ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ segunda’guerra ... filear#stas...

15
Ar#stas nipobrasileiros no período da Segunda Guerra Mundial: esperança nos trópicos Memorial da Resistência – Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo estudo de caso Curso de Capacitação para Museus – Sisem – SP Módulo III Curadoria Biblioteca Pública Cassiano Ricardo – São José dos Campos 29 de setembro de 2011 Auditório Prof. Octávio Lignelli – Marília 6 de outubro de 2011 Ana Paula Nascimento Núcleo de Pesquisa em CríPca e História da Arte – Pinacoteca do Estado de São Paulo

Upload: phamthu

Post on 24-Mar-2018

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  

trópicos    

Memorial  da  Resistência  –  Estação  Pinacoteca  do  Estado  de  São  Paulo  

estudo  de  caso  Curso  de  Capacitação  para  Museus  –  Sisem  –  SP  

Módulo  III  -­‐  Curadoria  Biblioteca  Pública  Cassiano  Ricardo  –  São  José  dos  Campos  

29  de  setembro  de  2011    

Auditório  Prof.  Octávio  Lignelli  –  Marília  6  de  outubro  de  2011  

 Ana  Paula  Nascimento  

Núcleo  de  Pesquisa  em  CríPca  e  História  da  Arte  –  Pinacoteca  do  Estado  de  São  Paulo  

Page 2: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

2Exposição Círculo Fechado

Comunicação Visual11/março/2009

© Zoldesign

Círculo fechado: os japoneses sob vigilância do DEOPS/SP

Ao desembarcarem no porto de Santos em agosto de 1908, centenas de japoneses

deixaram o navio Kasato Maru com esperanças de aqui encontrarem um país aberto à

todas as etnias, religiões, nacionalidades e ideologias políticas. Ansiosos por recomeçar a

vida como colonos nas fazendas de café do interior paulista, dirigiram-se para a Hospedaria

dos Imigrantes em São Paulo onde deveriam cumprir com a primeira etapa de um contrato

de amizade firmado entre o Brasil e o Japão. Sem saber falar português, carregados de

bagagens e muitas incertezas, caminharam em busca de dias melhores. Muitos sonhavam

com cafezais com frutos que brilhavam como ouro; outros imaginavam um paraíso

tropical, azul, rico em hospitalidade e laços de solidariedade.

Ainda que trajados à moda européia, preservavam dentro de si o pulsar de uma identidade

milenar. Orgulhosos dos seus imperadores e de serem parte de uma nação culta, edificada

por samurais e bravos guerreiros militares, procuraram preservar sua identidade. Desde o

início, nas colônias agrícolas ou nos centros urbanos, mantiveram suas formas de

organização comunitária, preservaram suas tradições e idioma de origem, elos de ligação

com sua pátria-mãe. Como relíquias guardaram seus álbuns fotográficos cujas imagens

registravam sua ancestralidade e suas conquistas em tempos de paz e de guerra. Mal

poderiam imaginar que, décadas depois, estas fotografias seriam usadas para incriminá-los

como “povo traidor” à serviço do imperialismo japonês. Esta é uma história que nem todos

querem lembrar, mas que faz parte da memória dos imigrantes japoneses radicados em

várias regiões do Brasil. No caso do Estado de São Paulo, o círculo em torno desta

comunidade foi se fechando cada vez mais, até atingir seu ápice entre 1942-1945.

Xenofobia e nacionalismo exacerbado serviram como ingredientes para julgamentos

arbitrários e práticas intolerantes.

Este é o foco central desta exposição que foi idealizada em quatro núcleos temáticos

formando micro-histórias que remetem ao cotidiano da repressão a que foi submetida a

comunidade japonesa no Brasil:

1) Geopolítica do controle

2) Entre códigos e suspeitos

3) Heranças de um passado militar

4) Inconformismo e resistência: a Shindô-Renmei

exposição círculo fechadopainel de abertura

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 3: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

3Exposição Círculo Fechado

Comunicação Visual11/março/2009

© Zoldesign

Kenjiro Masuda(Tokushima, Japão, 1915 – São Paulo, SP, 1960)

Sem título (Cena de ateliê), 1940-1óleo sobre papelãoPinacoteca do Estado de São PauloDoação Zyun Masuda, 2002

Processo datado de 1944, por ter falado em japonês, em público.Em Cena de ateliê, diversos objetos estão dispostos no que parece ser uma mesa encostada na parede, posicionada diagonalmente em relação ao observador. Nela repousam uma estátua de elefante, uma caixa de madeira, maço de cigarros, caixa de fósforos, vaso com flores, um fogareiro e uma lata, além de algo que parece um quadro dentro do quadro, com a representação de uma modelo seminua. O colorido é forte, e, como nas obras de diversos outros artistas do grupo, os contornos são reforçados em cores escuras, numa pintura em que verde e vermelho sobressaem.

Superintendência de Ordem Política e SocialAnotação para prontuário de Kenjiro Masuda, São Paulo, 18 junho 1944.Prontuário 18134 – Kenjiro Masuda. DEOPS/SP, APESP

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 4: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

4Exposição Círculo Fechado

Comunicação Visual11/março/2009

© Zoldesign

Kiyoji Tomioka(Saitama, Japão, 1894 – São Paulo, SP, 1985)

Autorretrato, 1947aquarelaColeção Família Tomioka

São dois os processos existentes no prontuário de Kiyoji Tomioka: o primeiro, de novembro de 1944, tem como motivo o artista estar cantando em japonês no bar Pinguim. O segundo, de maio de 1948, refere-se à suspeita de Tomioka ser um espião japonês: foi preso quando estava pintando nas imediações da fábrica da Ford, então na rua Sólon, 801, bairro do Bom Retiro, entre essa construção e a linha da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. O pintor ficou retido por três dias, e a aquarela que estava executando foi apreendida.O Autorretrato de Tomioka foi executado na técnica a que mais se dedicou, a aquarela. Procura trazer o interior do retratado e não cede apenas à bela forma, ressaltando as marcas do tempo e suas possíveis inquietações.

Departamento de Ordem Política e Social – Secretaria de Segurança PúblicaTermo de Declarações de Kiyoji Tomioka, São Paulo, 22 maio 1948.Prontuário 27679 – Kiyoji Tomioka. DEOPS/SP, APESP.

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 5: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

5Exposição Círculo Fechado

Comunicação Visual11/março/2009

© Zoldesign

Masato Aki(Kochi, Japão, 1918 – São paulo, SP, 1982)

Palácio do Conde, década de 1940óleo sobre telaAcervo Pinacoteca do Estado de São PauloDoação Fanny Midori Aki Ishiyama em homenagem a Masato Aki e em comemoração ao Primeiro Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, 2008

O prontuário localizado diz respeito à solicitação de mudança de residência, em 1947.A pintura retrata o Palácio do Conde de Sarzedas – Bernardo José de Lorena –, na rua de mesmo nome, esquina com Doutor Tomás de Lima, no bairro da Liberdade, conhecida por ter sido o logradouro onde moraram os primeiros imigrantes japoneses na cidade de São Paulo, a partir de 1912. Por volta de 1914, começaram a surgir as primeiras mercearias e pensões nipônicas nessa localidade, que manteve a posição de centro de maior concentração de japoneses até a década de 1930. Em 1942 houve ordem de evacuação da rua, permitindo-se apenas a permanência dos nisseis. No ano seguinte, várias residências da rua do Conde e das imediações foram revistadas pela polícia, à procura de armas clandestinas ou de ex-membros do exército japonês. Em setembro de 1943, foi novamente ordenada a desocupação das redondezas da rua do Conde, uma ladeira íngreme entre os bairros da Liberdade e do Glicério. Posicionado do alto da ladeira, o prédio cor de ferrugem, parecendo um castelo, foi retratado por Masato Aki sem ostentação, exibindo as falhas do reboque, uma pintura que já apresenta o desgaste provocado pelo tempo. Predominam os azuis, os amarelos e os alaranjados. O recorte também é inusitado, pois não se trata de uma vista frontal – normalmente a mais utilizada para realçar determinado local ou objeto –, mas de uma tomada lateral, em que parte da construção não aparece da tela.

Delegacia de Ordem Política e Social de São PauloRequerimento de mudança de residência de Masato Aki, São Paulo, 18 junho 1943.Prontuário 27262 – Masato Aki. DEOPS/SP, APESP.

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 6: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

6Exposição Círculo Fechado

Comunicação Visual11/março/2009

© Zoldesign

Walter Shigeto Tanaka(Kumamoto, Japão, 1910 – São Paulo, SP, 1970)

Sem título (Nu feminino deitado), 1945óleo sobre telaAcervo Pinacoteca do Estado de São PauloDoação Márcio Gobbi Fernandes, 2003

Foi localizado documento solicitando a mudança de endereço da rua Galvão Bueno, 429, no bairro da Liberdade, para a rua Jorge Tibiriçá, 59, na Vila Mariana.Tanaka trabalhou preferencialmente com aquarelas, mas na pintura que pertence à Pinacoteca do Estado de São Paulo, realizada em ateliê, estão visíveis vários aspectos existentes em outras de suas obras. A figura, na diagonal, que preenche grande parte do trabalho, parece não se apoiar em nada: está com os pés na parte superior, mais clara, e a cabeça na inferior, mais escura, com destaque para os contornos pretos, os verdes e os tons avermelhados. A pincelada rápida e vigorosa, e a massa de tinta, espessa, são características de alguns aspectos do expressionismo utilizados por muitos artistas no Brasil durante aquele período.

de centro de maior concentração de japoneses até a década de 1930. Em 1942 houve ordem de evacuação

Delegacia de Ordem Política e Social de São PauloRequerimento de mudança de residência de Walter Shigeto Tanaka, São Paulo, 13 setembro. 1943.Prontuário 49577 – Walter Shigeto TanakaDEOPS/SP, APESP.

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 7: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

7Exposição Círculo Fechado

Comunicação Visual11/março/2009

© Zoldesign

Tomoo Handa (Utsunomiya, Japão, 1906 – Atibaia, SP, 1996)

Retrato do pintor Tamaki, 1940-5óleo sobre telaPinacoteca do Estado de São PauloDoação São Paulo Nikkey Palace Hotel, 1986

São dois os processos existentes no prontuário do artista: um, de 1949, é um salvo-conduto autorizando o pintor a viajar para Iguape. O segundo, iniciado em 1952, diz respeito a um processo de expulsão de estrangeiros do país, envolvendo outros membros da colônia nipônica (Kitoshi Yamamoto, Takeo Kawai, Kenkiti Simomoto, Hiroshi Saito, Ryuj Ueki e Teiiti Suzuki – que na época ainda não pintava). A acusação refere-se à publicação de artigo de autoria desses membros, na revista Chuo-Koron, editada no Japão em junho de 1951, como um resumo de artigo publicado na revista Era, exemplar nº 12, de agosto de 1950. Esse artigo, por sua vez, era a transcrição de um simpósio do qual haviam participado Kiyotaka Emi, Takeo Kawai, Kiyoshi Yamamoto, Kunito Miyasaka, Takeshi Hasegawa, Teiiti Suzuki, Josú Onaza, Eiyoshi Ando, Hiroshi Saito, Ishiomi Kimera, Ide, Kaso Masuo, Ishikawa, Tetsumei Misawa e Paulo Morita. O principal assunto do artigo era o problema migratório, e os signatários adotavam uma postura contrária à presença de imigrantes japoneses na Amazônia. O processo foi arquivado.No Retrato do pintor Tamaki, Tomoo Handa flagra o seu colega, o pintor Yuji Tamaki, em um momento de descontração, tocando gaita. Existe aqui, possivelmente, uma relação próxima entre o pintor e o retratado, dado representar um momento de lazer, num recorte bastante inusitado. A obra apresenta, como característica comum de sua produção, as linhas escuras a contornar a figura e todos os objetos, de maneira expressiva, e foi realizada, como muitas das obras do período, em um interior.

Real Consulado da Suécia – Encarregado dos Interesses Japoneses – São PauloRequerimento para viagem a trabalho de Tamoo Handa, São Paulo, 10 fevereiro. 1948.Prontuário 98574 – Tamoo HandaDEOPS/SP, APESP.

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 8: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 9: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Fotos:  Gabriel  Moore  

Page 10: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 11: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 12: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 13: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 14: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009  

Page 15: Ar#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra ... fileAr#stas nipo,brasileirosno’período’da’ Segunda’Guerra’Mundial:’esperança’nos trópicos’! Memorial!da!Resistência

Ar#stas  nipo-­‐brasileiros  no  período  da  Segunda  Guerra  Mundial:  esperança  nos  trópicos  –  Ana  Paula  Nascimento  –  2009