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Este Mundo é Meu e as 7 Sementes:

Arte, Espiritualidade, Educação, Ética,Cultura, Ciência e Participação.

OrganizadorasErmelinda Moutinho Pataca

Lizette Toledo Negreiros

São Paulo, 2008

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copyryght ccsp@2008Centrpo Cultural São PauloRua Vergueiro, 100001504-000 - Paraíso - São Paulo -SPhttp://www.centrocultural.sp.gov.brTodos os direitos reservados. É obrigatório a citação dos créditos no uso para fins culturais._____________________________________________________________________________________________________

Prefeitura do Município de São Paulo Gilberto Kassab

Secretaria Municipal de Cultura Carlos Augusto Calil

Centro Cultural São Paulo Martin Grossmann

Divisão de Informação e Comunicação Durval Lara

Revisão Paulo Vinício de Brito/Camile Rodrigues Aragão Costa

Foto capa João Mussolin

Publicação site Marcia Marani

Organizadores/Autores Ermelinda Moutinho Pataca

Lizette Toledo Negreiros

___________________________________________________________________________________

Título: Este mundo é meu e as 7 sementes: arte, espiritualidade, educação, ética, cultura, ciência eparticipação.

ISBN: 978-85-86196-33-1

Organizadora: Ermelinda Moutinho PatacaOrganizadora: LizetteToledo NegreirosFotografias: Paula Lyn Carvalho

Edição: 1Ano de Edição: 2008Local de edição: São PauloTipo de Suporte: E-bookPáginas: 131Editora: CCSP-Idart

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Sumário

Sobre Este Mundo é Meu! ................................................................................................... 6

Da Programação ................................................................................................................ 8

Expressões Artisticas ................................................................................................................ 10

Artes Plásticas ............................................................................................................................. 16

Verde-Amarelo: site specific, oficinas e palestras ...................................................... 18

Programação ............................................................................................................................. 20

Audiovisual

O Aquecimento Global, Arnaldo Fernandes Junior ............................................................ 27

“Aquecimento Global” - Palestra de A. Ricardo J. Esparta ............................................... 28

Educação ambiental e mudanças climáticas: Relato de uma experiência no Japão,

por Isis Akemi Morimoto ............................................................................................ 31

Sinopses dos filmes .............................................................................................................. 36

Fórum de Reflexões - Integrações Socioambientais na cidade de São Paulo,

por Ermelinda Moutinho Pataca ............................................................................... 40

MESA 1 - Arte e Meio Ambiente

-Música e meio ambiente, Marisa Trench de Oliveira Fonterrada ..................................... 43

-Arte-educação e percepção ambiental: uma reflexão sobre os desafios no presente,

Ana Cristina Chagas dos Anjos e Maria Christina de Souza Lima Rizzi ..................................... 48

MESA 2 - Ética, Espiritualidade e Meio Ambiente

-Sustentabilidade, Espiritualidade e Auto-realização, João Luiz Pegoraro ........................... 51

-Por uma espiritualidade pós-metafísica, Leopoldo Gabriel Thiesen .................................... 55

-RECONECTAR, pois SOMOS TODOS UM! Maria Salette Mayer de Aquino .......................... 58

MESA 3 - Território, Sociedade e Políticas Ambientais

-Território, Sociedade e Política Ambiental - do risco a sustentabilidade, Pedro Roberto Jacobi 62

-Território, Sociedade e Políticas Ambientais, Antonio Carlos Robert Moraes .......................... 66

MESA 4 - Educação, comunicação e participação Ambiental

- Educação Ambiental Popular: educomunicação socioambiental e participação na

construção de sociedades sustentáveis, Marcos Sorrentino e Simone Portugal ................ 68

- Projetos escolares no estudo do lugar: (re)conhecimento da realidade socioambiental

e formação da cidadania, Vânia Maria Nunes dos Santos ................................................ 74

MESA 5 - Água, ar e solo – a constituição do ambiente

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- A geologia paulistana e o patrimônio socioambiental humanos, o mais importante recurso

natural (Carneiro et al. 2008). ................................................................................................... 77

Monitoramento da Qualidade das Águas para Ação Ambiental, Gustavo Veronesi................... 83

MESA 6 - Áreas Verdes, Comunidades e Conservação

- Áreas Verdes, Comunidades e Conservação, Ondalva Serrano ....................................... 86

- O verde urbano, Roseli B. Torres ........................................................................................ 91

Relatos de experiência

- ExperimentAÇÕES Ambientais, Ermelinda Moutinho Pataca ................................................. 94

- Projeto Rio das Anhumas nas escolas, Maurício Compiani ................................................. 95

- Educação Ambiental em municípios rurais paulistas, Nídia Nacib Pontuschka .................. 98

Vigilantes da Natureza .................................................................................................................. 100

Contexto da água – Do planeta aos nossos mananciais, Cesar Pegoraro ........................ 102

Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS) .................................... 105

Sustentabilidade e Educação na permanente construção do Programa USP Recicla .......... 106

Atividades educacionais

- Aula-espetáculo - Mitos Brasileiros e a Viola, Paulo Freire ................................................. 112

- Como os índios - As cores da Terra, Cecília Borelli .............................................................. 112

- Oficina sonoridades visíveis - Instrumentos e objetos sonoros criados para

acompanhamento de um filme, Marco Scarassatti e Marcelo Bomfim .................................... 114

- Objetos de teatro - TATU-BOLA ....................................................................................... 117

- Foto na Lata

- Oficina de Jardinagem e Arte

Expedições paulistas, Ermelinda Moutinho Pataca ............................................................. 117

Expedições Rocha em Cadê o Itororó?, Carlos Eduardo Alves Rocha ................................... 118

CADÊ O ITORORÓ?, Rita Marques ........................................................................................ 120

Expedição pelo Riacho do Ipiranga, Fernanda K. Marinho Silva e Rachel Pinheiro ............... 124

A expansão urbana no município de São Paulo, Tiago Davi Vieira Soares de Aquino

e Denise de La Corte Bacci .................................................................................................... 125

Reconhecendo a Guarapiranga: identificando a origem da água, César Pegoraro

e Pilar Cunha ........................................................................................................................ 125

Perfil dos participantes ................................................................................................................ 127

Notas .......................................................................................................................................... 133

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Sobre Este mundo é meu!

Este Mundo é Meu! é um projeto idealizado pela Curadoria de Teatro Infanto-juvenil doCentro Cultural São Paulo, que teve início no ano de 2002 e vem sendo realizado há sete anosininterruptos.A proposta está sintonizada com a política cultural da instituição para seus espaços e para acidade; proporciona uma abertura tanto de temas como de programação, e, a cada ano, devidoao apoio e à confiança que a direção do Centro Cultural oferece, o evento cresce também aresponsabilidade de fazer sempre o melhor.

O atendimento às escolas públicas, instituições carentes e ONG’s permaneceu no anode 2008, possibilitando que as entidades desfrutem e participem ativamente da programaçãooferecida.

Para completar o quadro artístico e cultural, contamos com a presença de profissionaisque se apresentam com grupos musicais, corais, circo, teatro, dança, performances, oficinas,palestras ou artes plásticas. Recentemente as famílias foram convidadas a participar, estreitandolaços e estabelecendo aprendizados coletivos.

Este mundo é meu! oferece oficinas e palestras, espetáculos de teatro e sessõesespeciais de cinema para crianças e adultos, nas quais a reflexão está sempre em concordânciacom a temática do evento.

A participação dos convidados não é exclusiva para grupos da capital, instituições deoutras cidades do Estado também são convidadas. O evento, realizado sempre no mês deoutubro, enfatizou nos primeiros anos de existência o dia 12 – comemoração do dia da criança.Com o passar dos anos, e com a riqueza da programação, o caráter inicial do projeto foiampliado e passaram a ser realizadas atividades voltadas a todas as idades.

Este mundo é meu e as sete sementes

Este Mundo é Meu! chega a sua sétima edição. Em todos estes anos vem buscandoaprimorar sua programação com base em perspectivas de entretenimento e atividades quepropiciem a reflexão e a sensibilização, não só por meio das expressões artísticas, mas também,contando com a presença de intelectuais que por meio de suas experiências em camposdiversos das artes, das ciências e das humanidades, vêm contribuindo para o engrandecimentodo evento.

Estamos empenhados este ano em explorar o tema Este Mundo é Meu! e as SeteSementes, que simbolizam Arte, Espiritualidade, Educação, Ética, Ciência, Cultura eParticipação. Tratá-lo como assunto pertinente seria pouco pela relevância que ele apresentana atualidade. Por isso, achamos necessário estimular percepções, expressões, reflexões eexperimentações voltadas para as questões sobre o meio ambiente na cidade de São Paulo eno mundo.

Em nossa sociedade moderna, a exploração dos recursos naturais é feita de formabastante agressiva e descontrolada, assim como a configuração de extremas desigualdades

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sociais, devido ao desenvolvimento da sociedade capitalista, levou a uma crise socioambientalbastante profunda.A resolução de problemas complexos, como a miséria, o aumento de desastres ambientais, aescassez de recursos naturais, a proliferação de epidemias, dentre outros, configura-se comoum desafio que tem mobilizado cientistas, políticos e membros de comunidades de todas asregiões do planeta. Tal crise é resultado de um longo processo de apropriação e destruição danatureza, que se intensificou profundamente com o desenvolvimento do capitalismoindustrial, baseado na completa apropriação da natureza por meio do desenvolvimento científicoe tecnológico, assim como da fragmentação do conhecimento científico e da sociedade.

Os estudos sobre as possibilidades de inversão deste quadro são múltiplos. Mas, dentrodas estratégias mais aceitas e praticadas para a resolução da problemática ambiental, o destaqueé para a educação. Desta forma, o conhecimento sobre meio ambiente apresenta uma grandeimportância para o cotidiano dos cidadãos, pois abre possibilidades para a sociedade tomardecisões e compreender as aplicações dos conhecimentos sobre a dinâmica natural na melhoriada qualidade de vida. A compreensão da apropriação natural pelo homem e as consequênciasdessas transformações permitem que o sujeito perceba sua participação real no mundo.

A educação ambiental deve ter como princípio a transformação da sociedade, com baseno pensamento crítico e inovador, por meio do ensino formal ou informal, envolvendo aspectosrelacionados ao desenvolvimento do meio ambiente, como população, direitos humanos,democracia, saúde e fome. Diante disso, percebe-se que o discurso sobre o meio ambienteestabelece, hoje, uma visão idealista de educação e conscientização, vinculada à grande partedos problemas sociais.

A educação ambiental foi então chamada a dar conta da mudança de valores e atitudesem busca de um modelo ideal de sociedade sustentável. É com base na concretização de umaeducação crítica e participativa, na construção de um mundo justo e ambientalmente equilibrado,que o Centro Cultural São Paulo apresenta o projeto Este mundo é meu! 2008.

O projeto propõe desenvolver atividades que abordem temas como preservação,ocupação do espaço urbano e suas consequências para a qualidade de vida ambiental, utilizaçãodos recursos naturais, sustentabilidade, saúde, desastres naturais e ambientais, desigualdadessociais, recursos hídricos, dentre outros assuntos. A perspectiva adotada é a de dar preferênciaa temáticas locais, ou seja, aos problemas ambientais da cidade de São Paulo, numa conexãocom o meio ambiente em âmbito nacional e mundial.

A intenção é estimular, por meio de expressões artísticas, atividades didáticas, debatescientíficos e educativos sobre o meio ambiente, a participação cidadã e a mobilização individuale coletiva. Partimos da casa para o mundo, propondo a reflexão sobre a crise ambiental nasociedade industrial – com base nas relações consumistas e individualistas.

Portanto, o projeto Este mundo é meu! pretende cumprir o papel que desempenhou aolongo de seis edições: desenvolver atividades artísticas, propondo a reflexão das relações sociais.Neste ano, pretende-se ainda ampliar essa reflexão sobre a relação do homem com a natureza.

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Da programaçãoCom ênfase nas questões ambientais, a organização do evento elaborou uma

programação de atividades que possam trazer à sociedade esclarecimentos benéficos paraas suas ações em defesa da cidade de São Paulo, de si própria e de tudo que gira em seuentorno. O evento será dividido em 5 eixos, como descritos a seguir:

1º) Expressões artísticasA vocação artística e cultural do CCSP permitiu a elaboração de uma programação

integrada nas diversas apresentações de teatro, música, dança e artes plásticas que integrarãoa programação do Este Mundo é Meu!

As artes desempenham uma função considerável na sensibilização ambiental. Apercepção social e natural, primeiro passo para o entendimento da problemática ambiental,pode ser bastante desenvolvida no indivíduo a partir da arte. Numa relação entre sensibilizaçãoe reflexão as artes também podem conduzir ao conhecimento, à conscientização e aodesenvolvimento das potencialidades dos indivíduos. Além disto, a arte pode servir como uminstrumento de inclusão social, numa sociedade paulistana profundamente marcada pordesigualdades sociais, econômicas e ambientais.

2) AudiovisualO audiovisual trará para o evento a questão do aquecimento global e seus

desdobramentos e outros assuntos de interesse para a questão do meio ambiente global. ACuradoria de Audiovisual do CCSP ficou responsável pela pesquisa de filmes que retratemessas questões. Algumas das exibições serão seguidas de debates por especialistas da área.

3) Fórum de Reflexões - Integrações socioambientais na cidade de São PauloEm sintonia com as manifestações artísticas e culturais que ocorrerão no projeto Este

mundo é meu! será realizado um Fórum de discussão, com a finalidade de integrar as atividades,e contribuir, principalmente, para a dimensão reflexiva do evento.Segundo alguns críticos, a intensa valorização da racionalidade técnico-científica evidenciadana sociedade industrial contemporânea distanciou o homem da natureza e ocasionou afragmentação do conhecimento em diversas áreas, a segmentação social e a desvalorizaçãodas relações humanas.

O processo histórico de apropriação natural levou ao estado atual de intensa degradaçãosocioambiental em que vivemos. Para reverter essa situação buscamos, agora, um caminhode integração entre razão, sensibilidade e espiritualidade.

O Fórum pretende fomentar o intercâmbio de opiniões entre representantes deuniversidades, ONGs, Institutos de Pesquisa, políticos e outros membros da sociedade civilpara discutir a questão ambiental. A partir do diálogo é possível colaborar com a investigação,a educação e a divulgação do conhecimento interdisciplinar sobre meio ambiente, com açõesque visam a construir sociedades mais justas e sustentáveis.

No Fórum serão abordados os seguintes temas:1. Estética e percepção ambiental nas manifestações artísticas;2. Ética, espiritualidade e natureza;

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3. Áreas verdes, comunidades e conservação;4. Comunicação, educação e participação popular;5. Ocupação do solo, hidrografia e qualidade do ar;6. Território, sociedade e políticas públicas.

4) Relatos de experiência - ExperimentAÇÕES AmbientaisConstitui-se em um espaço aberto para relatos de experiências em educação e

participação ambiental realizadas em espaços de educação formal, como as escolas euniversidades, assim como em educação não formal, como centros de saúde, museus, empresas,comunidades, ONGs, bibliotecas, centros culturais, institutos de pesquisa, unidades deconservação, parques, etc.

Cada projeto convidado terá 30 minutos para a apresentação. Devido ao caráter culturale educativo deste espaço do evento, sugerimos que as apresentações incluam a exibição devídeos de divulgação ou educacionais, com no máximo 15 minutos de duração.As temáticas propostas para as mesas são as seguintes:

Relações entre universidades e escolas públicas;Educação e participação popular nas Organizações Não Governamentais (ONGs);A atuação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente;Organismos públicos culturais e o meio ambiente.

5) Atividades EducativasDe acordo com os propósitos de formação cultural, as oficinas e workshops são

idealizados de forma a relacionar ciência, arte e meio ambiente para a sensibilização do públicoe a compreensão da problemática ambiental de forma lúdica e descontraída.

Desta forma, as ações educativas serão concebidas por artistas e especialistas queabordem a temática ambiental sob uma perspectiva interdisciplinar. As oficinas serão realizadasno Centro Cultural São Paulo, com temáticas com as seguintes abordagens:Mitos e lendas da cultura popular – Oficinas e aulas-espetáculo que resgatem na cultura popularbrasileira a relação das comunidades urbanas e tradicionais com a natureza.

Expedições paulistas – Estudos de meio elaborados para professores e famílias ondeserão abordadas as relações socioambientais de algumas regiões de São Paulo numa temáticainterdisciplinar. Serão realizados roteiros culturais e educativos em espaços da cidade, como opróprio Centro Cultural São Paulo, a região central de São Paulo, a Represa Guarapiranga, oJardim Botânico e o Parque da Independência.

Lizette Negreiros – Curadora do ProjetoErmelinda Moutinho Pataca – Curadora Convidada

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Expressões Artísticas

Sobre as expressões artísticasLizette T NegreirosCuradora do evento

A diversidade de linguagens e a interação que se estabelece entre palco e platéia, oracomo lazer, ora como estudo, dimensiona a responsabilidade da realização a cada ano doprojeto. Há sete anos, deu o primeiro passo, cresceu e gradativamente caminhou para mudançassignificativas em seu formato, tornando-se mais abrangente pensando a complexidade dasociedade contemporânea. Ele movimenta vários setores do Centro Cultural, além de artistas,escolas, instituições, Ongs e público de todas as idades. Trabalha com temas que possibilitamdialogar com ideias inventivas de programação seja artística ou educativa. Este ano, porexemplo, o tema é: Este Mundo é Meu! E as Sete Sementes: arte, espiritualidade, educação,ética, ciência, cultura e participação. Aliadas a esses sete elementos estão a motivação deabrir espaço à reflexão para as questões sobre o meio ambiente, e a simbologia do plantio dassete sementes, numa homenagem aos jardineiros que trabalham no Centro Cultural. Aliado aoplantio das sementes e aos jardineiros, está o pensamento da multiplicação da vida por meiodas árvores que possam nascer e trazer vitalidade a esta cidade.

Preparar ou pensar como poderia acontecer a programação artística do Este Mundo éMeu! em 2008 foi uma tarefa relativamente fácil, mas, ao mesmo tempo, complexa, porqueexistia a vontade de se trabalhar com coerência, ou seja, a programação deveria tratar somentede temas que falassem sobre meio ambiente, ou não? Existia a intenção de absorver a jáexistente para que não houvesse a descontinuidade. Algumas respostas começaram a aparecerquando o espetáculo infantil para a Sala Paulo Emílio foi escolhido pela comissão constituída

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para atender o Edital, e o tema não era meio ambiente, e a temporada seria setembro/outubro.O mesmo aconteceu com o Teatro Jovem na Sala Adoniran Barbosa, também escolhido peloEdital. A partir daí passou a se redesenhar as ações e possibilidades de como fazer essaprogramação e o que poderia ser contemplado. Por outro lado, o risco de acontecer uma mesmicede temas seria inoportuno.

Optou-se por mesclar as atividades, o que facilitou as escolhas e as sugestões queforam surgindo, como a de dança, dos músicos de rua, dos mitos populares, do showespecialmente criado para o evento, com participação somente de cantoras e musicistas,representando também a mãe terra, a gia. A parceria com a Curadoria de Música foi uma boapedida, e a programação normal do Centro Cultural, não deixou de acontecer. Contudo, houveum alinhamento sutil nas escolhas e, no conjunto, surgiu a coerência e, sobretudo, a qualidadedos artistas, sem perder outra característica do evento: crianças, jovens e adultos se apresentandoartisticamente dentro do evento no mesmo “pé” de igualdade.

A programação de cinema foi cuidada pela Curadoria do Audiovisual que procurou umafilmografia que abordasse o aquecimento global, fazendo com que as questões sobre essetema ficassem como o forte da programação. Depois, uma mesa de reflexões sobre o assunto.Perfeitamente coerente.

Abertura-espetáculo. Dia 8/10/2008/, das 14h30 às 17h30Na abertura, pretendemos quantificar a importância da temática ambiental de uma

maneira simbólica, lúdica e artística, para cerimônias de abertura e que expresse a integraçãoentre áreas e linguagens distintas, especialmente artes, ciências e educação. Assim, a concepçãode um roteiro para uma abertura-espetáculo foi realizada, demonstrando que o Centro CulturalSão Paulo não poderia ficar indiferente a essa temática. Serão plantadas as sete sementes,que deverão se multiplicar por mais sete, que se multiplicarão por muito mais na cidade de SãoPaulo. As sete sementes simbolizam o que ocorrerá no evento, ou seja, Arte, Espiritualidade,Ética, Educação, Cultura, Ciência e Participação. É por meio destas manifestações que ahumanidade interage com a natureza, e cuja integração constitui um dos caminhos possíveispara a sensibilização, a consciência e a mudança de atitudes da humanidade sobre sua relaçãocom o meio ambiente.

A abertura-espetáculo envolverá dois mestres de cerimônia, os jardineiros do CentroCultural, os atores do Grupo Solas de Vento, dois atores do Centro Cultural São Paulo e umamandala de 60x60m, com 30cm de diâmetro, que foi preparada para a realização da semeadura.Após a cerimônia, os atores circenses do Grupo Solas de Vento farão a parte artística comvárias acrobacias.

Roteiro de aberturaAutoras: Lizette Negreiros e Ermelinda PatacaMestres de Cerimônia: Sosô Parma e MarquitoAtores do Centro Cultural: Sheylla Gonçalves e Lucas FabrizzioAtores circenses do Grupo Solas de Vento: Cafi Ota, César Lopes, Emiliano Pedro,

Felipe Chagas, Montanha Carvalho, Raquel Rosmaninho, Ricardo Prudente, Célia Borges eSandra Miyazawa

Direção: Ricardo Rodrigues

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Jardineiros: Eliezer Rosendo da Silva, César Augusto Moreira Araújo, Cleber de SouzaAmaro, Jaime Ferreira de Lima, João José da Silva, Valdeci Arcanjo Lopes e Fábio Carlos DellAntonia (engenheiro agrônomo)Direção geral: Lizette Negreiros

Nas portas de acesso ao anexo da Adoniran, ficarão os mestres de cerimônia e osatores. A abertura começará por volta de 14h40. Os atores do Solas de Vento nesse momentoestarão todos na parte superior da sala e irão improvisar uma algazarra em volta dela impedindode começar o espetáculo.

O sinal para começar a apresentação deverá tocar normalmente as três vezes. Comoos atores não obedecem, volta a tocar repetidamente. Os atores irão parar de brincar quandoos mestres de cerimônia Markito e Sosô, (bem bravos) pedirem que eles desçam. Descem“desenchavidos” e “envergonhados” e vão sentar no fundo do palco. Clima.

Markito e Sosô respiram e vão assumir a função de mestres de Cerimônias dandoinicio a abertura.

Markito: - Por favor, Maurízio, a música combinada de abertura.Maurízio:- Não tem.Markito:- Sras e Srs., autoridades presentes, boa tarde. É com prazer que anunciamos

a abertura da sétima edição do Projeto “Este Mundo é Meu!.Sete Sementes Este ano foiescolhido como foco principal a reflexão sobre as questões do meio ambiente, assunto queestá sendo discutido e fomentado em todo o mundo. A preocupação com a preservaçãoambiental é um assunto pertinente ao nosso país, ao nosso estado e a nossa cidade.

Sosô - Assim, o Centro Cultural São Paulo, não poderia ficar indiferente a essemovimento, fomentando várias ações dedicadas a essa questão. Este Centro de Cultura prezapor estar à frente não só das atividades artísticas como atenta às questões interdisciplinaresdesta cidade primando pela seriedade com que deve ser tratado esse assunto.

Sosô - Markito, antes de começar a nossa história vamos fazer um preâmbulo. Hojeestamos aqui para uma celebração; as pessoas vieram prestigiar esse momento e como bonsanfitriões que somos... (Markito corta)

Markito:- apesar da indisciplina de início né, Sosô! (olham feio para os artistas queestão “quietinhos” sentados no fundo do palco; para o Maurízio)

Sosô:- (continuando) Gostaria que um dos anfitriões o Diretor do Centro Cultural SãoPaulo Sr. Martin Grossmamm viesse até o microfone para sua saudação à essa celebração.

O diretor Martin Grossmamm dá boas vindas, o Secretário do Verde Eduardo Jorgetambém falou. Paulo Rodrigues, Chefe de Gabinete, representando o Sr. secretário CarlosAugusto Calil, fez o seu pronunciamento. Lizette foi chamada e deu prosseguimento à cerimônia.Coro dos atores: HISTÓRIA!!!!?

Sheila:- Não podemos fugir dela! Disse Heródoto em 450 a.C. “ A Babilônia ultrapassavaem esplendor qualquer cidade do mundo conhecido até hoje”. Antes, em 605 da nossa era,existiam Os Jardins Suspensos da Babilônia! A Babilônia era uma cidade antiga da Mesopotâmiae seu rei Nabucodonosor II reinou por 43 anos. Ele construiu templos, ruas, palácios e muralhas;mas os jardins foram construídos para alegrar a sua amada esposa Amyilis que sentia imensa

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saudade das montanhas verdejantes de sua terra natal Medes.Lucas:- A rainha era filha do rei de Medes e casou-se com Nabucodonosor a fim de

estabelecer Aliança entre as duas nações: Mesopotâmia e Medes. Ela gostava de apreciar asmontanhas verdejantes e não estava a fim de ver aquele solo plano e arenoso da Babilônia,aquela imensidão de terra seca, empoeirada, aquele calor medonho! Já imaginaram aquelepalácio gigante, cheio de entradas e saídas sem nenhuma árvore, sem uma graminha, sem umventinho?

Célia: - Sem uma chuvinha? Sem um chuveirinho, Sem uma frutinha! Nãoooooooooo,Nabuco, assim eu não fico aqui!

Sosô:- A rainha ficou brava e fez muito bem em reclamar ao querido esposo. E ele cheiode amor e poderoso, lhe presenteou com um jardim esplendoroso! Sabem o que era? Umteatro da natureza!

Sheila:- Mandou construir montanhas, plantou árvores e até instalou um motor de águaque era levada do rio Eufrates até os jardins! Que maravilha!

Intervenção do ator Ricardinho como GORDINHORICARDINHO: Maravilha! Adorei a história! Os Jardins Suspensos da Babilônia! He, he!

Então, se a cidade de São Paulo fosse suspensa e chegasse ás nuvennnnnnns! Casas! Ruas!Orio Tietê! automóveis!, igrejas!, campos de futebol!, torres de tv!, árvores!, ônibus!, edifícios!, aserra da Cantareira!, a Praça da Sé! O Metrô! E o Itororó? Cadê? O asfalto comeu? Fui aoItororó beber água não achei...Cadê? Secou! A fonte secou. É como se o ator tivesse tido umsurto de loucura. Ele ficará agarrado ao microfone falando todas essas coisas “O Metrô!...”Depois disso fica livre. Estabelece-se uma pequena confusão e a solução será uma bela“cacetada” na cabeça. Ele sairá “carregado” e alguém dirá: “Ele não viu o avião”. Vão saindocom o ator, deixando o palco livre.

4º momento: 2º mestre de cerimônia:Markito:- Sras e Srs., autoridades presentes, se disser que esse acontecido não estava

previsto estarei mentindo, mas não estava mesmo. Mas a história dos Jardins Suspensos daBabilônia foi o “único” gancho encontrado pelo roteirista para introduzir o que vem a seguirantes que os srs. vão embora. Pois bem, trata-se de pessoas especiais, que trabalham comdedicação, que tem zelo pelo trabalho que realiza com a responsabilidade de cuidar e de tornarmais bonito, florido, encantador para quem passa, vê e admira.

Sosô:- Mexer com a terra, com a gia, com a mãe, com a fecundidade, com a força, coma vida e com a natureza. Estamos falando daquelas pessoas que trabalham neste Centro Culturale que com seu zelo e trabalho, procuram deixá-lo com todos os atributos já mencionados.

Sheila:- Não é o jardim suspenso da Babilônia, mas é o jardim do Centro Cultural SãoPaulo e como este ano, o Este Mundo é Meu!, será dedicado ao meio ambiente, nada maisjusto do que lembrar dessas pessoas: os nossos jardineiros, Cleber, Valdeci, Eliezer, Jaime,João e César, e o engenheiro agrônomo Fábio pedimos que venham ao palco.

5º momento:Os atores do grupo Solas de Vento entrarão em ação: Eles é que trarão a mandala e a

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caixinha com as sementes para o palco e irão buscar os jardineiros e colocá-los nos quatrocantos dela. Começará então a Cerimônia da Semeadura e onde Valdeci será anunciadacomo símbolo do evento neste ano.

Roteiro da Semeadura:Os jardineiros em volta da mandala ocupando os quatro cantos junto com os atores Os

quatro cantos representam: TERRA, ÁGUA, AR E FOGO! Cada grupo de ator dirá em voz altao que significa o lugar em que estão.

SETE SEMENTES serão colocadas nas mãos da Valdeci por um dos atores.

UM DOS ATORES:- As sementes que serão plantadas nesta mandala são de Ipê Rosa,Ipê Branco e Suinan. Elas foram colhidas pela Valdeci no Parque do Ibirapuera sob a orientaçãoda bióloga do DEPAV 2 Sra. Yone. VAMOS AO PLANTIO!!!!!!!!

1) Sosô:- “Valdeci, neste momento você está sendo, perante todos os que aqui estão eseus colegas de trabalho, eleita como o símbolo do evento Este Mundo é Meu! Você émerecedora desse título porque representa a mãe terra, aquela que procria, que dá frutos, queamamenta seus filhos, que dá amor, que mata a fome. Você planta e zela, cuida, olha, comose fosse uma criança que nasce do ventre materno. Você é nossa gia, nossa mãe terra.Mulher negra e valorosa. Você é nosso símbolo. Seus pares devem lhe render homenagenspor ter você junto deles dividindo o mesmo trabalho o mesmo prazer, a mesma gratidão àterra.

Lucas:- Sendo você o símbolo do evento, será a primeira a fazer a semeadura. Valdeci,as sete sementes que você tem às mãos simbolizam a Arte, a Espiritualidade, a Ética, aEducação, a Cultura, a Ciência e a Participação. Saiba que elas são espécies raras que aocresceram formarão um jardim esplendoroso.

Sheila: - Você, Valdeci, que conhece melhor que ninguém essas sementes de IPÊROSA, IPÊ BRANCO E SUINAN, tem a sabedoria da preparação delas para o plantio e tratá-las devidamente para que se tornem belas e viçosas. PODE PLANTAR MÃE TERRA!

Ela planta as sementes. Depois dela os jardineiros. A primeira dupla de jardineiros seráCleber e Jaime e será dito o seguinte:

Markito:- Vocês, Cleber e Jaime, que representam o AR, que leva as sementes paraterras tão distantes mantendo a diversidade, façam-no desejando cultivá-las com dedicaçãopara que bons ventos a levem para onde for necessário.

Sosô:- Vocês, João e César, que representam a ÁGUA, que fertiliza a terra, que mataa sede, que faz a planta nascer viçosa, façam-no desejando que em cada tronco exista umaseiva que lhe permita purificar o ar e restabelecer o equilíbrio na atmosfera.

Sheila:- Vocês, Eliezer e Fábio, que representam o FOGO, que dá energia, a energiaque movimenta a terra, que aquece a vida façam-no pensando que elas sejam úteis as criançaspara quando se tornarem adultas saibam do seu valor e possam ser gentis para com elas, sem

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maltratá-las.Markito:- Vocês, atores, que vivem da arte de representar, façam parte dessa semeadura.

Plantem a Arte, a Educação, a Espiritualidade, a Ética, a Ciência, a Cultura e a Participação.Levem consigo o compromisso de serem mais que atores tornem-se arautos de um tempo queexige reflexão mesmo quando se faz graça.

Lucas:- Você Cabo Rocha (veio como representante do bombeiro Robson e o Chefe deSegurança Oliveira) que agora representa a SOCIEDADE e a todos que aqui estão, molhe esta

terra sentindo-se responsável por cuidar da água, do ar, dofogo, e de todos os seres vivos existentes em torno dela,como um guardião, como um valoroso combatente decausas nobres.Após o plantio, os jardineiros voltarão aos seus lugares é

retirada a mandala.Markito:- Sras. e Srs., a semeadura foi realizada. As árvores

foram plantadas.Sosô:- O cultivo delas dependerá de muitas mãos, carinho

e vontade que se multipliquem por mais 7 e mais 7 e mais 7e muito mais.Lucas:- Temos mais sementes que poderão ser

disseminadas em outros cantos, praças, jardins, fazendas.Sheila:- Quem sabe um ipê rosa ou suína na minha casa?Sosô:- é quem sabe...Markito:- Meninas, ainda não acabou. O palco será

preparado para a apresentação dos artistas. A continuidadeda semeadura agora será em sentido figurado, isto é: autilização do corpo humano como elemento criador. A vidahumana é que estará à disposição da semente da ARTE derepresentar. Quem sabe Um Jardim Suspenso da Babilônia!

Em pleno ar! Fim.

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Artes Plásticas

Verde AmareloProjeto do site specific para o jardim central do Centro Cultural São Paulo. Fernando

Limberger e Divisão de Ação Cultural e Educativa/CCSP.

O Centro Cultural São Paulo

Concebido inicialmente para abrigar uma extensão da Biblioteca Mário de Andrade, oCentro Cultural São Paulo acabou sofrendo, no decorrer de suas obras, uma série deadaptações para se transformar num dos primeiros espaços culturais multidisciplinares doPaís.

Inaugurado em 1982 o Centro Cultural oferece espetáculos de teatro, dança e música,mostras de artes visuais, projeções de cinema e vídeo, oficinas, debates e cursos, além demanter sob sua guarda vários acervos da cidade de São Paulo: a Pinacoteca Municipal, aDiscoteca Oneyda Alvarenga, a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário deAndrade, o Arquivo Multimeios e um conjunto de bibliotecas que ocupa uma área superior a 9mil m2.Sua programação diversificada, oferecida gratuitamente ou a preços populares, atrai faixasdistintas da população, fazendo do complexo um dos espaços culturais mais democráticos dacidade.

Características espaciais:Por estar integrado ao metrô da linha Norte/Sul o Centro

Cultural São Paulo acolhe um público normalmente nãoencontrado em outras instituições culturais da mesma região.A horizontalidade de sua arquitetura se abre de forma mais livrepara o visitante e suas dependências são frequentadas por quembusca um lugar de estudo, de encontro, de vivência e formaçãocultural.

Uma de suas características é a existência de um jardiminterno que foi preservado de um quintal das antigas residênciasque havia nessa região da cidade, próxima ao centro.

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O Jardim: origem

O Centro Cultural tem um jardim interno que restou daantiga vegetação pertencente aos quintais das casasali existentes. Em 1978, antes do início das obras,quando esta foto foi tirada, a antiga vegetação nãoexistia mais.

Durante as obras de fundação foram removidas grandesquantidades de terra e o terreno, recortado de tal forma,que restou apenas uma fatia do declive do terreno, quecorresponde ao volume de terra do jardim central.

Nesta imagem, como no anteprojeto de1977, podemos ver a presença de trêsAraucárias voltadas para a Rua Vergueiro,que hoje já não se encontram mais ali.Material fotográfico disponível no site doCCSP.

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Verde-Amarelo: site specific, oficinas e palestras

Os vários jardins do Centro Cultural São Paulo são espaços de valor inestimável nestecomplexo cultural. Além do jardim central, existem mais dois jardins suspensos, paralelos àAvenida 23 de Maio e Rua Vergueiro, cada um com uma pequena forração de grama e algumasflores. Margeando a Av. 23 de Maio existe uma grande faixa verde, além dos jardins laterais àentrada do Metrô (Jardim Eurico Prado Lopes – rampa de acesso ao Metrô) entre a Av. 23 deMaio e a Rua Vergueiro.

O presente projeto tem em vista uma intervenção no jardim central, feita a partir de:1. revitalização do jardim: recolocação de duas ou três araucárias, na sua posição original;cuidados especiais com as árvores (prevenção contra cupim); colocação de algumas novasespécies; revitalização dos vasos e floreiras.2. cobertura do solo: a área do jardim central receberá uma cobertura feita com pedrisco(arreia) na cor amarela. Esse material permite a manutenção da permeabilidade do solo, aomesmo tempo em que introduz uma cor contrastante e luminosa no seu interior.3. projeto de iluminação.4. recolocação de placas com o nome das árvores.5. realização de uma oficina de geração de mudas, aberta ao público e também destinada aosjardineiros do Centro Cultural: uma pequena área das adjacências do Centro Cultural seráutilizada para a construção de um viveiro de plantas, onde os participantes farão parte de umasérie de oito encontros práticos/teóricos em que serão abordados:

5.1. instrumentação para a jardinagem;5.2. diferentes tipos de solos e misturas para substratos;5.3. reprodução por semeadura;5.4. reprodução por técnicas vegetativas: estaquia, divisão de touceira, bulbos, alporgia,

mergulia, enxertia;5.5. plantio: covas, insolação e irrigação;5.6. manutenção de jardins, floreiras e vasos, ambientes externos e internos;5.7. adubação: métodos orgânicos e químicos;5.8. combate a doenças e pragas, produção de inseticidas orgânicos.

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6. a realização de três encontros em que se traga ao público as discussões entre arte e paisagem.Esses encontros irão reunir artistas visuais e paisagistas, com trabalhos e experiências

realizadas no Brasil e no mundo.Entre esses profissionais, temos em vista Amélia Toledo, Carlos Matuck, Eduardo

Coimbra, Oscar Bressane, José Tabacow.

Verde-Amarelo: aspectos visuais da intervençãoA proposta de intervenção no jardim é a de colocação de pedrisco (areia) de cor amarela

no chão, delimitando uma área de circulação sob as árvores. As duas imagens abaixo servemde exemplo da proposta de trabalho do artista plástico Fernando Limberger ao trabalhar ocontraste da vegetação e do solo em jardins internos.

Verde-Amarelo: o trabalho de Ação Cultural e EducativaOs trabalhos dessa Divisão incluem a coordenação e a produção de oficinas práticas e

teóricas, cursos para professores e de aperfeiçoamento profissional para os funcionários(educação fundamental para adultos, requalificação profissional, cursos complementares).

Além disso, a equipe é responsável pela monitoria nos roteiros que enfocam a arquiteturado Centro Cultural, a Gibiteca, os espaços Expositivos, a Biblioteca Louis Braille.

A Divisão trabalha para ampliar a capacidade formadora do Centro Cultural São Paulo,investindo na oferta de cursos e oficinas oferecidos por artistas e profissionais da área deprodução, pesquisa e crítica cultural. Com isso esperamos facilitar a extroversão do conhecimentoproduzido na casa para diversos públicos, além de promover uma integração entre as muitasáreas de trabalho da instituição.

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Programação

TeatroLUNA CLARA & APOLO 11Grupo: Cia. La LecheAutora do romance: Adriana FalcãoAdaptação: Marcelo RomagnoliDireção Musical: Morris PicciotoComposição e arranjos: Morris Picciotto, Camila Lordy, João Taubkin e Bruno PradoIluminação: Marisa BentivegnaCenografia: Marco LimaConcepção e Direção Geral: Cris LozanoElenco: Jacqueline Obrigon, Marcelo Romagnoli, Vany Alves, Priscila Jorge, Fausto

Franco, Guto Togniazzolo, Vanderlei Bernardino, Joaquim Lino e Tatiana Thomé.Sinopse: Luna Clara é uma menina de 13 anos que espera a volta do pai, que jamais

conheceu. Doravante, pai de Luna, perdeu sua sorte e passou a vagar pelo mundo em busca deAventura, sua mulher. Até que Luna Clara encontre Apolo 11, muitas coincidências, desencontrose aventuras se sucederão.

Teatro Infanto-JuvenilDE ONDE O SOL SE ESCONDE – HISTÓRIAS DO JAPÃO

Grupo: Cia. Provisório DefinitivoAutores: Paula Arruda e Pedro GuilhermeDireção: Paula Arruda e Pedro GuilhermeElenco: Pedro Guilherme e Paula ArrudaIdade: 3 anosGênero: Contação de históriasSinopse: Para mostrar que brasileiros e japoneses, embora sejam de lugares muito

diferentes, podem se divertir da mesma maneira. São quatro histórias japonesas: Bobo Saburo;A Dança do Macaco e do Pardal; A Princesa e o Vaso; O Casamento da Ratinha.Música

CONCERTO AO MEIO-DIA – ESCOLA MUNICIPAL DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA (EMIA)Os professores Rosana Massuela e Antonio Vaz Leme, da área de Música da Escola

Municipal de Iniciação Artística, vêm desenvolvendo há quatro anos o Curso de Prática deConjunto – Banda da EMIA, com crianças de 11 e 12 anos. Hoje, a atividade é uma referênciapara alunos dessa faixa etária, para ex-alunos e até mesmo para as crianças mais novas, quealmejam um dia fazer parte da Banda. Promove amplamente o projeto de integração com outraslinguagens, tão característico da Escola, tanto no aspecto musical e de desenvolvimento dosalunos como na integração com os pais, com a comunidade e com as outras áreas de atuaçãoda EMIA, como Dança, Teatro e Artes Plásticas.

Seu repertório consiste em gêneros diversos como o rock, o blues, o maracatu, o choro,a valsa e o samba. Os arranjos são repletos de riquezas timbrísticas e elaborados especialmente

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para seus componentes: alunos de 10 a 13 anos de flauta transversal, violino, cavaquinho,guitarra, baixo, bateria, percussão, flauta doce, piano, voz, entre outros.

Programa: Marcos Valle/ Samba de verão; Luiz Gonzaga/ Baião; Rita Lee e Robertode Carvalho/ Lança-perfume; Samuel Rosa/ Vou deixar; Luiz Gonzaga/ Xote das meninas;Glen Miller/ In the mood.

POEMAS DE CECÍLIA MEIRELES – COM A CANTORA ANA LEE

O trabalho de Ana Lee, Cecília Meireles para Crianças, é um show acústico, com doisviolões e percussão. No repertório, poemas de Cecília Meireles musicados pela própria AnaLee. O show é bastante movimentado, com projeções de ilustrações feitasespecialmente para cenário digital. Ana Lee (voz), Alê Cueva (violão) e Bruno Sotil (percussão),Regina Izumi (ilustrações), VJ Mrs (imagens) – concepção e produção: Maira Sales.

SOPRANDO NOTAS – PROGRAMAÇÃO ESPECIAL

Formado oficialmente em 2005, Soprando Notas é o resultado de um trabalho que existehá 35 anos, quando o Zimbo Trio fundou o CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical),escola que já formou músicos consagrados de todos os estilos, como Chico César, UlissesRocha, Teco Cardoso, Luciana Melo, Jair Oliveira, Nico Assumpção, Duda Neves, VeraFigueiredo, Silvio Mazzuca Jr., João Marcelo Boscoli, entre outros.

O grupo de flautas doce e vozes é formado por 15 integrantes com idades entre 9 e 24anos e regido por Dani Godoy. Vem mostrando um repertório difícil, cheio de improvisos earranjos de Amilton Godoy, o que tem de melhor na música brasileira e no jazz.

No repertório, uma homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. O grupo seráacompanhados por Amilton Godoy (piano), Rubinho Barsotti (bateria), do Zimbo Trio, num showque emociona e que vale a pena ser visto.

ProgramaGarota de Ipanema / Wave/ Chega de saudade/ Rapaz de bem/ Se é tarde me perdoa

Influência do jazz/ Acapulco/ O morro não tem vez/ Samba de uma nota só/ Água de beberSamba de verão.

DançaQUIXOTES DO AMANHÃ

Grupo: Companhia de Danças de Diadema.Direção: Ana BottossoConcepção coreográfica: Fernando MachadoAssistente de coreografia: Eloy RodriguesEnsaiadora: Manuela FadulConcepção de trilha sonora: Loop BConcepção de Iluminação: Willian Figueiredo. Operação de Luz: Ari BuccioniConcepção de figurino: Orlando DantasCenografia: Moraes

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Mâtre de dança clássica: Valéria MattosEstagiários: Alexandre Nascimento e Ivan BernardelliElenco: Carolini Piovani, Eloy Rodrigues, Francisco Junior, José Manuel, Juliana Lim,

Léo Oliveira, Manuela Fadul, Tatiana Fernandes, Thaís Lima, Ton CarbonesSinopse: um espetáculo com temática relacionada ao acúmulo de lixo e seu mau

direcionamento provocado pela inconsciência dos homens. A figura de Quixote foi escolhidaaqui para parafrasear essa temática onde seres dotados com suas armaduras “recicláveis”vislumbram mudanças por meio de batalhas pessoais em busca de uma nova vida. Apossibilidade de reaproveitamento do lixo, de reciclagem, proporciona uma analogia imediataà produção artística: transformação, tanto nos aspectos práticos como nos subjetivos. Talpossibilidade pode ser também sinal de pequenas batalhas vencidas; sermos “Quixotes” denós mesmos, “Quixotes” em nossas vidas, para que o amanhã possa acontecer.

Show MusicalNEUROPOLIS; ORQUESTRA DE MÚSICOS DAS RUAS DE SÃO PAULO.Apresentação da Orquestra de Músicos das Ruas de São PauloConcepção e direção musical: Livio TragtenbergSinopse: Uma orquestra bastante original, formada por 13 músicos, desde músicos

anônimos, que atuam nas ruas de São Paulo, até músicos vindos de comunidades de imigrantesimportantes na história da cidade e que ainda praticam suas tradições musicais, com melodiase instrumentos típicos, como japoneses, paraguaios, bolivianos, nordestinos e outros. Tudoembalado com muito humor e suingue.

Clássicos do DomingoCORAL DA GENTE DO INSTITUTO BACARELLI

Regente: Regina KinjoPiano: Cláudia CruzO coral da Gente do Instituto Bacaralli é composto de 55 crianças. Promover o ensino

de canto coral a crianças e adolescentes da comunidade de Heliópolis, em São Paulo é oobjetivo do Coral da Gente, programa desenvolvido desde o ano 2000. As atividadesrepresentam uma introdução ao universo musical e é por essa característica que o Coral daGente atua como porta de entrada para as crianças no Instituto Baccarelli. As aulas de técnicavocal, postura, respiração, percepção musical e expressão cênica são ministradas porprofissionais conceituados e preparados pedagogicamente para trabalharem o aprendizado eo desenvolvimento dos alunos.

Repertório: Anel Mágico, de Marcus Viana; Bolinha de Sabão, de Orlan Divo e AdilsonAzevedo; Chorinho, de Maria Menon; Fantasma, de W.A.Mozart; Filhote do Filhote, de J.Gurfunkel, P. Garfunkel; Isto aqui o que é?, de Ary Barroso; O Filho do Seu Menino, de RildoHora; O Professor, de Amilson Godoy e Celso Viáfora; O que Cantam as Crianças, de JoséLuiz Peralez; O Silêncio, de Arnaldo Antunes; Oh! Vamos cantar, de Negro Sipiritual; Pie Jesu,de Mary Lynn Ligh Hoot; Pipa, de Cadmo Fausto; Salada de Fruta, de Mario e Viviane Valladão;Semente do Amanhã, de Gonzaguinha.

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PerformanceTECENDO VIDA BOA

Texto, interpretação, figurino e objetos cênicos: Cecília BorelliMúsica: Marcos VianaEsta performance integra linguagem poética, artes plásticas, música e movimentos

arquetípicos com a intenção de evocar sentimentos e reflexões sobre valorização da vida, doafeto e da conexão com a natureza. (45min, livre).

ShowENTARDECER COM PAULO FREIRE E AS CRIANÇAS

CURUPIRA, SACI E COBRA-QUE-MAMA

Este show será um dos momentos do evento em que a criança será homenageada porum dos maiores violeiros do Brasil. Contador de “causos”, escritor de livros para crianças, omúsico encantará o entardecer na Sala Adoniran com histórias sobre os mitos brasileiros queestão dentro do imaginário de crianças e adultos. Para curtir em família. Ele acredita que “nomundo em que vivemos, promover a prática de contar histórias é imprescindível para odesenvolvimento do ser humano”. (65min).

O BAÚ DO SEU FRANCISCO – ESPETÁCULO MUSICAL

Autor: Dinho Lima e Rodrigo MercadanteGrupo: Cia. do TijoloFigurino: o grupoMúsica: Chico Buarque e repertório popular brasileiro.Elenco: os atores cantores Dinho Lima e Vivian Bertocco e o músico Júh VieiraSinopse: Quatro viajantes chegam de muito longe. Seguem um mapa que indica a

localização de um Baú do Tesouro que pertenceu a um tal Francisco Buarque de Holanda.Depois de encontrarem, descobrem que o tesouro escondido no fundo da arca é maior que oesperado: poemas, canções, cacarecos cheios de histórias e um diário contendo fragmentosda memória do poeta. Livremente inspirado na obra de Chico Buarque de Holanda.

DANÇAS CIRCULARES

ShowMITOS BRASILEIROS E A VIOLA - Especial ao Dia do Professor e do Ambientalista - com Paulo

FreirePara homenagear o professor e o ambientalista, convidar o violeiro Paulo Freire é sem

dúvida uma atração artística das melhores. Ele é um grande contador de “causos”, que falasobre os mitos brasileiros, seus segredos e mistérios, tirando sons de sua viola para ilustrar ashistórias, e desafia o expectador a entrar em sintonia com suas memórias. Diz ele que seuespetáculo é para revelar e partilhar as histórias escondidas em algum canto de nossa memória,individual ou coletiva, a partir dos “causos” de tradição oral. Será um grande espetáculo.

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Concerto ao meio-dia no CCSPIMPRESSÕES SONORAS - Quarteto de cordas e violãoConcerto com músicas originais e adaptações de músicas populares brasileiras para

esta formação. Músicas do Guia Prático de Villa-Lobos, peças de Ricardo Simões (violão) emúsicas de Tom Jobim (homenagem aos 50 anos de Bossa-Nova)

O Quarteto de Cordas é formado por Derik Coust (violino I), Luiz Barrionuevo (ViolinoII), Patrícia Barrionuevo (Viola), Priscila Randon (Cello), Quarteto de Cordas+Violão.

O SAGRADO E O PROFANO - CORALUSP XI DE AGOSTO (Faculdade de Direito da USP/LargoSão Francisco)

Regente e diretor musical: Eduardo FernandesDiretor Cênico: Reynaldo PueblaEspetáculo coral cênico. Repertório que procura dar um panorama da produção musical

de vários períodos, ao mesmo tempo insere diferentes gêneros musicais de diversas partesdo mundo. O fio condutor é o contraste existente entre as músicas sacra e profana.

Repertório: A Jangada Voltou Só/Ave Maria, Dorival Caymmi – Arr. Mônica Thiele-Gloria;Missa Indígena, Marlui Miranda; Três Cantos Afro-Brasileiros, Vários – Arr. Edu Lopes ; Je nelose dire, Pierre Certon ; Ofertório da Missa dos Quilombos, Milton Nascimento, PedroCasaldáglia e Pedro Tierra – Arr. Gilberto Periscinotto; Jubilate Deo, Jay Althouse; Tourdion,Anônimo; Cálice, Chico Buarque e Gilberto Gil; Deus lhe Pague, Chico Buarque; Bogoroditse,Devo; Raduysa, S. Rachmaninov; Ride the Chariot, Negro Spiritual – Arr. Henry Smith; EveryTime I Feel The Spirit, Negro Spiritual – Arr. Henry Smith; Sanctus, Jan Sandstrom; Deixa aVida me Levar, Zeca Pagodinho – Arr. E. Morelembaum; Se Eu Quiser Falar com Deus, GilbertoGil – Arr. André Protásio; Eu Dei, Ary Barroso – Arr Esmeraldo Ruzanowsky.

Show ao meio-dia no CCSPSOUNDSCAPE BIG BAND

Fundado em 1999, é um dos mais tradicionais e conhecidos grupos brasileiros de jazze conta com músicos profissionais que têm em comum o amor à música. O grupo já gravoudois CD´s e respeita a formação tradicional de uma big band de jazz, com cinco saxofones,quatro trombones, baixo, bateria, piano e guitarra. O show será baseado no repertório dosdois CD´s e em composições e arranjos inéditos. Programa: All Trumb ye e Xo, Alex Minhanovich:Almirante Nelson; Blues for Elisa, Todd Murphy; Dwarf Steps, Uncle Charle, C. Mingus; GoodbyeMingues – arranjo de Todd Murphy; Naked Soul, Ohad Talmor.

Show especial para o meio ambienteNOTAS MUSICAIS PARA O MEIO AMBIENTE

Cantoras e instrumentistas se reúnem para celebrar a natureza.As cantoras Olívia e Mona Gadelha, acompanhadas por Ana Fridman (piano), Clara

Bastos (contrabaixo acústico) e Gabriela Machado (pícolo, flauta transversal e flauta em sol)apresentam o show Notas Musicais para o Meio Ambiente, espetáculo concebido pela produtorae VJ Maira Sales (aka VJ Mrs).

O repertório contempla canções que abordam a relação homem-meio ambiente, de

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autores como Rita Lee, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Beto Guedes, Roberto e Erasmo Carlos.Olívia mostrará Estrada do Sol, de Tom Jobim e Dolores Duran, e Mona fará releituras deRefazenda, de Gilberto Gil, e Panorama Ecológico, de Roberto e Erasmo Carlos, entre outras.Não faltará no roteiro o “hino” pacifista O Sal da Terra, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, quecantarão juntas. Em sintonia com o tema, a VJ Mrs fará exibição de imagens digitalizadasinspiradas na natureza – da floresta amazônica a serras, praias e imagens do aquecimentoglobal. Também usará câmera ao vivo, acompanhando a performance das cantoras e banda.

Concepção e Pesquisa: Maira Sales e Mona GadelhaNo repertório, entre outras:Heitor Villa-Lobos/ A Canção do Amor, da Floresta do Amazonas e O Canto do Cisne

Negro; Gilberto Gil/ Refazenda e Flora; Tom Jobim/ Passarim e Águas de Março; CaetanoVeloso e Milton Nascimento/ A Terceira Margem do Rio; Chico Buarque/ Mar e Lua; Robertoe Erasmo Carlos/ A Temporada da Caça; Milton Nascimento/ Estórias da Floresta e Sertãodas Águas.

DUO AMARILLIS APRESENTA TOCA DAS FLAUTAS

com: Marília Macedo, Márcia Fernandes e o artista convidado: Guilherme de Camargo(cordas dedilhadas)

Criado em 2001, o Duo Amarillis tem um repertório formado por composições dos períodosmedieval, renascentista e barroco e utiliza instrumentos de sopro característicos de cada época.

O grupo prioriza a flauta doce como instrumento de ampla expressão e musicalidade,agregando composições contemporâneas, eruditas e populares, além de músicas de váriasregiões do mundo.

Para este Concerto o Duo Amarillis convidou Guilherme de Camargo, especialista emcordas dedilhadas, alaúde, viola de arame e guitarras espanholas, instrumentos que conferemao trabalho maior riqueza sonora.Programa

Idade MédiaAutores Anônimos /Chominciamento de Gioia/Saltarello/Estampie Real/Il Trotto/Ductia/

Tempus Transit Gelidum/Fulget Dies Celebris.Renascimento Jacob Van Eyck/ Amarili; Prins Robert Masco/ Doen Daphne; Engels Lied/ Tielman

Susato/ Ronde; Thomas Simpson / Mascarada; Pierre Phalèse/ Galharda; M. Praetorius/CouranteP. Phalèse/ Branle/ Tourdion; J. Dowland/Pavane/Galharda.

BarrocoAnônimo/ Italian Ground; G. Ph. Telemann/ Trio sonata em ré menor; A. Vivaldi/ Trio

sonata em mi menor

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ORQUESTRA INFANTO-JUVENIL DA ESCOLA MUNICIPAL DE MÚSICA – EMMRegente: Gretchen MillerFundada em 2002, congrega 125 crianças e adolescentes, a partir de oito anos. Já se

apresentou no Teatro Paulo Eiró, Teatro São Pedro, Teatro Municipal de Santo André, e variasvezes na Sala São Paulo e Teatro Municipal de São Paulo. O repertório abrange o barroco e asmúsicas mais clássicas do repertório erudito.

Gretchen Miller, natural do Arizona, Estados Unidos, atualmente rege também aOrquestra de Câmara de Porto Seguro. Foi fundadora e regente da Orquestra FilarmônicaInfanto-Juvenil de São Paulo, durante 10 anos, e com ela viajou em turnê pelos Estados Unidose Alemanha.

ProgramaHenry Purcell/Rondo de Abdelazar; Johann Strauss / Valsa do Emperador; Antonio

VivaldiConcerto em Si menor p/4 violinos - Allegro - violinos: Karen Macha, Cesar Augusto Bonfim,Thaise Maracaipe, Beatriz Ribeiro; George Gershwin/Rhapsody in Blue; Johannes Brahms/Dança Hungara nº 1; W. A. Mozart/ A Flauta Mágica - regência: Arthur Zanin; Josef Haydn/Sinfonia do Adeus - Allegro-Adagi; James Curnow/ Rhapsody for Euphoniom - tuba: JoseRenato Sequeira; Johann Pachelbel/ Cannone; Ary Barroso/ Aquarela do Brasil.

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Audiovisual

O AQUECIMENTO GLOBAL Arnaldo Fernandes Junior

Curador do Núcleo de Curadoria de Audiovisual do CCSP e do ciclo do evento EsteMundo é meu! 2008

É sempre um desafio muito estimulante conceber a programação audiovisual para oevento Este Mundo é Meu! Primeiro porque o projeto é de uma relevância flagrante. Trataessencialmente do que se costuma chamar modernamente de pertencimento e que outrasgerações poderiam traduzir por cidadania. Depois porque ao trabalhar na sua efetiva realizaçãotenho mais tempo para o prazeroso embate intelectual com a criadora e curadora geral doevento, sempre zelosa e atenta a tudo quanto se refere à criatura, o que sempre aumenta anossa responsabilidade e, creio, tem com desdobramento um resultado mais rico para o recorteque fazemos para o nosso público.

Este ano o evento tem como tema geral oMeio Ambiente: “Percepções, expressões,reflexões e experimentações socio-ambientais”. Tem como objetivo apresentarcomo o meio ambiente tem sido degradadoem face da expansão da chamadaCivilização Industrial ao longo dos anos,quais os desdobramentos dessa expansãopara a saúde ambiental do planeta e comoe a partir de quais ferramentas poderíamosmitigar, controlar, ou mesmo propor umnovo paradigma para um desenvolvimentosustentado, ambientalmente correto esocialmente mais justo.

Dentro desse recorte nós do Núcleo de Curadoria Audiovisual do CCSP apresentaremospara discussão aquele que é, do nosso ponto de vista, o principal e mais visível resultado dessaação antrópica sobre o meio ambiente: O Aquecimento Global. Estruturamos o evento tendocom fio condutor uma série de programas sobre o aquecimento global produzidos pelo GloboEcologia e veiculados pelo Canal Futura, ambos da Fundação Roberto Marinho, que esmiúçamà farta, e de forma muito didática, os elementos principais sobre o tema. A este programaacrescentamos dois clássicos: Uma verdade Inconveniente, dirigido por Davis Guggenheim,tendo como âncora o ex-vice-presidente americano Al Gore, que apresenta uma pungente eimpressionante visão da nefasta ação do homem sobre o meio destacando –apoiado em fartaquantidade de dados- que o superaquecimento global é um perigo real. Na mesma linha, etendo como foco o Brasil, trouxemos para o debate o trabalho Mudanças do Clima, Mudançasde Vida, produzido por duas equipes do Greenpeace Brasil e dirigido por Todd Southgate, que

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durante meses viajaram por todo o Brasil documentando os impactos das mudanças climáticasem diversas regiões do País. Como uma homenagem a um dos maiores cineastas brasileiros– Leon Hirszman – apresentaremos o seu raro e pioneiro curta-metragem Ecologia, de 1974,que já à época denunciava os efeitos nefastos do crescimento industrial descontrolado sobreo meio ambiente.

Para concluir essa reflexão sobre o tema haverá, ainda, um debate no último dia dociclo audiovisual. Estarão presentes o engenheiro químico, diretor técnico da Ecoinvest edoutor em energia pela Poli/USP, Ricardo Esparta, e a mestre em Educação, Política eLegislação Ambiental pela ESALQ/USP, Isis Akemi Morimoto. O debate, mediado pelopesquisador em cinema Luiz Felipe Miranda, abordará o tema “Aquecimento Global” de formaampla, enfocando, entre outros subtemas, a gênese, a evolução, o estágio atual e osdesdobramentos do processo de aquecimento global. Os filmes presentes na mostra enfocama influência determinante da ação antrópica no processo de aceleração do aquecimento.Porém, como reflexão e contribuição ao entendimento do tema haverá um cotejo entre aversão mais aceita no mundo para tal processo – a antrópica – e aquela defendida, por exemplo,no documentário A Grande farsa do aquecimento global (The great global warming swindle) epor outros cientistas, que credita à natureza o fenômeno. Tal cotejo, creio, dará uma dinâmicamuito interessante à análise.

Por fim esperamos que o nosso público possa fruir de todas as possibilidades que oevento como um todo oferece e que possamos legar às novas gerações informações preciosaspara que, adultos, não cometam os mesmos erros e não deixem para os seus filhos a mesmaherança que ora estão recebendo de nós.

Palestra “Aquecimento Global”A. Ricardo J. Esparta em 16/10/2008

O efeito estufa é causado pela absorção por gases de efeito estufa (GEEs) presentesna atmosfera de parte da radiação de calor (radiação infravermelha) emitida pela Terra (estaatua como corpo negro na absorção da radiação do sol), radiação esta que, de outra forma,iria para o espaço. O efeito estufa é um fenômeno natural e a vida na terra, como nós aconhecemos hoje, só é possível graças a ele. Em uma atmosfera livre de GEEs a temperaturamédia na superfície terrestre passaria dos atuais +15 oC para cerca de -5 oC, ou seja, 20 grausa menos. De forma inversa, o crescimento da concentração dos GEEs pode aumentar atemperatura média da superfície da Terra e de sua atmosfera. Ocorre que o aumento de pelomenos um dos GEEs, o dióxido de carbono (CO2), está intrinsecamente ligado à civilizaçãomoderna, já que ele é um dos resultados da queima de combustíveis fósseis (petróleo, gásnatural, carvão), que perfazem quase 90% das fontes de energias primárias consumidas noplaneta.

Desde a revolução industrial as atividades econômicas e industriais ocasionaramalterações significativas na biosfera do planeta. Pode-se citar, por exemplo, o aumento dequase 35% na concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera: de cerca de 280partes por milhão em volume, ppmV, no período pré revolução industrial, no século XVIII, para

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379 ppmV em 2005.O movimento para análise do risco e definição de ações com relação ao efeito estufa começoua tomar impulso em 1988, durante uma conferência conjunta da Organização MeteorológicaMundial (OMM ou WMO

1) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),

com a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês,“Intergovernmental Panel on Climate Change”).

Quando de sua criação, o IPCC foi constituído como um grupo de cientistas em umprocesso consultivo sem precedentes em tamanho e em escopo. A missão do IPCC é a dereunir o maior número possível de cientistas de diferentes países com o objetivo de coletar eanalisar a literatura disponível sobre o aquecimento global e consolidar relatórios sobre a ciência,possíveis impactos e políticas de reposta às mudanças climáticas.

Com base nos resultados do Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC, de 1990, negociou-se o texto final da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC,na sigla em inglês), com a adoção de metas voluntárias de redução de emissão de GEEs. Oobjetivo da Convenção do Clima é explicitado no seu artigo segundo:[...] alcançar [...] a estabilização das concentrações de GEEs na atmosfera em um nível que

impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. Esse nível deverá seralcançado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-senaturalmente à mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos não sejaameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneirasustentável.

Infelizmente, já em 1995 estava claro que com metas de redução voluntária os resultadosseriam insatisfatórios. Apenas alguns poucos países conseguiram de fato reduzir emissões, e ofizeram muito mais a partir de mudanças de política energética do que com ações visando àredução de emissões. Após alguns anos de negociações dentro da UNFCCC, foi acordado em1997 o Protocolo de Kyoto na Convenção do Clima, impondo reduções de emissões compulsóriasaos países industrializados (incluídos no Anexo I da UNFCCC, os chamados países-anexo-I),de cerca de 5% em relação às emissões de 1990, para o período de 2008 a 2012.

Países sem metas compulsórias no primeiro período, como o Brasil, por exemplo, nãosão obrigados a reduzir emissões, mas recebem incentivos se o fizerem. Esta é a essência doMecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), o artigo 12 do Protocolo de Kyoto. Esses incentivosserão fornecidos na forma de Reduções Certificadas de Emissões de GEEs, que poderão servendidas para países e/ou empresas dos países-anexo-I que encontrem dificuldades em cumprirsuas metas domesticamente. Um exemplo simples para obtenção de CERs é a substituição,em um processo de obtenção de energia, da queima de um combustível fóssil por outro renovável,por exemplo, biomassa vegetal obtida de maneira sustentável. Nesse caso, o dióxido de carbonoemitido na queima da biomassa é “recapturado” da atmosfera pela fotossíntese das plantas nocultivo contínuo e sustentável. Outra possibilidade na busca da redução da concentração dosGEEs na atmosfera seria o “sequestro” de carbono, por exemplo, por meio da fixação do carbonopor meio da fotossíntese no crescimento de vegetação, em projetos de reflorestamento

Depois de alguns anos de indecisão, o Protocolo de Kyoto, previsto para entrar em vigorem 2000, somente obteve o apoio mínimo necessário de países no final de 2004 e entrou

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oficialmente em vigor em 16 de fevereiro de 2005.Mas a discussão sobre mudança antrópica do clima (causada pela ação do homem)

passou definitivamente ao cotidiano da humanidade quando o ex-vice-presidente dos EUA, AlGore, e o IPCC das Nações Unidas receberam o Prêmio Nobel da Paz de 2007, justamentepor divulgar o tema. O fato constatado pelo IPCC em seu último relatório de avaliação é queo “aquecimento do sistema climático é inequívoco, como está agora evidente nas observaçõesdos aumentos das temperaturas médias globais do ar e do oceano, do derretimentogeneralizado da neve e do gelo e da elevação do nível global médio do mar.” Mas, apesar deuma certeza quase absoluta da maior parte dos cientistas que estudam o assunto, aindaexistem céticos com relação à responsabilidade humana no aquecimento global.

Dentre os “céticos” mais conhecidos mundialmente sobre a responsabilidade humanapelo aquecimento global observado podemos citar o presidente dos EUA, George W. Bush, eo acadêmico dinamarquês Bjorn Lomborg, autor do livro “O Ambientalista Cético”, publicadoem 2001. George W. Bush, presidente dos EUA desde 2001, não submeteu o Protocolo deKyoto ao congresso americano em seu primeiro mandato, alegando que os custos da adoçãodo tratado não se justificavam mediante as incertezas sobre a responsabilidade humana namudança do clima. Da mesma forma o professor Lomborg advoga em seu livro de 2001 queas incertezas eram muito grandes, tornando qualquer ação de grande porte injustificável.Desde então ambos mudaram suas posições e hoje reconhecem o aquecimento globalantrópico como um problema legítimo, ainda que permaneçam céticos com relação àpropriedade das ações em curso para minimizá-lo.

Mais recentemente um novo movimento de ceticismo emergiu, depois da exibição emmarço de 2007 do documentário “A Grande Fraude do Aquecimento Global2 ” pelo canal detelevisão britânico “Channel 4”. As principais alegações agora são a incerteza sobre a influênciado CO

2 e os altos custos dos estudos do IPCC. Para justificar a incerteza da influência do CO

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sobre o aquecimento global, os apoiadores desta tese utilizam um estudo que demonstrahaver um período de 800 anos na história durante o qual o aquecimento precedeu o aumentoda concentração de CO

2 na atmosfera. O estudo indica que em um período analisado total de

5000 anos há efetivamente um aumento significativo da temperatura média global, duranteos primeiros 800 anos, que não foi causado pelo aumento da concentração de CO

2 na

atmosfera. No período restante de 4200 anos as variações de temperatura são consistentescom a variação de CO

2 na atmosfera. A conclusão do trabalho é que no período houve um

aquecimento global não devido ao CO2, durante um período inicial de 800 anos, seguido de

variações provavelmente devidas ao CO2 no período seguinte de 4200 anos. Naturalmente

não é razoável concluir, como fazem os céticos, que está provado que a concentração de CO2

na atmosfera não influencia o clima.Com relação aos altos custos do IPCC a alegação dos céticos é de que “os alarmistas

do clima deveriam se lembrar de que crime contra a humanidade é gastar US$50 bilhões [queo IPCC e adeptos consumiram] e não chegar a uma conclusão3 ” e de que os cientistas, narealidade, estariam difundindo o pânico para garantir verbas para a ciência. Infelizmente aquio problema parece ser mais de desonestidade intelectual do que propriamente uma discussãocientífica4 , uma vez que os gastos totais do IPCC de 2001 até 2007 não passaram de US$50milhões. Os estimados US$50 bilhões citados pelos críticos não foram despendidos apenaspelo IPCC, mas foram consumidos globalmente em ciência, tecnologia e inovação em fontes

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renováveis de energia.Para efeito de comparação, este valor é sensivelmente menor do que o que a Petrobras

utilizará somente na exploração do petróleo pré-sal. Ou seja, o investimento em fontes renováveisde energia, ainda que pequeno quando comparado com os gastos em fontes fósseisconvencionais, tem aumentado continuamente e isso é majoritariamente positivo, do ponto devista de impactos ambientais. É também uma grande desonestidade intelectual afirmar que oIPCC não chegou a nenhuma conclusão. A diferença aqui é que os cientistas do IPCChonestamente reconhecem que o sistema climático é muito complexo e que ainda existemincertezas, mesmo que sendo elas muitíssimo pequenas. Já para seus críticos, a “ciência honesta”parece ser feita apenas de certezas.

Em resumo, os fatos indicam um aquecimento global inequívoco e a melhor explicaçãoconhecida para isso é o aumento da concentração dos GEEs na atmosfera devido a atividadesantrópicas. E que a discussão continue. Um bom filme para todos.

Educação ambiental e mudanças climáticas: Relato de uma experiência no Japão

Isis Akemi Morimoto.

O aquecimento global, o efeito estufa, o derretimento das camadas polares, adesertificação, etc., são temas que estão na pauta do dia de diversos jornais, revistas e programastelevisivos, e vêm tirando o sono de muita gente preocupada com o futuro da humanidade.Também alguns políticos e artistas demonstram preocupação com estes assuntos em seusdiscursos, e, apesar de alguns questionamentos sobre o que é real e o que é exagerado pelamídia e, ainda, sobre o que pode ser realmente atribuído às interferências humanas e o queocorreria como um fenômeno natural de qualquer maneira, a grande maioria das pessoasconcorda que algo deve ser feito para evitar maiores prejuízos e problemas causados por estesfenômenos.

Assim, como ecóloga e educadora, há algum tempo me perguntava de que forma poderiatrazer contribuições da área de Educação Ambiental para este contexto, e em busca de maisinformações e aprofundamento, me inscrevi no curso Desenvolvimento de Estratégias emMudanças Climáticas, oferecido pelaAgência de Cooperação Internacional doJapão – JICA.Participando do Curso no Japão, noperíodo de janeiro a março de 2008, tivecontato com alunos e professores dediversos países e instituições5 , inclusivecom o Sr. Taka Hiraishi do IPCC (PainelIntergovernamental sobre Mudança doClima), que recebeu o Prêmio Nobel, aolado do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.

No curso foram abordados diversos

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temas relacionados a Mudanças Climáticas, com enfoque em Negociações Internacionais,Protocolo de Kyoto, Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima,Programas desenvolvidos com o intuito de reduzir emissões de gases causadores do efeitoestufa, Compreensão de aspectos técnicos como cálculo de emissões de diversas atividadesantrópicas (Inventários), Funcionamento dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo,Estratégias para a conscientização de pessoas e instituições sobre impactos das MudançasClimáticas – Educação/Informação – Artigo 6 da Convenção Quadro, dentre outros. Todosestes temas podem ser aprofundados em consulta ao site do Ministério das Ciências eTecnologia – MCT (www.mct.gov.br/clima).

Gostaria de destacar agora, alguns destes tópicos estudados no Japão:

1) Histórico e conteúdo de acordos InternacionaisEm 1990, a Assembleia Geral das Nações Unidas criou o Comitê Intergovernamental

de Negociação para a Convenção Quadro sobre Mudança do Clima, que elaborou o texto daConvenção Quadro firmado por 155 países na “Cúpula da Terra”, durante a ECO 92, ocorridano Rio de Janeiro.

O Brasil foi o primeiro país que assinou a Convenção-Quadro das Nações Unidas paraMudança do Clima, em 4 de junho de 1992, sendo que a mesma entrou em vigor em 21 demarço de 1994, 90 dias após a quinquagésima ratificação.

A principal proposta da Convenção é que seja atingida a estabilização da concentraçãode gases de efeito estufa na atmosfera em um nível que impeça a interferência humana perigosano sistema climático, em um período de tempo que permita aos ecossistemas se adaptarnaturalmente à mudança do clima, garantindo ainda, que a produção de alimentos não sejaameaçada e que o desenvolvimento econômico prossiga de forma sustentável.

O Protocolo de Kyoto, Criado em 1997, veio complementar a Convenção-Quadro dasNações Unidas, pois, mesmo se tratando de um acordo independente, definiu obrigaçõesquantificadas de redução de emissões (metas) para os países desenvolvidos (tambémchamados de Partes do Anexo I), fazendo com que os mesmos se comprometessem a reduzirsuas emissões totais de dióxido de carbono a no mínimo 5% abaixo dos níveis de 1990, noperíodo compreendido entre 2008 e 2012.

O Protocolo entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, logo após a ratificação por55% do total de países membros da Convenção Quadro. Dos países desenvolvidos signatáriosda Convenção, somente o Estados Unidos não ratificou o Protocolo de Kyoto.

Dentre os mecanismos apresentados pelo Protocolo para auxiliar as Partes do Anexo Ia cumprir suas metas de redução de emissões, podemos destacar o MDL – Mecanismo deDesenvolvimento Limpo, que interessa bastante ao Brasil pois permite a participação dasPartes Não-Anexo I (países em desenvolvimento), por meio da venda de reduções certificadasde emissões. Ou seja, para que os países desenvolvidos consigam cumprir seu compromissode reduzir emissões, assumido ao ratificarem o Protocolo de Kyoto, é possível que elesincentivem (financeiramente) países não desenvolvidos a implementarem projetos voltados àdiminuição de emissões em suas atividades produtivas que, por sua vez, podem vender estas“reduções certificadas” no mercado de Carbono.

A implantação deste mecanismo não é tão simples assim, pois deve seguir uma

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metodologia previamente aprovada pelo Comitê Executivo do MDL ou submeter nova metodologiapara análise, que, depois de aprovada, torna-se de domínio público. Também deve seguir váriasetapas, tais como: Elaboração do documento de concepção do projeto; Validação e aprovaçãopela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima; Registro pelo Conselho Executivo;Monitoramento e verificação; Obtenção das Reduções Certificadas de Emissões paraComercialização.

2) Programas e Projetos do JapãoOutro importante destaque que gostaria de fazer sobre o Curso de que participei no

Japão, diz respeito aos programas desenvolvidos no país com o objetivo cumprir as metasestabelecidas no Protocolo de Kyoto, bem como para servir como exemplo para outros países.Segue uma breve descrição destas iniciativas:

Low-Carbon Society – Programa implantado no Japão em 2005 com a finalidade demobilizar diversos setores da sociedade (empresas, transporte, indústria, residências, etc.) paraa redução de emissões de Carbono a partir de mudanças no estilo de vida dos japoneses,principalmente no que tange a redução do consumo de energia, bem como promover odesenvolvimento e a adoção de tecnologias ambientalmente sustentáveis.

Hokubo Clean Center – Centro de processamento de resíduos sólidos, produção deenergia e Educação Ambiental. Neste Centro os resíduos sólidos gerados na cidade de Kyotosão separados e processados para serem utilizados pelo setor industrial. O material que nãopode ser reciclado é direcionado para a produção de energia. No Centro existe também, umprograma de visitação e um teatro especialmente preparado para ações educativas, ondeestudantes e visitantes podem conhecer mais sobre a proposta dos três Rs (Reduzir, Reutilizare Reciclar), abordada de forma semelhante em nosso país (Na verdade, o Brasil já adota umconceito mais avançado, o dos cinco Rs: Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recusardeterminado produto, se for o caso).

Bio Diesel Fuel – Sistema de aproveitamento de óleo de cozinha para produção deBiodiesel. Esta proposta prevê o envolvimento de restaurantes e residências em geral, quedevem separar o óleo proveniente de frituras, para ser entregue a um coletor que passasemanalmente em todos os bairros de Kyoto. O produto é processado e transformado emBiodiesel, utilizado em diversos veículos do transporte público municipal.

Stop Ondankan – Centro de Educação Ambiental criado para abordar exclusivamenteo tema Mudanças Climáticas, no qual estão disponíveis materiais educativos para empréstimoa educadores (kits com jogos, livros, imagens, etc.), e onde também são promovidos eventos,debates e reflexões sobre ações necessárias para se conter o aquecimento global.

Logistics Services/Sagawa Express – Os japoneses possuem o hábito de usar oserviço de entregas particulares com grande frequência, assim, algumas empresas do setorcomeçaram a adotar um sistema logístico, com centrais de distribuição estrategicamente

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localizadas, para realizar a distribuição de correspondências e encomendas com maior economiade tempo, energia e combustíveis.

Desenvolvimento de tecnologias diversas: Grandes investimentos têm sido feitosem pesquisas tecnológicas visando propiciar o desenvolvimento e o aprimoramento de veículosde baixo consumo de combustível ou movidos a eletricidade, biodigestores para tratamento deesgoto residencial, eletrodomésticos de baixo consumo de energia, captadores solaresadaptáveis a diversos equipamentos, etc.

3) Educação e ComunicaçãoMuitos temas abordados no Japão foram enriquecedores, mas, para mim, nenhum

deles é mais importante do que o Artigo 6 da Convenção Quadro das Nações Unidas sobreMudanças Climáticas, que dispõe sobre Educação, Treinamento e Conscientização Pública.Diz o seu texto:“Ao cumprirem suas obrigações (...), as Partes devem:

a) Promover e facilitar, em níveis nacionais e, conforme o caso, sub-regional e regional,em conformidade com sua legislação (...) e conforme suas respectivas capacidades:

I) a elaboração e a execução de programas educacionais e de conscientização públicasobre a mudança do clima e seus efeitos;

II) o acesso público a informações sobre a mudança do clima e seus efeitos;III) a participação pública no tratamento da mudança do clima e de seus efeitos e na

concepção de medidas de resposta adequadas; eIV) o treinamento de pessoal científico, técnico e de direção.b) Cooperar, em nível internacional e, conforme o caso, por meio de organismos

existentes, nas seguintes atividades, e promovê-las:I) a elaboração e o intercâmbio de materiais educacionais e de conscientização pública

sobre a mudança do clima e seus efeitos; eII) a elaboração e a execução de programas educacionais e de treinamento, inclusive

o fortalecimento de instituições nacionais e o intercâmbio ou recrutamento de pessoal paratreinar especialistas nessa área, em particular para os países em desenvolvimento.”Diante destas determinações, diversas iniciativas surgiram em âmbito nacional e internacional,tais como:

Intercâmbios e Cursos de capacitação como o oferecido pela JICA no Japão;Criação de um link no site da Convenção Quadro das Nações Unidas para divulgar

projetos e eventos educacionais: http://unfccc.int/cc_inet/Formação de Grupos de países voltados a promover troca de informações e tecnologias.

Ex.: Asia-Pacific Integrated Model – AIM;

No Brasil, houve abertura de fóruns e debates sobre a elaboração da Política Nacional sobreMudança do Clima (por meio da Comissão Mista Especial das Mudanças Climáticas) e doPlano Nacional sobre Mudança do Clima, além da realização da Terceira Conferência Nacionaldo Meio Ambiente, em maio de 2008, cujo tema foi Mudanças Climáticas6 ; dentre outrasações.

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Neste contexto, e conforme proposto na III Conferência Nacional do Meio Ambiente, a EducaçãoAmbiental apresenta-se por meio de uma proposta de mobilização, organização e educação dasociedade brasileira para que ocorram as mudanças culturais necessárias ao enfrentamentoqualificado das causas e efeitos das Mudanças Climáticas.

“Os efeitos do aquecimento global alertam para a necessidade de alterações profundasno modo hegemônico de produção e consumo. E o envolvimento profundo, crítico e atuante, decada cidadão e grupo social, é condição essencial para realizar esta dramática transformação”.(Caderno de Debate/CNMA/2008 p. 84.)

Para isto, o texto da Conferência Nacional sugere um conjunto de ações que promovam

e incentivem:Formação;Treinamento;Comunicação e Disseminação de Informação (criação e fortalecimento de mecanismos

ágeis, interativos e democráticos de acesso a informações qualificadas);Criação e fortalecimento de grupos, coletivos e estruturas formadoras para o

enfrentamento das Mudanças Climáticas;Mobilização e engajamento de instituições e sujeitos sociais (inclusive gestores);Exercício da Cidadania Ativa (reivindicando políticas públicas sintonizadas com as

demandas socioambientais);Participação coletiva nos processos decisórios;Planejamento estratégico para o uso racional dos recursos naturais e adoção de

compromisso ético com as futuras gerações;Busca constante por melhorias na qualidade de vida e recuperação de sistemas naturais;

Implantação de ações preventivas e transformadoras.Concluímos assim que, frente a todos os instrumentos presentes nos acordos

internacionais, bem como as participações voluntárias e a grande preocupação popular comrelação ao tema, podemos encarar este panorama relacionado com as Mudanças do Clima,como uma grande oportunidade para que a humanidade repense sua forma de organizaçãoe relação com a Natureza. Uma oportunidade de discutirmos o pertencimento do ser humanona Natureza, não como dominador e mero utilizador de recursos naturais, mas como parte delae de seu equilíbrio natural. Também uma possibilidade de discutirmos padrões de consumo,necessidades essenciais, responsabilidade por todas as etapas de produção do que compramos(forma de extração do recurso natural, transporte, energia na fabricação, condições de trabalho,embalagens, destinação dos resíduos gerados, etc.).

Este tipo de abordagem possibilitaria a participação de cada cidadão, contribuindo comações simples, como andar de bicicleta ao invés de carro ou usar transporte público, plantarárvores, fazer escolhas conscientes, destinar resíduos para reciclagem, comprar aparelhoscom maior eficiência energética, bem como, por meio da participação política e do exercício dacidadania ativa, cobrando providências por parte dos governantes e setores industriais.

No entanto, devemos ficar atentos, pois, por envolver acordos comerciais e recursosfinanceiros, alguns dos mecanismos do Protocolo de Kyoto, por mais bem intencionados quesejam, podem ocasionar adesões que visem apenas ao lucro de empreendedores, não gerandoefetiva redução de emissões, e sim uma simples troca do local da ocorrência dessas emissões.

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Esse comércio de créditos sem observação de critérios mais rígidos poderia vir a ser encaradocomo verdadeiro mercado de “licenças para poluir”. Além disto, preocupações reais, como aemissão de gases causadores do efeito estufa em processos convencionais de geração deenergia, poderiam ser utilizadas para justificar a instalação de usinas nucleares, que de fatoreduziriam as emissões do setor energético, porém, ocasionariam outros problemas bem maisgraves, como a dificuldade de destinar resíduos nucleares de forma adequada e os riscos deacidentes como o de Chernobil. Neste contexto, formas alternativas de produção de energia,como as energias solares e eólicas, continuariam não sendo priorizadas.

Deste modo, ações educativas que apresentem informações reais e bemfundamentadas, tornam-se ainda mais importantes para impedir manipulações da opiniãopública em sentido oposto ao que desejamos numa sociedade ambientalmente sustentável.

Conforme Al Gore aconselha no filme Uma Verdade Inconveniente: “Aprendam o máximoque puderem sobre a Crise do Clima e então transforme este conhecimento em ação”,Educação!

Referências:Caderno de Debate da Conferência Nacional do Meio Ambiente – CNMA/2008. www.mma.gov.brSite do Ministério das Ciências e Tecnologia. www.mct.gov.br/climaPrograma Low Carbon Society. http://2050.nies.go.jp/project_e.html

Sinopses dos filmes

Ecologia(Brasil, 1974, cor, 13min - suporte DVD)

direção: Leon HirszmanSinopse: Documentário pioneiro que trata dos elementos causadores da poluição e

seus efeitos sobre o homem e a natureza. Denuncia a utilização indiscriminada dos recursosnaturais por diversas indústrias.

Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas(Brasil, 2006, cor, 51min - suporte DVD)direção: Todd Southgate - produção: GreenpeaceSinopse: Durante meses equipes do Greenpeace viajaram por todo o Brasil

documentando os impactos das mudanças climáticas em diversas regiões. O resultado foi umfilme com imagens da seca, inundação e destruição, além de depoimentos de pessoas no Sul,na Amazônia e no Nordeste que sofreram, sofrem ou sofrerão com essas alterações.

Uma Verdade Inconveniente(An Inconvenient Truth, EUA, 2006, cor, 96min - suporte DVD)direção: Davis Guggenheim

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Sinopse: Documentário em que o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore apresentauma advertência e uma visão do futuro de nosso planeta e nossa civilização por causa doaquecimento global.

Aquecimento Global 1 - História do Conhecimento(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Primeiro programa da série que faz uma viagem no tempo para contar o

processo de aquecimento na terra e revelar a história das pesquisas cientificas sobre ofenômeno.

Aquecimento Global 2 - O Que Aquecimento Global? Que Fenômeno É Esse?(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O que é aquecimento global? Quais são os sinais desse fenômeno? É a primeira

vez que ele acontece? Essas e outras dúvidas sobre o problema ambiental mais debatido domundo são respondidas neste episódio.

Aquecimento Global 3 - Cenários Para o Futuro ?(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O episódio revela as conclusões do último relatório do IPCC (Painel

Intergovernamental em Mudança do Clima) sobre as mudanças climáticas em curso no planeta.Participação do cientista Paulo Artaxo, colaborador do IPCC, e de José Antônio Marengo, coordenadorda pesquisa brasileira, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Aquecimento Global 4 - Uma Ameaça às Espécies Tropicais(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: A mudança climática não ameaça apenas os seres que vivem no frio, como o

urso polar. Esse episódio mostra que espécies tropicais também correm risco de extinção porcausa do aquecimento.

Aquecimento Global 5 - O Cerrado Pede Socorro(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Viagem até o Parque Estadual da Serra dos Pirineus, em Goiás, para ouvir

dois especialistas do Cerrado: o biólogo Reuber Brandão, professor da Universidade Federalda Bahia, e a engenheira florestal Jeanine Felfili, da Universidade de Brasília.

Aquecimento Global 6 - Um Desafio Para Floresta Amazônica(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Mostra o esforço da ciência para entender o papel da Amazônia no clima do

planeta e acompanha o trabalho de pesquisadores numa estação científica escondida no meioda floresta.

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Aquecimento Global 7 - Escassez de Água(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Programa que aborda o derretimento das geleiras, uma ameaça à oferta de

água doce no mundo, e conta com a participação do glaciólogo Jefferson Simões e com opiniõesde Carlos Scaramuzza, superintendente de conservação do WWF-Brasil, e de Oscar CordeiroNetto, diretor da Agência Nacional de Águas, sobre as medidas que podem garantir água paraas futuras gerações.

Aquecimento Global 8 - Conservar para se Adaptar(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: As unidades de conservação serão importantes para minimizar o impacto das

mudanças climáticas na biodiversidade. Mas o isolamento das reservas prejudica a migraçãode espécies em busca de clima ameno. Neste episódio: os Mosaicos da Mata Atlântica, iniciativaque une remanescentes da floresta e torna mais eficiente a proteção de plantas e animais.

Aquecimento Global 9 - Degradação dos Oceanos(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Neste episódio, especialistas de duas universidades do Sul do Brasil

revelam que as mudanças climáticas ameaçam a dinâmica dos oceanos: ph, correntes,etc.

Aquecimento Global 10 - A História do Seridó(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O desmatamento antecipou um cenário de aquecimento global para o

semi-árido do Nordeste: a desertificação. Especialistas ensinam como o quadro pode serrevertido.

Aquecimento Global 11 - Aumento do Nível do Mar(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: A primeira nação a ser afetada diretamente pelo aumento do nível do mar foi

Tuvalu, no Oceano Pacífico. O episódio também revela as pesquisas que apontam asconseqüências para o Brasil.

Aquecimento Global 12 - Combate à Pobreza(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Este episódio aborda as populações vulneráveis ao aquecimento global no

mundo e acompanha o trabalho de educadores para combater a pobreza rural no sertão doPiauí.

Aquecimento Global 13 - Impactos Para Saúde(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Neste episódio o pesquisador Ulisses Confalonieri, da Fiocruz, revela que o

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aquecimento global agravará os problemas nutricionais e que a contaminação da águaaumentará a transmissão de doenças endêmicas e intensificará os efeitos da poluição nonosso organismo.

Aquecimento Global 14 - Eventos Climáticos Extremos(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Explicação de como o aquecimento global vai provocar mais desastres

naturais. No episódio também são mostradas as causas e conseqüências do primeirofuracão brasileiro, o Catarina, que devastou o Litoral Sul, e é exibido o aparelho queajudará a prever os temporais que castigam a cidade de São Paulo.

Aquecimento Global 15 - Energias do Futuro(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O episódio aborda a polêmica energia nuclear e a corrida mundial por fontes

renováveis de energia. Um exemplo vem do interior de São Paulo, onde o bagaço da cana-de-açúcar gera eletricidade.

Aquecimento Global 16 - Construção e Lixo(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O impacto do lixo e das construções nas cidades. Em Nova Iguaçu, um aterro

aponta uma solução: o tratamento adequado dos resíduos evita a contaminação ambiental ea liberação de gás metano. No episódio, participação de especialistas em construçãosustentável e apresentação de novas tecnologias que reduzem o desperdício e economizamrecursos naturais.

Aquecimento Global 17 - O Transporte na Cidade(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Alternativas para diminuir o impacto dos transportes no clima. Neste episódio

a cientista Suzana Kahn fala do fim da hegemonia dos automóveis e é exibido um depoimentode Fábio Feldman, ambientalista que se tornou o inimigo número um dos carros em SãoPaulo. E ainda é mostrado como o transporte não motorizado luta por seu espaço nas ruas eavenidas de Duque de Caxias (RJ).

Aquecimento Global 18 - Consciência Ambiental(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: No programa, iniciativas de mobilização contra o aquecimento global e a

importância da educação para despertar responsabilidades.

Aquecimento Global 19 – Desmatamento(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O desmatamento é o principal responsável pela posição que o Brasil ocupa no

mundo (4º quarto lugar) em emissões de gases que causam o efeito estufa. O programa mostraa evolução do problema nas últimas décadas na região amazônica e apresenta alternativas

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sustentáveis que evitam a derrubada das árvores.

Aquecimento Global 20 - Agricultura e Pecuária(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: Vilã e vítima. O episódio aborda como agricultura e pecuária contribuem para

o aquecimento global e por que elas também serão afetadas pelo problema.

Aquecimento Global 21 - A Nova Economia(Globo Ecologia/Canal Futura - 26min)Sinopse: O programa mostra o impacto do aquecimento global no mundo dos negócios

e o surgimento da nova economia, baseada na sustentabilidade. Especialistas analisam oscaminhos do Mercado de Créditos de Carbono, que movimentou US$30 bilhões em 2006.

Fórum de Reflexões - Integrações Socioambientais na cidade de São PauloErmelinda Moutinho Pataca

Em sintonia com as manifestaçõesartísticas e culturais que ocorrerão noprojeto Este mundo é meu! também serárealizado um Fórum de discussão com afinalidade de integrar as atividades doevento.O Fórum contribuirá principalmentecom a dimensão reflexiva.

Segundo alguns críticos, a intensavalorização da racionalidade técnico-científica, evidenciada na sociedadeindustrial contemporânea, distanciou ohomem da natureza e ocasionou a

fragmentação do conhecimento em diversas áreas, a segmentação social e a desvalorizaçãodas relações humanas. O processo histórico de apropriação natural teria conduzido ao estadoatual de intensa degradação socioambiental em que vivemos. Para reverter essa situaçãobuscamos, agora, um caminho de integração entre diversas áreas do conhecimento queconduzam a um equilíbrio entre as expressões humanas como razão, sensibilidade eespiritualidade.

O Fórum pretende contribuir com a interação entre áreas distantes. Desta forma, eletem o propósito de fomentar o intercâmbio de opiniões entre representantes de universidades,ONGs, Institutos de Pesquisa, políticos e outros membros da sociedade civil que discutem a

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questão ambiental. A partir do diálogo é possível colaborar com a investigação, a educação e adivulgação do conhecimento interdisciplinar sobre meio ambiente, com ações que visam construirsociedades mais justas e sustentáveis.Com esse propósito, foram constituídas seis mesas de discussão que pretendem abordar aproblemática ambiental de forma integrada, com foco na cidade de São Paulo, mas em conexãocom a dimensão global. Desta forma, a problemática ambiental em toda a sua complexidadeserá abordada por especialistas provenientes de áreas diversas:

1) Os sentidos e a percepção ambiental nas manifestações artísticas.Em sociedades industrializadas, a multiplicidade e a intensidade de sons, imagens e

aromas, aliadas ao intenso ritmo de vida das populações urbanas, conduzem cada vez mais auma deficiência na percepção ambiental. Uma das formas de reverter essa situação pode serrealizada com a colaboração das artes que apresentam grande potencial de sensibilização epercepção ambiental. Nesta mesa serão debatidas as diferentes percepções ambientais,especialmente por meio da ecologia acústica e da arte-educação.

Palestrantes: professora doutora Marisa Fonterrada,- UNESPTema: Música e Meio AmbienteProfessora doutora Maria Christina S. Lima Rizzi – ECA/USPTema: Arte-educação e percepção ambiental: uma reflexão sobre os desafios no presente

2) Ética, Espiritualidade e Natureza.Na atual perspectiva da temática socioambiental, quando se unem conhecimentos

decorrentes das manifestações de ativistas e das reflexões de pensadores, necessita-se aassociação da pessoa ao mundo coletivo em que se convive, fato que reforça a necessidade deencará-la sob os mais ousados formatos, inclusive os que incluem a dimensão espiritualista e aética. Nessa perspectiva, na mesa serão apresentadas três concepções diferentes sobre essavisão.

Palestrantes: doutor Leopoldo Gabriel Thiesen Filósofo, Educador e Artesão.Tema: Por uma espiritualidade pós-metafísicaProfessor doutor João Luiz Pegoraro – Biólogo. Doutor pela ESALQ/USP.Tema: Sustentabilidade, Espiritualidade e Auto-Realização.

Professora M.ss Maria Salette Mayer de Aquino - professora do Instituto de Estudos da Linguagem–UNICAMP

Tema: Reconhecer, pois somos todos um!

3) Áreas Verdes, Comunidades e ConservaçãoQuais são os significados das árvores para as populações urbanas? Como vemos as

áreas verdes em ambientes urbanos e industrializados? Como os indivíduos e o coletivo dascidades interagem com o ecossistema urbano? Com foco nessas e diversas outras questõesrelacionadas a fios de memória, racionalidade, espiritualidade e sensibilização das comunidadesurbanas e rurais serão discutidas nessa mesa.

Palestrantes: doutora Roseli Torres – Bióloga (Botânica) Pesquisadora do InstitutoAgronômico de Campinas (IAC)

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Tema: O Verde UrbanoProfessora doutora Ondalva Serrano, doutora em AgronomiaTema: Áreas Verdes, Comunidade e Conservação

4) Educação, Comunicação e Participação Ambiental.A Educação Ambiental tem-se colocado como um importante instrumento para a

compreensão e a conscientização sobre questões ambientais, no exercício da cidadania e nabusca de transformação da realidade socioambiental. Desta forma, a educação ambientalconfigura-se como educação política que deve possibilitar o uso do conhecimento não só narelação com os recursos naturais, mas também promover a participação do cidadão nas decisõessobre o seu cotidiano. Nessa perspectiva, o debate desta mesa explicitará princípios e práticasda Educação Ambiental em ambientes diversos como Escolas, Comunidades e Meios deComunicação, na busca da melhoria da qualidade de vida.

Palestrantes: professor doutor Marcos Sorrentino – Biólogo e PedagogoTema: Educação Ambiental Popular: educomunicação socioambiental e participação

na construção de sociedades sustentáveisProfessora doutora Vânia Maria Nunes dos Santos – Socióloga- Doutora em Educação

Aplicada às Geociências pela UNICAMPTema: Projetos escolares no estudo do lugar: (re)conhecimento da realidade

socioambiental e formação da cidadania

5) Água, ar e solo.A cidade de São Paulo se desenvolveu num terreno com condições naturais

extremamente favoráveis, o que se configurou em quase cinco séculos de sua história,permitindo um grande crescimento urbano. Os parâmetros naturais iniciais, como o relevofavorável, a abundância de cursos d’água, os terrenos de aluviões, periodicamente inundadose bons para cultivo, a proximidade de grandes rios, recursos minerais para a construção civil,etc., hoje estão completamente alterados devido à ocupação desordenada. Mas os paulistanosprecisam saber que os fatores naturais são condicionantes que precisam ser respeitados portodos aqueles que aqui instalam edificações, obras subterrâneas, ruas e avenidas, sob penade haver riscos ambientais, econômicos e até mesmo de perda de vidas humanas. Nessamesa serão discutidos o patrimônio geológico da cidade de São Paulo e como a populaçãointerage com a natureza, especialmente com relação à água e minerais.

Palestrantes: Gustavo Veronese – geógrafo, coordenador do Programa Rede das Águas– SOS Mata Atlântica

Tema: Monitoramento da qualidade das águas para ação ambientalProfessor doutor Celso Dal Ré Carneiro – geólogo, professor do Depto. De Geociências

aplicadas ao Ensino – Instituto de Geociências – UNICAMPTema: A geologia paulistana e o patrimônio socioambiental

6) Território, Sociedade e Políticas Ambientais.Todo território é o resultado do relacionamento de uma sociedade com uma porção da

superfície terrestre. A apropriação do planeta constitui a territorialização da humanidade,

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associando lugares e grupos ao longo da história. Desta forma, as relações do homem com oespaço são resultado das interações sociais deste com o meio ambiente, ou seja, a relaçãosociedade-espaço configura-se pela apropriação dos meios naturais. Na atualidade o modelode apropriação do espaço reflete as desigualdades socioeconômicas imperantes, sendo o períodomarcado pela ineficácia ou mesmo ausência total de políticas públicas para o enfrentamentodestes problemas.

Nesta mesa serão discutidas as perspectivas de criação de políticas públicas para aresolução de problemas complexos numa associação entre território e sociedade.

Palestrantes: professor doutor Antônio Carlos Robert de Moraes – geógrafo e sociólogo-professor do Departamento de Geografia da FFLCH/USP

Tema: Território, sociedade e Políticas AmbientaisProfessor doutor Pedro Roberto Jacobi – professor titular da Faculdade de Educação e

do Programa de Pós Graduação da Universidade de São Paulo – Coordenador da TEIA-USP-Laboratório de Educação e Ambiente

Tema: Território, sociedade e Política ambiental – do risco á sustentabilidade.

MESA 1 - Arte e Meio Ambiente

Música e meio ambienteMarisa Trench de Oliveira FonterradaInstituto de Artes – UNESPETEC das Artes –Centro Paula Souza de Educação Tecnológica

Em primeiro lugar, quero agradecer o convite para participar desta mesa redonda, noevento Este Mundo é Meu! Neste agradecimento, quero ressaltar a importância do convite,pois, embora tenha participado de alguns Congressos no exterior, em que abordei a questão dosom e do meio ambiente, é a primeira vez que participo, no Brasil, deste tipo de encontro.Minhas comunicações sobre essa temática têm se restringido aos Encontros de Música eEducação Musical, e é a primeira vez queme dirijo a um público não compostoespecificamente por músicos. O convite,portanto, me encheu de alegria, tanto pelaoportunidade de participar do evento e trazeraos presentes um pouco de minhasinquietações quanto por perceber que atemática do som ambiental está começandoa ter espaço nas discussões ligadas aosestudos do meio e à ecologia, o que ébastante promissor.

O estranhamento em relação àtemática Som e meio ambiente é resultadoda pouca familiaridade com o que se

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convencionou chamar de Ecologia Acústica, temática recente, embora a cada ano seja possívelconstatar o interesse por esse assunto crescer. O estudo dessas questões permite oreconhecimento do papel que o ambiente sonoro desempenha na formação e desenvolvimentodas capacidades auditiva e expressiva do homem. O ambiente sonoro apresenta duascaracterísticas:

- as universais, que ocorrem em países ocidentais e ocidentalizados, isto é, aquelesque desfrutam das conquistas empreendidas pelas Revoluções Industrial e Eletro-eletrônica;

- as peculiares a cada cultura: língua, sons ambientais e as diferentes formas demanifestações musicais.

As mudanças ocorridas no século XX introduziram novos sons ao ambiente, fazendoque hoje vivamos em um meio sonoramente superpopuloso, no qual as informações acústicasem demasia impedem sua clara compreensão, por parte da população em geral. Tal situaçãoexerce grande influência no desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades auditiva ecomunicativa do ser humano, favorecendo o surgimento de anomalias, ou impedindo o plenodesenvolvimento dessas capacidades.

A questão do som ambiental foi alvo de pesquisa científica sistemática desde o final dadécada de 1960 e início de 1970, no Canadá, liderada pelo compositor, educador musical eensaísta Raymond Murray Schafer. Ele era, a essa época, professor da Universidade de SimonFraser em Burnaby, um distrito de Vancouver, na Colúmbia Britânica. A questão do som já eraalvo de discussões no curso de Comunicações daquela Universidade e estava a cargo demédicos e advogados, que discutiam em suas aulas a influência do som na saúde da populaçãoe as questões legais ligadas ao excesso de ruído ambiental. Quando Schafer chegou àUniversidade para iniciar o seu trabalho docente, percebeu que os alunos estavam muitodescontentes com a disciplina, pois achavam que o que lhes era trazido não era de seu interesse.Eles ansiavam por outro tipo de aula, mais diretamente ligada à futura profissão.

Schafer, então, resolveu conversar com eles a respeito do som ambiental e da qualidade daescuta, mudando o enfoque negativo – caracterizado por questões legais, punições e problemasde saúde – para o positivo, em que se discutia a acuidade auditiva, a qualidade dos ambientesque os alunos frequentavam, a importância dos sons em suas vidas e o que fazer para tornarum determinado ambiente sonoramente equilibrado. As aulas eram de caráter prático e aclasse visitava diferentes pontos da cidade, gravando, procurando descobrir as característicasque detinham e estudando o som ambiental por múltiplos enfoques.Como técnica de coleta dos sons ambientais, em geral, eles se guiavam por temas, escolhidosapós discussão e as gravações eram feitas de modo a valorizá-los; surgiram, assim, gravaçõesdos sons do porto de Vancouver e dos brinquedos de rua do bairro chinês. O resultado foigravado em um CD, de nome Vancouver Soundscapes, que pode ser traduzido como Paisagenssonoras de Vancouver.

A partir dessas primeiras ações, a problemática do som ambiental teve um importanteincremento, quando Schafer criou The World Soundscape Project (projeto Paisagem SonoraMundial), na mesma Universidade em que trabalhava. Esse projeto estudou extensivamente oSom em sua evolução histórica, e o papel que desempenha na formação integral do ser humano;suas conclusões foram publicadas em 1977, no livro The Tuning of the World, traduzido em

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português sob o titulo A afinação do mundo (2001). Desde então, o som ambiental continua aser extensamente estudado por pesquisadores de várias áreas, em todo o mundo e a realização,em agosto de 1993, de um encontro multidisciplinar sobre Ecologia Acústica em Banff, Alberta,no Canadá – que recebeu o nome The Tuning of the World Conference (Conferência internacionalA afinação do mundo) numa homenagem a Schafer e seu livro pioneiro – vem confirmar essaafirmação. No final dessa mesma conferência, foi criado pelos pesquisadores presentes no TheWorld Forum for Acoustic Ecology (Fórum Mundial de ecologia acústica), que reúne váriospesquisadores do som que desenvolvem projetos, tanto no Canadá quanto em diferentes partesdo mundo, e pretende contribuir para o estudo da problemática que envolve o ambiente sonoro,difundindo pesquisas e discussões a respeito do assunto, bem como incentivando medidaspositivas que visem à melhoria da qualidade sonora ambiental, passíveis de serem tomadas porpessoas ligadas às mais diversas áreas do conhecimento.

A ideia defendida por Schafer é que, até a Revolução Industrial, o homem mantinhaequilíbrio em relação ao ambiente sonoro. A partir de então, com o aumento do ruído provocadopela invenção de numerosos aparelhos e máquinas, a descoberta da eletricidade e o alto volumeque, em geral, acompanhou as novas invenções, o desequilíbrio começou a se instalar; numaumento constante, os sons começaram a invadir a privacidade das pessoas, provocando-lhesuma série de desconfortos. Hoje começam a ser praticadas algumas ações que pretendemcoibir o excesso do som ambiental, e tornar a sociedade consciente de que todos sãoresponsáveis pela qualidade da paisagem sonora, mas as iniciativas nesse sentido ainda sãobastante tímidas.

É preciso enfatizar, no entanto, que não é apenas no alto volume do som ambiental queestá situada a sua problemática; a qualidade do ambiente sonoro é, também, profundamenteafetada pelos sons produzidos por máquinas e aparelhos eletro-eletrônicos no ambiente, poiseles são sons constantes, de baixa informação e não provocam interesse especial em quem osouve. Quando esses sons são extremamente graves como é o caso, por exemplo, do somsurdo do tráfego, continuamente ouvido nas cidades grandes, a perda de energia é enorme; eeles estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. O médico francês Alfred Tomatis osdenomina “sons de descarga”, porque descarregam a energia de quem os ouve, colocando-osem estado de sonolência e desânimo.

As pessoas têm diferentes níveis de tolerância em relação ao excesso de som. Algunsse sentem profundamente incomodados diante do ruído, que pode provocar tensão, dor decabeça e desconforto generalizado. Outros, porém, convivem com o excesso de ruído ambientalsem se importar com ele e até “estranham” quando se veem em um ambiente silencioso, depoisde morar muitos anos em locais barulhentos. No entanto, percebendo ou não o ruído ambiental,sentindo-se ou não incomodado com ele, o excesso de sons no ambiente pode causar muitosdanos à saúde, dentre os quais se assinalam perda auditiva transitória ou permanente, aumentode pressão arterial, estresse, insônia, problemas digestivos, alteração do ritmo respiratório,cefaleia e muitos outros.

Os sons que provocam bem estar são, em geral, os produzidos na natureza, como aágua, o canto dos pássaros, as ondas do mar na arrebentação, ou folhas dançando ao vento. Etambém os sons musicais, quando fornecem ao ouvinte qualidade diversificada de informação.Mas esses sons estão cada vez menos audíveis, pela sobreposição maciça dos sons

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tecnológicos, que exercem grande influência em boa parte da produção musical, o que explicariaa tendência em utilizar sons repetitivos, de baixa informação e emitidos em regiões muito graves.

Mas o que mais preocupa os estudiosos do ambiente sonoro não é o excesso ou asuperpopulação de sons no ambiente, diferentemente percebidos em cada caso. O que é motivode alerta é o fato de que, se isso está ocorrendo em todos os lugares, é porque a sociedade osaceita como inevitáveis e procura se acomodar a eles, não se preocupando em reverter essasituação.

De acordo com Schafer, isso decorre da pouca acuidade auditiva dos membros dasociedade; o homem contemporâneo desaprendeu a ouvir. Para ele, não bastam leis restritivascontra o excesso de ruído ambiental, mas um trabalho específico do que denomina EducaçãoSonora, que leve as pessoas a perceberem o som em suas particularidades, tomando consciênciade sua presença e desenvolvendo a vontade de contribuir para a qualidade da paisagem sonoramediante a própria intervenção.

Não se trata da simples detecção de ruídos invasivos ou de impacto na vida das pessoas,mas a compreensão de que o meio acústico é portador de preciosas informações a respeito doambiente em geral, devendo, por isso, ser estudado e analisado em pormenores. Como ciênciarecente, ainda não se explora suficientemente os indícios fornecidos pelo ambiente sonoro. Noentanto, as sociedades tribais e antigas civilizações serviam-se extensamente da escuta, paraobter informações acerca do ambiente e, mesmo na sociedade ocidental, isso era constantementefeito até um passado recente, mesmo que não se tivesse plena consciência de tal procedimento.A falta de atenção ao som ambiental é um fenômeno da contemporaneidade. No livro A afinaçãodo mundo, de Schafer (2001), pode-se encontrar muitos dados a esse respeito.

Outra questão a ser trazida é o conhecimento de quanto as interferências humana etecnológica podem influir negativamente no ambiente, provocando alterações nos hábitos dasespécies que habitam a região, ou facilitando a ação de predadores. Sabe-se que, entre ossapos, uma das funções do seu canto, difuso e não definido, é ocultá-lo da ação dos predadores,pois o som coletivo resultante provém de todas as partes, dificultando a localização do animal.Com sua exposição ao ruído externo, como a passagem de aviões a jato acima dos locais emque habitam, por exemplo, esse canto apresenta perfil consideravelmente alterado, e o que eradifuso e difícil de ser localizado, transforma-se em informações esparsas e localizadas, o quetorna os animais presas fáceis de predadores. Um estudo da influência dos sons tecnológicossobre espécies naturais foi desenvolvido pelo biólogo norte-americano Bernie Krause (2002),que apresenta dados inquietantes a esse respeito. Esse tipo de pesquisa, embora recente,permite a reunião de informações de importantes aspectos do meio sonoro natural e oplanejamento e controle das ações a serem implantadas em regiões que abrigam espéciessilvestres, de tal modo que o som delas decorrente provoque o mínimo de impacto e danos aoambiente.

Dar ao som a importância que lhe é devida implica em se trabalhar com o aperfeiçoamentoda escuta. A primeira tarefa da Educação Sonora é a escuta do ambiente. E isso começa com oSilêncio. O Silêncio pode provocar nas pessoas sentimentos contraditórios: para alguns, podeindicar paz, apelo para a imersão dentro de si, religiosidade, enquanto, para outros, pode assumircaracterísticas assustadoras, ligando-se a ameaças, tensão e morte. A situação atual de extremouso de ruídos no ambiente pode indicar que a segunda opção, talvez, tenha se mostrado a mais

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frequente. Muitas pessoas fogem do silêncio, povoando o ambiente com sons perenes: músicasem alto volume, barulho de máquinas e aparelhos, conversas e risadas constantes. Emboramomentaneamente essa atitude possa apaziguá-los, a falta de convivência com o Silênciopode impedi-los de desenvolver suas capacidades de escuta, de si mesmo, dos que estão aoseu redor e do ambiente em que vivem. Isso precisa estar na mente das pessoas que ocupamposições de liderança – professores, animadores culturais, líderes comunitários, políticos ouartistas.

A escuta é individual; num determinado ambiente, enquanto alguns sons são ouvidospor todos, outros serão ouvidos mais por algumas pessoas do que por outras. Isso podeacontecer tanto pela posição ocupada por elas no momento da experiência de escuta, poisalguns sons são mais audíveis de um lugar do que de outro, quanto, também, por causa dointeresse pessoal de cada um. O interesse conduz a escuta; alguém entusiasmado por carros,por exemplo, escuta e diferencia barulhos de motor, mas ignora sons naturais. Se o interessefor por animais – pássaros e sapos – esse indivíduo os ouvirá, ignorando os sons de motores,também presentes no mesmo ambiente. Isso significa que ouvimos seletivamente, isto é,escolhemos consciente ou inconscientemente, os sons que queremos ouvir. É o que ocorre nomeio da noite, quando a mãe, cansada, ouve o choro de seu filho, mas não acorda com buzinas,ou música em alto volume na vizinhança.Várias coisas podem ser feitas para despertar o interesse de um grupo pelo som ambiental:pode-se pedir para que todos permaneçam em silêncio durante um ou dois minutos,simplesmente ouvindo e anotando o que ouvem. Em seguida, essas listas podem sercomparadas. Nesse momento, se verá que a escuta individual opera, pois as listas, emborasemelhantes, não serão idênticas.A mesma lista pode ser utilizada para trabalhar distintas coisas. O som é um fenômeno físico,causado pela vibração. Sendo assim, detém uma série de propriedades, que são conhecidascomo parâmetros do som. Os sons podem ser classificados pela frequência, isto é, por suaaltura. Nesse sentido, podem ser agudos, médios e graves. Essa característica pode dirigir aordenação dos mesmos sons da lista, que serão dispostos em três colunas, de sons agudos(A), médios (M) e graves (G):

Sons do ambiente classificados quanto à frequênciaA M GCanto de pássaros Vozes conversando Motor de carro

Outra característica que pode ser buscada é a da duração. Quanto à duração, os sons podemser curtos (C), médios (M) e longos (L) e podem ser divididos desse modo, em outro quadro:

Sons do ambiente classificados quanto à duraçãoC M LPingo de torneira Buzina Zumbido de lâmpada

Outra classificação possível é aquela que se faz a partir da intensidade dos sons. Quanto àintensidade, eles podem ser fracos (f), médios (M) e fortes (F).

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Sons do ambiente classificados quanto à intensidadeF M FSussurro Voz falada Grito

Esse simples exercício vai mostrar que a discriminação sonora ganha qualidade quandose incentiva a escuta analítica do ambiente. Embora não se esteja até agora falando de música,esse tipo de escuta é semelhante à escuta musical. Não nos referimos à escuta amadora, emque se ouve música por prazer ou passatempo. Estamos falando da escuta do músico, focalizadano fenômeno musical. Essa escuta pode ser desenvolvida e apresenta significativo aumentode qualidade, assim que se começa a trabalhar com ela.

Com a escuta desenvolvida, o homem pode aprender a fruir o fenômeno musical paraalém do conceito de música como diversão e lazer, e compreendê-la como importante atividadehumana. A música pode atingir profundos recessos da psique e o aperfeiçoamento da escutapode auxiliar a aproximação com ela e, consequentemente, trazer ao homem mais umadimensão estética em sua vida.

Essas palavras não têm a pretensão de esgotar esse assunto tão instigante. Pretende,apenas, chamar a atenção das pessoas interessadas para a importância do som ambiental,mostrando que, além de sua presença constante em nossas vidas, ele tem outras funções:espelho das atividades humanas, indicativo das condições do ambiente e motivador de prazerestético, quando se apresenta como arte.

Referências Bibliográficas:Banff. The Tuning of the World Conference – proceedings. Calgary: University of Calgary, 1993. 2 v.FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. Música e meio ambiente: ecologia sonora. São Paulo: Vitale, 2004.KRAUSE, Bernie. Wild Soundscapes. Bekerley: Wilderness Press, 2002.SCHAFER, R. M. The Tuning of the World. Toronto: McClelland, 1973.(___). O ouvido pensante. São Paulo: Editora da UNESP, 1996.(___). A afinação do mundo. São Paulo: Editora da UNESP, 2001

Arte-educação e percepção ambiental: uma reflexão sobre os desafios no presenteAna Cristina Chagas dos AnjosMaria Christina de Souza Lima Rizzi

O que define o pensamento, as três grandes formas de pensamento, a arte, a ciênciae filosofia, é sempre enfrentar o caos. Mas a filosofia quer salvar o infinito, dando-lheconsistência. A ciência, ao contrário, renuncia ao infinito para ganhar a referência. A arte quercriar um finito que restitua o infinito.Deleuze e Guattari

A Proposta Triangular do Ensino da Arte foi sistematizada pela professora epesquisadora, da USP, Ana Mae Barbosa no final dos anos 1980. Trata-se de uma visão maiscontemporânea no ensino da arte que valoriza a construção, a elaboração e a cognição nosprocessos artísticos. Procura acrescentar à dimensão do fazer artístico, a importância do acesso

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ao patrimônio cultural e natural da humanidade. Postula que a construção do conhecimento emarte acontece quando há a intersecção da experimentação, com a codificação e com a informaçãoao relacionar o fazer arte, ler obras de arte e contextualizar a produção artística na realidadesociocultural, tanto sincronicamente como diacronicamente. Considera como sendo seu objetode conhecimento, a pesquisa e a compreensão das questões que envolvem o modo de inter-relacionamento entre a arte e o público.

Podemos considerar a Proposta Triangular como uma proposta de construção deconhecimento em arte que dialoga estreitamente com o Pensamento Complexo de EdgardMorin. Para ele, o problema da complexidade tornou-se uma exigência científica, social e políticavital no nosso século: por termos percebido que o pensamento que divide e separa (e que seengana por não saber ordenar as informações e os saberes) não é mais suficiente, pois, conduza ações mutilantes. Propõe um novo paradigma que busca a transdisciplinaridade.Para este autor, o ser vivo é um ser autoeco-organizador. Organiza-se por si mesmo e temnecessidade de extrair do meio exterior materiais, informações e organização em relaçõesdialógicas. Esta organização tem como característica notável ser ao mesmo tempo informacionale computacional.

Ana Mae, discorrendo sobre a prática de leitura de obras de arte, afirma que além dosconteúdos estéticos (formais e filosóficos), a leitura nos remete às discussões relacionadas àconsciência de duas importantes dimensões dos indivíduos e seus contextos. No plano individual,à singularidade de cada sujeito biológica e psiquicamente constituído. No plano coletivo àdiversidade cultural, às diversas possibilidades de ser e estar no mundo e na vida, na naturezacomo parte integrante da mesma.

Segundo a autora, “O trabalho dos arte-educadores, no sentido de despertar a consciênciapara o meio ambiente, não é menos importante. Temos que nos aliar a outros especialistas –sociólogos, ecologistas, cientistas, geógrafos, bem como arquitetos, urbanistas, comunicadores,psicólogos sociais e antropólogos – na luta em busca do equilíbrio entre preservação edesenvolvimento, que conduz a uma melhor qualidade de vida e do meio ambiente natural. Osproblemas do meio ambiente podem ser resolvidos apenas por meio de análise e decisõesmultidisciplinares. A educação ambiental somente terá sucesso se envolver um grupomultidisciplinar em processo interdisciplinar de ensino/aprendizagem.” (BARBOSA, 1998, p.116)

Fábio Cascino, em Princípios interdisciplinares para a construção de uma educaçãoambiental, aponta mudanças paradigmáticas para a educação ambiental a partir, principalmente,da Rio-92.

Segundo Fábio, “O homem do final da década de 60 reconhece-se como agentetransformador/destruidor das coisas sociais e naturais, pois este mesmo homem procura serconsciente dos Limites naturais e sociais. Passados 15 anos, 1987 com o Nosso Futuro Comum,há algo de novo no ar. A realização da Conferência Internacional sobre Desenvolvimento e MeioAmbiente, a Rio/92, marca uma profunda mudança nos paradigmas que orientam a leiturasobre as realidades sociais e os problemas que envolvem a produção e consumo de bens eserviços, a exploração de recursos naturais, a reforma e/ou substituição de instituições derepresentação e participação política, a transformação dos espaços de formação e educaçãodas futuras gerações.” (CASCINO, 1998, p.55)

De acordo o autor, “Com a Conferência de 1992 o planeta passa a ser olhado mais e de

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maneira diferente... Já não cabe apenas desvendar os Limites do Crescimento. Agora se tratade pensar conjuntamente homens e mulheres e a natureza, porque fazem parte dos mesmossistemas, existem pelas mesmas razões; há uma interdependência inquestionável.” (CASCINO,1998, p.59)

Na área de Arte-educação, foi sob a coordenação da professora doutora Ana MaeBarbosa, nos cursos promovidos pelo Festival de Inverno de Campos do Jordão de 1983, queforam realizadas com estudantes e professores as primeiras experiências “de apreciação dacultura e do ambiente natural”.

No seu livro Tópicos Utópicos, afirma que a preocupação com a ecologia vinha sendoconsiderada característica da pedagogia pós-moderna e o Festival foi o primeiro “evento deorientação educacional pós-moderna no ensino da Arte” e, assim, marco histórico do ensinoda arte no Brasil. Nele, foram investigadas as possibilidades de desenvolvimento, ao mesmotempo, da “capacidade de construção estética e da capacidade de percepção do meio ambiente”(Barbosa, 1998, p.114)

Entre 1987 e 1993, Ana Mae Barbosa, então diretora do Museu de Arte Contemporâneada Universidade de São Paulo – MAC/USP, desenvolveu uma programação voltada para estudosambientais chamada de Projeto Arte e Meio Ambiente, que incluía na educação estética anatureza, para desenvolver a consciência estética e ambiental, a partir de exposições, cursospara crianças e professores de arte, simpósios e debates.

No ano de 2006, o Instituto de Pesquisa em Ecologia Humana – IPEH, em conjuntocom o Conselho Comunitário de Saúde Doutor Franco da Rocha – CCSFR, duas dasorganizações da sociedade civil da região da bacia hidrográfica do rio Juquery (afluente do rioTietê) e que constituem o movimento de mobilização da comunidade local para recuperaçãodo rio, chamado Juca Vivo, e pró-desenvolvimento sustentável do vale do Juquery e Serra daCantareira, a Norte/Noroeste da região metropolitana de São Paulo, realizou a quarta ediçãodo Programa de Educação e Conservação Ambiental denominado Projeto Chão Verde TerraFirme, que buscava “Dar continuidade na implementação do Programa de Educação eConservação Ambiental, aprofundando e consolidando o Programa nas escolas parceiras, apartir da intensificação das atividades de capacitação dos educadores e comunidade escolarna compreensão e manejo de conceitos e instrumentos de educação ambiental e uso racionalda água”.

O curso semipresencial de Percepção Ambiental, intitulado Arte-Educação Ambiental,foi realizado, de junho a novembro, por 130 professores de diversas disciplinas e áreas doconhecimento, oriundos das 79 escolas da rede pública estadual de ensino das cidades quecompõem o Vale do Juquery e Serra da Cantareira (Caieiras, Franco da Rocha, FranciscoMorato, Cajamar e Mairiporã), graças a uma parceria com a Diretoria de Ensino da Região deCaieiras.

O curso trabalhou a “leitura crítica de imagens de bens naturais e patrimoniais (culturais)”no processo de ensino e aprendizagem da Educação Ambiental e apresentou a “Leitura Crítica”,a partir de um diálogo com a arte-educação, como mais uma perspectiva para o trabalhopedagógico do professor visando à compreensão e à apropriação de conceitos de EducaçãoAmbiental e Patrimonial, entendendo-se que o conhecimento e a percepção da história daregião podem motivar as pessoas a se mobilizarem pelo desenvolvimento local e para aconstrução de políticas públicas em estreita parceria com os poderes públicos locais.

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Ao final desta experiência com os professores chegamos às seguintes reflexões:Não são diferentes das outras áreas de conhecimento e atuação os desafios para a Arte

- Educação Ambiental no presente: clareza de objetivos, adequação dos métodos aos objetivos,consciência e atuação ética, busca de qualidade estética.

Participar de atividades artísticas, estudar temas artísticos e culturais e conversar sobrearte são atividades que colaboram para o amadurecimento do ser humano via desenvolvimentoda consciência sensível.A qualidade estética presente nos fazeres artísticos exige harmonia, inteireza e completude.

O vivenciar a qualidade estética é uma experiência que transborda para todas as áreasdo ser e do conhecimento. Neste sentido, a pessoa esteticamente “afinada” por suas referênciaspessoais e culturais torna-se mais atenta à percepção de si e do meio. Sabe como dar forma àssensações e ideias. Sabe descriminar, conceber e atuar.Estas são qualidades e valores necessários à consciência sobre o ambiente (natural e cultural)e as necessárias propostas de atuação qualificada.Viver e deixar viver (e conviver) é o mínimo que todos almejamos no presente. Arte-EducaçãoAmbiental não é um modismo, é uma premência. Todos que estão no mundo com consciênciatêm se preocupado e se debruçado sobre seus temas.

Referências bibliográficasBARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1994.BARBOSA, Ana Mae. Tópicos utópicos. Belo Horizonte: Com Arte, 1998.CASCINO, Fábio Alberti. Princípios interdisciplinares para a construção de uma educação ambiental. Tese (Mestrado). São Paulo: PUC-SP,1998.DELEUZE, G. e GUATTARI, F. O que é a filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.MORIN, E. O problema epistemológico da complexidade. 2. ed. Lisboa: Europa-América, 1996.

MESA 2 - Ética, Espiritualidade e Meio Ambiente

Sustentabilidade, Espiritualidade e Auto-realização

João Luiz Pegoraro

A partir da década de 1960 e maisintensamente da década de 1970, quandoa problemática ambiental passou a gerarcrescente discussão sobre os rumos dassociedades urbano-industriais emsolidificação, diferentes encaminhamentossobre o assunto começaram a serdefendidos e debatidos.De início, propostas polêmicas, surgidas empaíses ricos, apontavam para radicaismedidas de controle do crescimentopopulacional e de redução do crescimentoeconômico, as quais atingiriam de forma

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direta os países pobres.As reações e os debates que se seguiram convergiram para a necessidade de se

construírem modelos de desenvolvimento menos impactantes que, por sua vez, propiciaram osurgimento de um largo espectro de formas dirigidas ao entendimento da materialização detais anseios.

Atualmente, há os que acham suficiente a criação de mecanismos capazes dedetectarem e solucionarem possíveis focos de problemas ambientais, potenciais ou reais,tratando-os de forma relativamente pontual, a partir de suas especificidades, sem, contudo,tocar efetivamente nem nas bases do modelo de desenvolvimento nem no modo de vida urbano-industrial consumista.

Essa forma de tratar os problemas ambientais é bastante generalizada, como se podeobservar no caso da destruição da camada de ozônio e da emissão dos gases responsáveispelo efeito estufa. Basicamente, nesses dois casos, as ações giram em torno de identificar osprodutos e gases que ocasionam problemas e de reduzir ou substituir, gradativamente,processos ou produtos cujos usos os liberam. A crença de que novas tecnologias sempresurgem e aprimoram os processos de produção, afasta a preocupação com a necessidade demudanças radicais e reforça essa tendência de enfrentamento dos problemas ambientais.O investimento efetivo em tecnologia industrial suave também está no rol das medidas deoutros que admitem mudanças mais proeminentes nos processos de produção e nocomportamento da população humana. Além das tecnologias adequadas, propõem políticaspúblicas adequadas, especialmente associadas à legislação e ao planejamento ambiental, oestímulo ao consumo consciente e “verde”, bem como eficientes programas de EducaçãoAmbiental.

Entretanto, muitos ambientalistas consideram que esses encaminhamentos são, nomáximo, reformistas e não seriam suficientes para atender às demandas crescentes por energiae matéria, tanto per capita quanto em relação à expansão natural do crescimento da populaçãomundial. Desde a década de 1970, ambientalistas da linha dos ecologistas procuram propagarque os caminhos para equacionar as questões ambientais relacionam-se tanto a mudançasnas bases consumistas que movem a economia e o modo de vida das modernas sociedadesurbano-industriais como aos valores que as movem e que nelas são realimentados. Nãoacreditam que, sob o modelo urbano-industrial de inspiração capitalista-consumista, queinclusive se globaliza, seja possível chegar a sociedades sustentáveis.

Para eles, a busca por sociedades sustentáveis não poderia admitir um único modelomundial, especialmente baseado em acirrados mecanismos de competitividade e em rígidosprocessos de exclusão. A busca de sociedades sustentáveis deveria contemplar caminhospluralistas e a autodeterminação das comunidades e povos cujo processo de desenvolvimentonecessariamente deveria apontar para a satisfação das necessidades de todos os seuscomponentes humanos, sem a exclusão que ora atinge largas faixas da população mundial.

Para os ecologistas, diante da intensificação no quadro de concentração de renda e deaumento da pobreza mundial, a sociedade contemporânea resgata algo parecido com as antigaspropostas dos anos 1970, que desejavam fixar o crescimento, populacional e econômico, dos

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países pobres. Agora, de forma generalizada, faixas das populações dos países pobres sãomantidas à margem do consumo básico para “liberarem” recursos ambientais, matéria e energia,necessários à manutenção dos modelos esbanjadores dos países ricos ou países do Norte.

Consideram que a sociedade contemporânea exibe níveis de incoerência próxima dainsanidade, já que se discursa, o tempo todo e por todos os meios, em defesa da vida; enquantomassas enormes de humanos morrem vítimas das mais variadas causas plenamente superáveisa partir das tecnologias já desenvolvidas e disponíveis. Investe-se muito mais em tecnologia deguerra, na indústria e no mercado da morte do que na promoção plena da vida.

Os conflitos armados são emblemáticos devido às extremas agressões socioambientaisque provocam. A sofisticação crescente dos equipamentos militares já não permite que sejamproduzidos em “fabriquetas” clandestinas e ocultas. Exigem um parque industrial e movimentamum mercado internacional de grande monta. Há muitas pessoas de “bem” que com os ganhosnas indústrias da morte e da mutilação pagam regularmente o dízimo à igreja e cuidam comdedicação de seus filhos. Qual a ética ou o princípio que está por trás, por exemplo, da fabricaçãoe do mercado de minas terrestres, armas que permanecem mutilando e matando estupidamentegente que nasce após o fim do conflito que motivou seu uso?

Por sua vez, parece um descalabro, diante de tanta maquinaria e avanços decorrentesdas novas tecnologias, um ser humano passar a melhor fase de sua vida, até aposentar-se,trabalhando em atividades enfadonhas, alienantes e desagradáveis, seja em fábricas, nosescritórios ou no campo. Um operador de máquina de qualquer indústria, por exemplo,permaneceria “preso”, ao longo de mais de 30 anos de sua vida, nos melhores horários do dia,ao espaço de utilização da máquina que opera um estrado não maior do que quatro metrosquadrados. E esse regime de trabalho não era diferente nos países que se abrigavam sob otítulo de socialistas, desagradando os ecologistas, que embora execrassem (e ainda execram)os princípios competitivos estimulados nas sociedades capitalistas, questionavam também aqueleformato político-social.

Se na complexidade do mundo contemporâneo os jogos de interesses não permitemque realidades como essas sejam tocadas, é pouco provável que em médio prazo se possacaminhar em direção a um mundo idealizado a partir dos pressupostos de sustentabilidade.Mais ainda: indicam que há profundas contradições na estrutura da sociedade do século 21,evidenciando que a crise, antes de ser apenas modelo de desenvolvimento, é também modelode civilização.

Com efeito, perscrutar os caminhos para se chegar a novos modos de vida que secontraponham ao modelo do cidadão construído sob valores da sociedade urbano-industrial deorientação consumista passou a ser o objetivo de muitos ambientalistas, inclusive agregadospor núcleos de afinidades.

A partir dos anos 1970, muitos desses críticos do modo de vida defendido comohegemônico passaram a se agregar em núcleos de convivência coletiva, geralmente rurais,que ficaram conhecidos, entre outros, como “comunidades alternativas”. De forma geral,pretendiam organizar-se em estruturas tribais centradas na convivência solidária, cuja dinâmicade funcionamento permitisse contato mais direto com uma diversidade de elementos do meionatural, que comportassem de forma mais plena as práticas espiritualistas voltadas aoautoconhecimento e que propiciassem maior tempo para tarefas agradáveis.

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A constituição dessas comunidades alternativas soava como uma ruptura com os padrõestradicionais de uma sociedade organizada em famílias, cujos membros eram tragados por umafaina cotidiana associada tanto a uma competição exacerbada como a um consumismo alucinado.

Mas acabavam alvo de críticas de ativistas político-partidários e movimentos sociais queos acusavam de alienados da realidade histórica local, já que, do final dos anos 1960 atémeados da década de 1980, a prioridade era a luta para resgatar os direitos civis e políticos,centrando forças nas expectativas de superar o autoritarismo implantado pelo golpe militar de1964.

Entretanto, para integrantes dessas comunidades alternativas, os núcleos de convivênciasolidária representavam experiências concretas de uma nova ordem de relações e que, dealguma forma, poderiam encontrar níveis de expansão, constituindo-se, portanto, em uma açãode ordem revolucionária.

Na verdade, muitos ambientalistas e ecologistas tinham atuações diversificadas,integrando frentes de movimentos de diferentes dimensões ou abrangência, fossem eles dealcance político-social, cultural ou espiritualista. Especialmente nos anos 1980, era possívelver, por exemplo, em diferentes países da América Latina, ações de grupos de ambientalistas eecologistas pautadas na não-violência ativa. Essa linha de atuação, utilizada com eficiência porMahatma Gandhi, na Índia, e que foi uma marca de movimentos contraculturais e de grandeparte dos grupos de ecologistas, emprega o princípio do pacifismo ativo e da desobediênciacivil, onde o ativista desafia, expõe-se, mas não revida. Ele não sai, não desocupa: é retirado;não vai preso: é levado preso.

Desiludidos com as origens antropocêntricas da tradição judaico-cristã, muitos ecologistaspassaram a buscar inspiração em filosofias e práticas espiritualistas orientais e esotéricas, bemcomo em práticas oriundas de povos indígenas e populações tradicionais da própria América edo Brasil. Acreditavam que práticas mais centradas no autoconhecimento pudessem levar aníveis crescentes de mudanças interiores e que seriam capazes de contribuir de forma maisplena para a organização de coletivos cujos valores incluíam a solidariedade entre os humanose o respeito aos demais elementos não humanos do ambiente natural.

No atual momento do estado da arte da temática socioambiental, quando se unemconhecimentos decorrentes das experiências vivenciadas pelos ativistas e das reflexões depensadores, já é consenso que se trata de uma questão de extrema complexidade, cujas múltiplasfaces se emendam a tantas outras questões contemporâneas associadas à pessoa humana eao mundo coletivo em que se convive, fato que reforça a necessidade de encará-la sob os maisousados formatos, inclusive os que incluem a dimensão espiritualista.

Essa leitura já se fazia presente em algumas tendências do ambientalismo dos anos1970, como se vê registrado nos vários números do boletim Pensamento Ecológico, editado deforma alternativa por Luiz Carlos de Barros. É temática que vem sendo enfocada por autorescomo Guattari (1990), Moraes (1993), Boff (1993), Unger (2000), entre outros.

É inegável que fica cada vez mais patente a insustentabilidade dos modos de vidaapontados e amplamente divulgados como modelos a serem perseguidos na moderna sociedadeurbano-industrial. A autorrealização baseada no consumismo, por exemplo, além deambientalmente suicida, não dá conta de gerar níveis mais plenos de satisfação ao indivíduo.Qualquer sustentabilidade socioambiental, no mínimo, depende da superação desse princípio,fato que passa pela revisão do significado da autorrealização no mundo contemporâneo.

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Referências Bibliográficas:BOFF, Leonardo. Ecologia, Mundialização, Espiritualidade: a emergência de um novo paradigma. São Paulo: Ática, 1993.BOLETIM INFORMATIVO PENSAMENTO ECOLÓGICO. São Paulo, s.e. 1979-1986 [Editor: Luiz Carlos de Barros]GUATTARI, Felix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.MORAIS, João F. Regis de. Ecologia mental. Campinas: Editorial Psy, 1993.UNGER, Nancy Mangabeira. O Encantamento do Humano: ecologia e espiritualidade. São Paulo: Loyola, 2000.

Por uma espiritualidade pós-metafísicaLeopoldo Gabriel Thiesen

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Tudo que o poder do mundo faz é feito em círculo.O céu é redondo e ouvi dizer que a terra

é redonda como uma bola, assim como todas as estrelas.O vento, quando se mostra no máximo de sua força, gira.

Os pássaros fazem seus ninhos em círculos,pois a religião deles é a mesma que a nossa.

O sol nasce e se põetambém em círculo. A lua faz o

mesmo e ambos são redondos. Até asestações formam um grande círculoem sua passagem e sempre voltam

para onde estavam. A vida de um homemé um círculo da infância até a infância.

E assim é em tudo onde se movimenta o poder.Alce Preto, Oglala Sioux

(1863-1950)

Esta maravilhosa epígrafe me caiu em mãos, ao acaso, quando já concluíra uma primeiraversão do texto e já alcançara seu limite máximo. Uma ocasião para revê-lo e eliminar algunsexcessos que nos afastam dessa sabedoria tão simples e natural que temos a impressão quepodemos tocá-la com as mãos como se tocássemos a água gelada que desce das montanhas.Esta sabedoria que destruímos e hoje nos faz tanta falta. Mas estaríamos dispostos a pagar opreço de renunciar ao nosso modo de vida para reencontrá-la? Se é que pode ser reencontrada?

Bem, certamente não em estado puro, mas ela compõe o universo das experiênciashumanas e pode sempre ser revivida desde que tenhamos coragem de nos abrir a ela. Seriaesta a tarefa de uma espiritualidade natural e pós-metafísica? Não deixar se isolar e abrir-se àtransitoriedade da vida em sua infinita reincidência circular? Uma infinidade de questões proliferano cruzamento das problemáticas éticas, ambientais e espirituais. Tanto que nos restringiremos,aqui, devido ao alcance limitado de nossa análise, em sondar algumas tendências que distendemeste cruzamento.

As proposituras práticas (éticas e morais) geralmente se alinham em: perspectivas decontrole, fundadas em instâncias metafísicas transcendentais como fontes únicas de sentido,

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valor e poder; e perspectivas de criação na imanência em composições complexas e múltiplasde forças que se arranjam de forma mais ou menos aleatória e auto-organizativa. Nas análisesque afirmam perspectivas de controle, predomina a tendência que, levada a extremos, incidiuna distinção radical entre o campo espiritual e a realidade imanente e natural.

Seria necessária, aqui, uma ampla e cuidadosa digressão genealógica que desse contade ir às raízes da espiritualidade. Encontraríamos tais origens, provavelmente, associadas aum fato que é geralmente referido como um dos primeiros traços de civilização humana, qualseja, o de enterrar os mortos e prestar-lhes culto. Trata-se, de um cerimonial que traça osprimeiros esboços de transcendência. Talvez sua função seja, sobretudo, de amenizar a dorde uma ferida que está, menos na perda dos entes queridos, do que no assombro diante daprópria finitude. Tal assombro cresce e a ferida se aprofunda à medida que cresce a consciênciada individualidade. Com essa consciência, o indivíduo torna-se o eixo em torno do qual osentido se articula e é ele (ou sua alma individual e imortal) que precisa ser salvo do fiminexorável que se reitera em cada morte que ocorre na aldeia.

Nasce, assim, como fruto da imaginação impulsionada pelo medo da finitude, umaaldeia da memória, onde são cultuados os antepassados e seus feitos, sempre acrescidos depotência fantástica. Aldeia, esta, que deve acolher, primeiro, apenas os heróis e, posteriormente,todo e qualquer membro da comunidade, sempre em escalas hierárquicas de merecimento,conforme os costumes e valores da aldeia. A moral local projeta, assim, um podium fantásticoe fecha o círculo que irá estabelecer, no além, o sentido da vida individual e coletiva.

Os desdobramentos desse enredo elementar, e as resistências a ele, constituem opróprio destino da humanidade até hoje. A modernidade vem acrescentar, ainda, o acento naautossuficiência moral do indivíduo, perdendo em grande parte a força do sentido da vidacomum, que propiciava uma perspectiva de transcendência comunitária. Afirma-se, dessemodo, a perspectiva de um indivíduo isolado e amedrontado que se refugia na imaginaçãopara construir uma transcendência que o salve da finitude. Em contrapartida, as vontades decontrole, configuradas em morais totalitárias e fundamentalistas, servem-se de tais projeções,manipulando o medo e a esperança que nelas se projetam e alienando o poder de criaçãoautônoma e afirmativa de sentido transcendental.

Desenvolvemos, aqui, sem dúvida, uma digressão extremamente simplória dastendências que, até hoje, seguem projetando trás-mundos e pós-vidas que fundamentam osentido da realidade em que vivemos. Trata-se de um esforço imaginário para explicar, justificar,julgar e dar sentido ao mundo imanente, em que se desdobra a existência na contingência ena precariedade da finitude humana. Tal tendência alimenta uma profunda suspeita em relaçãoà vida e à natureza, acusando-as de inconsistência, apoiada em fundamentos metafísicos,pretensamente, estáveis e absolutos. Para salvar o indivíduo e sua mesquinha almaamedrontada, renega-se a vida, notoriamente negligente com ele. Afinal, que importa, daperspectiva da vida e da natureza, o indivíduo? A vida aposta, e basta observar um pouco anatureza para constatá-lo, na exuberância e na proliferação de sentidos e tentativas individuaisaleatórias, sempre perseguindo o acaso extraordinário.

Impulsionados pela vontade de controle que manipula a imaginação a partir do medo eda esperança e viciados em transcendências mágicas e fantásticas, não é de se estranharnossa dificuldade em desenvolver perspectivas de transcendência na imanência, ou seja,conformes à natureza e à vida. Perspectivas de transcendência natural afirmam e se apoiam,

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necessariamente, na vida e seus dinamismos. Com efeito, a natureza se dinamiza em ciclosreincidentes que jamais se repetem automaticamente, mas que se recriam e reinventam emcada turno, inserindo, assim, diferenciações intensivas em pleno âmago da repetição cíclica.

Como seria possível superar o antagonismo entre o mundo do espírito e da natureza?Tal antagonismo resulta numa transcendência separada da natureza e que culmina num deuscriador, igualmente desvinculado e que exerce a criação e o controle de fora e, assim, seafirma instaurando ordem sobre uma natureza rebelde e resistente. Trata-se de um deuscivilizador e instaurador da ordem num universo caótico comandado por impulsos contraditórios.Para superar tal contradição, torna-se imprescindível criar ou recriar uma espiritualidade apartir da imanência, da perspectiva da vida imersa na natureza. Espiritualidades que se afinemcom as potências naturais, numa afirmação plena e unilateral da vida e sua potência criadoralivre, diferencial e diferenciante. Mas por que falaríamos, então, ainda em espiritualidade? Nãose trataria, então, simplesmente, da vida em seus arranjos e desdobramentos naturais?

Uma espiritualidade pós-metafísica faz sentido, ainda, como educação da sensibilidadee do desejo que emergem no corpo e no âmbito sociocultural. Uma espiritualidade capaz denos religar à terra e seu destino. Tal atitude envolve superar a ilusão do controle instaurada,primeiro pela manipulação mágica, posteriormente pela religião e por fim, também, pelatecnociência. A magia e as religiões nos incutiram a ilusão de que nossa vontade, aliada àsforças certas, poderia manipular a natureza. A ciência foi apenas mais objetiva neste intento. Aponto de fazer crer que não haveria limites à manipulação humana ou que os limites eram umamera questão de tempo.

Assim, não apenas as instâncias espirituais e religiosas, senão também as políticas ecientíficas, tornam-se depositárias de uma confiança mágica. Todas estas instâncias da criaçãohumana têm dificuldade em reconhecer os limites e a precariedade de seus feitos, justamenteporque são mobilizadas por ilusões de onipotência. Assim, a perspectiva metafísica se projetanuma vontade de controle, da qual a projeção de instâncias espirituais transcendentes,independentes, criadoras e controladoras da realidade imanente é apenas um desdobramentonecessário. É a mesma vontade de controle (humana, demasiado humana!) que estabelece atendência e opera suas consequências.

A crise ambiental se instala a partir da constatação, sóbria e lúcida, dos limites e dasconsequências incontornáveis da ação humana. E, como vimos, nosso modo de nosrelacionarmos com o meio tem raízes profundas. Ele é consequência, sobretudo, de uma posturadiante da vida que resulta como reação ao medo da finitude e ao isolamento do indivíduo nummeio cultural e físico artificial e hostil.

Como reconquistar a confiança capaz de fazer-nos sentir acolhidos no colo da mãenatureza? Talvez este colo esteja para sempre perdido ou tenha existido apenas no nossodesejo e imaginação. Vemos-nos lançados ao desabrigo de uma existência em que devemoscriar nosso próprio sentido, visto que a natureza, em sua multiplicidade de potências caóticase antagônicas, já não o fornece.

No que consistiria, portanto, uma espiritualidade capaz de nos harmonizar com aspotências naturais e projetar sentidos que congregassem as forças vitais na criação de umabela existência natural. Como o sentido não existe, ele deve ser criado. E como não existempotências boas e más em si, cada composição será tão mais bela e vigorosa quanto maisforças conseguir arranjar e harmonizar nesta composição. Uma espiritualidade natural terá

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que partir do despertar da sensibilidade para se abrir às circunstâncias e se harmonizar comas potências e tendências que ali se articulam. Buscará, assim, inserir-se e criar alianças edesenvolver resistências, num jogo que não destrua o conjunto, mas que seja capaz de criaruma harmonia superior.

Talvez uma imagem dinâmica possa ajudar-nos a situar melhor esta perspectiva. Asemente de uma árvore, por exemplo, se insere num contexto complexo onde poderádesenvolver uma infinidade de sentidos diversos na sua relação com o meio. Poderá servir dealimento aos passarinhos, a um rato, a um coelho, a uma formiga ou mesmo a um ser humano.

Poderá cair no solo e ser pisada e apodrecer, alimentando o capim. Poderá, ainda, cairna terra, germinar e se desenvolver numa árvore. Todos estes diversos acontecimentos,envolvendo uma semente e suas potencialidades virtuais, consistem numa abertura ao meio.A árvore está apenas virtualmente na semente. Seu desenvolvimento dependerá da interaçãocom o meio, onde diversas potências concorrerão, ou não, para que se efetive como realidade.Então, se distenderá no tempo como duração do acontecimento arborescer entre forçasascendentes e de expansão, fazendo sua seiva fluir nos dinamismos naturais da evaporaçãodos líquidos.

Absorverá a energia do Sol e a transformará em energia própria, capturada nas estruturasde carbono que constituirão seu corpo. Aproveitará, ainda, a força da gravidade para aprofundarsuas raízes e desenvolver estruturas de fixação que lhe possibilitarão resistir às tempestades.São múltiplos e contraditórios as potências e os elementos que condicionam e viabilizam oacontecimento: arborescer. Os virtuais desdobramentos do acontecimento humano são muitomais complexos e livres. Por que, então, esta tendência a estabelecer sentidos hegemônicos,fundamentais, essenciais, necessários e absolutos?

Mais do que desvendar o sentido oculto no texto natural, seja, talvez, tarefa de umanova espiritualidade proliferar sentidos múltiplos em interação criativa com os dinamismosnaturais. Isso requer a arte de interpretar a natureza participando da sua intimidade. O quenão é tão estranho se redescobrirmos que somos também natureza e podemos conhecê-lapor experiência própria. E a partir de dentro sentimos, mais do que sabemos, que a naturezaé movida por potências múltiplas e antagônicas e que não há um sentido único, pois não háuma potência capaz de subjugar as demais e impor-lhes uma ordem hegemônica.

1. Leopoldo Gabriel Thiesen – Filósofo, educador e artesão. Autor da tese: Por uma ética da transitoriedade na imanência: criação ético-

estética para além da moral – DF/IFCH/UNICAMP. Participa do Grupo de Pesquisa Opará (Unimontes/UFU/Fapemig/Nepam-Unicamp) como projeto: O pensamento artesanal dos sábios do Sertão: uma etnografia filosófica da relação homem-natureza no Sertão de Guimarães

Rosa.

RECONECTAR, pois SOMOS TODOS UM!

Maria Salette Mayer de Aquino

Quisera ser poetisa ou sábia para reproduzir tantos pensamentos e palavras bonitasque já ouvi e li em minha vida e assim encantar também meu leitor ou ouvinte.

Do início dos meus cinquenta anos, já reconheci que a palavra não me é fácil, por outro

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lado sei hoje que meu coração é só amor e só vontade de não perder mais tempo, pois tempojá não há. Já não há mais tempo, a não ser que todos enxerguem o que os olhos há tempos jáviram.

Os olhos já viram pela TV ou ao vivo que 1/3 da população mundial se constitui depobres e miseráveis. Não estamos falando apenas que não tenham oportunidade de frequentaruma escola, de ter um trabalho, de ter algum lazer. Estamos falando de três bilhões de pessoasno mundo que não têm direito a um cômodo decente para chamar de lar, não têm direito aocuidado com a saúde. Estamos falando de uma massa humana que não tem direito de COMER!

Os olhos viram e veem todos os dias as guerras na TV. Já fazem parte do cenário denossa sala de estar, já não nos horrorizam. Não vamos às ruas para dizer que não queremosarmas, não queremos bombas, não queremos genocídios.

Os olhos veem todos os dias os rios, nos quais nadávamos até há pouco, desrespeitados,PODRES, e os olhos acompanham o difícil acesso de já bilhões de pessoas à água, não paralavar seus carros, mas para matar sua SEDE!

Os olhos viram o primeiro susto ecológico, o Tsunami de 2005, seguido de dezenas deepisódios semelhantes – maremotos, terremotos, em várias partes do planeta. Muitossimultâneos.

Os olhos veem – isso pouco, porque ficam escondidas – as montanhas de lixo recolhidonas cidades. Em São Paulo são 15 mil toneladas por dia, além das, aproximadamente 22 miltoneladas de entulho de construção civil, o que equivale ao peso de nove mil elefantes adultosou 37 mil elefantes jovens sendo jogados fora todos os dias na cidade de São Paulo.

Sim, os olhos veem, mas parece que a conexão entre os olhos e o coração foiinterrompida. A tesoura que cortou essa ligação tem muitos nomes: egoísmo, ganância, rotina,descaso, desesperança.

Egoísmo porque o ser humano tende a achar que o mundo gira em torno de si e só temolhos para seus próprios problemas.

Ganância porque o ser humano quer sempre ter mais do que o outro tem e o capitalismosoube explorar essa característica, imputando a todos o desejo desenfreado de ter, de possuir,de consumir.

Rotina porque as histórias de desgraças se repetem todo o tempo e já não nossensibilizam.

Descaso porque, mesmo que enxerguemos o que acontece, não nos importamos: “nãoposso fazer nada”.

Desesperança porque mudar tudo o que precisa ser mudado hoje é uma tarefa grandedemais, assustadora.

Mas é preciso nos reconectarmos porque somos – tudo e todos – criação divina, o queé explicado cientificamente. No Século XIII Leonardo Fibonacci descobriu o que se tornariahoje a mais famosa progressão matemática, a Sequência de Fibonacci, cuja soma dos termosadjacentes equivale ao termo seguinte: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55... e assim por diante.

Nesta progressão, o quociente dos termos adjacentes se aproxima gradativamente donúmero 1,618, denominado de PHI (fi). Da galáxia aos seres humanos, aos animais, às plantase até a obras de arte das mais famosas do mundo, todos possuem propriedades dimensionaisque se enquadram nesta proporção, à razão de PHI para um.

O cálculo nos seres humanos é feito a partir da distância que vai da cabeça até o chão.

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Depois, dividindo o resultado pela distância do umbigo até o chão, temos o PHI.Do ombro até a ponta dos dedos, dividido pela distância do cotovelo até a ponta dos

dedos. PHI. Dos quadris até o chão, depois do joelho até o chão. PHI de novo. Dos nós dosdedos, da coluna vertebral, todo nosso corpo obedece a essa proporção.

Sabedores de que há um propósito na Criação e de que já perdemos as rédeas daharmonia planetária, propomos um retroceder, um resgate em várias instâncias, começandopor nós mesmos. Devido ao meu envolvimento com várias tradições religiosas, participandoda URI – Iniciativa das Religiões Unidas – desde praticamente o seu início no mundo no ano2000, conheci a meditação. A meditação nada mais é do que fazer um silêncio interno, quepermite que nos escutemos, e, ao fazê-lo, sentimos o sagrado dentro de nós. Emerge daí umaforça criadora e apaziguadora, ao mesmo tempo uma inteligência superior que nos capacita aviver no mundo. Essa prática deve se tornar um hábito diário, ao acordarmos e ao nosprepararmos para dormir, mas também a cada hora que estivermos ansiosos, nervosos, tristes,indecisos. Nenhuma outra prática é mais eficaz do que sentar uns minutos, respirar e nosinteriorizarmos. É simples!

De nós para nossa necessidade física mais básica, além da respiração: nossaalimentação. Nosso corpo já não suporta mais o impacto dos alimentos gordurosos, as carnesvermelhas, os fast-foods. Há comprometimento em nossa disposição, nosso humor, e no númerode vezes que adoecemos. As mortes devido a entupimento de veias derivado de má alimentaçãoestão cada vez mais crescentes. Então vamos nos voltar à alimentação mais simples, abusardos alimentos crus, orgânicos, isto é, produzidos com adubo biológico e não com venenosquímicos, vamos ingerir muitas sementes. Uma médica do Rio de Janeiro, doutora Ana Branco,compara chips de computadores a sementes: “Chips de computadores são moléculas de águaque contêm silício. Sementes também. Dentro delas há informações sobre a vida na Terra. Ocontato com o ‘chip vivo’ recupera o processo criativo do humano, nos reconectando com osoutros, com os animais e com o planeta”.

Saindo de nós e vendo nosso ambiente de moradia, temos em primeiro lugar que olharnossas práticas de relacionamento com quem dividimos nossa casa. A importância dos espaçosharmoniosos de convivência, de respeito. Facilitar a vida do outro. Buscar a simplicidade emtudo. [Como éramos felizes quando ganhávamos apenas dois presentes ao ano, um noaniversário e outro no Natal! Tinham um sabor especial!]

Do meu ambiente de casa começo a fazer a minha conexão maior com o bairro e acidade onde moro. Posso economizar água, energia, reduzir consumo de tudo. Preciso cuidardo lixo que gero. Comprar menos e com menos embalagem. Sabemos que 40% do que vaiparar nos aterros são vidro, papel, metal e plástico. Porque esse material não está sendoreciclado na maioria das cidades brasileiras (e em muitos países do mundo)?. 50% é lixoorgânico, que deveria estar sendo compostado nos lares de quem mora em casa ou em grandescentros produtores de adubo para hortas comunitárias, por exemplo. Sim, minha parte nessahistória é fundamental! Quando se recicla, economiza-se energia, matéria-prima e dá-seemprego e renda.

Temos tomado parte de uma prática fantástica que são as Feiras de Trocas. O comérciose iniciou no mundo pela sistemática de trocas. Para facilitar transações foi criado posteriormenteo dinheiro, que nos fez esquecer dessa ferramenta tão simples que é tentarmos trocar algo de

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que não mais necessitamos pelo que nosso vizinho tem, não quer mais, e que está me fazendofalta. Há alguns anos essa prática está sendo colocada em uso novamente. E poucos sabemque podemos criar.

E poucos sabem que podemos criar para grupos de pessoas e até para um bairro inteirouma moeda social, decidida coletivamente. Essa moeda facilita também a troca de serviços. Eporque não posso contratar aulas de piano para meu filho e em troca passar roupa para essasua professora, sem que precise sair ou entrar dinheiro? Já há no Brasil algumas experiênciasde moedas sociais. A mais conhecida é a do banco Palmas, em Fortaleza, Ceará.

Na linha do que está ao meu alcance fazer para contribuir com a mudança no mundo,está a possibilidade de me envolver com outra ferramenta para propiciar trabalho e renda parapessoas menos favorecidas economicamente: o microcrédito produtivo e orientado.Criado peloganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, a sistemática vai além doempréstimo a grupos de desempregados. Ela se inicia fazendo com que as pessoas tomemconsciência de que são capazes de produzir algo que lhes venha trazer seu sustento, e emgrupos, criam pequenas comunidades de interação, de troca, de respeito mútuo. Tambémpactuam valores e mudanças de vida rumo àmelhoria das condições de sua existência. Comoajudar? Conhecendo melhor a sistemática eresolvendo ser agente desse processo. Emvários países do mundo há experiências demicrocrédito e no Brasil algumas cidades já têmestruturas de bancos populares. Na ONG daqual participo, Sonha Barão, temos trabalhadocom empréstimos feitos a grupos que mal têmos documentos pessoais mais necessários.Criamos um fundo entre amigos que serve aonosso propósito. É bonito ver o resgate da auto-estima das pessoas, se redescobrindo,descobrindo seus talentos, olhando para omundo de igual para igual.

Para finalizar esse pequeno rol de atividades, aqui arroladas, nas quais posso me envolverpara buscar contribuir com as transformações necessárias, pessoais, comunitárias e globais,está a participação na educação como um todo e na educação ambiental conectada com aprática. Participamos de um coletivo educador ambiental em Campinas, que tem formado demaneira participativa os primeiros 130 agentes permanentes de meio-ambiente, que serãomultiplicadores em suas regiões do fazer e refletir no ambiente. Temos que difundir essa idéia,arregimentar mais e mais elos para essa rede. Também temos divulgado muito a campanha doplantio de 1 bilhão - agora de 7 bilhões - de árvores no planeta, campanha iniciada pela Professorado Quênia, Wangari Maathai, com, apoio da ONU. Sabemos que é necessário alertar que aocolocar a planta no chão, comprometemo-nos com ela. É como receber uma criança nas mãosna hora do parto. Se ela não for cuidada por muito tempo, ela morre.

Concluindo, peço emprestado o pensamento de nossa querida ex-Ministra, a SenadoraMarina Silva, para a mensagem final: “Hoje, para quem quiser se engajar, não é mais possívelser só ambientalista, ou só militante de causas sociais, políticas, culturais. É preciso se angajar

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MESA 3 - Território, Sociedade e Políticas Ambientais

Território, Sociedade e Política Ambiental - do risco a sustentabilidadePedro Roberto Jacobi*

Observa-se um lento processo de resolução dos graves problemas ambientais nasmetrópoles. O modelo de apropriação do espaço reflete as desigualdades sócio-econômicasimperantes, sendo o período marcado pela ineficácia ou mesmo ausência total de políticaspúblicas para o enfrentamento destes problemas, predominando a inércia da AdministraçãoPública na detecção, coerção, correção e proposição de medidas visando ordenar os territóriose garantir a melhoria da qualidade de vida.O fato é que as mudanças na transformação de um cenário urbano crescentemente não sóameaçado, mas diretamente afetado por riscos e agravos sócio-ambientais é cada vez maiscomplexa, dentro de um marco conceitual que se apóia na noção de “ sociedade de risco”(Beck, 1992).

O conceito de território representa uma forma de configurar elementos de ordem social,econômica e ambiental. Isto permite definir especificidades locais e articular as relações entresociedade e natureza, a partir de uma complexa rede de relações que envolve diferentesgrupos sociais, cada qual com seus interesses particulares e estratégias específicas.As abordagens sobre o tema, de acordo com o enfoque dos autores (Santos, 2002, Santos,2003), enfatiza alguns aspectos dentro do território, o aspecto econômico, político e culturalou o entrelaçamento destes fatores, para explicar o conceito e a dinâmica de um espaço empermanente transformação ao longo de um processo histórico.

Os territórios, desde uma perspectiva de política ambiental podem ser analisados comoespaços caracterizados pela complexidade e assimetrias nas condições de vida dos indivíduos,pelos conflitos que emergem e pela busca de resolução através da implementação de políticaspúblicas sócio-ambientais.

Historicamente, os processos de ocupação de muitas metrópoles brasileiras evitaramaté meados do século XX, os terrenos mais problemáticos à ocupação (altas declividades,solos frágeis e suscetíveis à erosão), que se encontravam mais distantes das áreas centrais,onde a pressão pela ocupação era menos intensa, mas ocupavam áreas de várzea e osleitos dos rios que eram susceptíveis de inundações.Entretanto, a partir dos anos 50, com a exacerbação dos processos de “periferização” e maisintensamente nos últimos 30 anos ocorrem dois movimentos simultâneos: a intensificaçãodas intervenções na rede de drenagem, com obras de retificação e canalização dos rios, oaterramento das várzeas e sua incorporação à malha urbana; e a explosão na abertura deloteamentos de periferia.Os impactos negativos do conjunto de problemas ambientais resultam não só da precariedadedos serviços e da pouca presença do investimento público na prevenção das condições devida da população, mas também é reflexo do descuido e da omissão dos próprios moradores,inclusive nos bairros mais carentes de infra-estrutura, colocando em xeque aspectos deinteresse coletivo. Isto também traz à tona, a contraposição do significado dos problemasambientais urbanos e as práticas de resistência dos que “têm” e dos que “não têm”,

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representados sempre pela defesa de interesses particularizados que interferemsignificativamente na qualidade de vida da cidade como um todo. O crescente agravamentodos problemas ambientais na metrópole e o modelo de apropriação do espaço refletem asdesigualdades sócio-econômicas imperantes, sendo o período marcado pela ineficácia oumesmo ausência total de políticas públicas para o enfrentamento destes problemas,predominando a inércia da Administração Pública na detecção, coerção, correção e proposiçãode medidas visando ordenar o território do Município e garantir a melhoria da qualidade devida.

A dinâmica da urbanização pela expansão de áreas suburbanas produziu um ambienteurbano segregado e altamente degradado, com efeitos muito graves sobre a qualidade devida de sua população. Espaços imprestáveis e inadequados para moradias saudáveis foramusados: 1) morros, 2) pântanos e 3) área de proteção aos mananciais de água doce. Alémdisso, esta ocupação freqüentemente consistiu em habitações pobres em áreas com escassosserviços urbanos.

As cidades, assim como suas áreas metropolitanas, caracterizam-se por enormesdesigualdades na distribuição de renda. Como exemplo que nos toca diretamente, a cidadede São Paulo tem padrões urbanos similares aos de outras cidades latino-americanas,caracterizadas por grandes disparidades de saúde e status sócio-econômico. A periferia dacidade não é provida de serviços urbanos básicos e tem sido ocupada pelos grupos de menorrenda, obrigando-os a conviver com uma multiplicidade de problemas de caráter social eambiental.

No Brasil, e inclusive em São Paulo, em razão da insuficiência da rede de esgotos, háum montante significativo de lançamento de esgotos a céu aberto, conexões clandestinas nosistema de águas pluviais e lançamento direto nos rios. As cidades estão constantementeafetadas por um número crescente de enchentes em pontos críticos das cidades-áreas derisco entre áreas de enchentes e escorregamentos.

Condições precárias de habitações em favelas e loteamentos periféricos aumentam odéficit de infra-estrutura urbana, e sua localização em áreas críticas de risco e barrancosmultiplicam as condições predatórias à urbanização existente e seu impacto de degradaçãoambiental.

Cotidianamente a população, e principalmente a de mais baixa renda, está sujeita auma série de riscos associados com a precariedade da sua condição de vida, notadamente osriscos das enchentes, escorregamentos de encostas, contaminação do solo e das águas peladisposição clandestina de resíduos tóxicos industriais. Não há como negar a estreita relaçãoentre riscos urbanos e a questão do uso e ocupação do solo, que entre as questõesdeterminantes das condições ambientais da cidade, é aquela onde se delineiam os problemasambientais de maior dificuldade de enfrentamento e, contraditoriamente, onde mais seidentificam competências de âmbito municipal.

As grandes metrópoles brasileiras vivem um quadro ambiental que decorre de umconjunto de fatores dentre os quais se destacam as práticas gerenciais inadequadas dasautoridades locais, assim como também da falta de atenção, da omissão, da demora emcolocar em prática ações que reduziriam os problemas crescentes e prejudiciais, que estãovinculados às seguintes questões:

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A redução de áreas verdes, o que implica na excessiva impermeabilização do solo ena multiplicação de áreas críticas de ocorrência de enchentes, com impactos ambientais,sociais e econômicos sobre toda a estrutura da cidade, perdurando praticamente por todo oano.A falta de medidas práticas mais definidas, de curto prazo e de políticas para controlar apoluição do ar.3) Um enorme atraso na rede de transporte público, notadamente do metrô e de outrasalternativas mais adequadas para o transporte público, de forma a possibilitar uma reduçãono uso dos automóveis.4) Lentidão na expansão das redes de esgotos.5) A contaminação da maioria dos mananciais de água e dos rios dentro das cidades, e orisco que isto significa para a população, principalmente nas áreas de enchentes.6) A exaustão das alternativas convencionais para o despejo de lixo e os problemas resultantesda contaminação das águas subterrâneas e de superfície pelo chorume.

O Complexo Desafio da Sustentabilidade UrbanaA reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto urbano marcado pela degradação

permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, não pode omitir a análise do determinantedo processo, nem os atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam opoder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, em uma perspectiva desustentabilidade.

A noção de sustentabilidade implica em uma inter-relação necessária entre justiçasocial, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento comotendo uma capacidade de suporte (Jacobi, 1999).

A preocupação com o tema do desenvolvimento sustentável introduz não apenas aquestão controversa sobre a capacidade de suporte, mas também o alcance e limites dasações para reduzir o impacto dos danos na vida urbana cotidiana e as respostas baseadas nainterrupção do modus operandi e da omissão e participação nas práticas auto-destruidoras.Observa-se a necessidade de se incrementar os meios e a acessibilidade à informação, bemcomo o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais e informativos de suaoferta, emergem as questões sobre as restrições aos processos que dão novas opções paraalterar o quadro atual de degradação sócio-ambiental. Um tema que tem um grande potencial de promover práticas de sutentabilidade numaperspectiva de co-responsabilização é o do lixo. Um maior compromisso da gestão públicacom uma política que amplie a coleta seletiva nas cidades pode potencializar o envolvimentoda população com a gestão integrada dos resíduos sólidos, sendo que a separação do lixo nafonte geradora como indicador para a população do desperdício e da possibilidade dereaproveitamento dos materiais descartados como matéria prima. Isto pode possibilitar odesenvolvimento sócio-ambiental através do apoio do poder público à criação de cooperativasde catadores e de programas de coleta seletiva que priorizem a presença de organizaçõescomunitárias e organizações da sociedade civil que agregam os setores mais excluídos ecom maior dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho. Cabe salientar que uma agenda para a sustentabilidade ambiental urbana deve levar emconsideração a importância de se estimular a expansão dos meios de acesso a uma informação

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geralmente esparsa e de difícil compreensão, como parte de uma política de fortalecimento dopapel dos vários agentes intervenientes.

Há uma demanda atual para que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada paraassumir um papel mais propositivo, bem como de ser capaz de questionar, de forma concreta,a falta de iniciativa do governo em implementar políticas ditadas pelo binômio da sustentabilidadee do desenvolvimento num contexto de crescente dificuldade na promoção da inclusão social.

O fato da população ainda depender principalmente nas soluções provindas do poderpúblico não implica apenas numa postura de dependência e de desresponsabilização dapopulação, mas freqüentemente de desinformação, da falta de consciência ambiental e de umdéficit de práticas comunitárias baseadas na participação e no envolvimento dos cidadãos quepropõem uma nova cultura de direitos baseados na motivação e o direito de ser co-participes nagestão da cidade. O desafio que se coloca é de analisar o significado da postura dos moradores,que reforça as soluções pautadas pelo papel indutivo e diretivo da ação governamental: 1) nafiscalização e monitoramento da execução de políticas públicas, 2) no estímulo à co-responsabilização da população na prevenção da desordem e da degradação ambiental e 3) nodesenvolvimento de campanhas de educação ambiental e de informação.

A administração de riscos ambientais coloca a necessidade de ampliar o envolvimentopúblico através de iniciativas que possibilitem uma elevação do nível de consciência ambientaldos moradores garantindo acesso à informação e a consolidação institucional de canais abertospara a participação numa perspectiva pluralista.Cidadãos bem informados, ao se assumirem enquanto atores relevantes têm mais condiçõesde pressionar autoridades e poluidores, assim como de se motivar para ações de co-responsabilização e participação comunitária.

A necessidade de implementar políticas públicas orientadas para tornar as cidades sociale ambientalmente sustentáveis representa a possibilidade de contrapor-se ao quadro crescentede deterioração da qualidade de vida e de criar canais para que a população assuma sua partede responsabilidade na gestão de cidades que não mais podem ser administradas através dasformas tradicionais de gestão.

Todos os cidadãos terão de se conscientizar dos riscos que são criados pela sociedadecomo um todo, como é o caso das mudanças climáticas, das suas práticas individualistas edesresponsabilizadas que impactam o cotidiano urbano e reorientar as atitudes para umaperspectiva de sustentabilidade sócio-ambiental que promova a conservação ecossistêmicacom as atividades humanas.

Referências BibliográficasBECK, Ulrich. Risk Society. London: Sage Publications, 1992,JACOBI, Pedro R. Cidade e Meio Ambiente. São Paulo. Annablume Editora, 1999.SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A. de; SILVEIRA, M. L. (org.). Território:globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec; Annablumme, 2002.SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro:Record, 2003.

*. Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós Graduação da Universidade deSão Paulo. Coordenador de TEIA-USP Laboratório de Educação e Ambiente

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em tudo, ser militante da civilização”. É, prezada Marina, eu não preciso ser poeta nem sábia,preciso apenas ser!

Referências BibliográficasBrown, Dan. O código da Vinci. Ed. Sextante.Yunus, M.; Alan Jolis. O banqueiro dos Pobres. Ed. Ática, 2006www.fbes.org.br. Fórum Brasileiro de Economia solidária.www.unep.org/billiontreecampaign

Território, Sociedade e Políticas AmbientaisAntonio Carlos Robert MoraesDepartamento de Geografia, FFLCH-USP

A relação de uma sociedade com um espaço gera um território. Este é um lugar que sedefine pela apropriação social. O território é sempre o espaço de algum grupo, que o identificacomo parte integrante de sua vida, base espacial de sua reprodução. Nesse sentido, não écorreto em geografia falar do território como um espaço natural estranho à presença humana,pois é o uso social que o qualifica como tal. Todo território é o resultado do relacionamento deuma sociedade com uma porção da superfície terrestre. A apropriação do planeta constitui aterritorialização da humanidade, associando lugares e grupos sociais ao longo da história.

A forma mais elementar de relação sociedade-espaço é a apropriação dos meios naturais,isto é, o acesso ao uso dos recursos alidepositados pela natureza. A reiteração do usodos lugares pereniza transformações de suascaracterísticas naturais originais, deixandomarcas humanas nas paisagens, que assimcomeçam a se humanizar. Os meios naturaishumanizados podem sofrer progressivos níveisde transformação, gerando paisagens cadavez mais alteradas em face de suaoriginalidade natural. Muitos autores vão falarde uma “segunda natureza” para caracterizar

meios naturais que apresentam grande carga de ações humanas pretéritas em sua composiçãoatual. Enfim, a transformação dos espaços naturais constitui uma relação que se sobrepõe aosimples uso dos recursos da natureza local.

A reiterada vivência dos mesmos lugares leva os grupos sociais a produzirem espaçospara sua habitação nesses locais de permanência. Uma nova ordem de relacionamento dassociedades com o espaço terrestre se estabelece com a edificação de formas especificamentehumanas na superfície da Terra. A durabilidade de cada forma subordina-se diretamente àquantidade de trabalho nela depositada, expressando também a expectativa de migração oufixação de seus construtores. A sedentarização constitui processo central para uma históriageográfica, pois estimula uma maior acumulação local de formas criadas pela sociedade,estando na base da formação dos territórios propriamente ditos. Trata-se da produção social

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de espaço, estrito senso. O ato de gerar meios artificiais (no contraposto com a originalidadenatural), espaços criados por ações humanas que os formatam de acordo com suasnecessidades e expectativas de uso.

As formas humanas produzidas na superfície da terra se agregam ao solo de ondeestão edificadas, tornando-se qualidades do lugar. E cada vez mais na atualidade os lugaressão avaliados geograficamente pela quantidade e qualidades de seus espaços criados. Adiferenciação entre o meio rural e o urbano se dá pela densidade de construções existentes. Acidade é, portanto , um grau de adensamento das formas socialmente produzidas, diferenciando-se do campo pela massa de edificações agrupada. Na verdade, como dizia Milton Santos,qualquer paisagem é resultado de uma acumulação desigual de tempo. Podemos dizer: históriamaterializada no espaço. Os lugares possuem, assim, características naturais (como o clima, atopografia, o solo, etc.), mas também uma herança espacial constituída de formas produzidasem outras épocas e para finalidades que já podem ter desaparecido. E o presente anima,continuamente, a relação e o uso dos espaços.

Cada lugar é qualificado do ponto de vista de seu uso por uma funcionalidade e umadinâmica social da atualidade. São os processos atuais que refuncionalizam as formas pretéritase avaliam os recursos naturais de acordo com técnicas e valores de cada conjuntura histórica.Tal avaliação não se restringe a uma racionalidade econômica, envolvendo também simbologiase imaginários. A formação de um território diz respeito a relações culturais e políticas dosgrupos humanos com seus espaços. O direito ao uso, o acesso aos bens, e a autoridade deregular a relação da sociedade com o espaço, são elementos que se combinam na apropriaçãodos lugares e nas formas de valorização do espaço. Em suma, são as relações sociais de umadada sociedade que regulam o relacionamento de cada um de seus segmentos com os recursosnaturais e com os espaços. Em outros termos: a relação da sociedade com o espaço é umarelação social (logo, econômica, política e cultural, ao mesmo tempo).

A cidade é sempre um espaço historicamente denso, com alta agregação detransformações do meio e com o agrupamento de um número elevado de formas produzidaspela sociedade. O uso do solo urbano é geralmente intenso e concentrado, fatores que seacentuam nas grandes cidades e nas metrópoles. As áreas citadinas são lugares deadensamento demográfico no globo, aglomerando populações em pontos específicos dasuperfície terrestre. Hoje, boa parte da população mundial habita em meios urbanos, e umpercentual significativo reside em regiões metropolitanas. A concentração populacional é umadas características geográficas da história contemporânea, com a urbanização crescentemarcando profundamente a sociabilidade da nossa época.

A cidade e a vida urbana pressupõem certa institucionalização da autoridade política,que torna possível a convivência de grupos demográficos numericamente expressivos nummesmo espaço. Alguma centralização do poder é necessária para a co-habitação citadina. Daía longa relação histórica entre as cidades e o Estado. A urbanização demanda regulamentaçõesno uso dos lugares, estimulando a codificação dos direitos e a definição dos agentes públicos.A cidade é um tipo de habitat que requer normas (mesmo que mínimas) de edificação e deconvívio social. E a ação estatal tem entre suas atribuições esta mediação nas relaçõessociedade-espaço. Ao estabelecer o âmbito de exercício desse poder concentrado já se consolidao conceito de território, posto como o espaço submetido a uma autoridade política. Nessesentido, a cidade é um espaço territorializado.

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O meio urbano pode ser analisado também como um ambiente, na ótica de ser umsuporte da vida de seus habitantes. O lugar de habitação de uma sociedade, dotado decondições naturais, recursos e heranças espaciais singulares. Uma natureza bastantetransformada se manifesta nas cidades apesar da predominância dos espaços construídos napaisagem urbana. O clima, a topografia, a rede hidrográfica, e todas as demais característicasnaturais dos meios citadinos trazem a marca da ação antrópica, com a natureza impondo-secomo limites e como riscos em face do uso de seus recursos. Caberia ao poder público avaliare regulamentar o processo de ocupação do espaço da cidade, por meio de legislações eações de gestão que se expressam como políticas urbanas. As normas urbanísticas e ossistemas de saneamento e de transporte emergem como algumas das mais essenciais dessaspolíticas. A poluição, a destinação do lixo, os desabamentos, a fluidez do transito, entre outros,são resultantes da insuficiência ou inadequação da atuação estatal na urbanização.

Do ponto de vista da vivência dos lugares é possível definir padrões de qualidadeambiental para qualquer espaço terrestre, inclusive os altamente urbanizados. Estes padrõesseriam instalados, mantidos ou buscados a partir de políticas públicas específicas, no casodas cidades, por meio de políticas ambientais urbanas. No contexto periférico, de grandesdesigualdades sociais como o que vivemos, a distribuição dos serviços públicos e as condiçõesambientais existentes dentro das cidades são altamente variadas. O acesso aos bens, assimcomo a vulnerabilidade espacial, são elementos centrais da própria condição social dos gruposque co-habitam na cidade. À variedade de condições de vida e de formas de sociabilidadegeram identidades múltiplas e culturas específicas no meio urbano. No território da cidadeconvivem classes sociais, em disputa e em conflito pelos próprios serviços e políticas públicas.

A luta pela qualidade ambiental urbana é, portanto, uma luta pela organização do espaçona cidade, uma luta por políticas públicas cujas diretrizes representam o poder de cada grupoem disputa nesse âmbito espacial. Direcionar a atuação do Estado, o grande produtor dosespaços, é uma meta da vida política em cada território, num quadro onde a relação com cadalugar e entre os lugares é determinada pelas relações sociais vigentes. Trata-se de uma batalhacotidiana, na qual toda a sociedade esta imersa. A produção e o uso do espaço nesse sentidoespelham o poder e as hegemonias em cada conjuntura histórica.

MESA 4 - Educação, comunicação e participação Ambiental

Educação Ambiental Popular: educomunicação socioambiental e participaçãona construção de sociedades sustentáveisMarcos Sorrentino8Simone Portugal 9

Um documento de referência para todos aqueles que atuam no campo da EducaçãoAmbiental (EA), dentro de uma perspectiva de estímulo e apoio à participação e de açõesvoltadas à melhoria da qualidade de vida, é o Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis eResponsabilidade Global.

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Compromisso que emergiu da conferência paralela organizada pela sociedade civil,realizada no Rio de Janeiro em 1992, durante a Eco-92, o Tratado (VIEZZER e OVALLES,1995) colocou a responsabilidade individual e coletiva, o pensamento crítico e inovador e ainterdisciplinaridade, como aspectos necessários a uma educação para a transformação social.

A educação ambiental deve tratar as questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em um contexto social e histórico. Aspectos primordiaispara seu desenvolvimento e seu meio ambiente, tais como população, paz, direitos humanos,democracia, saúde, fome, degradação da flora e da fauna, devem ser abordados... Devemcapacitar as pessoas a trabalhar conflitos e integrar conhecimentos, valores, atitudes e ações,buscando a transformação de hábitos consumistas e condutas ambientais inadequadas. Éuma educação para a mudança. (CNUMAD, 1997, apud DUVOISIN, 2002, p.93).

Algumas diretrizes para a ação nele foram propostas, podendo-se destacar as seguintes:Modelar os princípios do tratado em materiais didáticos para serem utilizados nos diferentesníveis do sistema educativo;

Atuar a partir das realidades locais, tratando, porém, de conectá-las com os problemasglobais do planeta;

Desenvolver a educação ambiental em todos os âmbitos da educação formal, informale não formal;

Capacitar especialistas para melhorar a gestão do meio ambiente e para obter umamaior “coerência entre o que se diz e o que se faz”;Exigir dos governos que destinem percentagens significativas do seu orçamento para aeducação e meio ambiente;Transformar os meios de comunicação em instrumentos educativos plurais que sirvam deplataforma aos programas gerados pelas comunidades locais;Promover mudanças na produção, nos hábitos de consumo e nos estilos de vida;Reconhecer a diversidade cultural, os direitos territoriais e a autodeterminação dos povos;Fomentar a educação e a investigação superior sobre a educação ambiental. (CARIDE eMEIRA, 2001, p.199).

Assim como conhecer o Tratado é importante, entender a natureza da participaçãosobre a qual estamos falando pode contribuir para o debate e a reflexão sobre a concepção deambientalismo e de educação popular que anima este texto.Participação como necessidade natural do sujeito, livre de obrigação e moralidade (SAWAIA,2001), mas por uma vontade de ser feliz e livre, com capacidade de mobilizar-se e comprometer-se com a tomada de decisões que se faça necessária. Ela pode ser compreendida apartir de cinco dimensões (SORRENTINO, 2000).

A primeira é a da infraestrutura básica para a participação, a qual embora muitasvezes se tenha poucas condições de interferir, é essencial para viabilizá-la ou não. Não adiantadizer que tal pessoa não quer participar, quando na verdade o que acontece é que ela mora atrinta horas de distância, a ser percorrida por barco, do local de decisão.Disponibilizar informações suficientes sobre o que tem de positivo e negativo em cada umadas opções colocadas, é indispensável para que as pessoas tenham condições de escolher edecidir pelo caminho a ser seguido. Mas não basta disponibilizar informação se não houverespaços de locução, a fim de que as pessoas possam dialogar sobre essas informações,

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trocar ideias e esclarecimentos sobre a temática em questão.A quarta dimensão é a da tomada de decisão. Não é possível todo mundo participar

de tudo a toda hora, mas é necessário criar mecanismos de representatividade e definirclaramente quais são os limites de decisão para cada assunto e para cada grupo.

Não há participação sem que as pessoas se sintam comprometidas, envolvidas com asituação, respeitadas na sua subjetividade, pertencentes ao local, ao planeta, à humanidadee sentir que tudo isto lhe diz respeito.

O papel da comunicação neste sentido da participação é essencial. Nesta perspectivade uma EA que promova a participação, deve responder às demandas relativas à produção,gestão e disponibilização de informações sobre esse tema, de forma interativa e dinâmica.

O documento técnico “Programa de Educomunicação Socioambiental”10 do ÓrgãoGestor da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), baseado nos princípios dademocratização, promoção da autonomia e emancipação, enfatiza a visão pedagógica dosprocessos comunicativos associados à questão ambiental.

O termo educomunicação, inicialmente usado para designar a prática crítica da leiturados meios e de recepção dos conteúdos, atualmente também envolve as ações que compõemo campo da inter-relação entre Comunicação e Educação. Para Soares (2004) aEducomunicação abrange quatro áreas de intervenção: a) a educação para os meios, quepromove reflexões e forma receptores críticos; b) o uso e manejo dos processos de produçãomidiática; c) a utilização das tecnologias de informação/comunicação no contexto ensino/aprendizagem; d) a comunicação interpessoal no relacionamento entre grupos.

Nesse sentido, dialogismo e interatividade são princípios norteadores que podemcontribuir para ampliar os espaços de comunicação, potencializando a voz de educadoras eeducadores ambientais populares.

Educação Ambiental PopularMuitas questões vêm à tona quando se pensa em desenvolver um projeto ou programa

educacional voltado à formação de pessoas que atuem como educadoras ambientais populares.Compreender qual é a educação que se deseja construir, definindo objetivos, metas emetodologia, exige explicitar o referencial teórico, os princípios e as diretrizes que animam oprocesso educacional.

Qual é o perfil da educadora ou do educador ambiental a ser formado? Como ele e elase formam? Onde e de quais maneiras atuam? 11

Debater as características, as habilidades e a ideologia da educadora ou do educadorambiental popular pode levar a conclusões reducionistas e autoritárias, mas, ao mesmo tempo,como definir um processo educacional sem dizer aonde se quer chegar e de onde se querpartir ou de onde se está partindo?

Um caminho é ter convicções sem querer impô-las aos outros, compartilhando aquiloque nos ilumina e faz bem, com respeito às demais opções e necessidades. Traçar caminhose processos educacionais pautados pela construção de arenas, espaços de aprendizagem, dediálogo, onde a vontade de ensinar tenha como pré-requisito o desejo de aprender e o estímuloà capacidade de análise crítica do outro.

Ser assertivo e propositivo, ter iniciativas e ser criativo é fundamental, mas maisimportante ainda é conseguir estimular e propiciar a assertividade, a iniciativa, a criticidade

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(como capacidade reflexiva, analítica e intuitiva) e a criatividade nos outros. Propiciar a cadapessoa vontade e capacidade de imaginar e enunciar o seu projeto de futuro e a disposição dedialogar sobre ele, aprimorá-lo e construí-lo individual e coletivamente.

Outra questão que se coloca é de caráter metodológico. Como formar lideranças?Protagonistas? No grupo, nos processos educacionais, a liderança e o protagonismo de unsestimula ou inibe a liderança e o protagonismo de outros?Para desenvolver liderança e protagonismo, é necessário, em primeiro lugar, que a questãose coloque individualmente e ao grupo. Em seguida, é preciso exercitar cotidianamente ahumildade, despir-se da vaidade e da necessidade de ser líder, sem perder a vontade defazer, de cooperar, de auxiliar, sem receio de em certos momentos protagonizar e liderar.

No livro O TAO da Liderança, de Lao Tsé, há importantes provocações neste sentido eem livros e textos de Boaventura de Souza Santos, de Carlos Rodrigues Brandão, de RubemAlves, de Eda Terezinha de Oliveira Tassara, de Krisnamurti, de Roberto Freire e outros,depreendemos a compreensão de uma “vanguarda que se autoanula”, de uma liderança quesai de cena para a emergência de novas lideranças e para o desenvolvimento de processosautogestionários.

Em terceiro lugar, realizar planejamentos estratégicos, participativos, incrementais earticulados, propiciando, a cada passo, que o aprendizado obtido com ele seja socializado,interiorizado em cada um e no grupo e permita as redefinições na caminhada, redirecionandoas velas, o rumo, as estratégias e até mesmo os objetivos.

Dar o testemunho é fundamental! Testemunho de disposição ao diálogo, tempo para ooutro. Saber ouvi-lo e considerá-lo interlocutor para o seu pensamento e opiniões, incomodando-o, estimulando-o a pensar e a expressar-se, mas dando-lhe segurança de que, seja qual for aopção que ele fizer, continuará a tê-lo como interlocutor/educador (amigo ou amiga, pai, mãe,irmão ou irmã, filho ou filha, professor ou professora, pastor ou pastora, padre ou madre,psiquiatra ou psicólogo(a), estudante, servidor público ou atendente no comércio, entrevistadorou vendedora...).

Portanto, ser educador ou educadora ambiental popular, exige ter conteúdos e objetivosa perseguir, mas sejam quais forem eles, são apenas suportes para um objetivo maior depropiciar a todos e a qualquer um, o acesso ao diálogo empoderador. O diálogo crítico eacolhedor que permite a tomada de posições pautadas nas próprias convicções e na capacidadede revê-las e incrementá-las em direção à construção do seu projeto de futuro, dos seussonhos e utopias. Diálogo que permita abrir-se ao próximo e planejar e avaliar juntos, diálogoconsigo mesmo, com os ventos, com as árvores, com os animais, com outros seres e energiasque povoam os nossos sentimentos, a nossa alma e enriquecem o nosso espírito. Diálogocom a sociedade, procurando entendê-la crítica, histórica e conjunturalmente, em toda a suaestrutura e contradições, de forma a sentir-se potente para transformá-la com os outros e parao bem de todos. Diálogo voltado à superação das posturas e ações competitivas, intolerantes,homogeneizadoras, machistas, massificantes, imediatistas, predatórias e gananciosas, parao incremento dos conhecimentos e compromissos de toda a humanidade e de cada um coma VIDA, a democracia, a solidariedade, o repúdio a todo e qualquer tipo de totalitarismo, adiversidade, a paz, a justiça, o amor e a emancipação humana.

Para a melhor compreensão da concepção de educação ambiental popular sobre a

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qual estamos falando, podemos sugerir uma trilha de leituras, começando por Dermeval Saviani(1992) e Carlos Libâneo (1984), que elaboraram dois importantes textos de taxionomia dascorrentes pedagógicas. Neles identificavam três correntes no campo da educação transformadora– a libertadora, a libertária e a crítico-social, tendo Paulo Freire e Celestin Freinet respectivamente,como referência para cada uma das duas primeiras e os próprios autores como referência paraa terceira. A leitura de cada um dos autores por eles citados pode nos auxiliar a desvendar astramas da inculcação ideológica promovida pela Escola e por todos os aparelhos ideológicos deestado (FREITAG, 1986) bem como a identificar o seu reverso – a potencialidade emancipatóriada Escola e de outras instituições conquistadas a partir de muitas lutas sociais ao longo dahistória da humanidade.Tais instituições são emancipatórias ou domesticadoras?

Boaventura de Souza Santos (1997) pode nos ajudar a compreender esta constantetensão entre regulação e emancipação e o papel do Estado, do mercado e da comunidade,possibilitando um melhor entendimento de uma lógica não linear e complexa onde não existeapenas o certo e o errado (MORIN, 2000). Onde o papel de cada um de nós como educadorese educadoras é criar condições para cada pessoa encontrar os seus próprios caminhos, o seupróprio brilho, pois, como diz um poeta cantor brasileiro, “gente é prá brilhar”.

O Relatório Delors (1999), da Comissão Internacional sobre a Educação para o SéculoXXI, com o título Educação - um tesouro a descobrir, apresenta os quatro pilares da educação –aprender a ser; aprender a conhecer; aprender a viver juntos; aprender a fazer.

Pode-se dizer que esta tem sido a base de uma educação ambiental não prescritiva e seentendermos o “conhecer”, o “ser”, o “fazer” e o “juntos”, como sinônimos de práxis, de aprendera analisar crítica e historicamente e com perspectivas de transformar o existente na direção dasutopias e heterotopias (SATO, 2005), aprender a desvelar e a desvendar, como nos falam Tassarae Ardans, (2005), então podemos dizer que esta também é a base da educação popular.Jean Jacques Rousseau, Leonardo Boff, Daniel Kim, Raul Seixas, Ira (“nesta vida passageira,eu sou eu, você é você... e vejo flores em você”) e outros educadores e educadoras, filósofos,artistas e pensadores de todas as épocas, regiões e estações, apontaram a autonomia, aliberdade, o respeito ao próximo, o amor, a solidariedade, em uma palavra, a emancipaçãohumana como a grande busca e a principal missão da educação.

A Rede de Educação Popular e Ecologia (REPEC), vinculada ao Conselho de Educaçãode Adultos da América Latina (CEAAL), oportunizou a troca de experiências entre inúmerasatividades neste campo que ocorrem em praticamente todos os países da região. Há umacoletânea, coordenada por Joaquim Esteva em 1994, que relata algumas dessas experiências,na qual se pode encontrar uma definição para Educação Popular Ambiental:“es um proceso formativo permanente, que desde una perspectiva política, proporciona elementosteóricos y práticos com la finalidad de modificar actitudes, elevar la comprensión y enriquecer elcomportamiento de los sectores populares en sus relaciones socioculturales y con el mediobiofisico, em vias de la construcción de sociedades sustentables que, con equidad social,respondan a las particularidades culturales y ecológicas existentes” (ESTEVA, 1994, p.12).

Pode-se ainda perguntar: mas qual é a razão para se incluir o adjetivo popular na EA ouo ambiental na Educação Popular?

Uma possível resposta é apontar a perspectiva de romper com a ideia de profissão e de

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formação de especialistas trazendo a EA para o campo da práxis cidadã, a ser exercida portodas as pessoas cotidianamente. Outra é argumentar a respeito do ideário ambientalista,percolando a educação popular e vice-versa, debatendo-se os seus argumentos ideológicosrelacionados à busca de outra forma de produção e consumo, de organização e relacionamentonas sociedades humanas, distinta da ordem capitalista hegemônica na modernidade.O mais importante é que o educador ou a educadora ambiental popular promova o debate detudo isto, propiciando a enunciação das utopias, o debate crítico voltado ao amadurecimentodos projetos individuais e coletivos e as ações coordenadas no sentido da construção dosmesmos.

BibliografiaALVES, Rubem. Conversas com quem Gosta de Ensinar. São Paulo: Cortez Editora e Autores Associados, 1985.BRANDÃO, Carlos Rodrigues (org). Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Editora Brasiliense, 1999.______. A pergunta a várias mãos. São Paulo: Cortez, 2003.______. Diário de Campo. São Paulo: Brasiliense, 1982.CARIDE, José Antonio; MEIRA, Pablo Ângel. Educação Ambiental e Desenvolvimento Humano. Lisboa: Horizontes Pedagógicos, 2001.DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre educação para oséculo XXI. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1999.DUVOISIN, Ivane Almeida. A necessidade de uma visão sistêmica para a Educação Ambiental: conflitos entre o velho e o novo paradigma. In:RUSCHEINSKY, Aloísio (org.). Educação Ambiental – Abordagens Múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 2002. p.91-103.ESTEVA, Joaquin (coordenador). Educación Popular Ambiental en América Latina. Pátzcuaro, México: CEAAL, 1994. Red de EducaciónPopular y Ecologia/Consejo de Educación de Adultos de América Latina.FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2001. Coleção Questões da Nossa Época/13.______. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.FREIRE, Roberto. Pedagogia Libertária. São Paulo: Editora Clacyko, 1996. Coleção Paideia/1.FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Editora Moraes, 1986. Coleção Educação Universitária.KRISHNAMURTI, Jiddu. Novos Roteiros em Educação. São Paulo: Editora Cultrix, 1980.LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública – A pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1984.Coleção Educar/1.MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, 2000.PROGRAMA DE EDUCOMUNICAÇÃO SOCIOAMBIENTAL. Documento técnico número 2: Programa de Educomunicação Socioambiental.Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br.Acesso em 14 de agosto, 2008.SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1997.______. Introdução a uma Ciência Pós-Moderna. Rio de Janeiro: Graal, 2000.______. Um Discurso sobre as Ciências. Porto: Edições Afrontamento, 2002.SATO, Michele; CARVALHO, Isabel. Educação Ambiental: Pesquisa e Desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. Campinas: Editora Autores Associados, 1992. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo.SAWAIA, Bader. Participação Social e Subjetividade. In: SORRENTINO, M. (Coord.). Ambientalismo e Participação na Contemporaneidade.

São Paulo: EDUC/FAPESP, 2001.SOARES, Ismar de oliveira. Educommunication. São Paulo: NCE-ECA/USP, 2004.SORRENTINO, Marcos. Crise ambiental e educação. In: QUINTAS, J. S. (Org.). Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do

meio ambiente. Brasília: Ibama, volume 3, 2000.TASSARA, Eda Terezinha de Oliveira; ARDANS, Omar. Intervenção psicossocial: desvendando o sujeito histórico e desvelando os fundamentosda educação ambiental crítica. In Ferraro Junior, Luiz Antonio (organizador). Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais

e coletivos educadores. Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005.VIEZZER, Moema Libera; OVALLES, Omar. Manual Latino-Americano de Educ-Ação Ambiental. São Paulo: Editora Gaia, 1995.

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Projetos escolares no estudo do lugar: (re)conhecimento da realidadesocioambiental e formação da cidadania

Vânia Maria Nunes dos Santos

O tratamento de questões socioambientais na escola oportuniza o desenvolvimento deprojetos de educação ambiental como contribuição tanto para a formação de professores ealunos críticos e reflexivos, como para o processo de construção da consciência ambiental. Osprojetos de educação ambiental e, sobretudo, as intervenções escolares resultantes do seudesenvolvimento, propondo ações/soluções para os problemas da realidade estudados, podemcontribuir para a formação do cidadão crítico, participativo e organizado em busca de melhoriada qualidade de vida.

Em meio às diferentes conceituações e práticas atribuídas à educação ambiental, aentendemos aqui como um importante instrumento para a compreensão e conscientizaçãosobre questões/problemas do ambiente, cujo desenvolvimento tem-se colocado como uma dasmais sérias exigências educacionais contemporâneas para o exercício/construção da cidadaniae busca de transformação da realidade socioambiental. A educação ambiental como educaçãopolítica deve possibilitar o uso do conhecimento não só na relação com os recursos naturais,como também habilitar e promover a participação do cidadão nas decisões sobre o seu cotidiano.Na escola, ao considerar alunos reais e a realidade como espaço de reflexão-ação, os projetosde educação ambiental podem contribuir para a qualificação escolar do lugar/ambiente onde aescola se localiza, favorecendo no seu (re)conhecimento, bem como na construção de novosconhecimentos, comportamentos e procedimentos de ensino.

Tais princípios orientaram a elaboração do programa com escolas em Guarulhos-SPintitulado Educação, Meio Ambiente e Cidadania: desenvolvimento de projetos escolares deeducação socioambiental com o uso de sensoriamento remoto e trabalhos de campo para oestudo do meio ambiente e exercício da cidadania, realizado por meio da parceria entre Prefeiturade Guarulhos/SAAE, Instituto de Geociências da Unicamp, Diretoria de Ensino de GuarulhosNorte, Universidade de Guarulhos e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O objetivo épromover a formação de professores em exercício para a realização de projetos de educaçãoambiental em suas localidades, bem como o desenvolvimento de novos procedimentos deensino para o estudo do ambiente. (Santos, 2006)

O mapeamento socioambiental e o (re)conhecimento do lugarUm dos exemplos mais significativos de valorização dos trabalhos de campo para o

(re)conhecimento e levantamento/atualização de informações sobre o lugar de estudo se constituina elaboração do “mapeamento socioambiental”. Realizada pelas escolas esta atividade implicaem fazer um levantamento de dados socioambientais da região de estudo em seus múltiplosaspectos, com referência, a exemplo de Guarulhos, na microbacia local, visando à elaboraçãode um diagnóstico socioambiental desta realidade. São mapeados diferentes indicadores, taiscomo: tipos de moradia, cursos d’água, áreas verdes, ruas calçadas e ou ruas de terra, lixões,estabelecimentos públicos, comerciais e industriais, áreas de risco a saúde, áreas de risco dedesabamentos, áreas de nascentes aterradas e ou várzeas ocupadas, presença ou ausênciadas redes de água, esgoto e energia elétrica, etc.

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A elaboração do mapeamento socioambiental propicia o desenvolvimento de atividadesdidático-pedagógicas complementares à leitura do lugar, tais como relatórios, entrevistas, resgateda história local, registros fotográficos, produção de textos, desenhos e elaboração de materiaislúdicos (jogos didáticos), dentre outras, favorecendo o estudo do local e o entendimento doambiente como espaço construído/destruído historicamente por relações sociais cotidianasorientadas por diferentes interesses. Na escola, o desenvolvimento dessa atividade contribui naformação de “leitores críticos do espaço”, à medida que propicia aos alunos condições para:saber ler/interpretar o espaço em estudo, saber pensar o espaço em suas relações e sabertransformar/fazer o espaço, enquanto contribuição à formação de cidadãos críticos eparticipativos, sujeitos do seu próprio ambiente.

O mapeamento socioambiental, como atividade integrante de um programa de educaçãoambiental, constitui um importante instrumento de participação da comunidade, tanto para olevantamento de informações e (re)conhecimento da realidade local, expressando demandas,percepções e tendências de seus moradores, como para subsidiar na elaboração de propostaspara a solução de problemas diagnosticados e planejamento de ações visando à melhoria daqualidade de vida no lugar.

O “olhar geocientífico” e a compreensão de problemas socioambientaisAo promover a compreensão das relações entre ambiente e sociedade, a educação

ambiental por meio do ensino em Geociências contribui na formação de cidadãos, aqui entendidoscomo sujeitos capazes de observar/conhecer o meio em que vivem; refletir sobre este meio esuas determinações, bem como propor/desenvolver ações frente aos problemas estudadosvisando ao desenvolvimento de soluções para estes, em busca da transformação da realidadesocioambiental.

Trabalhar com o conceito geocientífico de lugar na escola pressupõe considerar o alunoreal com sua experiência social e individual em sua localidade. Nessa perspectiva, o lugar seconfigura, ao mesmo tempo, como objeto de estudo, de problematização e investigação escolar,bem como de síntese, espaço promotor/possibilitador da produção de novos saberes e posturas.Isto se reflete na produção de conhecimentos contextualizados e originais sobre o lugar deestudo e, portanto, para uma renovada concepção de currículo escolar que articula os conteúdosescolares com a realidade local.

Como a análise de questões ambientais requer o desenvolvimento de raciocínios espaciaise temporais e o estabelecimento de relações dialéticas entre local-global, os projetos escolaresde educação ambiental devem promover exercícios de contextualização capazes de propiciaruma compreensão ampla e integrada sobre a problemática em estudo, favorecendo a integraçãode recursos em atividades didático-pedagógicas para o estudo do ambiente. Trabalhos de campointegrados com mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite, a exemplo do trabalho realizadoem Guarulhos, podem contribuir para o entendimento de problemas e suas repercussões eimplicações na qualidade de vida. Contribuem para a compreensão do processo de uso eocupação do espaço, bem como para o estabelecimento de relações em diferentes escalas deobservação e apreensão da realidade socioambiental em estudo.

Favorecem na elaboração de novas percepções sobre o ambiente a partir dacompreensão das inter-relações entre a “visão horizontal e pontual”, (restrita ao local) e a “visão

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vertical e abrangente” (o local no seu contexto, em diferentes escalas, e visto “de cima”).Contribuem para a superação de uma visão fragmentada e compartimentada diante daabordagem de fenômenos complexos como os ambientais, promovendo a apreensão sistêmicadeste à medida que os alunos percebem que os problemas locais, como de uma microbacia,por exemplo, não se restringem nem se explicam pontualmente, mas sim, estabelecemdiferentes relações e implicações com o bairro, o município e a região. Ou melhor, “implicam”e são “implicados” num ir e vir constante.

Trabalhos de campo com mapas, fotos aéreas e imagens de satélite contribuem parao estudo dos problemas ambientais, no contexto das dinâmicas e complexas relações entrenatureza e sociedade, bem como podem contribuir na formação de alunos/cidadãos informadose conscientes sobre o lugar em que vivem.

Os projetos escolares de educação ambiental e a questão da cidadaniaOs projetos escolares de educação ambiental se constituem em oportunidades para o

estudo do ambiente e seus problemas, bem como para a formação de professores inovadorese alunos críticos e participativos.

Por meio do desenvolvimento de projetos de educação ambiental, alunos e professoresde Guarulhos fazem uma (re)leitura crítico-construtiva da realidade local. Identificam problemassocioambientais com referência no estudo de microbacias, coletam e analisam dados.

Estabelecem relações entre as informações levantadas, considerando diferentesescalas de repercussões e implicações e elaboram propostas para a solução de problemas.As propostas escolares vislumbram possibilidades de transformação da realidade local e,nesse sentido, se constituem em exercícios de cidadania dos sujeitos da educação (alunos eprofessores), na qualidade de sensibilizadores e propiciadores de uma sintonia fina entreconhecimento, cidadania e melhoria da qualidade vida.

Considerando que o trabalho de construção da consciência ambiental implica umtrabalho de construção da cidadania, os projetos escolares de educação ambientaldesenvolvidos em Guarulhos investem na construção de “Núcleos de Cidadania”. Estes Núcleostêm por proposta promover o diálogo entre escola, comunidade e poder público, visando aodesenvolvimento de parcerias e ações voltadas à busca de soluções para os problemas locaisdiagnosticados nos projetos escolares, como contribuição a definição de políticas públicasorganizadas democraticamente. Formados por alunos e professores, os Núcleos de Cidadaniatem por objetivo atuar nas escolas como “espaços educativos da comunidade”, visando àmultiplicação de conhecimentos produzidos com o desenvolvimento dos projetos de educaçãoambiental para os moradores das áreas de estudo. Para a realização dessa atividade foicriada a figura do Agente Ambiental Escolar. Aluno participante do projeto de educaçãoambiental, o Agente tem por objetivo o desenvolvimento de ações socioeducativas voltadas àconscientização da comunidade local com referência em questões de Saneamento, Saúde eAmbiente.

Os projetos escolares de educação ambiental, enquanto práticas político-pedagógicassignificam, antes de uma possibilidade educativa, uma necessidade social e um compromissopolítico com a construção de um lugar melhor pra se viver. Nesse contexto, os Núcleos deCidadania representam a possibilidade de sensibilizar e mobilizar diferentes atores sociais a

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partir da escola, para participar na transformação de propostas/sugestões escolares focadasna melhoria da vida em projetos da comunidade organizada. Expressam um canal decomunicação do conhecimento escolar e de diálogo sobre as questões do meio ambiente,visando dinamizar a sociedade, promover a responsabilidade socioambiental e planejar umfuturo melhor.

O trabalho de formação da consciência socioambiental em desenvolvimento nas escolasde Guarulhos, e a partir delas, exige uma constante sensibilização de alunos, professores ecomunidade por meio da consolidação dos seus Núcleos de Cidadania. É no desenvolvimentodesse processo que as escolas estarão efetivamente contribuindo para o enfrentamento dodesafio político-ético da educação ambiental frente à urgente necessidade de construção deuma sociedade mais justa e ecologicamente equilibrada, alicerçada no conhecimento e noexercício da cidadania.

Referências bibliográficas:COMPIANI, Maurício. “O lugar e as escalas e suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos práticos: implicações para o ensino deciências e educação ambiental”. Ciência & Educação, v.13, n.1, p.29-45, 2007.JACOBI, Pedro. “O desafio da construção de um pensamento crítico, complexo e reflexivo”. Educação e Pesquisa – Revista da FEUSP. SãoPaulo. V.31, nº 2, maio/agosto, 2005.SANTOS, Vânia M.N. Formação de professores para o estudo do ambiente: projetos escolares e a realidade socioambiental local. Tese deDoutorado. Instituto de Geociências, Unicamp, Campinas, 2006.

MESA 5 - Água, ar e solo – a constituição do ambiente

A geologia paulistana e o patrimônio sócio-ambientalCelso Dal Ré CarneiroDepto. Geociências Aplicadas ao Ensino/ Instituto de GeociênciasUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Introdução

A população que convive na cidade de São Paulo com problemas de trânsito em uma malhaviária saturada talvez não tenha interesse em saber que, nos campos de Piratininga, seriadifícil escolher local melhor para instalar o povoado. Capturou-se da cultura indígena de 1554o conhecimento de alguns traços da paisagem, como o relevo favorável, a abundância decursos d’água, os terrenos de aluviões, periodicamente inundados e bons para cultivo, aproximidade de grandes rios que permitiriam navegação fluvial e serras que facilitariam adefesa etc.

Depois de mais de cinco séculos, algumas dessas “vantagens” perderam significado,mas os parâmetros naturais continuam a se impor. São fatores condicionantes que precisamser respeitados por todos aqueles que aqui instalam edificações, obras subterrâneas, ruas e

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avenidas, sob pena de haver riscos ambientais, econômicos e até mesmo de perda de vidashumanas.

Neste artigo exploraremos alguns aspectos da geologia de São Paulo e seus arredores,para ilustrar a importância desse condicionamento para as mais elementares atividadeshumanas. Veremos que as rochas, os solos e a água presentes em nosso espaço urbanofazem parte de um patrimônio sócio-ambiental. É importante entender que estamosacostumados a pensar com base no tempo histórico, mas dependemos da perspectiva dadapela idéia de Tempo Geológico para compreender as transformações ambientais e, muitasvezes, ampliar as possibilidades de resolução dos problemas vividos na cidade.

É possível que, à luz da experiência e da tecnologia modernas, certas decisões pareçamhoje autênticos equívocos, mas o aspecto central é “aprender com nossa própria história”.Povos que não absorvem as lições da história estão condenados a repetí-la e a cometerindefinidamente os mesmos erros.

Figura 1. Conceito de aquífero (Fonte: SNIRH. Sistema Nacional de Informação de RecursosHídricos. Definição, Caracterização e Cartografia dos Sistemas Aquíferos de Portugal

Continental, http://snirh.pt/snirh/actual/folhetos/sqa_vant.html)

II.GeologiaPaulistana

Há quase 30 anos uma mesa-redonda promovida pela SBGeo e ABGE reuniuespecialistas de várias áreas do conhecimento para debater os Aspectos geológicos egeotécnicos da bacia sedimentar de São Paulo. Na oportunidade, as linhas subterrâneas dometrô estav am em construção e muitas obras de grande porte já se espalhavam pela cidade;a integração de conhecimentos foi valiosa.

A cartografia geológica da cidade de São Paulo e seus arredores pouco avançou desdeentão, quando Coutinho (1980) publicou o Mapa Geológico da Grande São Paulo em escala1:100.000 pela Emplasa em 1980. Esse mapa foi a base da elaboração da Carta Geotécnicada Grande São Paulo pelo IPT, anos depois. Excetuando-se iniciativas isoladas depesquisadores universitários e mapeamentos que fundamentaram a elaboração de tesesacadêmicas, como p.ex. Coutinho (1972), Carneiro (1983), e outros, a região metropolitananunca conheceu programas sistemáticos de mapeamento geológico básico. Pode-se dizerque o cidadão paulistano, seus governos e o estado paulista conhecem mal, muito mal, as

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unidades geológicas sobre as quais se erigiu a grande cidade. Preocupa-nos constatar que aprópria utilização do conhecimento geológico pode ser mais i ntensa e ampla, fato tantasvezes destacado e, infelizmente, salientado pela mídia quando acontecem acidentes como oda obra do metrô em janeiro de 2006.

No plano estadual, já houve incentivos a uma pesquisa geológica coordenada, podendo-se citar: (a) a construção dos sistemas de abastecimento de água da Grande São Paulo, comoo Sistema Cantareira e os estudos para adução de água do Vale do Ribeira; (b) o planejamentoe execução do sistema ferroviário e de transportes metropolitanos da cidade; (c) a formaçãode grupos de pesquisa em universidades; e (d) a implantação do sistema estadual de mineraçãoe pesquisa (conhecido como Pró-Minério). Essas atividades tiveram etapas de apogeu e declínio.Todas deram alento à premissa de que é preciso conhecer cada vez mais e melhor nossosubsolo. Alguns problemas mal ou insatisfatoriamente equacionados relacionam-se com acomplexa geologia paulistana e talvez jamais sejam resolvidos. Pretendemos citar algunsexemplos, sem a pretensão de oferecer “soluções milagrosas”.

Escassez de águaHá escassez de água em várias regiões do Brasil, apesar da vasta rede hidrográfica; o problematambém afeta São Paulo. Na região sudeste é boa a disponibilidade de água doce, mas orecurso sofre três tipos de interferências principais: (1) aumento da população, (2) falta decontrole sobre certos hábitos de consumo, que fazem explodir a demanda, (3) problemas decontaminação de reservas e (4) crescente ocupação e impermeabilização das terras. Sob esteúltimo aspecto, basta lembrar que a região abriga escassas reservas de florestas,aindaameaçadas peladesenfreada expansão urbana.

Uma delas, a Serra da Cantareira, situada a norte da cidade, tem seu nome relacionadoao tempo dos escravos, que caminhavam até suas faldas, em busca do líquido trazido emcântaros.

Os espaços disponíveis são avidamente ocupados e as terras se transformam, cadavez mais, em mercadoria e moeda de troca. Ao serem reduzidos os espaços de áreas vegetadas,escasseiam também as fontes naturais e, proporcionalmente, as reservas de água de boaqualidade, pois se reduz a taxa de infiltração. A água subterrânea, armazenada no subsolo,movimenta-se mais lentamente que as águas de superfície, porque ocupa espaços vazios(poros e fraturas abertas) da zona saturada . A superfície de topo é o nível d’água ou limite dazona saturada, que acompanha aproximadamente a superfície do terreno. Aqüíferos sãounidades geológicas portadoras de água, delimitáveis nas três dimensões: largura, comprimentoe profundidade, e dos quais a água pode ser explotada, termo que significa “extrair emquantidades economicamente aproveitáveis” (Fig. 1)

A herança geológica foi generosa para a cidade, graças à ampla bacia sedimentarneogênica, chamada Bacia de São Paulo. São camadas de areias, siltes e argilas que sedistribuem de maneira descon tínua e com espessura variável e portanto as reservas de águasubterrânea, dependem daqueles materiais e rochas que transmitem e armazenam água. Orelevo do núcleo urbano central da cidade é suave e pouco movimentado, formado por colinase espigões extensos, como aquele onde se implantou a Av. Paulista. Se em Guarulhos a base

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da pilha sedimentar está a cotas inferiores a 550 m e no mirante do Sumaré os sedimentoselevam-se a cotas da ordem de 839 m, podemos calcular em pouco mais de 300 m a espessurade sedimentos acumulados sob a cidade.

Para compreender melhor como funciona o aqüífero situado sob a cidade, convémexaminar brevemente a idéia de ciclo hidrológico (Fig. 2).

O conhecimento de assuntos ligados a recursos hídricos - e, sobretudo, a educaçãoem temas ambientais - é importante para utilização racional e proteção deste que é, talvez,para os seres humanos, o mais importante recurso natural (Carneiro et al. 2008).No Sudeste brasileiro, a precipitação é formada pela água que cai na forma de orvalho, chuvaou granizo; uma parte forma córregos, lagos e rios que podem atingir o oceano; outra partedesce, sendo filtrada no solo e no subsolo, dependendo dos materiais e tipos de rochaexistentes. Sob as camadas da Bacia de São Paulo, o embasamento cristalino abrange amplavariedade de rochas: xistos, filitos, gnaisses, migmatitos e granitos, que se distribuem demodo desigual. São rochas resistentes formadas durante colisões de placas que tiveram lugarhá mais de 540 milhões de anos atrás.

O relevo sobre essas rochas – situado na periferia da cidade – é muito mais íngremee movimentado que na região central, aumentando os problemas de deslizamentos de terra eerosão acelerada, aspectos que pelas limitações de espaço deixaremos de abordar.

As águas já vêm sendo explotadas desde a primeira metade do século XX, mas, devidoà impermeabilização e desaparecimento de áreas verdes, reduziu-se o volume de água quepenetra no subsolo. Felizmente, embora ruim do ponto de vista econômico, não é desprezívelo volume de água perdida nos vazamentos do sistema de abastecimento da cidade, que

Figura 2. O ciclo hidrológico. As setas em azul claro indicam o percurso da água subterrânea,enquanto a linha tracejada em azul escuro indica o limite da zona saturada, que pode serrebaixado quando há superexplotação.(Fonte: PA-GEPEP s.d.; ver The Geology of Pennsylvania’s Groundwater, Pennsylvania GeologicalSurvey,Educ.Series3, http://www.dcnr.state.pa.us/topogeo/education/es3.pdf)

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ajudam a alimentar o aquífero. Um sistema complexo é exatamente isso, qualquer ação estáligada a outra. A complexa relação do sistema subterrâneo com a impermeabilização superficialé outra forma de entender o fenômeno das enchentes periódicas, provocadas em parte peloexcesso de água que corre na superfície. Se não tratarmos apenas do “recurso água” eadotarmos visão mais integrada de nosso “patrimônio socioambiental”, que inclui o “sistemaágua”, seremos capazes de estabelecer novas relações. O vídeo The Story of Stuff (A Históriadas Coisas, http://video.google.com/videoplay?docid=-3412294239230716755&pr=goog-sl)aponta que, em resumo, não é possível fazer funcionar indefinidamente um sistema lineardentro de um sistema natural finito, que é complexo, não linear e, acima de tudo, limitado.

Possivelmente, uma parte dos problemas vividos pela cidade, como a poluiçãoatmosférica, o trânsito e tantos outros decorrem de nossa insistência em pensar tudo comosistemas simples, lineares e que podem ser resolvidos mexendo-se em apenas uma parte,sem olhar o conjunto, conforme veremos a seguir.

Voltemos à água: quanto mais intensa a extração, mais aumenta o rebaixamento donível da zona saturada, devido a bombeamento excessivo e interferência de poços muitopróximos entre si. O nível d’água em um poço em repouso permanece no chamado nívelestático. Havendo bombeamento, o nível é gradualmente rebaixado até estabilizar-se no níveldinâmico, que por sua vez depende da transmissividade (a capacidade de transmitir águainternamente) do aquífero. Em São Paulo, Guarulhos e outras cidades da área metropolitanahá bons exemplos de rebaixamento da superfície da zona saturada devido à superexplotação,que deveria ser mais bem controlada pelo poder público. Em casos extremos, o aquífero podeaté se esgotar, quando a taxa de extração é muito maior do que a de recarga.

A população de São Paulo não para de crescer, demandando e consumindo cada vezmais água. Também por esse motivo, deve-se combater o desperdício, proteger e preservar aqualidade das águas superficiais e subterrâneas. A poluição da água é observável em córregose rios, mas a contaminação subterrânea só é detectada por testes especiais.

Impermeabilização urbanaRápida análise de mapa geológico da cidade (Fig. 3) revela fato elementar (Carneiro

1999): o rio Tietê, no traçado original, antes de ser retificado, serpenteava sobre planícieformada durante seus incontáveis transbordamentos periódicos. No período Quaternário (quecompreende os últimos dois milhões de anos), a dinâmica fluvial construiu planícies depositandocamadas de sedimentos, neste caso, mais novos que as camadas da Bacia de São Paulo, emfunção de: a) natureza do relevo adjacente; b) presença de soleiras locais, que são osimponentes obstáculos graníticos que se interpõem, a jusante de Osasco, no caminho dogrande rio; c) a própria sazonalidade do ciclo hidrológico (Fig. 2), pois as chuvas jamais sedistribuem igualmente ao longo do ano, mas se concentram nos meses mais chuvosos.

Para expandir a cidade, urbanizadores retificaram, canalizaram e recobriram rios eriachos, para alojar avenidas como o Anhangabaú, Pacaembu, 23 de Maio, 9 de Julho eoutras. A ocupação das áreas aluvionares vizinhas ao Rio Tietê com bairros industriais eresidenciais e a construção das vias marginais constituem a pior alternativa possível do pontode vista geológico (Carneiro 1999). O caso do rio Itororó, que foi canalizado e coberto pela Av.23 de Maio, exatamente ao lado de onde se localiza o Centro Cultural São Paulo, é exemplar:

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poucas pessoas imaginam,ao passar com seus veículos, que abaixo delas encontra-se um antigo canal fluvial.

Quanto mais a cidade se expande, mais a superfície do terreno se impermeabilizadevido às ruas e construções. Resultado: a água que não se infiltra caminha pela superfície,rumo a bueiros e canais, tornando as enchentes mais comuns e mais intensas. Solução paliativasão os piscinões, que se espalham pela cidade a custos elevados. Em muitas cidades adotam-se soluções para melhorar a recarga subterrânea. Coletores pluviais de modernos edifícios,avenidas e rodovias são incluídos no projeto arquitetônico e quarteirões inteiros são ocupadospor depressões que recolhem a água de chuva; a base, forrada com areia, aumenta a infiltração.

EnchentesO desassoreamento do leito do rio Tietê periodicamente extrai sedimentos, lixos, resíduos

urbanos e pneus. O volume, no grande rio, desses três últimos indica a alta frequência comque a população os abandona a montante. Tais práticas negativas na relação do cidadãourbano com a cidade deveriam mudar. É preciso conscientizar as pessoas de que educaçãoambiental é mais do que cuidar de torneiras inutilmente abertas.

Os sedimentos naturalmente transportados pelo rio, porém, são um sintoma grave: aerosão nas cabeceiras deixou de ser controlada há muito tempo e isso não é um bom sinal. Ossedimentos não causam cheias, exceto se o volume é tão grande que impeça o livre escoamentodo rio. Áreas desprotegidas nas cabeceiras do rio aceleram a erosão, sendo abertas por todoloteamento, aterro, obra de terraplenagem, invasão de terras ou construção de habitaçõespopulares. É competência do poder público controlar a ocupação, embora seja mais fácil agircorretiva do que preventivamente, ou seja, executar o trabalho ambientalmente maisconsequente de controle de erosão acelerada.

Considerações FinaisA herança geológica da cidade de São Paulo, formada pela Bacia de São Paulo, de idadeneogênica, e pelos aluviões construídos pelos grandes rios que a atravessam, é importante

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Figura 3. Trecho de mapa geológicode São Paulo com a grande planíciealuvionar (Qa) dos rios Tietê,Tamanduateí e Pinheiros e as zonasonde afloram sedimentos neogênicos(TQs) (Fonte: IPT 1981)

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para a cidade. Com pouco mais de 300m deespessura, os sedimentos abrigam águasubterrânea. A impermeabilização excessiva,ao lado da falta de controle dos problemas deerosão acelerada em regiões situadas amontante da capital paulista, ajuda aintensificar o fenômeno das enchentesperiódicas, um problema de difícil ouimpossível solução.Citamos brevemente três exemplos extraídosde nosso patrimônio socioambiental: oabastecimento de água, a impermeabilizaçãourbana e as enchentes. Muitas pessoas quevivem em São Paulo são capazes de listar os problemas mais graves da cidade, mas talveznão tenham percebido quanto o conhecimento geológico pode ser útil para compreender umpouco melhor a dinâmica do ambiente onde vivem.Salientamos que o sistema educacional poderia ser o ambiente apropriado para situar maisprecisamente os papéis da água nesses sistemas, que não são, de modo algum, estáticos.Quando a dinâmica urbana interfere na dinâmica natural, efeitos acontecem e muitas vezeseles são desfavoráveis para a sociedade. Um enfoque integrador, nesse caso, deve relativizaro papel do homem como “senhor da natureza”, e aumentar a fundamentação científica paraconstruir uma perspectiva mais responsável frente à natureza, da qual fazemos parte.

Referências e Sugestões de LeituraCARNEIRO, C.D.R. 1983. Análise estrutural do Grupo São Roque na faixa entre o Pico do Jaraguá e a Serra dos Cristais, SP. São Paulo: Inst.Geoc. USP. 155p. (Tese Dout.).Carneiro C.D.R. 1999. Recorrência de enchentes nas várzeas de Piratininga. Ciência Hoje, 26(156):68-70. (Opinião).Carneiro C.D.R., Mendonça J.L.G.de, Campos H.C.N.S. 2008. Rios subterrâneos: mito ou realidade?. Ciência Hoje, outubro 2008 (no prelo).Coutinho J.M.V. 1972. Petrologia do Pré-Cambriano de São Paulo e arredores. São Paulo: B. IG-USP, (3):5-100.Coutinho J.M.V. 1980. Relações litológicas e estruturais da Bacia de São Paulo com o Pré-Cambriano circunvizinho. In: MESA REDONDAASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOTÉCNICOS DA BACIA SEDIMENTAR DE SÃO PAULO, São Paulo, 1980. Anais... São Paulo: ABGE/SBG-NSP. p. 15-12 (Publ. Esp.).Fleeger G.M. 1999. The Geology of Pennsylvania’s Groundwater. 3 ed. Pennsylvania Geological Survey, 4th ser. 34 p. (Educ. Series 3). URL:http://www.dcnr.state.pa.us/topogeo/education/es3.pdf. Acesso em 25.01.2008.Hasui Y., Carneiro C.D.R., Giancursi F.D., Gusso C.L.N. 1976. Condicionamento tectônico da Bacia Sedimentar de São Paulo. In: CONGR.BRAS. GEOL., 29, Ouro Preto, 1976. Anais... Belo Horizonte: SBG. v. 4, p. 257-268.Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT. 1981. Mapa Geológico do Estado de São Paulo, escala 1:500.000. SãoPaulo: IPT. (Monogr. 6, anexo).Merguerian C. 2002. A geological transect from New York city to New Jersey. Hempstead, NY. Hofstra Univ. (Field Trip Notes). URL:http://www.dukelabs.com/Abstracts%20and%20Papers/1CManual0209.htm. Acesso em 18.mar.2008.

Monitoramento da Qualidade das Águas para Ação Ambiental

Gustavo Veronesi

É fundamental que os problemas relacionados à gestão de Recursos Hídricos deixemde ser uma preocupação dos círculos restritos de especialistas e das pessoas que atuam

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diretamente com a questão, mas que se tornem uma preocupação de toda a sociedade.A Fundação SOS Mata Atlântica, por meio da Rede das Águas, desenvolve e executa

metodologias de educação ambiental, capacitação e mobilização social que são utilizadas comoferramentas de engajamento e desenvolvimento de ações comunitárias para gestão integradade águas e florestas, em bacias hidrográficas.

O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e os Sistemas Estaduaispreconizam a gestão integrada, participava e descentralizada da água e adotam o recorte dasbacias e subrregiões hidrográficas para implementação da Política Nacional das Águas.Embora bastante estruturado e com ferramentas de gestão como o Plano de Bacias, Cobrançapelo Uso da Água e Comitês de Bacias Hidrográficas em fase de consolidação no País, oSistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos ainda não é conhecido por umagrande parcela da sociedade.

A Fundação SOS Mata AtlânticaA Fundação SOS Mata Atlântica é uma entidade privada, sem vínculos partidários ou

religiosos e sem fins lucrativos. Seus principais objetivos são defender os remanescentes daMata Atlântica, valorizar a identidade física e cultural das comunidades humanas que os habitame conservar os riquíssimos patrimônios natural, histórico e cultural dessas regiões, buscando oseu desenvolvimento sustentado.

Fundada em 1986, a SOS Mata Atlântica possui um corpo de profissionais trabalhandoem projetos de educação ambiental, recursos hídricos, monitoramento da cobertura florestalvegetal da Mata Atlântica por imagens de satélite, ecoturismo, políticas públicas, aprimoramentoda legislação ambiental, apoio à gestão de unidades de conservação, banco de dados da MataAtlântica, entre outros.

Para o desenvolvimento de suas ações a SOS Mata Atlântica é sustentada pelacontribuição de mais de 200 mil membros filiados e por apoios, parcerias e patrocínios deempresas privadas, órgãos governamentais, instituições de ensino e pesquisa, entidades eagências nacionais e internacionais.

A Rede das ÁguasÉ um programa de informação e intercâmbio voltado à mobilização social para gestão

integrada da água e da floresta, fortalecimento e aprimoramento de políticas públicas ecampanhas do setor.

Articula em rede social representante de grupos de monitoramento da qualidade daágua, entidades civis, de órgãos gestores de meio ambiente e recursos hídricos, fóruns e redestemáticas.

Reúne os projetos da Fundação SOS Mata Atlântica relacionados ao tema água edissemina metodologias. Consolidou-se como ferramenta de mobilização no setor de recursoshídricos e possibilitou o início das atividades de educação ambiental e mobilização ligadas aotema água em rede social.

Tem como objetivo, sensibilizar, organizar e capacitar cidadãos, usuários de água,representantes da sociedade civil organizada, educadores, estudantes e gestores do setor públicopara a gestão integrada de recursos hídricos, implementada no País a partir da Lei 9.433/97,com vistas ao uso sustentável da água e ao desenvolvimento de ações locais replicáveis de

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gestão integrada em bacias e regiões hidrográficas brasileiras.Também tem como meta implementar o Programa de Educação Ambiental e

Mobilização para Gestão Integrada de Recursos Hídricos, denominado Observando osRios.

Observando os RiosÉ um programa de educação ambiental e mobilização que utiliza o monitoramento

da qualidade da água como instrumento de sensibilização e engajamento social paragestão da água.

A metodologia, desenvolvida especialmente por Samuel Murgel Branco para aFundação SOS Mata Atlântica, vem sendo aplicada desde a instituição do Núcleo UniãoPró-Tietê, em 1991, como uma ferramenta de engajamento da sociedade paulista nacampanha em prol da despoluição do Rio Tietê.

É constantemente aperfeiçoada e foi ampliada para ser aplicada em diversosrios e bacias hidrográficas brasileiras, por meio da formação de grupos de monitoramentoque atuam em rede. 

A partir da consolidação de um termo de cooperação com uma entidade parceiraque tenha atuação na bacia hidrográfica são organizadas oficinas para apresentaçãoda proposta.As oficinas ministradas por técnicos da SOS visam oferecer a metodologia doObservando os Rios como instrumento para fomentar o envolvimento direto dascomunidades locais, organizar e formar os grupos de monitoramento ambiental queatuarão na coleta e na análise mensal da qualidade da água de rios e córregos emsuas cidades e regiões.

Esses grupos recebem nome fantasia, ou utilizam o nome da instituição a quepertencem, e são agregados à Rede das Águas. A adesão dos grupos ao programaocorre por meio da assinatura de um Termo de Adesão e do fornecimento do kit deanálise e de um login e senha de acesso para a rede.

A atividade dos grupos de monitoramento ambiental é a principal ferramenta deeducação ambiental do programa desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica.

Ao longo de doze meses os integrantes dos grupos de monitoramento fazemcoletas e as análises da qualidade da água dos rios, identificam problemas e elaboraram,em conjunto com a entidade parceira e a Rede das Águas, projetos e ações locais comvistas à conservação e recuperação dos corpos d’água.

A coleta e a análise da qualidade da água têm caráter de duração continuada econsistem na principal atividade prática que auxilia os grupos e as entidades parceirasa construírem um retrato ou a caracterização ambiental da bacia hidrográfica, comindicadores de percepção, para engajamento social ao Sistema de Gestão de RecursosHídricos e à capacitação para o desenvolvimento de ações locais voltadas à defesa eao uso sustentável da água.

Monitoramento ParticipativoPara que esse processo de educação ambiental apresente resultados ainda

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mais efetivos, no que se refere a um amplo processo de cidadania e participação social, épreciso criar meios de transformá-lo em um programa de duração continuada, de forma a darsubsídios e fortalecimento necessários aos grupos de monitoramento, mantendo-os atuantesem suas regiões.

O monitoramento ocorre mensalmente por meio do diagnóstico da qualidade da água,com parâmetros simplificados, feitos pela comunidade, a partir da percepção ambiental e douso de kits para análises físico-químicas e biológicas.

Os kits que são fornecidos aos grupos possibilitam analisar os seguintes parâmetros dequalidade de água: pH, temperatura, fosfato, nitrato, oxigênio dissolvido, coliformes fecais, DBO(demanda bioquímica de oxigênio) e turbidez. Os kits são fornecidos pelo projeto, sendo quecada grupo realiza análises mensais em trechos previamente escolhidos. Para a realização domonitoramento os grupos utilizam fichas de campo.

Além das determinações bio-físico-químicas, também será realizado um diagnósticoambiental a partir de uma caracterização da área monitorada, totalizando 14 parâmetrosobservados. Ao final do processo será obtida uma nota de qualidade do rio para o trechomonitorado em função do número de pontos obtidos. Os dados de monitoramento serãorepassados para a Fundação SOS Mata Atlântica, que atua coordenando e divulgando os dados.O processamento das informações se dá em um banco de dados online, com recursos doSistema de Informações Geográficas (SIG) que tem a classificação da qualidade da água do riono respectivo trecho. De acordo com a “pontuação” encontrada pelo grupo de monitoramentoserá dada uma nota de qualidade ao rio. Esta classificação de qualidade de água foi dividida emcinco classes:

ÓtimaBoaAceitávelRuimPéssimaA Fundação SOS Mata Atlântica aproxima a metodologia educacional aos parâmetros

de monitoramento oficiais: IQA (Índice de Qualidade da Água) utilizado pela Cetesb e às normasvigentes, estabelecidas pelo CONAMA.

São objetivos do Observando os Rios:Proteger e recuperar o meio ambiente e a paisagem urbana;Controlar e reduzir os níveis de poluição e de degradação;Incentivar a adoção de hábitos, costumes, posturas, práticas sociais e econômicas que

visem à proteção e restauração do meio ambiente;Preservar os ecossistemas naturais e as paisagens notáveis;Garantir a produção e divulgação do conhecimento sobre o meio ambiente por um sistema

de informações.Quanto às diretrizes, o Projeto visa esclarecer a população sobre os problemas de uso

do solo e da ocupação de fundos de vale, áreas sujeitas à inundação, mananciais, áreas de altadeclividade e cabeceiras de drenagem; a ação benéfica quando se amplia a quantidade deáreas permeáveis; evitar a poluição da água, do ar e a contaminação do solo e subsolo.

Especificamente, em relação aos Recursos Hídricos, o Projeto se empenha em esclarecersobre as condições básicas de produção, regularização, disponibilização e conservação de

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recursos hídricos necessários ao atendimento da população e das atividades econômicas doMunicípio; maximização econômica, social e ambiental da produção de água nos mananciais eaquíferos que abastecem o Município.

O Projeto visa também desestimular o desperdício e a redução das perdas físicas daágua tratada e o incentivo à alteração de padrões de consumo; o desenvolvimento e aplicaçãode alternativas de reutilização de água e novas alternativas de captação para usos que nãorequeiram padrões de portabilidade; o estímulo ao controle social das condições gerais deprodução de água, ampliando o envolvimento da população na proteção das áreas produtorasde água.

Todas as atividades e ações são fomentadas e promovidas por meio da articulação emrede e os resultados são sistematicamente disponibilizados no endereço eletrônico da Rededas Águas – www.rededasaguas.org.br .

MESA 6 - Áreas Verdes, Comunidades e Conservação

Áreas Verdes, Comunidades e Conservação

Ondalva Serrano

Dentro da interdependência existente entre os ecossistemas do Planeta Terra e a grandebiodiversidade de seres, por eles gerados, podemos perceber a reciprocidade dos caminhos demão dupla do universo: “este mundo é meu e eu sou deste mundo”.O corpo do ser humano, além de ser constituído de cerca de 70% de água, ainda é o universoque abriga uma infinidade de outros seres vivos no seu interior e na sua pele; dessa formagrande parte das células que compõem o corpo humano são células não humanas, pois sãooriundas dessa enorme quantidade de outros seres vivos que nele convivem: fungos, vírus,bactérias, vermes, protozoários, ácaros, etc.

Nós, os seres humanos, somos seres complexos convivendo nummundo complexo.Além de termos um corpo físico constituído por matérias sólidas,líquidas, plasmáticas e gasosas, ainda possuímos corposenergéticos que respondem por nossas ações e nossa existência,ou seja, energia de vida, pensamento, sentimento, vontade, calor,luz, espírito. Essa realidade faz com que nossa existência sejagerida simultaneamente por leis da física, química, biologia,psíquica, quântica, e outras. Somos, portanto, um universocomplexo convivendo em outros universos mais complexos ainda,pois o corpo do Planeta Terra é formado pela integração interativadas sociedades de corpos minerais, vegetais, animais, humanose de microvidas.Com este olhar sobre nossa realidade interna e externa – complexa,dinâmica, interdependente e em processo constante de formaçãoe desenvolvimento –, podemos abordar cada elemento de nossatemática em questão.

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Áreas Verdes: urbanas, peri-urbanas, ou rurais são ecossistemas geradores de vida eprestadores de serviços essenciais aos seres humanos.

Sendo originários da materialidade fornecida pela natureza do planeta terra, os seres humanosse autoconstroem na convivência interativa com a biodiversidade existente em seusecossistemas. São os ecossistemas (áreas verdes ricas em biodiversidade) que atendem anossas necessidades básicas de vida, procriação e desenvolvimento ao fornecer ar puro, águapotável, afeto, nutrientes, medicações, lazer, conhecimento das leis que regem a vida, abrigo,proteção, beleza da paisagem, etc.

De modo sistematizado podemos dizer que os ecossistemas nos prestam serviços deSuporte, Abastecimento, Regulagem Ambiental e Cultural.

Suporte: por permitir a existência da biodiversidade e as bases para todas as atividadeshumanas, culturais, sociais, econômicas, artísticas, políticas e científicas.

Abastecimento: por fornecer, ar, água, nutrientes, medicamentos, afetividade nasrelações, conhecimento, segurança e saúde em ambiente ético, estético e ecológico.

Regulagem Ambiental: por assegurar a ciclagem do ar, da água, da terra, dos minerais,da matéria orgânica e de todas as espécies de vida; por permitir a renovação da qualidade doar, da infiltração da água das chuvas nos solos abastecendo o lençol freático e consequentementeas nascentes de água potável; por assegurar a estabilidade dos solos controlando a erosãofeita pelas chuvas e regulando as condições climáticas por amenizar o clima em regiões quentes,etc.

Cultura: por revelar cenários e paisagens inspiradoras da criatividade humana,possibilitando, a partir da convivência interativa, os muitos exercícios possíveis aos sereshumanos: aprender, conhecer, fazer, transformar, participar, partilhar, ser, antever e planejar,além de outros; por possibilitar, lazer, meditação, caminhadas, pesquisa, descoberta edesenvolvimento do potencial humano de ser integral.

Comunidades: urbanas, peri-urbanas, rurais, integradas ao modelo convencionalhegemônico ou as alternativas, como as ecovilas, em fase atual de renovação e expansão.

O ser humano, além de ser em si próprio um verdadeiro universo de biodiversidades,ainda é um ser de múltiplos papéis e funções: ele é um ser natural, gerado pela natureza doPlaneta Terra; é um ser cultural, criador de obras, produtos e serviços, transformando o meioem que vive; é um ser social pois aprende a viver e atuar de forma interativa e a complementarcom seus semelhantes e com outros de outras espécies; é um ser artístico ao perceber anatureza e a qualidade de seu meio e ser capaz de expressá-la a partir da musica, pintura,escultura, teatro, expressão corporal e muitas outras; é um ser econômico porque ao sercapaz de produzir é capaz também de comercializar e trocar seu conhecimento, sua criatividade,seus produtos gerados e seus serviços prestados para auferir receitas e ampliar sua capacidadede trabalho, produção e troca; é um ser político porque desenvolveu a capacidade de criarnormas, leis e mecanismos de convivência e interação, de administrar e gerenciar os processosde convivência, produção e distribuição de riquezas e partilha dos benefícios sociais eeconômicos, além de controlar e fiscalizar as ações individuais e coletivas; é um ser espiritual

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porque, embora sua materialidade seja originária do Planeta Terra, seu programa de ser humanotranscende o espaço desse planeta, ele é um ser do universo, que o concebeu e criou e, portanto,capaz de transitar por toda a galáxia e vir a conviver com outras dimensões deste universomultidimensional no qual estamos todos inseridos e ao qual pertencemos.

A complexidade de cada indivíduo se amplia quando nos organizamos em comunidade,exigindo grande esforço de organização, estruturação, e gestão do operar no meio de modocoletivo; a comunidade precisa se organizar para prover todas as múltiplas necessidades detodos os seus habitantes: abastecimento, saneamento básico, educação, saúde, moradia,transporte, segurança e outros; para esse mesmo fim, precisa ainda atuar em setores, meio deconcepção, planejamento, execução, fiscalização e controle social para assegurar eficiência eefetividade nas ações de interesse coletivo.

A organização, estruturação e gestão de comunidades urbanas, peri-urbanas, rurais,convencionais ou ecovilas precisam estar comprometidas com o equilíbrio, a racionalidade e orespeito no uso dos recursos da natureza e da sociedade para não gerar desestruturações edestruições que comprometam a qualidade e a sustentabilidade da vida no planeta. O nãorespeito à capacidade de suporte do meio, à capacidade de abastecimento local das necessidadesinternas de sua população, à capacidade de reciclar e recuperar os impactos das ações dosseres humanos no meio, e à capacidade de gerar oportunidades culturais a todos os seushabitantes, pode tornar essas comunidades insustentáveis e inadministráveis com qualidade edignidade.

Conceber, implementar e desenvolver modelos de uso e manejo sustentável do meiocom tecnologias humanas, sociais e ambientais adequadas, que assegurem baixo nível deimpactos negativos no ambiente pode assegurar equilíbrio, harmonia, sanidade, solidariedadee suficiência no suprimento das necessidades da população e na qualidade das relaçõesinterpessoais. Promover a conscientização das comunidades para o compromisso de todos, aolongo de toda a cadeia produtiva e distributiva dos bens e serviços, pelo uso responsável dosrecursos naturais é fundamental nos dias de hoje; essa atitude é indispensável para fazer faceao aquecimento global e à necessidade de redução do impacto de nossa pegada ecológicasobre o meio ambiente.

Conservação: segundo o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação (julhode 2000) –, seria o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, amanutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, paraque possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações; porémmantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras egarantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral.

Essas cinco funções abarcadas pela Conservação – preservação, manutenção, utilizaçãosustentável, restauração e recuperação – podem e devem ocorrer de modo simultâneo pelaação antrópica consciente e responsável nas áreas verdes de nossos meios urbanos, peri-urbanos e rurais da atualidade para assegurar melhor qualidade de vida para todos:Preservação e manutenção do que sobrou de áreas verdes, em decorrência da ação inadequadados seres humanos sobre o meio natural para permitir a produção e multiplicação dessas espéciesremanescentes;

Restauração e recuperação das áreas degradadas pelo uso inadequado dos seres

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humanos na busca de atendimento a suas necessidades básicas e principalmente da geraçãoe acumulação de riquezas pelo uso desequilibrado dos recursos do planeta, superando suacapacidade de suporte no curto prazo;

Utilização sustentável de todas as áreas preservadas e recuperadas para não maiscomprometer a vida e a continuidade da existência humana com qualidade e sanidade sobrea terra.

A herança deixada pelo modo de uso e manejo dos recursos naturais no século XXgerou um paradoxo: forte impacto destruidor da natureza (ecossistemas) comprometendo aqualidade do meio, da vida e da saúde humana, ao lado de acelerado processo deconscientização em todas as esferas sociais do papel dos ecossistemas para a vida e suaqualidade no planeta.

Os modelos adotados de urbanização, especulação imobiliária, industrialização poluidorae de baixo rendimento, transporte centrado em combustíveis fósseis, produção de bens eserviços com alto nível de desperdício, crescente índice de queimadas e desmatamentos,matriz energética de alto custo e impacto socioambiental, governança com baixo nível deconsciência ambiental, dentre outros, tem sido os principais fatores de alteração da qualidadee capacidade do meio natural em atender às necessidades humanas.

São esses fatores e seus impactos que precisam ser revisados agora no século XXIpara corrigir os desvios de conduta adotados no século XX. Para tanto os novos conceitosparadigmáticos de consumo responsável, ecomercado de trabalho, tecnologias apropriadas,comércio ético e solidário, sociedade sustentável, dentre outros, estão sendo objeto de reflexãoe de experimentação prática de implementação em diversas áreas culturais e étnicas do globo.Dentre as diretrizes para a construção de novas formas e modelos de ação no meio estãosendo recomendados, dentre outros, o uso e respeito das leis e mecanismos dos ecossistemaspara orientar a intervenção no meio; a prática do empreendedorismo com responsabilidadehumana, social e ambiental; o uso da ética na prática cotidiana e nas relações interpessoais;a adoção de tecnologias apropriadas, de baixo custo e impactos positivos no meiosocioambiental.

Neste momento torna-se importante o desenvolvimento de uma nova percepção devida, de mundo e sustentabilidade; a mudança de padrões culturais e de hábitos de consumo;o resgate do direito à vida saudável, simples e solidária; o papel dos grupos organizados nadefesa dos seus direitos; e a promoção de políticas públicas de educação, segurança alimentar,habitação, transporte, saúde humana, familiar e pública, etc. O equilíbrio e a harmonia desejadosserão alcançados com a prática do protagonismo, da cooperação, da complementaridade, eda mediação de conflitos com auxilio do diálogo entre lógicas diferentes em busca de consensose convívio solidário.

O verde urbanoRoseli B. TorresBióloga (Botânica)Pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas – IAC

Nas últimas décadas o processo de urbanização acelerada levou à ocupaçãodesordenada do solo nas cidades. Áreas ambientalmente frágeis, em decorrência do tipo de

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solo ou da declividade do relevo, por exemplo, e áreas de preservação permanente sãotransformadas em bairros ou ocupações irregulares. Mesmo as áreas de preservaçãopermanente, definidas no Código Florestal da década de 1960, como as margens de rios, lagose nascentes são urbanizadas ou transformadas em áreas de lazer, em loteamentos fechados.

No caso dos loteamentos fechados, a tendência atual é a de valorizar essas áreas que,no entanto, sofrem um manejo totalmente inadequado, o que compromete a sobrevivência dasespécies e a sua função ecológica.

Ao lado da utilização das áreas que são legalmente protegidas, observa-se que osremanescentes de vegetação nativa também são destruídos para dar lugar a novos bairros ouocupações irregulares. E para agravar ainda mais a situação ambiental caótica das cidades, aarborização urbana, os bosques e praças, dentre outros espaços com vegetação, sãoconsiderados um entrave à segurança pública, um problema de limpeza para as donas-de-casae um estorvo para o trânsito e o estacionamento dos veículos. Apesar do consenso sobre anecessidade de mudarmos de atitude em relação ao nosso ambiente; dos problemas acarretadospelo modelo de desenvolvimento econômico, como o aquecimento global, e das várias leis queprotegem o ambiente, o processo de destruição da vegetação nativa e da arborização urbanacontinua.

Em várias culturas, as árvores são consideradas sagradas, um símbolo da própria vida,com suas raízes fincadas na terra e sua copa voltada para o céu, interligando estes dois planosda vida na Terra. Para além de uma percepção poética ou simbólica das árvores, elas realmenteoferecem uma série de “serviços” ambientais, especialmente nas áreas urbanas. As cidades,de um modo geral, estão circundadas por paisagens homogêneas, com grandes extensões demonoculturas, como pastagem, cana, café, eucalipto, pinheiros, laranja, soja, etc. Além disso,as cidades, devido à poluição atmosférica e à impermeabilização de grandes áreas (com asfaltoou concreto, por exemplo), constituem-se em ilhas de calor, como se fossem gigantescas estufas.Nestas “estufas” a evaporação da água do solo impermeabilizado é menor, o que diminui oefeito refrescante que a umidade do ar produz. As águas da chuva escoam rapidamente sobreas ruas, e por meio da canalização urbana, e as enchentes são outra consequência daimpermeabilização do solo. Além disso, esteticamente, as cidades têm se transformado emáreas visualmente degradadas e agressivas.

Os benefícios da floresta urbana são muitos e variados: as árvores tornam o clima maisameno, pois interceptam parte da radiação solar que chega à Terra; aumentam a umidaderelativa do ar, devido à transpiração que ocorre em suas folhas, ajudando também a diminuir aoscilação da temperatura ambiente. O clima mais ameno que as árvores propiciam faz com queas pessoas utilizem menos os aparelhos de ar condicionado. O asfalto das ruas em que existemárvores também é menos aquecido, o que diminui não só a liberação de substâncias tóxicascomo também o gasto com sua manutenção. Ou seja, esses benefícios representam economiade verbas públicas para a manutenção do asfalto de ruas e avenidas, e economia domésticacom menor demanda de refrigeração, além de menor consumo de energia. As plantas de ummodo geral, e as árvores em particular, removem grandes quantidades de dióxido de carbono(CO

2), contribuindo para diminuir o efeito estufa, responsável pelo aquecimento do Planeta. As

copas das árvores funcionam como um anteparo para a chuva, suavizando o impacto dos pingosno chão e, assim, diminuem a erosão e melhoram a absorção da água pelo solo. A água que

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penetra lentamente no solo é fundamental para o reabastecimento do lençol freático. Muitascidades dependem da água subterrânea para abastecer parte da população. Quando a chuvase infiltra no solo, ajuda também a reduzir o volume de água que escorre superficialmente eque causa as enchentes, desmoronamentos e danos materiais e pessoais. As árvores funcionamcomo um quebra-vento, diminuindo a velocidade e alterando a direção dos ventos. Tambémsão um filtro das partículas sólidas suspensas no ar, reduzindo a poluição atmosférica. Aindaajudam a diminuir a poluição sonora, amortecendo parte dos ruídos da cidade.

Vários estudos têm demonstrado que uma pessoa que olha uma paisagem natural ficamais relaxada que outra olhando uma cena urbana. A pulsação, a pressão sanguínea e asondas cerebrais diminuem de intensidade quando uma pessoa contempla uma paisagemnatural. A floresta urbana também desempenha importante papel do ponto de vista estético erecreativo, como que emoldurando ruas e avenidas, contribuindo para a redução do efeitomuitas vezes agressivo das construções que dominam a paisagem urbana.

As árvores, assim como os jardins e as edificações de uma cidade, contam a suahistória. Como os monumentos, também as árvores têm significado simbólico para os moradoresde uma cidade, podendo estar associadas a fatos históricos marcantes. Em Campinas, porexemplo, o edifício que abriga a administração pública chama-se Palácio dos Jequitibás, devidoàs árvores que existem no local.

Levando em conta todos os variados aspectos positivos e benefícios que a florestaurbana oferece, deveríamos considerá-la tão importante para a saúde pública quanto a ofertade água tratada, a construção das redes de canalização e das estações de tratamento deágua e esgoto, bem como as medidas de controle da poluição, dentre outros aspectos.Outra questão que deve ser considerada quando pensamos na floresta urbana é o alto graude desmatamento da maioria dos municípios do Estado de São Paulo. Em Campinas, porexemplo, o que sobrou da vegetação nativa, na forma de pequenos e isolados fragmentos,não chega a 3% do território. Nesses espaços reduzidos, as espécies nativas estão em riscode extinção, tanto as plantas como os animais. Vários remanescentes dessa vegetação estãoem bosques urbanos, isolados no meio do asfalto e das construções e, na maioria dos casos,cercados por alambrados (por uma questão de segurança pública). Neste sentido, a florestaurbana pode contribuir para a conservação das espécies nativas. O uso de espécies nativasna arborização urbana permite que os moradores da cidade conheçam parte da vegetaçãonativa da sua região, ou do País, valorizando seus recursos naturais. No Estado de São Paulo,por exemplo, estima-se que existam aproximadamente 2 mil espécies diferentes de árvores,mas somente algumas são utilizadas na arborização das cidades. As árvores atraem e fornecemalimento para muitas espécies de animais, como insetos, pássaros e morcegos. A arborizaçãourbana planejada, utilizando diferentes espécies nativas, ajuda a conservar também pelo menosparte da fauna nativa da região.

Políticas públicas que levem em conta a qualidade de vida da população devemconsiderar tanto a participação da comunidade na discussão de alternativas para as questõesambientais como medidas efetivas de implantação e proteção da floresta urbana. No campoda política ambiental, a questão da necessidade de maior sinergia entre a comunidade científicae o público dito “leigo”, visando ao fomento da chamada “ciência cidadã”, é tema recorrente dediscussões, tanto na esfera internacional quanto nos processos de discussão e de implantaçãode marcos regulatórios locais. É necessário aumentar a participação pública para frear a

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deterioração do ambiente no mundo e para retardar o crescimento global da pobreza. Nessesentido, maior transparência e responsabilidade podem levar ao manejo mais justo e maisefetivo dos recursos naturais. Os governos devem aumentar a participação das comunidadeslocais nas decisões que afetam o ambiente e integrar os impactos ambientais nos cálculos dasdecisões econômicas.

E a sociedade civil deve, por outro lado, conquistar seus espaços de participação,discussão, deliberação e fiscalização das políticas ambientais. Em vários países, como os daEuropa Ocidental, Canadá, Nova Zelândia, Índia, México, entre outros, procedimentosparticipativos já fazem parte do processo de construção de políticas ambientais. Por exemplo, aparticipação nos Conselhos de Meio Ambiente, nos variados níveis, municipal, estadual ou federal,pode influenciar e tem influenciado e direcionado a discussão e a implantação de políticaspúblicas ambientalmente mais justas.

Em termos práticos, para a melhoria da qualidade de vida e do ambiente urbano, algumasmedidas podem ser adotadas, e algumas já foram adotadas em municípios brasileiros, como acriação de incentivos fiscais, como a taxação do IPTU proporcional à área do terreno que estáimpermeabilizada. A maioria das cidades não tem equipes técnicas estruturadas, comprofissionais concursados, que tenham a responsabilidade de propor áreas prioritárias para arecuperação das matas ciliares e de nascentes, e planos de manejo para os remanescentes devegetação nativa, com especial atenção para aqueles que se encontram nos bosques urbanos.

Estas equipes também devem organizar os viveiros municipais para a produção de mudasnativas; o planejamento e a manutenção adequados da arborização urbana, considerando aimportância da conservação das espécies nativas e dos remanescentes de vegetação; odesenvolvimento de programas de educação ambiental que valorizem a vegetação e a faunanativas, dentre outras atribuições. Mas somente se a sociedade civil estiver organizada emobilizada será possível cumprir a legislação que já existe, nos diferentes níveis administrativos;criar novas normas de proteção do ambiente, quando necessário, e fiscalizar a ação do poderpúblico e dos interesses privados.

Relatos de experiênciaExperimentAÇÕES AmbientaisErmelinda Moutinho Pataca

De forma complementar às reflexões do fórum, imaginamos um espaço aberto aos relatosde experiências. Inovamos na experimentação quando pretendemos dar voz e vez àqueles querealizam atividades em educação ambiental, num espaço de socialização, divulgação e trocade experiências. E, para expressarmos os objetivos do novo eixo do Este mundo é meu!, nadamelhor do que os relatos das idealizadoras, registrados nas mensagens eletrônicas no momentode criação. Na tentativa de ampliar a atuação do público, já presente nas seis edições anteriores,Lizette pretendia que as escolas participassem mais ativamente:

“Bem, quando pensei em dar oportunidade às escolas, foi na intenção de elas estarem

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mais presentes no evento, e não só como espectadoras... escolas também trabalham commeio ambiente, e nada mais pertinente do que elas estarem inseridas, principalmente aquelasque ninguém dá nada por elas, sem nenhum apoio, de bairro difícil, e é justamente ali queexiste um trabalho inteligente, de pessoas conscientes e esforçadas”.

Inicialmente, este espaço estava sendo idealizado para a participação mais ativa dasescolas a partir de relatos coletivos de grupos articulados em projetos de educação ambientalrealizados em parceria com outras instituições. Pensando dessa forma, os relatos também sãocoletivos, com a apresentação de diversos representantes dos projetos, como professores,alunos, membros das comunidades, pesquisadores, educadores.

“Estamos propondo coisas novas, diferentes do que costuma se fazer em outrosencontros. O que nós queremos: sair do senso comum. As escolas, até onde eu sei, nãocostumam ser chamadas a dar depoimentos ou relatos de experiência... Pensei que se poderiadar o nome de Experimentações escolares e o meio ambiente - relato de experiência.”

A proposta foi amadurecida e ampliada. Não é somente nas escolas que sãodesenvolvidos projetos de Educação Ambiental, mas outros espaços também experimentamnovas ações com o meio ambiente. Dessaforma, esse fórum de relatos foi ampliadopara a participação de ONGs, centros depesquisa, espaços culturais, bibliotecas,universidades.Assim, as Experimentaçõesescolares se transformaram emExperimentAÇÕES Ambientais, como umespaço para relatos de experiência,apresentação de práticas culturais eeducacionais.Na primeira sessão serão apresentadostrês projetos de educação ambientaldesenvolvidos em ambientes escolares.Priorizamos dois projetos de formação deprofessores que desenvolvemsimultaneamente o ensino e a pesquisa em ambientes escolares. Será apresentado o ProjetoAnhumas na Escola, desenvolvido em Campinas sob coordenação do professor doutor MaurícioCompiani, e o projeto de Educação Ambiental em áreas rurais, com coordenação da professoradoutora Nídia Pontuschka. Ambos têm muito em comum: são desenvolvidos numa associaçãoentre escolas públicas e universidades, a partir da pesquisa colaborativa, em que os professoresassumem a pesquisa, e de reflexão de sua própria prática pedagógica. Além desses projetosque podem ser mais bem conhecidos nos textos aqui apresentados, durante o evento aindaserão apresentados os projetos de Educação Ambiental desenvolvidos na Escola Municipal deEnsino Fundamental Desembargador Amorim Lima.

Na segunda sessão o foco é concedido à atuação de ONGs associadas a centros depesquisa na execução de projetos de Educação Ambiental. O Instituto Socioambiental (ISA) iráapresentar o Programa Mananciais, que tem produzido informações e materiais para subsidiar

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reflexões e ações sobre o consumo da água e a conservação dos recursos hídricos. Alémdeste, será ainda apresentado o Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS), numa associação entre Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo,Instituto Florestal, Associação Holística de Participação Comunitária e Ecológica – Núcleo daTerra e coordenações locais. Este é um programa de formação integral e ecoprofissional deadolescentes entre 15 e 21 anos, da rede pública de ensino, em situação de vulnerabilidadesocial, moradores de zonas periurbanas do cinturão verde de São Paulo.

Na terceira mesa serão apresentados projetos de educação ambiental desenvolvidosem Universidades. Teremos a presença de representantes da Secretaria do Verde e do MeioAmbiente da cidade de São Paulo, que falarão sobre o projeto de criação da Universidade doMeio Ambiente e da Paz, a UMAPAZ. Nessa mesma sessão será apresentado o Programa USPRecicla, desenvolvido nas unidades da USP na capital e no interior com o objetivo de fomentarposturas participativas e reflexivas de diferentes atores em relação ao consumo responsável eà problemática ambiental.

Por último, pretendemos refletir sobre o papel dos organismos culturais em projetosambientais. Serão apresentados projetos desenvolvidos no CEU Feitiço da Vila e na BibliotecaTemática de Meio Ambiente, Raul Bopp.

Esperamos que este módulo de atividades seja repleto de experiências e ações queenriqueçam o debate ambiental, na busca de ações coletivas e colaborativas nos diversossetores da sociedade!

Projeto Rio das Anhumas nas escolasMaurício Compiani (coord.) - Instituto de Geociências da Universidade Estadual deCampinas (IG-UNICAMP)

“Poucos sabem qual é o rio da minha aldeia, para onde ele vai e donde ele vem”, cantaFernando Pessoa quando expressa seu amor pelo rio de sua aldeia, para ele, mais importantedo que o grande rio Tejo, o maior rio português. Nas nossas escolas, a situação é oposta. Elastratam das grandes bacias brasileiras, mas ignoram as bacias nas quais estão inseridas. Poucosconhecem os rios e as bacias invadidos pelas nossas cidades. Se nós estamos em baciashidrográficas, nosso olhar está distante delas. Os rios das nossas vizinhanças, transformadosem lugares de lixo e esgoto, em geral, só voltam a fazer parte de nossas vidas quando elesviram manchete de um jornal que noticia mais uma enchente ou mais um problema de saúdepública.

Como trazer para as escolas e comunidades os rios de suas “aldeias”? Esta é a tentativado projeto Conhecimentos escolares relacionados à ciência, à sociedade e ao ambiente emmicrobacia urbana, do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG/Unicamp), do Instituto de Biologia (IB/Unicamp), da Faculdade de Educação da Universidadede São Paulo (FE/USP) e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), com o apoio financeirodo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), até 2010, e com o patrocínio da PetrobrasAmbiental, até 2009. Um dos objetivos do projeto é construir currículos locais com a plena

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participação dos professores.O rio da nossa “aldeia” é o ribeirão das Anhumas, que corta a cidade de Campinas,

passando por áreas já ocupadas e áreas em processo de expansão urbana, bastante degradadoem vários trechos e sujeito a ocupações, a inundações, ao assoreamento. A bacia do Rio dasAnhumas foi anteriormente objeto de um projeto de políticas públicas – Recuperação ambiental,participação e poder público: uma experiência em Campinas – realizado pelo InstitutoAgronômico de Campinas (IAC), Instituto de Geociências da Unicamp e Prefeitura Municipalde Campinas. Esta pesquisa reuniu uma grande quantidade de dados e análises, incluindomeio físico, meio biológico, meio social e os riscos ambientais. O desafio é transformar osdados desse projeto científico em conhecimento escolarizado por meio de uma parceria entreas escolas estaduais Professora Ana Rita Godinho Pousa e Adalberto Nascimento, asinstituições de pesquisa envolvidas no projeto anterior e os especialistas em ensino de ciênciasdo Instituto de Geociências. A novidade é vinte professores da rede pública e 15 pesquisadores,em um real processo de troca e colaboração, no qual os professores serão os produtoresdeste conhecimento escolar, não meros aplicadores de conhecimentos previamenteselecionados e formatados por especialistas, como reza a tradição.

Como chegar lá? Como construir currículos locais?

Os professores estão passando por um processo de formação continuada na tentativade promover uma visão crítica e reflexiva sobre as questões socioambientais, que resultemem ações e intervenções na busca de uma melhor qualidade de vida das comunidades afetadas.

A escola, com seu coletivo de professores de diferentes áreas do conhecimento, temum papel preponderante e indispensável na transformação das relações homem/ambiente.Os pesquisadores estão num processo de aprendizagem com vistas a constituir uma culturade colaboração entre universidade, rede pública e partes da administração direta pública.Foramhoras e mais horas de trabalho das equipes em 2007. Cento e noventa seis horas de oficinas,chamadas de disciplinares, que trataram de temas como geologia, pedologia, botânica, zoologia,cartografia e riscos ambientais da bacia do ribeirão das Anhumas, ministradas por dezoitopesquisadores. Mais sessenta horas de oficinas temáticas que trataram de educação ambiental (EA), relação conhecimentos locais e regionais (local/regional),interdisciplinaridade e ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA).

O ano anterior visou-se introduzir, conhecer e preparar os projetos pedagógicos paraaplicação nesse ano de 2008 sobre a microbacia do ribeirão das Anhumas, buscando o usoracional dos recursos hídricos.

Esses projetos pedagógicos da escola, de grupo de professores e de cada professorde caráter interdisciplinar estão sendo aplicados em turmas do ensino fundamental e médio.Associado aos projetos pedagógicos aplicados em cada sala de aula está sendo elaboradoum projeto de pesquisa individual de uma situação de ensino-aprendizagem, mas articulado aum projeto de um grupo maior de professores e orientado pelos parceiros da universidade.

Outra perspectiva diferenciadora do projeto é a ideia de que coletivos de professoressão uma forma de trabalho importante no contexto escolar. O trabalho é elaborado, discutidoe avaliado pelos grupos de pesquisa de professores das escolas e pelos pesquisadores,quinzenalmente, pelo conjunto de grupos de pesquisa de cada escola semanalmente e pela

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foto 1 - Produção de maquetes nas oficinas paraprofessores da escolas Adalberto Nascimento e AnaRita

equipe toda do projeto, em encontros duas vezes ao ano.Numa terceira fase, as escolas pretendem estreitar a relação escola/comunidade,

elaborando, por exemplo, a Agenda 21 da bacia do ribeirão das Anhumas, entre outras atividades.

Estudos do Meio e o conhecimento ao ar livreNo segundo semestre de 2007, alunos da Escola Estadual Adalberto Nascimento tinham

ouvido a respeito das péssimas condições ambientais do ribeirão das Anhumas. Duas alunasentre esses estudantes estiveram em dezembro de 2007 no seminário de final de ano do projetodando o seu depoimento sobre o estudo do meio realizado depois dessa aula. Elas disseramque, embora tivessem ouvido em sala de aula sobre a degradação do ribeirão, somente noestudo do meio realizado no ribeirão das Pedras, afluente do Anhumas, puderam realmenteperceber a gravidade da situação. “O asfalto está apenas a 2 metros da nascente... e o parquelinear do ribeirão das Pedras está abandonado. A situação é muito pior do que aquela queimaginamos quando assistimos às aulas. Estou muito impressionada com o que vi e hoje émuito mais importante lutar pela recuperação do rio.”

Esse despertar de um novo entusiasmo para aprender e para participar já eraumas das justificativas apontadas pelo projeto para a realização de estudos do meio

Vários alunos moram às margens dos rios e muitas vezes eles estavam em sala de aula,enquanto suas casas eram invadidas pelas águas nos episódios de cheia. Todos que por lápassam ou lá vivem são incomodados pelo mau cheiro que exalam. Estudos do meio remetemà localidade e ao cotidiano das pessoas, aproximam as escolas de suas comunidades.

Os depoimentos relacionados ao primeiro estudo do meio dos alunos já foi reflexo diretoda experiência vivenciada pelos professores das escolas da rede pública nas oficinasdisciplinares. Todas as oficinas disciplinares, geologia, pedologia, risco ambiental, botânica ezoologia, realizaram estudos do meio. Professores e pesquisadores de todas as áreas estiveram48 horas conhecendo, sob vários enfoques, a bacia do ribeirão das Anhumas. Este ano asescolas já realizaram sete estudos do meio. Mais do que um local de atividade e de conhecimentoespecializado, essa experiência é uma oportunidade de trocas, com a valorização da escolaenquanto produtora de conhecimentos socialmente válidos.

Os estudos também permitem contato diretocom a natureza e os seus processos e possibilitam aintegração entre os saberes prévios e as observaçõese os dados obtidos no local. A compreensão do lugaré essencial para a construção da prática dasustentabilidade e da educação ambiental na bacia eos estudos do meio, essenciais para elaboração deitinerários curriculares que adotem a investigaçãosobre o local como eixo da dinâmica curricular

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Educação Ambiental em municípios rurais paulistasNídia Nacib Pontuschka

Representações sociais estudadas do ponto de vista da Psicologia Social direcionaramesta pesquisa no sentido de que as representações conscientes ou inconscientes, intelectuaisou reais orientam a vida dos indivíduos. As representações sociais constituem fenômenosatuantes na sociedade, produzidos pelos indivíduos e sempre revelam a marca do meio a quepertencem. Diante dessas preocupações teóricas, houve a concentração de esforços noconhecimento e na compreensão da origem das representações sociais sobre as questõesambientais. Os contatos iniciais com os professores das escolas revelaram que asrepresentações sobre o meio ambiente e a educação ambiental eram diferentes e até mesmoconflitantes.

Uma questão se colocava: como fazer emergir as representações sociais sobre oambiente pertencentes aos diferentes grupos organizados das sociedades locais?

A pesquisa apoiou-se no conhecimento das representações sociais sobre o ambiente ea educação ambiental desenvolvidas nas escolas; na qualidade de vida das populações locais;nos vínculos existentes entre os temas abordados na sala de aula e a realidade dos municípiosrurais; e nas ações interdisciplinares realizadas com os sujeitos sociais envolvidos.

O objetivo maior da equipe de pesquisadores era que o Projeto contribuísse para aqualificação das pessoas do ponto de vista ambiental com o comprometimento individual ecoletivo, para com a vida saudável dos municípios.

O diagnóstico das condições ambientais, a análise dos impactos ambientais detectadospelos diferentes usos dos solos e sistemas de cultivo, o desvendar dos processos responsáveispelo desmatamento generalizado; a análise da qualidade da água e a formação de“boçorocas”16 , a avaliação das condições de moradia, trabalho, educação e saúde das famíliasdos moradores realmente propiciaram um acúmulo de experiências e de conhecimentos que,aos poucos, foram penetrando nas escolas.

Na Educação, a prioridade da pesquisa colocava-se no sentido de fortalecer a relaçãoda Faculdade de Educação da USP com as escolas do Ensino Básico dessas localidades, poiso conhecimento das representações sociais dos professores e da coordenação permitiria areflexão dos pesquisadores e dos sujeitos sociais presentes nas escolas.Professores e alunos da Faculdade de Educação e da ESALQ da Universidade de São Paulotrabalharam com as escolas de Vera Cruz no planejamento do ano letivo em cursos direcionadosao ensino da Matemática; com oficinas de fotografias; com Estudos do Meio, visando a umconhecimento abrangente da cidade, promovendo relação entre a escola e as disciplinasescolares.

Os professores, individualmente, aproveitaram os cursos, as reuniões e o trabalho decampo, nesses momentos de encontro e de troca bastante significativos. No entanto, apenasuma das escolas – a Gonçalves Dias17 – mostrou ter absorvido as discussões e integrado asmetodologias e técnicas ao currículo escolar e, até mesmo, ido além das expectativas emrelação às atividades pedagógicas, recriando-as e (re)significando-as.

Ao se iniciar o Projeto de Educação Ambiental em Espírito Santo do Turvo, em1999, apopulação do município era pouco maior de 3 mil habitantes, sem contar a população flutuanteque vivia em precárias condições de moradia, durante a safra da cana-de-açúcar. Contavam-

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se 1200 alunos inscritos na EEPSG Dom Pedro de Alcântara, mas a evasão acontecia nodecorrer do ano, por variados motivos: os alunos trabalhadores precisavam ajudar seus paisnos pequenos sítios ou trabalhar nas safras de cana-de-açúcar da usina produtora de álcool18 ,ou de laranja, na Empresa Guacho19 .

Os professores, na safra da cana, preocupavam-se porque os alunos abandonavam aescola para ganhar algum dinheiro durante os seis meses de atividade na agroindústria. Outroaspecto constatado foi a falta de professores de determinadas disciplinas por longos períodos,o que desestimulava os alunos a frequentarem a escola estadual.

A educação ambiental realizada na Escola Estadual restringia-se a estudos pontuaisnas disciplinas de Ciências, Biologia e Geografia. Não fazia parte do Projeto Pedagógico apreocupação das várias disciplinas com a questão ambiental e a educação ambiental. A hortaescolar era cultivada para melhorar a refeição oferecida aos alunos, mas não havia reflexãodurante as aulas a respeito da importância da variedade na dieta alimentar. Hábitos de higieneeram estudados de forma mecânica, sem modificar comportamentos. Havia a “festa do verde”,com a participação dos professores, alunos e pais, mas, ao terminar o evento, os conteúdostratados em sala de aula não se vinculavam ao movimento que existira na escola.Professores e estudantes desta escola estavam integrados ao Projeto de Educação Ambiental.

Desse modo, houve um recomeço no sentido de estabelecer novos vínculos com asescolas. O trabalho se solidificou em 2000, com a participação dos pesquisadores noplanejamento em que se fez uma investigação conjunta com os professores, tendo como objetivoso conhecimento da realidade dos alunos das escolas; dos diferentes grupos comunitáriosexistentes na cidade em consonância com a pesquisa e as ações do Projeto. Foram planejadose concretizados Estudos do Meio, entendidos como método interdisciplinar de ensino e pesquisacom os professores e coordenadores pedagógicos.

No retorno do trabalho de campo, foram realizadas discussões sobre a metodologia dapesquisa de campo e como as informações poderiam ser incorporadas ao Currículo Escolar.Na reflexão junto aos alunos, muitos problemas vieram à baila. Por exemplo, as condições doJardim Canaã, conjunto habitacional de casas populares, onde morava grande número de alunos.Ali havia problemas de locomoção para os moradores, sobretudo nos dias de chuva. As ruasprincipais de acesso à área central da cidade foram construídas de acordo com a declividade doterreno, sem calçamento os processos erosivos tornavam essas vias quase intransitáveis. Essascondições foram o cerne da formação da Sociedade de Moradores para pensar os problemasda cidade e do bairro.

Um outro aspecto importante foi a pobreza da população. A entrevista com os artesãose a Associação de Mulheres resgatou, parcialmente, a história do município em relação àscondições de sobrevivência e de trabalho da população, mostrando a necessidade defortalecimento e de criação de novos grupos organizados da sociedade local, já que aagroindústria produtora de álcool sofria oscilações em seu funcionamento, tanto na entressafracomo nas mudanças de proprietários, o que ocasionava o desemprego e a não-garantia dosdireitos dos trabalhadores rurais.

A Escola Técnica Agrícola Estadual de Vera Cruz “abriu as portas” para os pesquisadoresda USP e do Instituto Agronômico de Campinas e foi importante espaço para a pesquisa deuma microbacia próxima. Houve a produção de conhecimentos fundamentais para a aplicação

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nos cursos e na própria agricultura, com o alvo de preservar e conservar as condições ecológicas.Observamos que os professores do interior de São Paulo enfrentam problemas

semelhantes aos colegas das grandes cidades, pois trabalham em mais de uma escola paracompor seu salário e, por vezes, em mais de um município. É o conjunto desses trabalhos quelhes permite viver dignamente, mas com grande desgaste físico e mental, o que se mostracomo um obstáculo a atividades pedagógicas interdisciplinares. O trabalho com asrepresentações ambientais foi feito durante o planejamento, em 2000, pois a temáticainteressava à escola e à formação dos professores pois, de acordo com a Constituição Brasileirade 1989, a Educação Ambiental deve ser incluída em todos os níveis de ensino. No entanto,isso está apenas no papel, situação a ser revertida com urgência.

Na E.E. de Espírito Santo do Turvo dois problemas foram destaque porque interferiamprofundamente no trabalho pedagógico: a rotatividade do corpo docente e a origem da maioriados professores moradores em outro município. Esses dois fatores fizeram com que oconhecimento dos vários aspectos da realidade local não sofresse um aprofundamento naEscola e que houvesse um contínuo recomeçar.

A pesquisa começou, gradativamente, a apresentar resultados, ainda que parciais, deseus trabalhos e a Faculdade de Educação da USP continuou a realizar reuniões com osgrupos organizados de Espírito Santo do Turvo – grupos de mulheres, artesãos, idosos, jovens,com representantes das secretarias do governo municipal – para ouvi-los e conjuntamenteencontrar soluções para os problemas gerais e, especificamente, os ambientais.

O curso As relações Interpessoais como alavancas para o desenvolvimento pessoal eatuação socioambiental foi realizado para representantes dos grupos organizados da cidade,com base no psicodrama pedagógico. Esse curso foi considerado um sucesso pelosparticipantes de Espírito Santo do Turvo. O prefeito solicitou que se fizesse o mesmo trabalhocom os coordenadores das secretarias municipais, com o objetivo de maior integração entreos agentes do governo e a melhoria da qualidade da prestação de serviços.

Durante esses cursos, tanto com os grupos organizados da sociedade local como comos funcionários do staff da prefeitura, emergiram concepções sobre o meio ambiente, foramdetectados problemas e levantadas propostas de solução. A participação dos secretáriosestreitou as relações com o Projeto de Educação Ambiental e evidenciou a importância dapesquisa da Universidade, na mobilização dos grupos comunitários e na reflexão conjuntasobre a cidade.

Das representações sociais que afloraram, dos desenhos realizados sobre a cidadeatual e do futuro surgiu o plano diretor da cidade, incorporado no projeto de governo.À medida que o trabalho se desenvolvia, as representações sociais sobre o meio ambienteemergiam, as discussões apararam arestas e as soluções apareceram. De início, mexia-secom a periferia das representações, mas, gradativamente, elas foram sendo mudadas e, houveenriquecimento nas representações traduzidas em ações participativas, revelando mudançasqualitativas tanto nos indivíduos como no coletivo.

O Grupo de Mulheres participou de trabalhos conjuntos com as escolas e algumasmães acompanharam os filhos em trabalhos de campo organizados pela escola municipal.Houve a participação das escolas no mutirão de limpeza da cidade e dos quintais; na limpezada escola; no plantio de árvores à beira do córrego da cidade. Todo esse trabalho começoudevagar e aos poucos foi se consolidando.

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O Projeto da Escola Municipal na Empresa Guacho, com várias visitas de alunos, mãese professoras com as crianças de 1ª à 4ª série, destacou-se pois, ao abraçar o Estudo do Meio,o fez por iniciativa própria. É preciso lembrar que muitos pais trabalhavam nessa empresacomo colhedores de laranja.

Todas as classes da escola, em agenda combinada entre a Direção e a empresa,participaram das atividades do Estudo e discutiram sobre as observações e os registros feitos.No retorno, houve o levantamento das percepções e sensações individuais e coletivas,apresentação das informações, análise dos dados com as classes e avaliação dos resultados.Com os dados obtidos no trabalho de campo, cada classe, de acordo com a série, realizouatividades sobre o que observaram e registraram, produzindo desenhos, poesias e redações,consolidando assim o ato de ler, escrever, criar, conviver entre diferentes e valorizar o trabalhode seus pais.

Alguns resultados - A divulgação e a reflexão sobre o Projeto, no âmbito da Universidade, noque se refere à Educação, foram realizadas nos estágios supervisionados dos alunos daslicenciaturas e da pós-graduação e o livro Pesquisa Ambiental foi publicado com textos produzidosa partir das atividades do projeto.

Os levantamentos biofísicos e sua produção gráfica e cartográfica foram completados.Hoje, os municípios contam com o material que pode ser utilizado como recursos didáticos ecomo material para futuras pesquisas; a análise da qualidade da água em pontos diferentes,nas quatro estações do ano, do córrego Rangel; acompanhados por trabalhos do poder públicomunicipal; os trabalhos pedagógicos sobre as questões ambientais se ampliaram e orelacionamento entre as escolas melhorou.

As demandas locais aproximaram os pesquisadores e os diversos segmentos daspopulações para um pensar integrado e desse modo, mudaram os professores da Universidadee das escolas, mudaram os grupos comunitários na direção de uma educação mais democráticae mais saudável ambientalmente. No entanto, muito ainda deve ser feito na vida socioambientalda cidade.

E.M.E.F. Desembargador Amorim LimaVIGILANTES DA NATUREZA

A história da Educação Ambiental em nossa escola começou em 1998 quando criamosum grupo de alunos de 5ª à 8ª série, chamados VIGILANTES DA NATUREZA, que se reuniasemanalmente para discutir e atuar em benefício do Meio Ambiente.

O trabalho de sensibilização era meta fundamental em nossos encontros. Para estimularo grupo, fazíamos lanches naturais, como, por exemplo, pão de cenoura, hambúrguer deabobrinha, suco de couve, erva cidreira, beterraba, etc.

Procurávamos fazer entender a importância de cuidar do meio ambiente, que começano seu interior, no seu corpo e onde vive (casa, rua, bairro, cidade, escola).

Mostrávamos sempre que, por meio de pequenas ações no dia-a-dia, garantíamos vida

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saudável e praticávamos o exercício de cidadania.Várias ações são desenvolvidas por intermédio de oficinas de artes, vídeo, horta,

jardinagem, reciclagem, mosaico, tecelagem, pintura, etc.Produzimos viveiros, composteiras, murais, fôlderes e jornais; produzimos papel

artesanal, música, rap, concurso de redação com premiação e muita lição.Estudamos vários textos sobre a história do lixo em São Paulo e entendemos e/ou

aprendemos que o lixo deve ser reciclado e gerenciado, principalmente em se tratando dacidade de São Paulo, onde se produzem 18 mil toneladas/dia de lixo.

O grupo Vigilantes da Natureza tem a responsabilidade ambiental de cuidar das caixasde reciclagem das salas de aula, regar as plantas, cuidar da horta, vistoriar as torneiras, produzircartazes, enfocando atitudes ecologicamente corretas. Enfim, cuidar da escola.

Equipe Responsável pelo Projeto:Adelina de Barros Carneiro, Regina Moretti, Fernanda Moretti Ferrari e Elen CristinaFahtEndereço:R. Professor Vicente Peixoto, nº 50, Vila Indiana – Butantã – São Paulo – SPSite: www.amorimlima.org.brEmail: [email protected]

Contexto da água – Do planeta aos nossos mananciaisCesar PegoraroBiólogo e educador da Campanha de Olho nos Mananciaisdo Instituto Socioambiental (ISA)

No Mundo, a água passou a ser um dos temas mais abordados e um dos recursosnaturais mais disputados. Popularizaram-se as discussões sobre seus limites, seus usos, custospara seu tratamento e distribuição, sobre sua contaminação e as suas consequências para asaúde e para a economia. O fato é tão notório que atualmente 1/5 da população humanaenfrenta desafios severos na obtenção de água, mais da metade da humanidade não temsaneamento básico adequado e quase um terço das mortes no Planeta está relacionado coma sua indisponibilidade ou contaminação. As projeções não têm sido muito animadoras, masvamos ver o que o tempo e a sensibilidade da humanidade irão conseguir. Mesmo a águasendo o recurso fundamental à vida, temos tido sérias dificuldades em usar comresponsabilidade esse recurso e mantê-lo com qualidade e em quantidade ao longo da história.

Alguns dados a mais para a reflexão: a humanidade ainda apresenta um contínuocrescimento populacional, vem ocorrendo o aumento da longevidade de nossos semelhantese estamos ampliando nossas atividades industriais e agrícolas. Ou seja, necessitaremos demuito mais água para suprir as demandas ligadas a todas estas questões.

Apesar de o Brasil ser o maior detentor de água doce do mundo, tendo cerca de 13%das reservas globais, isto não nos deixa numa situação confortável. O recurso é mal distribuídopelo território nacional e cerca de 70% de toda a nossa água está na bacia hidrográfica do rio

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Amazonas, onde vivem cerca de 5% dos brasileiros. A região metropolitana de São Paulo (RMSP)apresenta uma situação completamente inversa. Este é um País de contrastes. Para quemacredita que apenas no Semiárido nordestino há desafios para a população obter água paraseus afazeres e dessedentação, a situação vivida em várias cidades da região Sudeste, como,por exemplo, a cidade de São Paulo, não é mais tranquila que a vivida lá. Temos uma séria crisede disponibilidade de água e as condições para garantir o abastecimento hídrico estãocomprometidas.

Para suprir a demanda dos quase 20 milhões de habitantes da metrópole de São Paulo,região formada por 39 municípios, incluindo a capital, são produzidos 66 mil litros de água porsegundo.

Tal volume seria suficiente para encher 2281 piscinas olímpicas num único dia. Mesmocom esses números impressionantes, a região apresenta uma disponibilidade relativa de águapor habitante considerada muito baixa. Algo em torno de 200m³/hab/ano20 , que, de acordocom padrões definidos pela ONU, é considerada uma oferta crítica. Para agravar a situação, osmananciais que abastecem a região estão no limite máximo de sua capacidade de produçãohídrica. Além disso, o saneamento básico precário nestas regiões, aliado ao crescimentopopulacional, vem contribuindo para a crescente contaminação da água, contrariando assim asleis de proteção aos mananciais e a vocação da área como produtora de água com qualidadee quantidade suficientes para o abastecimento público.

As bacias hidrográficas da Guarapiranga e da Billings têm juntas, hoje, mais de 2 milhõesde habitantes, a maioria com condições inapropriadas de coleta e tratamento de esgoto edisposição dos resíduos sólidos. A contaminação proveniente desta situação encarece otratamento e, em alguns casos, chega a inviabilizar o uso dessas fontes de água. Esse cenáriose agrava se acrescentarmos o fato de que a Capital perde na rede de distribuição mais de 30%da água que é produzida, segundo estudo do Instituto Socioambiental (ISA) sobre oabastecimento nas capitais brasileiras.

Se compararmos os mananciais com a caixa d’água de nossas casas, veremos como éimportante ter esse reservatório em boas condições. Nessa região produtora de água há algumasquestões que devem ser encaradas como urgentes. Entre elas estão o controle da ocupaçãourbana, evitando assim novos assentamentos ou crescimento dos bairros já instalados ali. Proveressa região de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, evitando assim a contaminação dosreservatórios. Recuperar áreas degradadas ou abandonadas, pois a vegetação desempenhaum papel fundamental na produção de água, proteção das áreas próximas aos rios e de melhoriadas condições ambientais. Estimular usos de lazer e ecoturismo na região, pois são atividadesque dependem de preservação ambiental, além de estimular a formação de mão-de-obra localpara a realização dessas atividades.

Uma das maneiras mais interessantes e eficientes de modificarmos esses cenários épor meio da educação e do envolvimento dos cidadãos com essas questões. Problemas coletivossomente serão sanados na coletividade, para isso é fundamental a proposição de espaços dediálogo e a disponibilização de informações e ferramentas para a organização comunitária. Assoluções locais e a participação popular são a base da solução dos desafios globais, portanto,é na comunidade e no cidadão que devemos focar nossos esforços de educação, sensibilizaçãoe organização. A partir do momento em que todos os seres humanos têm o planeta como sua

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casa coletiva, a humanidade terá que se envolver com a solução dos desafios enfrentados,buscando novas formas de utilizar os recursos sem comprometer as condições de vida, hoje eno futuro.

O Instituto Socioambiental (ISA), por meio do Programa Mananciais, tem feito o esforço,principalmente na metrópole de São Paulo, de produzir informações e materiais para subsidiarreflexões e ações sobre o tema. A comunicação com as pessoas dos mais diversos segmentospara difundir tais informações e a mobilização de todos os cidadãos para uma reflexão coletivados nossos papéis tornou-se uma premissa.

O ISA realizou uma série de diagnósticos participativos nas bacias hidrográficas daGuarapiranga, da Bilings e do Sistema Cantareira. Juntos estes três mananciais respondempelo abastecimento de cerca de 70% da população metropolitana. Os diagnósticos agregamum conjunto de informações técnicas relacionadas à interpretação de imagens de satélites,tendo como resultado mapas e análises que traçam um panorama da situação dessas regiõesprodutoras de águas, seus desafios e perspectivas. Esses estudos, por sua vez, são utilizadoscomo subsídios para uma série de atividades. O ISA atua no acompanhamento e proposiçãode políticas públicas relativas aos mananciais, englobando aí diversos setores: recursos hídricos,meio ambiente, saneamento, habitação, planejamento, entre outros. Para a proposição deações, realiza processos participativos com o objetivo de construir uma agenda comum entreos diversos atores inseridos na gestão dos mananciais, agenda esta que traz responsabilidadessocioambientais compartilhadas, indicando o que se deve fazer e quem é responsável pelarealização das ações. Para contribuir com o debate de propostas em ano de eleições municipais,o ISA desenvolveu uma plataforma de ações para a recuperação e preservação dos mananciaisda RMSP. O objetivo do documento é dar publicidade às ações que precisam ser feitas parareverter a degradação e garantir a preservação dos mananciais que abastecem a RMSP.

Apenas produzir tanta informação não basta! A comunicação com os mais diversossetores da sociedade é peça fundamental nesta ação do ISA. Por isso a campanha De Olhonos Mananciais desenvolveu várias ferramentas para conversar com os usuários de água.

Entre as possibilidades de envolvimento e sensibilização das pessoas para a economiadesse recurso, há uma série de dicas voltadas para cada setor da sociedade, a fim de mostrarque qualquer um com pequenas ações pode e deve contribuir com um uso mais racional daágua. A ferramenta interativa De Onde vem a Água mostra, por meio da simples inserção doCEP da localidade, qual o manancial que abastece a região, e em que estado este se encontra.Para mobilizar e envolver os moradores de São Paulo com a questão, o ISA realizou duasgrandes ações em 2008: a terceira edição do Abraço na Guarapiranga 2008 e a ExpediçãoFotográfica De Olho nos Mananciais, que reuniram milhares de pessoas na região das represasBillings e Guarapiranga, na parte Sul da Grande São Paulo. Ao todo, cerca de 7 mil pessoascompareceram nos 3 pontos do abraço ao longo do dia e nos mais de 100 roteiros da expediçãofotográfica. O Abraço na Guarapiranga é uma grande ação que se repete anualmente, fazendoparte da agenda paulistana. E todo o acervo de imagens produzidas durante a expedição seráexposto em uma publicação e em uma exposição em 2009, além de estar disponível paravisualização na internet.

Por meio da água podemos visualizar toda a teia de relações entre os demais recursose as nossas ações. Todos têm sua responsabilidade, seu papel e suas possibilidades detransformar suas ações. Convidamos todos a fazerem parte dessa mudança de paradigmas.

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Todas estas informações estão disponíveis para consulta e uso no sítio:www.mananciais.org.br

Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social (PJ-MAIS)Coordenação: Vanessa Cordeiro de Sousa

1) INTRODUÇÃOO Programa de Jovens – Meio Ambiente e Integração Social – da Reserva da Biosfera

do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo é um programa de formação integral e ecoprofissionalde adolescentes entre 15 e 21 anos de idade, da rede pública de ensino, em situação devulnerabilidade social, moradores de zonas periurbanas do Cinturão Verde de São Paulo.

Começou em 1996, no município de São Roque, como um modelo diferenciado deeducação, que estimula o desenvolvimento de habilidades e vocações, consciência ambiental,preocupação com a conservação do meio ambiente e geração de renda.

O local de ocorrência dessas atividades são os Núcleos de Educação Ecoprofissional(NEE), por meio de quatro oficinas temáticas – Agroindústria Artesanal e Consumo, Lixo eArte, Produção e Manejo Agrícola e Florestal Sustentável e Turismo Sustentável – e a FormaçãoIntegral. O estudante, morador de zonas periurbanas, é estimulado a se profissionalizar egerar renda a partir desse mercado de trabalho, que é voltado para a área ambiental. Isto é, oadolescente que por pressão da sociedade atual se vê obrigado a sair de sua região em buscade trabalho, pode a partir do programa, vislumbrar um futuro profissional em sua localidade,adequando às vocações e habilidades pessoais com as vocações da sua região, promovendoainda a consciência e a conservação do meio ambiente.

Esse modelo sustentável e inclusivo de adolescentes serviu de vitrine para a expansãodo Programa para outros municípios. Atualmente existem 16 Núcleos de EducaçãoEcoprofissional, distribuídos em 14 municípios da RBCV, atuando em rede, estimulando odesenvolvimento sustentável dessa região do Cinturão Verde. Os núcleos são: Caieiras,Cajamar, Cotia (Caucaia do Alto e Morro Grande), Diadema, Embu-Guaçu, Francisco Morato,Guarulhos (Região do Cabuçu), Itapecerica da Serra, Paraibuna, Santo André (Vila deParanapiacaba e Parque do Pedroso), Santos (temporariamente sem atividades), São Bernardodo Campo (Riacho Grande), São Paulo (Horto Florestal/Parque Estadual da Cantareira) e SãoRoque. No ano de 2008 estão em fase de implantação os núcleos de Cubatão e Embu.

2) METODOLOGIAO Programa foi concebido como uma ação de política pública a ser executada por

diversos níveis do poder público e da sociedade. E é essa concepção justamente o que lheconfere integração interinstitucional, alta flexibilidade a diversos contextos sócio-político-ambientais, replicabilidade e sustentabilidade.O modelo do Programa é relativamente simples. É composto de uma coordenação geral, acargo da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, da “AssociaçãoHolística de Participação Comunitária e Ecológica – Núcleo da Terra” e de coordenações locaisou coordenações de núcleos.

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À coordenação geral cabe articulações institucionais para a Rede; assessoriapedagógica, operacional, mercadológica e administrativa aos núcleos; eventos de integraçãoda Rede, tais como eventos de planejamento, capacitação de professores, integração entrejovens e técnicos; captação de recursos para fortalecimento do processo; assessoria legal/institucional; divulgação em âmbito nacional e internacional da rede; compatibilização doprograma com as ações de gestão da Reserva da Biosfera; articulações regionais/estaduaispara criação de postos de trabalho, entre outros.

Às coordenações de núcleos, a cargo de atores locais, geralmente de prefeituras emparceria com sociedade e universidade, cabem a disponibilização dos professores e técnicosde apoio; espaços, articulações diversas (incluindo ampliação do leque de parcerias locais);seleção de jovens do ensino público (geralmente médio); treinamento dos estudantes e algumasiniciativas para sua inserção no ecomercado de trabalho.

O treinamento ecoprofissional tem duração de dois anos e é realizado simultaneamenteà educação do ensino médio. As atividades geralmente ocorrem entre três e cinco dias porsemana com duração média de quatro horas por dia.

No âmbito da legislação vigente, a LDB (lei de diretrizes e bases da educação), o PJ-MAIS é um programa de educação profissional de formação inicial e continuada, não formal.Entretanto, a carga horária proposta é semelhante a vários cursos de nível técnico, conformeestabelecido pelas diretrizes curriculares nacionais para a educação profissional.

Essa formação deve propiciar oportunidades de vivências e convivências, em ambienteséticos, saudáveis, seguros e solidários e propiciar também o acesso aos bens e serviçosnecessários a vida, a saúde e ao bem-estar humano, que são gerados pelos ecossistemasnaturais e pela sociedade local.

3) RESULTADOS OBTIDOSO Programa de Jovens iniciou o registro das experiências no ecomercado de

trabalho a partir do ano de 2000, contabilizando aproximadamente 895 oportunidadesproporcionadas a 410 jovens.

Esses registros foram subdivididos por meio de quatro oficinas que compõem o PJ-MAIS. Como exemplo, pode-se destacar os seguintes casos:

1) O Development Marketplace (Banco Mundial) disponibilizou recursos financeirosdurante dois anos para o Programa investir no desenvolvimento de atividades agroflorestais,a partir da produção de 22.933 mudas nativas, 7.587 produtos orgânicos e recuperação de8.53 ha de áreas degradadas. Com a geração de 233 oportunidades remuneradas para osjovens.

2) O Termo de Ajustamento de Conduta do Centro de Convenções Santa Mônicaque, por meio de um acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Guarulhos e apromotoria ambiental, contratou sete estudantes do Programa para recuperar áreas noentorno e no Parque Estadual da Cantareira – Núcleo Cabuçu.Esse é um importante caso em que a recuperação ambiental foi promovida com a inclusãodos jovens da comunidade.

3) A Neutralização de CO2, com o NEE de Embu-Guaçu, com a participação de seteestudantes, em parceria com a Prefeitura local, a Oficina de Carbono e a Coordenação daRBCV, teve uma importante experiência de neutralizar parte das emissões de CO2 de um

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evento chamado IT Service Managemente Fórum com o plantio de 250 mudas nativas noParque Estadual da Várzea de Embu-Guaçu Uma experiência pioneira no envolvimento dacomunidade na recuperação ambiental e geração de renda.‘ 4) O Pólo Ecoturístico Caminhos do Mar – que inclui a Estrada Velha de Santos,localizado no Parque Estadual da Serra do Mar, a maior unidade de conservação de mataatlântica do País –, é um importante atrativo ecoturístico no Cinturão Verde e guarda inestimávelmemória da história brasileira. As visitas são conduzidas por 18 monitores ambientais, ex-alunos do Programa de Jovens dos NEE de São Bernardo do Campo e de Santo André – Vilade Paranapiacaba, que estão no entorno desse Parque. Esses estudantes foram contratadospela Fundação de Energia e Saneamento.

Sustentabilidade e Educação na permanente construção do Programa USP Recicla

A Universidade de São Paulo, maior universidade da América Latina, é uma instituiçãopública vinculada ao Governo do Estado de São Paulo, que possui uma população estimadaem 87.000 pessoas, além de um público externo e flutuante que usufrui as áreas de pesquisa,ensino, extensão e lazer em sete Campi da universidade.

Ao longo de quase 75 anos de uma intensa busca pela excelência a USP, fundada em1934, conta com sua estrutura distribuída nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto, Piracicaba,São Carlos, Pirassununga, Bauru e Lorena, além de unidades de ensino, museus e centros depesquisa situados fora desses espaços e em alguns municípios brasileiros.

Na busca de uma formação qualificada os 229 cursos de graduação estão dedicados atodas as áreas do conhecimento, que distribuídos em 40 unidades são oferecidos a 50 milestudantes. Os 225 programas de pós-graduação oferecem 587 cursos de mestrado e doutoradoaos mais de 20 mil pesquisadores em diferentesáreas. E cerca de 5 mil docentes e mais de 16 miltécnicos administrativos que atuam na viabilizaçãodas ações de fim da universidade.

Nesse cenário encontramos associada asua missão acadêmica o desafio de desenvolverestratégias que incorporem e internalizem acomplexidade das atividades humanas ecotidianas que num contexto global colaboram,direta ou indiretamente, para o aumento de algunsdos impactos que, hoje, contribuem para acontaminação e a escassez dos recursos hídricos:o aquecimento global, a destruição da camadade ozônio, a desertificação, o desaparecimentodas florestas, a extinção de fauna e flora, na geração excessiva de resíduos, comprometendoa qualidade de vida e saúde da população, bem como implicando negativamente no sistemasocial e ambiental do Planeta.

A partir do fortalecimento do conceito de desenvolvimento sustentável em 1992, e aelaboração de uma Agenda 21 mundial, diversos princípios, diretrizes, metodologias eferramentas têm sido desenvolvidas no intuito de colaborar para a reversão desses processos

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de degradação, consumo elevado dos recursos naturais e desigualdadessociais.

É nesse contexto que surge o Programa USP Recicla, da pedagogiaà tecnologia, concebido em 1993 pela Universidade de São Paulo (USP),como uma das iniciativas comprometidas com a construção de sociedadessustentáveis. Vinculado a Agência USP de Inovação foi institucionalizadoem 1994, como um programa interno da Universidade, para atuar sob o enfoque da geraçãode resíduos sólidos no âmbito da USP buscando a construção de uma política de gestãoeducacional voltada a estimular: I) posturas participativas e reflexivas de diferentes atores emrelação ao consumo responsável e a problemática ambiental; II) gestão, informação ecomunicação constituídas em Redes e, III) ações de minimização de resíduos e conservaçãodos recursos naturais que fomente pesquisas e projetos na área da tecnologia visando amelhoria da qualidade de vida.

De caráter inovador o programa atua por meio de uma gestão compartilhada e integradade resíduos organizados em um conjunto de instâncias que decidem de forma participativa odesenvolvimento de suas ações. Implantado nos sete Campi da USP, atualmente, conta commais de 600 integrantes (docentes, alunos e funcionários), organizados em 67 comissões deunidades, participando ativamente da capilaridade da gestão de resíduos em cada campus.

Diante da complexidade da temática ambiental, o USP Recicla assumiu uma perspectivasocioambiental que se traduz na seguinte missão:

Contribuir para a construção de sociedades sustentáveis por meio de ações voltadas àredução da geração de resíduos, conservação do meio ambiente, melhoria da qualidade devida e formação de pessoas comprometidas com este ideal.O programa parte do princípio de que a sustentabilidade está imbricada à formaçãosocioambiental das pessoas e, num contexto universitário, pressupõe a formação de suacomunidade e a interiorização desses princípios em seu próprio funcionamento e práticascotidianas.

Os conceitos de Educação Ambiental e Sustentabilidade são fundamentados pelavertente denominada crítica, transformadora ou emancipatória. Busca-se, assim, o engajamentode indivíduos e coletividades em processos que questionem e transformem a lógica hegemônicado atual modelo de sociedade e construam outras interações entre indivíduos, cultura e natureza.Além da necessária consciência sobre a degradação ambiental, estimula-se o fortalecimentodas pessoas, grupos e comunidades, contextualizando suas práticas de modo a aumentaremsuas capacidades para compreender, refletir e intervir coletivamente. E assim, tornam-se sujeitospró-ativos e transformadores de sua realidade perante temas como a degradação ambiental,

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a padronização cultural, a exclusão social, a concentração de renda e de poder, a apatiapolítica e a alienação.

Na concepção do programa, no início da década de 1990, o lixo se tornou o temagerador visando promover uma reflexão mais complexa sobre sociedade, cultura e natureza.E as ações de educação e gestão de resíduos articulados pelo USP Recicla são pautadas noprincípio dos 3Rs, primando pela redução do consumo e desperdícios e estimulando areutilização e reciclagem de materiais. E neste sentido, é muito importante manter atençãopara que não ocorra uma inversão na aplicação deste princípio, na qual a reciclagem é priorizadaem detrimento da redução e da reutilização, que passam a ser meros complementos emprogramas educativos.

Desta forma, o programa de educação continuada do USP Recicla estrutura-se emtrês eixos articulados entre si: a) disponibilização e problematização de conteúdos - aumentandoas possibilidades de argumentação, a construção de saberes e o diálogo com diferentes autores,b) pedagogia da práxis - fomentando processos dialógicos, reflexivos e o protagonismo nasatividades e na produção de novos conhecimentos e c) constituição de comunidades deaprendizagem - fortalecendo grupos, fomentando ações conjuntas, espaços de locução e de

tomada de decisões.A prática cotidiana de gestão e educação do Programa oferece espaços de convivência

com pessoas de diferentes áreas, formação e origem proporcionando um ambiente rico ediverso para trocas de experiências, debates e uma atuação crítica na universidade e sociedade.

A vivência acumulada pelo Programa constitui um exercício constante de mediação deconflitos exercitados pelas diferentes instâncias, atividades e por meio de desenvolvimento deprojetos, reuniões, oficinas temáticas, elaboração e apresentação de propostas de trabalho,comunicação de ideias, análises críticas e complexas de problemáticas socioambientaispossibilitando um exercício coletivo de participação na construção dos rumos do USP Recicla.

Os reflexos dessa experiência são sentidos no cotidiano de nossas ações, como:a) Engajamento protagonista de funcionários docentes e não-docentes em comissões,

ações e projetos socioambientais da e na USP, com efeito direto na minimização de resíduose envolvimento da comunidade universitária na modificação de rotinas e condutas.

b) Aprendizagens no campo da mediação de grupos e atividades educativas para além

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de uma condução centralizada e hierárquica, onde aprender a ouvir mais o outro, estar abertoa críticas construtivas e a dialogar com diferentes saberes e visões constituem a dinâmica denossa atuação.

c) Contato com outras áreas do conhecimento numa perspectiva interdisciplinar, criando-se um espaço de construção de projetos, soluções, reflexões, compartilhamento de novasvisões, conceitos e interpretações que contribuam para uma análise da problemáticasocioambiental de forma mais complexa e que estimule a compreensão da inter-relação entrepolítica econômica, social, desenvolvimentista e ambiental possibilitando assim um aprendizadoenquanto cidadão.

e) Aprendizagens em metodologias participativas de intervenção social possibilitando aadaptação de outras vivências e dinâmicas de trabalho, criadas e re-criadas pelo conjunto deatores envolvidos com o Programa, numa intensa troca de saberes e processo inacabado deaprendizagens.

Com isso os impactos e mudanças na minimização de resíduos na Universidade deSão Paulo são refletidos diretamente na geração de lixo da comunidade universitária:

. a quantidade de lixo descartado em alguns dos campi da USP caiu em até 70% empeso, graças a ações baseadas no Princípio dos 3Rs.

. no tocante à implantação deste Princípio, percebe-se que há resultados nocomprometimento da comunidade ao lidar com seu próprio lixo. Alguns exemplos corroboramessa afirmação, como a substituição sistemática de copos descartáveis por similares duráveisem todos os restaurantes universitários dos campi do interior. No Campus da Capital esseprocesso também foi incorporado em alguns restaurantes e unidades.

. outro exemplo da prioridade da “redução” nas ações é a opção institucional de algunssetores em priorizar a impressão de monografias, dissertações e teses utilizando-se frente everso do papel. Essa norma entrou em vigor em diversas Unidades, estimuladas pela atuaçãodo programa USP Recicla.

. o programa também realiza ações/projetos voltados à reutilização de produtos queeventualmente seriam descartados: organização de feiras e de estantes de trocas de objetosusados; incentivo ao reuso de mobiliários e equipamentos institucionais nos diversos setoresdos campi, recolhimento e encaminhamento de apostilas para cursinhos pré-vestibulares, alémdo desenvolvimento de programas de coleta seletiva em todos os campi da USP, comencaminhamento de resíduos recicláveis para indústrias recicladoras.

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Bibliografia:SUDAN, Daniela C.; LIMA, Elizabeth T.; MEIRA, Ana M.; DIAZ-ROCHA, Paulo E. D. - Sustentabilidade e Educação: caminhos naUniversidade de São Paulo. Programa USP Recicla/Agência USP de Inovação, SP. I Encontro Latino Americano de UniversidadesSustentáveis, Passo Fundo, RS, 2008.MEIRA, A. M. de; ROCHA, P. E. D.; LIMA, E.L. LEME, P.C.S., SUDAN, D.C. – USP Recicla – Gestão Compartilhada e Integrada deResíduos Sólidos na Universidade de São Paulo. Programa USP Recicla/Agência USP de Inovação, SP. I Encontro Latino Americano deUniversidades Sustentáveis, Passo Fundo, RS, 2008.USP, Anuário Estatístico - 2007.SUDAN et al. Da Pá Virada – Revirando o Tema Lixo. Vivências em Educação Ambiental e Resíduos Sólidos. São Paulo. Programa USPRecicla/Agência USP de Inovação, SP. 245p., 2007.LAYRARGUES, P. P. Educação para a Gestão Ambiental. In: Sociedade e Meio Ambiente: a Educação Ambiental em debate, 2006.SUDAN, D. C.; ROSA, A. V.; LEME, P. C. S.; LIMA, E. T.; ROCHA, P. E. D.; MEIRA, A. M.; KIKUTI, C. F.; CARVALHO, M. R. ; LAURENTI,R. Integrando Estágio, Formação Acadêmica E Educação Ambiental Emancipatória: a Experiência do Programa USP RECICLA/CECAE/USP. V Ibero-americano de Educação Ambiental. Joinville – SC, 2006.CARVALHO, M.R., GUARNIERI, M.C.L, LEME, P.C.S., LIMA, E.T., MEIRA, A M., ROSA, A V., SORRENTINO, M. , SUDAN, D.C. ProgramaUSP Recicla: Como Construir Uma Gestão Compartilhada? I Congresso Mundial de Educação Ambiental, Espinho, Portugal, 2003.CARVALHO, I. C. M. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental popular e extensão rural. RevistaAgroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 43-51, abr./jun. 2001.

Oswaldo MassambaniDiretor

Diretoria Técnica de Inovações para Sustentabilidade/Programa USP ReciclaGeog. Elizabeth Teixeira Lima – Diretora TécnicaEng. Fl. Ana Maria de Meira – Educadora/Campus de PiracicabaBiol. Daniela Cassia Sudan – Educadora/Campus de Ribeirão PretoBiol. Patricia Cristina Silva Leme – Educadora/Campus de São CarlosBiol. Paulo Ernesto Diaz Rocha – Educador/Campus Capital

Av. Prof. Luciano Gualberto, Trav. “J”, nº 374, 7º andar – Prédio da Antiga Reitoria – Cidade Universitária -Butantã – São Paulo SP – CEP: [email protected] – http://www.inovacao.usp.br/usp_recicla

Atividades educacionais

Aula-espetáculo - Mitos Brasileiros e a ViolaPaulo Freire

O Brasil é pródigo em mitos: saci, caipora, mãe d’água, boi tatá, corpo-seco, além dohomem do saco, a loira do cemitério, mais recentemente o chupa-cabra e tantos outros.O objetivo desta aula-espetáculo – voltada principalmente aos professores e interessados emcultura popular – é revelar e partilhar as histórias escondidas em algum canto de nossa memória,individual ou coletiva, a partir dos causos da tradição oral.Acredito que, no mundo em que vivemos, promover a prática de contar histórias é imprescindível

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para o desenvolvimento do ser humano.Os mitos brasileiros são uma mistura das culturas europeia, africana e indígena

interagindo em nosso País. Também é fruto desta miscigenação a maneira com a qual osertanejo brasileiro criou para tocar viola, contar causos e conviver com os mistérios. Oaprendizado da viola no sertão passa pelo convívio com todos estes seres e suas histórias –dizem que o violeiro deve fazer o pacto com o capeta para tocar bem seu instrumento.

A narrativa sobre os mitos traz sempre um ensinamento para os adultos e cuida daeducação das crianças. Travar conhecimento com estes seres é um mergulho no Brasilprofundo.

Os participantes terão oportunidade de trocar experiências, dar seus testemunhos ereafirmar sua identidade cultural.

Nesta aula-espetáculo, Paulo Freire vai contar causos tocando sua viola, mostrarcanções caipiras com estas temáticas e mostrar como são construídas as lendas (que nemsempre sãoapenas lendas).

Como os índios - As cores da TerraCecília Borelliartista plástica e arte-educadora

 O encontro, o contato e a abertura do olhar e dos sentidos para outra cultura, outros

povos que convivem conosco no mesmo planeta abre um canal de comunicação e troca, e decompreensão fraterna das diferenças, um passo importante na construção da educação eformação para Paz.

No caso dessa oficina, a proposta é trazer para perto a vivência de danças, cantos,costumes, estética e a poética de alguns povos indígenas que podem nos revelar um outromodo de nos relacionarmos com a Natureza, seus ritmos e elementos.

Ao contrário do que fazemos nos grandes centros urbanos, esses povos têm a terracomo mãe, como centro, como mestra, como divindade e, assim sendo, mantêm umaorganicidade em seu viver, um ritmo, uma reverência, sentimentos de pertinência eresponsabilidade para com a natureza que precisamos urgentemente resgatar e reaprender.

Este será um dos caminhos parapreservarmos nosso Planeta-casa e noscolocarmos como parte integrante da Naturezae não à sua frente, nem como seresindependentes dela.

Conseguir, como os índios, fazer – comdiferentes tipos de terra, sementes, vegetais eminerais –, tintas que revelem, num trabalhoartístico, a energia e a infinidade de cores vindase existentes na terra é uma proposta lúdica eprazerosa de experimentar e ser tocado pela

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alma telúrica, e naturalmente ecológica, dessas culturas.Tons arenosos, terrosos, avermelhados, ocres, azulados, esverdeados e misturas

alquímicas, podem ser obtidas e, com elas, traços que persigam e apreendam as infinitas formasda Natureza e que tragam à nossa consciência a diversidade de vidas que se relacionam,interdependem e coexistem, em nosso Planeta.

Com as cores poderemos sentir o coração da terra e o chamado para que, como osíndios, cuidemos e nos tornemos amorosamente responsáveis por ela.

Tinta de urucum,Tinta de açafrão,Louro e amora,Tintas cor do chãoOnde vou pintarOnde vou viverOnde vou plantarOnde vou dançarE o coração da terra inteiraFazer cantar

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Oficina sonoridades visíveis - Instrumentos e objetos sonoros criados paraacompanhamento de um filmeMarco Scarassatti e Marcelo Bomfim

quadribau – Marco Scarassatti

A oficina

Essa oficina propõe, a partir da exibição de um filme curta-metragem sobre a origemdos sons, ensinar a criar e confeccionar instrumentos musicais a partir de materiais re-utilizadose que possam ser aproveitados para a posterior sonorização do filme.

O propósito é a utilização de imagens de um filme como um disparador que suscite, apartir desse estímulo não verbal, a construção de hipóteses acerca da história e também desperteo interesse na temática contida nessas cenas.

Terra do Silêncio 21 é um filme produzido em super-8 e narra a origem dos sons nouniverso mítico de uma contadora de histórias que, enquanto conta, transforma-se na própriaagente da origem desses sons. No filme ela aparece em meio a esculturas e objetos sonoros eprepara esse ambiente para o início de uma narração. Porém, quando inicia o texto, a voz quese escuta é de criança, aludindo o fato de que quem conta e reconta essa história é a memóriade quem já a escutou em algum lugar ou tempo distante:

Era uma vez um lugar

Onde os sons não existiamToda a beleza aparente se escondiaNa crueza da ausênciaDias passavam,Noites chegavam.E nada acontecia.

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À natureza que de cima de tudo,A tudo criara, a tudo vivia e via,Ao ver um mundo tão sem graça e alegria,Restou o suspiro,O esbravejoRestou o choroEm silêncioMas mal sabia, do instante que surgia.Do suspiro fez-se o vento, movimento,Arrastando o silêncio,No esbravejo tremiam raios e trovõesFinalmente do seu choro fez-se à chuva e nela se escondia em cada gota que caíaO somE a mãe natureza tão contente ficouQue desse dia em diante tocou e nunca mais parouE ainda hoje o faz e relembra,A quem quiser escutarEssa que é a sua lenda

geométrico – Marcelo Bomfim

A cada cena relacionada a um som produzido, a contadora aparece produzindo o sompor meio de instrumentos construídos a partir de sucata: pau de chuva, tambores, instrumentosde cordas, folhas de zinco, etc.

Os mitos de origem estão presentes em diversas culturas e contextos culturais. Nessecaso trata-se de uma história de origem (dos sons) que pode ser entendida como uma re-fundação a partir de fragmentos e memórias: da contadora de história, das crianças que já aescutaram e até mesmo dos objetos que, diante da necessidade da instauração de um novomundo, são reaproveitados numa nova função, a de produzir sonoridades que se harmonizamdiante do caos sonoro, representado pelo silêncio primordial.

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Nesse sentido a oficina propõe primeiro a escuta dos ambientes e potencialidadessonoras do filme, para depois propor a criação de instrumentos musicais simples, partindoda ideia do reaproveitamento de materiais e objetos do cotidiano. Será dado enfoque àsdiferentes famílias de instrumentos musicais assim como às diferentes maneiras de seproduzir som, estimulando a ideia do fazer musical, da percepção sensível e da prática degrupo.

flautas de bambu

A proposta de trabalharmos com os materiais residuais tem o objetivo de criar eestimular uma nova relação sensível com tais materiais. Com o problema ambiental dosresíduos sólidos, para nós artistas e educadores, aparece um novo desafio pedagógico deobservação, a limpeza, as possibilidades de utilização lúdica e o manuseio dos materiais,experimentando e desenvolvendo várias aptidões criativas, no campo estético, motor,imaginativo, social e emocional. O entendimento de que os resíduos sempre são, a priori,novas matérias-primas, que renovam o conceito do que é lixo, do que é matéria-prima,levando a um novo comportamento, muito mais responsável.

Nossos objetivos:. Aproximar a criança do universo discursivo do cinema estimulando a apreciação e

leitura fílmica;. Desenvolver o potencial criativo da criança na criação e elaboração de uma história;. Introduzir a criança ao universo da linguagem sonora e musical, por meio de

confecção e sonorização da história;. Conscientização do processo de reciclagem e re-significação dos objetos do

cotidiano, por meio do reaproveitamento da sucata na confecção dos instrumentos.

Marco Scarassatti (1971/Campinas-SP/Brasil)Compositor formado pela Unicamp. Durante seu mestrado em Multimeios, também

pela Unicamp, pesquisou o processo criativo do compositor Walter Smetak, construtor deobjetos híbridos que reúnem plasticidade e produção sonora. Professor da FaculdadeCasper Líbero, é doutorando pela Faculdade de Educação da Unicamp, pesquisa asrepresentações alquímicas na música e prepara a publicação de sua dissertação Smetak e

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suas plásticas sonoras. Cineasta autodidata, seu curta-metragem Terra do Silêncio, ganhou12 prêmios entre os anos de 2002 e 2003. Atualmente desenvolve a pesquisa de criação econstrução de esculturas e ambientes sonoros, além de atuar também como professoruniversitário.

Curador da exposição Paisagens Plásticas e Sonoras, mostra que reuniu trabalhosde compositores que na busca de novas sonoridades chegaram a novas formas para oinstrumento musical convencional. (Mostra Sesc de Artes/2005 – Sesc Pinheiros, Brasil).

Marcelo Bomfim (1977/São Paulo-SP/Brasil)Músico-compositor formado em Música Popular pela Unicamp.Há oito anos realiza coleta em áudio de diferentes ambientes sonoros e estuda

diferentes instrumentos (cordas, sopro, percussão, piano e acordeão).Trabalha com composição sonora para teatro de animação (Cia. das Cores – SP,

Brasil) e pesquisa construção de objetos sonoros, além de atuar em projetos de arte-educação com público infantil em instituições e organizações. Trabalhou em projetos com aFundação Semco, Senac-RJ, e Unicef.

Objetos de teatroTATU-BOLADivisão de Ação Cultural e Educativa do CCSPOrientação: Cláudia Malaco

Os carrinhos do mobiliário educativo tatu-bola recebem o público em família paraesta oficina que reapresenta o brincar no processo de aprendizagem. A proposta é decriação de personagens a partir de uma história contada e construção de objetos e roupasque o acompanhem. As oficinas serão diferentes a cada sábado e entre os temas estãomaquiagem, máscaras e bonecos.

FOTO NA LATACoordenação: Equipe da Imagem Mágica

Utilizando a estrutura e metodologia da ImageMágica, realizaremos oficinas defotografia com os participantes do evento Este Mundo é Meu! E as Sete Sementes. Ensinaras técnicas fotográficas desde a construção e funcionamento de uma câmara artesanal eos processos de revelação destas imagens (pinhole) tendo como tema o meio ambiente. Oobjetivo é despertar em cada indivíduo a percepção de seu potencial e responsabilidadepara a edificação de um mundo melhor, utilizando como principal ferramenta o poder daimagem.

OFICINA DE JARDINAGEM E ARTEOrientação: Fernando Limberger

A partir da observação do estado atual do Jardim Interno do CCSP, será proposta umasérie de exercícios práticos para a manutenção e recriação deste espaço, como etapa

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preparatória da execução do trabalho artístico Verde e amarelo, do artista e paisagista FernandoLimberger. O público alvo: profissionais de jardinagem, paisagismo, artistas plásticos einteressados em geral.

Expedições paulistasErmelinda Moutinho Pataca

O intenso processo de urbanização em São Paulo ao longo do século XX alterouprofundamente o espaço junto com todos os elementos naturais, inclusive os hidrográficos.Muitos dos rios foram totalmente alterados pelas obras de canalização, retificação e cobertura.Às suas margens foram construídas grandes vias de transporte, motor da sociedade industriale comercial que se desenvolveu em São Paulo. As grandes obras de engenharia que significaramo progresso econômico e material da cidade inviabilizaram completamente o contato dapopulação com seus rios, enterrando junto marcos da história e da memória da cidade.

Os recursos hídricos, tanto oceânicos quanto fluviais, desempenharam um papel dedestaque no processo de ocupação do território brasileiro. Desde o período colonial as fontesde água eram totalmente relacionadas ao cotidiano das populações, pois serviam como meiosde transporte, locais de lazer, fontes de água para consumo, força motriz que movimentavaengenhos pela roda d’água, etc. Como canais de transporte os rios apresentavam grandereferência para as comunidades.

Nossa intenção com as oficinas paulistas é de ampliar a sensibilização da populaçãopara os cursos hídricos, que se relacionam completamente com a ocupação territorial e com aconstituição urbana. Alguns de nossos rios, com grande significado cultural e histórico, serãodesencobertos nas expedições, a partir de sua história e memória.Impossibilitados de sermos transportados pelos rios de São Paulo por estarem encobertospelo asfalto ou em alguns casos em que estão desencobertos não apresentam boa aparênciae desagradam os nossos sentidos, especialmente o olfato, optaremos por fazer nossasexpedições em ônibus seguindo as ruas e avenidas da cidade. Entretando, os roteiros quetraçamos, seguem os caminhos das águas submersas, impulsionados por nossa imaginação.

Como ponto de partida de quatro expedições urbanas escolhemos o Centro CulturalSão Paulo, localizado à margem do riacho do Itororó, imortalizado pela cultura popular esepultado no asfalto da Avenida 23 de Maio. A partir daí percorreremos algumas regiões comdestacada importância histórica, cultural e ambiental de São Paulo.

Na primeira expedição as crianças percorrerão os espaços do Centro Cultural SãoPaulo com a missão de solucionar um grande mistério: CADÊ O ITORORÓ? Cabo Rocha eseis bombeiros estarão auxiliando as crianças nessa busca pelo riacho tão familiar para ascrianças brasileiras – “Fui na fonte do Itororó, beber água não achei...” Será que as criançasencontrarão as águas do Itororó? Ou será que todos ficarão com sede para o resto de suasvidas? No percurso pelos espaços internos do CCSP será ressaltado o histórico da construçãoe das transformações ambientais empreendidas no entorno da construção.

No segundo roteiro, seguiremos o Riacho do Itororó em direção Sul da cidade, atéencontrarmos outro riacho de grande importância histórica para São Paulo e para o Brasil. É oriacho do Ipiranga, cujos acontecimentos históricos de 1822 permanecem em nossa memória

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como símbolo máximo da nacionalidade brasileira. Mas infelizmente, as “Margens plácidas” deoutrora agora são cobertas por asfalto e concreto. Até pouco tempo atrás, seu leito estavaencoberto e suas águas só eram percebidas pelos paulistanos nas enchentes, tão recorrentesna cidade.

Mas felizmente essa situação não durará para sempre. Na expedição urbana queseguiremos o riacho do Ipiranga encontraremos uma grande diversidade de paisagens,configurações e simbologias socioculturais-ambientais do riacho. Partindo das nascentes doIpiranga no Jardim Botânico de São Paulo, percorreremos remanescentes de Mata Atlântica.

Seguindo o riacho pela Avenida Ricardo Jafet, encontraremos alguns trechos que estavamcobertos e que já foram descobertos e em parte recuperados. Acompanharemos as margensdo riacho até o parque da Independência, muito conhecido pelos paulistanos por abrigar umimportante monumento histórico: o Museu Paulista ou Museu do Ipiranga. Mas esse parquetambém abriga outros monumentos histórico-ambientais: um bosque e os jardins. Quais são ossignificados históricos e culturais destes locais? Qual é a nossa percepção sobre eles?

Em outro roteiro, partiremos do CCSP e seguiremos o riacho do Itororó em direção àregião central de São Paulo até o Vale do Rio Anhangabaú onde deságuam as águas do Itororó.As construções do centro de São Paulo, além de revelarem um grande significado históricodesde a fundação da cidade, também são registros de um tempo muito mais longo: a históriageológica. Os monumentos e edifícios foram construídos com rochas com milhões de anos ealgumas delas guardam também registros da vida por meio de fósseis.E de onde vem a água que chega às nossas torneiras? Será que essas fontes são inesgotáveis?O Instituto Socioambiental (ISA) preparou uma expedição à Represa de Guarapiranga paramostrar os mananciais da cidade.

Roteiros

Expedições Rocha em Cadê o Itororó?Carlos Eduardo Alves Rochasub-comandante do Goerr

Coordenação: Grupo Operações Especiais Resgate Rápido (1º Goerr) - com:Marcelo Augusto B. Moura (comandante geral) e Carlos Rocha (sub-comandante)

O convite para fazer atividades com crianças no Centro Cultural São Paulo integrandoEste Mundo é Meu! já vem desde o ano passado, da curadoria de teatro infanto-juvenil.

A ideia foi amadurecendo gradativamente ao longo deste ano. Sabia que estava sendoarticulada a programação, mas ainda não estava inteirado do que viria a ser. Só sabia que esteano o tema seria sobre o meio ambiente. Enquanto isso as ideias foram amadurecendo e váriasforam surgindo, mas sem uma definição de como poderia ser viabilizada. Com a possibilidadede ser feita uma expedição dentro do próprio Centro Cultural e depois com a confirmação deladentro do evento e as características que seria essa expedição, ficou mais fácil esboçar umroteiro que foi apresentado à curadora do evento. O roteiro foi aprovado e as questões técnicas

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como utilização dos espaços, tempo de realização, horário, público alvo, foram detalhesposteriores para que o roteiro atingisse o objetivo pretendido.

Mais tarde, após esses acertos, a expedição passou a chamar-se Expedições Rochae depois, por sugestão da Sra. Ermelinda Pataca, que é a idealizadora do meio ambientedentro do evento, passou a se chamar Expedições Rocha: Cadê o Itororó? – pelosdesdobramentos que houveram de estrutura e de ideias.

A importância desse trabalho noCentro Cultural é para que ascrianças possam ter contato coma estrutura dos espaços. Para queisso aconteça, dentro do roteiroforam criadas regras deconvivência para que osparticipantes possam conhecer otrabalho que é desenvolvido noCCSP, trabalho este que é ligado

à segurança das pessoas e a segurança física do espaço, assim como o contato com osfuncionários em determinadas áreas.

O foco é receber as crianças e concretizar o que está escrito no roteiro, pois o mesmoenvolve várias questões relacionadas a assuntos de segurança que elas, às vezes desconhecemou outras vezes já ouviram falar, mas não experimentaram. Os adultos também terão a mesmaatenção para que possam ser multiplicadores mais tarde dessa experiência. Os funcionáriosdo CCSP e seus familiares também foram convidados a participar.

A outra importância da realização da expedição é que o Centro Cultural se tornará ofoco de conhecimento cultural e educacional a partir do momento em que as pessoas seapropriarão dele para explorá-lo mais detidamente. O Goerr é um grupo particular e foi criadoem 2.002, para prestar serviços comunitários e voluntários no que diz respeito à segurançatanto pessoal como física de pessoas e estabelecimentos. Seus componentes são treinadosem PCI – Prevenção e combate a incêndio e 1º Socorros. Por isso as crianças e os adultosque participarão dessa expedição terão toda a assistência preventiva do Goerr para fazer essetrabalho cultural, educativo e lúdico com segurança. Esperamos realmente encontrar o Itororó.

Abaixo o roteiro:Procedimentos:1. regras de segurança2. palestra sobre o meio ambiente3. simulação4. descendo escadas para subsolo5. dando a volta pelo laboratório6. Espaço Ademar Guerra7. duas lareiras com fogo8. contação de história na biblioteca com a contadora Rita Marques, cujo texto se encontra aseguir.

No início os alunos, (caso seja escola, mas o mesmo procedimento se dará quando forpúblico espontâneo) professores e estagiários se reunirão em um espaço onde todos possam

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ficar para ouvir as instruções. As regras de segurança serão ministradas pelos bombeiros doGoerr como alerta aos participantes de como se conduzir seguramente durante todo o roteiro.

Na sequência virá a palestra sobre meio ambiente no próprio espaço. Depois da palestra,os coordenadores passarão a dar as primeiras orientações da simulação dos primeiros socorrose eles seguirão até a biblioteca de onde descerão até o subsolo.

No subsolo, outra simulação de primeiros socorros com atividade que os coordenadoresirão criar. O espaço a ser ocupado será atrás do laboratório.

A expedição seguira em direção ao porão especificamente no Espaço Ademar Guerra.Dentro desse espaço outra simulação com diferentes atividades. A saída será pelas

portas de emergência do espaço onde os participantes encontrarão duas lareiras, que servirãopara outra atividade.

A saída será pela rampa João Julião, subindo a rampa do Metrô até a entrada do CentroCultural.

Depois a expedição seguirá pelas dependências internas do CCSP voltando a bibliotecapara ocupar o espaço de leituras.

No espaço de leituras a Rita irá contar histórias não só do Itororó como da importânciada conservação dos rios assim como mostrar que um rio soterrado pelo asfalto é ruim para umacidade.Depois disso, descansar!

CADÊ O ITORORÓ?Rita Marques

(cantando)“Cadê o Itororó que passava aqui? (bis)Cadê o Itororó? Eu mesma nunca vi.Mas, sei que o Itororó passava por aqui.Eu sei que o Itororó passava por aqui!”

Há muitos e muitos anos, e posso-lhes assegurar que tudo aconteceu entre os séculosXIX e XX, quando nas noites frias e garoentas da Piratininga – que é esta nossa querida SãoPaulo – muitas jovens se reuniam no Tanque Reúno.

Esse tanque ficava logo ali, nas proximidades de onde hoje é a Rua Humaitá.Essa rua é uma conhecida travessa da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio.

As jovens se dirigiam para lá, em verdadeiras procissões poéticas para “lavar” São JoãoBatista. Elas levavam a imagem do santo, toda coberta.

Na beira do tanque, enquanto algumas moças para saber se a morte lhes ia acontecernaquele ano, procuravam ver seus rostos nas águas, delicadas mãos femininas descobriam aimagem de São João Batista, para mergulhá-la nas águas geladas do riacho, simbolizando oBatismo de Jesus no Rio Sagrado.

(cantando)

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“E conta a lenda do Tanque Reúno,Onde as jovens faziam seus rituais,No Batismo de São João Batista,Eram seguidas até pelos casais,E era quando todos eles cantavam:São João BatistaBatista João;Batizou JesusNas águas do Jordão!”

A nascente do Tanque Reúno, ficava aqui pertinho de nós, no Paraíso.Era um riacho que desaguava no Anhangabaú.

Esse riacho que nascia no Paraíso e que antes de chegar no Anhangabaú, formavao Tanque Reúno, ali na Bela Vista, chamava-se RIACHO ITORORÓ.

Suas águas eram cantantes e é por este motivo que tem este nome. Em tupi, tororóquer dizer enxurrada, jorro.

Imagine-se agora passeando pelas margens deste riacho, ouvindo suas águas,cantando em direção ao vale...

Por onde o Riacho Itororó passava, passa hoje a Avenida 23 de maio.E se...

(cantando)“Se o Riacho Itororó está embaixoDa avenida, da avenida 23 de maioSobre ele só passam muitos carrosQue nos levam ao Anhangabaú

E o som das águas sob a 23 de maioÉ a canção do Riacho ItororóDiferente do que se ouve aqui em cima,Dos motores de carros com suas buzinas.”

E como um belo riacho cantante, ele tinha também uma bela ribanceira.Na ribanceira do Itororó, em certos trechos, pic-nics aos domingos, eram normais.

Mas, hoje... Bem, hoje pic-nics, nem se faz mais.Porém, na Ribanceira do Riacho Itororó, ainda é um bom lugar para se passear, ou

até mesmo, estudar. E, sabe por quê?Porque foi nesta ribanceira, que o Centro Cultural São Paulo foi construído. Isto se deu em1982. Abriram-no com uma bela festa no dia 13 de maio daquele ano!

E hoje, ali – que é aqui – tem:Teatro, dança, exposições de Artes Plásticas, Fotografias e diferentes Instalações.Um Cinema de apurada seleção!

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Oficinas com temáticas variadas.Palestras de assuntos relevantes, por literatos renomados, com gente muito importante!Livros em Braille. Livros de Artes. Livros maravilhosos sobre todos os assuntos!Jornais. Revistas. E até livros chatos se acha também, porque ali se atende a todos osgostos.Gibiteca, Discoteca, Internet: dispõe-se a toda gente!

Até um Tatu-Bola passeia hoje pela ribanceira do Riacho Itororó, digo, pelo CentroCultural São Paulo: é um objeto de madeira bem bolado para alegria da garotada, que sediverte e aprende, nas visitas monitoradas.

Tem também música ao vivo para todos os gostos rítmicos.

Uma livraria...Um restaurante-lanchonete ao ar livre, que é para fazer-de-conta que ainda fazemos pic-nic...

E o mais recente é o Espaço de Leitura para Crianças e Adolescentes!Porque ao cidadão do futuro, há de se ter toda dedicação. Nesse espaço, que é este aqui,além de se fazer uma gostosa leitura, ouve-se histórias como nos tempos de nossos avós.Brinca-se também, com a poética das palavras, num exercício de reencantar o mundo.

Mas, mas... Cadê o Itororó?Perguntam ainda “Cadê o Itororó?”Já lhes contei que está coberto pela avenida, por esta expressa avenida, chamada 23 demaio.Mas, bem sei, isto não é contar tudo.

Cobriram sim, o Itororó e muitos outros riachos, dando passagens só para os carros,porque era o jeito moderno de se fazer CIDADE. Era.

E hoje, em dias de chuvas o espetáculo que se tem é uma cidade transformada emlagos por todos os lados, onde carros boiam; pessoas ficam durante horas, segurando-se empostes para não serem levadas pela correnteza; casas inundadas pelas águas imundasdestes lagos relâmpagos; e, um trânsito parado, de horas, horas e horas...Nem metrô funciona bem.E tudo por quê?

Porque quando o solo está coberto por cimento e concreto, todo bem asfaltado, ovolume de água das chuvas em circulação aumenta até sete vezes mais que o solodescoberto.

Piscinões? Hoje, já não são mais alternativas modernas.Assim, dizem os estudiosos, e mais, que as enchentes não são necessariamente

fenômenos inevitáveis, como por exemplo, um terremoto.

Afirmam também que as chuvas não seriam nossas inimigas, se fossem respeitadas,

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cumpridas de fato as leis que determinam que se deve deixar intocada uma faixa de 30metros nas margens dos rios e de 50 metros nas bordas de suas nascentes.E o que fazer, agora, principalmente, ouvindo o Centro Cultural São Paulo, provocando-noscom: “Esse mundo é meu/esse mundo é meu!”

Esse mundo é meu? É! Este mundo é meu! Este mundo é teu, este mundo é nosso!

Então, assim como tivemos que rever nosso papel com relação ao lixo, temos de fazê-lo comrelação às águas, as águas fluviais.

Fazer gramados é um bom jeito de retê-las e isto não é só dever do poder público, fazendopraças e canteiros. Também podemos e devemos reter as águas que caem em nossostelhados: plantando mais e cimentando menos os quintais de nossas casas e condomínios,fazemos assim uma pequena mas, fundamental diferença!

Ah! Ainda quero lhes contar mais uma coisa: que de tanto ouvir a Lizette, aqui no CentroCultural, perguntar “Cadê o Itororó?/Cadê o Itororó?”, acabei descobrindo que além deste,coberto pela “23”, cuja fonte é aqui no Paraíso, há um outro, com sua nascente lá nas bandasde Santos, onde inventaram uma grande roda, como a que eu convido vocês para fazermosagora. Lá, eles cantavam assim:

“Fui no Itororóbeber água não acheiAchei bela morena

que no Itororó deixeiAproveite, minha gente,que uma noite não é nadase não dormir agora,dormirá de madrugadaÓ dona maria,ó mariazinha,entrará na roda

e dançarás sozinhaSozinha eu não danço

nem hei de dançarporque eu tenho... vocês

para serem meu par.

Aproveite, minha gente, porque se uma gota, também, não é nada, com muitas já vira umaenxurrada.E nós somos como a gota que é o NADA e é TUDO.Por isso fazemos mesmo a grande diferença na construção deste mundo, deste mundo que émeu, deste mundo que é teu, deste mundo que é nosso!Vamos, então, cuidá-lo!E dizer bem alto, agora: “este mundo é meu, este mundo é meu!”agradecimentos: Lizette, Maria Helena, Mercedes, Olga e Roque.

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Expedição pelo Riacho do IpirangaFernanda K. Marinho Silva e Rachel Pinheiro

Nessa expedição pretendemos seguir o riacho do Ipiranga desde sua nascente até o Parqueda Independência, localizado nas margens do riacho no local onde foi proclamada aindependência em 1822. O significado histórico do riacho será bastante explorado nestaexpedição pela simbologia sobre o significado de nacionalidade do Brasil. Complementar aperspectiva histórica, serão abordados aspectos hidrográficos, geológicos, biológicos e culturaisem dois parques de grande importância em São Paulo: o Parque Estadual das Fontes doIpiranga e o Parque da Independência.

1º Ponto: Nascente do Ipiranga - Parque Estadual das Fontes Ipiranga (Parque do Estado).No Jardim Botânico seguiremos a Trilha da Nascente, localizada em um fragmento de

Mata Atlântica em regeneração. Nesse ponto será abordado o que é uma bacia hidrográfica eda necessidade de preservação dos mananciais. Será feito um passeio na região da nascente,onde serão abordadas questões sobre a história do Rio Ipiranga e o que ele significou nocenário nacional e principalmente paulista. Alémdisso, serão abordados alguns conceitos sobre aflora e a fauna do local.Translado de ônibus entre o Jardim Botânico e oParque da Independência. Seguiremos o riacho doIpiranga canalizado pela Av. Ricardo Jafet até oParque Independência. Neste trecho serãoabordadas questões ambientais sobre a ocupaçãodo espaço urbano, evidenciando as transformaçõesao longo do Riacho, riscos de inundação e adinâmica hídrica. Tudo isso pode ser visualizadodentro do próprio ônibus.

2º ponto: Parque Independência.Local de grande importância histórica por abrigar o Museu Paulista, monumento dedicado àIndependência do Brasil construído às margens do riacho do Ipiranga. Abordaremos ahistória do parque e do museu, desde a inauguração do edifício-monumento, em 1890.

O local apresenta grande importância para o estudo das ciências naturais de São Paulo,por ter abrigado inicialmente coleções zoológicas, mineralógicas e botânicas resultantes daComissão Geográfica e Geológica de São Paulo. Será feito um passeio pelo jardim e pelobosque do parque, onde serão abordadas algumas questões sobre: o que são jardins? O quesão bosques? Para que servem? Quais são os conceitos ambientais, científicos, culturais eestéticos destes locais? Serão abordadas algumas questões sobre a conservação e arecuperação de áreas verdes em São Paulo, os significados dos jardins botânicos e ornamentaispara os estudos científicos e práticas de recuperação e conservação ambiental.

Será feita a observação do Riacho do Ipiranga no local, onde serão discutidos aspectoscomo poluição, ocupação urbana, canalização do rio, disponibilidade de água, etc.

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A expansão urbana no município de São PauloTiago Davi Vieira Soares de Aquino e Denise de La Corte Bacci

Impulsionado pelo desenvolvimento capitalista, São Paulo passou e vem passando, porgrandes transformações, uma expansão urbana instantânea e descontrolada, em detrimentoao ambiente que a cerca.

Abordando temas pertinentes a esta problemática e baseado nos preceitos da EducaçãoAmbiental e Ciências da Terra, a oficina tem por objetivo promover, por meio de interpretaçãode imagens e uma expedição urbana (atividade de campo), o uso e a ocupação do espaçourbano de forma sustentável.

A atividade de campo que consistebasicamente em nove pontos de visitação nocentro histórico de São Paulo, terá duração deaproximadamente quatro horas. Os pontosvisitados são Teatro Municipal, Viaduto do Chá,Praça da Sé, Caixa Cultural São Paulo, Mirantedo Pátio do Colégio, Tribunal de Justiça, Mosteirode São Bento, Edifício Martinelli e Galeria Olido.Nestes pontos é possível regatar uma parte dahistória social e cultural da cidade, bem como oseu crescimento urbano dentro de umaperspectiva ambiental. São abordados tambémtemas relacionados às ciências da Terra, dentre

eles patrimônios geológicos, e principalmente os conceitos geocientíficos presente no nossodia-a-dia, que muitas vezes passam desapercebidos. A Galeria Olido, por exemplo, é revestidapor uma rocha que apresenta em suas estruturas fósseis de bactérias que viveram a bilhões deanos atrás.

Nos locais como o Teatro Municipal, Caixa Cultural, Tribunal de Justiça e Edifício Martinellié possível discutir a relação dos principais tipos de rochas utilizados nestas construções, emfunção do período histórico, econômico e social do município em determinadas épocas.

Ainda dentro desta perspectiva ambiental, locais como Viaduto do Chá e Mirante doPátio do Colégio, são essenciais para discutir a questão da ausência de áreas verdes no municípioe a interferência do homem nas bacias hidrográficas, acarretando assim diversos problemaspara a população. É possível observar in loco o rio Tamanduateí, que segundo a língua Tupiquer dizer rio de muitas voltas dado seu padrão meândrico apresentado no passado, mas quehoje está completamente retificado e margeado pela Avenida do Estado, é possível também,observar apenas o vale do rio Anhangabaú, uma vez que o rio está totalmente canalizado porbaixo da Avenida Nove de Julho.

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Reconhecendo a Guarapiranga: identificando a origem da águaCésar Pegoraro e Pilar Cunha

Quando pensamos na água que sai das nossas torneiras, dificilmente conseguimosrefletir sobre a sua origem. Quando falamos de origem não estamos nos referindo a empresade abastecimento, e sim ao manancial de onde tais empresas retiram a água. Estereconhecimento é fundamental, pois ao identificar in loco o estado do local que reduz a águaque estamos consumindo, passamos a rever nossos hábitos cotidianos. Hábitos de consumo,de participação das políticas públicas, de acompanhamento dos fatos ligados ao tema. Éimpossível fica passível diante de tanta informação e vivência.

Vivemos há muito tempo uma crisede água na Metrópole de São Paulo.Produzimos exatamente aquilo queconsumimos, não há folga na quantidadede água disponível. Temos hábitosextremamente desperdiçadores e a nossacompreensão sobre nosso papel enquantocidadãos é bastante reduzida.

A proposta desta expedição éapresentar de forma lúdica e envolventealguns desafios hídricos que temos eevidenciar algumas formas de envolvimentodos cidadãos que minimize este cenáriocrítico.

O roteiro consiste em visitar abarragem da Guarapiranga, onde exploraremos por meio de mapas o processo de urbanizaçãoda Metrópole e como isto ocorreu nas áreas de mananciais. Ali, pode-se visualizar o espelhod’água do reservatório e o ponto de captação da Sabesp. Esta represa responde peloabastecimento de 4 milhões de pessoas e é o manancial mais ameaçado da Metrópole.

Dali, seguiremos para o Córrego São José, onde poderemos ver algumas ações quetêm sido feitas para conter as ações de contaminação das águas do reservatório por esgotodoméstico. Abordaremos algumas atividades do poder público e como isto tem interferido naqualidade da água que se bebe.

O próximo ponto de observação e conversa será às margens do Rio Pinheiros, onderefletiremos sobre a questão do consumo, saneamento básico e as políticas de abastecimentopúblico, evidenciando assim algumas situações conflitantes e indesejáveis quando pensamosem água de beber.

Deste ponto retornamos ao Centro Cultural São Paulo.

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Perfil dos participantes

Curadoria

Lizette NegreirosCuradora do eventoCuradora de teatro infanto-juvenil do CCSP. Desenvolve esse trabalho há 20 anos e criou, na instituição,várias atividades com o intuito de beneficiar a criança, o adolescente e o jovem – espetáculos, oficinase palestras. Criou também o Projeto Teatro Jovem e realizou o Seminário de Teatro na Educação,junto com o Núcleo de Ação Educativa do CCSP.Realizou a Mostra de Teatro infanto-juvenil No Reino do faz de conta procura-se... a verdade e oProjeto Carrocel. Participa como palestrante de Festivais Internacionais de Teatro para a Infância eJuventude em São Paulo. É jurada de Festivais de Teatro para crianças ou adolescentes, é integrantede comissões para escolhas de espetáculos infanto-juvenis da Secretaria Estadual da Cultura. Fazparte da Comissão da Lei Mendonça, como representante da Secretaria Municipal de Cultura, e atrizdo Teatro Vento Forte.

Ermelinda Moutinho PatacaCuradora convidadaProfessora doutora na área de Geociências e Educação Ambiental da Faculdade de Educação daUSP. Com formação interdisciplinar, a pesquisadora tem graduação em química, mestrado e doutoradoem Educação Aplicada às Geociências pela UNICAMP. Durante o mestrado (1999-2001), realizou umprojeto de pesquisa que integrava arte, ciência e técnica na análise de imagens produzidas na ViagemFilosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783-1792). Para o doutorado (2001-2006), continuouinvestigando o mesmo tema, mas de uma forma mais ampla quando realizou o mapeamento dasviagens científicas idealizadas pela elite ilustrada luso-brasileira e financiadas pelo Estado Portuguêsentre 1755 e 1808. Participa de programas de formação continuada de professores, na USP e naUNICAMP, abordando temáticas ambientais, históricas e científicas para a construção de metodologiasde ensino interdisciplinares.

Arnaldo Fernandes JúniorCuradoria de AudiovisualArnaldo Fernandes Junior é formado em Administrador de Empresas pela PUC-SP e em Geografiapela USP. Trabalha com cinema há mais de 15 anos, tanto na gestão de projetos de incentivo (participoudo pioneiro PIC-Projeto de Incentivo ao Cinema do Gabinete da SMC), quanto na curadoria ecoordenação de eventos audiovisuais. Desde de 1996 - ao lado do cineasta Plácido de Campos Jr. -é o curador do Núcleo de Cinema e Vídeo do CCSP, atual Núcleo de Curadoria do Audiovisual doCCSP tendo realizado até o presente mais de quinhentos eventos.

Debate sobre aquecimento global

Adelino Ricardo Jacintho EspartaPossui graduação em Engenharia Química pela Universidade de São Paulo (1988), mestrado emEngenharia Química pela Universidade de São Paulo (1991), mestrado em “Systemdynamik Und

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Regelungstechnik” pela Universitaet Stuttgart, Alemanha (1993) e doutorado em Energia pelaUniversidade de São Paulo (2008). Atualmente é sócio-diretor da Ecoinvest Carbon Brasil e professordo Instituto Mauá de Tecnologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Protocolo de Kyoto,Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, redução de emissão de gases formadores do efeito estufa,energias renováveis e eficiência energética.

Isis Akemi MorimotoPossui graduação em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1999) ,mestrado em Recursos Florestais pela Universidade de São Paulo (2002) e ensino médio e segundograu pela Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (1993) . Atualmente é Analista Ambiental do InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e Coordenação de Equipe doFundo Nacional do Meio Ambiente. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em GestãoAmbiental, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação Ambiental, Direito Ambiental,Árvore, Política Ambiental, Ecologia e Propriedade Rural.

Fórum de reflexões – Integrações socioambientais na cidade de São Paulo

Ana Cristina Chagas dos AnjosPossui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996).Atualmente é Educadora colaboradora dos Institutos de Pesquisas em Ecologia Humana.

Antonio Carlos Robert MoraesPossui graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo (1977), e em Ciências Sociaispela Universidade de São Paulo (1979); mestrado (1983) e doutorado (1991) em GeografiaHumana pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor titular da Universidade de SãoPaulo.

Celso Dal Ré CarneiroPossui graduação em Geologia pela Universidade de São Paulo (1972), mestrado em Geociências(Geoquímica e Geotectônica) (1977) e doutorado (1984) pela Universidade de São Paulo. Atualmenteé Professor Doutor do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino, Instituto de Geociências,da Universidade Estadual de Campinas. Atua principalmente nos seguintes temas: geociências,geologia e ensino de geologia.

Gustavo VeronesiGeógrafo e educador ambiental da Fundação SOS Mata Atlântica, do núcleo União Pró-Tietê.

João Luiz PegoraroPossui graduação em Ciências Biológicas, especialização (pós-graduação lato sensu) em CiênciasAmbientais, mestrado (1998 - Esalq-USP) e doutorado (2003 - EESC-USP) em áreas temáticas deinterface: ambiente, educação e sociedade. Atualmente é professor de graduação e pós-graduaçãoda Universidade São Marcos - SP, desenvolvendo atividades acadêmicas principalmente nas áreasde Ciências Ambientais, Educação Ambiental e Ecologia Aplicada. Possui larga experiência ematividades de intervenções socioambientais, tendo atuado junto a ONGs ambientalistas econservacionistas desde o final dos anos 1970.

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Leopoldo Gabriel ThiesenPossui graduação em Filosofia - Licenciatura Plena pela Universidade de Passo Fundo (1982)com Especialização e Mestrado em Filosofia - Ética pela Pontifícia Universidade Católica deCampinas (2000) e doutorado em Filosofia pela mesma universidade (2006). Atualmente, atuacomo professor colaborador da PUC-Minas em Poços de Caldas e desenvolve Pós-doutorado no Programade Ambiente e Sociedade junto ao NEPAM/UNICAMP. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfaseem Ética, atuando principalmente nos seguintes temas: história da filosofia, ética, filosofia contemporânea,filosofia da diferença, estética, economia solidária, organização popular, cooperativismo, bioética, éticaambiental e filosofia, literatura, cultura e ambiente.

Maria Christina de Souza Lima RizziPossui graduação em Educaçao Artistica Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1980), mestrado(1990) e doutorado (2000) em Artes pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora doutoraexercendo suas atividades junto ao Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações eArtes da Universidade de São Paulo, onde leciona na Graduação e Pós-Graduação. Atua principalmentenos seguintes temas: arte-educação, educação ambiental e museologia.

Maria Salette Mayer de AquinoPossui Mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (1994). É docente daÁrea de Alemão no Centro de Ensino de Línguas da Unicamp desde 1989. Áreas de pesquisa: ensino eaprendizagem de alemão como língua estrangeira, interação em sala de aula e professor pesquisadorde sua prática. Participa do Projeto Sonha Barão, dando oportunidade aos alunos de graduação dauniversidade de envolverem-se com as questões socioambientais, educacionais e culturais do Distritode Barão Geraldo. Envolveu-se com o Programa Universidade Solidária e com o Projeto Rondon, dosquais participou, respectivamente, em 2001 e 2007.

Marcos SorrentinoPossui graduação em Biologia pela Universidade Federal de São Carlos (1981) e em Pedagogia pelaUniversidade Federal de São Carlos (1983); mestrado em Educação pela Universidade Federal de SãoCarlos (1988), doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (1995) e pós-doutorado peloDepartamento de Psicologia Social da Usp (1999) . Atualmente é DAS5 do Ministério do Meio Ambientee da Amazonia Legal. Atua principalmente nos seguintes temas: Educação Ambiental, universidade,participação, Educação, ensino superior.

Marisa Trench de Oliveira FonterradaGraduado em Música (Bacharelado) pela Universidade São Judas Tadeu (1977), mestrado em Educação(Psicologia da Educação) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1991), doutorado emAntropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996) e foi Professor Livre-Docente emTécnicas de Musicalização pelo Instituto de Artes da UNESP. Atua principalmente nos seguintes temas:educação musical, música, canto coral, ecologia acústica e A disciplina Artes no ensino fundamental,médio e superior.

Ondalva SerranoFormada em agronomia pela ESALQ/USP, com especialização em Agronomia para o DesenvolvimentoIntegral, no Centre International de Hautes Ètudes Agronomiques, na França, e Doutorado em Agronomiana USP. É Coordenadora Pedagógica da Rede do Programa de Jovens da Reserva da Biosfera doCinturão Verde da cidade de São Paulo, com sede no Instituto Florestal.

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Pedro Roberto JacobiPossui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1973), e em Economia pelaUniversidade de São Paulo (1972); Mestrado em Planejamento Urbano e Regional pela Graduate Schoolof Design - Harvard University (1976), Doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1986).Livre Docente em Educação -USP. Professor Titular da Universidade de São Paulo, Co-editor da revistaAmbiente e Sociedade desde 1997. Membro do conselho editor das revistas Environment and urbanization(0956-2478), EURE (Santiago) (0250-7161) e O&S. Organizações & Sociedade. Tem experiência naárea de Políticas Públicas Ambientais, Politicas Sociais, Gestão Ambiental, Movimentos Sociais eParticipação, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento sustentável, gestãocompartilhada de recursos hídricos, Participação social e gestão de resíduos sólidos, Educação ambientale participação da sociedade civil na gestão ambiental. Coordenador do TEIA-USP Laboratorio de Educaçãoe Ambiente. Representa a USP no Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê onde exerce a relatoria daCãmara Técnica de Planejamento e Gestão.

Roseli Buzanelli TorresGraduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (1984), Mestre em BiologiaVegetal (1989) e Doutora em Ciencias (área de Biologia Vegetal) (1996) pela Universidade Estadual deCampinas. Pesquisadora Científica (PqC V) do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do JardimBotânico, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Trabalha na área de Botânica, com ênfase emTaxonomia Vegetal, atuando principalmente nos seguintes

temas: Flacourtiaceae (Salicaceae/Achariaceae), Lacistemataceae, florística e ensino de botânica.Atualmente, curadora do herbário IAC.

Simone PortugalPossui graduação em Educação Artística/Licenciatura em Música pela Faculdade de Educação Musicaldo Paraná (1984) e mestrado em Educação pela Universidade de Brasília (2008) . Atua principalmentenos seguintes temas: Educação ambiental crítica, agenda 21 escolar, fazer educativo, Participação,potência de ação e projeto político pedagógico.

Vania Maria Nunes dos SantosGraduada em Ciências Sociais (bacharelado e licenciatura); possui Mestrado em Educação (Didática,Teorias de Ensino e Práticas Escolares) pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Ciências(Ensino e História de Ciências da Terra) pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual deCampinas. Tem experiência na área de ensino desde 1985. Trabalha na área de educação e meioambiente desde 1994, com assessoria e consultoria técnica para a elaboração, desenvolvimento ecoordenação de programas de educação ambiental e de formação continuada de professores emexercício, em parceria com universidades, instituto de pesquisas e órgãos governamentais em prefeiturasmunicipais. Atualmente é consultora técnico-pedagógica da Prefeitura Municipal de Guarulhos ecolaboradora em projeto do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas.

ExperimentAÇÕES Ambientais

Mauricio CompianiPossui graduação em Geologia pela Universidade de São Paulo (1981), mestrado (1988) doutorado(1996) pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor associado do Instituto deGeociências da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase

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em ensino de ciências, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino fundamental, ensino degeociencias, ensino-aprendizagem, investigações em sala de aula, formação continuada de professores,discursos em sala de aula e trabalhos de campo em ciências naturais.

Nídia Nacib PontuschkaPossui Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade de São Paulo (1962), Mestrado emGeografia (1978) e doutorado em Educação (1994) pela Universidade de São Paulo. É ProfessoraDoutora da Universidade de São Paulo pela Faculdade de Educação e pelo Departamento de Geografia-FFLCH. Tem experiência na área de Educação, com ênfase na Formação de Professores. Atuaprincipalmente nas áreas temáticas de Geografia, Formação do Professor, Estudo do Meio,Interdisciplinaridade, História da Disciplina Geografia e Educação Ambiental. Na atualidade integra aPesquisa: Educação de Adultos Trabalhadores: metodologias de ensino-aprendizagem, itinerário formativoe capacitação de professores. Coordena o Projeto de Estudo do Meio e Formação de Professores daSecretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Guarulhos.

César PegoraroBiólogo e educador ambiental do Instituto Socioambiental (ISA). Participa do Programa de Mananciaisdo ISA.

Atividades Educacionais

Cecília BorelliCecília Borelli é psicóloga, artista plástica e arte-educadora. Desde 1985 desenvolve oficinas,whorks©hops e palestras sobre arte-educação, sempre ligados à qualidade de vida e aos princípiosda ecologia humana. Paralelamente, desenvolve seu trabalho como artista plástica, pesquisandomateriais e incorporando elementos, formas e cores da natureza. Tem realizado instalações eexposições em espaços públicos com temáticas que se propõem sempre a despertar no espectador aconsciência da preciosidade e responsabilidade de ser cidadão do planeta, de ser natureza.Pertence à Rede Mundial de Educação para a Paz e à Biocentric Foundation. Nos últimos anostambém pesquisa e concebe figurinos e objetos cenográficos para músicos, atores e bailarinos. Amúsica está sempre presente em suas oficinas, nas telas e mandalas que pinta e em suasinstalações.

Marco ScarassattiCompositor formado pela Unicamp, durante seu mestrado em Multimeios pela mesma universidade,pesquisou o processo criativo do compositor Walter Smetak, construtor de objetos híbridos que reúnemem si: plasticidade e produção sonora. Professor Doutor pela Unicamp. Cineasta autodidata, seu curta-metragem “A terra do silêncio”, ganhou 12 prêmios entre os anos de 2002 e 2003. Atualmente desenvolvea pesquisa de criação e construção de esculturas e ambientes sonoros, além de atuar também comoprofessor universitário na Faculdade Casper Líbero. Curador da exposição Paisagens Plásticas e Sonoras,exposição que reuniu trabalhos de compositores que na busca de novas sonoridades chegaram a novasformas para o instrumento musical convencional. (Mostra Sesc de Artes/2005 – Sesc Pinheiros, Brasil).

Marcelo BomfimMúsico-compositor formado em Música Popular pela Universidade Estadual de Campinas -Unicamp.Há oito anos realiza coleta em áudio de diferentes ambientes sonoros e estuda vários instrumentos

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(cordas, sopro, percussão, piano e acordeão). Trabalha com composição sonora para teatro de animação(Cia. das Cores – SP, Brasil) e pesquisa na área de construção de objetos sonoros, além de atuar emprojetos de arte-educação com público infantil em instituições e organizações. Trabalhou em projetoscom a Fundação Semco, Senac-RJ, e Unicef.

Carlos Eduardo Alves RochaO Goerr, -Grupo de Operações Especiais de Rápida Resposta foi criado em 03 de março de

2003, com o objetivo de prestar serviços voluntários de primeiros socorros em parques e áreas deacesso público além de proporcionar lazer e campanhas de cunho social não só para a conscientização,mas também para a qualificação técnica de quem se interessa por tais atividades. A estrutura do Goerrfoi idealizada por Marcelo Moura que é o Comte Geral e tem como Sub Comte Geral Carlos EduardoAlves Rocha – (Cabo Rocha) que foi o responsável pelas Expedições Rocha-Cadê o Itororó no CentroCultural São Paulo.

Rita MarquesPedagoga, com especializações em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Educação

Ambiental. É Contadora de Histórias para crianças e adultos há mais de 15 anos. ministra oficinassobre A Arte de Contar Histórias há 4 anos. A partir de junho de 2008 passou a trabalhar no Espaçode Leitura Infanto-juvenil da biblioteca do CCSP.

Fernanda K. Marinho SilvaPossui graduação em Ciências Biológicas (Licenciatura) pela Universidade Estadual de Campinas

(1998) e mestrado em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2002). É doutoranda emEnsino e História das Ciências da Terra pela UNICAMP, onde está desenvolvendo um projeto de formaçãocontinuada de professores. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino-Aprendizagem.

Rachel PinheiroPossui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Campinas (1999) e

mestrado em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (2002) . Tem experiência na áreade História, com ênfase em História das Ciências. É Doutoranda em Ensino e História das Ciências daTerra pela Unicamp.

Tiago Davi Vieira de Soares AquinoEstudante quarto anista do curso de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental, participa

de projetos voltados para área de pesquisa e divulgação científica. Atualmente pesquisa algunsempreendimentos minerários na área urbana do município de São Paulo e sua relação com a comunidadeadjacente.

Denise BacciPossui graduação em Geologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -

UNESP, Campus de Rio Claro (1990), mestrado (1995) e doutorado (2000) em Geociências e MeioAmbiente pela UNESP. Estágios na Università di Milano (1998) e University of Missouri_Rolla (2004).Pós-doutorado em Engenharia Mineral pela POLI-USP (2004). Atualmente é professora doutora doInstituto de Geociências da USP. Tem experiência na área de Mineração e Meio Ambiente, com foco em:pedreiras em áreas urbanas, impactos ambientais, desmontes com explosivos e monitoramentosambientais e sismográficos. Desde de 2007 vem se dedicando à área de Ensino de Geociências eEducação Ambiental.

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Notas

1. WMO, do inglês World Meteorological Organization2. The Great Global Warming Swindle (http://www.channel4.com/science/microsites/G

great_global_warming_swindle/, acessado em 29 de setembro de 2008).3. J. C. Azevedo (2008). “O efeito e a causa”. Folha de S. Paulo, 1º de setembro de 2008.4. J. E. Veiga e P. Vale (2008). “Baixaria sobre o aquecimento global”. Folha de S. Paulo, 25 de setembro de

2008.5. Autoridades do setor de Mudanças Climáticas envolvidas no Curso: membros do IPCC (Painel Intergovernamental

sobre Mudanças Climáticas), OECC (Overseas Environmental Cooperation Center), Ministério do Meio AmbienteJaponês, Departamento de Promoção dos Mecanismos de Kyoto, Instituto Nacional de Agro-Ambiente, Institutode Pesquisa Junkankyo, Universidade de Tohoku, Organização para o Desenvolvimento de Novas TecnologiasIndustriais e Energéticas, Centro de Pesquisas de Florestas e Produtos Florestais do Japão, Centro de Pesquisassobre Meio Ambiente Global, Comitê Financeiro para Energia Limpa, Consultores de diversas instituiçõesinternacionais como Banco Mitsubishi e Pacific Consultants, Membros de órgãos ambientais dos seguintespaíses: Japão, Inglaterra, Índia, Indonésia, China, Ilhas Fiji, Ucrânia, Argentina, Swatzland, Botswana, Moldova,Uzbesquistão, Suriname, Chile, Moçambique, República Dominicana, Guatemala, dentre outros.

6. Em abril de 2009 será realizada a III Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, abordandotambém o tema Mudanças Climáticas.

7. Professor Titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-graduação da Universidade de São Paulo.Coordenador de TEIA-USP Laboratório de Educação e Ambiente

8. Professor de educação e política ambiental na Esalq/USP (Depto. de Ciências Florestais).9. Professora e arte-educadora ambiental. Mestre em Educação pela Universidade de Brasília.10. Documento técnico número 2: Programa de Educomunicação Socioambiental. Órgão Gestor da Política

Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.mma.gov.br. Acesso em 14 de

agosto, 2008.

11. Algumas respostas, que também são perguntas, emergem na sequência: é uma pessoa comprometida com aemancipação da classe trabalhadora ou com a emancipação de todos os seres humanos? É .empreendedor(a), protagonista, líder, um ser humano exemplar, cidadã ou cidadão, uma pessoa que busca, umindivíduo que dialoga com os outros e consigo próprio? É Humanista? Socialista? Anarquista? Democrata?Social-democrata? Democrata-cristão? Liberal? Católico(a)? Protestante? Budista? Taoísta? Esportista?Macrobiótico? Vegetariano? Ciclista? Bem falante? Bom ouvinte, atencioso? Prestativo? Ponderado? .Introspectivo? Extrovertido? Solidário? Cooperativo? Fuma maconha? Consome açúcar? Deve ter no mínimo oensino fundamental completo? Ser alfabetizado? Ter ensino superior? Ter renda mínima? Não ter terra ou

qualquer outra propriedade? Ao final do processo de ensino deve estar habilitado(a) a conduzir reuniões eelaborar projetos e relatórios?

12. 1980, São Paulo, Mesa-redonda Aspectos Geológicos e Geotécnicos da Bacia Sedimentar de São Paulo,ABGE-SBG/SP.

13. SBGeo – Sociedade Brasileira de Geologia.14. ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental.15. Zona saturada é a parte do subsolo cujos espaços vazios estão plenamente preenchidos por água, de onde

resulta o nome saturação.16. Boçoroca - No Brasil, nome que se dá a uma escavação na terra, causada pelo efeito da erosão sobre

solos frágeis, geralmente, arenosos, originada pela combinação entre a erosão superficial esubterrânea. Há boçorocas muito profundas provocadas pelo desmatamento ou pelas construções de

estradas, cidades.17. Os nomes dados às escolas são fictícios.18. A Usina produtora de álcool oferecia maior número de empregos para os trabalhadores da cidade,

mas, de tempos em tempos, passava por graves crises com a dispensa de grande número detrabalhadores, o que interferia na vida social, econômica e educacional da cidade.

19. A Guacho, dedicada à produção de laranja, situada no município vizinho de Santa Cruz do Rio Pardo,atrai trabalhadores de Espírito Santo do Turvo.

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20. 1 m³ = 1 mil litros21. Terra do Silêncio, de Marco Scarassatti. Filme em super-8 (7 minutos) disponível no site:

http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&VideoID=18130707