articulaÇÃo conceitual integrada para aplicaÇÃo de
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ARTICULAÇÃO CONCEITUAL
INTEGRADA PARA APLICAÇÃO DE
FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS NO
PROJETO DE SITUAÇÕES
PRODUTIVAS
Rosane da Costa Alves Ferreira (UFSCar)
Daniel Braatz (UFSCar)
O artigo pretende estudar a aplicação de ferramentas computacionais
no processo de projeto de situações produtivas de forma a obter uma
série de resultados, como melhoria do fluxo produtivo, melhor
aproveitamento das áreas fabris, identificação de gargalos, aumento
efetivo da produtividade e melhoria das condições de trabalho. Desta
forma, o objetivo desse trabalho é propor uma articulação conceitual
para orientar a aplicação destas ferramentas no processo de projeto de
situações produtivas, desde um nível macro (layout de uma planta
industrial) até um nível micro (projeto de uma estação de trabalho),
discutindo suas vantagens e desvantagens. Para este estudo foi
utilizada a metodologia grounded theory, em que a construção da
teoria é desenvolvida a partir de dados baseados na realidade. A partir
deste método, foram consideradas três grandes áreas da engenharia de
produção: Projeto do Trabalho, Ergonomia e Projeto de Instalações
Industriais. Realizou-se então uma análise das ferramentas
computacionais utilizadas em projetos de situações produtivas, sendo
selecionadas e analisadas as seguintes: CAD, Simulação Humana
Digital, Simulação de Eventos Discretos e Game Engine. Os resultados
obtidos a partir da utilização destas tecnologias foram analisados
assim como a articulação entre elas. O artigo conclui que a
incorporação dos softwares no processo de projeto pode trazer ganhos
em relação ao tempo de desenvolvimento, antecipação de problemas
futuros do sistema produtivo, concepção mais participativa, auxílio à
tomada de decisão e, por fim, em projetos que equacionem melhor as
questões relacionadas às atividades dos trabalhadores e à
produtividade da empresa.
Palavras-chave: Projeto de Instalações, Projeto do Trabalho,
Ergonomia, Ferramentas Computacionais, Simulação.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
O planejamento de instalações é um processo dinâmico ao longo do tempo. A metodologia
continua a mudar na medida em que a tecnologia evolui e novas abordagens são
desenvolvidas. No competitivo mercado global dos dias de hoje, o planejamento de
instalações é uma estratégia (TOMPKINS et al., 2013).
O tempo despendido no planejamento do arranjo físico antes de sua implantação evita que as
perdas assumam grandes proporções, ou seja, o mal planejamento acarretaria perda de tempo,
ociosidade de equipamentos e interrupção no trabalho dos funcionários (MUTHER, 1978).
Segundo Torres (2007), a construção de alternativas de arranjo físico é um processo de
decisão iterativo e interativo em que só se conhece os detalhes do problema à medida que o
projeto é executado. Neste sentido, a inserção de ferramentas computacionais pode auxiliar na
geração de alternativas de arranjo físico, na documentação de restrições e na análise de
alternativas geradas durante o projeto.
Com a evolução constante de produtos, processos e sistemas de produção, as indústrias
precisam lidar eficazmente com seu sistema de manufatura. O conceito de um quadro
integrado pode apoiar a interoperabilidade entre ferramentas e fábrica digital e pode mostrar
como ela beneficia os processos de negócio ao longo de todo o ciclo de vida da fábrica
(TOLIO et al., 2013). Uma plataforma de design de sistema eficiente e eficaz pode ter um
impacto relevante sobre a rentabilidade das indústrias que enfrentam esses desafios
(COLLEDANI et al, 2013).
Através da utilização de ferramentas computacionais é possível a análise da interação entre
uma pessoa e o local onde desenvolve suas atividades de trabalho, inclusive aspectos
dinâmicos da execução da tarefa (TORRES, 2007). Além disso, é possível identificar posturas
e movimentos que ofereçam riscos à saúde do trabalhador pela análise e observação de postos
de trabalho (BRAATZ et al., 2012).
Desta forma, o objetivo desse trabalho é propor uma articulação conceitual para orientar a
aplicação de ferramentas computacionais no processo de projeto de situações produtivas,
desde um nível macro (layout de uma planta industrial) até um nível micro (projeto de uma
estação de trabalho), discutindo suas vantagens e desvantagens.
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2. Método
O artigo se utiliza da metodologia grounded theory que se estrutura na construção da teoria a
partir de dados baseados na realidade. Esta metodologia de pesquisa, segundo Tarozzi (2011),
encontra-se entre a teoria especulativa e a pesquisa empírica; o autor cita quatro
características que considera fundamentais deste método: aderência aos dados (informações);
relevância; capacidade de funcionar; e, habilidade de modificar-se no tempo.
Para Roesch (2005), a formulação de interpretações teóricas de dados baseados na realidade é
um meio eficaz para seu entendimento e para o desenvolvimento de estratégias de ação e
medidas de controle. Roesch (2005, p. 172) apresenta um roteiro de procedimentos para a
análise de dados qualitativos via grounded theory. De forma simplificada as etapas são:
a) Leia com atenção os depoimentos, notas ou textos que pretende interpretar;
b) Analise e destaque elementos principais;
c) Formule conceitos que representem tais unidades;
d) Elabore uma categorização dos conceitos que representam o mesmo fenômeno;
e) Identifique algumas propriedades destas categorias;
f) Identifique as dimensões de cada propriedade ao longo de um continuum;
g) Busque padrões nos casos analisados (semelhanças e diferenças);
h) Procure levantar algumas hipóteses para futuros estudos.
Com base neste roteiro, o percurso da presente pesquisa foi estruturado nas seguintes etapas:
a) Levantamento das experiências relacionadas a projetos de situações produtivas;
b) Análise e seleção das principais referências teóricas, de métodos e ferramentas
aplicadas;
c) Definição dos conceitos e disciplinas teóricas envolvidas;
d) Categorização das ferramentas computacionais levantadas e observadas;
e) Identificação de propriedades das ferramentas em termos de abordagem de análise
(continuum macro - micro) e representação gráfica (continuum realista – idealista);
f) Posicionamento das ferramentas dentro das propriedades estabelecidas;
g) Propor uma articulação conceitual (framework);
h) Hipóteses para futuros estudos.
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3. Desenvolvimento Teórico Conceitual
A partir da metodologia proposta para a presente pesquisa foram levantadas as experiências e
selecionados os conceitos fundamentais do processo sob estudo: projeto de situações
produtivas. Estes conceitos são analisados no primeiro subtópico. No segundo subtópico são
apresentadas as categorias propostas das ferramentas computacionais presentes nos dados
levantados. E, por fim, no último subtópico, é proposta a articulação integrada para aplicação
dos conceitos e técnicas em processos de projeto de situações produtivas.
3.1 Referenciais Conceituais e Metodológicos
O planejamento, projeto e implantação de uma unidade produtiva mobiliza um grande número
de campos teóricos e práticos. Para esta pesquisa foram consideradas três grandes áreas da
engenharia de produção (disciplinas que compõe o currículo de formação do engenheiro de
produção): o Projeto do Trabalho, a Ergonomia e o Projeto de Instalações (também conhecido
como Projeto de Fábrica ou Projeto de Arranjo Físico). Tais áreas se destacam e estão
presentes nos desenvolvimentos de Torres (2007), Braatz (2009), Braatz et al. (2012), Braatz
et al. (2011) e Fontes et al. (2014). A seguir são apresentadas estas áreas do conhecimento.
3.1.1 Projeto do trabalho
A abordagem tradicional da engenharia se caracteriza como top-down, ou seja, descendente.
À priori, são definidas as opções técnicas, os fluxos principais e seus gargalos e apenas nas
etapas finais de concepção são consideradas as necessidades dos futuros usuários (DUARTE,
2002). Esta perspectiva está ligada diretamente ao projeto do trabalho e à forma como a
engenharia de produção (principal responsável por estudar e desenvolver métodos para tal) se
relaciona com o projeto de sistemas produtivos. Neste sentido, Barnes (1977) apresenta os
termos “projeto do trabalho” e “estudo de trabalho” como sugestões dadas para serem
utilizadas no lugar de “estudo de movimentos e de tempos”. Segundo este autor, o estudo
sistemático dos sistemas de trabalho tem com objetivo desenvolver o sistema e o método
preferido, usualmente de menor custo e de forma padronizada; determinar o tempo gasto em
uma tarefa por um operador qualificado e treinado, trabalhando em ritmo normal e, por fim,
orientar o treinamento do trabalhador. Tal abordagem, no entanto, não mostrou-se
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devidamente eficaz, principalmente por desconsiderar a variabilidade do trabalho e a
complexidade do fator humano. Neste sentido, a disciplina da ergonomia busca compreender
tais fatores com o objetivo de projetar e transformar o trabalho.
3.1.2 Ergonomia
Para Duarte (2002), a ergonomia é uma das vias para que a engenharia possua êxito em
projetos de interfaces homem máquinas e de postos de trabalho. Neste sentido, Béguin (2008)
propõe uma “concepção inovadora” que articula a inventividade dos operadores e a dos
projetistas de forma a incorporar a atividade futura de forma participativa.
Segundo Fontes et al. (2014), para intervir, o ergonomista deve aplicar métodos de abordagem
para a atividade futura, que diferem da análise do trabalho real. Entretanto, é um desafio
avaliar em que medida as escolhas de projeto conseguirão facilitar a implementação de
métodos operacionais compatíveis com o critério escolhido em termos de saúde, eficiência
produtiva, desenvolvimento pessoal e trabalho coletivo. Assim, a abordagem da atividade
futura consiste em prever a margem de manobra de projeto que considere modos operatórios
futuros (DANIELLOU, 2007).
A ergonomia, desta forma, subverte a abordagem clássica de projeto, ao incorporar uma
perspectiva bottom-up (ou ascendente) na qual a atividade dos trabalhadores é o elemento
estruturante da análise e do projeto.
3.1.3 Projeto de instalações
O projeto de instalações produtivas possui várias definições. Olivério (1985) usa a expressão
“projeto de fábrica” e define como o projeto total do empreendimento, em que todas as etapas
do levantamento de capital até o levantamento dos equipamentos a serem utilizados são
considerados.
Valle (1975) defende algo semelhante com o termo “implantação de indústrias” a qual
engloba todas as atividades e decisões necessárias à sua plena consolidação. Segundo Olivério
(1985), o planejamento de uma unidade produtiva é um estudo sistemático que procura uma
combinação ótima das instalações industriais que concorrem para a produção, dentro de um
espaço disponível.
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Para Muther (1978), se não forem considerados fatores importantes, como áreas ocupadas por
equipamentos, espaços necessários para a operação e manutenção, entre outros, a implantação
do projeto de instalações pode ter resultados desagradáveis e danosos.
3.2. Ferramentas Computacionais
Devido às oscilações dos mercados em relação a novos produtos e necessidade, os sistemas
produtivos se tornaram mais flexíveis, o que demandou adoção de técnicas de projeto
diferentes, pois a maior parte dos custos é definida nesta etapa.
Neste trabalho é aplicada a classificação de Torres (2007) que considera três principais tipos
de programas computacionais mais utilizados no desenvolvimento de plantas industriais:
Desenho Auxiliado por Computador (CAD – Computer Aided Design); Simulação de
Sistemas de Eventos Discretos; e, Simulação Humana Digital. Nesta pesquisa adiciona-se
uma ferramenta, ainda em fase de testes, mas que apresenta um grande potencial para auxiliar
o projeto de situações produtivas: as game engines.
3.2.1 Ferramentas CAD
Pahl et al. (2005) elencam uma diversidade de programas computacionais que auxiliam o
projeto de engenharia. Tais sistemas são úteis, segundo os autores, para diversos fins,
incluindo: desenhos de figuras geométricas e de estruturas; apoio ao desenho industrial;
construção e alteração de modelos geométricos; simulações de movimentos ou processos de
trabalho; e, disponibilização de informações.
Torres (2007) lista uma série de funções desejáveis para que um sistema CAD auxilie o
projeto de instalações industriais. Entre as características apontadas, destaca-se algumas:
criação de desenhos; suporte tridimensional; capacidade de reutilização de elementos gráficos
já existentes; e, integração via dados ou programática.
Destaca-se que as ferramentas CAD fazem parte do ferramental básico do engenheiro, em
especial àqueles envolvidos com projetos de produtos, processos, postos de trabalho (ver
Figura 1) ou instalações. No entanto, da mesma forma que tais sistemas em sua maioria
apresentam um alto grau de generalidade, eles não dão suporte para análises específicas ou
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representações idealizadas. Por esta razão são apresentadas a seguir outras ferramentas que
podem auxiliar no projeto de situações produtivas.
Figura 1 – Exemplo de projeto de posto de trabalho em CAD 3D
Fonte: BRAATZ (2009).
3.2.2 Simulação Humana Digital
Segundo Torres (2007), uma forma de representação associada ao nível micro, ou seja, ao
projeto de uma estação de trabalho é a simulação humana digital. Essas ferramentas analisam
os aspectos dinâmicos da execução da tarefa (movimentos, velocidade) e possuem
funcionalidades para analisar a interação entre uma pessoa (representada por um modelo
tridimensional) e o local onde desenvolve suas atividades de trabalho.
O uso de modelagem e simulação humana durante o projeto, combinado com as decisões
baseadas em diagnósticos ergonômicos, é um aliado importante para melhorar a qualidade dos
resultados de intervenções ergonômicas (FONTES et al., 2014).
Braatz (2009) afirma que a ergonomia, com o apoio da simulação humana digital, deve
influenciar os processos de projeto, para favorecer uma concepção das situações de trabalho
eficaz e compatível com o bem-estar dos trabalhadores e produtividade da empresa, através de
uma ação precoce e ampla.
As ferramentas mais avançadas como o Jack e o Delmia permitem analisar o posto de trabalho
sob o ponto de visão do manequim e os limites de alcance corporais e análise de esforços
(TORRES, 2007). Os modelos humanos são úteis ao projeto de produto e de situações
produtivas, sendo capazes de representar uma população ou um indivíduo específico
(BRAATZ, 2009). A Figura 2 apresenta um exemplo de aplicação.
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Figura 2 – Exemplo de simulação humana digital
Fonte: FONTES et al. (2014).
3.2.3 Simulação de Eventos Discretos
Simulação é o processo de projetar e criar um modelo em computador de um sistema real ou
proposto, com o intuito de conduzir experimentos numéricos para fornecer uma melhor
compreensão do comportamento do sistema, dada uma série de restrições (KELTON,
SADOWSKI E SADOWKY, 1998 apud SILVA, ALVES e COSTA, 2011).
Pegden, Shannon e Sadowski (1991) e Banks (2010) listam algumas vantagens da simulação
tais como a possibilidade de se utilizar o modelo inúmeras vezes para avaliar projetos e
políticas propostas; a possibilidade de se avaliar sistemas ainda não existentes, mesmo que os
dados de entrada sejam rudimentares; e a possibilidade de identificação de gargalos, que é a
maior preocupação no gerenciamento operacional de inúmeros sistemas.
Por outro lado, as desvantagens referem-se à necessidade de conhecimento específico do
software utilizado, ao tempo requerido para a elaboração dos modelos e à difícil interpretação
dos resultados fornecidos.
Existem, atualmente, diversos simuladores disponíveis no mercado, dentre os quais pode-se
destacar: Automod, Arena, FlexSim, ProModel, Witness e Quest. As principais diferenças
entre eles estão no suporte à: visualização 3D; facilidade de programação, tratamento de
dados estatísticos, animação dos processos (representação de pessoas e movimentadores); e,
relatórios gerados. A Figura 3 ilustra uma simulação desenvolvida no FlexSim.
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Figura 3 – Exemplo de simulação aplicando o software FlexSim
Fonte: Flexsim (2015)
3.2.4 Game Engine
A visualização 2D de layouts possui sérias restrições, comprometendo a compreensão e
participação de profissionais que não sejam engenheiros ou projetistas. No ambiente virtual
tridimensional, tais restrições são minimizadas e podendo-se mais facilmente analisar um
cenário futuro da fábrica e permitindo que alguns problemas possam ser antecipados (como
questões de segurança, largura de corredores e outros problemas de layout) (IQBAL,
HASHIMI, 2001).
As aplicações de ferramentas são apoiadas por uma dimensão técnica, ou seja, tempo para
modelagem, qualidade gráfica de modelos e avalição de desempenho e uma dimensão social,
em que envolve-se a comunicação e a compreensão dos profissionais envolvidos. A difusão
das novas tecnologias relacionadas com a indústria dos jogos eletrônicos (setor de
entretenimento) permite novas aplicações e oportunidades para a área de engenharia de
produção (BRAATZ et al., 2011).
Este ferramental substitui o uso de softwares de renderização tridimensional - como por
exemplo o 3D Studio Max - e adiciona novas possibilidades na apresentação e interação com
situações produtivas em projeto. Esta tecnologia também diminui a necessidade de maquetes,
modelos físicos, muito comuns nas décadas de 1960, 70 e 80 (anterior à difusão da
computação gráfica), mas que ainda são úteis por facilitarem a compreensão do projeto e
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auxiliarem na comunicação e participação dos atores envolvidos no processo. A Figura 4
ilustra uma instalação produtiva representada em game engine.
Figura 4 – Exemplo de cenário virtual usando Game Engine
Fonte: BRAATZ et al. (2011).
3.3 Proposta de Articulação Conceitual Integrada de Ferramentas Computacionais
Com base na metodologia utilizada nesta pesquisa, propõe-se a partir dos conceitos e
classificações anteriormente definidas, uma articulação conceitual que dê suporte para as
atividades relacionadas ao projeto de situações produtivas. Tal articulação traz uma série de
referências teóricas e metodológicas da engenharia de produção, com destaque para as áreas
de conhecimentos relacionadas ao Projeto do Trabalho, Ergonomia e Projeto de Instalações.
A partir das questões conceituais teóricas, busca-se a operacionalização destas através de
técnicas e ferramentas computacionais; considerando os eixos norteadores: a) “perspectivas
macro-micro” de análise e projeto e, b) representação gráfica “realista-idealista”. As
ferramentas que compõe tal articulação, até o momento, são: CAD (2D e 3D); Simulação de
Eventos Discretos; Simulação Humana Digital; e, Game Engine.
O objetivo deste framework é o desenvolvimento de um projeto conceitual de uma situação
produtiva (desde um posto de trabalho até uma nova planta industrial) de forma a incorporar
não só as questões de bem-estar, segurança, conforto e saúde, mas também, as questões de
qualidade, produtividade, eficiência, entre outras. A Figura 5 ilustra a articulação proposta.
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Figura 5 – Articulação conceitual de ferramentas computacionais
Ferramentas Computacionais
Projeto de Situações
Produtivas
Simulação de Eventos Discretos
Game Engine
Simulação Humana Digital
CAD 2D e 3D
Projeto do Trabalho
Ergonomia
Projeto de Instalações
Projeto Conceitual Validado
Referências Teóricas e
Metodológicas
Importante ressaltar que tanto as referências teóricas quanto as ferramentas incluídas neste
framework não são as únicas possíveis e nem representam a melhor configuração possível.
Dentro da perspectiva metodológica qualitativa deste trabalho (grounded theory), o que se
busca é contribuir teoricamente com uma interpretação racional e sistemática da experiência
prática com os conhecimentos adquiridos nesta área fundamental da engenharia de produção.
4. Análise dos resultados da aplicação das ferramentas computacionais
A partir da aplicação das ferramentas computacionais em projetos de unidades produtivas,
pode-se analisar os resultados alcançados nas quatro categorias definidas: CAD; Simulação
Humana Digital; Simulação de Eventos Discretos; e, Game Engine.
A aplicação da ferramenta CAD 2D e 3D em projetos possui vantagens bastante conhecidas,
como a flexibilidade de uso, precisão dimensional e larga difusão. Porém, um aspecto
negativo que pode ser apontado na ferramenta é alta complexidade de manuseio e difícil
compreensão dos projetos, devido aos simbolismos utilizados e abstração necessária.
Nos termos de abordagem (continuum macro - micro) e representação gráfica (continuum
realista – idealista), o CAD permite uma compreensão mediana do macro ao micro, mas uma
representação que fica limitada à realista (grande precisão e nível de detalhe dos projetos
elaborados).
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A aplicação da simulação humana digital, em apoio às análises ergonômicas e projetos,
reforça a necessidade de integração do CAD com outras ferramentas, viabilizando a
construção de simulações estáticas com relativo baixo esforço.
Entretanto, nota-se uma grande dificuldade na realização de simulações dinâmicas e de longa
duração. Além disso, devido aos módulos de ergonomia não serem tão difundidos, encontra-
se barreiras no aprendizado da ferramenta durante o projeto para o desenvolvimento da
simulação. Tal ferramenta, por atuar integrada ao CAD possui uma representação gráfica
realista e incorpora com sucesso análises da perspectiva micro.
Para a simulação de processos produtivos, a utilização de softwares de eventos discretos
proporciona resultados importantes no dimensionamento e antecipação do funcionamento das
futuras instalações. Este ferramental permite um alto nível de customização via programação,
geração de relatórios e conferência visual a partir de animações. Entretanto, apresenta
algumas restrições, como capacidade mediana de representação gráfica (tanto em termos
realistas quanto idealistas) e inadequada para análises micro (atende bem às análises do tipo
macro), além de algumas situações serem complexas para se modelar com os módulos
disponíveis, como por exemplo, a simulação de processos contínuos ou de agentes.
Por fim, a validação da proposta final do projeto é desenvolvida com o auxílio da ferramenta
digital para construção de cenários virtuais Game Engine. Essa ferramenta permite exploração
em primeira pessoa (visão do trabalhador) do ambiente, através de joystick sem fio, sem
necessidade de domínio da ferramenta e a programação de eventos auxilia na exploração do
ambiente. A partir da qualidade gráfica (ultra idealista), biblioteca ampla, interação facilitada
e a possibilidade de programação de eventos, essa ferramenta é de grande valia para a
avaliação do projeto. Entretanto, este ferramental apresenta limitações nas modelagens, na
alteração de arquivos CAD e com relação à precisão das medidas (não suporta uma
representação realista da mesma forma que o CAD) e a biblioteca de objetos disponíveis é
limitada para situações de jogo (armas, veículos de guerra, entre outros).
Pode-se destacar que, com base nas ferramentas utilizadas, a representação tridimensional
facilita a compreensão das propostas realizadas, principalmente pelos participantes que não
são projetistas. Assim, tais profissionais podem participar mais ativamente na discussão e
concepção dos espaços de trabalho em projeto. Em especial, a inserção do elemento humano
nas representações gráficas permite uma reflexão melhor fundamentada sobre o trabalho
futuro, auxiliando, portanto, na construção técnica e social da solução obtida.
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O Quadro 1 apresenta algumas vantagens e desvantagens sobre as ferramentas
computacionais presentes na articulação proposta.
Quadro 1 – Vantagens e desvantagens das ferramentas computacionais presentes na articulação proposta
Ferramenta Vantagens Desvantagens
CAD 2D & 3D
Precisão e flexibilidade na execução das
propostas (ótima representação gráfica
realista).
Não é integrado com outros softwares;
Complexidade de manuseio e
compreensão. Baixa capacidade de
representação gráfica idealista.
Simulação Humana
Digital
Permite validações de zonas e
envelopes de alcance e acessibilidade
(análises micro); Construção de
ambientes virtuais para teste das novas
situações de trabalho. Integração com
CAD.
Complexidade para o desenvolvimento
da simulação dinâmica. Baixa
flexibilidade para alterações.
Simulação de Eventos
Discretos
Permite programação (alto grau de
customização); gera relatórios e
animações (análises macro).
Não permite análises micro. Integração
com CAD limitada. Representação
gráfica limitada (realista e idealista).
Game Engine
Auxilia na validação das propostas;
Qualidade gráfica ultra idealista;
Interação facilitada; Possibilidade de
programação de eventos.
Integração com CAD limitada Baixa
capacidade de representação gráfica
realista.
5. Conclusão
Este trabalho objetivou demonstrar como as ferramentas computacionais podem auxiliar nas
atividades relacionadas ao projeto de situações produtivas, desde um nível macro (layout de
uma planta industrial) até um nível micro (projeto de uma estação de trabalho) apresentando
suas vantagens e desvantagens. Também considerou-se a capacidade de representação gráfica
de cada ferramenta, desde uma representação realista (alta precisão dimensional, por
exemplo) até uma representação idealista (por exemplo, com elementos que representem
melhor a realidade, como texturas, materiais, luzes, sombras, movimentos, entre outros).
A partir dos resultados apresentados, observa-se que o uso dessas ferramentas permite melhor
compreensão (em diferentes níveis, perspectivas e abordagens) dos sistemas produtivos
existentes e futuros. Além disso, com o auxílio da articulação proposta tem-se a antecipação
das necessidades do trabalhador e do sistema técnico, tendo um papel fundamental na
construção e validação das propostas de cenários futuros.
Algumas limitações e hipóteses podem ser destacadas neste momento. A compreensão das
ferramentas, isto é, o grau de conhecimento dos sistemas utilizados, impacta diretamente na
avaliação das mesmas sobre os eixos continuum definidos. Outra limitação é que, para cada
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ferramenta destacada, existem diversos software disponíveis e que são constantemente
atualizados. Tal panorama cria uma dificuldade para obtenção de uma fotografia real e
atualizada do estado da arte. Neste sentido, apresenta-se como hipótese, uma tendência destas
ferramentas incorporarem os pontos fortes uma das outras.
Por fim, à medida que as empresas buscam inovar o planejamento e projeto de suas
instalações, recomenda-se a utilização de ambientes computacionais que sejam integrados e
auxiliem na solução dos problemas enfrentados. Espera-se que a aplicação das ferramentas
computacionais auxiliem tanto a construção técnica das soluções propostas quanto a
construção social envolvendo os diversos participantes dos processos de projeto.
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