foram elaboradas 45 perguntas, as quais conduziram a entrevista, as
mesmas foram realizadas presencialmente. Além disso, realizaram-se visitas técnicas,
possibilitando a observação dos processos da empresa que envolvem atividades de logística
reversa, as quais totalizaram aproximadamente 20 (vinte) horas.
Ademais, foi também realizada a análise documental, que se constituiu do levantamento de
dados em relatórios, controles internos e notas fiscais de entrada e saída. Entretanto, cabe
ressaltar que a empresa, por não possuir nenhum setor ou área responsável pela Gestão
Ambiental, não possuía relatórios periódicos dos controles de resíduos, fato este que
dificultou de certa forma a coleta de dados, impelindo a busca em documentos gerados por
outros departamentos da empresa, permitindo assim a consolidação dos dados posteriormente.
Lakatos e Marconi (1982) afirmam que são considerados documentos, todos os materiais
escritos que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica, os quais
podem ser de primeira mão (oficiais) ou de segunda mão (relatórios de pesquisa, relatórios de
empresa e tabelas estatísticas). Após a coleta de dados partiu-se para a análise de conteúdo,
apoiado em referencial teórico a fim de proceder com a análise de resultados. Para Minayo
(1994) a análise de conteúdo pode nos fornecer respostas para as questões apresentadas, e
através dela pode-se confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes da coleta de dados.
3 Logística Reversa e suas sub-áreas de atuação
O Reverse Logistics Executive Council – RLEC (2012) define logística reversa como
sendo o processo de movimentação de mercadorias do seu destino final típico para outro
ponto, com o objetivo de obter valor de outra maneira indisponível, ou com o objetivo de
efetuar a disposição final dos produtos. Desta forma, as atividades da logística reversa
incluem: i)O processamento do retorno de mercadorias por danos, sazonalidade,
reestocagem, salvados e excesso do estoque; II - Reciclagem dos materiais das embalagens
ou reutilização de embalagens, recondicionamento ou manufatura dos produtos; III -
Descarte de equipamentos obsoletos ou materiais perigosos e; IV - Recuperação do
patrimônio.
Para Leite (2003) a logística reversa é a área da logística empresarial que planeja, opera e
controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-
venda e pós- consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico,
legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. Gomes e Ribeiro (2004) acrescentam
que a logística reversa visa a eficiente execução da recuperação de produtos e tem como
propósitos a redução, a disposição e o gerenciamento de resíduos tóxicos e não tóxicos.
No entanto, Efendigil et al. (2008) ressaltam que devido à complexidade do gerenciamento
dos fluxos reversos, muitas empresas preferem alocar seus recursos em suas competências
centrais e optam por terceirizar parcial ou totalmente os processos de logística reversa para
operadores logisticos (3PL). A utilização de 3PLs em uma cadeia de suprimentos de ciclo
fechado, assegura a sustentabilidade da logistica reversa, além de garantir serviços mais
eficientes, ainda existem oportunidades de aumentar suas margens de lucro, diferenciando
seus serviços daqueles dos concorrentes e, consequentemente, conquistando mais clientes.
Guarnieri et al. (2005) afirmam que as empresas estão sendo forçadas pelos governos e por
órgãos não governamentais a buscar soluções para a poluição e para os problemas referentes à
geração de resíduos de seus processos produtivos. Estas soluções podem ser perfeitamente
encontradas por meio da logística reversa, que de acordo com Adlmaier et al. (2004), tem sido
bastante difundida na Europa, com base em leis para o transporte e descarte de embalagens.
No entanto, Leite (2003) e Guarnieri (2011) ressaltam que, desde que planejada e bem
estruturada, são visíveis as vantagens obtidas com a implementação da logística reversa,
principalmente as de natureza: financeira/econômica, legal, ecológica/ambiental, de imagem
corporativa, logística e competitiva. Porém, de acordo com Rogers e Tibben-Lembke (1998),
Leite (2003), Guarnieri et al. (2006) e Guarnieri (2011), Efendigil et al. (2008) existem
algumas dificuldades que devem ser superadas como por exemplo: carência de sistemas
gerenciais informatizados; Carência de sistemas/ferramentas de informação financeiras e
econômicas; Infraestrutura logística deficiente; Falta de conhecimento/planejamento, entre
outras.
Basicamente, o processo logístico reverso se utiliza das mesmas atividades do processo
logístico direto, a principal diferença é que ele inicia suas atividades a partir do momento que
a logística direta termina, entregando o produto ao consumidor final que, por sua vez, gera os
resíduos de pós-venda e pós-consumo, os quais através da logística reversa podem ser
reinseridos no processo produtivo e/ou de negócios, fechando o ciclo logístico total. Desta
forma, existem duas sub-áreas da logística reversa, as quais gerenciam os resíduos
dependendo das suas características conforme Rodrigues et al. (2003).
Os resíduos de pós-consumo são aqueles que estão no final da sua vida útil e não representam
mais utilidade para seu primeiro usuário, como por exemplo é o caso das diversas
embalagens; resíduos industriais; eletroeletrônicos e veículos que não têm mais conserto, ou
que se tornaram obsoletos e/ou muito deteriorados, entre outros. Estes resíduos são
gerenciados pela logística reversa de pós-consumo, cujos canais de revalorização podem ser
reúso, desmanche, reciclagem, doação e destinação final (ROGGERS e TIBBEN-LEMBKE,
1999; LEITE, 2003; GUARNIERI, 2011).
Os resíduos de pós-venda – aqueles que tiveram pouco ou nenhum uso e retornaram ao canal
logístico por diversos motivos tais como: problemas de garantia; expiração do prazo de
validade; desacordos comerciais; avarias no transporte; políticas liberais de retorno; entre
outros - são gerenciados pela logística reversa de pós-venda de acordo com Roggers e Tibben-
Lembke (1999); Leite (2003) e Guarnieri (2011) e, encaminhados para os canais reversos de
remanufatura, venda ao mercado secundário e doação.
Tendo em vista a geração dos resíduos de pós-consumo e pós-venda as empresas podem
adotar uma postura reativa, proativa ou agir em busca de valor frente às demandas ambientais,
conforme Leite (2003) e Barbieri (2004) exemplificam no Quadro 1.
Postura Objetivos Atividades Organização Recursos
Reativa
Segue as leis.
Busca
economias.
Recicla papéis e frascos.
Utiliza a imagem de recicláveis.
Não existe
organização formal.
Recursos
mínimos.
Proativa Antecipa-se às
legislações.
Adquire
vantagens
competitivas
pelo
comprimento
mais eficiente
das leis.
Define políticas de meio ambiente.
Realiza auditoria ambiental.
Compra materiais reciclados.
Recicla e reusa paletes, plásticos,
produtos defeituosos e refugos.
Projeto, produtos e serviços verdes.
Assume responsabilidades pelo
reuso reciclagem por meio de
parcerias e programas de
distribuição reversa.
Utiliza análise do ciclo de vida para
avaliar produtos e embalagens.
Comprometimento
do presidente e da
diretoria.
Alto nível de
comunicação em
todos os níveis. Um
ou mais programas
ambientais novos.
Recursos
modestos.
Procura-se
evitar custos
por meio de
parcerias e
jointventures.
Busca de
valor
Integra
atividades
ambientais na
estratégia da
empresa.
Operação da
empresa visa
reduzir os
impactos no
meio ambiente.
Projeta produtos para desmontagem,
reciclagem ou reuso.
Cria vantagem competitiva em
programas de distribuição reversa.
Solicita aos fornecedores
comprometimento com objetivo de
redução de resíduos.
Utiliza terceirização na cadeia de
distribuição reversa.
Desenvolve incentivos internos.
Realiza a revisão critica de
processos, produtos e processos.
Diretoria
estabelecem forte
comprometimen-to.
Ações
interdepartamen-tais
para buscar soluções
e progressos.
Gerentes de redução
de resíduos e
refugos.
Cada departamento
contribui para novas
idéias.
Programas
tornam-se parte
da operação
empresarial.
Fonte: Adaptade de Leite (2003) e Barbieri (2004).
Quadro 1 – Postura das empresas frente às demandas ambientais
Por meio da análise do Quadro 1 é possível perceber que um dos principais fatores
motivadores da adoção da logística reversa tem sido o atendimento à legislação, o qual define
a sua postura frente às demandas ambientais. Este assunto é exposto na seção seguinte.
4 Aspectos legais relativos à logística reversa
A partir da década de 1980, conforme afirma Simões (2002), as empresas começaram a
incorporar práticas que causassem menos danos ao meio ambiente, devido às cobranças cada
vez maiores dos consumidores e, de acordo com Barbieri (2004), estas novas demandas
ambientais tendem a se intensificar à medida que a sociedade se dá conta de que os problemas
ambientais além de afetarem a atual qualidade de vida comprometem também a sobrevivência
da humanidade. Neste sentido, Kraemer (2004) afirma que a gestão ambiental vem ganhando
cada vez mais espaço no ambiente empresarial, pois o desenvolvimento da consciência
ecológica da sociedade acaba envolvendo principalmente as empresas. Fatos estes
corroborados por Donaire (1999), o qual afirma que quanto maior é a pressão da sociedade
mais restrita é sua legislação em relação ao meio ambiente, havendo assim uma correlação
direta entre a tomada de consciência da sociedade e os padrões ambientais estabelecidos.
No Brasil, o início do atendimento a estas demandas ocorreu em agosto de 1981, por meio da
Lei 6.938/1981, que instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA),
responsável pela proteção e melhoria do meio ambiente (MOURA, 2002). No mesmo ano, a
Lei n. 6.938/1981 criou também os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.
Uma inovação bastante importante desta lei foi a definição da responsabilidade do poluidor,
ou seja, além de outras penalidades previstas, “é o poluidor obrigado, independentemente de
existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade” (§ 1º art. 14 da Lei. n. 6.938, de 31.08.1981).
Posteriormente, em 1988 a Constituição Federal, em seu art. 225 estabelece que: “Todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Uma década mais tarde, a Lei nº 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998, dos Crimes Ambientais, ampliou a tipificação dos crimes
ambientais e estabeleceu sanções administrativas e penais resultantes de atividades e
comportamentos nocivos ao meio ambiente. De acordo com o art. 54, § 2º, inciso V desta lei,
é prevista pena de reclusão, de um a cinco anos, para aquele que causar poluição de qualquer
natureza, decorrente do lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos
ou substâncias oleosas no meio ambiente.
No decorrer dos anos, orgãos como o CONAMA instituiram diversas resoluções,
regulamentando o descarte, manuseio, transporte, acondicionamento de diversos tipos de
resíduos, principalmente aqueles considerados perigosos. A Resolução CONAMA nº
23/1996, complementada pela Resolução nº 228/1997, e alterada pelas Resoluções n°
235/1998 e nº 244/1998, dispõe sobre as definições dos resíduos e sobre o tratamento a ser
dado aos resíduos perigosos. No caso dos resíduos de óleo lubrificante e embalagens existe
uma resolução específica do CONAMA (362/2005), para pneus também existem resoluções,
como é o caso da 258/1999 e 301/2002. A resolução CONAMA 257/1999 dispõe sobre a
destinação das pilhas e baterias. A emissão de poluição atmosférica é regulada pela resolução
226/1997. No caso das lâmpadas, tonners e cartuchos, resíduos eletroeletrônicos e embalagens
diversas, recentemente a Lei 12.305/2010 da PNRS instituiu a obrigatoriedade da logística
reversa.
Segundo Leite (2003), normalmente às legislações ambientais relacionadas a resíduos sólidos
são uma reação aos impactos ambientais causados pelos excessos desses resíduos, seja devido
às dificuldades cada vez maiores de livrar-se deles, ou devido ao impacto negativo causado no
meio ambiente. Para Rogers & Tibben-Lembke (1998), legislações mais rigorosas e uma
maior conscientização dos consumidores e empresários em relação aos danos ambientais tem
levado as empresas a reverem a responsabilidade sobre seus produtos após o uso e a Europa,
em particular a Alemanha, é pioneira em legislação sobre o descarte de produtos consumidos.
Em diversos países desenvolvidos, legislações específicas já existem e novos princípios de
responsabilidade ambiental estão sendo disseminados, entre os quais se encontra o ERP
(Extended Product Responsibility) ou Responsabilidade Estendida do Produto, conforme o
qual as empresas fabricantes de produtos que agridem de alguma forma o meio ambiente se
responsabilizam por seu descarte responsável (LEITE, 2003).
Seguindo estas tendências, em 2010 no Brasil foi sancionada a Lei 12.305, a qual institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e altera a Lei no 9.605/1998; dispondo sobre
os princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão
integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os perigosos; as
responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos
aplicáveis. A regulamentação da PNRS ocorreu em dezembro/2010 através do decreto o
Federal 7.404/10.O referido decreto regulamentou a PNRS por meio da instituição de normas
cuja finalidade é viabilizar a aplicabilidade de seus instrumentos. Além disso, criou o Comitê
Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a
Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, tendo, ambos, o propósito de apoiar a
estruturação e implementação da lei mediante a articulação dos órgãos e entidades
governamentais (GUARNIERI, 2011).
De acordo com Guarnieri (2011), percebe-se que a Lei 12.305/2010 foi bastante influenciada
pela legislação alemã e, uma das maiores preocupações do setor empresarial tem sido a
implementação da logística reversa, a qual é um dos pontos centrais da Lei, visando viabilizar
a coleta e a restituição dos resíduos aos seus geradores, para que sejam revalorizados e/ou
reaproveitados em novos produtos. Iniciativas a este respeito já vêm sendo implementadas por
alguns segmentos da indústria, mas ainda necessitam ser aperfeiçoadas de forma a atender a
PNRS.
Basicamente, de acordo com o art. 33 da PNRS, são obrigados a estruturar e implementar
sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de
forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos,
os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: I - agrotóxicos, seus resíduos
e embalagens; II - pilhas e baterias; III - pneus; IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e
embalagens; V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI -
produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
O § 1o da mesma Lei estabelece que em regulamento ou em acordos setoriais e termos de
compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, os sistemas de logística
reversa serão estendidos a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de
vidro, e aos demais produtos e embalagens, considerando, prioritariamente, o grau e a
extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados.
5 Resultados - Estudo de Caso em uma empresa do ramo de transporte de passageiros e
encomendas
5.1 Caracterização da empresa:
A empresa, objeto desta pesquisa, foi constituída há 77 anos, e é uma das mais proeminentes
companhias de transporte de passageiros e encomendas do Sul-Sudeste do País, atuando nos
Estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Sua estrutura se constitui de 290 veículos, 55
filiais, e 191 pontos de vendas. Possui 5 empresas ligadas ao grupo, 9 garagens distribuídas
pelos estados onde atua, 14 unidades administrativas e comerciais, além de 17 empresas
parceiras que prestam serviços de apoio operacional onde não existem garagens.
Mensalmente, os veículos da empresa percorrem em média 2.500.000 quilômetros,
transportam cerca de 750 mil pessoas e entregam em média 1 milhão de encomendas.
Atualmente possui cerca de 1500 colaboradores diretos e 700 indiretos, os quais atendem em
média 10.800.000 clientes anualmente. Seu faturamento bruto é de R$ 125.000.000,00 em
média, incluindo as atividades de transporte de passageiros, fretamento, viagens especiais e
transporte de cargas e encomendas. A unidade empresarial em que o estudo de caso foi
desenvolvido é a matriz da empresa, localizada na cidade de Ponta Grossa-PR, a qual é
responsável por todo o controle operacional e administrativo da organização; emanando dela
todas as decisões que envolvem a empresa em toda a sua área de atuação.
5.2 Geração e destinação dos resíduos de acordo com a legislação
O departamento operacional, de acordo com os dados levantados por meio das entrevistas,
observações diretas e análise documental, pode ser considerado o principal gerador de
resíduos da empresa. No entanto, mesmo que em menor volume e variedade os demais
departamentos geram também resíduos que necessitam de gerenciamento e destinação correta.
Desta forma, julgou-se necessário apurar que tipo de resíduos eram gerados e qual a sua
origem, dados que são apresentados no Quadro 2.
Departamento Resíduos gerados Operacional
(Higienização, Manutenção e
Tráfego)
Papel (impressões, etiquetas bagagem), Resíduos orgânicos, Tonners
e cartuchos de impressora, Lâmpadas, Equipamentos de informática,
Poluição atmosférica, Manutenção Embalagens, Peças substituídas e
descartadas (ferro, plástico, alumínio, borracha, cobre, etc),
Ferramentas descartadas, Pneus, Óleos lubrificantes, Baterias, EPI
contaminados, Materiais (peças, ferramentas) contaminados com
óleo e/ou tinta, Serragem contaminada com óleo, Lonas de freio,
Lodo das caixas separadoras de água e óleo, Papelão, Resíduos da
lavagem dos veículos (água e produtos), Lixo deixado pelos clientes
no interior dos veículos (Papel, Papelão, Plástico, Orgânico, Latas de
aço e alumínio).
Administrativo, Arrecadação,
Comercial, Contabilidade,
Depto Pessoal, Financeiro,
Informática, Qualidade,
Suprimentos, Técnico
Papel (impressões, jornais, revistas),
Papelão, Plástico (copos plásticos, banners usados),
Resíduo orgânico,
Tonners e cartuchos de impressora,
Lâmpadas,
Equipamentos de informática.
Encomendas Produtos avariados, Papel (impressões), Papelão, Plástico (copos
plásticos), Resíduo orgânico, Embalagens, paletes descartados.
Fonte: As autoras.
Quadro 2 – Principais resíduos gerados por departamento
É possível perceber de acordo com o Quadro 2, que muitos destes resíduos, principalmente os
gerados pelo departamento operacional, o qual inclui as atividades de tráfego, manutenção e
higienização, são considerados perigosos e altamente prejudiciais ao meio ambiente e à saúde
humana, como é o caso dos resíduos de óleo lubrificante, suas embalagens e demais resíduos
contaminados por este, pneus, tonners e cartuchos de impressora, lâmpadas, equipamentos de
informática, baterias e poluição atmosférica. Cabe ressaltar que para os resíduos de óleo
lubrificante e embalagens existe uma resolução específica do CONAMA (362/2005), para
pneus também existem resoluções, como é o caso da 258/1999 e 301/2002. A resolução
CONAMA 257/1999 dispõe sobre a destinação das pilhas e baterias. A emissão de poluição
atmosférica é regulada pela resolução 226/1997. No caso das lâmpadas, tonners e cartuchos,
resíduos eletroeletrônicos e embalagens diversas, a Lei 12.305/2010 instituiu a
obrigatoriedade da logística reversa.
Sendo assim, percebe-se que a maior parte dos resíduos gerados pela empresa possuem
legislações próprias, o que motiva e impele a empresa a criar soluções para o seu
gerenciamento adequado. Verificou-se por meio das entrevistas, que a destinação final de
resíduos sólidos do departamento operacional foi implementada em 2006 objetivando
promover a adequação dos processos de segregação, coleta e destinação final dos resíduos,
conforme as normas e legislação específicas para resíduos sólidos industriais existentes. O
propósito inicial desta iniciativa foi a adequação às normas e legislação específicas, evitando
sanções e/ou multas de órgãos públicos, o que confirma o fato apontado na literatura de que, a
principal motivação da maioria das empresas ao adotar práticas ambientais ainda é o
atendimento a aspectos legais. Após a sanção e regulamentação da PNRS – Política Nacional
de Resíduos Sólidos em 2010, a empresa está revisando e, mais uma vez, adequando seus
processos para o atendimento da legislação, o que evidencia a sua postura ainda reativa.
Para viabilizar a destinação final adequada aos resíduos sólidos gerados pela empresa,
considerados perigosos, foi efetuada a contratação da empresa CETRIC, a qual providenciou
a colocação de contêineres e tambores para resíduos classes I e II nas garagens da empresa. A
CETRIC é uma empresa especializada na coleta e destinação de resíduos sólidos e é
certificada pelos órgãos ambientais dos estados de Santa Catarina e Paraná. No entanto
apurou-se que a responsabilidade da CETRIC limita-se à coleta, transporte e destinação final
dos resíduos no aterro industrial situado em Chapecó/SC, além da limpeza das caixas
separadoras de água e óleo existentes no setor de higienização das garagens.
Os procedimentos de separação, armazenamento e proteção dos resíduos são de
responsabilidade da empresa geradora. É importante que, principalmente, o armazenamento
ocorra de forma correta visando minimizar e/ou eliminar os impactos ambientais decorrentes
do manuseio e estocagem incorreta. Todos esses procedimentos, conforme o departamento de
qualidade da empresa, estão regulamentados nas normas ABNT-NBR 10.004/04 e NBR
12.235/92, as quais dispõem sobre a classificação dos resíduos sólidos quanto aos seus riscos
potenciais ao meio ambiente e à saúde pública e ao correto armazenamento destes resíduos até
a coleta, para que possam ser gerenciados adequadamente.
Com a finalidade principal de reduzir os custos com a destinação de resíduos de lona de
freio, além de desenvolver ações ambientalmente corretas, a empresa buscou firmar parcerias
com fornecedores deste produto. Atualmente, a empresa possui parceria com dois
fornecedores, os quais realizam a destinação correta dos resíduos deste produto, gerados nas
unidades que efetuam o serviço de troca de lonas de freio. Um dos fornecedores coleta os
resíduos e os envia novamente ao fabricante, para serem reciclados, este processo ocorre sem
custo nenhum para a empresa. O outro coleta os resíduos, porém com custos para a empresa,
os quais são transformados em créditos, gerando descontos na compra de novos jogos.
5.3 Conhecimento e uso da logística reversa
Ao serem questionados sobre o conhecimento da logística reversa, a maioria dos entrevistados
(16 dos 18) afirmou não saber do que trata a logística reversa. Com relação aos 16
entrevistados que afirmavam não ter nenhum conhecimento da logística reversa, porém, após
uma explicação sobre os diversos processos de logística reversa, como: reciclagem,
reutilização, remanufatura, incineração, doação, venda ao mercado secundário e destinação
final segura, todos os entrevistados afirmaram ter conhecimento e utilizarem alguns dos
processos na empresa, no entanto, não com esta denominação. No Quadro 3 são apresentadas
as destinações de acordo com cada tipo de resíduo.
TIPOS DE RESÍDUOS CANAL REVERSO UTILIZADO
Equipamentos de informática, Papel, Peças de alumínio, Peças
de borracha, Peças de cobre, Pneus, Baterias, Óleo lubrificante
usado, Tonners e Cartuchos de impressora
São vendidos no mercado secundário.
Resíduos Perigosos (Materiais contaminados com óleo e tintas,
filtros de óleo e de ar, embalagens de produtos químicos, EPIs
contaminados com óleo/tinta, lodos das caixas separadoras de
água e óleo, lâmpadas, serragem contaminada)
São destinados a aterro industrial
através de empresa contratada para
coletar, transportar e dispor em aterro
Industrial.
Resíduos recicláveis (Plásticos, papelão e outros, exceto o
papel), Paletes descartados, Resíduos Orgânicos
São doados para uma cooperativa que
encaminha para a reciclagem.
Peças de ferro, Ferramentas É feita a remanufatura (na própria
oficina da empresa ou por terceiros)
ou são vendidas ao mercado
secundário.
Peças de plástico São doadas para uma empresa que
efetua a reciclagem.
Lonas de Freio Dependendo da marca, retornam para
o fabricante ou são enviados para
aterro industrial.
Resíduos de água e produtos químicos provenientes da lavagem
dos veículos
São encaminhados para o aterro
industrial e para a rede de esgoto.
Mercadorias avariadas Conforme o caso são enviadas para a
seguradora,
doadas, ou vendidas em bazares.
Fonte: As autoras
Quadro 3 – Destinação por tipo de resíduo
Por meio do apresentado no Quadro 3, é possível perceber que o retorno e revalorização dos
diversos resíduos gerados pela empresa é realizada por meio das diversas possibilidades de
canais reversos existentes ressaltados por Leite (2003) e Guarnieri (2011), tais quais: reúso,
remanufatura, desmanche, reciclagem, venda ao mercado secundário, incineração, doação e
destinação final ambientalmente adequada. Desta forma caracteriza-se mesmo que
informalmente, a execução de atividades de logística reversa.
Cabe enfatizar que estes dados foram obtidos por meio de entrevistas, observações diretas
dos processos da empresa e controles internos dos diversos departamentos envolvidos. Mais
especificamente, foram observadas as destinações específicas a cada sub-área da logística
reversa: pós-venda e pós-consumo. Estes instrumentos da coleta de dados combinados
permitiram identicar os processos de logística reversa, mesmo estes não sendo conhecidos por
estas denominações pelos funcionários.
Mais especificamente no que tange à Logística Reversa de pós-venda, os processos realizados
pela empresa são: 1)Envio de materiais avariados provenientes do departamento de
encomendas para a seguradora; 2)Venda de produtos avariados provenientes do departamento
de encomendas, por meio da realização de bazares, direcionados aos colaboradores da
empresa; 3)Reutilização de produtos avariados provenientes do departamento de encomendas
na própria empresa e; 4)Doação de produtos avariados à comunidade. Já com relação à
Logística Reversa de pós-consumo foram identificados os seguintes processos: 1)Venda ao
mercado secundário; 2)Retorno ao fabricante;3)Reutilização; 4)Remanufatura ou
recondicionamento de produtos; 5)Doação para reciclagem e; 6)Destinação final segura
(aterro industrial).
5.4 Vantagens obtidas com a logística reversa
Por meio de entrevistas semi-estruturadas também objetivou-se apurar quais vantagens seriam
obtidas pela empresa, com a adoção de processos de logística reversa e, de acordo com os
responsáveis pelas áreas técnica e de qualidade, a empresa obtém principalmente, uma
vantagem legal, por meio do atendimento às legislações específicas que se constituem nas
resoluções do CONAMA e mais recentemente, a PNRS. Desta forma a empresa evita
penalizações e multas, que acarretariam prejuízos. No entanto, de acordo com as observações
diretas realizadas e também com a análise documental observou-se que a empresa também
obtém outras vantagens com a implementação de processos de logística reversa, como:
- Vantagem econômica e financeira: Obtida por meio dos valores provenientes da venda ao
mercado secundário dos resíduos de pós-venda e pós-consumo e também, com a redução de
custos com a destinação, economia obtida com a reutilização e recondicionamento de
produtos.
- Vantagem ecológica: Obtida por meio da redução do passivo ambiental e consequentemente,
dos impactos gerados no meio ambiente, além da utilização responsável de recursos, evitando
desperdícios.
- Vantagem de imagem corporativa: Através do marketing ambiental ou verde, a empresa
divulga suas práticas ambientais no site e jornais internos à comunidade e aos seus
colaboradores, sendo então vista como uma empresa responsável ambientalmente, o que
agrega valor à sua imagem corporativa perante a sociedade.
- Vantagem logística: Esta vantagem é obtida por meio da otimização dos processos da
empresa, devido à desobstrução dos espaços da empresa, gerenciamento dos produtos
(resíduos) e das informações geradas, além da minimização de gargalos e custos, os quais
seriam provenientes da falta de gerenciamento dos resíduos.
Tendo em vista que foi detectada a obtenção de vantagens econômicas e financeiras por meio
da logística reversa, questionou-se também aos entrevistados sobre a existência de um sistema
contábil e de gestão, capaz de registrar e mensurar os valores movimentados. De acordo com
Guarnieri (2011) é desejável que os relatórios ambientais que abrangem este tipo de
informação sejam gerados separadamente da contabilidade tradicional. Apurou-se que a
empresa não possui um sistema integrado que controle as receitas e custos gerados com a
destinação dos resíduos, e inicialmente, quando questionados quanto aos valores
movimentados em relação, os entrevistados informaram que não existiam dados disponíveis.
No entanto, apesar da informação de que não havia um controle centralizado destes custos,
receitas e investimentos, foi possível através da análise documental, obter estes valores a
partir dos controles internos.
6. Considerações finais
Foi possível perceber com o desenvolvimento desta pesquisa que por meio da logística
reversa, as empresas podem obter a redução de custos devido à eliminação de desperdícios, da
reciclagem, do aproveitamento de resíduos e redução de multas por poluição; aumento das
receitas com produtos ambientalmente corretos; melhoria da imagem institucional, e
conquista de novos mercados. Desta forma, comprova-se que a partir da logística reversa, as
empresas obtém vantagens financeiras, logísticas, legais, ecológicas e de imagem corporativa,
mesmo se a postura da empresa é reativa frente às demandas ambientais.
Verificou-se também que grande maioria dos entrevistados na empresa conhecia a logística
reversa somente pelas designações dos seus canais reversos, o que caracteriza a adoção deste
conceito, mesmo que informalmente pela empresa, objeto de estudo. Sugere-se à empresa o
desenvolvimento e implantação de um sistema integrado de controle de resíduos, específico
para informações contábeis ambientais. Por meio deste sistema seriam disponibilizadas, a
nível gerencial para a empresa, informações relativas a possíveis oportunidades de redução de
custos e despesas ou elevação de receitas com a logística reversa, possibilitando também
investimentos no setor.
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