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40 | Revista de Antropologia Ano 4 Volume 5 ARTIGO 2: Alcoolismo no contexto indígena brasileiro: mapeamento da bibliografia nacional Autores: André Luís Procópio AURELIANO 1 & Eliseu Vieira MACHADO JR 2 RESUMO Este artigo de revisão bibliográfica sobre o tema do alcoolismo em contexto dos povos indígenas do Brasil tem como proposta coletar e analisar as principais e mais importantes publicações acadêmicas a respeito do assunto. O tema abordado é considerado de alta relevância, mesmo ainda apresentando grandes lacunas e questões em aberto, principalmente tendo em vista o impacto social. Foram identificados mais de 40 textos em publicações nacionais sobre o assunto. A metodologia utilizada foi o isolamento e comparação das informações mais significativas com as de outros trabalhos com o mesmo propósito. Por fim, os termos e assuntos mais recorrentes como o contato, o uso tradicional, a violência, o caráter coletivo de consumo, as definições sobre o alcoolismo foram agrupados e, a partir dessa abordagem, foi realizada uma análise crítica. Os termos que apareceram com menor incidência, porém considerados de igual modo relevantes, assim como as lacunas identificadas, também foram destacados na direção de contribuir para futuras investigações. Palavras-chave: alcoolismo; indígenas do Brasil; Revisão bibliográfica 1 Médico, especialista em Antropologia Intercultural. E-mail: [email protected] 2 Professor Adjunto II da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia/Facomb, da Universidade Federal de Goiás/UFG, curso de Publicidade e Propaganda. Doutor em Engenharia da Produção (Estratégia e Organizações), mestre em Administração; graduado em Administração e Engenharia Elétrica. E-mail: [email protected] Ano 4 – Volume 5 – Maio de 2012

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40 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

ARTIGO 2: Alcoolismo no contexto indígena brasileiro:

mapeamento da bibliografia nacional

Autores: André Luís Procópio AURELIANO1 & Eliseu Vieira

MACHADO JR2

RESUMO

Este artigo de revisão bibliográfica sobre o tema do alcoolismo em contexto dos

povos indígenas do Brasil tem como proposta coletar e analisar as principais e mais

importantes publicações acadêmicas a respeito do assunto. O tema abordado é

considerado de alta relevância, mesmo ainda apresentando grandes lacunas e

questões em aberto, principalmente tendo em vista o impacto social. Foram

identificados mais de 40 textos em publicações nacionais sobre o assunto. A

metodologia utilizada foi o isolamento e comparação das informações mais

significativas com as de outros trabalhos com o mesmo propósito. Por fim, os

termos e assuntos mais recorrentes como o contato, o uso tradicional, a violência, o

caráter coletivo de consumo, as definições sobre o alcoolismo foram agrupados e, a

partir dessa abordagem, foi realizada uma análise crítica. Os termos que apareceram

com menor incidência, porém considerados de igual modo relevantes, assim como as

lacunas identificadas, também foram destacados na direção de contribuir para

futuras investigações.

Palavras-chave: alcoolismo; indígenas do Brasil; Revisão bibliográfica

1 Médico, especialista em Antropologia Intercultural. E-mail:

[email protected] 2 Professor Adjunto II da Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia/Facomb, da

Universidade Federal de Goiás/UFG, curso de Publicidade e Propaganda. Doutor em

Engenharia da Produção (Estratégia e Organizações), mestre em Administração; graduado em Administração e Engenharia Elétrica. E-mail: [email protected]

Ano 4 – Volume 5 – Maio de 2012

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ABSTRACT

The proposal of this article which reviews literature connecting alcoholism and

indigenous people in Brazil is to collect and analyze the main and most important

publications on both subjects. Even though this issue is considered highly

relevant, there are still large gaps and open questions, especially when considering

the social impact. More than 40 texts on the subject were identified in national

publications. The methodology used was the isolation and comparison of more

meaningful information with other works with the same purpose. Finally, the most

frequent terms and issues such as the contact, the traditional usage, the violence, the

collective nature of consumption, and the definitions of alcoholism were grouped

and, from this approach, a critical analysis was performed. Similarly, the terms

that appeared with lower incidence, but equal relevance, were raised and the gaps

identified were highlighted for future investigation.

Keywords: alcoholism; indigenous of Brazil; literature review

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O objetivo geral desta pesquisa é realizar uma avaliação na

literatura nacional existente sobre o tema “Alcoolismo no contexto dos

povos indígenas do Brasil”. O presente texto visa a produção de uma

cartografia que demonstre o que tem sido estudado e publicado a respeito do

assunto. Os povos indígenas do Brasil têm sido alvo de estudos

antropológicos, e suas relações e interações com a sociedade nacional

despertam crescente interesse na Academia. No âmbito da saúde pública, o

problema do alcoolismo é um assunto que preocupa a sociedade brasileira

por seus agravos e consequências negativas tanto na esfera individual

quanto na coletiva (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004; PRESIDÊNCIA DA

REPÚBLICA, 2007b).

Segundo Assis (2001), o alcoolismo entre indígenas se apresenta

como tema de interesse cada vez maior às autoridades sanitárias. Com o

intuito de compreender melhor o que tem sido estudado sobre o fenômeno

do consumo de bebidas destiladas entre as etnias nativas do Brasil, o

presente trabalho foi desenvolvido propondo-se a servir como uma coleção

de dados organizados sobre a literatura e publicações produzidas até o

presente momento.

Enquanto revisão bibliográfica, a proposta metodológica é situar

a pesquisa nos trabalhos publicados em domínio nacional utilizando uma

busca nos títulos que possuem simultaneamente o termo “alcoolismo e/ou

correlatos” e “indígenas no Brasil e/ou termos correlatos”. Observa-se que

existe uma lacuna na produção científica sobre o tema alcoolismo em

populações indígenas, apesar de ser um dos mais graves problemas de saúde

que os índios enfrentam hoje no Brasil (SOUZA, 2009; SALGADO, 2001;

LANGDON, 2005). A busca em bases de dados mostrou que o trabalho

mais antigo foi publicado em 1997 (ALBUQUERQUE; SOUZA, 2001),

indicando um espaço temporal ainda restrito com relação ao tema em

epígrafe.

A observação de profissionais da área de saúde em comunidade

indígena no Estado do Amazonas, a coleta de relatos de outros profissionais

que trabalham em contexto indígena no Brasil e ainda as indicações da

literatura a respeito do assunto demonstram ser esse um tema de alta

relevância, apresentando uma problemática de complexidade e gravidade,

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que demanda um posicionamento no mínimo reflexivo diante da situação.

Apesar da proibição da venda de bebidas alcoólicas para indígenas, prevista

na lei 6001 artigo 58 do Estatuto do Índio no qual se lê constituir-se crime

“propiciar, por qualquer meio, a aquisição, o uso e a disseminação de

bebidas alcoólicas, nos grupos tribais ou entre índios não integrados”

(BRASIL, 2009, p. 10), o problema tem se agravado pelo descumprimento

da lei. Se a questão do alcoolismo é um cenário de problemáticas

multifatoriais e múltiplas variáveis em contexto não indígena, tanto mais

essa complexidade é intensificada no âmbito dos povos indígenas do Brasil

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Esse contexto dos povos nativos se

distancia da simplicidade por exibir engendrados e multiformes tentáculos

interculturais num histórico de mais de 500 anos do contato desses povos

com os colonizadores que chegaram ao Brasil a partir de 1500

(FERNANDES, 2004).

A revisão proposta está ancorada na conceituação dos dois

grandes temas que compõem este trabalho: os Povos Indígenas do Brasil e o

Alcoolismo. Será feita ainda uma sucinta descrição da importância e das

características principais do referido tema.

O objetivo específico tem em foco organizar um mapeamento da

literatura nacional disponível de modo a tornar essa sistematização uma

ferramenta disponível para pesquisadores interessados no tema.

Na próxima seção será feita a análise, descrição e comentários

das literaturas publicadas até o presente momento. Nesse processo, avaliar-

se-á a percepção dos diferentes padrões presentes, as variações de

perspectiva, propósito, metodologia, conclusões e proposições. Com as

informações coletadas e processadas, intenta-se produzir um mapa de

assuntos e ideias que versam a respeito do tema em tela. Dessa forma,

pretende-se identificar as possíveis lacunas e demandas que surgirão para

uma compreensão mais exata do assunto.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Metodologia

A presente pesquisa configura-se como exploratória, com análise

e sistematização das publicações sobre o assunto. Para encontrar as

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publicações utilizadas nesse mapeamento da literatura disponível, foram

utilizadas duas grandes fontes. A primeira foi o livro “Bibliografia Crítica

da Saúde Indígena no Brasil”, uma coleção de mais de três mil referências

bibliográficas a respeito do tema da saúde (BUCHILLET, 2007). Nesse

volume existe um índice na parte final do livro em que os assuntos foram

agrupados por tema, facilitando a identificação dos trabalhos.

A segunda fonte de material foi a Internet através da qual as

pesquisas foram orientadas por duas categorias. A primeira e menos

específica foi o site de buscas Google, e a intenção era descobrir o que

existe nas publicações não especializadas sobre o assunto. A segunda

categoria foram os sites de busca especializados em assuntos científicos,

tais como Scielo, Lilacs e Bireme. Tanto a busca na coletânea de referências

como a pesquisa na Internet constituíram-se apenas o primeiro nível de

busca.

As publicações precisavam ter no título necessariamente dois

termos definidos com detalhes descritos conforme o Quadro 1 abaixo. Os

termos foram escolhidos considerando a sua semântica e desconsiderando a

ordem em que aparecem. O primeiro termo refere-se à realidade indígena,

tendo sido aceitas expressões como ‘indígena’, ‘índio’, ‘povos nativos do

Brasil’ e termos correlatos. De semelhante modo, o nome de uma etnia

específica ou mesmo de uma região que represente um povo ou um grupo

de povos que a habitem também foram tidos como válidos. A segunda

expressão considerada foi o termo ou um grupo de termos relacionados a

bebidas alcoólicas. Dessa forma, as palavras ‘álcool’ e suas derivações

como ‘alcoolismo’ e ‘alcoolização’ foram aceitas, bem como termos de

mesmo valor semântico como ‘cachaça’, ‘beber’ no sentido de consumo de

bebidas alcoólicas e destiladas, ‘bebedeiras’, o nome de alguma bebida

tradicional e termos afins. Os povos e as questões relacionadas ao contexto

indígena foram exclusivos do âmbito brasileiro, excluindo-se trabalhos que

considerem povos indígenas de modo geral, isso é quando não se fazia

referência à abordagem de indígena no contexto do Brasil.

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Quadro 1 – Campos de Busca

Delimitações dos títulos das publicações consideradas como válidas ao presente estudo

Campo 1 Campo 2

Indígena (e termos de mesmo valor semântico) Álcool (e termos de mesmo valor semântico)

Obs: A ordem dos campos é livre.

Fonte: Elaboração Própria (2011)

O próximo nível foi a busca das referências bibliográficas

apresentadas pelos trabalhos do primeiro nível. Concluiu-se que nesse

segundo nível a quantidade de referências identificadas não era

significativa, o que pode ser compreendido pelo fato de que esse é um

assunto que tem sua publicação mais antiga há apenas 14 anos. As citações

encontradas nos textos faziam referência circular ou cruzada, o que ao final

demonstrava um número reduzido de referências bibliográficas. É

importante ressaltar que, apesar do trabalho empreendido no processo de

busca, existe uma real possibilidade de outras publicações relevantes sobre

o assunto não terem sido encontradas.

2.2. Conceitos

2.2.1. Povos indígenas – a história da atenção de saúde.

Por ocasião da chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, o

número estimado de indígenas que habitavam o Brasil era de cinco milhões.

Mais de 500 anos depois do primeiro contato, essa população foi reduzida a

cerca de 700 mil, valor esse que representa menos de 0,5% da população

brasileira (FUNASA, 2009). Do total dos indígenas no Brasil, 60% vivem

nas regiões norte e centro-oeste do país. A Amazônia Legal comporta

98,7% das terras indígenas do Brasil, o que significa dizer que os outros

40% vivem em 1,3% das terras indígenas distribuídas no restante do

território nacional. Sua representatividade cultural se expressa dentre outros

elementos em 220 povos falantes de 180 línguas e dialetos distintos

(LIDÓRIO, 2010).

Neste trabalho destaca-se que apesar de existirem muitas

peculiaridades e especificidades que distinguem as etnias entre si, elas

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podem ser consideradas como pertencentes a um mesmo conjunto definido,

pelo fato de ser uma população nativa e culturalmente diferenciada da

sociedade nacional (LANGDON, 2005).

Segundo Brasil (2009, p.2), no Estatuto do Índio, indígena é

definido como: “todo o indivíduo reconhecido como membro por uma

comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da

nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está

em contato”.

A dinâmica de distribuição dos povos indígenas no Brasil se deve

em muito ao contato com o não indígena. Os primeiros a ter contato com os

colonizadores e também os mais afetados foram os povos que habitavam o

litoral. Os que habitam os interiores da selva foram os que fizeram contato

mais recentemente (BUCHILLET, 2007). A grande maioria, isto é, 141 dos

povos têm densidades populacionais menores que 1000 pessoas e apenas 11

povos apresentam mais de 10 mil pessoas (LIDÓRIO, 2010).

Em termos de saúde, até o ano de 1991, os cuidados estavam a

cargo da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que enfrentava severos

problemas logísticos, operacionais e de recursos financeiros. A partir de

então a saúde indígena passou às mãos da Fundação Nacional de Saúde

(FUNASA), e a partir de 1999 criaram-se os Distritos Sanitários Especiais

Indígenas (DSEIs), uma espécie de braço do Ministério da Saúde

especializado nas questões Indígenas.

Segundo Lidório (2010) a população indígena do Brasil é de 616

mil indivíduos distribuídos em 340 etnias.

Diante desse cenário, destaca-se a problemática da saúde dos

povos indígenas que padeceram e ainda padecem no contato com os não

indígenas. As epidemias ocorridas ao longo do tempo foram causas

importantes da redução populacional e ainda da extinção de vários grupos

(BUCHILLET, 2007).

A expansão das frentes econômicas e diversos tipos de fontes de

atração financeira têm ameaçado a integridade do ambiente em que vivem

os índios, seus conhecimentos tradicionais e organização social. Com todo

esse sistema fragilizado, estando mais vulneráveis, várias doenças

continuam afetando essa população. De modo geral, essas condições

patológicas estão ligadas às condições precárias de vida, falta de

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saneamento, alimentação inadequada e outros agravos a que estão expostos

(BUCHILLET, 2007).

Soma-se a esse quadro o crescimento estatístico das doenças

sexualmente transmissíveis, o surgimento da AIDS e o consumo exagerado

de bebidas alcoólicas, sendo este último considerado um agravo importante

nos territórios indígenas levando a consequências como a desagregação

social, violência, suicídios etc (BUCHILLET, 2007).

2.2.2. Alcoolismo

O alcoolismo é conhecido em quase todas as culturas, sendo um

dos mais prevalentes problemas de saúde nas sociedades do mundo. Definir

alcoolismo não é tarefa fácil nem simples, sendo que sua delimitação e

definição podem ser propostas a partir de diferentes perspectivas. A

Organização Mundial de Saúde (OMS), responsável pela classificação de

doenças, refere-se a problemas no consumo e abuso do álcool e da

autodependência como síndromes (ASSIS, 2001).

No âmbito da Medicina, o alcoolismo apresenta-se como uma

soma de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do

álcool ou ainda um vício de ingestão excessiva e regular de bebidas

alcoólicas com consequências decorrentes. Não tendo uma definição

simples ou absoluta, o alcoolismo pode ser compreendido como um

conjunto de diagnósticos. Nesse conjunto existe a dependência, a

abstinência, o abuso (uso excessivo, porém não continuado) e a intoxicação

por álcool (embriaguez) (SOUZA; GARNELO, 2006).

Estudos mais recentes (SOUZA; GARNELO, 2006) têm

concluído que muitos problemas de ordem física e social com o álcool não

são causados apenas por "fraquezas individuais" ou pelo efeito de

substâncias, antes esses problemas têm sido resultados da interação do

indivíduo com o ambiente social em que ele está inserido. O ambiente

social e cultural é provavelmente uma das mais importantes influências

sobre a prática do consumo de bebidas alcoólicas, pois imprime na

sociedade o tipo de bebida a ser consumida, a maneira de beber, o local de

beber, quem pode ou não beber e como se comportar em relação as bebidas.

O ambiente inclui fatores como o que as pessoas compreendem sobre o

álcool, as regras locais sobre o consumo, origem das bebidas, ocasiões

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adequadas ou não ao consumo etc. Todos estes fatores podem causar maior

ou menor propensão para a pessoa tornar-se ou não dependente do álcool.

Soma-se a isso a história pessoal e familiar, as condições econômico-

sociais, e outros elementos da cultura relacionados ao consumo de bebidas

(SOUZA; GARNELO, 2006).

Uma perspectiva antropológica considera a interpretação do

problema do alcoolismo não em termos de uma doença e, portanto não

sendo necessariamente indicado um tratamento. Nesse sentido, surge um

questionamento das posições biologicistas, destacando a necessidade de

considerar o contexto social e cultural (SOUZA; GARNELO, 2006). O

álcool e suas influências no indivíduo ou na sociedade devem ser, portanto,

abordados como um fenômeno cultural e não como uma doença.

Nos últimos anos, o tema alcoolismo e drogas têm sido

levantados tanto em situações particularizadas, como em estudos

etnoepidemiológicos e agora, mais especificamente, dentro de um contexto

que envolve a saúde de populações indígenas, que é o tema deste trabalho

(SOUZA; GARNELO, 2006).

Os dados sobre os indígenas brasileiros indicam que 38,4%

consomem álcool e desse total, 49,7% gostariam de parar de beber, mas não

conseguem - 46% chegaram a pedir ajuda, sem sucesso. O consumo de

álcool é considerado "um grande problema" nas tribos indígenas, segundo a

Secretaria Nacional anti-Drogas (AGÊNCIA BRASIL, 2007).

A construção conceitual de cultura elaborada por Geertz (1989)

tem em seu arcabouço uma possível explicação do uso de bebidas alcoólicas

pelos indígenas. O autor propõe que a cultura está em constante

reelaboração e reinvenção a partir dos fatos históricos vividos pela

sociedade em análise. Portanto, a partir do contato interétnico, realizado há

alguns séculos segundo assevera Fernandes (2002), a relação com o álcool

pode mostrar um processo de acomodação a partir desse contato fazendo

com que essa dimensão seja incorporada à cultura desses povos.

2.2.3. Sobre revisão bibliográfica

Revisão Bibliográfica é - por definição - a busca, seleção e

registro de toda a bibliografia já publicada sobre um assunto que está sendo

pesquisado, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com

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todo o material já escrito sobre um assunto. (MARCONI e LAKATOS,

2003).

Uma revisão de bibliografia vai muito além de uma simples

coletânea de textos, artigos e referências. Esse tipo de empreendimento

científico se inicia com os passos básicos, que são muitas vezes uma

laboriosa atividade de buscar, pesquisar e garimpar literatura a respeito do

tema almejado. Tal procura pode se iniciar pelos meios mais simples e

acessíveis como a Internet. Por meio de algum site de busca, pode-se ter

contato com as primeiras referências sobre o tema a respeito do qual se

deseja ter mais informações. Ainda que pareça óbvio é importante registrar

que esse é apenas o primeiro passo de uma caminhada sobre a qual muitas

vezes não se tem uma noção exata da extensão. Essa primeira etapa deve ser

realizada com cautela e perspicácia, intentando-se desde os momentos

iniciais separar o que realmente é essencial, evitando assim desperdício de

tempo e energia (SILVA, 2001).

Na Internet, de maneira particular, deve-se haver atenção para

valorizar o que é significativo e imprescindível e o que deve ser deixado ao

longo do caminho. Diante da grande gama de links que são apresentados,

faz-se necessário escolher aqueles que tenham embasamentos acadêmicos

suficientemente sólidos para pavimentar o caminho do saber. Um

pesquisador mais experiente iniciará sua pesquisa por sites considerados

mais confiáveis, como as bases de dados de universidades, e outros sites de

boa credibilidade como Bireme, Lilacs e Scielo. É preciso não parar nesse

ponto.

Seguindo adiante, o pesquisador deverá identificar os resumos

dos artigos que mais lhe interessam e, se possível, ter acesso mesmo que on-

line à versão completa do artigo ou obra em questão. No caso de apenas o

resumo estar disponível e apresentar uma indicação de que o assunto seja

interessante, recomenda-se fortemente que se procure ter acesso ao texto na

íntegra, seja em outro site ou em bibliotecas físicas. Nesse estágio, deve-se

lançar mão de todo o tipo de material, como livros, revistas, periódicos,

jornais, anais de congressos, boletins, monografia, teses, dissertações etc.

De posse desses materiais, deve-se avançar para a fase em que,

além do acesso aos textos completos, pode-se dar atenção às fontes

bibliográficas desses textos. Essas referências indicam as literaturas que as

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embasaram e se for necessário é preciso buscar também esses trabalhos para

fundamentar de modo mais sólido as bases teóricas da pesquisa.

A análise, da mesma forma que a busca, começou como uma

ação apenas de classificação refletida em atividades como: a organização

por datas; tipo de publicação; modalidade da publicação, se artigo, se

trabalho de graduação, se dissertação de mestrado, se tese de doutorado, se

texto livre, se parte de livro, entre outros. Essa fase considerada cartesiana,

porém importante, foi feita de acordo com os aspectos julgados relevantes

pelo autor que iniciou, a partir daí, de fato, a análise propriamente dita.

A classificação dos artigos e textos funcionou como um

trampolim para a etapa seguinte, considerada a mais importante de todo o

processo: a análise crítica dos textos. Nessa fase, o autor organizou as linhas

de pensamento e ideias encontradas e ainda imprimiu uma reflexão crítica

no trabalho, manifestando-se criticamente diante das postulações

encontradas. As considerações foram embasadas em pressupostos teóricos

expostos em momento anterior ao trabalho. Esse foi o momento do trabalho

em que se destilou a essência de todo o arcabouço proposto e o autor pode

contribuir com as suas observações apresentando críticas, contestando ou

apoiando as linhas de pesquisa reunidas.

Além de manifestar sua opinião sobre os assuntos, esse foi o

momento em que o pesquisador deu atenção também às metodologias

utilizadas apontando seus pontos fracos e fortes, intentando consolidar a

busca pelas proposições mais adequadas e corretas a respeito do tema. Ato

contínuo, esboçado o mapa do assunto com suas nuances, pontos

concordantes e divergentes, fez-se necessário apontar ainda as lacunas que

surgiram e as demandas que se apresentaram no sentido de compreender

melhor o problema pesquisado. Dependendo do nível da pesquisa realizada,

o pesquisador considerou a possibilidade de em um momento seguinte

aprofundar seus estudos buscando preencher as lacunas identificadas em sua

pesquisa (SILVA, 2001).

2.3 Resultados e discussão

A revisão bibliográfica, portanto, é a organização crítica e lógica

das publicações de pensamentos e ideias a respeito de um assunto com o

objetivo de situar no espaço do saber um determinado tema, dando a ele

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uma adequada posição no universo científico, promovendo sua lapidação

em direção a uma proposta mais adequada, aprofundada e contextualizada.

Esta revisão de literatura é o resultado do processo de levantamento e

análise do que já foi publicado a respeito do assunto e do problema de

pesquisa escolhido. Tal levantamento permitirá um mapeamento do

arcabouço teórico e empírico levantado pelos especialistas da área e

relevante ao tema de pesquisa em análise.

A partir do objetivo deste trabalho, que foi o de apresentar um

mapa representativo das publicações a respeito do tema “Alcoolismo em

Contexto Indígena Brasileiro” e do processo metodológico descrito no item

anterior, será mostrada a seguir a compilação dos resultados e a discussão

crítica dos elementos encontrados.

Foram identificadas 41 referências bibliográficas que atenderam

as delimitações propostas. O trabalho com data mais antiga é de 1997

(SIMONIAN, 1997) e o mais recente é de 2010. O fato da data mais antiga

ser 1997 demonstra ser esse um assunto que só recentemente foi

considerado objeto de estudo, apesar das publicações fazerem referência ao

problema do alcoolismo desde a chegada dos colonizadores ao Brasil

(FERNANDES, 2004). A menor publicação é uma carta de apenas uma

página (SOUZA, 2007) e a mais extensa é um trabalho de doutorado com

392 páginas (FERNANDES, 2004). Os tipos de trabalho produzidos foram:

01 carta a editor de revista, 12 artigos publicados em periódicos

especializados, 12 artigos publicados em Anais de Congresso ou seminário

sobre o tema, 05 artigos de sites jornalísticos na Internet, 03 capítulos de

livro sobre o assunto, 01 livreto, 03 teses de doutorado, 02 dissertações de

mestrado e 02 monografias de graduação. Apesar de ser um assunto que

começou a ser estudado há pouco tempo, seu tema já está presente em todos

os níveis de complexidade acadêmica.

Os trabalhos foram publicados nas seguintes datas conforme o

Quadro 2:

Quadro 2 – Distribuição dos trabalhos por data de publicação

Ano Quantidade/Tipo

1997 02 Capítulos de Livro

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2000 01 Monografia de Graduação

2001 06 Artigos, 01 Monografia de Graduação, 01 Dissertação de Mestrado

2002 03 Artigos, 01 Tese de Doutorado

2003 03 Capítulos de Livro, 01 Livreto (18 páginas)

2004 01 Artigo, 01 Dissertação de Mestrado, 01 Tese de Doutorado

2005 03 Artigos

2006 01 Artigo, 01 Capítulo de livro

2007 01 Carta ao Editor, 03 Artigos, 01 Página de Internet

2008 01 Página de Internet

2009 02 Artigos, 01 Tese de Doutorado

2010 01 Artigo, 01 Seminário, 03 Páginas de Internet

Total de

Publicações 41

Fonte: Elaboração Própria (2011)

Quanto à indicação de um povo específico ou região que o

represente, observa-se que 32 trabalhos abordam um povo indígena

específico ou uma região que represente um povo ou grupo de povos e 09

trabalhos versam sobre povos indígenas de modo geral. As 32 publicações

que se referem a um povo ou a uma região podem ser divididas da seguinte

forma: 08 sobre a Região do Alto Rio Negro, no estado do Amazonas

(representa 22 etnias com algum grau de semelhanças culturais), 03 sobre os

Mbya Guarani no Rio Grande do Sul, 03 sobre os Bororo no Mato Grosso,

06 sobre os Kaingang no Paraná, 02 sobre os Terena no Mato Grosso do

Sul, 01 sobre os Potiguara na Paraíba, 01 sobre os Kayapó no Pará, 01 sobre

os Dâw também no Alto Rio Negro no Amazonas, com ênfase específica no

povo citado, 03 sobre os Karajá em Tocantins, Mato Grosso e Goiás, 01

sobre os Pankararu em Pernambuco, 01 sobre os Krahô no Tocantins e 02

sobre os Maxakali em Minas Gerais.

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53 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

A Figura 1 abaixo sintetiza as informações das 32 publicações,

indicando nas setas o nome específico do povo e a sua quantidade. Cada

seta localizará o Estado a que o povo indígena se refere.

Figura 1 – Distribuição das publicações por Etnia e Localização

Fonte: Elaboração Própria (2011)

A próxima parte da discussão se refere ao conteúdo propriamente

dito das publicações, na qual serão apresentadas as principais diferenças,

semelhanças e outros aspectos considerados relevantes. A primeira porção

de tópicos aborda os temas mais recorrentes e presentes nos referidos

trabalhos. A segunda amostra apresenta temas não tão recorrentes, mas que

foram discutidos tal o grau de relevância dos mesmos.

2.3.1. Temas mais recorrentes

2.3.1.1. O álcool e o contato

Quase metade (48%) dos trabalhos encontrados faz referência

ao fato de que as bebidas destiladas foram trazidas por indivíduos externos à

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54 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

sociedade analisada, ou seja, não faziam parte da comunidade indígena,

sendo, portanto o álcool introduzido nessas culturas após o contato. Dessa

forma, os povos com contato mais antigo experimentaram mais cedo o

impacto negativo na comunidade em que foram inseridos. O álcool foi

utilizado pelos colonizadores e conquistadores muitas vezes como

instrumento para pacificar e dominar os povos tidos como selvagens que

foram encontrados no Brasil. O pagamento com cachaça era também uma

prática recorrente em toda a história do contato (ASSIS, 2001;

FERNANDES, 2002; FERNANDES, 2004; FERREIRA, 2002;

FERREIRA, 2004; FERREIRA, 2005; KOHATSU, 2001; LANGDON,

2001; LANGDON 2005; OLIVEIRA, 2003a; OLIVEIRA, 2003b; PENA,

2006; QUILES, 2001; RIBEIRO, 2001; SIMONIAN, 1997; SOUZA;

GARNELO, 2007; SOUZA; GARNELO, 2010; SOUZA, 2004; SOUZA,

2009; VIERTLER, 2002).

2.3.1.2. As bebidas tradicionais

O uso de bebidas tradicionais anterior ao contato com o álcool é

referenciado por grande parte dos autores (31%). Eles comentam que as

bebidas eram utilizadas em contextos rituais. Tendo seu uso relacionado à

festas culturais e apresentando limites que promoviam uma prática ordenada

e organizada com o objetivo de atingir aos propósitos propostos na cultura,

tais como o apaziguamento de diferenças entre pessoas ou comunidades.

Com a chegada do álcool, ele passa a assumir um lugar na cultura indígena

antes ocupado pelas bebidas tradicionais da sua cultura, por vezes

substituindo-as completamente, em outras ocasiões convivendo

paralelamente e, ainda, chegando a ser misturado com a fórmula das

bebidas utilizadas antes do contato. A maior mistura, contudo, expressou-se

não apenas em termos físico-químicos, mas especialmente em termos

culturais. Devido as grandes diferenças entre os povos indígenas, as

manifestações culturais se expressaram algumas vezes de maneira positiva,

como sinônimo de status e prosperidade, mas em outros contextos se

apresentaram como um fator negativo, estando associados à preguiça, ao

descontrole e à fraqueza moral (ASSIS, 2001; FERNANDES, 2004;

KOHATSU, 2001; LANGDON, 2001; LANGDON, 2005; OLIVEIRA,

2003; OLIVEIRA; SOUZA; KOHATSU, 2003; QUILES; BARROS, 2001;

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55 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

RIBEIRO, 2001; SOUZA; GARRNELO, 2007; SOUZA; GARNELO;

DESLANDES, 2010; SOUZA, 2004; SOUZA, 2009).

2.3.1.3. Sobre as definições de alcoolismo

Dos trabalhos pesquisados, 48% comentam com grande

propriedade a necessidade de se propor uma definição de alcoolismo que

contemple não apenas as questões de ordem médica. Essa proposição é

baseada no fato de que em inúmeros casos os indígenas que consomem as

bebidas alcoólicas não apresentam parâmetros clínicos ou laboratoriais

clássicos dos pacientes chamados alcoólatras. Existe, portanto, uma

demanda por se expandir o campo das definições para áreas da ciência além

da medicina. Dessa forma, propõe-se que a definição de alcoolismo

contemple questões sociais e psicológicas, considere o contexto de

manifestações em cada sociedade específica e, finalmente, sejam utilizados

parâmetros culturais de cada povo. Para isso, faz-se necessário que se forme

uma equipe multidisciplinar que possua outros profissionais além do

médico, tais como: enfermeiros, sociólogos, psicólogos, antropólogos,

pedagogos, entre outros. A relevância em se alcançar uma definição que

oriente os estudos está no fato de que sem a proposta de um conceito bem

definido torna-se ainda mais complexo lidar com a questão, correndo-se o

risco de cristalizar preconceitos e estigmatizações que não contribuem com

uma abordagem adequada na busca de uma proposta de solução para o

problema. A proposta desses autores é ampliar o conceito de alcoolismo,

deslocando-o para além do contexto da medicina que se detém na questão

clínica e aproximá-lo mais dos reflexos que o álcool induz, ou seja, quais

razões levam ao consumo, quais os comportamentos que motivam essa

prática e - após esse contato - quais os outros impactos que determinam as

transformações sociais do indivíduo (AGÊNCIA BRASIL, 2008; ASSIS,

2001; FERREIRA, 2002; GRUBITS et al, 2009; GUIMARÃES;

GRUBITS, 2007; LANGDON, 2001; LANGDON, 2005; MELO;

MACIEL; NEVES, 2009; OLIVEIRA; SOUZA; KOHATSU, 2003;

QUILES; BARROS, 2001; QUILES, 2001; SALGADO, 2003; SOUZA;

GARNELO, 2006; SOUZA; GARNELO, 2007; SOUZA; GARNELO;

DESLANDES, 2010; SOUZA; SCHWEICKARDT; GARNELO, 2007;

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56 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

SOUZA, 2004; SOUZA, 2009; SOUZA; AGUIAR, 2001; VIERTLER,

2002).

2.3.1.4. Compreensão participativa

Aproximadamente um quarto (26%) dos trabalhos levanta uma

importante proposta de buscar a compreensão mais adequada da situação

com uma ativa participação dos atores da situação, isto é, com os indígenas

envolvidos na problemática do alcoolismo (FERREIRA, 2004). Almeja-se,

dessa maneira, fazer um diagnóstico participativo, através do qual se

assuma uma postura que leve em conta as percepções e opiniões do

indígena na construção de um diagnóstico que seja culturalmente

contextualizado e relevante. O objetivo dessa abordagem é, em primeiro

lugar, compreender o fenômeno a partir de uma concepção nativa, evitando,

assim, inferências e conclusões preestabelecidas e estigmatizadas. Em

seguida, o que se pretende é que os próximos passos na direção de uma

solução e intervenção tenham também o gerenciamento e o estilo

característico do povo abordado, para que as ações em favor da resolução

do problema do alcoolismo possam se tornar um projeto autóctone sendo,

portanto, gerido, sustentado e controlado pelos próprios locais, afastando-se

da postura de paternalismo e assistencialismo tão comum quando se

consideram questões relacionadas aos assuntos de assistência aos indígenas.

É importante lembrar que a intenção das propostas com relação à atuação

dos agentes externos ao contexto indígena promovam apenas ações como

facilitadores, deixando a cargo do próprio povo o chegar a conclusões

quanto às causas, consequências e possíveis ações a serem realizadas.

Poucos trabalhos chegam a discutir propostas de intervenções, por isso, na

próxima seção haverá uma ponderação mais detalhada. (AGÊNCIA

BRASIL, 2007, 2007; AGÊNCIA BRASIL, 2008; FERREIRA, 2002;

FERREIRA, 2004; FERREIRA, 2005; LANGDON 2001; LANDGON,

2005; OLIVEIRA, 2003; OLIVEIRA; SOUZA; KOHATSU, 2003; PENA,

2006; VIERTLER, 2002).

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57 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

2.3.1.5. Violência e afins

A violência e a prática sexual destituída de regras sociais

apresentam-se como um dos principais problemas relacionados ao consumo

de bebidas alcoólicas no contexto indígena brasileiro. Treze trabalhos

mostram que esse é um problema tão antigo quanto os primeiros contatos.

Os agravos à vida como a violência familiar, o suicídio, as práticas sexuais

fora das regras sociais e os acidentes são algumas das manifestações

negativas do uso do álcool apontadas pelos autores. O indivíduo que bebe é

responsável não apenas por causar danos a sua saúde, mas em muitos casos

por gerar danos à saúde dos indivíduos do seu grupo familiar e/ou do seu

convívio. A família do paciente alcoolista também sofre com o problema,

tendo consequências de ordem física, como a violência propriamente dita,

ou consequências negativas de ordem moral e social. O sexo praticado fora

das regras sociais tem aumentado o número de pacientes com DST, AIDS e

gravidez não planejada. Além desses agravos, o suicídio e os acidentes

também são responsáveis por aumentar as nefastas estatísticas sobre o tema

(FERNANDES, 2002; FERNANADES, 2004; FERREIRA, 2002;

GRUBITS et al, 2009; GUIMARÃES; GRUBITS, 2007; LANGDON,

2001; LANGDON, 2005; OLIVEIRA, 2003; OLIVEIRA; SOUZA;

KOHATSU, 2003; QUILES; BARROS, 2001; RIBEIRO, 2001;

SIMONIAN, 1997; SOUZA; GARNELO, 2007; SOUZA; GARNELO;

DESLANDES, 2010; SOUZA; SCHWEICKARDT; GARNELO, 2007;

SOUZA, 2004,; SOUZA, 2007; SOUZA, 2009; VIERTLER, 2002).

2.3.1.6. Problema de saúde pública

Dos 41 trabalhos estudados, 63% apresentam o alcoolismo em

contexto indígena como um problema de saúde pública. De fato, segundo

estudos (AGÊNCIA BRASIL, 2007, 2007), mais de 38% dos indígenas

consomem bebidas alcoólicas e assim as manifestações negativas

decorrentes dessa prática produzem agravos como os citados na seção

anterior. Levando em consideração que o consumo de bebidas alcoólicas

representa um problema não apenas para aquele que bebe, mas para as

pessoas da sua família e para o seu círculo de convívio, pode-se inferir que

esse problema de saúde pública tem manifestações com estatísticas de

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58 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

proporções mais amplas do que apenas aquelas relacionadas ao consumo,

tornando-se, dessa forma, uma questão de saúde pública, que por sua vez

demanda uma ação oficial formal com o intuito de promover a saúde da

população visando minimizar os referidos agravos (AGÊNCIA BRASIL,

2007, 2007; AGÊNCIA BRASIL, 2008; ASSIS, 2007; FERNANDES,

2004; FERREIRA, 2004; FERREIRA, 2005; GRUBITS et al, 2009,

GUIMARÃES; GRUBITS, 2007; KOHATSU, 2001; LANGDON, 2001;

LANGDON, 2005; OLIVEIRA, 2001; OLIVEIRA, 2003; OLIVEIRA;

SOUZA; KOHATSU, 2003; QUILES; BARROS, 2001; QUILES, 2001;

RAUBERT, 2010; SALGADO, 2003; SOUZA, 2005; SOUZA;

GARNELO, 2006; SOUZA; SCHEWEICKARDT; GARNELO, 2007;

SOUZA, 2007; SOUZA, 2009; SOUZA; AGUIAR, 2001; VIERTLER,

2002).

2.3.1.7. O coletivo

Uma das mais importantes características apresentadas pelos

trabalhos (29%) é o âmbito coletivo de consumo das bebidas alcoólicas no

contexto indígena. As publicações que versam sobre o assunto afirmam que

esse caráter de conjunto é um fenômeno que acontece em todas as etnias

estudadas, sendo raros e muito incomuns os casos em que se observa o

consumo individualizado. A essa informação pode-se - por indução - inferir

que se o consumo é um evento coletivo, muito provavelmente o não

consumo também o será, por força do presente sentimento de coletividade

observado nas comunidades indígenas. Ter esse conceito em mente é

importante quando da proposição de intervenções em busca de soluções

para o problema do alcoolismo (KOHATSU, 2001; LANGDON, 2001;

LANGDON, 2005; OLIVEIRA, 2003; OLIVEIRA; SOUZA; KOHATSU,

2003; QUILES; BARROS, 2001; QUILES, 2001; RIBEIRO, 2001;

SOUZA; GARNELO, 2007; SOUZA; GARNELO; DESLANDES, 2010;

SOUZA, 2004; SOUZA, 2009).

O Quadro 3 sintetiza os percentuais dos temas mais recorrentes:

Quadro 3 – Síntese dos percentuais dos temas mais recorrentes

Temas Percentual

O Álcool e o Contato 48 %

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59 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

Bebidas tradicionais 31 %

Sobre as Definições de Alcoolismo 48 %

Compreensão Participativa 26 %

Violência e Afins 31%

Problemática da Saúde Pública 63%

O Coletivo 29%

Fonte: Elaboração Própria (2011)

2.3.2. Tópicos menos recorrentes, mas de relevância.

2.3.2.1 Os profissionais de saúde

Apenas um trabalho tem como foco da sua discussão a

perspectiva e visão dos profissionais da saúde. Esse, contudo, é um tema

que merece receber mais atenção, pois ainda que sejam desenvolvidos

complexos e profundos estudos, e ainda que se proponham métodos

eficazes, é importante lembrar que enquanto problema de saúde pública, os

profissionais de saúde que trabalham no dia a dia com a população indígena

serão a parte do sistema que entrará em contato diretamente com o público-

alvo, sendo elementos de suma importância no processo de intervenção.

Diante disso, é preciso capacitar e treinar esses profissionais para que suas

ações sejam efetivas, culturalmente relevantes e tenham uma práxis com

consciência das suas ações, evitando assim que os que fazem a

operacionalização e que por isso estão em contato direto com a população

indígena não se tornem o elo fraco da corrente (MELO; MACIEL; NEVES,

2004).

2.3.2.2 Perspectiva histórica

Um número reduzido de trabalhos (10%) tem uma ênfase

específica nas questões históricas. De modo singular, os que abordam essa

questão trazem interessantes informações que desafiam o senso comum.

Longe dos habituais conceitos que tratam o indígena como incapaz e

tutelado, esses trabalhos propõem que alguns povos indígenas tiveram

participação ativa na assimilação das bebidas alcoólicas e estão longe de

serem vítimas de ações de imposição. O que esses trabalhos, com enfoque

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60 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

de historiadores, propõem é que os povos que entraram em contato com as

bebidas destiladas tinham consciência e competência para avaliar e decidir

se deveriam ou não introduzir o álcool em seu contexto cultural. Essa é uma

perspectiva interessante, a partir da qual vale a pena refletir e reconsiderar

alguns pensamentos a respeito da relação entre povos indígenas e o álcool

(FERNANDES, 2002; FERNANDES, 2004; PENA, 2002; RIBEIRO,

2001).

2.3.2.3 Questão jurídica

Apesar do Estatuto do Índio (BRASIL, 2001), Lei nº 6.001, de

19 de dezembro de 1973, no seu artigo 58, versar sobre a proibição de

entrada de bebidas alcoólicas em área indígena, nenhum trabalho se dedicou

ao aprofundamento desse tema, por isso ainda é uma lacuna a ser

preenchida por outras publicações.

2.3.3. A característica cíclica das pesquisas

A partir das observações das propostas dos diferentes trabalhos

de referência, pode-se propor um esquema cíclico com potencial de

aplicação no contexto da saúde indígena no que diz respeito ao alcoolismo.

A proposição desse diagrama é uma expressão da necessidade e, portanto,

da carência de prosseguimento dos trabalhos apresentados. Esse problema

pode estar presente pelo fato de ser esse, ainda, um assunto novo no meio

acadêmico, demonstrado pela idade do trabalho mais antigo, com apenas 14

anos, ou mesmo por terem sido eleitos os enfoques propostos pelos autores,

valorizando mais as etapas de análise e menos as fases de propostas de

intervenção. A sugestão desse processo circular envolve as seguintes fases:

1º. Mapeamento estatístico cultural da situação.

Nesse ponto, cinco trabalhos atingem o alvo

(AGÊNCIA BRASIL, 2007, 2007; GRUBITS et al

2009; GUIMARÃES; GRUBITS, 2007; OLIVEIRA,

2003; SALGADO, 2003.). Essa deve ser a primeira

etapa que em paralelo com a segunda procura

mensurar estatística e epidemiologicamente o

problema, sendo de vital importância, pois sem essa

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61 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

mensuração não se pode realizar uma comparação

relevante para avaliação de metas;

2º. Identificação da problemática. Essa é a etapa da

identificação qualitativa do problema em que a

questão do alcoolismo deve ser avaliada de modo

particularizado no contexto estudado, a fim de

identificar as características específicas do problema

no povo ou comunidade em questão;

3º. Geração de Alternativas;

4º. Escolha da (s) melhor (es) alternativas no

contexto cultural (FERREIRA, 2002; FERREIRA,

2004; FERREIRA, 2005; OLIVEIRA, 2001;

OLIVEIRA 2003). Os estágios 3º e 4º caminham

junto com o primeiro em busca de um diagnóstico

participativo já identificado e detalhado

anteriormente. Nesse estágio, a população envolvida

no problema produzirá e escolherá as alternativas e

soluções que lhes pareçam mais adequadas ao seu

contexto.

5º. Construção de um Plano de Ação ;

6º. Implementação do Plano de Ação com as

propostas de intervenção (ARAÚJO, 2010;

CARVALHO, 2010; FERREIRA, 2004; OLIVEIRA,

2003a; OLIVEIRA, 2003b; SALGADO, 2003). Um

número mais reduzido de autores se dedica a essa

fase, contudo ela é o início de uma proposta

plausível no sentido de se alcançar uma solução para

a problemática.

7º. Reavaliação e Feedback. Apenas dois trabalhos

se dedicam a essa parte do estágio (FERREIRA,

2004; SALGADO, 2003). Compreende-se que o

fenômeno se deve ao fato de que as ações nesse

campo ainda são muito recentes, e que o estágio de

avaliação exige certo nível de progresso das

abordagens. No entanto, essa fase do ciclo não é

menos importante, pois nela o trabalho realizado

para resolver o problema do alcoolismo será avaliado

quanto a sua eficácia.

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62 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

Relevante ainda é lembrar que o processo proposto é um ciclo e

que atingindo esse estágio deve-se retornar em espiral ao estágio 4º, no qual

provavelmente será necessário testar a alternativa. Caso nenhuma tenha

êxito, retorna-se a estágios anteriores para buscar mais opções (3º.), com a

reidentificação da problemática (caso as novas opções não sejam eficazes),

ou finalmente volte ao estágio 1º, reavaliando o diagnóstico e tentando

incorporar mais elementos a fim de alcançar cenários mais exatos. Esse

estágio tem a função de mensurar se o problema foi resolvido, ou seja, se o

processo foi eficaz, assim, se os objetivos desejados não foram alcançados,

é preciso reconstruir o ciclo até obter êxito.

A Figura 2 abaixo esboça o modelo cíclico proposto.

Figura 2 – Modelo Cíclico Proposto

Fonte: Elaboração Própria (2011)

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63 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema do alcoolismo no contexto dos povos indígenas do Brasil

ainda é um assunto pouco estudado na Academia. Apesar do trabalho mais

antigo a respeito ter sido publicado há apenas 14 anos, nesse período de

tempo, considerado breve na cronologia das ciências que se dedicam ao

estudo do fenômeno do consumo das bebidas alcoólicas no contexto dos

povos nativos do Brasil, pode-se, contudo, identificar alguns temas

recorrentes nas publicações. Esses assuntos que repetidas vezes são citados

e observados pelos autores podem ser considerados como importantes

princípios norteadores para futuras pesquisas na mesma direção.

Mesmo sabendo que existe uma miríade de características

peculiares a cada povo, os estudos mostram que alguns pontos indicam

similaridades como, por exemplo, no que diz respeito ao consumo coletivo

do álcool. Essas semelhanças devem ser consideradas com atenção, pois,

adequadamente instrumentalizadas, podem servir como uma ferramenta útil

nas intervenções de combate e prevenção ao alcoolismo entre os indígenas

do Brasil.

Os assuntos que mais vezes apareceram nas publicações foram:

1) o álcool é uma substância exógena às culturas tradicionais dos povos

nativos brasileiros e foi introduzido no contato com os não indígenas; 2) as

bebidas tradicionais fermentadas já eram conhecidas e utilizadas pelos

indígenas antes da chegada dos não indígenas e a chegada do álcool levou a

uma ressignificação do uso dessas bebidas com novos elementos culturais

que mesclaram as bebidas destiladas e as fermentadas; 3) o conceito de

alcoolismo não deve ser restrito ao campo da medicina, por se tratar de um

fenômeno com características a respeito do qual as ciências da saúde

necessitam de outras áreas para explicá-lo. É preciso, para defini-lo, contar

com as ciências do campo das humanidades como a Antropologia,

Psicologia, Sociologia e afins; 4) a compreensão participativa é apontada

como uma prática que não só pode cooperar para o melhor entendimento da

questão como tem um grande potencial de levar as intervenções a êxito,

pois produz empoderamento aos próprios indígenas, tornando-os agentes

ativos do processo; 5) violência é ponto comum e muito recorrente nos

textos. A relação do alcoolismo com violência doméstica, acidentes,

suicídio e práticas sexuais fora dos padrões culturais; 6) problema de saúde

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64 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

pública – os trabalhos indicam que o alcoolismo é um problema de saúde

endêmico demandando ação planejada e intencional do poder público

competente; e, 7) coletividade – o consumo de bebidas destiladas no

contexto indígena do Brasil é feito em grupo. Esse deve ser um princípio

norteador para as ações de intervenção que necessitam valorizar as

atividades que envolvem a coletividade.

Outras importantes observações devem ser consideradas, ainda

que os temas não tenham se apresentado de modo tão recorrente,

demonstrando que essa é, ainda, uma lacuna a ser preenchida: 1)

profissionais de saúde – apenas um trabalho procurou abordar a perspectiva

dos profissionais de saúde que lidam com os indígenas. Esse deve ser um

ponto de atenção, pois eles são os profissionais que têm contato direto e

ativo com os pacientes e suas famílias. Por isso, devem ser capacitados e

suas ações devem ter uma práxis consciente e efetiva; 2) a história – apenas

dois autores indicaram uma visão distinta do lugar comum quanto a

capacidade de avaliação dos indígenas de tomar decisão no que diz respeito

a introdução do álcool em sua cultura. Esse deve ser um ponto a considerar,

pois aborda o indígena não como uma vítima, mas como um participante

ativo do processo alguém que tem poder para decidir, aceitar ou recusar a

circulação e consumo de bebidas em sua cultura; e, 3) questão jurídica –

nenhum dos trabalhos relacionados tem o foco específico na questão da

proibição da entrada de bebidas alcoólicas em território indígena, apesar de

ser esse um ponto importante do problema e de fundamental influência num

movimento em direção ao combate e prevenção do alcoolismo.

Consciente de que uma revisão bibliográfica ainda que feita com

grande esmero e dedicação tenha o risco de ter deixado de identificar

alguma publicação relevante para o conteúdo deste trabalho, considera-se

que tem o seu valor a todos os que se interessam pelo assunto da saúde dos

povos indígenas, lembrando que esse tema é ainda pouco explorado e que

apresenta lacunas a serem preenchidas. Essa pesquisa pode oferecer mais

um passo na direção da melhoria das condições de vida dos povos indígenas

do Brasil.

Como resultado de reflexões a respeito deste trabalho, propõem-

se algumas sugestões para futuros trabalhos similares.

No que diz respeito à abordagem metodológica para orientar os

pesquisadores: relacionar nas buscas o termo alcoolismo com o nome das

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65 | Revista de Antropologia – Ano 4 – Volume 5

etnias com maior população no Brasil. Isto é, no primeiro campo, o termo

será alcoolismo e no segundo campo, o termo será intencionalmente o nome

de uma das 13 etnias que possuem mais de dez mil habitantes (LIDÓRIO,

2010).

Quanto à questão jurídica, por não terem sido identificados

trabalhos que se detenham a esse tema, propõe-se que seja desenvolvida

uma pesquisa que explore o tópico.

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4. REFERÊNCIAS

ACIOLI, M. D. O processo de alcoolização entre os Pankararu. Tese

(Doutorado em Saúde Coletiva). Faculdade de Ciências Médica, Curso de

Pós Graduação em Saúde Coletiva. Campinas: Universidade Estadual de

Campinas, 2002.

AGÊNCIA BRASIL. Consumo de álcool entre Indígenas. Brasil, 2008.

Disponível em:

<http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/01/18/materia.2008-

0118.2607511157/view>. Acesso em: 23 jan. 2011.

AGÊNCIA BRASIL. Estudo aponta que 38% dos índios brasileiros

consomem álcool.Brasil, 2007. Disponível em:

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