arte e percepção visual
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7/31/2019 Arte e Percepo Visual
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Arte e Percepo Visual: um argumento psicolgico
Jos Benjamim Picado
Abstract: O propsito deste texto o de averiguar as implicaes nominalistas de certos discursossobre a gramaticalidade da representao: certas interpretaes do argumento de E.H.Gombrichacerca da semelhana, em Arte e Iluso , nos fazem descobrir algumas das reais implicaes de seusuposto relativismo; a discusso levada a cabo na terceira parte de sua mais conhecida obra revolveum argumento, em ltima instncia, psicolgico, acerca do papel que a recepo tem naconstituio de uma linguagem das semelhanas.
Meu especial propsito o de apresentar alguns dos aspectos do debate acerca do
iconismo, ao mesmo tempo em que empreendo-me criticamente sobre certos pressupostos
do investimento terico das semiticas acerca das relaes entre arte e percepo: em
especial, interessa-me arrecadar o argumento psicolgico que subssume os discursos sobre
a propriedade da semelhana nas artes visuais, assim como avaliar algumas das solues
que esto disponveis neste mesmo ambiente terico, e suas relaes com assunes
aproximadamente concernentes s teorias do signo.
A discusso acerca da significao da arte assumidamente um sintoma da
admisso, que encontramos expressa entre muitos, de que nossa conscincia acerca doscaracteres e das propriedades do mundo circundante seja recursivas a uma estrutura prvia
da inteligibilidade: em vrias possveis coloraes tericas, encontraremos a mesma
assuno acerca do significado da arte como sendo a restituio de suas qualidades mais
aparentes a alguma espcie de estrutura de mediaes; sejam estas ltimas de carter
lingustico, lgico, emprico ou fenomenolgico, devemos destacar, em ltima anlise, este
primado da estrutura de uma experincia simblica como demarcatrio dos discursos sobre
propriedades semnticas da arte.
De fato, podemos assumir que o eventual interesse sobre uma abordagem semitica
do artstico nos compromete, de antemo, com um horizonte nominalista da inquirio
sobre significao e realidade: isto quer apenas dizer que a significao da arte um tema
que faz apelo idia da precedncia de estruturas conceituais para a fruio esttica; na
histria recente dos debates sobre linguagens da arte, parece estar sob considervel
destaque o fato de que a percepo dos caracteres de uma obra um assunto que concerne
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evidentemente a uma interrogao sobre a eficcia simblica do artstico, mas tambm s
relaes entre as impresses que ela nos causa e uma estrutura dos ajuizamentos.
Se a arte incorpora propriedades semnticas na dependncia dos modos comoorganizamos a experincia dos sentidos, poderemos implicar no problema da significao
da arte a questo do estatuto semisico da semelhana: especialmente no caso das artes
visuais, poderamos supor que a semelhana no envolvesse significao, por assumirmos
simplesmente que a similitude entre representaes visuais e os percepta fossem apenas
dadas na experincia. Mas se pudermos sumarizar o esprito no qual tais problemas
estticos puderam ser traduzidos em termos gramaticais, certamente identificaramos as
principais tarefas tericas envolvidas na admisso de uma gramtica da experinciasensvel.
Decerto que o trabalho de Ernest Gombrich, em Arte e Iluso, especialmente
interpretado como um captulo desta vindicao acerca das consequncias de uma viso
convencionalista, ao menos no campo da investigao sobre a representao realista:
conhecemos todos o percurso de sua argumentao em favor do carter esquemtico que
preside aquele efeito da semelhana que parece pautar um bom bocado da histria da arte
ocidental.
Igualmente interessante entretanto sua discusso acerca das implicaes tericas
mais importantes de uma admisso sobre as propriedades nticas daquela experincia que
no apenas antecede, mas parece tambm originar a produo da representao
propriamente dita. E exatamente no ponto desta argumentao acerca do carter
esquemtico da percepo visual, que desejo introduzir algumas consideraes sobre um
argumento psicolgico acerca da significao da arte e das vindicaes de semelhana que
pautam a discusso sobre o realismo visual.
Gombrich est concernido, em toda a terceira parte de Arte e Iluso, com uma tesesobre os princpios de uma cooperao perceptiva, como base da representao da
semelhana: no stimo captulo desta obra, ele retoma o problema das projees
perceptivas, que originalmente tratado numa parbola de Apolnio de Tiana sobre a
precedncia de uma faculdade imitativa na apreciao de obras de pintura e de desenho;
Gombrich desenvolve este tema psicolgico na perspectiva mais avanada de um discurso
sobre as possibilidades configuradoras da atividade receptiva. Em recurso psicologia de
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William James, Gombrich caracteriza uma espcie de funo cooperativa da percepo e da
memria na complementao dos traos que definiro a representao reconhecida
enquanto tal.Gombrich recupera inclusive para a discusso sobre o papel de um sistema de
expectativas gerado na recepo, sobre as relaes entre esta atividade e os aspectos da
criao que corroboram o que ele chama de "viso pigmalinica" da arte: at mesmo a
perfeio do ilusionismo, ilustrada no episdio de Parrsio enganando a Zuxis, implica
numa viso sobre o sucesso da figurao como relativo ao papel que a percepo exerce no
reforo das habilidades propriamente criativas.
" luz imparcial da razo, a proeza de Parrsio parece menos admirvel. Na experincoia do pobreZuxis, a possibilidade de uma cortina ser pintada era seguramente nula. Um leve jogo de luz esombra deve Ter bastado para fazer com que ele visse a esperada cortina, principalmente porqueestava pensando na fase seguinte, na pintura que ia descobrir. Os pintores do trompe l'oeil tm sebaseado desde ento neste mtuo reforo da iluso e da expectativa: a mosca pintada na tela, ascartas pintadas na caixa do correio." 1
Ao considerar a real localizao da origem deste fenmeno cooperativo, Gombrich
relembra que, no captulo anterior de Arte e Iluso, as projees constituiam um mtodo
caracterstico (sobretudo ilustrado pelas instrues de Leonardo a seus seguidores, no
Trattato della Pintura): a importncia deste mtodo criativo era ressaltada sobretudo pelo
carter das limitaes originrias dos veculos da representao. Os critrios atravs dos
quais julgamos a presena de entidades, de determinadas propriedades do espao ou dos
objetos, muitas vezes nada tem a ver com as caractersticas atuais da representao, sendo
assim resultantes deste esforo da percepo em preencher as lacunas da figurao.
Ao considerar certos aspectos da correo visual de representaes, Gombrich
elabora um princpio (a que chama de "princpio do etc."), segundo o qual a percepo de
determinados caracteres da representao decorre da capacidade, localizada na recepo deatribuir aos percepta algo que a representao oferece apenas parcialmente: este princpio
no apenas operatrio na arte moderna, mais afeita evidentemente s cooperaes
advindas da recepo, mas tambm constitui uma demarcao fundamental para a arte
clssica, especialmente quando consideramos a significao das tcnicas de sfumatto,
1 Gombrich, Ernest H. Arte e Iluso: um estudo da psicologia da representao pictrica (trad. Raul de SBarbosa). So Paulo: Martins Fontes (1995): pp. 216,217.
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especialmente com Leonardo, e o papel que atribuem atividade do espectatdor, para a
consecuo de seus efeitos.
"Quando olhamos as rvores do Wivanhoe Park, de Constable, aceitamos na base da confiana as(rvores) que esto mais remotas. As que esto mais prximas so to convincentes, to articuladas,que os 'etc' pintados pelo artista nem entram em cogitao. Pois hoje demonstra-se que esta nossatendncia a tomar as coisas literalmente pode levar-nos a curiosas iluses, em que a mente induzida a antecipar-se aos fatos e a esperar a continuao de uma srie que, afinal de contas, no to simples assim." 2
Considerando esta economia das cooperaes entre perceber e representar,
Gombrich pede que se tenha cuidado em no avaliar as propriedades destes movimentos
entre a percepo e as imagens como sendo caractersticas estritamente lgicas (pede muitoespecialmente que no se confunda estas projees com inferncias).
Estas observaes implicam numa reflexo sobre a espcie de relaes muito caras
que as imagens visuais mantm com o universo da discursividade: uma vez assumido o
papel que as projees exercem, na perspectiva das atividades do espectador, para a
consecuo do efeito figurativo (isto , da impresso de que os caracteres do quadro
reproduzem fielmente a realidade representada), Gombrich interroga-se sobre o aspecto
discursivo desta atividade, e os problemas que decorrem da, sobretudo quando
consideramos que a percepo destes caracteres no envolve os mesmos atributos da estrita
discursividade do pensamento.
H de fato uma relao entre a viso e a ordem das concepes, mas a resoluo
deste problema deixa o prprio enunciado num certo limite entre assumir que a
concatenao do pensamento proposicional determina o aspecto que o mundo visvel ter
ou ento restituirmo-nos ao velho (e ingnuo) realismo, que postula que as tcnicas
leonardianas do sfumatto simplesmente reproduzem um trao real da prpria viso das
coisas distantes: para Gombrich, no o caso de assumir nem uma nem outra das posies,mas de reconhecer, em boa medida, que a discursividade das imagens envolve caracteres
que so prprios experincia visual, e que seus significados devem ser tratados no nvel
desta sua manifestao fenomnica.
2 Idem: pg. 230
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" exato, sem dvida, que medida que nos afastamos de uma aldeia notamos a perda de detalhe(...): primeiro, j no podemos ler o mostrador do relgio na torre da igreja; depois, no vemos orelgio; e, finalmente, os traos caractersticos da igreja ficam to indistintos, que poderia, de fato,
tratar-se de uma outra construo qualquer. Mas seria um engano pensar que o mesmo processoacontea inversamente, quando nos aproximamos da aldeia - pelo menos no certo, de nenhummodo, que a progresso seja assim ordenada, to de acordo com a lgiica aristotlica. Emdeterminadas circunstncias, podemos facilmente tomar um rochedo por um edifcio, ou vice-versae nos podemos ater a esta interpretao errnea at que ela ceda lugar, de sbito, a umainterpretao diversa." 3
Uma vez que j houvera estabelecido, no captulo precedente, que a percepo da
terceira dimenso implicava num certo princpio de cooperao perceptiva, Gombrich
avana um pouco mais sua argumentao no oitavo captulo, agora movido pelo propsito
de observar certos aspectos do discurso psicolgico acerca da produo da iluso napercepo: de um lado, para observar que a efetividade de certas propriedades atribudas ao
quadro como efeito de escolhas composicionais (isto , dirigidas pela construo da
representao) , em boa medida, regida por uma economia que interna percepo; mas
sobretudo, para interrogar a certas correntes da psicologia da percepo (em especial a
gestalttheorie) sobre a possibilidade de se firmar positivamente o carter dos termos sobre
os quais esta interpretao dos dados se d no nvel puramente perceptivo.
nestas condies que podemos localizar a discusso sobre a perspectiva, em Arte
e Iluso, pois elas se realizam sob o signo de um argumento que , em alguma medida,
tributrio da psicologia: a apropriao de um determinado convencionalismo em relao s
tcnicas de composio parece exprimir-se com maior gravidade no caso da percepo da
terceira dimenso (e de sua repercusso no plano da composio visual, nas tcnicas de
representao perspectiva do espao), e Gombrich no hesita em questionar este aspecto de
uma viso relativista do ilusionismo; para ele, a efetividade da perspectiva implica em que
retomemos o problema da cooperao entre a representao e a recepo.
Como mtodo projetivo, de fato, o que encontramos disposto no quadro comonoes de distncia focal, ou de profundidade do espao, decorre da aplicao de um
sistema puramente geomtrico e formal de organizar os elementos da representao; mas o
pecado que no podemos cometer, segundo Gombrich, o de depreender da que a
observncia deste efeito na percepo constitua uma vindicao do perspectivismo neste
sentido de mtodo projetivo estrito ao domnio da produo artstica. E neste sentido, ele
3 Idem: pg. 233,234
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retoma alguns dos aspectos mais fundamentais da histria da discusso acerca do mtodo
renascentista de compor imagens.
Erwin Panofsky, por seu turno, tambm define o modelo de visualidade daRenascena italiana e do norte da Europa, como uma capacidade, artisticamente reunida, de
representar de tal modo os objetos e suas relaes de proporcionalidade com o espao, que
nos levaria a supor que a prpria representao era esvada de sua materialidade: de fato, ao
contemplarmos muitas das composies em perspectiva, temos a impresso, um pouco
diferente daquela que motiva Gombrich, de que a obra seja um prolongamento do espao
que percebemos visualmente.
Na base destes procedimentos, muitas das caracatersticas psicofisiolgicas dapercepo esto fora da representao: h primeiramente o fato de que a imagem visual no
a mesma que se projeta fisicamente no fundo da retina; por outro lado, a percepo se
realiza num campo que resulta do movimento constante dos olhos; finalmente, a superfcie
da retina, na qual encontramos o modelo da representao, cncava, ao passo que o
quadro plano.
Dadas as condies dinmicas em que uma percepo se realiza, podemos assumir
que, se alguma representao dela possvel, isto no decorre de uma reproduo de suas
propriedades internas, seno de uma transmisso de seus caracteres num sistema simblico
dado (no caso, o sistema de projees ortogonal): quando localizamos o carter
representativo da composio em perspectiva, j estamos evidentemente aderidos ao
aspecto constringente deste sistema de signos, se assim o podemos dizer.
Quando consideramos o aspecto geometricamente convencionado da construo
atravs de linhas que se traam ortogonalmente a partir da base do quadro, devemos
observar o aspecto de descompasso entre o alinhamento do espao em perspectiva, do lado
da percepo e do lado do quadro: esta discrepncia de tal ordem que um pintor, demaneira a construir uma representao do espao em perspectiva, necessita, por assim
dizer, desafiar as regras da composio geomtrica linear.
Muito a propsito, Nelson Goodman ressalta, emLanguages of Art, o mesmo ponto
acerca das relaes entre percepo e representao: ao considerar o argumento sobre a
fidelidade da composio em perspectiva, Goodman interroga-se sobre as condies nas
quais impingimos alguma semelhana de fato entre as representaes do campo visual e os
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objetos que percebemos primeira vista. Antes de mais nada, as condies de possibilidade
desta impresso da realidade, localizam o artista numa observncia a certos princpios de
sua composio que levam muito pouco em conta a suposio de um espao darepresentao como dado na percepo. A implicao de que o quadro representa algo que
visto somente se aceita em condies muito especficas: na perspectiva, por exemplo,
supe-se a percepo como fundamentalmente esttica.
A resultante mais notvel de todas estas observaes a da investigao sobre as
distores projetivas, que caracterizam a transposio de linhas projetadas desde uma
superfcie plana at outra, cncava: ao comentar as perplexidades dos tericos acerca das
distores entre a perspectiva e a percepo natural, Panofsky recupera uma imensadocumentao (envolvendo, por exemplo, as solues de Piero della Francesca e Leonardo
da Vinci): destas discusses, salta a resultante de que a composio em perspectiva
consistir em uma capacidade de corrigir artisticamente as transposies do espao
percebido para o espao representado.
Panofsky averigua um pouco mais o escopo destas admisses sobre a construo de
efeitos de semelhana, at descobrir em seu fundo um debate cuja amplitude parece superar
a da composio pictrica do espao: a formulao dos princpios psicofisiolgicos da
percepo e, muito especialmente, a representao figurativa de observaes cientficas
acolhem a mesma idia de uma descontinuidade entre a ordem da representao e a
experincia sensvel de primeira ordem.
Se considerarmos, de um lado, o modo como percebemos linhas retas e, de outro,
como as imagens se formam na superfcie cncava da retina, no haver como negarmos
que a representao do espao em superfcies planas envolve este princpio de
transformao projetiva, cujos resultados podem nos fazer reconsiderar a idia de que uma
composio linear garanta percepo a integralidade dos atributos dos objetos que recaemsobre ela.
Uma primeira lio que podemos portanto considerar como decorrente destes
exemplos sobre o enfrentamento terico da semelhana a de que os atributos semnticos
que encontramos nas obras no se constituem como propriedades ontolgicas das mesmas:
dizendo de outro modo, o aspecto figurativo de determinadas as obras no decorre de
qualquer reproduo de propriedades que pudssemos restituir a elas por intermdio de uma
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experincia de primeira ordem ou imediata; supor que o problema da significao da
semelhana se restitua percepo como um dado desconhecer os elementos de
descontinuidade que permeiam a transposio daquilo que se v para o que se intentarepresentar.
Na sexta parte do oitavo captulo de Arte e Iluso, Gombrich alude ao aspecto
vetiginoso de que pode se revestir a discusso acerca das propriedades reais da
representao, especialmente quando no nos guiamos pelo vis mais adequado de
enfrentar o problema: se no nos fizermos a pergunta correta, podemos ficar, de fato,
indecisos quanto ao problema da eficcia das representaes realistas, atribuindo portanto,
seu sucesso aos procedimentos esquemticos que constituem a base da produo dasemelhana na representao; Gombrich solicita muito cuidado neste ponto, pois a
significao do esquematismo na representao deve estar precedida de algum
concernimento sobre como instanciamos estes contedos no prprio plano da sensibilidade.
Devemos ter em conta, ainda segundo Gombrich, que muitas destas questes no
possuem propriamente respostas, mas que recolhem sua pertinncia justamente de seu
aspecto dilemtico: quando consideramos, por exemplo, a eficcia da perspectiva como
uma forma de construo de representaes, ficamos muitas vezes sem respostas sobre o
modo como somos conduzidos a acatar este mesmo princpio de organizao como vigente
no nvel da prpria representao.
"Perceber significa avaliar alguma coisa em algum lugar, e a necessidade de fazer isto persistemesmo quando somos confrontados com alguma configurao abstrata diante da qual no temos,para servir-nos de guia, qualquer experincia prvia. Confrontados com um disco circular, porexemplo, que algum nos apresenta, temos conscincia apenas de que deve ser mito grande e de quedeve estar muito longe (ou pequeno, e perto). Podemos ter tambm a lembrana intelectual de quepode ser uma elipse inclinada ou determinado nmero de outras coisas. Mas no somos capazes dever todas as possibilidades, pois so infinitas. O disco nos aparecer como um objeto distncia,
embora possamos admitir, como estudantes de percepo, que outra pessoa pode ter outra idia."
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Ao tratar, na sexta parte do stimo captulo, acerca da representao do movimento
na pintura, Gombrich desenvolve um pouco mais o problemas das relaes entre a teoria da
representao e a psicologia da percepo; mais uma vez aqui, opera o princpio da
composio a partir de elementos simples, deixando ao espectador o nus de completar a
representao, na forma das antecipaes que caracterizaram a fortuna dos exames ao
4 Idem: pg. 274
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fenmeno perceptivo na psicologia moderna. Mais tarde, inclusive, o prprio Gombrich
retomar as relaes entre este fenmeno das projees perceptivas, para mencionar suas
similaridades com o mecanismo atravs do qual o significado das palavras atribudo emsua relao com o contexto da discursividade.
Ao inquirir sobre os fundamentos psicolgicos da projeo e sua relao com a
eficcia da representao pictrica, Gombrich retoma o problema, enunciado pela primeira
vez num pequeno ensaio de Churchill sobre os aspectos ldicos da pintura, acerca das
linguagens atravs das quais os aspectos estruturais da obra, que constituram (ao menos do
ponto de vista de sua produo) a quase totalidade do livro, so tornados objetos de uma
atividade de decodificao. Para Gombrich, muito especialmente, interessa averiguar a reallocalizao desta atividade da recepo com respeito s estruturas que se supe que
regenciem a unidade da representao.
O problema desta localizao da experincia perceptiva, especialmente quando
consideramos seu papel em relao s schematti que presidem a produo dos efeitos
estticos, sobretudo realada quando consideramos o problema psicolgico das projees
perceptivas, e que so especialmente aludidos pelo teste de Rorschach: as capacidades para
reconhecer, a partir de elementos evidentemente mais simples, toda uma complicada rede
de estruturas que so atribudas com o status de representaes da semelhana j podem ser
observadas no nvel da prpria percepo, especialmente quando no a encaramos como
mera recepo de supostas caractersticas dadas no campo visual, mas como produtoras
deste mesmo sentido da semelhana.
Gombrich aprecia especialmente a relao que os fenmenos perceptivos mantm
com os mtodos propriamente artsticos: seus exemplos localizam a apreenso deste
fenmeno (o da capacidade de produzir a semelhana na percepo direta de certos aspects
do campo visual, isto , como se pudssemos "pintar com os olhos") sempre tm em contao papel desta experincia, uma vez apreendida no contexto das tcnicas de composio.
Seu primeiro exemplo, sobre o qual dedica a quase totalidade da Segunda parte do
sexto captulo, o do caso de Alexander Cozens, e de seu mtodo para criao de
paisagens: nele, encontramos a formulao de um estilo (o "mtodo dos borres"), que
consiste em se utilizar de manchas casuais, de maneira a produzir as condies prticas de
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um primeiro exerccio de projees visuais, que iriam paulatinamente construindo os
caracteres propriamente visveis da representao.
Necessrio apenas ressaltar que a argumentao de Gombrich acerca do poder dasprojees constitui apenas mais um captulo de sua vindicao sobre a superioridade do
fazer sobre o representar na arte pictrica: mais importante que os aspectos histricos de
sua vindicao, sem dvida o fato terico que ela exprime, e que oferece s vrias
manifestaes dos fenmenos perceptivos a significao de uma experincia pregressa da
percepo com a qual os mtodos artsticos tentam se correlacionar; significativo
igualmente, o exemplo de Gombrich acerca da sobrevivncia deste mesmo princpio, seja
em Cozens, na pintura oriental, e finalmente, numa breve e clssica passagem do Trattatodella Pintura, de Leonardo da Vinci.