arte e vida do artista plÁstico erasmo andrade e... · (albert einstein) resumo este trabalho ......
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM ARTES VISUAIS
JOSEANE MARIA LOBO DE MIRANDA
ARTE E VIDA DO ARTISTA PLÁSTICO ERASMO ANDRADE
Orientador: Prof. Dr. Everardo Ramos
NATAL/RN
2016
JOSEANE MARIA LOBO DE MIRANDA
ARTE E VIDA DO ARTISTA PLÁSTICO ERASMO ANDRADE
Memorial de pesquisa apresentado à
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito para integralização do
Trabalho de Conclusão de Curso para
obtenção do título de licenciado em Artes
Visuais.
Orientador: Prof. Dr. Everardo Ramos
NATAL/RN
2016
JOSEANE MARIA LOBO DE MIRANDA
ARTE E VIDA DO ARTISTA PLÁSTICO ERASMO ANDRADE
Memorial de pesquisa apresentado à
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito para integralização do
Trabalho de Conclusão de Curso para
obtenção do título de licenciado em Artes
Visuais.
Aprovado em: ____/____/______.
Banca Examinadora:
_____________________________________________________
Prof. Dr. Everardo Araújo Ramos
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
_____________________________________________________
Prof. Dr. Vicente Vitoriano Marques Carvalho
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
_____________________________________________________
Profa. Dra. Laís Guaraldo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
À minha mãe que sempre me ensinou a me
tornar uma pessoa digna.
Aos meus familiares.
Ao meu marido pelo companheirismo e
incentivo.
A todos que contribuíram para a realização
dessa pesquisa.
Agradecimentos
Agradeço a Deus, por ter concedido minha chegada até aqui, por cuidar de mim
para que eu pudesse ser quem sou, por ter me dado sabedoria, saúde e persistência para
chegar aonde cheguei, debaixo da sua misericórdia, pois sem sua graça eu nada seria.
Agradeço Deus por meus pais, que me deram a vida e possibilitaram que chegasse ao
fim de uma formação acadêmica. Agradeço a Deus por meu marido que, acompanhou
toda minha trajetória com motivações.
Meu respeito e gratidão ao meu orientador Professor Doutor Everardo Araújo
Ramos, por sua didática e paciência, na qual esteve comigo por alguns anos entre
ensinamentos e orientações. Foi mais que um cuidador pelo seu zelo e exigência para
um bom trabalho, com isso, instigando meu crescimento profissional, creio que esse
trabalho, sem seus olhares críticos, não atingiria esse nível.
À Marilha Brizolara, pela amizade, pelos incansáveis incentivos e contribuições.
Ao professor e artista plástico Erasmo Andrade, por me inspirar.
Aos colegas de turma e aos amigos de estudo que me acompanharam durante
esse duro e agradável período acadêmico. Lembro-me dos momentos de descontrações
em que nos reuníamos e nos divertíamos, essa companhia fez toda diferença nessa faze
de conhecimentos.
Aos professores: Adriano Charles Da Silva Cruz, Eduardo Anibal Pellejero,
Erasmo Costa Andrade, Everardo Araújo Ramos, Fábio Oliveira Nunes, Izolda Costa
Fernandes, José Guilherme Da Silva Santa Rosa, José Jarbas Martins, José Veríssimo
De Sousa, Juarez Alves Torres, Laurita Ricardo de Salles, Leonardo Jorge Brasil de
Freitas Cunha, Lisabete Coradini, Luciano Cesar Bezerra Barbosa, Luiza Maria
Nobrega, Márcia Cristina Dantas Leite Braz, Maria Adeilza Pinheiro Da Silva, Maria do
Mar Vazquez y Manzano, Maria do Socorro de Oliveira Evangelista, Maria Helena
Braga e Vaz da Costa, Mônica da Silva Lima Campos, Nivaldete Ferreira da Costa,
Olavo Fontes Magalhães Bessa, Pedro Germano Moraes Cardoso Leal, Sandra Lúcia
Paris, Terezinha Martins da Silva, Vera Lourdes Pestana da Rocha, Verônica Maria
Fernandes de Lima Costa, Vicente Vitoriano Marques Carvalho, Wani Fernandes
Pereira, que com seus saberes contribuíram para minha formação como profissional e
como pessoa.
“A mente que se abre a uma nova ideia
jamais voltará ao seu tamanho original.”
(Albert Einstein)
RESUMO
Este trabalho apresenta a vida e a obra do artista plástico e professor Erasmo
Costa Andrade, em suas dimensões históricas, técnica, temática, poética e estética.
Erasmo Andrade, nascido no Rio Grande do Norte em 1949, é um artista que pinta seu
passado e seu presente numa poética de devaneios e realidades, explorando temas
regionais e imaginários que contam toda sua trajetória de vida, em um estilo pessoal
profundamente inspirado pela Arte Moderna. Trata-se de uma pesquisa no campo
teórico das Artes, mais particularmente da arte do Rio Grande do Norte, que visa
contribuir para um maior conhecimento de um importante artista local, servindo a
pesquisadores, professores, apreciadores, críticos de arte, entre outros. Também é de
interesse que este trabalho incentive pessoas a pesquisarem artistas norte-rio-
grandenses, a fim de preencher as lacunas que ainda existem em relação à história da
arte potiguar.
Palavras-chave: Erasmo Andrade. Arte potiguar. História da arte potiguar. Arte
brasileira.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Carlos José. Título desconhecido. .................................................................... 71
Figura 02 - Carlos José. Título desconhecido. .................................................................... 71
Figura 03 - Yara Tupinambá. Momento artístico. ............................................................... 71
Figura 04 - Yara Tupinambá. Balão sobre a cidade ........................................................... 71
Figura 05 - Retrato do Amor Quando jovem ....................................................................... 72
Figura 06 - Sanfoneiro ......................................................................................................... 72
Figura 07 - Vaso com Girassóis e Borboletas ..................................................................... 72
Figura 08 - Vincent van Gogh - Doze Girassóis ................................................................. 72
Figura 09 - Anjo Músico com Violino .................................................................................. 73
Figura 10 - Enterro de Anjo ................................................................................................. 73
Figura 11 - Músico Melancólico .......................................................................................... 73
Figura 12 - O Néctar ............................................................................................................ 73
Figura 13 - Primeira Comunhão ......................................................................................... 73
Figura 14 - Anjos Músicos de Sabará .................................................................................. 73
Figura 15 - A Piedade .......................................................................................................... 74
Figura 16 – Michelangelo - A Pietá..................................................................................... 74
Figura 17 - Anjo Sedutor ..................................................................................................... 74
Figura 18 - Vaso com Flores de Ingá .................................................................................. 74
Figura 19 - Cabeça de Paixão ............................................................................................. 75
Figura 20 - Composição Geométrica na Paisagem Vertical ............................................... 75
Figura 21 - Anjos Músicos II ............................................................................................... 75
Figura 22 - Nascimento de Rudá ......................................................................................... 75
Figura 23 - Vidas Passadas, Lugares Enigmáticos ............................................................. 76
Figura 24 - São Francisco Transfigurado em Fundo Azul .................................................. 76
Figura 25 - A Hora de Judas ............................................................................................... 76
Figura 26 - Composição com Objetos e Frutas ................................................................... 76
Figura 27 - Composição com Violão e Cabeça de Arlequim .............................................. 77
Figura 28 - Menino na Serra Verde ..................................................................................... 77
Figura 29 - Mulher da Serra Verde ..................................................................................... 77
Figura 30 - Objetos de Judas ............................................................................................... 77
Figura 31 - Passagem Secreta ............................................................................................. 78
Figura 32 - Projeção da Alma ............................................................................................. 78
Figura 33 - Sem título .......................................................................................................... 78
Figura 34 - Paul Gauguin - O Cristo Amarelo .................................................................... 78
Figura 35 - O Garimpo I ...................................................................................................... 79
Figura 36 - Serra Verde ....................................................................................................... 79
Figura 37 - Passagem Secreta II.......................................................................................... 79
Figura 38 - Paul Gauguin .................................................................................................... 80
Figura 39 - Paul Gauguin - O Cão Vermelho ...................................................................... 80
Figura 40 - Prancha I .......................................................................................................... 80
Figura 41 - Prancha II ......................................................................................................... 80
Figura 42 - Prancha III ........................................................................................................ 81
Figura 43 - Prancha IV ........................................................................................................ 81
Figura 44 - Sereias ............................................................................................................... 81
Figura 45 - Barco à Deriva.................................................................................................. 82
Figura 46 - Paisagem Bucólica ........................................................................................... 82
Figura 47 - Sem título .......................................................................................................... 82
Figura 48 - Santa Terezinha de Lisieux ............................................................................... 83
Figura 49 – Imagem de Santa Terezinha de Lisieux ........................................................... 83
Figura 50 - Morte do Amor .................................................................................................. 83
Figura 51 - Figura no Leito da Serra Azul .......................................................................... 83
Figura 52 - Fruteira com Cajus ........................................................................................... 84
Figura 53 - Fruteira, Folha e Fruta .................................................................................... 84
Figura 54 - Mulher na Festa de Sant'Ana de Caicó I .......................................................... 84
Figura 55 - Mulher na Festa de Sant'Ana de Caicó II......................................................... 84
Figura 56 - Mulher na Paisagem Geométrica ..................................................................... 85
Figura 57 - Mulher no Carnaval de 1958 em São Tomé ..................................................... 85
Figura 58 - Mulher Recostada na Cadeira .......................................................................... 85
Figura 59 - No Sepultamento de Maria ............................................................................... 85
Figura 60 - Rapaz na Ponta Negra ...................................................................................... 86
Figura 61 - O flagelo no Sepultamento de Maria ................................................................ 86
Figura 62 - O Músico VI ...................................................................................................... 86
Figura 63 - O Músico VII. .................................................................................................... 86
Figura 64 - Sem título. ......................................................................................................... 87
Figura 65 - Figura com Estigma I ....................................................................................... 87
Figura 66 - Saliva de Sangue ............................................................................................... 87
Figura 67 - Caju da Juventude ............................................................................................ 87
Figura 68 - Figura com Estigma ......................................................................................... 88
Figura 69 - Figuras na Ponta Negra em 1980..................................................................... 88
Figura 70 - Figura de um Carnaval de 1957 I em São Tomé .............................................. 88
Figura 71 - Folhagem da Década de 1960 .......................................................................... 88
Figura 72 - Folhagem e Caju da Década de 1960 .............................................................. 89
Figura 73 - Maria aos 18 Anos II ........................................................................................ 89
Figura 74 - Minha Aldeia em Noite de São João na Década de 1958 ................................ 89
Figura 75 - Noite sem Fim ................................................................................................... 89
Figura 76 - O Acrobata do Circo Borborema. .................................................................... 90
Figura 77 - O Leitor das Cartas Embaralhadas. ................................................................. 90
Figura 78 - O Vendedor de Ilusões I.................................................................................... 90
Figura 79 - O Vendedor de Ilusões II .................................................................................. 90
Figura 80 - Olho de Lince sobre a Paisagem de Ventos ..................................................... 91
Figura 81 - Composição com Vaso de Matéria Sentimental ............................................... 91
Figura 82 - A Aldeia, a Caverna e Eu.................................................................................. 91
Figura 83 - A Aldeia, a Paixão e Eu .................................................................................... 91
Figura 84 - Anjos Músicos IV .............................................................................................. 91
Figura 85 - Centauro e a Serpente ...................................................................................... 92
Figura 86 - Centauro na Pedra do Navio ............................................................................ 92
Figura 87 - El Ángel de La Luna I ....................................................................................... 92
Figura 88 - El Ángel de La Luna II ...................................................................................... 92
Figura 89 - Figura de um Carnaval em São Tomé de 1957 II ............................................ 93
Figura 90 - Rapaz de um Bloco de Carnaval de 1957 em São Tomé .................................. 93
Figura 91 - Paisagem D'Água ............................................................................................. 93
Figura 92 - Cajus da década de 60 ...................................................................................... 94
Figura 93 - Fruteira e frutas ................................................................................................ 94
Figura 94 - Casal Caminhando para a Torre ...................................................................... 94
Figura 95 - Construção Geométrica .................................................................................... 94
Figura 96 - Composições com Cajus e Folhagens .............................................................. 95
Figura 97 - Mulher Azul ...................................................................................................... 95
Figura 98 - Figura Olhando para o Nada ........................................................................... 95
Figura 99 - O Anoitecer Visto de uma Torre ....................................................................... 95
Figura 100 - O Ilusionista .................................................................................................... 96
Figura 101 - Vaso com Flores, Conchas e Sementes de Ponta Negra ................................ 96
Figura 102 - Vaso com Flores Espirituais ........................................................................... 96
Figura 103 - Vaso sobre mesa ............................................................................................. 96
Figura 104 - Figura na Paisagem Sideral da Memória D'Agua Marinha .......................... 97
Figura 105 - Figura Observando Objeto no Espaço Sideral............................................... 97
Figura 106 - Nossa Senhora da Conceição ......................................................................... 97
Figura 107 - Anjo Músico da Aldeia Azul ........................................................................... 97
Figura 108 - Figura de Palhaço no Camarim II ................................................................. 98
Figura 109 - O Desterro da Minha Aldeia .......................................................................... 98
Figura 110 - A Mulher Azul II ............................................................................................. 98
Figura 111 - Os Olhos da Cabra Verde de Barcelona II .................................................... 98
Figura 112 - Jardins do Sertão ............................................................................................ 99
Figura 113 - Bule e Frutas Levitando .................................................................................. 99
Figura 114 - Natureza Morta com Bule ............................................................................... 99
Figura 115 - Os Namorados ................................................................................................ 99
Figura 116 - Vicente van Gogh - O quarto do Artista em Arles ....................................... 100
Figura 117 – Chagall - O Olho Verde ............................................................................... 100
Figura 118 – Chagall - O Casal da Torre Eiffel ................................................................ 100
Figura 119 - Erasmo Andrade em primeira comunhão ..................................................... 100
Figura 120 – Sadi Andrade ................................................................................................ 101
Figura 121 - Convite da Exposição: Oiticica Mágica ....................................................... 101
Figura 122 – Paul Klee – Flora on Sand ........................................................................... 101
Figura 123 – Convite da Exposição: Olhos Verdes ........................................................... 101
Figura 124 - Convite da Exposição: Melancólica Travessia ............................................. 102
Figura 125 – Convite da Exposição: Porta Joias de Cores ............................................... 102
Figura 126 - Convite da Exposição: O Ilusionista ............................................................ 102
Figura 127 - Gráfico I - Quantidade de figuras com formas geométricas presentes nas
obras de Erasmo Andrade .............................................................................. 53
Figura 128 – Círculo Cromático – Esquema Triádico ......................................................... 61
Figura 129 - Círculo Cromático – Esquema Complementar ............................................... 61
Figura 130 - Círculo Cromático – Cores Quentes e Frias ................................................... 62
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12
1. VIDA E TRAJETÓRIA ARTÍSTICA
1.1. O MENINO DO INTERIOR .................................................................................... 15
1.2. ENTRE RELIGIÃO E ARTE................................................................................... 16
1.3. A HISTÓRIA DO ARTISTA ................................................................................... 18
2. CRIAÇÃO E ARTE ...................................................................................................... 20
2.1. DOS MATERIAIS E DAS TÉCNICAS .................................................................. 20
2.2. DOS TEMAS ............................................................................................................ 24
2.2.1. TEMAS E SÍMBOLOS NA OBRA DE ERASMO ANDRADE ...................... 28
2.2.1.1. PRESENÇA E AUSÊNCIA MATERNA .................................................... 29
2.2.1.2. O APEGO ÀS RAÍZES ................................................................................ 32
2.2.1.3. A MARCA DA RELIGIOSIDADE ............................................................. 36
2.2.1.4. EXPRESSÕES DE SENSUALIDADE ........................................................ 41
2.2.1.5. IMAGINÁRIO E FANTASIA ..................................................................... 43
2.3. DAS FORMAS ......................................................................................................... 46
2.3.1. INFLUÊNCIA MODERNISTA ......................................................................... 46
2.3.2. A COMPOSIÇÃO .............................................................................................. 49
2.3.3. O DESENHO ...................................................................................................... 51
2.3.4. A COR ................................................................................................................ 57
2.3.3.1. A COR AZUL .............................................................................................. 61
3. CONCLUSÃO. ............................................................................................................... 64
4. CURRÍCULO EM ARTE DE ERASMO ANDRADE ............................................... 66
5. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 69
6. FIGURAS ....................................................................................................................... 71
7. PLANILHA .................................................................................................................. 103
12
INTRODUÇÃO
Este trabalho corresponde a uma pesquisa desenvolvida no âmbito da História da Arte
potiguar e no campo teórico das artes visuais. Apresenta o resultado de um estudo sobre a
vida e a obra do artista plástico e professor Erasmo Costa Andrade, analisando sua trajetória e
suas obras, desde a formação inicial até os dias de hoje, passando pelas influências, estudos e
modelos que permitiram esse percurso.
O projeto de estudar a vida e a obra de Erasmo Andrade nasceu dos conhecimentos
adquiridos durante o curso de Licenciatura em Artes Visuais (CLAV) do Departamento de
Artes (DEART) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), principalmente
em disciplinas teóricas como História das Artes, ministradas pelo professor Everardo Ramos,
e Fundamentos da Linguagem Visual, ministrada pelo professor e artista Erasmo Andrade.
Meu envolvimento com o Projeto Arte na Escola – Polo RN, de que fui bolsista por alguns
anos, também me incentivou muito nesse sentido, principalmente no âmbito do Projeto
Artistas Atuantes no RN no Século XXI, em que contribui com a edição de um vídeo para
este projeto, através de uma entrevista audiovisual com o artista Erasmo Andrade, descobri ali
meu objeto de estudo para este trabalho.
Os objetivos foram aprofundar meus conhecimentos sobre a vida e a arte de Erasmo
Andrade, contribuindo para os que desejarem conhecer mais sobre Erasmo Andrade, sejam
eles professores, estudantes de artes, críticos e admiradores em geral. Para que tomem
conhecimento da vida e da obra de um artista que vem, com sua arte, valorizando o acervo
imagético potiguar. Assim, perceber-se que não só os Grandes Mestres da Pintura,
inacessíveis, merecem ser estudados, mas também é possível aprender, conhecer e apreciar a
arte de um artista local, que atua e cria mais perto de nossas realidades.
Atualmente, a arte do Rio Grande do Norte necessita de um estudo amplo, de modo
que sejam inseridos aspectos sobre a vida e a obra de artistas que vêm contribuindo
historicamente para o desenvolvimento das artes locais. De fato, a escassez de monografias
sobre o assunto prejudica os pesquisadores em potencial que procuram saber mais sobre esses
artistas, seja para estudos escolares, para concursos na área artística ou para a crítica de arte.
Isso é, aliás, uma regra no Brasil, onde a História da Arte vem investindo no estudo de artistas
dos grandes centros hegemônicos, enquanto que aqueles que se encontram nos centros
13
periféricos dificilmente constam em livros e manuais. É preciso que se quebre essa lógica,
permitindo que esses saberes também sejam aprofundados em torno da arte e dos artistas de
centros menores, fazendo-os reconhecíveis no cenário artístico nacional e internacional.
No caso de Erasmo Andrade, artista que já possui um percurso consolidado e um
nome conhecido no campo da arte potiguar, as raras reflexões disponíveis se limitam a alguns
relatos sucintos, como os de Caldas (1989) e Almeida (2001) além do trabalho feito pelo
Projeto Artistas Atuantes no RN no Séc. XXI – ARTERN, sob a Coordenação da Prof.ª Dra.
Nivaldete Ferreira, em 2012. Portanto, o presente trabalho pretende preencher as lacunas que
ainda existem no conhecimento sobre esse artista e sobre suas obras, dando suporte também
para um melhor entendimento da arte no RN.
Para o processo de levantamento biográfico, além de pesquisas sobre temas
relacionados ao assunto, como as citadas acima, o processo foi constituído por etapas. Em um
primeiro momento, tive acesso ao acervo do Projeto Artistas Atuantes no RN no Séc. XXI, do
qual participei como colaboradora de pesquisa. Nesse acervo, em particular, me detive em um
vídeo gravado com um pequeno depoimento de Erasmo Andrade e algumas imagens de suas
obras. Num segundo momento foi realizada uma entrevista com o artista, no Departamento de
Artes da UFRN, em que falou sobre sua vida e carreira artística a partir de um questionário
que eu tinha lhe entregado anteriormente, para que em sua fala não faltassem as informações
necessárias a essa pesquisa.
Meu contato com Erasmo, de certa forma, foi facilitado pelo fato de ele lecionar no
Departamento de Artes da UFRN até o ano de 2014, na qual estive com ele algumas vezes
para tirar dúvidas e complementar informações em conversas informais. Para algumas dessas
abordagens, como fiz na primeira entrevista, já levava questões elaboradas previamente ou
solicitações impressas. Esses encontros nem sempre foram fáceis e suficientes para suprir
minhas dúvidas, pois, algumas vezes, ele se encontrava indisposto a atender a solicitações de
registros que pudessem enriquecer ainda mais esse trabalho. Isso também explica a falta de
acesso a seu ateliê e, consequentemente, a registros de imagens das obras que encontram-se
com ele, bem como às imagens das obras realizadas em 2015, sendo essas adquiridas através
da internet.
Depois, fiz o registro imagético das obras a serem analisadas de diversas maneiras:
fotografias das obras em exposição ou escaneadas de folders de exposições (Oiticica Mágica;
14
Olhos Verdes; Melancólica Travessura; Porta-joias de Cores; O Ilusionista); imagens de
livros (ALMEIDA, 2001) e da dissertação de Mestrado realizada por Erasmo Andrade
(ANDRADE, 2005). Também obtive imagens dos arquivos do Projeto Artistas Atuantes no
RN no Séc. XXI, do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN (NAC), dos arquivos particulares de
Dejardiere Maria Freitas Lima que, no ano de 2012 era Secretária da Coordenação do
Departamento de Artes da UFRN. Algumas imagens foram cedidas pelo próprio artista ou
obtidas através de pesquisas na internet.
É importante ressaltar como foi elaborada a legenda das imagens das obras de Erasmo
Andrade: nome do autor (se este não for Erasmo Andrade), tema da obra, ano, técnica,
dimensão, acervo (quando se teve o conhecimento de seu destino), fonte. As legendas sem
fonte foram fotografadas ou escaneadas pela autora e as informações que não foram possíveis
coletar estarão com a indicação [?].
As imagens e a planilha contidas aqui, embora estejam agrupadas como apêndices ao
final desse trabalho, não correspondem a meros apêndices, mas a partes integrantes e
fundamentais dessa pesquisa, como corpo de análise, indispensáveis para o estudo e
entendimento desse Trabalho de Conclusão de Curso. As imagens foram colocadas juntas
para não haver o desconforto de repetição no texto, já que algumas imagens são comentadas
mais de uma vez. Nessa lista há duas categorias: um conjunto de obras de Erasmo, colocadas
em ordem cronológica, a fim de expor a evolução de seu fazer artístico, e obras de outros
artistas, a fim de comparação e complemento das análises. A planilha indica o nome das obras
dispostas em ordem cronológica contendo também uma lista de elementos que se repetem no
conjunto dessas obras, para facilitar a análise iconográfica.
É considerável informar que não se tem registros de muitas das obras de Erasmo
Andrade de períodos mais antigos, como as produzidas durante a infância, o seminário e a
Escola de Belas Artes. Por outro lado, muitas obras de sua faze adulta estão em mãos de
colecionadores particulares e se desconhece seu destino. Afirma o artista que antigamente não
era comum fazer uso da máquina fotográfica para registro de seus trabalhos. Hoje podemos
lamentar a falta que esses arquivos fazem para saciar nossa sede de pesquisa.
A etapa seguinte referiu-se às análises dos dados e dos materiais reunidos. Começando
pelo estudo da vida de Erasmo Andrade, percorreu-se sua trajetória, procurando entendê-la
15
dentro de um contexto histórico, social e cultural. Em seguida, foi feita a análise de suas
obras, levando em consideração critérios técnicos (tinta a óleo, acrílica, guache, entre outras),
iconográficos (temas abordados) e formais (como a forma é trabalhada: composição, desenho,
volume, cor, luz, espaço, anatomia). Com isso, o estudo da vida e da obra desse artista
permitiu inseri-lo no contexto mais amplo do cenário artístico potiguar, contribuindo para a
definição do seu lugar e a análise de sua importância para a História da Arte local. E os
resultados deste esforço estão apresentados nas páginas que seguem.
16
1. VIDA E TRAJETÓRIA ARTÍSTICA
1.1. O MENINO DO INTERIOR
Erasmo Costa Andrade nasceu em 1949, em São Tomé, cidade da região Agreste do
Rio Grande do Norte, tendo como pais Maria Costa Andrade e Sadi Andrade. Sua avó
materna era Josefa Regina de Andrade, proprietária do Hotel São Francisco, na Rua Rio
Branco, número 62, sempre em São Tomé. Então, aos seis anos de idade Erasmo passou a
morar com essa avó, pelo motivo de seus pais terem que se mudar para a fazenda Pedra do
Navio, na região rural do município de São Tomé. Conta Erasmo que sua avó, sua mãe e
provavelmente, grande parte das mulheres desse período eram analfabetas, tendo sido
impedidas pelos pais de estudar para não trocarem cartas com os namorados, entre outras
coisas. Desse modo, sua avó era muito dedicada e incentivava muito o estudo do neto,
deixando-o ficar com ela para que estudasse, já que tinha idade para isso.
Logo, iniciou sua formação educacional no Grupo Escolar Amaro Cavalcanti, em São
Tomé, onde fez o curso primário. Tinha, então, aulas de Artes com a professora Francisquinha
Miranda, que aplicava uma metodologia focada no artesanato e na criação artística livre, sem
orientações.
Desde cedo, Erasmo já mostrava habilidades para a arte, tornando-se popular entre as
outras crianças por desenhar com carvão, nas calçadas de cimento de sua cidade
(principalmente na Rua Barão do Rio Branco), os personagens e trechos das histórias de
filmes e dos seriados, como Durango Kid e suas aventuras de cowboys, Flash Gordon e seus
heróis espaciais ou ainda O Gavião e a Flecha, Tarzan e A Mulher Leopardo, entre outros.
Essas sequências de histórias eram assistidas no cinema popular local, pois nessa época
apenas uma ou duas famílias da cidade dispunham de acesso à televisão: no final da década de
1950 para 1960, o meio de comunicação mais comum ainda era o rádio. Por causa disso, o
cinema era muito importante nesse tempo, uma das poucas formas de conhecer o mundo lá
fora, e por sinal, bem divertidas!
Erasmo sempre volta ao passado para contar de sua infância e tem prazer em lembrar a
frase do poeta Edgar Allan Poe (1809-1849), que o acompanha e parece ser um resumo do
17
que foi nos seus tempos de criança: “Não fui, na infância, como os outros e nunca vi como os
outros viam”. Como interpretar essa frase? Entendemos que o artista é consciente de que sua
capacidade de, ainda criança e na primeira fase de sua arte, despertar o interesse dos colegas
com interpretações inusitadas daquilo que era comum entre eles (filmes e seriados) já fazia
dele um menino diferente. As outras crianças também assistiam aos filmes e seriados
cinematográficos; entretanto, isso não lhes possibilitava uma interpretação artística tão
marcante, como ocorria com Erasmo. Este, sim, via e interpretava estas imagens de forma a
surpreender seus colegas, colocando em seus desenhos todo seu sentimento, reproduzindo as
cenas dos filmes conforme sua própria visão. Isso explicaria o “não ver como os outros viam”,
revelando ainda a qualidade de sonhador, bem típica de sua personalidade.
Ele também gostava de contemplar e desenhar os festejos populares locais, pois se
distraia observando as pessoas, o ambiente ao seu redor e as formas que os objetos possuíam;
atitude esta que já revelava os caminhos que trilharia no exercício de sua criatividade,
revelando, no autodidata que era, o modo como representava sua arte.
Erasmo revela que, em sua família, a única pessoa que mostrava habilidade para a arte
era sua mãe, que fazia artesanato doméstico com bastante frequência, especialmente o
bordado e o crochê. Ela foi também seu primeiro exemplo de criatividade. Naquele tempo as
crianças deviam levar desenhos já prontos para colorir nas aulas de arte; no caso de Erasmo,
em vez de recortar uma imagem de algum impresso, sua mãe desenhava no caderno do filho,
para ele colorir na escola. Ele diz que, além do estímulo e do exemplo de sua mãe, o gosto
pela arte surgiu de si mesmo, pois sendo ainda criança e sem conhecimentos teóricos, pensou
que esse fazer, ingênuo e autodidata, poderia ser um veículo para retratar seu modo de ver e
representar as coisas, expressando sua realidade.
1.2. ENTRE RELIGIÃO E ARTE
Na maioria das cidades de interior, grande parte da população é constituída por
católicos praticantes. Portanto, é comum que meninos participantes da vida católica, que
tenham formações prévias para esses rituais e que atinjam a idade mínima de sete (07) anos de
idade, tornem-se coroinhas, com a função de estar a serviço do altar e do próximo. Foi o caso
18
de Erasmo Andrade que, aos sete (07) anos, exerceu a função de coroinha da igreja de São
Tomé.
Essa experiência dentro da Igreja, participando dos ritos católicos, entendendo suas
funções e deveres de maneira tão ativa, marcaria muito Erasmo, a ponto de fazê-lo querer
seguir a vida religiosa. Assim, aos catorze (14) anos de idade, deixou sua cidade do interior
para morar na capital, em Natal, onde passou a estudar no Seminário de São Pedro, na
Avenida Campos Sales, número 850, no Bairro do Tirol (Natal/RN). Ficaria aí até o ano de
1967.
Rapidamente, no entanto, ele se deu conta de que não tinha vocação para ser padre. Na
verdade, segundo seu próprio relato, sua ida ao Seminário parece ter sido muito mais um
pretexto para mudar de realidade. Pois, apesar do amor que nutria por sua cidade de
nascimento, percebeu que ela tinha pouco a lhe oferecer. Seus ares eram melancólicos e
monótonos, deixando-o entediado. Deduziu, então, que no seminário poderia encontrar a
oportunidade que tanto almejava: expandir-se e conquistar novos projetos, se dedicando com
mais empenho à arte.
No Seminário de São Pedro, foi preparada uma pequena sala destinada àqueles que
quisessem se dedicar às atividades artísticas e Erasmo logo começou a se utilizar dessa sala
para pintar, incentivado por um colega seminarista chamado Carlos José Marques de
Carvalho1, que já tinha certa experiência com a pintura (figs. 01 e 02). Erasmo encantou-se
com as cores fortes e carregadas de vida das pinturas de seu colega, a ponto de considerá-la
fauvista2. O artista diz, em conversa informal, ter gostado da proposta dessa sala artística
porque possibilitou sua dispensa no futebol.
Nesse ambiente artístico não aconteciam aulas, era como se fosse um grupo de
pesquisa em que os colegas conversavam e trocavam ideias e às vezes consultavam livros de
arte. Segundo o artista, aconteceu de um colega levar um livro com pinturas de Gauguin, o
que era proibido pelo regulamento do seminário, porque era considerado um livro profano, o
tipo de pintura que um seminarista poderia ver era apenas a sacra. Entretanto, logo se percebe
que aquelas imagens despertaram em Erasmo o desejo de criar.
1 Carlos José Marques nasceu em 1946, em Bom Jesus, interior do Rio Grande do Norte. Pintor nordestino desde
1964. Fonte: Soares, 2013. 2 Fauvista é um adjetivo derivado da palavra Fauvismo, movimento francês do início do século XX, embora não
só tenha sido os fauvistas a usarem as cores chapadas e puras.
19
1.3. A HISTÓRIA DO ARTISTA
Após o período do seminário, Erasmo Andrade continuou sua formação na Escola
Estadual Winston Churchill, situada na Cidade Alta, em Natal/RN. Fez aí o científico, de
1968 a 1972, preparando-se para o curso de medicina. Não se identificando com essa área,
eliminou a possibilidade de seguir na profissão de médico. Decidiu, então, graduar-se em
Serviço Social, fazendo o curso na UFRN, em 1974 a 1978. Seu gosto era fazer o curso de
Artes, mas conta que ainda não era oferecido.
Vale salientar que, mesmo longe do meio artístico e sem uma orientação formal,
Erasmo nunca deixou de pintar. Nessa época, não havia, em Natal, escolas ou cursos
profissionalizantes de artes, o que impedia uma formação acadêmica nessa área. Por isso o
artista considera que foi um autodidata do período da infância à primeira juventude, época em
que não teve quaisquer orientações voltadas para a teoria e para uma prática mais
especializada em artes.
Esse processo de autoinstrução acabou em 1978, quando Erasmo, logo após ter
concluído o curso de Serviço Social, ingressou na Escola de Belas Artes - EBA, da
Universidade de Minas Gerais - UFMG, em Belo Horizonte. Como Erasmo era um dos
melhores artistas que existiam no Rio grande do Norte, foi convidado pela UFRN para fazer
um curso de aperfeiçoamento com duração de um (01) ano na EBA, com isso tornar-se
professor de Educação Artística.
Na Escola de Belas Artes, incorporou novas técnicas, fazendo o curso de
aperfeiçoamento em gravura em metal e em pintura, esta última se tornando a área de seu
maior interesse. Fez aulas de Pintura I (aquarela e guache) e Pintura II (óleo sobre tela) com a
Professora Madu e com o Professor Clébio Maduro. Esse curso teve duração de um ano,
durante o qual estudou com alunos regulares da instituição e conheceu pessoas importantes
como a artista plástica Yara Tupynambá3 (figs. 03 e 04), entre outros. Diz o artista que diante
desse aprendizado sua arte deu um salto considerável, porque proporcionou-lhe mais
confiança nas suas construções.
3Yara Tupynambá (Montes Claros, MG, 1932). É pintora, gravadora, desenhista, muralista e professora. Seus
temas são usualmente voltados para a história de Minas Gerais. Fonte: Tv Tropical, Programa Retratos,
entrevista: Lúcio Flávio, 2013.
20
Nesse curso, a professora de aquarela Madu tinha um grupo de teatro de bonecos,
coordenado pelo artista Álvaro Apocalipse, cujos componentes eram quem confeccionavam
os bonecos. Erasmo participou desse grupo de estudo, estudando seus movimentos e suas
roupagens, assim como participou de oficinas/aulas e assistia às apresentações desses
bonecos, em que esses fazeres “[...] casou com aqueles bonecos que eu tinha visto na infância,
articulados, que abriam boca, fechavam boca, arregalavam os olhos [...]” (entrevista à autora
em 15/03/2013).
Depois dessa experiência em Belo Horizonte, ainda em 1978, Erasmo Andrade veio
integrar-se à equipe de professores do Departamento de Artes, do Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Como professor
de Educação Artística dessa instituição, lecionou disciplinas como as de Pintura, Composição
Artística, Evolução das Artes Visuais, Desenho Criativo e Fundamentos da Linguagem
Visual. Erasmo afirma que se interessou pela área do ensino por desejo de aprender e ensinar
a linguagem da Arte.
Na UFRN, também prosseguiu sua formação, concluindo o Mestrado em Letras pelo
Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, em 2005, no Departamento de Letras
da UFRN, com a dissertação intitulada: Tapete de memória: abstração da linguagem
artística, orientado pelo Prof. Dr. Francisco Ivan da Silva. Essa dissertação, como dito na sua
introdução, vem resgatar os valores psicossociais e culturais de sua terra e seus personagens,
vividos em São Tomé e Belo Horizonte, revelando momentos de agonia e êxtase, através de
seus desenhos e pinturas. Erasmo Andrade iniciou o Doutorado no Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Linguagem e Literatura Comparada, preparando uma tese
intitulada: Marc Chagall e a arte das dobras, sob a orientação do Prof. Dr. Francisco Ivan da
Silva. Durante seu percurso artístico, ele participou de várias exposições, tanto coletivas
quanto individuais, bem como artista e como curador, tendo recebido vários prêmios por suas
obras (vide resumo biográfico no final desse trabalho).
21
2. CRIAÇÃO E ARTE
Para se estudar a arte de qualquer artista é preciso levar em consideração os aspectos
técnicos, iconográficos e estilísticos de suas obras. Isso permite analisar a maneira como um
artista trabalha, como ele escolhe suas ferramentas e seus materiais plásticos, como surgem as
ideias que põe em execução, que temas ele explora, que argumentos defende através de suas
formas, quais são as características marcantes que ele deixa como legado, em suma, explorar
os diferentes elementos relativos à prática e à criação artística. E é esse caminho que
passamos a seguir agora, analisando as técnicas, os temas e símbolos e as formas relacionados
à arte de Erasmo Andrade.
2.1. DOS MATERIAIS E DAS TÉCNICAS
Sabe-se que todas as técnicas de pintura têm suas características particulares e que
cada pintor se identifica com algumas delas para aplicá-las em seus trabalhos. Um pintor
quando a(s) escolhe, estabelece um conceito, considerando a mensagem e o modo de como
deseja se comunicar com seus espectadores.
As técnicas utilizadas por Erasmo Andrade estão relacionadas às experiências de sua
trajetória de vida e artística. Quando começou o seu despertar para a arte? “Surgiu na minha
infância, em São Tomé, quando comecei a desenhar nas calçadas de cimento bruto, desenhava
para os meninos da minha idade [...]” (entrevista à autora em 15/03/2013). Desde cedo,
portanto, Erasmo teve necessidade de mostrar sua arte, sem se sentir intimidado em desenhar
ali mesmo, numa calçada, um suporte imediato, realizando uma espécie de “arte efêmera”, já
que o carvão, seu principal instrumento naquele momento, apagava-se com o tempo. Utilizava
o carvão porque, provavelmente, era um material muito comum nas atividades domésticas da
comunidade interiorana daquele tempo, já que a maioria das famílias possuía fogão à lenha. O
carvão tornou-se, assim, o principal mediador entre ele e suas ideias artísticas, enquanto a
calçada era o suporte de seus desenhos.
22
Nesse período da infância, Erasmo também usava cadernos de desenho, onde reunia
suas primeiras obras feitas com lápis de cor e grafite, expressando, através de composições
ingênuas, suas vivências do cotidiano e suas emoções. Esses cadernos eram uma espécie de
portfólio, utilizados também nas tarefas escolares. Infelizmente, hoje esses registros não mais
existem, como afirma o artista.
Ele afirma também que no período em que esteve no seminário, entre os 14 e os 18
anos, fez muito uso da tinta óleo, como na obra Retrato do Amor Quando jovem, de 1966 (fig.
05). Já os suportes para suas pinturas, nessa época, eram elaborados por ele mesmo, a partir
de tábua de madeira revestida de tecido, cuja superfície era preparada com uma demão
espessa de tinta branca. Atualmente, Erasmo trabalha com vários outros suportes, como tela,
eucatex, cartão e papel, sendo o primeiro suporte, a tela, o que mais usa.
Erasmo relata ainda que, quando foi para a Escola de Belas Artes da UFMG, teve a
oportunidade de alargar seu campo de atuação artística. Nas muitas atividades e possibilidades
de práticas de pintura que eram oferecidas nessa escola, as técnicas que mais lhe interessaram
foram as da tinta a óleo, da tinta guache e da aquarela.
Mas foi com a tinta a óleo que Erasmo mais se identificou, como ele mesmo diz e
como podemos comprovar através dessa pesquisa, constatando que a grande maioria das suas
obras são produzidas com este material, pincipalmente, as mais atuais (ver planilha no fim do
trabalho). Como se sabe, a tinta a óleo conquistou seu espaço na pintura por volta do Século
XVI, sendo aplicada na tela em camadas superpostas, para se conseguir um efeito especial de
brilho e transparência. É uma tinta que tem morosidade na secagem, o que possibilita ao
artista aperfeiçoar o trabalho, modificando a aparência da imagem mesmo dias depois de se
ter iniciada a pintura. É, portanto, uma técnica, que difere das outras pela possibilidade de
melhor representar o real. Berger (1972) nos conta que alguns estudiosos chegam inclusive a
afirmar que, embora seja uma arte bidimensional, a pintura a óleo tem uma capacidade
ilusória maior que a escultura, pelas propriedades da representação das cores, das texturas, do
brilho e outros aspectos próprios do real.
É preciso ressaltar, no entanto, que a preferência de Erasmo pela técnica da tinta a óleo
não lhe impediu de fazer novas experiências, de exercer uma grande liberdade criativa. Dois
procedimentos comprovam isso: o primeiro é a técnica mista, que encontramos em várias
obras e que consiste na aplicação de duas ou mais técnicas em uma só obra.
23
As combinações de técnicas realizadas por Erasmo produziram diferentes efeitos
plásticos. Em Mulher da Serra Verde (fig. 29), feita em guache e pastel sobre papel, vemos
nitidamente a diferença entre as duas técnicas. Na pele do rosto e pescoço da personagem foi
utilizado o guache, como se percebe pela opacidade e textura suaves, bem como pelas mesclas
monocromáticas. Nas demais partes da pintura foram aplicadas as duas técnicas, sendo que o
pastel, por cima, predomina mais, produzindo linhas e emaranhados com textura mais forte.
Nessas partes as cores mais claras dão brilho, tanto no pano de fundo quanto nos detalhes do
cabelo.
Diferentemente de Rapaz de um Bloco de Carnaval de 1957 em São Tomé, acrílico e
óleo sobre papel (fig. 90), em que não é tão visível a diferença entre as duas técnicas. O óleo
parece predominar, embora não se possa descartar a possibilidade de elas estarem sendo
aplicadas no mesmo espaço: nota-se, por exemplo, que no fundo em tons de verdes e
amarelos, elas parecem se misturar em gradações. Porém há indícios de que os jarros foram
pincelados com tinta acrílica, assim como o cubo e a lamparina, porque essas parecem
pastosas e menos gradativas.
O outro procedimento revelador da liberdade e da experimentação de Erasmo Andrade
é a colagem. Considera-se que essa técnica ganhou um caráter artístico na segunda década do
século XX, no âmbito do Cubismo, com as obras do francês Georges Braque (1882-1963) e
do espanhol Pablo Picasso (1881-1973), Henri Matisse (1869- 1954) também foi um forte
usuário da colagem, entre outros. Trata-se de uma técnica que permite criar uma imagem a
partir da reunião de vários fragmentos colados em uma superfície plana ou não, utilizando não
só papéis e tecidos, mas também vários e quaisquer outros materiais como pregos, madeiras,
vidros. Essas inserções dependem do querer do artista, do desejo de criar formas abstratas e
figurativas através de recortes diversificados.
Erasmo ressignifica sua arte com a colagem, superando-se como se brincasse com as
diferentes possibilidades que essa técnica lhe oferece, cria formas geométricas e de objetos,
pois não só com papel, mais com outros materiais como tecido, recortes de outras pinturas, de
sua própria autoria e ainda objetos. Veja uma dessas obras:
As pinturas A hora de Judas (fig. 25), é uma obra composta por dois painéis, à
maneira de um díptico. Na primeira imagem, identificam-se mesclas com cores, formas e
texturas que compõem certa abstração. Os objetos inseridos sugerem uma composição
24
conceitual, típica das atuais obras contemporâneas, uma vez que, há aplicações de pedras e
sementes encontradas no bairro de Ponta Negra, embebidas de cores: tons de vermelho, azul e
amarelo, a cor verde provavelmente surge da mistura das duas últimas cores. Essa é a primeira
obra de colagem apresentada na lista das obras de Erasmo; é de conteúdo religioso e traz
complexidade para decifrá-la. Associa-se à Ponta Negra, lugar em que reside desde sua
mocidade e à religião católica que fez parte de sua vida. O conjunto da obra composta pelas
colagens e tintas, trazem ao espectador um efeito perturbador pelos objetos inseridos e suas
disposições no suporte.
Outra obra com uma construção parecida é Vaso com flores, conchas e sementes de
Ponta Negra (fig. 101), que também aplica materiais orgânicos do bairro de Ponta Negra,
provavelmente com a intenção de resgatar as lembranças e sentimentos que nutre por esse
lugar, apossando-se de partes dele como se trouxesse para bem perto e tomasse a posse do
lugar. Ele então produz uma flor, na forma que lembra uma mandala, colando no centro
sementes de seu bairro, que logo são cobertas por tinta, tirando a visão de suas características
naturais, deixando apenas volume e cor. Isso permite que o artista crie novas características
para os materiais colados, despertando o olhar do espectador.
Outros tipos de colagens são aplicados com papéis e tecidos. Em Sereias (fig. 44)
encontramos formas recortadas e coladas em juta, um tipo de tecido rústico, representando
uma espécie de garrafa e formas geométricas (um quadrado e um retângulo na parte esquerda
do quadro). Essa colagem provoca uma espécie de transparência, por conta dos vazados
deixados pelas tramas do tecido. Em O Leitor das Cartas Embaralhadas (fig. 77) nota-se o
papel pintado, recortado e colado sobre o corpo e o chapéu do personagem, em forma de
quadrado, retângulo e triângulo. Também em Folhagem da Década de 1960 (fig. 71) vemos
várias colagens, umas sobre as outras, em papel com pinturas e em vários formatos:
retângulos, quadrados e folhas que dão um leve efeito de profundidade. Também há colagens
discretas, que quase não dá para notar com pouca atenção, porque se confundem com a
superfície em que são aplicadas, como em Composição com Violão e Cabeça de Arlequim
(fig. 27) onde pedaços de papel pintado compõem o chapéu do personagem e o violão. Nesse
caso, o que provoca a camuflagem são as cores aplicadas nessas formas coladas, que seguem
o formato do objeto representado.
25
2.2. DOS TEMAS
Refletindo sobre a obra de Erasmo, não se pode deixar de pensar na construção da
imagem, pois é visível que as imagens estão por toda a parte, seja na arte, na propaganda, em
livros e nos meios de comunicação em geral, utilizando-a para chamar a atenção do público.
Na verdade, o poder da imagem se manifestou desde os tempos primórdios, como mostram os
desenhos nas cavernas Pré-Históricas, que indicavam e contavam o modo de vida dos
habitantes daquela época. O mesmo acontecia com as iluminuras na Idade Média, que
contavam histórias bíblicas para catequisar os fiéis da Igreja, já que a grande maioria deles era
analfabeta. A imagem foi, assim, acompanhando a História e, no decorrer do tempo, vem
crescendo cada vez mais o poder da comunicação imagética, fazendo com que a leitura visual
se torne cada vez mais necessária.
Graças às imagens, as obras de arte apresentam, portanto, conteúdos para uma leitura
visual. Segundo Dondis (2007), no entanto, muitas pessoas têm dificuldades de ler e entender
uma obra de arte, mesmo quando as imagens nela contidas fazem parte de sua realidade, pois
mesmo que reconheçam as figuras, não sabem analisá-las. Isso pode se dar porque essas
pessoas acreditam que uma imagem não pode ser lida e que serve apenas para decorar.
Esse pensamento estabelece uma barreira que limita a compreensão dos dois
elementos – compositivos e conceituais – da imagem apresentada na obra de arte. Então, é
possível aceitar que:
Ler uma imagem seria, então, compreendê-la, interpretá-la, descrevê-
la, decompô-la e recompô-la para apreendê-la como objeto a conhecer
[e que] a leitura é uma atividade simbólica tão importante quanto a
produção artística, porque é ela que possibilita interpretar as imagens.
(PILAR, 1993, p. 77)
Ao depararmos com essa citação de Pillar, acreditamos que o absorver de uma obra de
arte pelo leitor requer um conhecimento prévio dos elementos que constituem a imagem, bem
como o conhecimento das representações que estão presentes na obra, para que sua
interpretação, mesmo que diferente do que o artista quis dizer, seja convincente e
compreensiva.
26
Como dissemos anteriormente, não há registros das obras que Erasmo Andrade
realizou na infância e na adolescência, tanto os desenhos feitos a carvão sobre as calçadas,
como os desenhos feitos com grafite e lápis de cor, em cadernos escolares. No entanto,
segundo seu próprio relato, em seus primeiros desenhos figuravam cenas de filmes e seriados
que ele assistia quando criança, bem como temas relacionados à vida na sua cidade do
interior, São Tomé: objetos do cotidiano, como bule e flor de bulgari4; as borboletas com suas
asas transparentes; os festejos de São João, com seus balões coloridos e luminosos que,
segundo o pintor, chegavam a confundirem-se com as estrelas no céu; os músicos que
alegravam as festas; os trajes das meninas, que se apresentavam nas noites das festas do mês
de maio com vestes de cetim e asas de anjos; os babados rendados e as pregas das roupas de
primeira comunhão. Também nessa época surgem temas fantásticos, como anjos que, com
suas asas, vivem entre os humanos, participando das agruras do cotidiano.
Quando intensificou sua prática artística, no período do seminário (1964-1967),
Erasmo continuou a tratar de temas regionais e religiosos. Foi nessa época que começou a
pintar pavões5, aves presentes em algumas fazendas de São Tomé, que fascinavam o artista,
como ele relata saudoso:
[...] Os pavões também fazem parte desse meu repertório, que eu via
em algumas raras fazendas nos arredores de São Tomé, uns pavões
belíssimos, que ficavam entre os arredores das casas abrindo os seus
leques de cores. E eu sempre achei que queria que minha pintura fosse
como um leque de cores [...] (Entrevista, à autora, em 15/03/2013).
Esse tema sugeriu o nome de sua primeira pintura, “Os pavões”, pintado em óleo sobre
madeira revestida com tecido, em 1965. Outras obras desse período, nesse processo de
primeiras pinturas sobre madeira, foram As mulatas de Gauguin, de 1965; Retrato do amor
quando jovem, de 1966 (fig. 05); Cristo e pavões, de 1966; A Noiva, de 19666.
Depois de sua saída do Seminário, quando finalizou o Ensino Médio e cursou Serviço
Social na UFRN (1968-1977), Erasmo levou adiante sua arte, produzindo intuitivamente, sem
nenhuma orientação, e continuando na mesma linha de temas.
4 Bulgari: flor aromática, cujo nome científico é Jasminum sambac, mas que é conhecida popularmente como
bulgari, jasmim-árabe, jasmim-sambac e mosqueta. Fonte: http://www.jardineiro.net/plantas/jasmim-arabe-
jasminum-sambac.html. Acesso em 27 dez 2014.
5 Pavão: grande ave que se distingue por sua cauda e plumagem; indivíduo muito vaidoso. Fonte:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=pav%E3o.
Acesso em 21 jun 2016.
6Os nomes das obras, cujas imagens não constam aqui no trabalho, foram informados por Andrade (2005).
27
Durante seu aperfeiçoamento na Escola de Belas-Artes da UFMG (1978), ele teve o
apoio da professora Madu, que logo elogiou e incentivou sua maneira de conduzir sua história
dentro da pintura, qualificando-a como original. Foi então que aperfeiçoou sua técnica e viveu
novas experiências, descobrindo novos caminhos e desenvolvendo uma base mais fortalecida
para sua expressão, inclusive intensificando suas pesquisas sobre os grandes mestres da
pintura universal. Segundo seu depoimento, no entanto, não houve uma mudança significativa
na iconografia das obras, já que ele continuou a privilegiar os temas regionais, inspirados
principalmente de sua própria experiência de vida: “[minhas] pinturas resgatam lembranças e
vivências de minha aldeia natal, São Tomé, minha infância, juventude e cultura” (Entrevista à
autora, 15/03/2013).
É possível afirmar, portanto, que através de seu processo criativo, Erasmo procura
resgatar a cultura de sua região, costumes do passado e do presente, numa linguagem de
devaneios poéticos, trazendo às telas revelações de sua alma. São formas figurativas e
abstratas, exibidas com traços breves e simbologias desenvolvidas por suas emoções de
prazeres e/ou angústias, de conquistas e/ou perdas, sonhos, quiçá, arquivos do inconsciente.
Sobre o inconsciente, Jung (1964) afirma que há acontecimentos que levamos para
baixo do limiar do consciente e por isso não lembramos. Mas em algum momento esse
acontecimento pode aflorar do inconsciente em forma de sonho, como um segundo
pensamento, não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica. Jung
prossegue afirmando também que no inconsciente existem percepções da realidade. Desse
modo, considera que as informações que lá estão inativas, “adormecidas”, podem vir à tona
mesclando-se com o conteúdo do consciente, através de símbolos. Para Jung, esses elementos
tornam-se uma imagem simbólica quando seu significado evidente diz algo além do seu
sentido usual. Essa imagem tem aspectos “inconscientes” que nunca podem ser decifrados em
sua totalidade: “O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma imagem que
nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações convencionais. Implica
alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós” (JUNG, 1964, p. 20).
Para ilustrar seu pensamento, Jung (1964, p. 20) cita o exemplo de um homem indiano
que, voltando de uma viagem à Inglaterra, contou que os britânicos gostavam muito de
animais, porque as igrejas inglesas eram repletas de figuras de leões, águias e bois. Não sabia
ele que se tratava de símbolos religiosos, provenientes de passagens da Bíblia (uma visão do
profeta Ezequiel e do Apocalipse de São João Evangelista).
28
Um dos indícios que sugerem o significado simbólico de um elemento é sua repetição.
Ora, analisando as obras de Erasmo, vê-se que o desenvolvimento de sua pintura se dá muitas
vezes pela repetição de temas – como em Anjos Músicos II (fig. 21), Anjos Músicos IV (fig.
84), Passagem Secreta (fig. 31), Passagem Secreta II (fig. 37), O Vendedor de Ilusões I (fig.
78), O Vendedor de Ilusões II (fig. 79), Mulher na Festa de Sant'Ana de Caicó I (fig. 52),
Mulher na Festa de Sant'Ana de Caicó II (fig. 53), entre outras, bem como pela repetição
recorrente de elementos iconográficos, como vasos, candeeiros, borboletas, entre outros.
Percebe-se que esses temas repetidos formam séries, que nem sempre são feitas em um
mesmo período, podendo apresentar intervalos de tempo entre um e outro, como nas duas
obras da série Anjos Músicos, realizadas em 1994 e 2011 (figs. 21 e 84). Diz o artista: “Repito
meus temas e a cada repetição tento melhorar a técnica para que ela dê ao espectador a ideia
do que eu estou tratando, bem visceral!” (Entrevista à autora em 15/03/2013). Logo, esse
método o ajuda a aperfeiçoar a técnica e permite tentar chegar o mais próximo possível
daquilo que está em mente. Segundo o artista, portanto, esse ato possibilita criar e recriar os
mesmos temas, fazendo associações entre eles. Mas em que medida essa prática não revela
também a existência de símbolos nas imagens criadas por Erasmo? Não seria possível ver em
seus temas, e mais ainda nos elementos iconográficos que se repetem com frequência, um
significado simbólico, que vai além do que está representado?
Até agora, a obra de Erasmo nunca foi objeto de uma análise iconográfica mais
consistente. Dorian Gray chega mesmo a afirmar: “A Erasmo interessa mais a maneira de
pintar do que a narrativa do quadro” (CALDAS, 1989, p. 129). Diante dessa afirmação pode-
se perceber que o grande estudioso da arte potiguar não se aprofundou o bastante no conteúdo
de vida e no repertorio temático de Erasmo. Provavelmente se impressionou com sua maneira
peculiar de pintar, apreciando suas formas e pinceladas, mas não procurou explorar melhor os
conteúdos de seus quadros. No entanto, nota-se que tanto a maneira de Erasmo produzir suas
obras, quanto a narrativa de suas imagens são inseparáveis. De fato, se prestarmos atenção nos
quadros coloridos e sedutores, compreenderemos que eles contam a historia do pintor, sempre
com o mesmo entusiasmo, de modo muito poético e, muitas vezes, com sentido simbólico.
29
2.2.1. Temas e símbolos na obra de Erasmo Andrade
Erasmo desenha tramas de sonhos trazidos para uma realidade particular, tramas
íntimas de suas vivências ao longo da vida, que são fixadas em suas obras. Mas ora ele quer
mostrar, ora quer esconder o que verdadeiramente quer transmitir com sua pintura. Como diz
Berger (1972, p. 14), “as imagens foram feitas, de princípio, para evocar a aparência de algo
ausente”. Erasmo escolhe o cenário de seus quadros de acordo com as coisas que o absorvem,
aquelas passadas, que ficaram na lembrança, boas ou más, assim como as atuais. Basta que
haja um sentimento forte para que se transforme em pintura. Daí, arma um jogo emocional,
em que a vontade reveladora briga com o medo de se expor a um mundo cruel que lhe causa
pavor, fazendo-o esconder-se por trás de símbolos iconográficos e instigando-nos a querer
descobrir por que determinado objeto está presente naquela obra.
Nesse sentido, Berger (1972, p. 14) também nos fala que “quanto mais imaginativa é a
obra, mais profundamente nos permite compartilhar da experiência que o artista teve do
visível”. Contudo, nem sempre é possível decifrar uma composição misteriosa, por causa da
miscigenação de ideias, vivências, desejos intrínsecos de que, muitas vezes, nem mesmo o
artista tem consciência. Uma obra oferece muitos meios de interpretações, a depender dos
argumentos do crítico. Como afirma Pilar (2006), para termos uma leitura significativa de
uma obra de arte, precisamos estabelecer relações entre o objeto de leitura e nossas
experiências de leitor, possibilitando nossa interpretação de acordo com o que pensamos
desses objetos.
Para uma melhor compreensão da arte de Erasmo Andrade e para a análise
iconográfica não ficar fastidiosa, vamos nos concentrar nos temas e elementos que mais se
repetem em suas obras e que podem indicar algum tipo de significado especial, tentando
definir seus sentidos – eventualmente simbólicos – e buscando relacioná-los ao percurso e à
personalidade do artista. Mas, antes de começar essa analise, é interessante ressaltar a
dificuldade que se teve nesse processo de pesquisa, por causa da quantidade e da variedade de
temas e elementos contidos no conjunto da obra do pintor. Diante dessas constatações, nesse
mar de obras e imagens, foi preciso navegar para suas margens e procurar organizar de modo
sintético, a fim de se chegar a conclusões consistentes.
30
Assim, a partir de uma observação panorâmica, é possível identificar cinco grandes
grupos iconográficos, que passaremos a analisar agora.
2.2.1.1. Presença e ausência materna
A presença materna, na obra de Erasmo, está relacionada às lembranças de sua mãe e
apresenta conteúdos referentes à infância, à morte e à saudade. Como já sabemos, sua mãe foi
muito importante na vida do artista: foi ela quem o ajudou e o incentivou para a arte, embora
o pintor não tenha morado com ela por muito tempo. Assim, desde que perdeu a mãe, aos 57
anos, Erasmo passou a venerá-la ainda mais, trazendo-a constantemente para sua obra.
Em Retrato do Amor Quando Jovem (fig. 05) a figura feminina parece ser uma mãe
sentada num monte (temos a impressão que ela está perto das nuvens), num jardim florido,
com uma criança debruçada sobre suas pernas. A pintura parece representar, portanto, o amor
materno, o menino podendo ser Erasmo quando criança. Nesse sentido, é uma cena romântica,
materna, representação comum do laço familiar entre mãe e filho.
Mas, será isso mesmo? Indagando sobre essa pintura, realizada no tempo em que ele
estava no seminário, Erasmo diz que esse é um “quadro matriz [...] a mãe com um menino no
braço, por traz o céu de van Gogh e os girassóis no ar” (Entrevista, à autora, em 15/03/2013).
Mas, em sua própria dissertação de Mestrado, o pintor afirma que o título da obra faz
referência ao livro de James Joyce, Retrato do Artista quando Jovem, e que a imagem
representada faz referência a um jovem seminarista (ANDRADE, 2005, p. 37 e 54). Levando
em consideração esse dado, o que a cena significa realmente? Será que seu sentido está
camuflado? Será que logo na adolescência Erasmo teve uma decepção amorosa, uma paixão
não correspondida, um amor impossível, que o fez pintar esse quadro dessa maneira,
colocando-o nos braços de uma figura feminina, símbolo materno? Ou será que o menino nos
braços da mulher seria o amor desejado e ele, na figura da mulher, estaria protegendo seu
amado? Talvez se pintasse um quadro com sua real intenção, pudesse despertar desconforto
em quem o visse. É difícil definir se o quadro trata de sentimentos maternos ou carnais, ou os
dois ao mesmo tempo, porém, é certo que ele fala de amor, de carinho, de proteção.
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Já a obra Figura no Leito da Serra Azul (fig. 51) mostra uma mulher, quase deitada,
com os braços cruzados ao peito, no que parece ser um leito ou um caixão. Ela está sozinha,
em um ambiente sombrio, meio noite, vigiada por olhos espalhados ao seu redor, pelo olho
pregado no casario a seus pés e também pelos astros no céu. Os próprios olhos da personagem
sugerem inquietação, pois embora ela esteja com o rosto voltado para frente, suas pupilas
estão voltadas para o lado, como se observassem algo. A serra azul corresponde à paisagem
de serras azuladas de São Tomé vistas ao longe, paisagem que Erasmo aprecia muito e coloca
frequentemente em seus quadros. A cena aqui parece estar representando sua mãe que, com
uma cadeira ao lado de seu leito/caixão, espera alguém que não chega – esse alguém seria seu
filho? Talvez represente sentimentos semelhantes aos que Vincent Van Gogh (1853-1890)
representou na obra O Quarto do Artista em Arles, de 1889 (fig. 116), quando pintou uma
cadeira vazia ao lado de sua cama, como se almejasse a presença de seu amigo Gauguin.
Seja como for, é certo que a morte da mãe inspirou cenas de tristeza, solidão e até
punições nos quadros de Erasmo. Em 2007, um ano depois da morte da mãe, ele pinta No
Sepultamento de Maria (fig. 59): dessa vez, sua mãe (que se chamava Maria), já morta, é
levada para seu destino, por figuras que parecem lamentar-se pela perda. Mais uma vez o
ambiente é sombrio, mas recebe a claridade da lua, que parece vir para acompanhar o cortejo.
No mesmo ano pinta também O Flagelo no Sepultamento de Maria (fig. 61), que parece
sugerir uma cena de castigo: é possível que a figura principal, com seus olhos esverdeados,
represente o artista que se auto castiga – se sentindo culpado? – com a perda da mãe. Ao
longe, se vê figuras bem pequenas segurando um caixão. É comum entre esses quadros a
presença da lua, indicando a noite com seu ambiente azulado, comprovando a frieza, a tristeza
do acontecido; o cortejo fúnebre que leva o caixão para o infinito; e as torres das igrejas
indicando a fé do pintor, algumas com escadas que parecem mostrar o caminho para o céu.
Mulher Azul (fig. 97) é mais uma referência que Erasmo faz à sua mãe. Segundo o
próprio artista, embora seus olhos estejam abertos, a personagem faz referência a sua mãe
morta, os olhos estando abertos para não permitir que a imagem de sua mãe permaneça num
ambiente totalmente sombrio. Todo pintado em tons de azul, o quadro, apesar de uma
elegância evidente, revela um ar obscuro que paira sobre a figura. Sobre seu busto, um ramo
de flores simboliza a ternura e a saudade. A gola do vestido, cujos pontos brilhantes indicam
as estrelas no céu, evoca uma figura de rainha. Quebrando a frieza da cor azul, surge o
amarelo no centro dos pêndulos das orelhas, parecendo representar o sol que, juntamente com
o detalhe da tiara da cabeça, significam a luz que insiste em não se apagar. Da mesma forma,
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seus lábios aquecidos de vermelho insistem em mantê-la viva. Essa imagem revela a imensa
vontade que o artista tem de voltar no tempo e manter sua mãe viva no presente.
A Mulher Azul II (fig. 110), como sugere o título, é a segunda versão do tema
analisado no parágrafo anterior. A personagem, que pode ter sido reproduzida de uma
fotografia, remete novamente à mãe do pintor, sendo difícil definir se ela está viva ou morta:
os olhos – que são verdes, como os de Erasmo – estão bem abertos, mas ela está pintada de
azul, cor fria e sombria. O plano de fundo, no entanto, traz vida através das cores quentes,
deixando o ambiente mais alegre que o da cena anterior. Talvez seja uma indicação de que sua
mãe está em um lugar de paz, olhando por ele, sempre. Também pode ser um sinal de que,
com o passar do tempo, o filho foi se conformando com a ausência da mãe.
Já em Maria aos 18 Anos II (fig. 73), Erasmo resgata a juventude da mãe em sua tela,
trazendo para seu olhar a lembrança daquela que marcou profundamente sua vida. Embora
essa pintura tenha sido reproduzida através de uma fotografia, Erasmo procurou manter seu
próprio estilo. As cores desse quadro mostram a dualidade entre a vida e a morte: o azul,
predominante, é uma cor fria que distancia, evocando a ausência da mãe e a tristeza; já as
demais cores, sendo quentes, aproximam e sugerem a vida perpetuada na lembrança e no
amor do filho. Nessa composição há muitas flores em volta da personagem. Alvarez (2013, p.
82) diz: “As flores criadas pela imaginação estão sempre em ascensão, mesmo as dos abismos
obscuros, negros e sombrios. As flores são luzes e as luzes são flores que existem para brilhar,
fazendo o cosmos cintilar.” Nota-se também que a flor que está no cabelo da personagem de
Erasmo é a bulgari, uma espécie de jasmim, sempre citada pelo pintor quando fala da
infância; flor bastante cultivada e apreciada em sua cidade, fazendo parte do cotidiano das
mulheres que as usavam no cabelo e em decorações das casas e festejos locais. A presença das
flores e a alegria das cores também sugerem uma semelhança ente essa obra e a pintura Santa
Terezinha de Lisieux (fig. 48), a santa das flores, realizada alguns anos antes. É como se
Erasmo quisesse evocar a feminilidade, a vivacidade e a devoção pela mãe, demonstrando
uma verdadeira adoração por ela, como se fosse uma santa.
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2.2.1.2. O apego às raízes
São Tomé, a cidade natal de Erasmo Andrade, é para ele um lugar bucólico, que lhe
inspira para compor os temas de suas pinturas. Quando criança, essa cidade representava o
mundo que lhe aguçava a curiosidade, a fantasia, os desejos, os sonhos, as decepções e tantos
outros sentimentos e pensamentos que Erasmo extravasaria para suas obras.
No desenho Enterro de Anjo (fig. 10) o tema mostra uma cena de enterros de crianças.
Nas regiões interioranas, os cortejos fúnebres costumam ser bem mais expressivos que nas
grandes cidades, envolvendo amigos, familiares e até curiosos que levam seus mortos em
caminhada até o cemitério. Vemos, nessa obra, pessoas e anjos - estes, por se tratar do enterro
de uma criança, celebram um pequeno ser que, morrendo, torna-se anjo também, sendo
acompanhado e conduzido ao reino celestial.
Outra lembrança da infância de Erasmo em São Tomé é exposta na obra Primeira
Comunhão (fig. 13), que mostra uma garotinha usando um vestido com plissados e rendas e
ainda um véu com tiara de flores na cabeça, pronta para sua primeira comunhão, celebração
própria dos ritos da igreja católica. Nesse desenho, no segundo plano da imagem, há uma
espécie de alegoria, mostrando diversos elementos agrupados, como uma pomba (símbolo do
Espírito Santo), uma vela que serve para iluminar os caminhos dos fieis, flores que são usadas
para enfeitar e alegrar o ambiente, anjos protetores e músicos, alimentos que podem significar
a saciedade da alma e ainda uma grande taça que representa o vinho, sangue de Cristo, onde
parece se refletir o rosto da pequena jovem.
Além de cenas narrando acontecimentos específicos, também é possível identificar as
lembranças da infância de Erasmo em São Tomé através de alguns objetos que se repetem em
sua obra. É o caso, por exemplo, do bule, que encontramos em Bule e Frutas Levitando (fig.
113) e Natureza Morta com Bule (fig. 114), bem como a obra Vaso sobre Mesa (fig. 103) em
que o vaso tem, na verdade, um formato de bule. O que poderia explicar a presença desse
objeto nas pinturas de Erasmo? Sua forma imponente fascinava o pintor quando criança,
como ele mesmo afirma: “Minha primeira obsessão por uma forma definida, foi a de um bule
com bico longo, elegante, posto sobre um fogão velho, na Pedra do Navio em São Tomé [...]”
(ANDRADE, 2005, p. 78). Depois, já adulto, o bule, símbolo fálico, deve ter passado a
representar a lembrança olfativa e visual do período da manhã, o aroma do cafezinho matinal,
34
e à mesa o modo como o café ou o leite era conduzido pelo bico do bule, da família reunida
em volta da mesa, dos desenhos florais que eram comuns em bules de ágata dos tempos
antigos.
Erasmo sempre gostou e se envolveu com os festejos e datas comemorativas,
principalmente as ocorridas em sua aldeia natal como, por exemplo, o carnaval. É essa festa
que inspirou Composição com Violão e Cabeça de Arlequim (fig. 27). Arlequim é um
palhaço, não propriamente de carnaval, mas uma figura que a princípio servia para alegrar ao
público durante os intervalos dos espetáculos. Nos carnavais de antigamente, porém, eram
comumente encontradas fantasias desse personagem, principalmente por seu traje colorido. O
mesmo personagem reaparece em Figura de um Carnaval de 1957 em São Tomé I (fig. 70) e
Figura de um Carnaval em São Tomé de 1957 II (fig. 89), sempre evocando as
comemorações carnavalescas, enquanto outro personagem masculino não identificado é o
protagonista de Rapaz de um Bloco de Carnaval de 1957 em São Tomé (fig. 90). Percebemos,
assim, que o carnaval de 1957 foi muito importante para Erasmo, aparecendo em suas obras.
O pintor afirma ainda: “as figuras do pastoril também me impressionaram, pelas cores
azuis e encarnadas, [...], os movimentos das danças, a música e a desenvoltura da Diana que
observei em São Tomé em 1958/1960; colocando essa beleza em meus quadros [...]”
(Entrevista à autora, em 15/03/2013). Assim, percebe-se que algumas representações das
cores azuis e vermelhas inseridas nas obras do pintor podem estar relacionadas com o
simbolismo do pastoril, festejo do folclore nordestino. Já o São João, para Erasmo, é uma das
festas mais deslumbrantes e apreciadas, por causa de suas noites estreladas, os balões soltos
pelo ar, as brincadeiras e danças e as cores das bandeirolas e das luzes que enfeitavam as ruas
e as casas:
Apreciava as noites de São João. Bela! Era como um quadro impressionista,
lanternas nas portas das casas, soltavam balões, eram outros tipos de roupas
das moças das quadrilhas, lindas! Observava muito as fogueiras em cada
porta, passava tempo parado diante da única fogueira vertical, a única, do
senhor José Punaré, era um tronco de árvore em pé, fincada no chão e o fogo
em cima [...]. (Entrevista à autora, em 15/03/2013).
Essas lembranças puderam inspirar obras como Minha Aldeia em Noite de São João
na Década de 1958 (fig. 74), com seus círculos preenchidos por cores e linhas, o céu
pontilhado, os astros e as cores de toda a composição que homenageia o São João da aldeia do
pintor.
35
Já o Acrobata do Circo Borborema (fig. 76) e Figura de Palhaço no Camarim II (fig.
108), são temas relacionados ao Circo Borborema, que vinha se apresentar em São Tomé,
deixando várias lembranças e recordações em Erasmo.
Outra marca da infância aparece na obra O Garimpo I (fig. 35), em que a figura
masculina pode se referir ao próprio artista ou a seu pai, que era garimpeiro e administrava
uma mina de xelita, a Mina Oiticica. O pássaro que é induzido a posar na mão e fitar no olho
do personagem parece trazer uma mensagem. Na obra, a mina parece estar sendo representada
pelas formas geométricas coloridas, que simbolizam as pedras preciosas de formatos
irregulares. As pedras de xelita estariam representadas pelas cores amarela, cinza, vermelha,
verde e castanha; as pedras de água marinha estariam representadas pela cor verde-azul claro.
A técnica utilizada nessa obra (mista, incluindo pintura, desenho e colagem), bem como a
composição cheia de cores e texturas simbolizam o ambiente de pedregulhos e cores do
garimpo. Nas partes amareladas e castanhas parece ter sido aplicado pó ou brilho dourados,
criando uma textura que parece reluzir ouro, dando ideia de preciosidade.
As origens de Erasmo, principalmente sua relação com a cidade onde nasceu, passou a
infância e à qual retorna regularmente ainda hoje, aparecem em vários outros quadros, de
maneira mais ou menos explícita. Duas obras, em particular, revelam essa relação desde o
título: trata-se das telas A Aldeia, a Caverna e Eu (fig. 82) e A Aldeia, a Paixão e Eu (fig. 83),
que foram pintadas no mesmo ano e possuem o mesmo formato circular. Erasmo faz a leitura
da primeira obra da seguinte maneira:
A aldeia a qual enfoco é São Tomé, o lugar onde nasci; a caverna é o
túmulo; e eu. Então, é a aldeia de nascimento relacionado com a vida e
também com a morte, dentro desse contexto de serras onde um casal, que
repito noutras telas, eles andam, eles caminham em direção à aldeia. Um
casal que é quase uma sombra, são figuras que vão se destinando a entrar na
aldeia. Essas figuras, elas andam nesses meus quadros desde a década de
1980, quando fiz pela primeira vez A Minha Aldeia. Em seguida, após a
morte da minha mãe, eu fiz A Aldeia Nublada [...]. [...] esta obra é a
continuação dessa relação da minha infância, da minha família, da minha
posição de criador dessa plástica que é este lugar chamado São Tomé. Para a
construção desse quadro, me inspirei numa aldeia de Vitebsk, na Rússia do
pintor Marc Chagall, [...] colocando como ponto de interesse a torre da igreja
de São Tomé, uma torre imponente que parece dominar a paisagem bucólica.
As figuras que caminham querem entrar na aldeia, parece que eles querem
voltar no tempo buscando suas origens, buscando aquele tom, aquela luz
solar, aquele clima, aquele vapor, aquela temperatura de um tempo que não
se encontra mais. É uma aldeia vista sobre o prisma de um paraíso perdido.
[...] Neste trabalho fiz questão que fosse feito quase como uma mandala, na
qual tem toda uma dinâmica de um movimento, nos pássaros que parecem
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carregar o clima do quadro; os pássaros relacionados às serras, ao casario, à
torre da igreja e às figuras que caminham abraçadas como os amantes nos
lilases, no quadro de Marc Chagall. (Entrevista ao Projeto Artista do RN, em
27/03/2012)
Assim, a partir desses dois quadros e da fala do artista, é possível definir os principais
elementos que evocam São Tomé em suas obras: uma torre de igreja, casarios antigos e uma
paisagem montanhosa. A análise do conjunto da obra de Erasmo corrobora, por outro lado, a
importância desses elementos em seu imaginário, uma vez que encontramos torres de igrejas e
casarios em muitas pinturas (de um total de 40 obras analisadas – ver tabela no final desse
trabalho), como é o caso em Pavões (fig. 41); Barco à Deriva (fig. 45); Noite sem Fim (fig.
75), entre outras. A torre de igreja, também um símbolo fálico, que muitas vezes, nas obras,
elas se multiplicam como em Casal Caminhando para a Torre (fig. 94) – parece ter um
significado especial, fascinando o artista, como ele mesmo revela: “As torres das igrejas
sempre me impressionaram, pelo seu formato vertical na visão de algo que quer surpreender
pelas alturas, sair do chão, elevar-se e vê o mundo sobre esse prisma das janelas do alto”
(Entrevista ao Projeto Artista do RN, em 27/03/2012).
Desse lugar particular, Erasmo entende muito bem. Do mesmo modo como Marc
Chagall (1887-1985) foi fiel a Vitebsk, cujos elementos do seu cotidiano, muitas vezes,
transformando-se em símbolos, encravaram-se em suas próprias obras, trazendo para o mundo
uma mescla de seus pensamentos reais e ilusórios e das coisas referentes à sua cidade natal,
assim faz Erasmo em relação a São Tomé, quando fala de suas paisagens, as serras azuis, os
seres, o rio temporário que enche e seca de quando em quando, no qual as crianças se
banhavam e brincavam em tempo de abundância. Desse modo, vemos que Erasmo tem grande
afinidade com Chagall, pois interpretam cenas de experiências próprias; apresentando
elementos simbólicos, comuns entre eles, como olho, sol, cabra e casarios, entre outros
elementos.
Erasmo diz ainda que, não se pode separar a realidade do sonho e que esse pensamento
também encontrou em Chagall:
No quadro O Olho Verde [fig. 117], óleo sobre tela, de 1944, de Chagall, as
casas têm olhos. No mundo rural de Chagall as pessoas tiram leite das vacas,
ou das cabras, e [...]. [...] esse quadro chama atenção por esses elementos
simbólicos. Para alguns ele é surrealista. Melhor chamá-lo de simbólico,
porque ele trabalha com a matéria do consciente e não do inconsciente.
Então uma casa com olhos tem significado. (Entrevista à autora, em
15/03/2013).
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Ora, retomando a análise das obras de Erasmo, também podemos identificar a
presença de olhos em várias delas. Na (figura 33), além do Cristo crucificado, vemos quatro
olhos, o mais notável é posto no alto da obra, numa espécie de lua. É comum encontrar olhos
nos astros celestiais de Erasmo, representados tanto de forma naturalista, quanto de forma
estilizada, este, simbolizados apenas como um círculo de menor tamanho dentro de outro
maior, ou até dentro de mais círculos, como em Pavões (figs. 40 e 41), onde vemos as duas
formas de representação. Já em Pavões (fig. 42), o olho se encontra de perfil. Também vemos
um olho na pintura Sereias (fig. 44), na parte superior direita do quadro, que mais parece um
peito feminino, se comparados aos peitos das sereias representadas no quadro. Em Noite sem
Fim (fig. 75) o olho aparece envolto em vários anéis coloridos. Também é comum aparecer
olho nos frontões dos casarios, como em Figura no Leito da Serra Azul (fig. 51) que mostra
um olho de forma naturalista, e Figura com Estigma I (fig. 65) que mostra um olho estilizado.
Qual seria, então, o significado desses olhos? Talvez eles representem a visão universal, pois
para onde quer que se vá, ou onde quer que se esteja, seja noite, seja dia, todos estamos
expostos ao olhar do outro e nada fica encoberto diante dos olhos do divino. Os olhos nas
diversas obras de Erasmo seriam, assim, como um símbolo de alerta para as ações dos
humanos, avisando da onipresença divina.
Os olhos verdes que aparecem em alguns personagens das obras de Erasmo – como,
por exemplo, em Mulher da Serra Verde (fig. 29), Figuras na Ponta Negra em 1980 (fig. 69)
e Os Olhos da Cabra Verde de Barcelona II (fig. 111) - podem estar simbolizando seus
próprios olhos, parecidos com os de seu pai, ambos de cores verdes, também fazendo diálogo
com as obras de Chagall. De fato, Erasmo parece ter verdadeira paixão pela cor e formato de
seus olhos, provavelmente considerando-os como pedras preciosas. Chegou inclusive a
intitular uma de suas exposições “Olhos Verdes” em 2004, inserindo no respectivo convite
uma fotografia de seus próprios olhos como imagem de fundo (fig. 123).
2.2.1.3. A marca da religiosidade
Tendo sido coroinha na infância e seminarista na adolescência, Erasmo foi muito
marcado pelos temas religiosos, que se expressam em sua obra de diferentes maneiras.
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A Hora de Judas (fig. 25) consiste em dois painéis de forma circular, o primeiro é
tridimensional com colagens, em forma de assamblage. Ainda que de conteúdo religioso,
pode estar representando várias coisas, no primeiro painel, a cor azul, inserida nessa obra,
pode se referir ao rio temporário que passa por São Tomé ou mesmo o mar de Ponta Negra; a
vermelha, o sangue de Cristo derramado por nossos pecados; a amarela refere-se à
preciosidade das pedras da Mina Oiticica e as sementes encravadas na obra foram coletadas
de Ponta Negra, que revelam o gosto que o artista tem por esse lugar. O Cristo, nessa obra,
corresponde a uma escultura fragmentada, cujos braços e pés foram mutilados e deslocados
para o centro do painel. No segundo painel, a obra se completa com a pintura de um rosto de
perfil, de cor esverdeada. De acordo com o tema, é provável que essa figura seja Judas, um
dos apóstolos de Cristo, ou até pode ser o próprio artista observando todo o acontecimento.
Vê-se ainda uma mancha de cor púrpura, como que saindo da boca dessa figura em perfil. Se
a figura estiver representando Judas Iscariotes, isso pode ser o reflexo do mal que causou a
Jesus Cristo: com a língua o traiu e de sua boca escorre o sangue da traição. Diante do título, é
inevitável a pergunta: que hora será essa? Será a da traição? Segundo a Bíblia Sagrada “[...]
Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais dos sacerdotes para lho entregar. E
eles ouvindo-o, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro; e buscava como o entregaria em
ocasião oportuna” (Marcos, 14:10-11, 1995). No livro de Mateus, 27:45-46, aparece que Jesus
morreu na hora nona. Essa hora faz parte do calendário judaico o que se refere, no nosso
calendário, entre doze e quinze horas. Nesse caso, Jesus morreu às três horas da tarde, tendo
sido entregue para morte de cruz, pela traição de Judas.
Em Objetos de Judas (fig. 30) há uma cabeça humana (representando certamente
Judas) e, ao seu redor, três objetos: uma jarra (com boca larga e alça), um vaso (com boca
estreita) e o que parece ser um cálice. Esses elementos podem ter diferentes significados
simbólicos. Na Bíblia, os vasos são utensílios onde são conservados objetos valiosos: “Assim
diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Toma esta escritura, esta escritura da compra,
tanto a selada como a aberta, e mete-as num vaso de barro, para que se possam conservar por
muitos dias.” (Jeremias, 32:14, 1995). Ainda segundo a Bíblia, os vasos também podem
representar pessoas que foram preparadas para receber as coisas celestiais – de Deus que,
como um oleiro, as teria modelado a partir da argila: “Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque
este é para mim um instrumento (vaso) para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem
como perante os filhos de Israel” (Atos, 9:15, 1995). Assim, objetos que servem de
receptáculo podem ser considerados como símbolos de vida, o que contrasta, nessa pintura de
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Erasmo, com a cabeça de Judas, cuja ação foi justamente de contribuir para tirar a vida de
Jesus.
Seja como for, vale notar que também há vasos, cálices, jarras e outros objetos que
servem de receptáculo em várias outras obras de Erasmo, como Cabeça de Paixão (fig. 19);
Centauro na Pedra do Navio (fig. 86); Rapaz de um Bloco de Carnaval de 1957 em São Tomé
(fig. 90) e Primeira Comunhão (fig. 13), para citar apenas alguns exemplos (para a lista
completa, ver a tabela no final desse trabalho). Por que motivo o artista os colocou nessas
obras? Teriam eles algum significado particular ou funcionam apenas como elementos
visuais, que ajudam a equilibrar as composições?
O quadro A Piedade (fig. 15) foi pintado um ano após o ingresso de Erasmo na Escola
de Belas Artes. Nele, vê-se Cristo em uma posição inusitada: com o braço esquerdo pregado
na cruz, mas segurando, com o direito, uma figura que parece ser a Virgem Maria,
desacordada. Na arte cristã, a versão consagrada para o tema da piedade, mais conhecido
como “Pietà”, representa a Virgem Maria segurando, no colo, o corpo morto de Jesus, como
aparece na famosa obra de Michelangelo (1475–1564, fig. 16). Na obra de Erasmo, a
representação é invertida: é Cristo quem segura sua mãe desfalecida. Essa inversão parece
simbolizar o papel de Cristo como o Salvador que segura o fardo do mundo e carrega a
humanidade – aqui representada por Maria – nos braços, tomando para si as dores do mundo.
Esse Cristo de pele amarelada está com o coração à mostra, como se indicasse que seu amor
por nós supera a dor da morte na cruz. Por trás da cena principal há uma mesa posta com
vinho e pão, o alimento da ceia após a qual Jesus foi traído e entregue aos romanos. Há uma
estrela negra caindo do céu como protesto pelo acontecimento e o ambiente é escuro, já que
por volta da hora da morte de Cristo, segundo a Bíblia, houve trevas por toda a parte. No
entanto, uma luz tímida, vinda do sol que parece ser sustentado por mãos, insiste em clarear o
episódio.
Crucificado também está Cristo na (figura 33), na qual o calvário aparece em um local
cercado de símbolos: os cajus dispostos no chão evocam o Rio Grande do Norte, Estado em
que o fruto é muito cultivado; uma maçã, entre os cajus, simboliza o pecado original, o
desejo; também entre os cajus, uma taça que remete ao vinho e ao sangue de Cristo derramado
na cruz; e um pavão. Ao seu redor há torres de igrejas, com seus cumes indicando os céus;
dois círculos, um de cada lado de Jesus; e a cruz que divide os céus e a terra. Em diversas
partes da imagem – acima da cruz, nas construções ao fundo, na taça aos pés da cruz – são
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representados olhos, os olhos que tudo vêem, segundo as próprias palavras do artista. Como
nas escrituras bíblicas (Mateus, 27:45) é afirmado que houve trevas em certo momento da
crucificação até a hora da morte de Cristo, o artista colocou uma lua com grande olho para
reforçar a vigilância desse acontecimento, como que indicando nada ficar impune. O Cristo
azul de Erasmo expressa a dor de suas chagas causadas por seus malfeitores. Com um olhar
parado, seu corpo estático e com a boca entreaberta, mesmo tímido, é como se dissesse “[...]
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Marcos, 15:34).
São Francisco é considerado um homem muito próximo a Deus, por causa de suas
constantes orações, tendo inclusive recebido as chagas de Cristo. Homem simples que viveu
para ajudar ao próximo e aos animais. Em São Francisco Transfigurado em Fundo Azul (fig.
24), o santo aparece num plano celestial, rodeado por pássaros e formas geométricas
representando astros luminosos que realçam o azul do fundo. O título da obra se refere à
passagem da Bíblia em que ocorreu a transfiguração de Jesus Cristo, quando este foi ao monte
orar com alguns de seus discípulos: “[...] E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto
resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. [...]” (Mateus 17:1-
8). A transfiguração, portanto, é uma transformação para uma aparição em estado de glória.
No caso da obra de Erasmo, ele associou a glória de Jesus à de São Francisco. Este santo pode
ter inspirado Erasmo nas obras Figura com Estigma I (fig. 65) e Figura com Estigma (fig. 68)
cada uma delas mostrando um personagem com uma marca na mão que representa as chagas
de Cristo. Essas figuras possuem uma coroa na cabeça, que é símbolo de conquista. Vale
salientar que a Figura com Estigma (fig. 68) tem o mesmo gesto de mãos que Santa
Terezinha de Lisieux (fig. 48) e Nossa Senhora da Conceição (fig. 106), ambas santas
consagradas do catolicismo.
A obra Santa Terezinha de Lisieux (fig. 48) é um diálogo que Erasmo fez com a
imagem tradicional da Santa Terezinha de Lisieux (fig. 49), “a santa das rosas”, por quem
Erasmo tem grande devoção. Ele diz que quando estava residindo no seminário, havia uma
imagem dessa santa na parede do quarto em que dormia e que, desde então, ela vem sendo
companheira em suas caminhadas. Encantou-se por sua história de vida, pelo buquê de flores
que carrega e por sua aparência doce e angelical.
Na sua obra, Erasmo transfere as flores do buquê da santa para o manto: “pintei essa
santa e puxei as rosas do buque para as vestes. Ficou muito interessante, porque parece uma
pintura mexicana de Frida Kahlo, e seu colorido é estonteante” (Entrevista à autora, em
41
15/03/2013). Nas vestimentas, as flores se transformam em linhas, círculos e cores. As linhas
sinuosas nas laterais do manto parecem ser o prolongamento dos cabelos, pois os cabelos
femininos compridos simbolizam o véu da noiva de Cristo e o cuidado de uni-los com laço,
ato que mostra a delicadeza do artista no zelo dessa figura feminina. O azul aparece em todo o
fundo do quadro, junto ao amarelo, ao branco e aos tons esverdeados resultantes da mistura
dessas cores. Desse modo, parece que o céu uniu-se à terra, ou melhor, às montanhas de São
Tomé, que Erasmo diz serem azuladas. Mas o gradeado que divide a pintura ao meio torna
ainda mais longe os casarios que apresentam suas torres, em meio a astros e círculos que
colorem o ambiente tal como as vestes da personagem. Mesmo a auréola da santa parece que
se transformou em um sol, simbolizando certamente a luz espiritual que é refletida pelo ser
que tem ligações com a divindade.
Já Nossa Senhora da Conceição (fig. 106) é apresentada em tons de azul, cor que
simboliza o céu, a cor do manto da Santa e o mar. Centralizada sobre uma espécie de portal
gótico, ela parece flutuar sobre nuvens coloridas, cruzando as mãos sobre o peito. A coroa,
segundo a Igreja Católica, indica sua importância como rainha da humanidade, da terra e dos
céus. No topo da coroa, uma cruz simboliza o Cristo Crucificado, sinal de fé, de santidade e
dos cristãos.
Para finalizar, a cena representada em O Desterro da Minha Aldeia (fig. 109) remete à
história da primeira infância de Jesus Cristo, quando sua família teve que fugir de Belém para
se refugiar no Egito: “[...] Eis que o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo:
Levanta-te e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora lá até que eu te diga,
porque Erodes há de procurar o menino para o matar” (Mateus, 2:13). Trata-se também de
uma passagem comumente representada na arte religiosa, como na obra do pintor italiano Fra
Angelico (1387 – 1455). A obra de Erasmo faz referência à sua aldeia natal, é um paralelo
entre a história bíblica e sua própria história: assim como a Santa Família foi obrigada a se
desterrar para não morrer, Erasmo também foi obrigado a deixar sua terra para não ser morto
intelectualmente, pois São Tomé não lhe oferecia asas para que sua arte fosse desenvolvida e
o permitisse voar alto. Também há nessa obra dois símbolos marcantes, os círculos,
simbolizando olhos observadores, tanto na lua quanto nos frontões das casas; e a serpente,
símbolo da ira de Herodes contra o menino Jesus.
42
2.2.1.4. Expressões de sensualidade
Aqui se reúnem algumas obras cujos conteúdos referem-se à atração, à sedução e ao
pacto entre duas pessoas. Para analisa-las buscaremos apoio principalmente na própria fala do
artista (ANDRADE, 2005), que revela bastante sobre seus desejos, frustrações e conquistas.
O Anjo Sedutor (fig. 17) contrasta com o grupo analisado anteriormente. A figura de
anjo se refere mais ao religioso, mas esse anjo se mostra sedutor. Segundo a tradição cristã, os
anjos são seres alados, assexuados e possuem forma humana. São seres espirituais,
mensageiros e suas asas são o veículo de transporte que proporcionam a proximidade com
Deus. A obra de Erasmo contraria a tradicionalidade da representação do anjo e sugere
relações entre religiosidade e sensualidade, pois em vez de o anjo livrar os humanos dos
males da paixão, seduz. As duas faces se encontram e paralisam-se uma diante da outra,
fitando-se os olhares. O anjo, por sua vez, com expressão sedutora, hipnotiza a figura que vem
ao seu encontro, inclinando-se na sua direção e cedendo às suas artimanhas.
Cabeça de Paixão (fig. 19) também mostra uma relação entre figura humana e anjo.
Este parece surgir dessa figura humana, em cuja cabeça penetra com liberdade. O anjo,
identificado por suas asas azuis, parece tapar a orelha do humano para que ele não ouça
críticas externas, mas também parece lhe dizer algo. É como se o anjo fosse o próprio
pensamento do humano, cuja mente trabalha em razão de seu querer, sem se importar com a
opinião alheia. As flores ao redor dos personagens vêm amenizar a tensão desse episódio e
mostrar a beleza e o ar sensual da cena. Mas as flores de Erasmo têm seus pistilos – órgãos
reprodutores da planta - bem evidentes, assemelhando-se à genitália masculina. Por outro
lado, em virtude de seu formato, essas flores até parecem borboletas, que sem caule voam
pelo quadro. É possível que essa pintura trate da dualidade entre o feminino e o masculino,
indicada pelas cores dos olhos do humano: vermelho e azul. Comparando essas duas últimas
obras analisadas entre si à vida do artista, é notável o conflito que sugerem, entre a
religiosidade e a sensualidade.
A pintura Saliva de Sangue (fig. 66) é composta por duas cabeças de figuras humanas
que, muito próximas, quase se beijando, se conectam através de um fluido saído de suas
bocas, como que selando um pacto ou um compromisso de amor. A pintura é cheia de cores,
pela presença de borboletas estilizadas que tomam a forma de coração, sugerindo certo
43
romantismo à cena. Essa representação se assemelha à de Figuras na Ponta Negra em 1980
(fig. 69), em que duas figuras se aproximam fixando-se pelo olhar, como que trocando energia
também numa cena romântica, em meio a pés de caju – alusão à Ponta Negra – e no que
parecer ser um anoitecer. Por outro lado, reencontramos aqui o simbolismo de cores sugerido
em Cabeça de Paixão (fig. 19), em que a figura humana apresenta um olho azul e outro
vermelho: agora, essas cores aparecem nas bocas dos personagens, também sugerindo uma
dualidade de gêneros.
Já em Os Namorados (fig. 115), dois personagens aparecem juntos, de corpo quase
inteiro. O da esquerda, olhando para nós, gesticula os braços como se tivesse em posição de
dança; o da direita, posicionando-se por trás do primeiro, olha para seu companheiro como se
quisesse beijá-lo. Os lábios dos dois namorados diferem novamente de cor, sempre em azul e
vermelho. Trata-se de uma cena sensual entre dois amantes, como sugere não só o próprio
título da obra, mas também a incidência da cor vermelha - que tanto indica paixão, como
perigo - contrastando com o azul – que, por sua vez, simboliza a frieza, o mistério, a ternura.
Aqui também há a simbologia do estar sendo observado, através dos círculos nos astros e do
olho na fachada da casa, que parecem representar o olhar de repreensão e censura, tanto da
esfera celeste, quanto da sociedade.
Na obra Morte do Amor (fig. 50), à esquerda, vemos duas figuras que parecem ser
masculinas, uma sentada e outra deitada, a primeira segurando a cabeça da segunda com a
mão esquerda. À direita, duas outras figuras caminham, de costa para nós, em direção a um
casario com torres – seriam igrejas? – no fundo da imagem, carregando uma espécie de tocha-
candelabro. A cena se passa em noite de lua baixa, sob um céu estrelado. O cenário extenso e
solitário reflete a dor da perda. Pelo modo como os personagens da esquerda estão dispostos,
é possível comparar essa obra com Retrato do Amor quando Jovem (fig. 05), a semelhança
entre as duas reforçando a ideia de que, em ambas, o tema está relacionado à perda de um
amor carnal.
Em sua dissertação de Mestrado, o artista conta que, no seu tempo de seminário, havia
um jovem que lhe despertava uma grande atração. Este jovem era um colega, a quem Erasmo
dedicou seu amor oculto e inquieto, revelando-o apenas em formas plásticas:
Sob a sombra de uma vestimenta eclesiástica trocamos palavras, cantamos
no coro de vozes verdadeiras e falsas na capela das ilusões perdidas e
também resgatadas e transformadas na plasticidade de minha pintura de
sonho. Nas transparências e veladuras dos meus quadros encontra-se oculto e
44
revelado, a beleza do teu rosto plástico como o Renascer do vergel
colonístico de uma paisagem sertaneja... (ANDRADE, 2005, pg. 26)
Segundo o pintor, a obra Retrato do Amor quando Jovem (fig. 05) faz referência a esse
rapaz seminarista, originário da região do Seridó:
Foi neste clima que quebrando certas regras, [esse quadro é] uma pintura
bem diferente daquele contexto, onde eu compunha um quadro beirando o
surrealismo, uma inconsciente forma de revelação de amor e paixão e uma
engrenagem de complexos psíquicos. (ANDRADE, 2005, p. 54).
2.2.1.5. Imaginário e fantasia
O último grupo de temas identificável por mim na obra de Erasmo Andrade refere-se
ao seu imaginário, mostrando conteúdos mitológicos, paisagens enigmáticas, quando o artista
conta que:
Para sobreviver, inventei um mundo abstrato impossível de ser visto pela
maioria das pessoas. Como uma casa de fazenda antiga escondida na serra,
banhada por um rio doce. E quando a lua de prata aparece no céu, tenho a
vontade de juntar-me àquela luz de mistério. O meu olhar busca uma estrela
no céu muito distante. Tenho a impressão de ter habitado no mundo estelar e
que de lá caíra como um anjo derrubado. (Entrevista à autora, em
15/03/2013).
Erasmo revela gostar de anjos e os insere em suas obras, em seus pensamentos,
provavelmente acreditando que eles o acompanha como uma espécie de anjos guardadores.
Em Anjos Músicos de Sabará (fig. 14), pintado no ano em que o artista entrou na Escola de
Belas Artes de Belo Horizonte, ele faz uma homenagem às cidades históricas de Minas
Gerais, com suas igrejas e casarões antigos, os cemitérios, as esculturas de Aleijadinho e a
própria paisagem patrimonial. Na imagem, parece que os anjos elevaram a cidade aos céus,
em seu habitat natural e diante da lua e das estrelas, divertem-se no meio dela. Diante de um
instrumento musical de cordas, parecem compor uma canção, talvez uma cantiga de ninar,
trazendo paz à cidade, cujos cuidados estão sobre sua responsabilidade. A composição revela
uma hierarquia, pois a cidade está muito pequena se comparada com o tamanho dos anjos,
indicando serem estes os guardiões. É interessante ressaltar que Erasmo representou anjos em
diversas outras obras, como Anjo Músico com Violino (fig. 09) e Cabeça de Paixão (fig. 19),
entre outros, (ver relação completa na tabela no final desse trabalho).
45
Os seres mitológicos também fascinam o artista. Cenas fantásticas eram criadas por
Erasmo, quando criança, acreditava que existia um mundo povoado por seres extraordinários.
Seu avô Joca Belfino era o dono da Mina Oiticica, que ficava próxima de São Tomé e era
administrada pelo pai do pintor. Por ser o filho mais velho, Erasmo seguia com seu pai para a
mina e lá, diante da gruta que escavavam para extrair a xelita e outras pedras, o artista fazia
uma viagem mental, de imaginações surreais:
Eu [pinto] figuras estranhas como centauros [...] porque eu sempre achei que
existia esse mundo de centauros. Quando eu ia à Mina Oiticica, quando
criança [...] imaginava que aquele mundo era real [...]. Dentro de uma serra,
naquela profundidade, [...] eu via, naquele mundo, que habitavam centauros.
(Entrevista à autora, em 15/03/2013).
Na obra Centauro e a Serpente (fig. 85), as figuras principais encontram-se em um
ambiente fantástico, em um lugar nevoado e suspenso, com construções estranhas compostas
por telhados e torres pontiagudas, além de torres e escadas ligando as construções entre si e ao
céu. Parecem mais castelos suspensos às margens de abismos cristalinos, meio espelhados,
que podem remeter aos brilhos das pedras encontradas nas grutas da mina em que Erasmo
viajava mentalmente, na infância. O centauro está representado no centro e em primeiro
plano, fitando-nos, ao lado de uma serpente que parece ter sido derrotada pelo ser meio
homem e meio animal: sua cabeça voltada para cima e o corpo encolhido sugerem que ela
está morta. Mas esse centauro se apresenta de maneira bem particular, com elementos
masculinos – costas largas, porte musculoso, pênis avantajado – e também femininos – seios,
rosto maquiado e uma espécie de chapéu com flores e coração. Qual seria, então, o
significado simbólico desse ser andrógino derrotando uma serpente?
Centauro na Pedra do Navio (fig. 86) foi pintado no mesmo ano que a obra anterior e
com as mesmas dimensões. A imagem também apresenta muitas semelhanças com a da obra
anterior, tanto pela composição – um personagem ocupando quase todo o centro da tela, em
primeiro plano, com construções ao longe – quanto pelas características dos elementos –
centauro com parte inferior voltada para a esquerda e mesma posição de braços do centauro
anterior (mas invertido simetricamente) e construções estranhas, como que suspensas, com
escadas, torres e, dessa vez, uma cruz no alto de uma delas. É como se as duas telas tivessem
sido pintadas ao mesmo tempo, uma ao lado da outra. Mas esse novo centauro é menos
ambíguo que o anterior: mesmo sem ter um pênis, ele é mais masculino, já que não possui as
características femininas do outro. É como se o centauro na cor marrom representasse um
personagem de relações duplas e o outro, na cor azul, representasse o masculino. E aqui, em
46
vez da serpente, temos uma pequena borboleta e um vaso, bem como montanhas e uma casa
ao longe. O nome Pedra do Navio se refere a uma fazenda onde os pais de Erasmo foram
morar e onde ele costumava visitar.
Na obra Sereias (fig. 44) vê-se duas personagens, uma em frente à outra, diante de
uma garrafa e uma taça, como se comemorassem algum acontecimento. Suas mãos se
direcionam para objetos: vaso, garrafa, taça e uma forma quadrada vermelha, ao pé do vaso.
As Sereias são consideradas seres lendários ou mesmo personagens fantásticos que
simbolizam a sedução mortal. Originárias do mar, com características de peixe e de mulher,
têm a fama de atrair os navegadores e levá-los à morte.
Além de seres mitológicos conhecidos, como centauros e sereias, Erasmo também cria
personagens que, mesmo sem apresentar características físicas extraordinárias, se apresentam
como seres enigmáticos, cuja identidade torna-se ainda mais obscura à leitura dos títulos das
obras. É o caso, por exemplo, de O Leitor das Cartas Embaralhadas (fig. 77), personagem
com um pescoço enorme, rosto de perfil, chapéu cilíndrico, cabelo volumoso vermelho e
roupa larga que provavelmente cobre todo o corpo. Em torno dele, vemos elementos que
parecem flutuar: duas metades de rosto que parecem ligadas a um rolo de linha e uma taça
com líquido vermelho que se liga a algo de forma quadrada. Quem seria e o que representaria
esse personagem com esses objetos? Sabemos que Erasmo via as apresentações do Circo
Borborema, em São Tomé, quando criança. Talvez as figuras e as atrações desses espetáculos
– show de palhaços ou truques de mágica, por exemplo – tenham marcado mais sua
imaginação, aflorando na sua arte através de imagens enigmáticas como essa.
47
2.3. DAS FORMAS
Foi por volta dos sete anos de idade, quando desenhava nas calçadas da rua onde
morava, que Erasmo começou a desenvolver um estilo promissor. Ele diz que naquele
momento surgiam traços parecidos com os desenhos dos Maias, Astecas e Incas. Percepção
esta que o artista só veio a descobrir depois, através de seus estudos sobre “A Imagem Mítica”
(Entrevista, à autora, em 15/03/2013). Provavelmente eram traços rebuscados, trazendo uma
essência original que atraiam olhares apreciadores.
Afirma Ostrower (2004, p. 297) que o estilo de um artista vai de como ele elabora a
forma de representar seus elementos, inserindo significados de acordo com as interpretações
das realidades que foram vividas: “O estilo de uma obra sempre corresponde a uma visão de
vida – visão pessoal ou, mais amplamente, visão cultural de determinada sociedade num
determinado momento histórico”. Ela também conta que a maneira estilística e expressiva do
artista vai além do resultado final de seu trabalho, pois, é considerável que na concepção da
arte haja um processo interno que permite a intuição sem mesmo atingir o nível do consciente,
é o que orienta o fazer artístico por meio da bagagem material e espiritual que o artista
carrega.
A análise estilística de uma obra de arte requer o estudo dos elementos formais que a
compõem. Para a análise das pinturas de Erasmo, Ostrower (2004) abordar três categorias
fundamentais em relação a esses elementos, que são: a composição, o desenho e a cor.
2.3.1. Influência modernista
Erasmo não esconde que teve uma grande influência da Arte Moderna. Seja em suas
entrevistas ou em sua dissertação de Mestrado (ANDRADE, 2005), ele sempre se refere a
pintores modernistas europeus como as principais referências que teve na elaboração de sua
própria pintura. Influenciado pelas vanguardas Cubista, Surrealista e Fauvista, principalmente
dos artistas Paul Gauguim (1848-1903), Henri Matisse (1869-1954), Paul Klee (1879-1940) e
48
Marc Chagall (1887-1985). Logo, suas obras evidenciam essas influências, porém seguindo
seu próprio caminho mostrando-nos um estilo peculiar.
A obra Vaso com Girassóis e Borboletas (fig. 07), é composta por um vaso no centro
da pintura com duas alças em suas laterais, seu formato é composto por pequeninas borboletas
na cor azul de modo monocromático, que vai do azul mais forte ao mais claro. A presença
desse azul na tela faz com que o vaso se torne mais visível, por ser a cor em destaque. Esse
vaso está apoiado em uma espécie de pano rendado em forma de flor, também
monocromático, que envolve todo o restante da tela, inclusive a cor das três flores que saem
de dentro do vaso com suas hastes negras, elas se mostram de frente, sem perspectiva, seus
miolos são pincelados acompanhando o formato arredondado, dando a impressão de espiral,
suas pétalas pontiagudas estão separadas entre si. A borboleta aparece tímida por trás das
flores, pois é de mesma tonalidade e se mostra de tamanho maior que o natural. O conjunto
dos objetos inseridos nessa obra parece flutuar, acompanhando assim, o ritmo da borboleta.
Essa obra de Erasmo lembra a de Van Gogh, Doze Girassóis (fig. 08). Comparando-se
as duas, vê-se que em cada uma delas há um vaso com girassóis; também se percebe que os
quadros foram pintados com apenas duas cores, na qual se utilizam de gradações para variá-
las: Erasmo se beneficiou das cores azuis e laranjas, e Van Gogh, das amarela e verde. Se no
quadro de Van Gogh o fundo destaca os girassóis, em Erasmo toda a tonalidade do quadro
vem a destacar apenas o vaso, azul.
O Cristo Amarelo (fig. 34), de Gauguin pode ser comparado com o Cristo de Erasmo
(figura 33) este nos dá a impressão de que suas pernas são mais curtas que o corpo, sua
apresentação está em primeiro plano, portanto mais próxima do espectador. Por trás, um
ambiente repleto de elementos que o artista aprecia como as torres das igrejas, astros, entre
outros, todos representados com predominância das cores frias. Já no Cristo de Gauguin, as
mulheres camponesas aparecem em primeiro plano ao pé da cruz, Cristo pendurado e mais
alongado que o de Erasmo aparece em segundo plano, encontra-se em um campo com
casarios, vegetações e montanhas ao longe, cujas cores quentes ajudam a deixar o quadro
mais extenso.
Paul Gauguin (fig. 38) é uma obra de Erasmo que representa uma cena de ócio, na
qual uma figura feminina está sentada ao pé de uma árvore, à sua esquerda um cachorro, à sua
direita cajus espalhados no chão, simbolizando o maior cajueiro do mundo, em Natal. Por
49
trás, ladeando a personagem, dois pavões, que pairam despreocupados; por possuir enorme
calda e bela e colorida plumagem, além de uma pose imponente, simboliza a vaidade humana.
A paisagem ensolarada remete ao Morro do Careca em Ponta Negra, onde o sol aparece baixo
e grandioso beirando a linha do morro. No entanto, outro círculo amarelo e menor mais à
esquerda parece ser uma duplicação desse sol. Essa obra de Erasmo é parecida com a do
pintor Paul Gauguin Arearea (fig. 39), ambas em um ambiente corriqueiro, próprios das
vivências dos dois artistas, mostrando pessoas e animais dividindo o mesmo espaço.
Buscando as semelhanças no quadro de Erasmo vê-se que o artista manteve o posicionamento
dos personagens: a mulher veste o mesmo modelo de vestido, daquela representada no quadro
de Gauguin, também sentada ao chão põe a mão sobre as pernas, mantem o rosto voltado para
a sua direita em direção ao cachorro de tonalidade avermelhada.
Nascimento de Rudá (fig. 22) é uma pintura abstrata construída com formas
quadriculadas. É um mosaico onde cada superfície é separada da outra demarcando seu
espaço com tonalidades quentes como a laranja e fria como a verde. Será essa uma
representação de estado de espírito do artista? Já que a palavra Rudá, em tupi, significa o deus
do amor. O ser humano é dotado de sentimentos conscientes ou inconscientementes Erasmo
pode estar manifestando-os através das cores quentes, para sentimentos positivos e frias para
os negativos, como também, quando apresenta em suas obras a forma geométrica quadrada,
que tem significado de enfado e simboliza o corpo e a realidade. É uma pintura que lembra as
do artista suíço Paul Klee (1879-1940), Flora on Sand (fig. 122). Por sinal, parte do estudo da
dissertação de Erasmo, foi baseada nesse artista, onde comenta algumas de suas obras.
Erasmo herda dos pintores modernistas a liberdade de expressão. Sua obra possui
pinceladas rebuscadas e com traços geometrizados simplifica seu desenho, satura suas cores e
tende a se mostrar ainda mais estilizado, anti-naturalista e bidimensional que Van Gogh e
Gauguin.
Erasmo, pintor de suas memórias da realidade e de sonhos, do passado e do presente,
deposita maior estudo em Marc Chagall (1887-1985), este também pintou, tanto suas
vivências, quanto histórias poéticas do pensamento, dos sonhos e do desejo, embasados na
ideia de que tudo é possível, através dos milagres divinos; com isso, “Chagall permanece
essencialmente sonhador e lírico, mágico e ingênuo, o que faz do pincel a ferramenta
transformadora da bondade e da inocência em cores maravilhosas” (GÊNIOS DA PINTURA,
1973). Foi essa forma de expressão que, coincidindo com as características de Erasmo, o
50
permitiu criar diálogos com as obras de Chagall através de suas pinturas, trazendo para suas
construções a forma onírica chagalliana, agindo com liberdade para expor seus sonhos como
só ele sabe contar, recitando suas imagens, como se fossem poemas visuais.
Marc Chagall foi um pintor surrealista, movimento francês do Século XX, cujas
características consistem nas manifestações do subconsciente, são representações ilusórias e
ilógicas como as dos sonhos e alucinações, porém com aspectos reais.
Na pintura de Chagall O Olho Verde (fig. 117) o que primeiro chama a atenção do
espectador é o grande olho no frontão de um casebre, depois vem a cabra em cor azul que se
deixa extrair o leite e a lua amarela ao longe, a obra tem tonalidades verdes. Já na obra O
Casal da Torre Eiffel (fig. 118), Chagall compõe com ousadia o modo de representar essa
cena; o casal em trajes de noivos flutua ao lado de um grande galo, assim como todos os
personagens do quadro, há anjos que vivem no meio dos humanos, cabra com violino e ao
fundo o casal de noivos parece concluir o matrimonio acolhidos em um pequeno abrigo. À
cima, o sol - bem parecido com o que Erasmo costuma representar – aparece grandioso e
quente atraindo o olhar, contrastando com a frieza do ambiente de tonalidade azul.
Nas obras de Erasmo é evidente a forte influência de Chagall principalmente nos
personagens que aparecem flutuando na tela, como em Rapaz de um Bloco de Carnaval de
1957 em São Tomé (fig. 90) e Anjo Músico da Aldeia Azul (fig. 107). Entretanto esta
influencia marcante não impediu Erasmo de demonstrar memórias pessoais e autenticidade
em suas criações.
2.3.2. A composição
Podemos imaginar os caminhos que um artista percorre para compor uma pintura. Será
que ele imagina a composição antes de pintar? Faz um projeto prévio? Tem um projeto de
início, mas durante esse processo insere elementos que vão surgindo intuitivamente de acordo
com o tema e seu estado de espírito? Ou simplesmente, constrói uma pintura com elementos
intuitivos, ou seja, sem fazer quaisquer tipos de planejamentos prévios? E qual é o resultado
final desse processo – seja ele elaborado ou intuitivo – em relação à composição da imagem
representada?
51
Para a maneira de Erasmo elaborar a composição dos seus quadros, não tenho
informações de que ele faz estudos preparatórios, por não ter visto nenhum desenho para esse
fim e por ele nunca ter falado sobre esse assunto. Mas, pressupondo que por ele se inspirar em
artistas modernistas, que mesmo não sendo uma regra, muitos deles, procuravam evitar
desenhos prévios, deixando vir a espontaneidade em suas pinturas, já que os desenhos prévios
eram exigidos na academia, onde teriam que atingir a perfeição, é possível que Erasmo siga
esse sistema, pintando diretamente na tela, apenas tendo em mente uma ideia prévia. Mas,
tudo leva a crer que ele não segue à risca esse sistema. Pois, de acordo com minhas
observações, em algumas obras, é visível que elementos ou partes desses elementos sejam
feitos à lápis na tela. É o caso de Rapaz na Ponta Negra (fig. 60), em que, a construção, que
aparece à direita mostra a marca de um esboço, porém no restante da obra é impossível
detectar esse indício. E Figura Olhando para o Nada (fig. 98), a construção à esquerda
mostra que as partes pintadas de amarelo apresentam marcas de lápis. É mais certo dizer que
Erasmo compõe de maneira mista, tanto faz ele iniciar com a tela em branco, como fazer um
breve esboço, e ainda é crível que durante seu processo de pintura, vá acrescentando
elementos adicionais de acordo com seu estado de espírito, pois se pondo num estado de
transe, passeia por sobre a tela, vivenciando um mundo imaginário e deixando fluir toda uma
vida passada, fantástica, desejos impossíveis, fugindo de uma redoma limitadora, deixando o
suporte absorver suas emoções.
Em sua maioria, as obras de Erasmo são bem carregadas de informações, mas em
outras poucas, encontramos imensos vazios. É o caso de Morte do Amor (fig. 50) e No
Sepultamento de Maria (fig. 59), em que áreas extensas e vazias podem ser interpretadas de
várias formas. Se levarmos em conta os temas apresentados, de caráter bastante emocional,
podemos dizer que o mundo se torna vazio quando se perde um ente querido, quando a
solidão nos afasta de todos. Um caminho que antes era comum, agora se torna estranho e a
distância entre o querer e o não poder alcançar, passa a ser muito grande. Essas são sensações
desagradáveis que podem estar representadas nos espaços não preenchidos pelo artista.
Erasmo procura apresentar seus personagens em áreas externas, em cenas bastante
diversificadas, isso vem acarretar uma expressão de liberdade, assim como os seres alados que
vão e vêm livremente e passam por lugares conhecidos e estranhos, da realidade e dos sonhos.
Poucas figuras humanas são apresentadas de corpo inteiro e grande parte dessas figuras é
representada mostrando até a altura do busto, outras são suprimidas pernas ou pés e outras
poucas aparecem apenas a cabeça, como nas obras: Anjo Músico com Violino (fig. 09),
52
Mulher Recostada na Cadeira (fig. 58) e Jardins do Sertão (fig. 112). Quanto ao
posicionamento dos personagens na tela, não se pode indicar uma posição mais corriqueira,
porque nessa característica também há variações, à esquerda, à direita, centralizado, em cima
ou em baixo, tudo dependendo da história a ser contada.
Também há despreocupação com a disposição dos elementos na tela, que raramente há
simetria, como em Anjo Sedutor (fig. 17), O Flagelo no Sepultamento de Maria (fig. 61) e Os
Olhos da Cabra Verde de Barcelona II (fig. 111), observe que nessas obras a tela é repleta de
elementos, mas em termos de simetria, um lado se torna mais sobrecarregado que o outro.
Para as composições que apresentam um elemento principal em primeiro plano e centralizado
a simetria é notável como em Vaso com Flores (fig. 101) e A Mulher Azul II (fig. 110).
2.3.3. O desenho
No início Erasmo começou desenhando seus personagens intuitivamente ou de
memória. Depois começou a desenhar suas figuras humanas buscando as formas dos bonecos,
assim como afirma:
Fui firmando esses desenhos de memória, comecei a articular esses desenhos
como se fossem uns bonecos, braços, mãos, cabeça, tronco, membros
interligados como uns bonecos, porque eu via também aqueles bonecos que
chamavam de João redondo, ou mamulengos, bonecos falantes [...] como na
casa da minha avó materna, era num hotel, às vezes chagavam gentes que
vinham apresentar shows com esses bonecos e eu fui evoluindo nessa
observação aguçada já montando um repertorio próprio, um material plástico
que eu ia utilizar, aperfeiçoar com o tempo [...]. (Entrevista, à autora, em
15/03/2013).
Erasmo aperfeiçoou seus desenhos, fazendo-os sempre estilizados e para isso,
procurou agregar formas geométricas, considerando essas formas (veremos abaixo um gráfico
(fig. 127), que mostra o índice das três formas geométricas básicas nas obras).
53
Conta-nos Dondis (2007) que as formas geométricas básicas são o quadrado, o círculo
e o triângulo. Elas são dotadas de significados. As direções horizontais e verticais são as
principais formadoras do quadrado e constitui bem-estar; alguns dos significados
apresentados têm a ver com a estabilidade entre o ser humano e o meio ambiente. As formas
curvas têm significados de abrangência e repetição. Já a direção diagonal tem significado
ameaçador e perturbador.
Levando isso em consideração, procurei essas formas nas obras de Erasmo e constatei
que, dessas três, o círculo é quem mais aparece em quase o dobro de vezes, é a forma que traz
simbologia nas representações.
Já o círculo é considerado uma forma contínua, portanto não apresenta começo, nem
fim. Seu formato tem significado de agregação e infinidade. Jung, afirma que:
[...] o círculo (ou esfera) [é] como um símbolo do self: ele expressa a
totalidade da psique em todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento
entre o homem e a natureza. Não importa se o símbolo do círculo está
presente na adoração primitiva do sol ou na religião moderna, em mitos ou
em sonhos, nas mandalas desenhadas pelos monges do Tibete, nos
planejamentos das cidades ou nos conceitos de esfera dos primeiros
astrônomos, ele indica sempre o mais importante aspecto da vida – sua
extrema e integral totalização. (JUNG, 1964, p. 240).
Erasmo insere muitos círculos em suas obras, representando muitas vezes tanto o olho,
quanto todo o tipo de constelação que habitam no céu, principalmente o sol, a lua, as estrelas,
como em São Francisco Transfigurado em Fundo Azul (fig. 24) e Santa Terezinha de Lisieux
0
10
20
30
40
50
60
CÍRCULO QUADRADO TRIÂNGULO
Gráfico 1 - Gráfico medidor de insidência de formas
geométricas presentes nas obras de Erasmo Andrade
CÍRCULO
QUADRADO
TRIÂNGULO
Figura 127 – Gráfico medidor da incidência de formas geométricas nas obras de Erasmo.
54
(fig. 48). Ele, por ter educação eclesiástica, busca refúgio nas coisas celestiais, embora não
frequente nenhuma religião atualmente. Busca nas coisas elevadas paz, segurança e
esperança, já que teme as coisas terrenas, a violência do ser humano. No entanto, procura na
amizade o ser sincero, amoroso, protetor e entrega-se com todas as qualidades de um amigo.
Mas não é tão simples assim, pois há uma resistência de sua parte (ele tem medo!), e coloca-
se em uma redoma para sobreviver às agruras da vida, às coisas terrenas, protegendo-se da
humanidade, que muitas vezes é má.
Contudo, o simbolismo da infinidade que busca através do círculo não se materializa
na realidade, pois o tempo não espera e, na sua sequência, tudo muda, trazendo a saudade de
um tempo que foi perdido, deixando-o apenas na memória de suas obras, como nos temas
Vidas Passadas, Lugares Enigmáticos (fig. 23) e Noite sem Fim (fig. 75).
Se formos pensar sobre os significados atribuídos ao círculo, iremos ver que Erasmo é
um ser acolhedor, que busca o passado, e para não o perder de vista, mescla com o presente e
dá continuidade no futuro, deixando sua vivência envolta numa espécie de espiral para
permitir esse elo, trazendo sempre o passado para o presente.
O quadrado também está associado ao enfado. Platão, em Jung (1964, p. 249), diz que
“o quadrado (e muitas vezes o retângulo) é um símbolo da matéria terrestre, do corpo e da
realidade”. O quadrado e o retângulo aparecem regularmente nas obras para a representação
das construções de casarios e igrejas, bem como nas abstrações de Erasmo, como Noite sem
Fim (fig. 75), Construção Geométrica (fig. 95) e Serra Verde (fig. 36).
Já ao triângulo é dado o significado de ação e de conflito. Nas composições do artista,
essa forma praticamente só é utilizada para representar a pirâmide, que representa a parte mais
alta das torres das igrejas e telhados dos casarios, bem como nos chapéus de alguns
personagens como em Figura de um Carnaval em São Tomé de 1957- II (fig. 89) e Casal
Caminhando para a Torre (fig. 94). Desse modo, a forma triangular nas obras parece não ter
efeito simbólico, pois esse formato nas obras não traze novidade nas representações.
Erasmo desenvolveu um modo peculiar de trabalhar, rejeitando os traços naturais das
coisas, banindo os detalhes dos objetos e da anatomia humana, não buscando a imitação real
da natureza. Para firmar-se nessa sua caminhada como modernista que sempre foi, procurou
em outros modernistas influentes o caminho - a deformação da forma – que faz parte desse
processo de identidade e, nesse seu sintetismo, acredita nos conselhos de Gauguin quando diz
55
que “A arte é uma abstração. Use os sonhos e a imaginação para extrair da natureza e
concentrar-se mais no processo criativo do que no resultado.” (apud COLEÇÃO FOLHA
GRANDES MESTRES DA PINTURA, 2007, p. 18).
Em seus personagens, a forma do pescoço é alongada, nariz projetado, olhos
amendoados, que algumas vezes lembram os olhos egípcios, devido ao seu contorno
acentuado, como em Mulher na Paisagem Geométrica (fig. 56) e O Leitor das Cartas
Embaralhadas (fig. 77). Essas qualidades para o nariz e olhos amendoados, Erasmo em
conversa informal diz ser aspectos de seu pai (figura 120). Os elementos alongados são
encontrados nas torres repuxadas das igrejas que parecem tocar o céu em A Aldeia, a Caverna
e Eu (fig. 82), Caminhando para a Torre (fig. 94) e Fruteira, Folha e Fruta (fig.53), bem
como nos cajus, que sofrem alterações em seus formatos como em Fruteira com Cajus (fig.
52) e Folhagem e Caju da Década de 1960 (fig. 72), mas os Cajus da Década de 60 (fig. 92)
tomam forma particular, pois além de alongados lembram o órgão genital masculino.
No uso das linhas Erasmo não segue um padrão, elas simplesmente se fazem presentes
e se manifestam de várias maneiras para atender às necessidades do artista. Elas servem para
dar volume ao panejamento, como por exemplo, em Mulher Recostada na Cadeira (fig. 58),
cujas linhas inquietas preenchem as mangas da roupa da mulher. Já em Mulher na Festa de
Sant'Ana de Caicó II (fig. 55), as pregas em linhas surgem no ombro e terminam entre os
seios, formando um modelo. Ainda nessa e na pintura Mulher na Festa de Sant'Ana de Caicó
I (fig. 54), as linhas coloridas flutuam no alto da tela, como se fossem fumaça saindo de um
vulcão em erupção, sopradas pelo vento. Essas linhas dançantes também são vistas em outras
obras como em Minha Aldeia em Noite de São João na Década de 1958 (fig. 74),
entrelaçadas decorando os pilares das torres.
Em Mulher no Carnaval de 1958 em São Tomé (fig. 57), as linhas formam hastes e
folhas dos cajus que parecem pêndulos em volta da cabeça. Em Figura com Estigma I (fig.
65), as linhas demarcam todo o personagem, delineando as divisões desse corpo masculino de
modo estilizado; observe que se não houvesse essas linhas, a figura ficaria em estado de
silhueta. O mesmo se aplicaria à casinha no alto à direita, onde sem as linhas seria apenas uma
forma retangular com um círculo à cima.
Grande parte dos elementos representados de Erasmo é contornado com linhas,
característica encontramos em Gauguin, que realiza em seus desenhos uma técnica gráfica
56
chamada Cloisonismo, que consiste, entre outras características, em fechar / delinear as
formas com contornos escuros. Por vezes, varia na espessura do contorno como em O
Acrobata do Circo Borborema (fig. 76) e O Vendedor de Ilusões II (fig.79), cujo corpo,
orelhas e olhos são delineados por linhas escuras mais grossas e no formato do rosto a linha é
mais clara e mais fina.
Suas linhas são sinuosas, mesmo as retas não aparentam rigidez; ora se mostram
estáticas, seguindo direções horizontais e verticais, ora dinâmicas, tomando caminhos
diagonais e curvos. Independente de quais direções e caminhos tome, não são rígidas, porque
são conduzidas à mão livre, sem a utilização de mecanismos de aperfeiçoamento ou correção
como régua, borracha, compasso ou outros materiais. Exceto as montagens com colagens que
são cortadas bem retas, como no chapéu do personagem na Composição com Violão e Cabeça
de Arlequim (fig. 27). É uma prática espontânea, rápida, sem caprichos, que vem
desenvolvendo desde o início e firmada através de seus estudos modernistas.
Têm obras que Erasmo deixa transparecer linhas ou formas que se sobrepõem a outras,
como na pintura Paul Gauguin (fig. 38), onde a linha que forma a montanha permanece
aparente por traz do sol e passa pela frente da árvore. Em Prancha II (fig. 41), a linha que
delimita o chão, passa sobre o pavão e as torres. Em O Flagelo no Sepultamento de Maria
(fig. 61), os punhos da figura masculina, com tonalidade mais clara deixa transparecer a
estaca, dá impressão que os braços estão amordaçados num instrumento de tortura. Ainda em
Centauro e a Serpente (fig. 85), a delimitação do corpo da figura transparece na perna. É
possível notar que Erasmo não se preocupa, e deixa à mostra esses detalhes, pois assim como
em outras, essas obras mostram parte do elemento que está por traz, consistindo-se na
imbricação de diferentes planos. Essa característica também faz parte do Cubismo, é mais um
registro deixado como marca do artista.
Em Retrato do Amor Quando jovem (fig. 05), produzida em 1966, no período do
seminário, apresenta traços primitivos, movimentos rápidos sem a preocupação de detalhes.
Pode-se dizer que é uma pintura de iniciante; já no caso da pintura Anjos Músicos de Sabará
(fig. 14), de 1978, nota-se uma evolução, embora persista o traço simplificado, agora, procura
detalhar seus desenhos e inserir elementos diversificados no cenário, criando um ambiente de
fantasia, deixando o quadro mais denso, elaborando melhor o conteúdo, onde já se vê uma
ideia de profundidade.
57
Logo, em seus quadros, Erasmo intercala desenhos com e sem profundidade, efeito
mantido durante seu percurso artístico, como em Enterro de Anjo (fig. 10) e Santa Terezinha
de Lisieux (fig. 48), onde o espaço ao fundo mantém os desenhos bem pequenos como forma
de indicar distância entre primeiro e segundo planos, e desenhos bidimensionais ou chapados
como em Vaso com Girassóis e Borboletas (fig. 07) e Mulher Azul (fig. 97). Nestes, os
personagens principais se mostram centralizados cujo fundo muitas vezes é representado com
uma cor, sem senário, chapado.
Na obra Olho de Lince sobre a Paisagem de Ventos (fig. 80) há profundidade na parte
inferior, mas na parte superior os elementos parecem estar em primeiro plano, assim como a
cabeça do personagem. Do mesmo modo, Centauro na Pedra do Navio (fig. 86), cuja parte
inferior do desenho parece desconectada da superior, nesta há uma espécie de castelo
grandioso em terceiro plano e em baixo, bem ao fundo, um casebre em segundo plano. Ainda
que a ordem dos elementos esteja certa, o castelo sendo o último elemento exposto, ainda que
seja muitíssimo grande, a disposição desses elementos causa certo incômodo. Essa dualidade
de espaço superior e inferior também está na pintura Maria aos 18 Anos II (fig. 73), do meado
da imagem para baixo traz impressão de profundidade, mas a de cima, aproxima-se da
personagem ficando em primeiro plano juntamente com as flores.
A obra Minha Aldeia em Noite de São João na Década de 1958 (fig. 74), não traz
profundidade, ainda que o artista tivesse intenção, a posição e o tamanho dos elementos na
tela não foram capazes de repassar essa ideia, mesmo que a igreja no centro da tela esteja
menor, parece que todos os elementos estão em primeiro plano, como uma cortina, nem
mesmo a diferença de tamanho entre os círculos conseguiram sugerir essa profundidade.
Não se vê perspectiva nas obras de Erasmo. Pois, para que haja perspectiva é
necessário que o desenho seja projetado a partir de pontos e linhas de fuga para que os
elementos sejam guiados por eles a fim de obterem-se espaços e profundidades das mais
diversas direções, assim como na realidade. Lembrando que a perspectiva surgiu no século
XV, no Renascimento e que antes disso só existiam noções de profundidade. Mas para não
dizer que essa característica é totalmente banida das obras de Erasmo, vemos em Noite sem
Fim (fig. 75) alguns indícios de perspectiva na representação da igreja. No entanto Erasmo,
modernista que é, foge de tudo que possa remeter à representação realista.
58
2.3.4. A cor
Desde há muito, com o surgimento da humanidade, os seres primitivos tiveram a
necessidade de comunicação e o fizeram com a cor, como meio de registrar emoções, rituais,
magias, embora não tivessem conhecimento suficiente para definir seu conceito. Barros
(2009), afirma que a cor é um fenômeno fascinante, e sua presença no mundo visual exerce
atração sobre nós, despertando sensações diversas. Já Pedrosa (2009, p. 16) diz que, “com sua
magnificência, a cor integra e comanda o extraordinário da vida”.
Erasmo, caprichoso que é, procura empregar nas pinturas, através das cores, sua
energia. Mesmo que a incidência da cor azul, em determinadas obras, seja preponderante, as
demais cores fascinam o artista. Essa constatação fica evidente quando ele fala dos belos
pavões coloridos da sua infância e adolescência, do porta-joias de cores e de sua paleta
empastada, que ele fez questão de mostrar no convite de uma exposição (fig. 125).
Suas pinturas são chapadas, porque há ausência de sombreamento, muitas vezes usa
tons diferentes, mas não para criar sombra e luz. A falta de profundidade em algumas
imagens, tende a trazer a composição para frente, deixando-a em primeiro plano. Mas essa
bidimensionalidade é ligeiramente confundida com a tridimensionalidade, devido às
pinceladas em determinados lugares da pintura que dão a impressão de espaço, como se pode
ver em Fruteira com Cajus (fig. 52) e Mulher no Carnaval de 1958 em São Tomé (fig. 57),
diferentemente quando se usa uma só cor no fundo, como é o caso de Vaso com Girassóis e
Borboletas (fig. 07), Anjo Músico com Violino (fig. 09) e O Leitor das Cartas Embaralhadas
(fig. 77), que tendem a ser chapadas. Lembrando que as cores nas obras de Erasmo servem
para distinguir os elementos e algumas vezes, usa tonalidades diferentes para simular
sombreamento, como em Projeção da Alma (fig.32) e Centauro e a Serpente (fig. 85).
O volume, a luz e a cor são elementos que superam a bidimensão, pois com eles se
pode obter profundidade e espaço. Nas obras de Erasmo esse efeito é atraído pelas pinceladas
de cor mais clara, como o branco, por exemplo, dando um efeito nevoado à cena, como em
Paisagem D'Água (fig. 91), diferente do Casal Caminhando para a Torre (fig. 94), onde não
se vê esse efeito e a pintura torna-se chapada.
59
Erasmo tende a usar cores antinaturalistas nas representações de seus elementos, como
nas obras Menino na Serra Verde (fig. 28), Mulher na Festa de Sant'Ana de Caicó II (fig. 55)
e El Ángel de La Luna II (fig. 88), pois em mais da metade de suas representações pictóricas
utiliza cores que não condizem com a realidade, lembrando, com essa atitude, as palavras de
Gauguin, apud Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura (2007, p. 44) que diz: “Como você
vê esta árvore? É realmente verde? Use o verde, então, o verde mais bonito de sua paleta. E
aquela sombra, bastante azul? Não tenha medo de pintá-la o mais azul possível”. Essas são
características do uso das cores antinaturais, assim como Erasmo faz, rostos e corpos de
muitos personagens são pintados de azul, verde ou até colorido; o sol de vermelho; o céu de
verde; os cajus de azul e o horizonte de rosa. Mas as cores nesses elementos não são
constantes, tendem a variar, hora é de uma cor, hora de outra.
Nota-se também que em algumas partes das composições o artista tende a inserir cores
diferentes de destaque como na obra Paul Gauguin (fig. 38) onde vemos a cor amarela em
baixo do cachorro e no braço da mulher; em Figura com Estigma I (fig. 65), há pinceladas
claras acima e em baixo da coroa da figura masculina e ainda na pintura A Aldeia, a Paixão e
Eu (fig. 83), no espaço entre os braços a cor azul está mais escura que o fundo. Essas
inserções permitem que as cores fiquem ainda mais diversificadas, característica que pode
simbolizar algo oculto ou simplesmente uma marca do artista.
Erasmo diz que sua pintura dialoga com a palavra “fauve”, palavra francesa que
significa “fera”. O movimento fauvista, ocorrido na França, no início do século XX, teve por
princípio a simplificação das formas, com o intuito de apenas sugeri-las e o emprego das
cores puras, saturadas, sem misturas e gradações, deixando-as agressivas de tal forma que não
se referem à realidade. Observando as obras de Erasmo e fazendo uma comparação com as
obras fauvistas, não é identificada à risca a agressividade própria desse movimento, pois ainda
que ele use cores saturadas ou puras, muitas vezes procura suavizá-las, mesclando-as com o
branco. Desse modo, compreende-se que Erasmo deve ter-se afeiçoado à palavra “fera”,
atribuindo à sua pintura uma ideia ilusória de selvageria, como modo de dizer que sua pintura
surge de suas “entranhas”.
Porém, Ele procura evitar que suas pinturas fiquem com um matiz muito saturado,
intercalando os tons puros com pinceladas de cores mais claras, para abrandar a agressividade
fauvista e trazer brilho, luz e em algumas vezes, transparência às suas representações, como
em Rapaz na Ponta Negra (fig. 60), onde é possível notar certo brilho na superfície da cena;
60
em Mulher Recostada na Cadeira (fig. 58), o fundo amarelo dá impressão de um ambiente
iluminado, não parentando ser as costas de uma cadeira, como sugere o título, uma vez que a
cor amarela tem o poder de causar efeito de luz, assim como na obra No Sepultamento de
Maria (fig. 59), em que as paredes das construções em amarelo também parecem refletir luz.
Já a transparência aparece, algumas vezes, pelo fato de a cor do elemento dialogar com a cor
do fundo, essa impressão podemos ver no rosto da Mulher no Carnaval de 1958 em São Tomé
(fig. 57) e nos pescoços das figuras em Saliva de Sangue (fig. 66). Vale salientar que o pintor
diz não gostar de cores escuras, o que também explica a presença constante das pinceladas
claras ou esbranquiçadas.
Nas obras do artista, é possível encontrar cores harmoniosas, pois a harmonia, numa
pintura, pode ocorrer de várias maneiras, a depender da proposta do artista. De acordo com
Fraser (2007), entre o amarelo e o verde desenvolve um esquema análogo, ou seja, duas cores
lado a lado no círculo cromático; entre o vermelho e o verde há um esquema complementar,
que é definido por duas cores em lados opostos no círculo cromático; e no esquema triádico,
(fig. 127), embora harmoniosas, tendem a ser berrantes por seus fortes contrastes.
Vale lembrar que as cores utilizadas por Erasmo não seguem, à risca, as tonalidades
mostradas nos círculos cromáticos (figs. 127 e 128), estes servirão apenas como referências
para nossos estudos. E as cores nas obras, em sua maioria, não são totalmente chapadas,
porque são mescladas, proporcionando certa gradação às formas.
O Esquema Triádico (fig. 127) corresponde a três cores equidistantes entre si no
círculo cromático, as cores primárias aparecem em Rapaz de um Bloco de Carnaval de 1957
em São Tomé (fig. 90) e em muitas outras acrescenta uma quarta cor, como nas seguintes
obras, Cajus da Década de 60 (fig. 92), Mulher Azul (fig. 97), A Mulher Azul II (fig. 110),
Paul Gauguin (fig. 38), Sereias (fig. 44), Folhagem e Caju da Década de 1960 (fig. 72),
Barco à Deriva (fig. 45), (figura 64), Caju da Juventude (fig. 67). A combinação das cores
primárias dão efeitos visuais muito atraentes, embora haja contrastes, há grande equilíbrio
harmonioso.
O Esquema Complementar (fig. 128) consiste na combinação de cores opostas no
círculo cromático, logo esses matizes encontram-se numa distância de 180 graus Celsius entre
uma cor e outra. Algumas obras de Erasmo apresentam os três esquemas de cores
complementares que são encontradas em Barco à Deriva (fig. 45), Fruteira com Cajus (fig.
61
52), nesses casos, as seis cores juntas (três primárias e três secundárias, fig. 128) tendem a não
deixam o quadro pesado por equilibrar cores quentes e frias, também pela disposição dessas
cores na tela e por não se apresentarem saturadas. Mas, essas combinações tendem a ser
bastante contrastantes.
Por vezes, tons esverdeados (secundários, fig. 127) são obtidos pela mistura, na
própria tela, das cores primárias: azul e amarela, isso pode ser visto no rosto da Mulher no
Carnaval de 1958 em São Tomé (fig. 57), Figura com Estigma (fig. 68), Figura de um
Carnaval de 1957 I em São Tomé (fig. 70) e Bule e Frutas Levitando (fig. 113).
Figura 127 – Círculo Cromático –
Esquema Triádico. Disponível em:
http://blogsobretudo.com.br/wp-
content/uploads/2015/06/coretivo-
cores-q-e-f.jpg. Acesso em: 09 de
junho de 2006.
Figura 128 – Círculo Cromático –
Esquema Complementar. Disponível
em: http://blogsobretudo.com.br/wp-
content/uploads/2015/06/coretivo-
cores-q-e-f.jpg. Acesso em: 09 de
junho de 2006.
Cores Primárias:
Amarelo, Azul, Vermelho
Cores Secundárias:
Verde, Roxo, Laranja
Cores Complementares:
Amarelo – Roxo
Azul - Laranja
Vermelho – Verde
Círculos Cromáticos
62
2.3.3.1. A cor azul
O azul está presente em abundância no globo terrestre, no céu e no mar, mas na paleta
do pintor, esse matiz tardou a ser encontrado. De acordo com Dias (2007), a utilização da cor
azul não é tão antiga, porque não foram encontrados registros na Arte Rupestre. Mas, de um
pigmento azul (sintético), chamado azul egípcio, obtido pela fusão de cobre, sílica e calcário,
foi feito o principal pigmento azul utilizado na pintura do Egito Antigo e Império Romano,
(cerca de 3000 a.C.). Para Cruz (2007) o azul ultramarino é de grande importância porque é
um pigmento natural proveniente do lápis-lazúli, uma pedra semipreciosa, que vinha do
Afeganistão, cuja localização era do outro lado do mar, daí veio a nomeação de ultramarino.
“Cor nobre e bela, a mais perfeita de todas as cores, da qual nada se pode dizer ou fazer que a
sua qualidade não ultrapasse” (CENNINI, 2003, apud CRUZ, 2007). O alto custo do
pigmento azul ultramarino, considerado um artigo de luxo, levou pintores a utilizarem essa
cor em motivos mais importantes, como em temas religiosos, por exemplo, no manto da
Virgem Maria, que em vez do vermelho ou branco, normalmente usados na Idade Média,
passou a ser substituído pelo azul. Os séculos XIV a XVII foram os períodos de
Figura 129 – Círculo Cromático –
Cores Quentes e Frias. Disponível em:
http://blogsobretudo.com.br/wp-
content/uploads/2015/06/coretivo-
cores-q-e-f.jpg Acesso em: 09 de
junho de 2006.
63
desenvolvimento dos pigmentos azuis sintéticos, muito mais econômicos que os naturais,
como o azul da prússia, o azul de cobalto e o mais esperado, o azul ultramarino.
De acordo com Pastoureau (2007), a cor azul só veio surgir na Idade Antiga, mas
ainda não era considerada uma cor. Devido a dificuldade de fabricação, não havia uso social.
E ainda havia desprezo da cor pela sociedade, como exemplo da gravidade dessa rejeição, até
pessoas que nasciam com os olhos azuis sofriam ignoradas, também era utilizada por bárbaros
e estrangeiros. Esse desinteresse pela cor perdurou até a Alta Idade Média, quando a Igreja
Católica não permitia sua inclusão às cores litúrgicas. Nesse período o céu era representado
pelas cores vermelha, negra ou dourada. A partir do século XII, a Virgem apareceu vestida de
azul e durante muito tempo essa cor foi compulsivamente utilizada tanto pela igreja quanto
pela sociedade. “La Virgen se convierte en la principal promotora del azul.”7
(PASTOUREAU, 2007, p. 02).
O azul, no Círculo Cromático é considerado uma cor fria (fig. 130). Assim como
representa elementos da natureza, também é possível remeter ao estado de espírito. Há
inúmeras obras de Chagall em que o azul predomina. Em Erasmo, a incidência da cor azul é
muito grande, presente em quase todas as pinturas. De fato, de um total de 77 obras de sua
autoria, utilizadas nessa pesquisa, apenas em quatro pinturas podemos constatar a ausência
desse azul, (ver tabela no final do trabalho).
Pastoureau (2007, p. 03), diz que a cor azul no Período Romântico (Séculos XIII e
XIX) era atribuída à melancolia. Erasmo em conversa informal, disse que suas obras têm um
ar romântico, e como ele também fala que São Tomé é um lugar bucólico, desse modo, ele
traz atribuições desse período à suas obras, para indicar um ar sombrio para suas
representações subjetivas. E vemos cenas tristes nas seguintes obras: Figura no Leito da Serra
Azul (fig. 51), No Sepultamento de Maria (fig. 59), O Flagelo no Sepultamento de Maria (fig.
61) e Mulher Azul (fig. 97) essas pinturas mostram temas relacionados à morte da mãe,
cenários em tons de azul, que deixa o ambiente escurecido, sombrio, próprio para denunciar
tristeza, vivendo momentos de profunda solidão, transmitindo através de sua arte a cor da sua
alma. No livro de Fraser (2007, p. 21 e 49), há algumas associações atribuídas à cor azul:
calma, solidão, espaço, reflexão, serenidade, entre outros. É possível notar esses atributos nas
obras e até chega a dizer que “A Aldeia Azul é o manto de serras que contornam São Tomé,
uma pintura de casas sobre rochas, preenchendo espaço e tempo” essas montanhas são vistas
7 Tradução: A Virgem torna-se a principal promotora do azul.
64
bem ao longe, tornando-se azuladas, impressão própria desse matiz para as coisas vistas no
horizonte, como em Vaso com Flores de Ingá (fig. 18), Paisagem Bucólica (fig. 46).
O espaço é representado tanto por superfícies terrenas e áreas celestiais em tons de
azuis que dá sensação de profundidade em Figura Observando Objeto no Espaço Sideral (fig.
105), Minha Aldeia em Noite de São João na Década de 1958 (fig. 74), Noite sem Fim (fig.
75). No manto de Nossa Senhora da Conceição (fig. 106), a cor azul remete à serenidade da
santa que historicamente passou a ser associada a essa cor. E nos personagens e festas do
folclore popular Erasmo nos conta: “As figuras do pastoril também me impressionaram pelas
cores azuis e encarnadas, [...], os movimentos da dança, a música e a desenvoltura da Diana
que observei em São Tomé em 1958, 1960; colocando essa beleza em meus quadros [...]”.
Note que nesse festejo há duas cores predominantes: a azul e a encarnada.
O azul de Erasmo também é inspirado nas obras de Chagall, mas se observarmos suas
pinturas, é possível notar que há algo a mais: suas representações são próprias, realmente
vindas das entranhas do artista; há um mistério que insiste em permanecer oculto, porque seus
azuis são instáveis, inquietos, vai de uma tonalidade escura a uma mais clara, formando
névoas, depois é adicionada outra cor, criando manchas no quadro, como em Noite sem Fim
(fig. 75), Paisagem D'Água (fig. 91), Jardins do Sertão (fig. 112). Esses efeitos, juntamente
com essa cor fria tende a revelar o medo da traição, da maldade social, da instabilidade do ser
humano e das agressões dos tempos atuais. Embora consideremos que a cor azul não só
remete à tristeza nas obras de Erasmo, pois quando combinadas a cores quentes (fig. 129),
seus quadros tendem a proporcionar atração por suas combinações de cores, como em Barco à
Deriva (fig. 45), O Leitor das Cartas Embaralhadas (fig. 77), Bule e Frutas Levitando (fig.
113).
65
3. CONCLUSÃO
O estudo da vida e da arte de Erasmo Andrade revela a riqueza de sua essência, não só
em termos de conteúdos simbólicos, mas também no modo como ele aplica a tinta na tela, de
como conduz o pincel, sobrecarregando aqui, deixando faltar ali, permitindo falhas,
interrompendo um segmento que normalmente deveria continuar ou deixando inacabado um
determinado objeto. Essas atitudes jamais são de um artista leigo, ao contrário, muito estudo e
pesquisas estão por trás das cenas apresentadas, acumulados ao longo de anos e anos de
formação, de ensinamento e de prática artística.
Nas obras de Erasmo encontram-se inseridos símbolos e formas capazes de provocar a
atenção do espectador, fazendo seu olhar passear e passear, e não se cansar de percorrer os
veios que levam a temas diversos. Até mesmo as repetições desses temas tornam-se
interessantes, pelo modo como esse artista vem contar a mesma história de maneiras
diferentes, fazendo-nos perceber as tonalidades de azul utilizadas nas composições e a
distribuição de seus traços e suas pinceladas num estilo próprio e único.
De maneira resumida, pode-se afirmar que suas pinturas representam suas vivências.
São imagens que revelam realidades elaboradas de forma imaginativa, que possibilitam aos
olhos dos outros um compartilhamento daquilo que para o artista é visível, trazendo o leitor
para seu universo, pois seus quadros são os verdadeiros mediadores entre ele e o mundo:
[...] A arte tem o poder de causar essa emoção ao espectador. Nota-se que ela
tem verdade no momento em que o espectador olha e se emociona através da
cor, da forma, da composição, de uma energia que a arte tem mesclada de
uma espiritualidade, que não é meramente uma religião, é uma coisa do
Cosmos, uma coisa que o homem procura buscar, uma explicação, e também
não encontra. E a arte faz com que ressurja essa luz, mesclada de vários tons
que o artista vai misturando e conseguindo resgatar, em detalhes, coisas que
não são vistas normalmente. [...](Entrevista, à autora, em 15/03/2013).
Complementando esse pensamento, Berger (1972, p. 14) diz que “as imagens foram
feitas de princípio, para evocar a aparência de algo ausente”. Uma imagem é uma recriação ou
uma reprodução daquilo que foi deslocado de seu lugar de origem e tempo para ser
conservada, por algum momento ou por um tempo indeterminado, em outro lugar. É possível
dizer que Erasmo escolhe o cenário de seus quadros de acordo com as coisas que o
emocionam, principalmente aquelas passadas, que ficaram em suas lembranças, boas ou más,
e que por serem muito fortes, por representarem muito para ele, tornaram-se motivos para o
seu fazer artístico.
66
4. CURRÍCULO EM ARTE DE ERASMO ANDRADE
1949 Nasce em 1 de junho, em São Tomé/RN, onde passa a infância e parte da
adolescência.
1964 Muda-se para Natal/RN.
1964/1967 Ingressa no Seminário de São Pedro em Natal.
1966 1ª participação em Exposição coletiva de Artes Plásticas: “I Feira de Artes
Plástica do RN”, no Museu O Sobradinho, em Natal.
1968 1ª Exposição Individual no Instituto Histórico e Geográfico do RN, em Natal.
1968/1972 Curso Ginasial na Escola Estadual Winston Churchill, em Natal.
1971 Exposição de Arte Sacra, na Galeria da Biblioteca Pública Câmara Cascudo,
em Natal.
1974/1978 Graduação em Serviço Social, pela UFRN, em Natal.
1978 Estudos na Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG, em Belo Horizonte/MG.
1978 Exposição dos alunos do Curso de Pintura da Escola de Belas Artes da UFMG,
no salão da Reitoria da universidade, em Belo Horizonte.
1978 Ingressa como professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), no Departamento de Artes do Centro de Ciências Humanas, Letras e
Artes (CCHLA).
1979 Exposição “A MÁGICA”, de 12/02 [?] – Natal/RN, na Galeria da Biblioteca
Pública Câmara Cascudo, em Natal.
1981 Exposição na Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, de 23 a 29/10,
Biblioteca Central Zila Mamede da UFRN, em Natal.
1982 Exposição “OS ÓLEOS DE ERASMO”, de 24 a 30/09, na Galeria da
Biblioteca Pública Câmara Cascudo, em Natal. Promoção do Departamento de
Artes e Fundação José Augusto. 1983 Recebe o Prêmio Catre, como vencedor do Circuito Nordeste de Artes
Plásticas, pelo voto popular, em Natal.
1983 Exposição na Feira da Cultura Brasileira, no Parque do Ibirapuera, em São
Paulo/SP, de 26/02 a 06/03.
1984 Exposição “OLHAR SOBRE O INFINITO DAS COISAS”, de 03/04 a 09/08,
na Biblioteca Pública Câmara Cascudo, em Natal.
67
1986 Exposição na Inauguração da Galeria de Arte Antiga e Contemporânea, em
Natal, de 29/01 [?].
1986 Exposição de 12 pintores do Rio Grande do Norte, de 02 a 08/05, na Galeria da
Biblioteca Pública Câmara Cascudo, em Natal.
1987 Exposição no 59º aniversário de reconhecimento do Município de São
Tomé/RN, de 30/10 [?]. Patrocínio: Prefeitura Municipal de São Tomé.
1987 Exposição na Feira da Providência – Pintores do RN, de 26/10 [?], no Centro
de Cultura do Brasil, Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro/RJ.
1987 Exposição Primeira Coletiva de Pintores Norte-Rio-Grandense em Mossoró, de
20 a 27/11, na Livraria Independência, em Mossoró/RN.
1988 Curador da Exposição “Zila Bibliografa: 1965/1987”, por ocasião da 50ª
Reunião Anual da SBPC, [?], na ESAM, em Mossoró/RN.
Curador da Exposição “Natal Luz e Cor”, [?].
1988 Exposição no Salão de Artes Plásticas do RN, de 24 a 27/04, no Centro de
Convenções, em Natal.
1989 Exposição coletiva, no 2º Salão Universitário de Artes Plásticas. [?].
1995/2000 Curador da Galeria Conviv’Art do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN.
1997 Exposição “A PAIXÃO TRANSFIGURADA”, [?], no NAC/UFRN.
1998 Curador da Exposição “NATAL, LUZ E COR”, por ocasião da 50ª Reunião
Anual da SBPC. [?].
Curador da Exposição “ARQUITETURA DOS ANJOS” de Newton Navarro,
por ocasião da SBPC Cultural, no NAC/UFRN, em Natal.
1998 Exposição coletiva “NATAL LUZ E COR” no NAC/UFRN, em Natal/RN.
1999 Curador da Exposição “UMA VISÃO PLÁSTICA DE NATAL”, por ocasião
da 5ª CIENTEC, em Natal. [?].
Curador da Exposição “ARTE SACRA NO RIO GRANDE DO NORTE”, no
NAC/UFRN, em Natal. [?].
Curador da Exposição Carybe “O COMPADRE DE OGUM”, no NAC/UFRN,
em Natal. [?].
Curador da Exposição “NATAL ENCONTRA ULYSSES”, por ocasião do
Projeto Polifônicas Ideias, em Natal. [?].
Curador da Exposição “NUT” da Artista Plástica Maria Cheung, no
NAC/UFRN, em Natal. [?].
68
1999 Exposição coletiva “UMA VISÃO PLÁSTICA DE NATAL/RN”. [?].
2001 Exposição “OITICICA MÁGICA”, de 19 a 24/11, na Galeria Conviv’Art –
NAC/UFRN.
2001 ERASMO COSTA ANDRADE, I Exposition D`Expressions Artistiquesdu Rio
Grande do Norte, X Colóquio Internacional de L`Afirse. 2004 Exposição Coletiva “CORES E FORMAS DO SERTÃO SERIDÓ”, de 20/06 a
03/07, em Cerro Corá. Em Currais Novos, de 21 a 30/07. Em Acari, no Museu
Histórico, de 05 a 27/08.
2005 Conclui o Mestrado, pela UFRN, Natal. Dissertação intitulada: Tapete de
memória: abstração da linguagem artística.
2005 Exposição “OLHOS VERDES”, de 31/03 a 29/04, na Galeria Conviv’Art –
NAC/UFRN.
2005 Exposição coletiva: Mostra ARTISTAS DA UFRN, de 25/10 a 04/11, na
Galeria Conviv’Art – NAC/UFRN.
2007 Exposição “PASSAGEIRO DA LUA DE MAIO”, de 09/05 a 01/06, na Galeria
Conviv’Art – NAC/UFRN.
2008 Exposição “MELANCÓLICA TRAVESSIA”, 16 a 30/12, na Galeria
Conviv’Art – NAC/UFRN.
2011 Exposição “PORTA JOIAS DE CORES”, de 27/05 a 27/06, na Galeria
Conviv’Art – NAC/UFRN.
2012 Exposição coletiva “PROFESSOR ARTISTA”, na Galeria DEART, do
Departamento de Artes da UFRN.
2012 Exposição “O ILUSIONISTA”, de 27 a 31/08, na Galeria Conviv’Art –
NAC/UFRN.
2013 Exposição Coletiva IX Colóquio de Estudos Barrocos – “O ETERNO
RETORNO DO BARROCO”, de 09 a 11/09, na Galeria Conviv’Art –
NAC/UFRN.
2013/2014 Fazendo seu Doutorado, pela UFRN, Natal/RN. Tese intitulada: Marc Chagall
e a arte das dobras.
2014 Curador da Exposição “ABISSAIS” do Artista Plástico Vicente Vitoriano, 09 a
24/10, na Galeria Conviv’art – NAC/UFRN.
2014 Exposição Coletiva X Colóquio de Estudos Barrocos – “A SUBLIMAÇÃO
DO GÊNERO”, de 29 a 31/10, na Galeria Conviv’Art – NAC/UFRN.
69
5. REFERÊNCIAS
ENTREVISTAS ÁUDIO-VISUAIS
Depoimento de Erasmo Andrade à Joseane Maria Lobo de Miranda, em 15 de março de 2013.
Acervo da autora (Natal/RN).
Depoimento de Erasmo Andrade ao Projeto Artistas Atuantes no RN no Séc. XXI/UFRN,
coordenado por Nivaldete Ferreira, em 27 de março de 2012. Acervo do projeto (Natal/RN).
OBRAS
ALMEIDA, Ângela Maria da. Caminhos da arte: Rio Grande do Norte. Natal. FJA, 2001.
ANDRADE, Erasmo C. Tapete de Memória: abstração da linguagem artística, Natal/RN,
2005. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Federal do Rio Grande no Norte.
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de Letras. Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Linguagem.
ARGAN, Giulio Carlos. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos.
2ed., 3 reimpr. São Paulo: Companhia das letras, 2010.
BARROS, Lilian Ried Miller. A cor no processo criativo: um estudo sobre a Bauhaus e a
teoria de Goethe. 3ed. São Paulo: Senac, 2009.
BERGER, John. Modos de ver. São Paulo: Martins Fontes, 1972.
BÍBLIA SAGRADA. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. São Paulo: CPAD, 1995.
CALDAS, Dorian Gray. Artes Plásticas do Rio Grande do Norte: 1920-1989. Natal: Ed.
Universitária, UFRN, 1989.
GÊNIOS DA PINTURA: do Surrealismo ao Expressionismo. São Paulo: Abril Cultural,
1973.
COLEÇÃO FOLHA GRANDES MESTRES DA PINTURA, nº10. Paul Gauguin. São Paulo:
Sol 90, 2007.
DONDIS, Donis A. A sintaxe da linguagem visual. 3ed. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo, Martins Fontes, 2007.
FRASER, Tom; BANKS, Adam. O guia completo da cor. São Paulo: Senac, 2007.
GOMBRICH, E. H. A história da arte. Trad. Álvaro Cabral. 16ed. Rio de Janeiro: LTC,
2008.
JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos. 12ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1964.
LÉGER, Fernand. Funções da pintura. São Paulo: Nobel, 1989.
MESTRE DA PINTURA. Paul Gauguin. São Paulo: Abril S.A. Cultural, 1977.
OSTROWER, Fayga. Universos da Arte: edição comemorativa. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004.
PEDROSA, Israel. O universo da cor. 4reimpr. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2009.
PILLAR, Analice Dutra. A leitura da imagem. In: Pillar, Alice Dutra et al. Pesquisa em artes
plásticas. Porto Alegre: UFRGS/ANPAP, 1993, p. 77-86.
70
______ (org.). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2006.
WALTHER, Ingo F., METZGER, Rainer. Marc Chagall. Trad. Lisette Queirós Werner.
Germany – Taschen, 2004.
VIA INTERNET
Breve Historia de Los Colores – Entrevista a Michael Pastoureau. Morfologia / Lecturas.
Buenos Aires, 2007. Texto eletrônico. Disponível em:
http://www.morfologiawainhaus.com/pdf/Pastoureau.pdf. Acesso em: 29 mai 2016.
CRUZ, Antônio João. Os pigmentos naturais utilizados em pintura. In: Alexandra Soveral
Dias, António Estêvão Candeias (org.), Pigmentos e Corantes Naturais: Entre as artes e as
ciências. Évora: Universidade de Évora, 2007, pp. 5-23. Texto eletrônico. Disponível em:
http://ciarte.no.sapo.pt/textos/html/200701.html. Acesso em: 17 out 2013.
DIAS, A.S. Um pouco de azul. In: AL Janeira (Coord.) Modos de saber e fazer a cor.
Coleção Saberes Fazeres. Lisboa: Apenas Livros Ltda. Lisboa, 2007, pp 41-54. Texto
eletrônico. Disponível em: http://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/3116. Acesso em: 17
out 2013.
FERREIRA, Agripina Encarnación Alvarez. Dicionário de imagens, símbolos, mitos,
termos e conceitos Bachelardianos [livro eletrônico]. Londrina: Eduel, 2013. Disponível
em:
http://www.uel.br/editora/portal/pages/arquivos/dicionario%20de%20imagem_digital.pdf.
Acesso em: 02 nov 2014.
PASTOUREAU, Michel. Breve Historia de Los Colores. Entrevista a Michel Pastoureau.
Buenos Aires, 2007. Texto eletrônico. Disponível em:
http://www.morfologiawainhaus.com/pdf/Pastoureau.pdf. Acesso em: 26 jun 2016.
SOARES, Arilza, 2013. Blog eletrônico. Disponível em:
http://papjerimum.blogspot.com.br/2013/01/a-arte-de-carlos-jose-todo-lirismo.html. Acesso
em: 08 jul 2013.
TUPINAMBÁ, Yara, 2013. Vídeo eletrônico. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=E3HCBcRtfCA. Acesso em: 08 jul 2013.
71
6. FIGURAS
Figura 01 - Carlos José, título desconhecido, 1973. Seri-
grafia sobre papel. [?] Disponível em:
http://papjerimum.blogspot.com.br/2013/01/a-arte-de-
carlos-jose-todo-lirismo.html. Acesso em: 08 jul 2013.
Figura 02 - Carlos José,
título desconhecido, 2010.
Técnica desconhecida. [?]
Disponível em:
http://papjerimum.blogspot.
com.br/2013/01/a-arte-de-
carlos-jose-todo-
lirismo.html. Acesso em 08
jul 2013.
Figura 04 – Yara Tupinambá, Balão
sobre a cidade, 2002. Acrílico sobre
tela, 0,90 x 0,70 cm. Coleção: Regina e
Delcir da Costa. Disponível em:
http://www.yaratupynamba.com.br/site
/quadros.php. Acesso em: 27mai 2015.
Figura 03 – Yara Tupinambá, Mata do Jambreiro, 2001.
Acrílico sobre eucatex, 1,20 x 1,00 cm. Disponível em:
http://www.yaratupynamba.com.br/site/quadros.php.
Acesso em: 27mai 2015.
72
Figura 05 - Retrato do Amor Quando jovem, 1966.
Acrílico sobre tela. [?] Fonte: ANDRADE, 2005.
Figura 07 - Vaso com Girassóis e
Borboletas, 1976. Óleo sobre tela, 60 x 50
cm. Fonte: cedida por Dejardiere M. F. Lima.
Figura 08 - Vincent van Gogh, Doze Girassóis,
1888. Óleo sobre tela. [?] Fonte disponível em:
http://www.abcgallery.com/V/vangogh/vangogh
21.html. Acesso em: 4 fev 2015.
Figura 06 - Sanfoneiro, 1973. Grafite
sobre papel. [?] Fonte: cedida pelo artista.
73
Figura 09 - Anjo Músico com
Violino, 1977. Óleo sobre tela, 50 x
60 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 14 - Anjos Músicos de Sabará, 1978. Óleo sobre tela,
50 x 60 cm. [?] Fonte: ANDRADE, 2005.
Figura 10 - Enterro de Anjo, 1977. Grafite sobre
papel. [?] Fonte: cedida pelo artista.
Figura 11 - Músico Melancólico, 1977. Grafite sobre papel. [?]
Fonte: cedida pelo artista.
Figura 12 - O Néctar, 1977.
Grafite sobre papel. [?] Fonte:
ANDRADE, 2005.
Figura 13 - Primeira Comunhão,
1977. Grafite sobre papel. [?]
Fonte: cedida pelo artista.
74
Figura 15 - A Piedade, 1979. Óleo sobre tela,
90 x 80 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 17 - Anjo Sedutor, 1979. Guache
sobre papel de aquarela, 40 x 60 cm. Fonte:
cedida pelo artista.
Figura 16 – Michelangelo, A Pietá. Fonte
disponível em: http://www.guiageo-
europa.com/vaticano/pieta.htm. Acesso em: 13
nov 2015.
Figura 18 - Vaso com Flores de Ingá, 1980.
Guache sobre papel. [?]
75
Figura 19 - Cabeça de Paixão, 1986-1998. Óleo sobre tela,
70 x 60 cm. [?]
Figura 22 - Nascimento de Rudá, 1994. Técnica mista, 70 x
80 cm. Fonte: ALMEIDA, 2001.
Figura 20 - Composição Geométrica
na Paisagem Vertical, 1988. Mista
sobre eucatex, 216 x116 cm. Fonte:
acervo do CCHLA/UFRN.
Figura 21 - Anjos Músicos II, 1994.
Guache sobre papel de aquarela. [?]
Fonte: acervo da Livraria
Cooperativa da UFRN.
76
Figura 25 - A Hora de Judas, 2000.
Objeto com relógio J. bola de gude,
pedra e sementes de Ponta Negra. [?]
Fonte: ANDRADE, 2005.
Figura 26 - Composição com Objetos e Frutas, 2000.
Óleo sobre tela. [?]
Figura 23 - Vidas Passadas, Lugares
Enigmáticos, 1995. Grafite sobre
papel. [?] Fonte: ANDRADE, 2005.
Figura 24 - São Francisco Transfigurado em Fundo Azul,
1995-1996. Óleo sobre tela, 140 x 135 cm. Fonte: acervo
do CCHLA/UFRN.
77
Figura 27 - Composição com Violão e
Cabeça de Arlequim, 2000. Aquarela,
desenho, colagem sobre papel. [?]
Figura 28 - Menino na Serra Verde, 2000. Óleo
sobre tela. [?] Fonte: ANDRADE, 2005.
Figura 29 - Mulher da Serra Verde, 2000.
Guache e pastel sobre papel, 25 x 34 cm.
Fonte: ALMEIDA, 2001.
Figura 30 - Objetos de Judas, 2000. Aquarela sobre
papel. [?] Fonte: acervo da Livraria Cooperativa da
UFRN.
78
Figura 31 - Passagem Secreta, 2000.
Guache e colagem sobre tela, 100 x 80 cm.
Figura 32 - Projeção da Alma, 2000.
Aquarela sobre papel. [?]
Figura 33 - Sem Título, 2000. Acrílica
sobre tela, 118 x 68 cm. Fonte: cedida
pelo artista.
Figura 34 - Paul Gauguin. O Cristo Amarelo, 1889.
Óleo sobre tela, 992 x 73 cm. Fonte: MESTRE DA
PINTURA, 1977.
79
Figura 35 - O
Garimpo I, 2001.
Pintura, desenho
e colagem. [?]
Figura 36 - Serra
Verde, 2001.
Óleo sobre tela.
[?]
Figura 37 -
Passagem
Secreta II, 2001.
Guache, desenho
e colagem. [?]
80
Figura 38 - Paul
Gauguin, 2002.
Aquarela. [?] Fonte:
ALMEIDA, 2005.
Figura 39 - Paul
Gauguin. Arearea
(jogos). 1892. Óleo
sobre tela, 75 x 94 cm.
Fonte: MESTRE DA
PINTURA, 1977.
Figura 40 - Prancha I (pavões), 2002. Fonte:
ANDRADE, 2005.
Figura 41 - Prancha II (pavões), 2002.
Fonte: ANDRADE, 2005.
81
Figura 44 - Sereias, 2002. Óleo e colagem sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte: acervo do
CCHLA/UFRN.
Figura 42 - Prancha III (pavões), 2002.
Fonte: ANDRADE, 2995.
Figura 43 - Prancha IV (a fada dos cajus),
2002. Fonte: ANDRADE, 2005.
82
Figura 47 - Sem Título,
2005. Acrílico, pastel e
colagem, 130 x 110 cm.
Fonte: acervo do
DEART/UFRN.
Figura 45 - Barco à Deriva, 2004. Óleo sobre tela, 70 x 30 cm. Fonte: acervo do NAC – UFRN.
Figura 46 – Paisagem
Bucólica, 2004. Óleo
sobre tela, 40 x 50 cm.
Fonte disponível em:
http://erasmoandrade.b
logspot.com.br.
Acesso em: 17 jun
2015.
83
Figura 48 - Santa Terezinha de Lisieux,
2006. Óleo sobre tela, 100 x 80 cm.
Fonte: cedida pelo artista.
Figura 51 - Figura no Leito da
Serra Azul, 2007. Óleo sobre
tela, 100 x 80 cm. Fonte: cedida
pelo artista.
Figura 50 - Morte do Amor,
2007. Óleo sobre tela, 90 x 80
cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 49 -
Santa Terezinha
de Lisieux. Fonte
disponível em:
http://www.sant
uariosantaterezin
ha.com.br/santua
rio/index.php/no
ticias-
santuario/193-
reze-conosco-a-
novena-das-
rosas-. Acesso
em: 8 nov 2015.
84
Figura 52 - Fruteira com Cajus, 2007.
Óleo sobre tela, 80 x 70 cm. Fonte: cedida
pelo artista.
Figura 53 - Fruteira, Folha e Fruta, 2007.
Óleo sobre tela, 60 x 80 cm. Fonte: cedida
pelo artista.
Figura 54 - Mulher na Festa de Sant'Ana
de Caicó I, 2007. Óleo sobre tela, 60 x 80
cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 55 - Mulher na Festa de Sant'Ana
de Caicó II, 2007. Óleo sobre tela, 60 x
80 cm. Fonte: cedida pelo artista.
85
Figura 56 - Mulher na Paisagem
Geométrica, 2007. Óleo sobre tela, 80 x
90 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 57 - Mulher no Carnaval de 1958
em São Tomé, 2007. Óleo sobre tela, 70 x
80 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 58 - Mulher Recostada na
Cadeira, 2007. Óleo sobre tela, 60 x 70
cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 59 - No Sepultamento de Maria, 2007. Óleo
sobre tela, 100 x 80 cm. Fonte: cedida por Dejardiere M.
F. Lima.
86
Figura 60 - Rapaz na Ponta Negra, 2007. Óleo sobre
tela, 80 x 70 cm. Fonte: cedida por Dejardiere M. F.
Lima.
Figura 61 - O Flagelo no Sepultamento
de Maria, 2007. Óleo sobre tela, 70 x
80 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 62 - O Músico VI, 2007. Grafite
sobre papel. [?] Fonte: acervo do DEART –
UFRN.
Figura 63 - O Músico VII, 2007. Grafite
sobre papel. [?] Fonte: acervo do DEART -
UFRN.
87
Figura 64 - Sem Titulo, 2008. Óleo sobre tela.
100 x 150 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 65 - Figura com Estigma I, 2009.
Óleo sobre tela, 70 x 80 cm. Fonte:
cedida pelo artista.
Figura 66 - Saliva de Sangue, 2009.
Óleo sobre tela, 120 x 80 cm. Fonte:
cedida por Dejardiere M. F. Lima.
Figura 67 - Caju da Juventude, 2010. Acrílica, pastel
oleoso e colagem, 37 x 50 cm. Fonte: acervo do
CCHLA/UFRN.
88
Figura 68 - Figura com Estigma,
2010. Óleo sobre tela, 100 x 80 cm.
Fonte: cedida pelo artista.
Figura 69 - Figuras na Ponta Negra em 1980, 2010.
Acrílico sobre papel, 80 x 60 cm. Fonte: cedida por
Dejardiere M. F. Lima.
Figura 70 - Figura de um Carnaval de
1957 I em São Tomé, 2011. Óleo
sobre tela, 100 x 90 cm. Fonte: cedida
pelo Projeto Artistas Atuantes no RN
no Séc. XXI, 2012.
Figura 71 - Folhagem da Década de 1960, 2010.
Acrílico, pastel e colagem, 60 x 60 cm. Fonte:
cedida por Dejardiere M. F. Lima.
89
Figura 72 - Folhagem e Caju da Década
de 1960, 2010. Acrílico, desenho e
colagem, 50 x 60 cm. Fonte: cedida por
Dejardiere M. F. Lima.
Figura 73 - Maria aos 18 Anos II, 2010. Óleo sobre
tela, 100 x 90 cm. Fonte: cedida por Dejardiere M. F.
Lima.
Figura 74 - Minha Aldeia em Noite de São João na
Década de 1958, 2010. Óleo sobre tela, 80 x 70 cm.
Fonte: cedida por Dejardiere M. F. Lima.
Figura 75 - Noite sem Fim, 2010. Óleo
sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte: cedida por
Dejardiere M. F. Lima.
90
Figura 76 - O Acrobata do Circo Borborema,
2010. Óleo sobre tela, 80 x 90 cm. Fonte:
cedida pelo Projeto Artistas Atuantes no RN
no Séc. XXI, 2012.
Figura 77 - O Leitor das Cartas
Embaralhadas, 2010. Óleo, pastel e colagem
sobre cartão, 100 x 90 cm. Fonte: cedida por
Dejardiere M. F. Lima.
Figura 79 - O Vendedor de Ilusões II, 2010. Óleo
sobre tela, 100 x 90 cm. Fonte: cedida pelo artista. Figura 78 - O Vendedor de Ilusões I,
2010. Óleo sobre tela, 100 x 90 cm.
Fonte: cedida por Dejardiere M. F.
Lima.
91
Figura 80 - Olho de Lince sobre a Paisagem de
Ventos, 2010. Óleo sobre tela, 160 x 90 cm. Fonte:
cedida por Dejardiere M. F. Lima.
Figura 84 - Anjos Músicos IV, 2011. Óleo sobre
tela, 90 x 90 cm. Fonte: cedida por Dejardiere M.
F. Lima.
Figura 83 - A Aldeia, a Paixão e Eu, 2011. Óleo
sobre tela, 80 x 80 cm. Fonte: cedida pelo Projeto
Artistas Atuantes no RN no Séc. XXI, 2012.
Figura 82 - A Aldeia, a Caverna e Eu, 2011.
Óleo sobre tela, 80 x 80 cm. Fonte: cedida pelo
Projeto Artistas Atuantes no RN no Séc. XXI,
2012.
Figura 81 – Selma e Erasmo Andrade.
Composição com Vaso de Matéria
Sentimental, 2010. Acrílica sobre papel, 160
x 90 cm. Fonte: cedida por Dejardiere M. F.
Lima.
92
Figura 85 - Centauro e a Serpente, 2011. Óleo
sobre tela, 2 x 120 cm. Fonte: cedida pelo
artista.
Figura 88 - El Ángel de La Luna II, 2011. Óleo
sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte: cedida por
Dejardiere M. F. Lima.
Figura 87 - El Ángel de La luna I, 2011. Óleo
sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte: cedida por
Dejardiere M. F. Lima.
Figura 86 - Centauro na Pedra do Navio,
2011. Óleo sobre tela, 2 x 120 cm. Fonte:
cedida pelo artista.
93
Figura 89 - Figura de um Carnaval em São Tomé de
1957 II, 2011. Óleo sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte:
cedida pelo Projeto Artistas Atuantes no RN no Séc.
XXI, 2012.
Figura 91 - Paisagem D'Água, 2011. Óleo sobre tela, 140 x 70 cm. Fonte: cedida por Dejardiere M. F.
Lima.
Figura 90 - Rapaz de um Bloco de
Carnaval de 1957 em São Tomé, 2011.
Acrílico e óleo sobre papel, 120 x 80 cm.
Fonte: cedida por Dejardiere M. F. Lima.
94
Figura 92 - Cajus da Década de 60, 2012. Óleo
sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 95 - Construção Geométrica, 2012. Óleo
sobre tela, 70 x 60 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 94 - Casal Caminhando para a
Torre, 2012. Óleo sobre tela, 80 x 60 cm.
Fonte: cedida pelo artista.
Figura 93 - Fruteira e Frutas, 2013.
Óleo sobre tela, 70 x 80 cm. Fonte:
cedida pelo artista.
95
Figura 96 - Composições com Cajus e Folhagens,
2012. Óleo sobre tela, 80 x 70 cm. Fonte: cedida pelo
artista.
Figura 99 - O Anoitecer Visto de uma
Torre, 2012. Óleo sobre tela, 80 x 90 cm.
Fonte: cedida pelo artista.
Figura 98 - Figura Olhando para o Nada, 2012. Óleo
sobre tela, 80 x 80 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 97 - Mulher Azul, 2012. Óleo sobre
tela, 70 x 60 cm. Fonte: cedida pelo artista.
96
Figura 100 - O Ilusionista, 2012. Óleo sobre tela,
90 x 90 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 103 - Vaso sobre Mesa, 2012. Óleo sobre
tela, 70 x 80 cm. Fonte: cedida pelo artista.
Figura 102 - Vaso com Flores Espirituais, 2012.
Óleo sobre tela, 90 x 90 cm. Fonte: cedida pelo
artista.
Figura 101 - Vaso com Flores, Conchas e
Sementes de Ponta Negra, 2012. Óleo e colagem
sobre tela. 90 x 90 cm. Fonte: cedida pelo artista.
97
Figura 104 - Figura na Paisagem Sideral da Memória
D'Agua Marinha, 2013. Óleo sobre tela, 100 x 90 cm.
Fonte: cedida pelo artista.
Figura 105 - Figura Observando Objeto
no Espaço Sideral, 2013. Óleo sobre tela,
50 x 60 cm.
Figura 106 - Nossa Senhora da Conceição, 2013.
Óleo sobre tela, 80 x 70 cm. Figura 107 - Anjo Músico da Aldeia Azul, 2014.
Óleo sobre tela, 70 x 80 cm.
98
.
Figura 108 - Figura de Palhaço no
Camarim II, 2014. Óleo sobre tela,
60 x 50 cm.
Figura 109 - O Desterro da Minha Aldeia, 2014. Óleo sobre
tela, 70 x 60 cm.
Figura 110 – A Mulher Azul II, 2013-2014.
[?] 70 x 80 cm. Fonte disponível em:
http://erasmoandrade.blogspot.com.br.
Acesso em: 17 jun 2015.
Figura 111 – Os Olhos da Cabra Verde de Barcelona
II, 2014. [?] 70 x 80 cm. Fonte disponível em:
http://erasmoandrade.blogspot.com.br. Acesso em 17
jun 2015.
99
Figura 112 – Jardins do Sertão,
2014. Óleo sobre tela, 70 x 80
cm. Erasmo Andrade e Christi
Rocheteau. Fonte disponível
em:
http://erasmoandrade.blogspot.c
om.br. Acesso 17 jun 2015.
Figura 113 - Bule e Frutas
Levitando, 2015. Óleo sobre
tela, 60 x 70 cm. Fonte
disponível em:
http://erasmoandrade.blogspot.
com.br. Acesso 17 jun 2015.
Figura 114 – Natureza Morta com Bule. Óleo sobre tela,
60 x 70 cm, 2015. Coleção particular. Fonte disponível
em: http://erasmoandrade.blogspot.com.br. Acesso em:
17 jun 2015.
Figura 115 – Os Namorados, 2015.
Óleo sobre tela, 70 x 80 cm. Coleção
particular. Fonte disponível em:
http://erasmoandrade.blogspot.com.br.
Acesso em:17 jun 2015.
100
Figura 116 – Vicente van Gogh. O Quarto do Artista
em Arles, 1889. Óleo sobre tela, 57,5 x 74 cm.
Fonte: GOMBRICH, 2008, p. 549.
Figura 117 – Chagall. O Olho Verde, 1944.
Óleo sobre tela, 58 x 51 cm. Fonte: Walther
(2007, p. 72).
Figura 118 – Chagall. O Casal da Torre Eiffel (Bride
and Groom da Torre Eiffel), 1938-1939. Óleo sobre
linho, 59 × 53 cm. Fonte disponível em:
https://www.artsy.net/artwork/marc-chagall-the-
couple-of-the-eiffel-tower-bride-and-groom-of-the-
eiffel-tower. Acesso em: 10 nov 2015.
Figura 119 – Fotografia de Erasmo
Andrade em sua primeira comunhão.
Fonte: cedida pelo artista.
101
Figura 123 – Convite
para a exposição: Olhos
Verdes. Fonte: acervo do
Polo Arte na Escola-
UFRN.
Figura 120 – Fotografia de Sadi Andrade,
pai de Erasmo Andrade. Fonte: cedida
pelo artista.
Figura 121 – Folder da exposição “OITICICA
MÁGICA”. Fonte: acervo da autora.
Figura 122 – Paul Klle. Flora on
Sand, 1927. [?]. Fonte disponível
em:
http://www.wikiart.org/en/paul-
klee/flora-on-sand-1927
Acesso em: 1 jun 1016.
102
Figura 124 –
Convite para
a exposição:
MELANCÓL
ICA
TRAVESSIA
. Fonte:
acervo do
Polo Arte na
Escola-
UFRN.
Figura 125 –
Convite para
a exposição:
PORTA
JÓIAS DE
CORES.
Fonte: acervo
da autora.
Figura 126 –
Convite para
a exposição:
O
ILUSIONIS
TA. Fonte:
acervo do
Polo Arte na
Escola-
UFRN.
103
7. PLANILHA
Nº das Figuras 5 6 7 9 10 11 12 13 14 15 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 35 36 37 38 40 41 42 43 44 45 46 47 48 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 TOTAL
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Acrílica 3
Óleo 72
Guache 6
Aquarela 3Com Colagem 13
Grafite 12Mista 7
Figuras Humanas 58
Anjos 12
Santos 6
Ástros 32
Casarios/Torres 39
Cajus 11
Instr. Musicais 10
Palhaços 6
Olhos 7
Lamparinas/ponto de luz 8
Cálices 5
Vasos/jarro 13
Pássaros 7
Flores 21
Borboletas 8
Coroas 8
Predomin. De Azul 14
Presença de Azul 76
Azul no Rosto 42
Múltiplas Cores s/ Azul 4
Figurativo 100
Abstrato 6
ELEMENTOS ESTILÍSTICOS
COR
ELEMENTOS ICOSNOGRÁFICOS
Tabela de estudo das obras de Erasmo Andrade por ordem alfabética
104
Nº das Figuras 5 6 7 9 10 11 12 13 14 15 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 35 36 37 38 40 41 42 43 44 45 46 47 48 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 TOTAL
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Acrílica 3
Óleo 72
Guache 6
Aquarela 3Com Colagem 13
Grafite 12Mista 7
Figuras Humanas 58
Anjos 12
Santos 6
Ástros 32
Casarios/Torres 39
Cajus 11
Instr. Musicais 10
Palhaços 6
Olhos 7
Lamparinas/ponto de luz 8
Cálices 5
Vasos/jarro 13
Pássaros 7
Flores 21
Borboletas 8
Coroas 8
Predomin. De Azul 14
Presença de Azul 76
Azul no Rosto 42
Múltiplas Cores s/ Azul 4
Figurativo 100
Abstrato 6
ELEMENTOS ESTILÍSTICOS
COR
ELEMENTOS ICOSNOGRÁFICOS
105
Nº das Figuras 5 6 7 9 10 11 12 13 14 15 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 35 36 37 38 40 41 42 43 44 45 46 47 48 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 TOTAL
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Óleo 72
Guache 6
Aquarela 3Com Colagem 13
Grafite 12Mista 7
Figuras Humanas 58
Anjos 12
Santos 6
Ástros 32
Casarios/Torres 39
Cajus 11
Instr. Musicais 10
Palhaços 6
Olhos 7
Lamparinas/ponto de luz 8
Cálices 5
Vasos/jarro 13
Pássaros 7
Flores 21
Borboletas 8
Coroas 8
Predomin. De Azul 14
Presença de Azul 76
Azul no Rosto 42
Múltiplas Cores s/ Azul 4
Figurativo 100
Abstrato 6
ELEMENTOS ESTILÍSTICOS
COR
ELEMENTOS ICOSNOGRÁFICOS
106
Nº das Figuras 5 6 7 9 10 11 12 13 14 15 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 35 36 37 38 40 41 42 43 44 45 46 47 48 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 TOTAL
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Borboletas 8
Coroas 8
Predomin. De Azul 14
Presença de Azul 76
Azul no Rosto 42
Múltiplas Cores s/ Azul 4
Figurativo 100
Abstrato 6
ELEMENTOS ESTILÍSTICOS
COR
ELEMENTOS ICOSNOGRÁFICOS