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Arquivo de imagem da capa de Filosofia da Educação I

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Arquivo de imagem da capa de Filosofiada Educação I

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Palavras do professor pesquisador

Caros aprendentes,

Parabéns! Você está iniciando um curso universitário. Em nossopaís, isso ainda é um privilégio, infelizmente. São poucos os que têmacesso a esse nível de ensino. Você conseguiu! Aproveite!

Pode ser que, nesse início de caminhada, alguns receios possamestar lhe inquietando. Fique tranqüilo(a)! Saiba que existe muitagente trabalhando para que você supere as dificuldades e faça umbom curso. Sei também que você carrega muitas expectativas, eisso é fundamental. Não se faz educação sem esperanças.

Você verá que o curso de Pedagogia é apaixonante! Acrediteem você! Acredite na sua capacidade de aprender, de superardesafios, de ser um(a) educador(a) com letra maiúscula. Aposte nasua capacidade de amar, de lutar, de se alegrar, enfim, de VIVER!

Seja bem vindo(a) ao componente curricular Filosofia daEducação I.

Prof. Dr. Edson Carvalho Guedes.

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I64

A cartografia do componente curricular Filosofia da Educação I

Assim como os navegantes e desbravadores seservem de um mapa para se orientar e alcançar o seudestino, também nós faremos uso de um tipo de “mapa”.Esse mapa é formado pelos objetivos, conteúdos,bibliografia, lembretes, dicas, cronograma, caderno deregistro... tudo aquilo que possa nos auxiliar a desenvolvero processo de ensino-aprendizagem da melhor formapossível.

Este componente curricular tem uma carga horária de 60 horas/aula. Isso significa dizer que você terá que dedicar, no mínimo, 60horas para o estudo de Filosofia da Educação I, o que equivale a 4horas de estudos semanais. Quando dizemos mínimo, queremosenfatizar que, sem essas 4 horas semanais, você não conseguirárealizar o percurso. É preciso, portanto, uma boa organização. Vocêsabe, tão bem quanto eu, que os desafios que o mundo e a educaçãoimpõem sobre nós exigem uma boa formação. Precisamos estudarmuito além daquilo que os currículos acadêmicos exigem. Se vocêquer fazer diferença, estude mais!

Independente de a sua disponibilidade para estudar serpequena ou grande, organize o seu tempo. Em um curso presencial,o horário das aulas obriga os alunos a se organizarem, minimamente.No curso a distância, grande parte dessa <organização das horasde estudo> caberá a você.

O componente curricular Filosofia da Educação, no curso dePedagogia, é desenvolvido nos marcos 1 e 2. Neste primeiro percurso(Filosofia da Educação I), você irá perceber que o conhecimentofilosófico é um saber que está bem próximo de nós, mais do queimaginamos. Nosso objetivo, aqui, é promover uma reflexão acercadas principais correntes filosóficas, relacionando-as com modelospedagógicos que reproduzimos em nossas práticas educativas. Esseestudo nos ajudará a desenvolver um senso crítico a respeito daeducação.

Como você pode perceber, são objetivos que tratam tanto de questões teóricas quantopráticas. Por essa razão, devemos estar atentos a dois grandes livros: o livro que está escrito(material impresso e virtual) e o livro que é vivido.

As indicações de leitura do livro escrito serão, na maioria das vezes, feitas por nós, mas aindicação da leitura do livro que é vivido somente você será capaz de fazê-lo.

O livro vivido é constituído das experiências (passadas e presentes) que você vivencia ouvivenciou no mundo familiar, escolar, entre amigos(as), parentes, daquilo que você lê no jornal,vê na televisão, do que acontece na sua cidade ou no mundo. Ao longo do curso, solicitaremosde você a leitura do livro da vida. Nosso desafio, portanto, é o de filosofar a partir desses doislivros.

Para que isso ocorra de forma proveitosa, no processo de ensino-aprendizagem em queestamos inseridos, será preciso trabalhar com duas ferramentas: uma impressa, esta que você

Um sugestão de comoorganizar o seu tempo épossível de serencontrada no arquivo“ORGANIZAÇÃO DOTEMPO”, disponível noambiente virtual deaprendizagem - Moodle.Tente fazê-lo, conversecom outro(a)saprendentes sobre isso.

Fonte: Disponível em:<http://www.filo.filopolis.net/>.

Acesso em: 04 jul. 2007.

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tem em mãos, e outra virtual, aquela a que você tem acesso por meio de um computador, eatravés da qual nos comunicaremos ao longo do curso. A entrega dos exercícios, o esclarecimentodas dúvidas e o aprofundamento das orientações acontecerão no ambiente virtual de aprendizagem.Esse será o nosso ponto de encontro!

O croqui do nosso percurso está dividido em 3 unidades. Na primeira, daremos um mergulhono mar de significados da filosofia. Não nos preocuparemos em chegar a um conceito definitivo,até porque isso em filosofia é muito perigoso. Trabalharemos com alguns sentidos que podem seratribuídos à filosofia, em relação às nossas vidas e ao processo educacional. Ainda nessa Unidade,buscaremos alguns conceitos sobre educação, mais especificamente, sobre o que se entendepor filosofia da educação. Para cada um desses momentos, utilizaremos textos de apoio e sugestõesde sites que tratam do assunto. Ainda, nesta Unidade, trataremos da metodologia a ser empregadano estudo da filosofia, desenvolvendo algumas atitudes ou habilidades que são importantes e quedevemos cultivar para o ato de filosofar. Veremos a importância dos textos filosóficos nesseprocesso e como fazer a conexão desses textos com as nossas experiências.

Na segunda unidade, faremos um breve percurso histórico para estabelecer uma proximidadeentre a filosofia e a educação. Veremos que o modo como Platão (Séc. IV aC) tratou o problemada ignorância e do conhecimento ainda hoje pode nos ajudar a resolver problemas na área deeducação. Ao estudar alguns textos de René Descartes (1596-1650), entenderemos o porquê demuitas escolas valorizarem tanto a razão, o pensamento, deixando em segundo plano o afeto e aemoção. Com a ajuda de outros filósofos, analisaremos as fragilidades e as riquezas do pensamentode Descartes, para a ciência e para a educação.

Na terceira e última unidade, mostraremos como Rousseau (1712-1778) desenvolve afilosofia do cuidado, uma experiência sobremaneira importante para a Educação Infantil. Namesma linha de Rousseau, encontra-se Kant. Esse pensador segue o ideal de uma educaçãomarcada pela formação moral com bases racionais. Analisaremos, ainda, com a ajuda de JohnDewey (1859-1952), o abismo que existe, ainda hoje, entre o mundo da criança e os programasescolares. Por fim, a partir de um texto de Peter MacLaren (1948-), veremos que não existeeducação neutra, que todo projeto pedagógico é também um projeto político.

A partir do estudo deste componente curricular, acreditamos que você será capaz defilosofar. Isso significa que você será capaz de olhar a sua vida, o mundo e a educação, construindoquestionamentos que atinjam os fundamentos da realidade. Porém o ato de filosofar não significaapenas habilidade para criticar, mas também para admirar a vida e, mais propriamente, a criança,desenvolvendo um sentimento de inquietude e de compromisso com a educação.

Mais do que reunir um conjunto de conteúdos a serem dominados, o que nos importa é quevocê desenvolva o seu pensar, alimentando dúvidas, construindo críticas, buscando fundamentos.O importante é filosofar!

Ânimo e coragem! Nossa viagem irá começar!

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I66

Arquivo de imagem do mapa conceitualde Filosofia da Educação I

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CROQUI DO PERCURSO

Professor: Dr. EDSON CARVALHO GUEDESE-mail: [email protected] curricular: Filosofia da Educação I60 horas/aula04 créditos

Ementa:

Conceitos de filosofia, educação e filosofia da educação. Principais correntes filosóficas e tendênciaspedagógicas.

Princípios epistemológicos da Educação a Distância (a partir do Projeto do Curso EAD-Pedagogia)

• Construtivismo: a ação pedagógica e a construção de conhecimento se baseiam numaperspectiva heurística e construtiva, que se sustenta sobre o alicerce do trabalhocolaborativo ou cooperativo, na construção de uma rede ou de uma “comunidade deaprendizagem”.

• Interacionismo: a aprendizagem não significa, exclusivamente, armazenamento cadavez maior de informações. A aprendizagem é vista como um processo de relação com ooutrem e com o ambiente, de forma interativa e solidária.

• Interdisciplinaridade: o conhecimento a ser apropriado e construído passa pela inter-relação entre as várias áreas do saber, sobretudo aquelas disponibilizadas na gradecurricular.

Objetivo geral:

Refletir sobre o sentido das principais correntes filosóficas e relacioná-las com os vários modelospedagógicos, procurando desenvolver um senso crítico a respeito dos fundamentos das principaispráticas pedagógicas.

Objetivos específicos:

Construir algumas definições (provisórias) acerca da filosofia;

Estudar os vários conceitos de educação a partir dos principais modelos pedagógicos;

Refletir sobre os fundamentos das principais correntes filosóficas que exerceram maiorinfluência sobre a educação;

Analisar práticas pedagógicas, procurando identificar os fundamentos filosóficos que assustentam.

Competências e habilidades a serem desenvolvidas:

Capacidade de leitura e interpretação de texto;

Capacidade de análise e síntese;

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I68

Capacidade de gerar novas idéias e conhecimentos;

Capacidade de identificar os fundamentos filosóficos na elaboração e avaliação dos objetivosde um Plano de Ensino, Projeto Político Pedagógico ou outro documento pedagógico;

Capacidade de trabalhar em equipe;

Capacidade de comunicação oral, escrita e virtual;

Capacidade de estabelecer interações virtuais;

Capacidade de gerir hipertextos.

Etapas do percurso:

UNIDADE I: COMEÇANDO A NOS ENTENDER

1 Uso das linguagens

2 Em busca de uma definição de filosofia

3 O que é educação?

4 O que entender por Filosofia da Educação?

5 Metodologia filosófica

Referências:

FOLSCHEID, Dominique; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. [Trad. PauloNeves]. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 5-28.

JASPERS, Karl. Iniciação filosófica. 9. ed. Lisboa, Portugal: Guimarães Editores, 1998, p. 13-32.

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. [Trad. José FernandoCampors Fortes]. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, pp. 29-35.

VALLE, Lílian. Os enigmas da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002, p. 17-22.

UNIDADE II: A VITÓRIA DA RAZÃO

1 A passagem da ignorância para o conhecimento: uma hermenêutica da “Alegoria daCaverna”

2 O “penso, logo existo” de Descartes: o ser humano reduzido ao pensamento

3 O empirismo inglês: quando o conhecimento é reduzido à experiência

4. A solução kantiana

Referências:

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1999, p. 75-80.

DESCARTES, René. Meditações Metafísicas [Fragmentos]. In: SILVA, Franklin Leopoldo.Descartes, a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, s/d.

PLATÃO. A República. Livro VII. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1997.

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UNIDADE III: ALGUNS MODOS DE PENSAR A EDUCAÇÃO

1 Jean-Jacques Rousseau

2 Emmanuel Kant (1724-1804)

3 John Dewey

4 Pedagogia Crítica – Peter McLaren

Referências:

DEWEY, John. Vida e Educação. 8. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973, p. 42-62.

KANT, I. Sobre a pedagogia. Piracicaba, SP: Editora Unimep,1996, p. 11-36.

MCLAREN, Peter. A Vida nas Escolas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1977, p. 191-230.

ROUSSEAU, J-J. Emílio. São Paulo: Difel, 1968. Fragmentos do Livro II.

Recursos técnico-pedagógicos:

AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem):o Fórunso Sala de bate-papoo Diárioo Disponibilidade de arquivos de textoo Disponibilidade de arquivos com apresentações didáticas

Vídeo educativo (DVD)Trilhas do Aprendente (material didático impresso)Consulta a livrosConsulta a WEB

Estratégias:

As estratégias deste percurso estão fundadas na participação, interação e conexão dateoria com o universo prático. Para tanto, é fundamental que os(as) aprendentes visitem, participeme interajam no ambiente virtual do curso e das aulas presencias, além da freqüência contínua aoPólo Municipal de Apoio Presencial, onde poderão ser orientados(as) pelos(as) mediadores(as)pedagógicos presenciais e a distância acerca dos desafios propostos.

GPS (Sistema de Posicionamento Global):

Os instrumentos de avaliação dos(as) aprendentes serão diversificados: exercícios escritos,testes, produção textual, seminário virtual, debates em fóruns. Para avaliar tais produções,serão considerados os objetivos, as habilidades e competências propostas pelo componentecurricular, tais como reflexão crítica, domínio de referenciais teóricos, interatividade, criatividade,capacidade de análise, de síntese e de produção de textos.

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I70

Observação quanto ao Croqui do percurso:

O Croqui do percurso não se constitui num documento imutável ao longo do marco, trata-se de um roteiro básico para nortear as partes envolvidas no processo ensino-aprendizagem,estando aberto a modificações e contínuas atualizações.

REFERÊNCIAS BÁSICAS

DEWEY, John. Vida e Educação. 8. ed. São Paulo: Melhoramentos.

FALCÃO, Adriana. Mania de Explicação. São Paulo: Moderna, 2001.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

JASPERS, Karl. Iniciação filosófica. 9. ed. Lisboa, Portugal: Guimarães Editores, 1998.

KANT, I. (1996). Sobre a pedagogia. Piracicaba, SP: Editora Unimep. 2006.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática.

FOLSCHEID, Dominique; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. [Trad. PauloNeves]. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

FREIRE, Paulo. A Dialogicidade – a essência da educação como prática da liberdade. In:“Pedagogia do Oprimido”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. [Trad. José FernandoCampors Fortes]. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

PLATÃO. A República. Livro VII. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1997.

ROUSSEAU, J-J. Emílio. São Paulo: Difel, 1968.

SILVA, Franklin Leopoldo, “Descartes, a metafísica da modernidade”. São Paulo: Moderna, s/d.

VALLE, Lílian. Os enigmas da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

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Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I72

UNIDADE ICOMEÇANDO A NOS ENTENDER

AULA 1: O uso das linguagens

O ser humano, para se expressar e falar do mundo, faz uso da linguagem. A linguagemhumana visa à comunicação entre as pessoas. Ela é dotada de sentido, de intencionalidade.Porém existem muitos modos de falar da realidade, ou seja, utilizamos várias linguagens para falarde nós, do outro, das experiências que vivenciamos no mundo.

Ao nos referirmos a alguma experiência, podemos falar a partir da emoção. Muitos(as)utilizam a arte para falar do mundo; outros(as) constroem discursos mirabolantes, carregados deexageros; existem aqueles(as) que falam do mundo com sabedoria, mas não a sabedoria queencontramos nas universidades. Trata-se de uma sabedoria de gente do povo simples, que nãoteve acesso à escola por muitos anos. Às vezes, essa sabedoria é condensada numa única frase- são os chamados “ditos populares”.

Outro jeito de falar do mundo é através de uma linguagemreligiosa, marcada pela fé em algo transcendental. Parecida comesse tipo de linguagem, há a <linguagem mitológica>, caracterizadapela narração de uma experiência, em que realidade e magia seconfundem.

Podemos falar também da linguagem televisiva,cinematográfica e virtual. Existem as linguagens dos gruposminoritários: pessoas portadoras de necessidades especiais, grupossociais discriminados ou excluídos. Tudo isso pode ser entendidocomo formas de linguagem.

No nosso dia-a-dia, fazemos uso freqüente da linguagem do senso comum, um tipo delinguagem através da qual a maioria das pessoas se entende, sobretudo, para desenvolver suasatividades diárias, sem grandes dificuldades.

A filosofia também é um tipo de linguagem. Trata-se de um modo de falar da realidadeatravés de argumentos racionais, fazendo uso da razão. Não que os outros tipos de linguagemsejam irracionais, mas porque isso é exigido dela.

Se você quiser falar do que aconteceu no último final de semana da sua cidade, poderáfazê-lo de diversas formas, mas, se decidir comunicar o que aconteceu através de um discursofilosófico, só há uma forma de fazê-lo: usando a razão, através de uma argumentação racional.

Ao falar de Filosofia da Educação, nosso propósito é o de construir uma reflexão e umdiscurso, a partir da realidade educacional, que tenha fundamento na razão. Portanto, é preciso

Para saber mais sobremito, consulte o site:http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito

UNIDADE IIUNIDADE I

AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5AULA 1

UNIDADE III

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discernimento na busca para entender o que seja filosofia, educação e, ainda, filosofia da educação.Esse é o assunto da primeira unidade deste módulo.

Existe algum ditado popular que traduz esse saber? Antes de passarmos adiante, proponhoo primeiro desafio. Você deverá identificar alguns tipos de linguagens que estão à sua volta.Esse desafio procurará identificar apenas três tipos de linguagens: a mitológica, a do senso-comum e a popular. Vejamos:

Desafio das equipes “A”: linguagem mitológica

a) Pesquise uma narrativa acerca de algum mito de sua preferência e responda:

a.1 - Qual é o mito?

a.2 - Sobre o que é esse mito?

a.3 - Quais são os personagens principais?

a.4 - Qual é a mensagem que ele pretende passar?

UNIDADE IIUNIDADE I

AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5AULA 1

UNIDADE III

Antes mesmo de buscar um conceito de filosofia, vamos realizar umdesafio coletivo. Nesse primeiro momento, as equipes serão formadas poraprendentes do mesmo município. Para saber qual é a sua equipe, vocêdeverá ir ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) - Moodle.

Acesse: <www.ead.ufpb.br> ou procure osmediadores pedagógicos presenciais no Pólo Municipalde Apoio Presencial.

O objetivo deste desafio é identificar três tipos de linguagem, possíveisde serem encontradas em nosso cotidiano: a mitológica, a do senso-comume a popular. Cada equipe ficará responsável para desenvolver apenas umdesafio. No ambiente virtual de aprendizagem, você encontrará maisorientações.

DESAFIO 1 (30 pontos)

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I74

Desafios das equipes “B”: linguagem do senso comum

b) Pesquise, entre pessoas que estão próximas a você, algum conhecimento que é dodomínio da grande maioria das pessoas. Algo relacionado à saúde ou à educação oua qualquer outra área. A partir dessa pesquisa, responda:

b.1 - Que conhecimento é esse?

b.2 – Esse conhecimento está ligado a que área (saúde, educação, política,sociedade)?

b.3 – Quais as pessoas que costumam divulgar esse conhecimento?

b.4 – Quais são as palavras ou frases que essas pessoas geralmente usam paradivulgar esse conhecimento?

b.5 - Como a ciência trata desse assunto?

Desafios das equipes “C”: linguagem popular

c) Pesquise algum saber que você julga importante, mas queé divulgado por pessoas simples, sem formação escolar ouacadêmica. A partir dessa pesquisa, responda:

c.1 - Que saber é esse?

c.2 – Quem são as pessoas que reproduzem essesaber?

c.3 – Esse conhecimento está ligado a que área (saúde,educação,

política, sociedade)?

c.4 – Quais são as palavras ou frases que essas pessoasgeralmente usam para divulgar esse saber?

c.5 - Como trata desse assunto?

IMPORTANTE!

Este desafio deverá ser respondido e enviado para o mediador pedagógicoa distância na terceira semana do percurso, conforme calendário que seencontra no AVA - Moodle.- Será feita uma triagem dessas respostas, dando destaque para as 10

melhores pesquisas.- Para a avaliação dessas pesquisas serão observados os seguintes critérios:objetividade, profundidade, clareza e originalidade.- As pesquisas escolhidas serão repassadas a todos(as) os(as) aprendentes eservirão para futuros comentários.- Durante o período da pesquisa, será promovido um fórum para socializar idéias.As dúvidas poderão ser esclarecidas a partir do Diário.

Um trabalho muitointeressante deaproximação da escolacom o saber popular foirealizado através doprojeto ViveiroMedicinal, vale a penadar uma olhada. Foidivulgado pela RevistaNova Escola e estádisponível no site:

novaescola.abril.com.br/no t i c i a s / ou t_04_29 /index.htm

Sobre ditado popular,vale a pena consultar osite:www.mulhervirtual.com.br/ditados.htm

UNIDADE IIUNIDADE I

AULA 2 AULA 3 AULA 4 AULA 5AULA 1

UNIDADE III

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AULA 2: Em busca de uma definição de Filosofia

Antes de tudo, é preciso dizer que qualquer definição queelaboremos acerca da filosofia será provisória, posto que não há umconceito definitivo acerca desse saber. O filósofo não tem a pretensãode ter respostas acabadas para qualquer que seja a realidade. O quediferencia o filósofo do sábio é que o primeiro ama o saber; o segundose arroga ao direito de possuí-lo. O filósofo Karl Jaspers (1998, p.18)deixa isso bem claro:

A palavra grega filósofo (philosophos) é formada em oposição a sophos, significao que ama o saber, em contraposição ao possuidor de conhecimentos, que sedesignava por sábio. Esse sentido da palavra manteve-se até hoje: é ademanda da verdade e não a sua posse que constitui a essência da filosofia[...] Filosofar significa estar-a-caminho [em busca da verdade].

PARA LER:

Esse livro que você tem em mãos não dispensa outras leituras. Aolongo do percurso, outros textos serão indicados.É importante que você leia os dois primeiros capítulos do livro deKarl Jaspers. A referência completa é:

JASPERS, Karl. Iniciação filosófica. 9. ed. Lisboa, Portugal: GuimarãesEditores, 1998, p. 13-32.ATENÇÃO! Esse texto encontra-se disponível na biblioteca do Pólo Municipal de Apoio

Presencial.Nessa leitura, você deverá estar atento aos seguintes aspectos:1. Opiniões inapropriadas acerca do que vem a ser a filosofia;2. Características que distinguem a filosofia da ciência;3. A definição (provisória) que Karl Jaspers apresenta acerca da filosofia;4. O sentido da filosofia apresentada por esse autor;5. Distinção entre princípio e origem da filosofia;6. As atitudes básicas a serem desenvolvidas para quem quer filosofar;7. O significado de cada uma dessas atitudes.

<Platão>, em seu livro chamado Teeteto, identifica aadmiração (thaumazein) como a verdadeira característica do filósofo.Também Aristóteles identificava o espanto como a primeira atitudedo filosofar. A palavra grega para falar desse espanto era thauma,que significa espanto, mas também admiração e perplexidade. Vejamoso texto de <Aristóteles>:

Sobre a vida e a filosofiade Platão, vale a penaconsultar o sitewww.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm.Sobre a vida e a filosofiade Aristóteles, vale apena consultar o sitew w w . c o n s c i e n c i a . o r g /

aristoteles.shtml

Fonte: <http://cienciahoje.uol.com.br/materia/resources/images/chc/old/chc147b2.jpg>. Acesso em: 04 jul. 2007.

UNIDADE IIUNIDADE I

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UNIDADE III

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I76

[ ...] foi pela admiração que os homens começaram a filosofar, tantono princípio como agora; perplexos, de início, ante as dificuldadesmais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas arespeito das questões mais complexas, tais como os fenômenosda Lua, do Sol e das estrelas, como também da gênese do universo(METAFÍSICA, 982b).

A compreensão do real significado da palavra gregathauma nos ajuda a perceber que a filosofia tem origem nascoisas cotidianas, e não, nas grandes teorias. Aquele(a) quedeseja filosofar deve ser capaz de se admirar com as coisassimples que se encontram ao nosso redor.

A admiração é uma atitude fundamental para o filósofo,pois ela nos abre o espírito para a realidade e nos deixa livresde preconceitos. A admiração e a perplexidade nos levam àcuriosidade, despertam o desejo de conhecer.

1.2.1 O caráter crítico da filosofia

Outra atitude fundamental para a filosofia é a crítica. Da admiração, nascem a dúvida ea crítica. Diante da realidade que nos deixa perplexos, fazemos perguntas, investigamos, com opropósito de conhecer. A investigação crítica está na origem do filosofar.

Consultando um dicionário, veremos que, dentre os significados do vocábulo crítica,encontramos: apreciação minuciosa, juízo fundamentado e com base em critérios. Para melhorentender o sentido de crítica, em filosofia, convém analisarmos duas outras palavras cognatas:crise e crisol.

O significado de crise todos nós sabemos. Écomum passarmos por algum tipo de crise, sejafinanceira, emocional, familiar etc. A palavra crisoljá não é tão familiar. O crisol é o lugar onde sederrete o metal para fundição, para alcançar maiorpureza. Um artesão que trabalha com peças de ferro,por exemplo, leva o metal ao fogo, a altatemperatura, para que o ferro possa ser purificadode outros metais e assim ficar mais resistente. Parafacilitar esse processo de purificação, o ferreiro levao metal ao crisol, retira-o e bate várias vezes napeça, de modo que os metais mais leves vão sesoltando.

A importância da crítica para a filosofia nãoé tanto o caráter questionador, embora isso tambémseja necessário. A reflexão filosófica se assemelha,em certo sentido, ao trabalho do ferreiro. Sua funçãoé levar ao crisol idéias, fatos, experiências. Tudo o

Ferreiro. de José Sobrinho. óleo sobre tela.

UNIDADE IIUNIDADE I

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UNIDADE III

Fonte:<http://www.biografiasyvidas.com/biografia/a/aristoteles.htm>.Acesso em: 04 jul. 2007.

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que existe é passível de ser objeto de investigação filosófica. O crisol, na filosofia, é a razão, aargumentação. Uma idéia ou uma experiência, quando aquecida na luz da razão, torna maissólida, mais resistente, mais durável, mais verdadeira.

A filosofia, portanto, pode ser compreendida como essa disposição para admirar e criticaras coisas do mundo. Buscar a verdade, mesmo sabendo que ela jamais será alcançada. Nãoporque é inacessível, mas porque não é estática. A verdade é uma realidade em movimento. Emqualquer momento em que investigamos, levamos alguma realidade ao crisol da razão, encontramosalgo novo. Seja por causa do objeto ou por causa do filósofo, esses dois existem no mundo numconstante vir-a-ser.

1.2.2 O caráter radical da filosofia

Outra característica da filosofia é a radicalidade. A palavra radical provém do latim radicale,que significa ir à origem, na raiz; diz respeito à base, ao fundamento, à origem de qualquer coisa.Dizer que a filosofia é radical significa dizer que a sua reflexão atinge os fundamentos, que vai àorigem do problema que se propõe analisar.

Quanto mais radical for a reflexão, mais resistente será a críticas, pois as posições contráriasterão que ter origem numa realidade ainda mais profunda. Radicalidade não é o mesmo queradicalismo. O radicalismo é uma posição de resistência ao diálogo, de resistência à crítica, queacaba em dogmatismo. E não existe nada mais avesso à filosofia do que uma posição dogmática.A filosofia terá que ser radical, mas jamais radicalista ou dogmática.

Uma dificuldade que encontramos, muitas vezes, é o medo ou a preguiça de pensar deforma radical ou aprofundada. Quase sempre, preferimos respostas prontas ou superficiais, poiselas dificilmente nos levam a mudanças radicais. Preferimos conviver com problemas corriqueiros,mesmo que nos incomodem muito, a analisá-los em busca das suas verdadeiras causas. Pensarem profundidade gera mudança e desacomodação e, nem sempre, estamos dispostos a isso.

1.2.3 A busca por uma compreensão integral da realidade

A filosofia é um saber racional, mas não é um saber científico.Também a <ciência> é construída com base na razão, mas com ummodo diferente de fazer uso dessa razão. Os historiadores costumamdatar a ciência, tal como conhecemos hoje, com a publicação da Derevolutionibus orbium coelestium (Das revoluções das esferascelestes), de Nicolau Copérnico, em 1543. Essa data marca o iníciode um período que se convencionou chamar de Revolução Científica,que se estende até à obra de Isaac Newton, Philosophiae naturalisprincipia mathematicaque (Princípios matemáticos da filosofia natural)de 1687. Os princípios da ciência moderna foram lançados nesseperíodo.

Ver o artigo “O que éciência?” de Sílvio SenoCHIBENI, disponível em:w w w . u n i c a m p . b r /~ c h i b e n i / t e x d i d /ciencia.doc.

UNIDADE IIUNIDADE I

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UNIDADE III

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I78

A <ciência moderna> se distingue da filosofia por váriosfatores, alguns dos quais enumeraremos aqui:

a) A ciência é experimental – suas teorias e argumentossão validados através de operações manuais eexperimentais com e sobre objetos, enquanto a filosofiaé um saber eminentemente especulativo;

b) A ciência se limita a estudar partes da realidade, detém-se a um objeto específico, estudado mediante métodospróprios de observação. A filosofia procura umacompreensão total da realidade, e o seu método não seprende apenas ao que é observável, suas conclusõespodem ser oriundas apenas de conteúdos teóricos;

c) A ciência procura inferir resultados precisos, possíveisde serem reproduzidos universalmente. A partir daobservação e da aplicação do método indutivo na análisede dados empíricos, o cientista é capaz de prever umarealidade acerca do fenômeno estudado, construindo leiscientíficas. A filosofia, apesar de buscar construirproposições que sejam válidas universalmente, não tema obrigação de inferir resultados práticos. Suasconclusões estarão sempre abertas a novas críticas,sem a pretensão de construção de leis universais, masde princípios universais, nem sempre frutos daobservação empírica.

Apesar do que foi dito, a fronteira que separa a filosofia da ciência não é tão fácil de sertraçada. No início da ciência moderna, havia uma necessidade muito grande de estabelecer esseslimites, visto que a filosofia da época estava impregnada de conteúdos religiosos e metafísicos,muitas vezes, dogmáticos. Em contrapartida, a ciência deu forte ênfase à experiência, àdemonstração, à observação da natureza.

A epistemologia contemporânea caminha numa outra direção. Já não duela com a filosofia,e esta não carrega os dogmas religiosos e metafísicos do passado. Existe, hoje, uma valorizaçãomuito grande, por parte da comunidade científica, da construção de teorias, de estudos acercados fundamentos. Por outro lado, a filosofia passou a estar mais atenta ao mundo material, aomundo prático, servindo-se, inclusive, dos conhecimentos oriundos das investigações científicas.

Contudo, mesmo com essa aproximação entre ciência e filosofia, não é possível considerá-las como equivalentes. Essa distinção está associada, sobretudo, ao método empregado. Enquantoo método científico ancora-se na observação do mundo empírico, a filosofia se justifica peloestudo de princípios e fundamentos, ao que está para além do que é observável empiricamente.Trata-se, pois, de um exercício teórico.

Sobre a ciênciamoderna, vale a penaconsultar o artigo deBoaventura de S.Santos, sobretudo,quanto ele trata do“paradigma dominante”.Neste artigo Boaventuraanalisa a passagem daciência moderna para após-moderna. Para ler,acesse:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141988000200007&script=sci_arttext

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Essa preocupação com os fundamentos insere a filosofia num movimento de compreensãoda totalidade, da realidade integral, superando os limites do fenômeno, assim como este semostra no tempo e no espaço.

Entretanto, apesar de a filosofia não ter o mesmo sentido do saber científico, serve-sedele para aprofundar sua reflexão. Assim, a filosofia poderá utilizar conteúdos da física, dabiologia e, mais ainda, das ciências humanas e sociais, tais como sociologia, psicologia, economiaetc. Todas elas podem ajudar a filosofia a ter uma compreensão da realidade mais total eaprofundada.

AULA 3: O que é educação?

Outra categoria importante, nesse início de curso, é a de educação. Para compreendermoso sentido de Filosofia da Educação, convém, antes, entender o que seja educação.

Para <Kant> (filósofo alemão do final do séc. XVIII), o serhumano só se torna verdadeiramente humano pela educação, é aúnica criatura que precisa ser educada. Ele define a <educação>como “o cuidado da infância (a conservação, o trato), a disciplina ea instrução com a formação.” (KANT, 2006, p. 11).

Na pedagogia alemã, o ser humano nasce indivíduo e, atravésda formação, transforma-se em pessoa. O termo alemão, para sereferir à formação, é Bildung, que pode ser traduzido por cultura,mas uma cultura configurada, de acordo com um modelo. A raiz de<Bildung> é Bild, que pode significar um desenho, uma foto, umquadro. Pode significar, ainda, imagem, representação, figura, forma.Segundo Quintana Cabanas (1988, p. 34-35), Bildung, em geral,significa a configuração de uma matéria, segundo uma formapreexistente ou uma imagem, e, em especial, o desenvolvimento, dedentro para fora, de uma situação indeterminada a uma forma perfeita.

Essa noção de formação enquanto Bildung é importante porqueindica o caráter teleológico da educação. Toda educação tende paraum fim, para um modelo, mesmo que este seja dinâmico e inalcançável.Falar de educação significa falar de projeto, ou seja, uma antecipaçãode algo (um objeto) para além de nosso presente. Projetar é anteciparo futuro.

Ora, se considerarmos a idéia de Kant, de que somente a educação transforma o serhumano naquilo que ele realmente deve ser, e se entendermos a educação como um processo deformação, com base num modelo, podemos entender a educação como um processo de formaçãoa partir de uma concepção ou modelo de ser humano.

Quando quiser conhecer umpouco mais sobre essefilósofo, consulte http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_KantPara um estudo maisaprofundado sobre o conceitode B i ldund, leia o textodisponível em: www.scielo.br/s c i e l o . p h p ? p i d = S 0 1 0 0 -512X2005000200005&script=sci_arttext

Se você quiser antecipar umestudo acerca da pedagogiana concepção kantiana, leiao texto indicado na terceiraunidade desse módulo deestudo: Sobre pedagogia.

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Chegamos, portanto, a uma definição de educação, mesmo que provisória. Lembre-se deque, em filosofia, nenhuma resposta é definitiva. Essa definição nos traz um outro problema: oque é o ser humano? Que modelo é esse pelo qual a educação deve se orientar?

Tocamos, agora, numa das questões mais fundamentais da educação. Muitas vezes,ficamos discutindo sobre currículo, planejamento, disciplina, mas não discutimos sobre o tipo deser humano que queremos formar.

Todo projeto pedagógico possui uma concepção de ser humano, explícita ou implícita, aqual é construída ao longo de anos e até séculos, no interior de uma cultura. A escola, a famíliae tantas outras instituições sociais que exercem o papel educativo estão inseridas numa determinadacultura. Essa cultura, que acaba moldando o ideal de ser humano.

A cultura em que estamos vivendo, neste início do século XXI, é marcada pela pluralidade.Isso significa dizer que, diferente de outros tempos, não temos mais um único modelo, masvários. Isso torna a tarefa educativa ainda mais desafiadora.

Vamos analisar um conceito de educação, apresentado porum autor dos nossos dias que, de certa forma, traduz muito dosnossos sonhos e ideais. O texto que iremos estudar encontra-se nolivro <Emoções e linguagens na educação e na política>, deHumberto Maturana (1998, p. 29-35).

A partir desse texto, responda:

1. O que significa educar ?

2. Qual o sentido que deve ter, na educação, o processode aceitação de si próprio e respeito pelo outro?

3. Qual é o ideal de sociedade que H. Maturana apresentanesse texto?

Esse texto encontra-sedisponível na bibliotecado Pólo Municipal deApoio Presencial, bemcomo no site:w w w . d h n e t . o r g . b r /direitos/direitosglobais/paradigmas/maturana/oqueeducar.html

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DESAFIO 2 (30 pontos)

Atenção!O desafio 2 deve ser postado no Ambiente Virtualde Aprendizagem (AVA) - Moodle. Em caso dedúvidas para realizar esse procedimento, consulteo mediador pedagógico presencial no Pólo Munici-pal de Apoio Presencial.Dúvidas sobre o conteúdo estudado, conecte-secom o mediador pedagógico a distância através doendereço: <www.ead.ufpb.br>.

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AULA 4: O que entender por Filosofia da Educação?

É preciso compreender que a Filosofia da Educação não é apenas uma disciplina, presenteno currículo do curso de Pedagogia ou de tantas outras Licenciaturas. A filosofia da educação éuma atitude, uma postura que todo pedagogo(a) ou professor(a) responsável deveria ter nodesempenho de suas funções.

A filosofia da educação é uma reflexão que nasce do interior do processo educativo. Nãose trata de um saber alheio à educação. Ao desenvolvermos ações educativas, precisamosperguntar pelos seus princípios, pelos fundamentos que orientam essas práticas pedagógicas.Agindo assim, estamos fazendo filosofia da educação.

Assim como a filosofia nasce da atitude de admiração, perplexidade e crítica, tambémocorre com todos(as) aqueles(as) que se dispõem a filosofar a partir do universo educacional. Épreciso atenção, espírito contemplativo, para perceber os encantos, as belezas presentes noprocesso educacional. Esse olhar nos abre a mente e o coração. É preciso também espírito críticoe disposição para buscar a raiz dos problemas que brotam do interior dos processos pedagógicos.

Nesse sentido, entendemos Filosofia da Educação como um saber que interroga, desenvolvecríticas e desperta inquietações no interior do campo educacional. Trata-se de um processo deconstrução de fundamentos que possam legitimar valores, objetivos e ações educacionais.

A Filosofia da Educação não é uma espécie de menu, onde encontramos uma série decorrentes filosóficas, associadas às outras tantas tendências pedagógicas, apresentadas comoconteúdos prontos e acabados, ligados a um passado distante, como se fosse um museu deconceitos e teorias.

A Filosofia da Educação não tem a pretensão de apresentar um conhecimento enciclopédicoe, tampouco, de responder a todas as perguntas que brotam do campo educacional. Seu propósitoé o de pensar a educação.

Esse pensar questionante, no entanto, não se faz fora da história da educação. Portanto,não podemos ignorar perguntas e respostas de pensadores que nos antecederam. Muitas filosofiasdo passado podem nos ajudar a compreender as causas, os fundamentos de problemas dopresente.

As primeiras páginas do livro Os enigmas da educação, de Lílian Valle, poderão nos ajudara compreender e aprofundar um poucos mais esse caráter crítico que nasce no solo do fazerpedagógico.

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Revisando nosso itinerário

Antes do início da leitura do texto de Lílian do Valle, convém estarmosatentos(as) ao percurso que fizemos até aqui. Lembrem que nosso primeiropasso foi o de distinguir o saber filosófico de outras formas de saber (sensocomum, saber popular, saber científico). A partir daí, buscamos uma primeiradefinição (e não será a última) de filosofia. Em seguida, com a ajuda deHumberto Maturana, elaboramos um conceito de educação, bem como osentido que ela pode ter para a vida humana.

Depois de analisado o significado da filosofia e da educação, restarefletirmos sobre o significado da filosofia da educação.

A pergunta, portanto, que deve orientar a nossa leitura do próximo texto é: oque se entende por filosofia da educação? Esse é o problema que terá queser esclarecido.

O próximo quadro propõe um roteiro que pode ajudar nessa leitura.

PARA LER – orientações

A leitura a ser feita diz respeito ao texto O ponto de partida: a interrogação daeducação, disponível na biblioteca do Pólo Municipal de Apoio Presencial (PMAP) e que fazparte do livro Os enigmas da educação, de Lílian do Valle, 2002, p. 17-22.

Quando lemos um texto acadêmico, uma das primeiras perguntas (senão a primeira)que devemos fazer é: Qual é o problema que este texto pretende responder?

Não basta identificar o assunto, é preciso conhecer o problema que o(a) autor(a) sepropõe a trabalhar. Já dissemos, no quadro anterior, que o problema desse texto pode serexplicitado da seguinte maneira: O que se entende por filosofia da educação?

A resposta a essa pergunta é o que, na pesquisa científica, convencionou-se chamarde tese. A tese é sempre a respostas a um problema. Problema e tese na ciência são comoa cara e a coroa de uma moeda - uma está presa à outra, impossíveis de serem separadas.A compreensão de uma contribui a compreensão da outra.

O problema/tese nos ajuda a distinguir as idéias principais das idéias secundárias. O(a)autor(a), muitas vezes, desenvolve seu texto de forma progressiva. Nesse processo, eleacrescenta informações que servem para esclarecer o leitor acerca do objetivo do texto.Contudo, nem todas essas informações são fundamentais para se compreender o problema/tese do texto. São escritas no sentido de ajudar o leitor a se inteirar do assunto, fazerconexões com a realidade e, até mesmo, para o aprofundamento da questão.

Todavia, o que nos importa, numa primeira leitura, é identificar o problema/tese. Nocaso do nosso texto, qual é a resposta que a autora oferece à pergunta problema. Emoutras palavras: Qual é a tese da autora nesse texto?

A partir daí, é possível identificar as idéias principais. Fiquemos, por enquanto,apenas, na busca da tese.

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A partir do texto O ponto de partida: a interrogação da educação, responda:

1) O que podemos entender por filosofia da educação?

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DESAFIO 3 (20 pontos)

Atenção!O desafio 3 deve ser postado no Ambiente Virtualde Aprendizagem (AVA) - Moodle. Em caso dedúvidas para realizar esse procedimento, consulteo mediador pedagógico presencial no Pólo Munici-pal de Apoio Presencial.Dúvidas sobre o conteúdo estudado, conecte-secom o mediador pedagógico a distância através doendereço: <www.ead.ufpb.br>.

A resposta deverá serapresentada no fórumque foi criado,exclusivamente, paratratar dessa pergunta.

Atenção! A resposta nãopoderá ultrapassar 150palavras.

Para acessar oMoodle, digite:

www.ead.ufpb.br

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AULA 5: Metodologia filosófica

Você já terá percebido que a leitura dos textos filosóficos exige de nós uma atençãoespecial. Nem sempre é possível compreender o que lemos na primeira leitura, por isso somosobrigados, às vezes, a ler o texto mais de uma vez. Não se assuste com isso! Você está iniciandouma nova metodologia de estudo, é normal encontrar algumas dificuldades.

Apesar de muitos(as) de vocês que fazem parte desse curso residirem longe do mar,gostaria de sugerir a metáfora do mergulho para facilitar a compreensão desse novo processo deaprendizagem: o de aprender a filosofar. Imaginem um grupo de pessoas que saem de barco paramergulhar. Ao chegar na área escolhida, o instrutor reúne os equipamentos e os disponibilizaàqueles(as) que lá se encontram. Alguns, mais afoitos, logo mergulham no mar e começam anadar. Outros avaliam mais uma vez o equipamento, ficam analisando o mar... observam oscolegas... e continuam no barco. Há ainda aqueles que, mesmo com receio, põem o equipamentoe pulam na água, arriscam um mergulho... voltam à superfície. A profundidade do mergulhodepende de cada um(a). À medida que aprofundamos, mas maravilhas encontramos. Se noslimitarmos a ficar na superfície, pode parecer divertido no início, mas, ao longo do tempo, torna-se enfadonho. Ficar no barco, então, nem pensar!

Nós precisamos mergulhar no mar da filosofia, na densidade dos textos. Assim como noesporte, é preciso paciência e perseverança no estudo da filosofia. A cada leitura e a cadaexercício, um mergulho. A profundidade será determinada por você. Pode ser que, hoje, você sóconsiga um metro de profundidade, mas é assim que se começa. A cada mergulho, aprendemosum pouco mais, tornamo-nos mais hábeis, mais experimentados. Contudo, há uma regra nomergulho esportivo que é a seguinte: ninguém pode mergulhar sozinho. Nesse sentido, em nossocurso, você conta com a ajuda de outras pessoas: o professor mediador presencial e a distância,o orientador acadêmico e os(as) próprios(as) colegas. Essas pessoas têm a função de auxiliá-lo(la) nessa aventura: sugerindo, esclarecendo, orientando... Fazendo o possível para que vocêpossa fazer um bom mergulho, com profundidade e segurança.

Mas afinal, nós vamos mergulhar em quê? Neste percurso, o da Filosofia da Educação I, oobjetivo é mergulhar no mar de idéias e de pensamentos, de outros e de nós mesmos. A filosofiase realiza através de um profundo diálogo de idéias.

Tente lembrar de alguma conversa que você teve com algum(a) amigo(a) ou alguém dafamília que tenha sido importante para a sua vida. Pense em um momento em que você contoucom a palavra de alguém para ajudar a solucionar algum problema na sua vida. Ao conversar comoutra pessoa, algumas idéias novas aparecem, outras se confirmam, outras são descartadas. Aspalavras e o pensamento de outra pessoa são apropriados e re-significados por nós, resultandonuma nova perspectiva ou um novo modo de ver e superar os desafios que a vida nos impõe.

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O diálogo filosófico se realiza de forma semelhante. Trata-se de um encontro de idéias, deinteligências. O interessante nesse diálogo é que dele participam, também, pessoas do passado.Platão, Descartes, Kant, Dewey e tantos outros filósofos que nos antecederam participam desseprocesso através daquilo que eles deixaram escrito.

Os textos apresentam idéias, pensamentos de outras pessoas e, em sua leitura, buscamoscompreender o sentido não apenas do texto, mas também o sentido que o próprio autor quisindicar quanto escreveu aquelas palavras. Nesse processo de leitura, nós não ficamos passivos.A leitura não pode ser compreendida como um despejar de idéias sobre mentes vazias. O leitortambém tem o seu ponto de vista, também desenvolve linhas de pensamento e indica algumsentido acerca da temática que está sendo tratada. Por isso, podemos dizer que é possívelfilosofar a partir dos textos. Os textos nos instigam a pensar, a desenvolver conjecturas e aresolver problemas. A metodologia filosófica pretende orientar esse processo de apropriação dostextos filosóficos. Esse é o assunto do próximo texto a ser lido.

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PARA LER - Orientações

Para aprofundar um pouco o estudo sobre metodologia filosófica, indicamos o texto deDominique FOLSCHEID e Jean-Jacques WUNENBURGER, do livro Metodologia filosófica (1997),os capítulos I (A leitura dos textos) e II (A explicação de texto), páginas 6-47.

Não teremos um desafio específico sobre esse texto. A avaliação que faremos será a partirdo texto anterior, “O ponto de partida: a interrogação da educação”. O desafio que propomosirá avaliar se você consegue estudar um texto filosófico, segundo a metodologia filosófica.

Continuaremos avaliando o seu domínio acerca da metodologia filosófica, ao longo destepercurso, por meio dos vários desafios que se seguirão.

A partir do texto O ponto de partida: a interrogação da educação, responda:

1) Quais são as idéias principais desse texto? Apresente-asem forma de tópicos.

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DESAFIO 4 (20 pontos)

Atenção!Se você tiver difculdades em postar o desafio noambiente virtual de aprendizagem<www.ead.ufpb.br>, solicite a ajuda do mediadorpedagógico presencial no Pólo Municipal de ApoioPresencial.

Atenção!

A resposta deverá serencaminhada aomediador pedagógico adistância, conformeorientação e calendáriopresentes no ambientevirtual de aprendizagem.

Para acessar oMoodle, digite:

www.ead.ufpb.br

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AVALIÇÃO DO NOSSO PERCURSO

Chegamos ao fim da primeira unidade. Nós, professores, gostaríamos quevocê participasse de uma avaliação breve acerca do processo de ensino-aprendizagem que realizamos até aqui. Para este exercício, tomamos comoinspiração a música de Raul Seixas: Sapato 36: “Eu calço é 37; Meu pai medá 36; Dói, mas no dia seguinte aperto meu pé outra vez; Eu aperto meu péoutra vez [...].”

Gostaríamos que você avaliasse a primeira unidade como se fosse um sapato novo quevocê usou. Leia todas as alternativas e depois assinale aquela que mais corresponde à suaexperiência nesta unidade. Esta avaliação deverá ser enviada ao(à) mediador(a)pedagógico(a) a distância.

( ) O sapato é o meu número: ajustou-se bem, não está nem largo e nem apertado.Sinto-me confortável com ele.

( ) O sapato é um número a mais: sinto que ficou folgado, poderia estar um pouco maisapertado.

( ) O sapato é um número a menos: sinto que ficou apertado, consigo andar com ele,mas com dificuldade.

( ) Existe uma pedra no meu sapato: sinto que este é o meu número, mas umapedrinha acabou entrando e dificultou meu caminhar, acreditoque assim que me livrar dela,minha caminhada se tornará agradável.

( ) Este sapato não é para mim: preciso encontrar outro tipo de calçado, sinto queeste tipo de sapato, mesmo com correções, não se ajustará ao meu pé. Jamais conseguireicaminhar com ele.

Outros comentários poderão ser apresentados no Fórum, cujo título é “O meusapato”.

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UNIDADE II

A VITÓRIA DA RAZÃO

Como você percebeu, a primeira unidade serviu como uma introdução ao percursode Filosofia da Educação I. Vimos alguns tipos de saberes e como estes diferem do saberfilosófico. Iniciamos um processo de construção de conceitos acerca da filosofia, da educação eda filosofia da educação. Por fim, tratamos da metodologia filosófica. Nesta segunda unidade,nosso projeto é outro. O objetivo é compreender como que a razão, ou modo de pensar ocidental,esteve e ainda está presente em nossa cultura e em nossas práticas pedagógicas.

A nossa cultura está marcada pela racionalidade grega. O nosso modo de conhecer arealidade e falar das coisas do mundo tem raízes na cultura grega dos séculos VI a IV aC. Foinesse período que a filosofia teve origem, o que possibilitou um outro modo de ver e compreendera realidade, diferente da perspectiva mitológica, tão comum naquela época.

A razão, a partir de então, passou a ser a marca do ser humano. Apesar de Aristóteles tê-lo definido como animal racional (zôon logikón), ser ético-político e como ser de paixão e dedesejo, foi a primeira definição que mais se difundiu na cultura ocidental. Se pedirmos para umacriança da primeira fase do Ensino Fundamental uma definição de ser humano, provavelmentedirá: “animal racional”. Essa definição aristotélica tornou-se muito mais popular. A dimensãoético-política (embora pressuponha o ser racional) e o lado apaixonante, visto por Aristótelescomo “irracional” (alógôs), ficaram em segundo plano e, muitas vezes, esquecidos.

O caráter racional do ser humano tornou-se seu distintivo, aquilo que o diferencia dosdemais seres vivos. Os sentidos, comum a todos os animais, ganham um significado extraordinárioquando estruturados pelo entendimento, já diria Kant. Com o uso da Razão, o ser humanoultrapassa os limites da sua animalidade e é capaz de transformar o que existe e construir umnovo mundo. O resultado dessa operação é o que chamamos de conhecimento.

A razão duela com a ingenuidade. Enquanto o saber ingênuo não tem consciência do seufim, o saber racional é intencional, tem propósitos, interesses.

Os projetos educativos desenvolvidos a partir da Idade Moderna, sobretudo, precisavamser demonstrados e justificados à luz da razão. Não bastava, portanto, disposição, boa intençãoe uma intuição perspicaz para desenvolver bons projetos pedagógicos. Tais projetos, assim comonos dias de hoje, precisavam ser justificados à luz da razão, dos discursos racionais. Por isso quea filosofia, as ciências humanas e sociais foram e continuam sendo tão importantes para apedagogia.

A ação pedagógica, nas suas mais variadas formas, justifica-se por uma teoria filosófica(ou epistemologia). Paulo Freire não ignorou esse caráter epistemológico da educação. Ele deixaisso muito claro, por exemplo, na entrevista que concede a Lígia Leite:

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A educação, qualquer que seja ela, é sempre uma certa teoria do conhecimentoposta em prática, o que coloca o problema de perguntar o que é conhecer,como conhecer, em favor de quem, contra quem conhecer; em favor do que,contra que conhecer. Nesta série de perguntas se revela a impossibilidade daneutralidade do ato de conhecer, portanto, da educação. (LEITE, 1979, p. 59).

Se a educação tem como principal função social a passagem ou “entrega” do conhecimentode uma geração para outra mais jovem, não podemos ignorar o modo como esse conhecimento seformou ao longo dos séculos.

A Epistemologia diz respeito à teoria ou filosofia acerca da ciência. Trata-se de umareflexão crítica sobre os fundamentos da ciência. É por essa razão que a pedagogia ou ciência daeducação se ocupa dela. Um conhecimento que se proponha erigir como discurso ou comoreflexão nos moldes científicos não poderá deixar de perguntar sobre seus fundamentos. Aqui,importa-nos perguntar: Quais são os fundamentos filosóficos que sustentam nossas práticaspedagógicas?

Nesta segunda Unidade, consideramos quatro grandes fundamentos: a filosofia platônica(séc. IV aC), a filosofia moderna, inspirada por René Descartes (1596-1650), o empirismo inglês(de reação ao racionalismo cartesiano) e a filosofia de Emmanuel Kant (1724-1804).

AULA 1: A passagem da ignorância para o conhecimento: uma hermenêuticada “Alegoria da Caverna”

Nosso primeiro texto é extraído de um livro de Platão, República.Trata-se de um texto muito conhecido, <Alegoria da caverna>. Sevocê tiver interesse em conhecer um pouco sobre esse filósofo,poderá fazer uma pesquisa em qualquer desses sites de busca e veráque se trata de um filósofo muito estudado. O mesmo poderá serfeito sobre o texto Alegoria da caverna.

Faça, inicialmente, uma leitura atenta. O texto pode parecer,num primeiro momento, confuso. Não se preocupe, você verá que àmedida que formos trabalhando esse texto, ele ficará mais claro.

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Antes de darcontinuidade ao estudodessa unidade, assistaao vídeo educativo“Saindo da cavernade Platão: horizontesemancipatórios daFilosofia daEducação”, disponívelem DVD (materialdidático).

Se tiver dificuldades oudúvidas para realizareste desafio, procure osmediadores pedagógicospresenciais e a distância.

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Alegoria da Caverna

A República (Início do Livro VII) – Platão

Sócrates - Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa naturezarelativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, emforma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância,de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o queestá diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes deuma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneirospassa uma estrada ascendente. Imagina que, ao longo dessa estrada, está construído umpequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante desi e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco - Estou vendo.

Sócrates - Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportamobjetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra,madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam eoutros seguem em silêncio.

Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição,eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais do que assombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica de fronte?

Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?

Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas quetomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Glauco - É bem possível.

Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dostransportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco - Sim, por Zeus!

Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dosobjetos fabricados.

Glauco - Assim terá de ser.

Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertadosdas suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, queseja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a ergueros olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-

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lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá sealguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto darealidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhecada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Nãoachas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão maisverdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco - Muito mais verdadeiras.

Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Nãodesviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas sãorealmente mais distintas do que as que se lhe mostram?

Glauco - Com toda a certeza.

Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encostarude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerávivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, comos olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamosverdadeiras?

Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.

Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da regiãosuperior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens doshomens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos.Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar maisfacilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sole a sua luz.

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas naságuas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderáver e contemplar tal como é.

Glauco - Necessariamente.

Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz asestações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causade tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.

Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.

Sócrates - Ora, lembrando-se da sua primeira morada, da sabedoria que aí se professae daqueles que aí foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com amudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.

Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensaspara aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que

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melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou viremjuntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse ainveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o

herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples criado de charrua, a serviço de um

pobre lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco - Sou da tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seuantigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luzdo Sol?

Glauco - Por certo que sim.

Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que nãose libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusae antes que os seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá umtempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido láacima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se aalguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?

Glauco - Sem nenhuma dúvida.

PLATÃO. Início do Livro VII. In: A República de Platão.Disponível em: <www.pessoal.onda.com.br/philosophia>.

Antes mesmo de iniciar nossa conversa sobre a Alegoria da Caverna, descrita no VII livroda República de Platão, convém ter presente que, em filosofia, é possível encontrar algumascorrentes (não são muitas) que transcendem o tempo em que elas foram construídas. Esse é ocaso da filosofia platônica.

Platão viveu no IV século antes de Cristo. Contudo, o estudo dos seus escritos ainda hojenos permite rever e construir a nossa história, não somente do ponto de vista filosófico mastambém científico.

A Alegoria da Caverna simboliza o processo que todo homem e toda mulher vivenciamquando da passagem de uma situação de ignorância para a de conhecimento. Para Platão, oconhecimento é fruto de um esforço intelectual, de um exercício teórico. Para os gregos, teorizarsignificava olhar, contemplar com os olhos da alma, para além dos nossos sentidos.

A Alegoria da Caverna revela essa dualidade: aquilo que apreendemos através dos sentidosé uma realidade enganosa, não passa de sombras de algo que está oculto. A verdade, na filosofiaplatônica, só é possível quando ultrapassamos a barreira dos sentidos e compreendemos a realidade

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oculta, a essência das coisas. Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, tornou conhecida a idéiade que “o essencial é invisível aos olhos”, um conteúdo da filosofia platônica.

A literatura é farta em comentários acerca da Alegoria da Caverna. É, sem sombra dedúvidas, o fragmento mais difundido e debatido, dentre os textos platônicos. Não é nosso propósito,aqui, desenvolver uma reflexão que analise os vários elementos da Alegoria da Caverna e suaspossíveis interpretações. Gostaria de propor uma releitura deste início do Livro VII da República apartir de uma perspectiva apenas: a idéia de que a ignorância está associada ao fato deolharmos numa única direção. Nosso interesse não é o de voltar ao texto platônico, mas sim,de sair dele para os dias atuais. E, para sair dele, é necessário, primeiro, encontrar-se com ele.Então, vamos ao seu encontro, mesmo que de forma fragmentada.

A Alegoria começa com a fala de Sócrates, convidando Glauco a imaginar o seguintequadro: alguns prisioneiros estão amarrados no fundo de uma caverna, com o corpo e a cabeçaimobilizados (quero destacar essa situação em que o pescoço está voltado apenas para umdireção) e, diante de si, vêem algumas sombras desfilarem sobre as paredes da caverna eescutam ecos de vozes. De onde vêm essas sombras? De figuras de madeira e de pedra querepresentam homens e animais sobre um muro sendo conduzidos, como num teatro de marionetes,por titeriteiros. E os ecos? Eram vozes desses titeriteiros. Atrás, num plano superior, mas sempredentro da caverna, um fogo arde. Sua luz, ao passar sobre o muro, ilumina essas figuras oumarionetes e projeta suas sombras sobre a parede do fundo da caverna.

Liberta-se um dos prisioneiros. Ele pode olhar para trás, ver os objetos, as figuras dasquais ele só tinha visto as sombras, mas a presente claridade chega a ofuscar. É conduzido paraperto do fogo, cujo brilho ofusca ainda mais. Seu primeiro movimento visa encontrar as sombras,que ele anteriormente distinguia com maior nitidez do que esses objetos e a própria luz do fogo.

Em seguida, ele é conduzido até a entrada da caverna, onde a luz do dia brilha. É levadopara fora da caverna. Incapaz de suportar a visão do dia, centraliza o olhar, primeiramente, sobreas sombras das plantas, dos animais e dos seres vivos que se encontram sobre o solo em tornode si, bem como sobre os seus reflexos na água, antes de, pouco a pouco, levantar os olhos emdireção aos seres que o cercam e, por fim, para o próprio sol.

O prisioneiro, após contemplar tamanha maravilha, não mais aceita de bom grado retornarà caverna mas, mesmo assim, resolve retornar para contar aos seus companheiros o que lhesucedera. Quando ele penetra na escuridão, seus olhos, ainda inundados de luz solar, são incapazesde discernir as coisas e os seres que habitam a caverna. Em virtude disso, torna-se objeto de risodaqueles que lá se encontram aprisionados”.

Logo após essa alegoria, Platão mesmo explica o que significa toda essa simbologia. Omundo da caverna representa o mundo dos sentidos, enquanto o mundo fora da caverna, à luz dodia, representa o mundo inteligível. O movimento do personagem que sai da caverna representaas diferentes etapas da educação, até chegar ao conhecimento do Bem, representado pelo Sol.

Nós queremos chamar a atenção para o fato de os personagens, presos na caverna,estarem com o pescoço preso, forçado a olhar numa única direção. Poderíamos explorar o simbolismo

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dos pés e das mãos amarradas, fazendo uma referência, por exemplo, àqueles homens e mulheresque resistem em sair do lugar em que se encontram ou também às pessoas que se negam a agir,colocar a “mão na massa”, por comodismo ou por medo do resultado a que o seu trabalho podelevar. Por enquanto, fiquemos no simbolismo do pescoço acorrentado.

Diferente do tempo de Platão, não é mais concebível achar que existe uma verdadesuperior, imutável e absoluta. O conhecimento sensível se mistura com o inteligível. O saber setornou multifacetado, interativo, dinâmico, plural. O conhecimento que não se abre ao diferenterevela-se limitado, reducionista, e pouco valor terá. O especialista de hoje é aquele que sabemuito sobre a parte, mas sabe que essa parte não está isolada do todo.

A ignorância de que padecemos nos dias de hoje, sobretudo nas academias, diz respeito àabsolutização dos saberes isolados, à arrogância de um conhecimento voltado para o singular,sem considerar a complexidade que esse singular comporta.

A Alegoria da Caverna nos serve como uma advertência à necessidade de libertar nossamente, mãos e pés para que possam arriscar a ver em direção antes não vistas, em pisar emsolos antes visitados e fazer o que até então se achava incapaz de realizar.

Tal processo implica uma desacomodação. Sair da segurança da parcialidade, do aconchegoda sombra. Um jovem e uma jovem que iniciam um processo educacional, seja em qual nível for,precisam estar atentos para essa necessidade de conexões, de pluralidade de conhecimentos.Infelizmente, muitas de nossas instituições educativas, herdeiras de uma filosofia unificante emarcadas por verdades absolutas, ainda não conseguiram traduzir em ações concretas isso quejá conseguimos enxergar teoricamente. Falamos de interdisciplinaridade, mas ainda achamos queos saberes disputam entre si.

Apesar da advertência de Platão acerca da necessidade detirarmos as correntes que nos impedem de olharmos em váriasdireções e conhecermos a realidade a partir de várias perspectivas,a modernidade, iniciada com Descartes (1596-1650) privilegiou ométodo analítico, acreditando que, ao separar e fragmentar o objeto,mais aptos estaríamos para conhecer e dominar a realidade. Hoje,muitas escolas se esforçam para desenvolver projetos<interdisciplinares>, que envolvam vários conteúdos, procurandoestudar um mesmo fenômeno através de vários saberes. É um sinalda crise da lógica moderna.

O desafio para as novas gerações consiste em estabelecer conexões, construir relações,ver em direções variadas, caminhar em vista de horizontes jamais vistos, arriscar ações aindanão realizadas. Não se trata de um processo tranqüilo, implica esforço, imprevistos, insegurança,incertezas; humildade ao ser ridicularizado; coragem em ser diferente e, sobretudo, disposiçãopara mudar.Karl Jarspes, como já vimos na Unidade anterior, chamou a atenção para três atitudes básicaspara o filosofar: inquietude - essa disposição para sair de lugar, agir em favor do bem próprio ecoletivo. As outras duas são a admiração e a dúvida. Sem disposição para mudar, não se vai a

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Saiba mais sobre esse tema,assistindo ao vídeo educativoCiência einterdisciplinaridade: oconhecimento comfronteiras abertas noséculo XXI, disponível emDVD (material didático), ouprocure o mediadorpedagógico presencial noPMAP.

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lugar algum. A admiração nos faz abrir a mente e nos livra dos preconceitos; a dúvida refere-se àdisposição crítica, tão cara à filosofia.

A educação é um processo que nos leva a mudanças, em vista de maior autonomia. Sãoimpressionantes as transformações que ocorrem, por exemplo, com uma criança que começa suavida escolar: ela está atenta a tudo, associa tudo à própria vida, consegue apreender a pluralidadedas coisas numa perspectiva holística. Infelizmente, com o passar do tempo, vamos fragmentandoo conhecimento, criando barreiras entre um saber e outro, desenvolvendo um olhar que já não seadmira com as coisas.

Se o jovem e a jovem que iniciam uma vida universitária, não tiverem disposição paramudar, têm grandes chances de fazer um curso medíocre. Ele(a) é interpelado(a), inicialmente, areorganizar o seu tempo, desmontar a estrutura fragmentada que a Educação Básica o(a) obrigoua internalizar, é forçado(a) a sair do senso comum e construir saberes científicos, capazes deserem justificados e debatidos.

As correntes que hoje nos amarram não são menos imobilizadoras do que as do tempo dePlatão. A coragem para se livrar dos grilhões e caminhar em direção à pluralidade de conhecimentosexige de nós a mesma coragem, ou talvez mais, do que aquela do personagem da Alegoria daCaverna.

O texto platônico nos propõe uma reflexão acerca da passagem da ignorância aoconhecimento. A partir da sua filosofia, Platão ofereceu uma resposta essencialista, concebendoo conhecimento como acesso a uma verdade imutável.

É preciso que hoje reconstruamos essa passagem da ignorância para o conhecimento, nãomais a partir de uma filosofia essencialista, marcada pela unidade e imutabilidade. O saber que omundo contemporâneo exige de nós é do tipo plural, num constante vir-a-ser. O saber não estáacabado. Assim como o ser humano, está em curso, em movimento. Precisamos aprender acontemplar o mundo com vários olhares, dirigidos a várias direções e a partir de vários anglos.

Nesse sentido, a metáfora da coruja ainda nos ajuda a perceber o sentido da reflexãofilosófica. Enquanto os homens da Caverna de Platão foram condenados à ignorância de olharnuma mesma direção, a coruja desfruta de uma habilidade que nenhum outro animal possui: elatem a capacidade de girar a cabeça num anglo que chega a quase 360 graus. O seu olhar é plural,mesmo estando num único lugar, é capaz de enxergar em várias direções.

Oxalá nossas escolas e universidades ajudassem os nossos alunos e nossas alunas adesenvolverem saberes plurais sobre as realidades que nos cercam, em constante movimento devir-a-ser.

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O desafio para a avaliação desse texto consiste em respondera três perguntas de interpretação da Alegoria da Caverna,relacionando-as ao filme <Happy Feet> e ao vídeo educativo <Saindoda caverna de Platão: horizontes emancipatórios da Filosofiada Educação>. Cada uma das respostas não poderá ultrapassar 5(cinco) linhas. Outros comentários poderão ser apresentados no<fórum> específico para este desafio.

Depois de ter assistido aos filmes, lido o texto “Alegoria daCaverna” e discutido no Fórum, responda:

1. Você consegue identificar alguns pontos concordantesentre as duas produções? Justifique.

2. Qual é a relação que você faz entre a alegoria da cavernasugerida por Platão e as culturas ou povos que se fechamem suas próprias identidades e tradições?

3. Faça uma análise acerca da relação com o diferente nomundo educacional.

Sinopse

Entre os pingüins imperador, você apenas é alguém sesouber cantar. Isso causa grande preocupação a Mano(Elijah Wood), considerado o pior cantor do mundo etambém um grande sapateador. Norma Jean (NicoleKidman), sua mãe, gosta do sapateado de Mano, masMemphis (Hugh Jackman), seu pai, acha que “isto não écoisa de pingüim”. Além disso seus pais sabem que,caso Mano não encontre sua “canção do coração”, eletalvez nunca encontre o verdadeiro amor.Ficha TécnicaTítulo Original: Happy FeetGênero: AnimaçãoAno de Lançamento (EUA): 2006Distribuição: Warner Bros.Direção: George MillerRoteiro: Warren Coleman, John Collee, George Miller eJudy MorrisProdução: Bill Miller, George Miller e Doug MitchellMúsica: John PowellDesenho de Produção: Mark SextonDireção de Arte: David Nelson

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DESAFIO 5 (20 pontos)

Para assistir ao fi lmeindicado no desafio 5,procure o mediadorpedagógico presencialno PMAP.Lembre-se que o vídeoeducativo (DVD) integrao material didático dasTrilhas do Aprendente,que você recebeu.As dúvidas sobre oconteúdo devem serencaminhadas para osmediadores pedagógicosa distância.Para participar dofórum, acesse:

www.ead.ufpb.br

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AULA 2: O “penso, logo existo” de Descartes: o ser humano reduzido aopensamento

A filosofia cartesiana marca o início da Filosofia Moderna. Enquanto a lógica platônica sealicerçava na concepção de idéia (eidos), situação modelar de verdade pura, única e absoluta, arazão cartesiana firmou seu fundamento no sujeito pensante.

René Descartes (1596-1650) viveu no epicentrodo que se convencionou chamar de Revolução Científica.O paradigma greco-medieval, marcado por questõesmetafísicas, encontrava-se em crise. A RevoluçãoCientífica teve início com Nicolau Copérnico (1473-1543),com a publicação do De revolutionibus (1543), em queexpunha a sua teoria heliocêntrica. Tal revolução ganhamaior consistência com Galileu (1564-1642). O caráterrevolucionário do pensamento galileano não se deveapenas às descobertas científicas que ele fizera. Aquestão central não se limita às novas teoriasconcernentes ao universo astronômico, sobre a dinâmica,sobre o corpo humano ou sobre a composição da Terra. Oque estava em jogo era a concepção de saber e de ciência.A ciência deixa de ser privilégio do teólogo, filósofo, magoou astrólogo, para ser fruto de toda mente disposta ainvestigar e discursar sobre o mundo da natureza. (REALE;ANTISERI, 1990, p. 186-87).

O método científico demanda observação da natureza, e as conclusões que daí resultamnão precisam se conformar com as proposições filosóficas e, tampouco, teológicas. A ciênciatorna-se experimental e autônoma. O conhecimento antigo pretendia ser sobre essências, comteorias e conceitos definitivos. A ciência moderna volta-se, pois, para os fenômenos físicos,possíveis de serem mensurados publicamente.

Descartes encontra-se na encruzilhada dessesdois paradigmas. E, a exemplo de Arquimedes, que pediaapenas um ponto que fosse fixo e seguro para mover oglobo terrestre de seu lugar, ele inicia a sua busca deencontrar, ao menos, uma coisa que fosse certa eindubitável.

O método util izado para iniciar esseempreendimento tem origem na matemática. E o que maischamara a atenção de Descartes, na matemática, nãoforam tanto os números e as figuras, limitados àsoperações aritméticas e geométricas, pois tinham, naopinião desse fi lósofo, pouca util idade para oconhecimento da totalidade do mundo. (SILVA, s.d, p.

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30). A maior contribuição da matemática para o métodocartesiano refere-se à idéia de ordem e de medida que,apesar de se constituírem como características básicasdo pensamento matemático, estas não são específicasdesse tipo de racionalidade.

A partir desses elementos do pensar matemático, Descartesdesenvolve quatro regras básicas: clareza e distinção, análise, ordeme enumeração. Um conhecimento verdadeiro, portanto, só é possívelmediante a observância dessas regras, do contrário, tudo é passívelde dúvida. Por esse motivo, por pura questão metodológica é queDescartes inicia as suas <Meditações Metafísicas> duvidando detudo o que existe, inclusive dele próprio.

As primeiras linhas de Meditações Metafísicas trazem as seguintes palavras:

Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos,recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depoiseu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidosoe incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez emminha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, ecomeçar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabeleceralgo de firme e de constante nas ciências. (DESCARTES, 1999, p. 249).

Descartes passa, então, de dúvida em dúvida, até chegar à dúvida mais radical: sobre aprópria existência.

Suponho, portanto, que todas as coisas que vejo são falsas; persuado-me deque jamais existiu de tudo quanto minha memória referta de mentiras merepresenta; penso não possuir nenhum sentido; creio que o corpo, a figura, aextensão, o movimento e o lugar são apenas ficções de meu espírito. O quepoderá, pois, ser considerado verdadeiro? Talvez nenhuma outra coisa a nãoser que nada há no mundo de certo.Mas que sei eu, não há nenhuma outracoisa diferente das que acabo de julgar incertas, da qual não se possa ter amenor dúvida? Não haverá algum Deus, ou alguma outra potência, que meponha no espírito tais pensamentos? Isso não é necessário; pois talvez sejaeu capaz de produzi-los por mim mesmo. Eu, então, pelo menos, não sereialguma coisa? Mas já neguei que tivesse qualquer sentido ou qualquer corpo.Hesito, no entanto, pois que se segue daí? Serei de tal modo dependente domeu corpo e dos sentidos que não possam existir sem eles? Mas eu mepersuadi de que nada existia no mundo que não havia nenhum céu, nenhumaterra, espíritos alguns, nem corpos alguns; não me persuadi também, portanto,de que eu não existia? Certamente não, eu existia, sem dúvida, se é que mepersuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há algum, não sei qual,enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria emenganar-me sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele meengana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eunada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após terpensado bastante nisso e de examinado cuidadosamente todas as coisas,cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu, eu existo, énecessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou que a conceboem meu espírito. (DESCARTES, 1999, p. 257-258).

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Sobre a fi losofiaracionalista, empirista ekantiana, vale a penaconsultar o l ivro deMarilena Chauí, Conviteà Filosofia (2000),capítulos 3 e 4 daUnidade 2, disponívelem:http://br.geocities.com/mcrost02/index.htm.

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Perceba que, a partir dessas linhas, diante da encruzilhada em que se encontrava, Descartesresolve tomar um caminho totalmente original. Recusa-se a seguir o caminho da racionalidadeantiga e medieval, marcadamente presa às tradições e em busca de realidades essenciais, emboratal racionalidade não esteja de todo ignorada na filosofia cartesiana. Também não se curva àracionalidade do seu tempo, alicerçada na investigação empírica, marcada pelo cálculo e pelaobservação.

Entre o idealismo greco-medieval e o cientificismo moderno, Descartes inicia uma terceiravia, o subjetivismo. A verdade não está fora de si, numa realidade transempírica, tampouco nomundo captado pelos sentidos. A verdade reside no interior do sujeito, e esse emerge comocritério de verdade.

Isso, sem dúvida alguma, deu origem a uma séria de críticas. A filosofia empirista anglo-saxônica, a exemplo de John Locke e David Hume, foi resistente ao caráter subjetivista inauguradopor Descartes. Contudo, tal filosofia cartesiana, sobretudo por conta do seu método, acabou porinfluenciar enormemente a ciência moderna e foi decisiva para a física newtoniana, porquantoofereceu uma visão matemática e mecanicista do mundo. (SANTOS, 1989, p. 17-30).

Apresentamos a seguir um outro fragmento do livro Meditações Metafísicas de RenéDescartes, onde ele conclui seu pensamento acerca da essência do eu. Na sua concepção, o eué, em sua essência, nada mais que pensamento.

Meditações metafísicas

(segunda meditação)

[...] Eu, o que sou eu, agora que suponho que há alguém que é extremamente poderoso e, seouso dizê-lo, malicioso e ardiloso, que emprega toda a sua força e toda a sua indústria emenganar-me? Posso estar certo de possuir a menor de todas as coisas que atribuí há pouco ànatureza corpórea? Detenho-me em pensar nisso com atenção, passo e repasso todas essascoisas em meu espírito, e não encontro nenhuma que possa dizer que exista em mim. Não énecessário que me demore a enumerá-la. Passemos, pois, aos atributos da alma e vejamos sehá alguns que existam em mim. Os primeiros são alimentar-me e caminhar, mas, se é verdadeque não possuo corpo algum, é verdade também que não posso nem caminhar nem mealimentar. Um outro é sentir; mas não se pode também sentir sem o corpo; além do que,pensei sentir outrora muitas coisas, durante o sono, as quais reconheci, ao despertar, não tersentido efetivamente. Um outro é pensar; e verifico aqui que o pensamento é um atributo queme pertence; só ele não pode ser separado de mim. Eu sou, eu existo: isso é certo; mas porquanto tempo? A saber, por todo o tempo em que eu penso; pois poderia, talvez, ocorrer que,se eu deixasse de pensar, deixaria ao mesmo tempo de ser ou de existir. Nada admito agoraque não seja necessariamente verdadeiro: nada sou, pois, falando precisamente, senão umcoisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão, que são termos cujasignificação me era anteriormente desconhecida. Ora, eu sou uma coisa verdadeira everdadeiramente existente; mas que coisa? Já o disse: uma coisa que pensa. E que mais?Excitarei ainda minha imaginação para procurar saber se não sou algo mais. Eu não sou essareunião de membros que se chama o corpo humano; não sou um ar tênue e penetrante,disseminado por todos esses membros; não sou um vento, um sopro, um vapor, nem algo queposso fingir e imaginar, posto que supus que tudo isso não era nada e que, sem mudar essasuposição, verifico que não deixo de estar seguro de que sou alguma coisa.

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O desafio que realizaremos para avaliar a compreensão doconteúdo relativo à filosofia cartesiana será desenvolvido de formamais interativa. Pretendemos avaliar, aqui, não apenas a suacapacidade de interpretação de textos, mas também algumashabilidades no uso das tecnologias de comunicação e informaçãocom que, a essa altura, você deve estar mais familiarizado(a).

Nós não apresentamos, neste desafio, perguntas para seremrespondidas. A pergunta será redigida por você. A partir da leiturado ponto 2.2: O “Penso, logo existo” de Descartes: o ser humanoreduzido ao pensamento, bem como do texto de R. Descartesindicado, elabore duas perguntas sobre alguns aspectos que vocêtenha ficado com dúvidas. As perguntas poderão estar diretamenteligadas ao texto ou ao seu desdobramento no mundo educacional.

Cada uma das duas perguntas valerá um ponto e deverão serenviadas ao(à) mediador(a) pedagógico(a) a distância, que seencarregará de enviá-las para outro(a) aprendente para seremrespondidas. Depois que você enviar essas perguntas, deveráresponder a outras duas (valendo também um ponto cada uma),elaboradas por outro(a) colega do curso e que lhe serão enviadaspelo(a) mediador(a) pedagógico(a) a distância.

O importante, nesse desafio, é que o(a) aprendente que forresponder procure o(a) autor(a) das perguntas e dialogue com ele(a),no sentido de melhor compreender a sua dúvida e respondê-las damelhor forma possível. Para tanto, será importante manter contatoatravés de e-mail ou chat.

A resposta final deverá ser encaminhada ao(à) mediador(a)pedagógico(a) a distância e ao(à) aprendente autor(a) da pergunta.A nota da pergunta e da resposta será conferida com vista a doiscritérios: a complexidade das perguntas e a exposição clara dasrespostas.

DESAFIO 6 (40 pontos)

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Atenção!O desafio 6 deve ser postado no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)- Moodle. Em caso de dúvidas para realizar esse procedimento, consulteo mediador pedagógico presencial no Pólo Municipal de Apoio Presencial.Dúvidas sobre o conteúdo estudado, conecte-se com o mediadorpedagógico a distância através do endereço: <www.ead.ufpb.br>.

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AULA 3: O empirismo inglês: quando o conhecimento é reduzido àexperiência

Sobre o empirismo inglês, você deverá ler o artigo de Cristina G. Machado de Oliveira,intitulado “Racionalismo e empirismo na filosofia moderna”, disponível no site:<http://www.filosofiavirtual.pro.br/racionalismo.htm>.

AULA 4: A solução kantiana

Você deve ter percebido que existe uma disparidade muito grande entre as tesesracionalistas, construídas por Descartes, e as teses empiristas. As primeiras afirmam que ofundamento de todas as coisas é a razão humana. Os empiristas, por sua vez, afirmavam quea verdade é dada quando nos atemos à experiência, e não, à consciência. Enquanto Descartesdesconfiava dos sentidos, os empiristas desconfiavam da representações que o ser humano fazem sua consciência.

Diante dessa <aporia>, encontramos o filósofo alemãochamado Immanuel Kant. Ele constrói uma filosofia que identifica asriquezas do racionalismo de Descartes, mas também aponta o seulimite. O mesmo faz com a filosofia empirista: chama a atenção paraa importância da experiência no processo do conhecimento, masreconhece as dificuldades que temos ao nos limitar apenas aossentidos para a construção do conhecimento.

Uma boa introdução à filosofia de Kant encontra-se numa obramuito conhecida de Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia. Para nossocontentamento, essa obra está toda disponível na web, na página<http://br.geocities.com/mcrost08/index.htm>. O capítulo que nosinteressa, nesse momento, é o que trata de Kant.

O Mundo de Sofia foi editado pela primeira vez em 1991. Oautor, Jostein Gaarder, professor de Filosofia do secundário,conseguiu, de uma forma original, desenvolver uma aventura cheiade reflexões e perguntas através da história da filosofia desde oprincípio dos tempos. A livro conta o encontro de Sofia (umacriança) com uma pessoa que ela não conhecia, mas que acaboupor se tornar rapidamente um grande amigo seu. A história deSofia e Alberto (o seu professor) desperta no leitor o desejo denão apenas buscar o conhecimento filosófico, mas de perguntarsobre o sentido da própria existência neste mundo.

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Em filosofia, aporiasignifica uma dificuldadeem resolver umdeterminado problema,uma espécie de “sinucade bico”, na linguagempopular.

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O MUNDO DE SOFIA

De Jostein Gaarder

Cia. das Letras, São Paulo, 1998.

Tradução de João Azenha Jr.

Capítulo 25 - Kant - Páginas 346-360.

[…]

— […] Vamos nos sentar perto da lareira. Vou lhe contar alguma coisa sobre Kant.

Nesse momento, Sofia encontrou uns óculos sobre uma mesinha colocada entre duas poltronas. Elapercebeu que as duas lentes eram vermelhas. Talvez fosse um par de óculos de sol bem fortes…

— São quase duas horas — disse ela. — Preciso estar em casa o mais tardar às cinco. Minha mãe na certadeve ter planejado alguma coisa para o meu aniversário.

— Então temos três horas.

— Vamos começar.

— Immanuel Kant nasceu em Königsberg, uma cidade da Prússia oriental, em 1724. Ele era filho de umseleiro e passou quase toda a sua vida em sua cidade natal, até falecer aos oitenta anos. Sua família eramuito fervorosa em sua fé cristã, razão pela qual a convicção religiosa do próprio Kant foi um elemento muitoimportante para a sua filosofia. Como Berkeley, Kant também queria salvar o fundamento da fé cristã.

— Já ouvi o bastante sobre Berkeley, obrigada.

— Dos filósofos de que falamos, Kant foi o primeiro a trabalhar como professor numa universidade. Ele foi oque freqüentemente chamamos de “especialista em filosofia”.

— Especialista em filosofia?

— A palavra “filósofo” é empregada hoje em dia em dois sentidos levemente diferentes. Por filósofo entendemos,sobretudo, aquele que tenta encontrar suas próprias respostas para questões filosóficas. Mas um filósofotambém pode ser um especialista em história da filosofia, sem necessariamente querer desenvolver suaprópria filosofia.

— E Kant foi um especialista em filosofia?

— Ele foi ambas as coisas. Se tivesse sido apenas um professor brilhante, um especialista, portanto, nopensamento de outros, ele não ocuparia um lugar tão importante na história da filosofia. Igualmente importante,porém, é o fato de Kant realmente conhecer como poucos a tradição filosófica. Ele conhecia muito bem tantoos racionalistas como Descartes e Spinoza, quanto empíricos como Locke, Berkeley e Hume.

[...]

Continue a leitura, acessando o site: <http://br.geocities.com/mcrost08/o_mundo_de_sofia_25.htm>.

[...]

— E quanto aos animais? Eles só seguem a sua vontade e a sua necessidade. Isto significa que eles não têma liberdade de seguir uma lei moral?

— Isso mesmo. E é exatamente esta liberdade que faz de nós seres humanos.

— Agora entendi.

— Para concluir, podemos dizer que Kant conseguiu encontrar uma saída para o impasse a que a filosofiatinha chegado através da briga entre racionalistas e empíricos. Com Kant termina, assim, toda uma épica dahistória da filosofia. Ele morreu em 1804, no início da época que chamamos de Romantismo. A lápide de seutúmulo em Königsberg traz inscrita uma de suas citações mais conhecidas: “Duas coisas me enchem a almade crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e freqüentemente o pensamento delas se ocupa: océu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”. Aí estão os grandes enigmas que o moveram e à suafilosofia.

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A última avaliação desta segunda unidade será realizada apartir de uma experiência de sala de aula. Trata-se do projeto <Caixasde Memórias>, Vencedor do III Prêmio Arte na Escola Cidadã, nacategoria Ensino Infantil e Fundamental (1ª a 4ª série), promovidopelo Instituto Arte na Escola, da Fundação Iochpe.

Este desafio deverá ser realizado em duplas e pretendeprovocar uma conexão do conteúdo trabalhado com as experiênciasde sala de aula. Para tanto, será necessário que a dupla analise oprojeto Caixas de Memórias, procurando observar os seguintesaspectos:

1) Qual é a importância do uso de experiências sensório-motoras no processo de ensino-aprendizagem? Em quesentido tais experiências promovem o conhecimento?

2) O projeto propõe aos(às) alunos(as) a construção de umobjeto, uma idéia, um sentimento ou pessoa que gostariamde guardar e como seria o local para abrigá-lo. Em quesentido essas realidades indicam um conteúdo subjetivo?Faça uma relação com o que Gaarder escreveu no livro OMundo de Sofia, quando usava a metáfora dos óculos delentes vermelhas para explicar o modo comocompreendemos o mundo.

ATENÇÃO! Cada uma dessas questões vale 15 (quinze) pontos. Asrespostas deverão ser redigidas em, no máximo, 10 linhas, digitadas eenvidadas para o(a) mediador(a) pedagógico a distância.

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4

DESAFIO 7 (30 pontos)

Esse projeto estádisponível no site:

www.artenaescola.org.br/sala_relatos_artigo.php?id=16.

Dúvidas ou dificuldadesde acesso, peça ajudaao mediador pedagógicopresencial no PóloMunicipal de ApoioPresencial.

Trilhas do Aprendente, Vol. 1 - Ed. 2009 - Filosofia da Educação I104

AVALIÇÃO DO NOSSO PERCURSO

Chegamos ao fim de mais uma unidade. Gostaríamos que você aavaliasse como se fosse um automóvel em dia de viagem. Leia todasas alternativas e depois assinale aquela que mais corresponde à suaexperiência nesta unidade. Esta avaliação deverá ser enviada ao(à)mediador(a) pedagógico(a) a distância.

( ) FUSQUINHA: Sinto que a viagem será longa, talvez chegue comalgum atraso. Com paciência e perseverança, hei de chegar.

( ) GOL ou PÁLIO 1.0: Tenho um bom desempenho. Sinto que, emalguns trechos (nas subidas e ultrapassagens, por exemplo), me faltamforças. Nesses momentos, avanço devagar, mas continuo seguindoviagem.

( ) VECTRA ou HONDA CIVIC: Sinto que estou fazendo uma viagemconfortável. Meu motor 2.0 me oferece um bom desempenho comvelocidade e segurança.

( ) JIPE LAND ROVER: Estou achando essa viagem monótona demais.Gostaria de encontrar mais obstáculos, viver mais aventuras, seguir

por caminhos desconhecidos.

( ) CARRO QUEBRADO: Estou na oficina, aguardando o mecânicopara ver se é possível seguir viagem.

Outros comentários poderão ser apresentados no Fórum, cujotítulo é “MEU CARRO”.

Atenção!Esta avaliação deve ser postada no Ambiente Vir-tual de Aprendizagem (AVA) - Moodle. Em caso dedúvidas para realizar esse procedimento, consulteo mediador pedagógico presencial no Pólo Munici-pal de Apoio Presencial.Dúvidas sobre o conteúdo estudado, conecte-secom o mediador pedagógico a distância através doendereço: <www.ead.ufpb.br>.

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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UNIDADE IIIALGUNS MODOS DE PENSAR A EDUCAÇÃO

A educação, ao longo da história,caminhou de braços dados com a filosofia. Amaioria das práticas pedagógicas, senão atotalidade, carrega implicitamente umadeterminada filosofia. Podemos fazer uma analogiadessa afirmação com a figura de um iceberg:aquilo que aparece na superfície é muito menor,comparado ao volume de gelo que está submerso.As correntes filosóficas referem-se a umarealidade educacional que se encontra oculta. Oque se mostra é a ação educativa: asmetodologias de ensino, os planos de aula, a gradecurricular etc. Por detrás dessas realidades,encontramos o que nós denominamos decorrentes filosóficas.

Muitas vezes, essas correntes filosóficas se misturaram e deram origem a pedagogiashíbridas, com influências de vários pensadores. Estudar alguns desses filósofos e ver o que elesescreveram acerca da educação, pode nos ajudar a compreender a origem de alguns problemasque ainda hoje enfrentamos na ação educativa.

Nesta Unidade, preferimos trabalhar com os textos dos próprios filósofos. É importanteque você tenha contato com os textos que eles mesmos escreveram e somente após essaleitura, possa ler outros textos, comentários que outros estudiosos fizeram acerca dos escritosdesses filósofos.

Por essa razão, a estratégia que utilizaremos nesta terceira unidade é diferenciada.Apresentaremos uma breve introdução para cada um dos textos e, logo em seguida, indicaremosa leitura do texto filosófico. No ambiente virtual de aprendizagem da UFPB Virtual, você encontraráapresentações didáticas e sugestões de links, que poderão servir de apoio para um aprofundamentoou até mesmo para um ulterior debate.

Tomamos quatro filósofos que, em nosso entender, contribuíram enormemente para osmodelos que temos, hoje, na educação. Nesse primeiro percurso de Filosofia da Educação I, nãorecorremos a pensadores e educadores brasileiros, a exemplo de Paulo Freire. Isso aconteceráem Filosofia da Educação II. Os textos que aqui indicamos para estudo estão disponíveis nabiblioteca do Pólo Municipal de Apoio Presencial. São eles:

1. ROUSSEAU, J-J. Emílio. São Paulo: Difel, 1968. Livro II.

2. KANT, I. (1996). Sobre a pedagogia. Piracicaba, SP: Editora Unimep, p. 11-36.

3. DEWEY, John. Vida e Educação. 8. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973, p. 42-62.

4. MCLAREN, Peter. A Vida nas Escolas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1977, p. 191-230.

Fonte: < http://www.e-farsas.com/iceberg.jpg>.Acesso em: 23 ago. 2007

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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AULA 1: Jean-Jacques Rousseau

Rousseau (1712-1778) é considerado o pai dapedagogia moderna na medida em que sua pedagogiapropõe uma educação para liberdade como exercícioda autonomia. A pedagogia de Rousseau, presente emEmílio, está centrada no cuidado que o educador deveter em relação ao seu educando, desde os primeirosanos de vida até chegar à idade da moralidade, quandoestará apto a participar da vida social e política.

O Emílio é uma ficção que foi publicada em 1762,um mês após o Contrato Social. Ele é a resposta deRousseau para o problema de como devemos educar ohomem para o estado que ele tinha pensado noContrato Social.

Rousseau estava preocupado com a formação do ser humano na sua individualidade. OEmílio, idealizado por Rousseau, é um homem que vive segundo a razão. Os critérios de decisãotêm origem, pura e exclusivamente, no próprio eu racional (talvez esteja aí o motivo de o Emílioter sido tão admirado por Kant). O Eu rousseauniano é um ser marcado pela individualidade e pelarazão própria, autônomo. A razão de Emílio é solidamente formada para afirmar a sua autonomia eindividualidade. Uma vez formado, a vida social não é mais capaz de alterar a sua identidade.Emílio tornou-se livre dos imperativos sociais que, na opinião de Rousseau, corromperiam suanatureza.

É curioso que é essa mesma racionalidade valorizada por Rousseau que justificará a críticaà sociedade de seu tempo. Em seu Discurso sobre a origem das desigualdades entre os homens,ele elabora um discurso em defesa daqueles que sofrem com as desigualdades: o pobre, o fraco,o escravo, vítimas das leis que garantem os diretos daqueles que têm e que podem. As desigualdadessociais são frutos de uma sociedade que se corrompeu. Rousseau proclama um novo contratosocial, não apenas como um conjunto de leis a serem seguidas, mas como princípios fundamentais,internalizados e vivenciados, que reconhecem o direito do outro, impedindo o uso da violênciapara com o seu semelhante. As idéias de Rousseau estão na base da Revolução Francesa.

O livro Emílio ou Da educação está dividido em cinco livros. Nosso estudo se concentraráno segundo livro que Rousseau chamou de “A idade de natureza” (de 2 a 12 anos). Neste livro,ele trata da educação da sensibilidade, da educação moral, da educação intelectual, corporal esensorial.

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

AULA 1 AULA 2 AULA 3 AULA 4

Fonte: http://www.avizora.com/publicaciones/biografias/textos/textos_r/images/0016_rousseau_emilio_01.jpg.

Acesso em: 23 ago. 2007.

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AULA 2: Emmanuel Kant (1724-1804)

O período do pensamento ocidental denominado de iluminista ou ilustração vai de meadosdo Século XVIII ao começo do Século XIX. Os principais pensadores deste período foram: Hume,Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau e Kant. Todos estes pensadores demonstraram umaconfiança na razão, que é a marca deste período da história da filosofia.

A razão é chamada de as luzes, por isso o nome ILUMINISMO. Pela razão, o homem podeser livre e conquistar a felicidade social e política. Liberdade, igualdade e fraternidade, eis o lemada Revolução Francesa, concretizada em 1789.

A razão é compreendida como aquela capaz de promover a evolução e o progresso e,deste modo, o homem pode ser perfectível. Ele está livre dos preconceitos religiosos, morais esociais, graças às ciências (daí o grande interesse pelas ciências a partir desse período). Justifica-se o progresso das civilizações pelo aperfeiçoamento da razão.

Kant e Rousseau são contemporâneos. Apesar de terem estilos de vida extremamentedistintos, ambos consideravam a educação como indispensável para a formação do homem moderno.Rousseau teve uma vida marcada por perturbações e conflitos. Natural de Genebra, deixou suacidade natal ainda jovem para conhecer a Itália, França e Inglaterra. Envolveu-se afetivamentecom várias mulheres. Teve cinco filhos, mas nenhum deles recebeu os seus cuidados. Emcontrapartida, Kant teve uma vida extremamente regrada e comedida. Nunca casou, nunca tevefilhos. Vivia para o mundo acadêmico.

Eles nunca se encontraram. Mas sabe-se que Kant era um admirador incondicional da obrade Rousseau. Conta-se que o único dia em que Kant deixou de fazer o seu passeio diário no seuhorário habitual foi no dia em que ele ficou lendo fascinado o recém-chegado livro de Rousseau:O Emílio. Essa leitura provocou uma verdadeira reviravolta no pensamento de Kant.

O texto de Kant que indicamos em nosso percurso é o que leva o título Sobre a Pedagogia,cuja obra é resultado de notas de quatro cursos que Kant deu em Königsber sobre a pedagogia noperíodo de 1776 a 1787. Kant entregou essas notas a seu discípulo Rink, para publicar.

Para Kant, o homem é a única criatura que precisa ser educada: o homem não pode setornar um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz. Ohomem nasce bruto e pela educação torna-se civilizado. A educação tem o papel de acostumar ohomem a submeter-se aos preceitos da razão.

Para Kant, a educação se define a partir de três dimensões: cuidado, disciplina e instrução.Os cuidados são precauções que os pais tomam para impedir que as crianças façam uso nocivode suas forças. A disciplina transforma a animalidade em humanidade. Um animal, pelo instinto,cumpre o seu destino sem saber. O homem, pelo contrário, necessita formar por si mesmo oprojeto de sua conduta. No entanto, ele não tem essa capacidade imediata e por esta razão

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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precisa do auxílio de outros. A disciplina impede o homem de desviar-se do seu destino, dedesviar-se da sua humanidade. A instrução, por sua vez, serve para ensinar aos homens osconhecimentos produzidos por uma determinada cultura. A instrução serve para tornar o homemculto.

O texto indicado, que deverá ser lido com atenção, compreende apenas a introdução daobra Sobre a Pedagogia e, assim como o texto de Rousseau, deverá ser estudado, tomando notase participando dos fóruns de discussão, presentes no ambiente virtual de aprendizagem. Averificação do desempenho do aprendente neste conteúdo será mediante a Síntese de Texto queapresentamos a seguir, ao final desta Unidade. Após a leitura, dirija-se ao ambiente de aprendizagemda UFPB Virtual <www.ead.ufpb.br> e consulte as apresentações didáticas e as sugestões delinks para maior compreensão e aprofundamento.

AULA 3: John Dewey

Na pedagogia de John Dewey (1859-1952) encontramos uma clara oposição: de um lado aEducação Nova que desenvolve uma educação a partir do interior do ser humano; de outro, aeducação tradicional, que é uma formação que se faz de fora. Uma que se funda sobre os donsnaturais; a outra, que domina as inclinações naturais e tende a substituí-las por hábitos que umalonga pressão externa permitiu inculcar.

A pedagogia pragmatista desenvolvida por Dewey defende uma educação voltada para aexperiência. O processo de ensino-aprendizagem alcança sua eficácia à medida que aproxima osconteúdos das experiências de vida do educando. A escola seria, pois, uma oficina para aprenderviver.

A pedagogia de Dewey, apesar do avanço que significou para a educação moderna,acabou caindo nas teias do que Habermas chamou de “razão instrumental”, ou seja, umaracionalidade técnica que busca aplicar os meios mais adequados para a obtenção de determinadosfins. De modo que a pedagogia deweyana pode servir tanto à educação emancipatória quanto àopressora. Diante da fragilidade dos Estados e das instituições democráticas, sobretudo naAmérica Latina, nos anos 1960, tal pedagogia acabou servindo ao tecnicismo industrial e capitalista.

O texto que indicamos para leitura é do livro Vida e Educação. Nele, Dewey apresenta aoposição entre escola nova – escola tradicional por meio da oposição entre o “mundo da criança”e o “programa escolar”. O papel do educador será conciliar estes dois mundos.

Assim como os demais textos, após a leitura, vá ao ambiente virtual de aprendizagem econsulte os links, participe dos fóruns e leia as apresentações didáticas disponíveis sobre apedagogia de J. Dewey.

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AULA 4: Pedagogia Crítica – Peter McLaren

Uma alternativa à razão instrumental foi possível de ser encontrada na chamada “pedagogiacrítica”. Tal pedagogia tem origem no que os filósofos chamaram de Teoria Crítica, um movimentointelectual que teve início na Alemanha, em Frankfurt, em 1924. O primeiro grupo de filósofos daTeoria Crítica contou com Max Horkheimer, T. Adorno e Herbert Marcuse.

A tese principal desse movimento pode ser resumida em quatro críticas:

· Crítica à sociedade burguesa: buscavam, a partir de pressupostos marxistas, mudaras estruturas da sociedade moderna capitalista, mas sem o uso da violência.Defendiam a construção de uma sociedade justa, de superação da pobreza.

· Crítica ao marxismo: contra o dogmatismo marxista. Rejeitam qualquer sociedadetotalitária. Rejeitam idéias como “ditadura do proletariado”, “superestruturaeconômica como centro de qualquer sociedade”. Esses teóricos mantêm o socialismocomo único modelo capaz de superar as injustiças do capitalismo.

· Crítica à filosofia tradicional: essa crítica estava voltada, sobretudo, à metafísica,à teologia e à religião, compreendidas como ideologias da sociedade burguesa.

· Crítica à razão: o sonho iluminista de conceber a razão como sinônimo de progressoé posto em xeque, e inicia-se uma forte desconfiança à ciência moderna e àfilosofia tradicional. Para Horkheimer, a razão kantiana, ao invés de levar ahumanidade a solucionar os seus problemas, em vista da emancipação humana,acabou levando a humanidade à alienação, à repressão e à dominação.

Com base nesses referenciais teóricos, é desenvolvida a pedagogia crítica. Ela buscou,assim como tentara Dewey, aproximar a vida da escola. Contudo, a vida que é levada para dentroda escola é aquela carregada de contradições, com base econômica e com conflitos de classe,cheia de relações de poder, seja por conta da questão econômica, mas também de gênero ouétnica. Uma vida que carrega ideologias e, a partir delas, determina-lhe o sentido e o mundo daeducação.

Apesar de a pedagogia crítica não se constituir num conjunto homogêneo de idéias, épossível identificar um sentido ou objeto comum, o de “fortalecer aqueles(as) sem poder etransformar desigualdades e injustiças existentes” (McLAREN, 1997, p. 192).

A pedagogia crítica surge como uma possibilidade de outra prática na educação, parte daanálise e da convivência com situações de exclusão social e procura compreender as causasprofundas que fazem com que milhares de pessoas permaneçam à margem das sociedades, semcondições de sobrevivência.

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O texto de Peter McLaren que iremos trabalhar é retirado da obra A Vida nas Escolas. Alémda Síntese de Texto que foi exigido para os outros textos, procuraremos construir, coletivamente,um Glossário no ambiente virtual de aprendizagem. Nesse glossário, os grupos de trabalho deverãoinserir a compreensão que tiveram acerca de algumas categorias centrais, presentes no texto,são elas: Política, Cultura, Economia, Pensamento dialético, Construção social do conhecimento,Cultura Dominante, Cultura Subordinada, Subcultura, Hegemonia cultural, Ideologia, CurrículoOculto, Reprodução Social, Capital Cultural.

Antes de concluir essa introdução aos textos desta terceira Unidade, convém fazer umaadvertência. Esses quatro textos são recortes filosófico-pedagógicos e podem nos levar aogrande risco de cair em interpretações reducionistas acerca dos problemas educacionais. Ofenômeno educacional não se concretiza no cotidiano das práticas pedagógicas de forma pura.Devemos fugir de qualquer tentativa de rotular correntes filosóficas e tendências pedagógicas,como se essas fossem, na prática, carentes de ambigüidade, contradição e incoerências.

O problema torna-se ainda mais agudo quando nos propomos a fazer uma leitura dapedagogia dos dias atuais. A complexidade do presente se evidencia não apenas no nível prático,mas também no âmbito teórico. A cultura contemporânea, chamada por alguns de “pós-modernidade” e, por outros, de “modernidade tardia”, ainda carece de uma identidade.

Vivemos em meio a uma crise que reconhece os limites da razão iluminista, mas que aindaestá ensaiando outras lógicas ou outras racionalidades que dotem de sentido o tempo presente.Essa carência de sentido criou uma dificuldade sem precedentes na história e na filosofia daeducação. Uma dificuldade de, até mesmo, precisar o problema.

Não somos da opinião de que devemos abrir mão dos fundamentos que a história noslegou. É preciso revisitá-los e re-analisá-los. Mas, a partir de que olhar, de que critérios? AFilosofia da Educação que procuramos desenvolver ao longo desse primeiro percurso pretendeuinstigar à curiosidade, à dúvida, à inquietação, buscando desenvolver um espírito crítico acercado pensar e do fazer pedagógico. A Filosofia da Educação só se justifica enquanto fomentadorade interrogações, de construções coletivas e dialógicas em busca de uma vida humana maissaudável, de um saber mais emancipatório, de uma sociedade mais justa, de uma educação maisamorosa.

Para a verificação do desempenho neste percurso, seguiremos um roteirocomum para os quatro textos. Cada síntese valerá 25 (vinte e cinco) pontos.Para facilitar a discussão e a interação entre os aprendentes, propomos queesses desafios sejam feitos em equipe. A formação das equipes será feita emduas etapas. Num primeiro momento, haverá um tempo para que as equipes seformem espontaneamente. Aqueles(as) aprendentes que não se inscreverem emnenhuma das equipes serão inscritos pelo(a) mediador(a) pedagógico(a) adistância aleatoriamente. Estejam atentos(as), portanto, ao calendário do nossocurso. Lá, vocês poderão acompanhar as datas de formação das equipes e dafinalização dos desafios.

Apresentaremos a seguir o quadro de síntese do textos a ser preenchidoe enviado para o(a) mediador(a) pedagógico(a) a distância. Para visualizar ocalendário de eventos do curso, acesse, semanalmente, o ambiente virtual deaprendizagem - Moodle: <www.ead.ufpb.br>.

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DESAFIO 8 (100 pontos)

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