arquitetura românica

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Arquitetura Românica A definição da arquitetura enquanto "Românica" refere-se às semelhanças existentes entre as construções típicas do final do séc. XI e XII na Europa e as estruturas abobadadas a de grossas paredes de alvenaria dos antigos romanos (séc. I e II). Enquanto no Oriente bizantino e muçulmano a arquitetura se desenvolve de maneira magnificente, no Ocidente o progresso no campo das criações mantem-se estagnada: falta de tempo, falta de tranquilidade, escassez de recursos. Assistimos a uma luta inaudita, a procura incansável de um sistema estrutural seguro, de fácil construção e dotado de beleza, que tinha de ser condicionado à realização por via de um material contraindicado sob todos os aspetos: a pedra. A designação "Românico" surgiu no séc. XIX e significava "semelhante ao romano". Podemos citar como caraterística das construções românicas a preocupação em se cobrir grandes vãos e os desejos em anular esforços e empuxos proveniente de cargas brutais de blocos de pedra. Tentativas de se transpor para o exterior das igrejas os apoios internos. Devido em grande parte aos desastres e incêndios causados em razão de invasões e pilhagens, que se resolveu abobadar os edifícios, uma ideia que rapidamente se difundiu. Em quase toda a arquitetura religiosa dos períodos cristão primitivos, o telhado era feito de madeira, material abundante na Europa. Mas vemos na Idade Média trágicas descrições de incêndios que devastaram igrejas com telhados de madeira. A utilização das abóbadas era frequente. A unidade estrutural era composta pelas aduelas, uma série de blocos de pedra em forma de cunhas. O arco vence um vão maior que o lintel, sendo necessários menos suportes, uma grande vantagem para os construtores cristãos que procuravam o mínimo de obstruções internas no interior das igrejas. O arco e a abóbada são os elementos mais importantes do sistema construtivo dessa arquitetura. O arco aumentaria as larguras das passagens entre as colunas, e as abóbadas supriam a deficiência originária das dificuldades de serem cobertas grandes áreas de reuniões e práticas rituais. No início, somente as absides eram abobadadas. O templo românico era uma cruz latina, composta por uma nave longitudinal e um cruzeiro. Igreja de S. Salvador de Bravães

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Síntese da arquitetura românica.

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Page 1: Arquitetura Românica

Arquitetura Românica

A definição da arquitetura enquanto "Românica" refere-se às semelhanças

existentes entre as construções típicas do final do séc. XI e XII na Europa e as estruturas

abobadadas a de grossas paredes de alvenaria dos antigos romanos (séc. I e II).

Enquanto no Oriente bizantino e muçulmano a arquitetura se desenvolve de maneira

magnificente, no Ocidente o progresso no campo das criações mantem-se estagnada:

falta de tempo, falta de tranquilidade, escassez de recursos. Assistimos a uma luta

inaudita, a procura incansável de um sistema estrutural seguro, de fácil construção e

dotado de beleza, que tinha de ser condicionado à realização por via de um material

contraindicado sob todos os aspetos: a pedra. A designação "Românico" surgiu no séc.

XIX e significava "semelhante ao romano".

Podemos citar como caraterística das construções românicas a preocupação em se

cobrir grandes vãos e os desejos em anular esforços e empuxos proveniente de cargas

brutais de blocos de pedra.

Tentativas de se transpor

para o exterior das igrejas

os apoios internos. Devido

em grande parte aos

desastres e incêndios

causados em razão de

invasões e pilhagens, que

se resolveu abobadar os

edifícios, uma ideia que

rapidamente se difundiu.

Em quase toda a

arquitetura religiosa dos

períodos cristão primitivos,

o telhado era feito de

madeira, material

abundante na Europa. Mas vemos na Idade Média trágicas descrições de incêndios que

devastaram igrejas com telhados de madeira.

A utilização das abóbadas era frequente. A unidade estrutural era composta pelas

aduelas, uma série de blocos de pedra em forma de cunhas. O arco vence um vão maior

que o lintel, sendo necessários menos suportes, uma grande vantagem para os

construtores cristãos que procuravam o mínimo de obstruções internas no interior das

igrejas. O arco e a abóbada são os elementos mais importantes do sistema construtivo

dessa arquitetura. O arco aumentaria as larguras das passagens entre as colunas, e as

abóbadas supriam a deficiência originária das dificuldades de serem cobertas grandes

áreas de reuniões e práticas rituais. No início, somente as absides eram abobadadas. O

templo românico era uma cruz latina, composta por uma nave longitudinal e um

cruzeiro.

Igreja de S. Salvador de Bravães

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HCA – Módulo 3 /10º Ano

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Entre as

desvantagens da abóbada

de berço temos: a

distribuição de cargas ao

longo de duas linhas

paralelas contínuas,

produzindo grandes

empuxos laterais que

deveriam ser eliminados

por meio de paredes muito

grossas e bem construídas;

as colunas eram muito

delicadas pois somente

suportavam a sobrecarga do telhado; a coluna alta apresenta vários inconvenientes, por

isso os arquitetos romanos as

construíam grossas e baixas. O

resultado era a pouca altura da nave

que não permitia que ela fosse bem

iluminada, resultando em igrejas muito

escuras.

Outro problema estrutural

românico foi a cobertura do cruzeiro

que é o quadrado central oriundo do

cruzamento da nave central e o

transepto. Na arquitetura bizantina foi

solucionado o problema com uma

cúpula sobre base quadrada, utilizada

com o emprego de elementos de

contraventamento. Outra forma de

serem anulados os empuxos laterais

das abóbadas de berço, era a interseção

de duas delas, propiciando a descarga em apenas quatro pontos separados. Assim foi

inaugurada nestes templos a chamada abóbada de arestas. Outra novidade foi o

contraforte ou gigante, às vezes substituído por tirantes. Os materiais mais diversos

eram empregados em diferentes lugares, sendo a pedra o mais preferido, depois o

mármore e depois o tijolo. Apesar de ser melhor utilizada em função da liberdade e

leveza estrutural, a construção da abóbada de arestas torna-se complicada para espaços

que não tenham uma planta quadrada. Essas duas formas, a abóbada de berço e a

abóbada de arestas foram utilizadas na grande maioria das igrejas românicas.

Visualmente transmitem a sensação de solidez, calma e repouso, de ausência de esforço

ou tensão.

Durante a Idade Média, as pessoas viajavam em peregrinações a lugares santos na

esperança de cura de uma enfermidade ou como alternativa a uma prisão, ou ainda

porque a Igreja Católica prometia salvação para as almas dos peregrinos. Muitas igrejas

Portal - Igreja de Bravães

Capitel exterior - Igreja de Bravães

Page 3: Arquitetura Românica

HCA – Módulo 3 /10º Ano

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guardavam relíquias de santos. Acreditava-se que elas possuíam milagrosos poderes

curativos. Para acomodar os peregrinos, que representavam uma enorme fonte de

receita, os arquitetos projetaram uma planta básica que criava um corredor contínuo em

torno da periferia da igreja. Os visitantes podiam caminhar, sem atrair atenções,

admirando a estrutura da igreja, visitando as relíquias que podiam ser expostos em

pequenas capelas localizadas nessas naves laterais e no deambulatório, enquanto as

missas desenrolavam na nave central.

O papel das outras artes era muito importante nesse período. Numa época em que

muito poucas pessoas sabiam ler ou escrever, a igreja recorria substancialmente às

pinturas e às esculturas para comunicar-se com os seus membros. Os interiores das

igrejas exibiam frequentemente pinturas de cenas religiosas nas paredes e nas abóbadas.

Como acontece na maioria das representações românicas de eventos religiosos, a

composição é muito simétrica. Mas o achatamento e o encurtamento arbitrários das

figuras dos apóstolos, de modo a ajustá-las claramente ao lintel, indicam uma nova

atitude por parte do artista. Ele parece preocupar-se menos com as proporções

idealmente belas do que com a apresentação concisa de uma história dentro do espaço

disponível. Ex.: Ascensão

de Cristo, tímpano da Porta

Miègeville, basílica de

Saint-Sernin, em Toulouse.

No que tange às asas,

quanto mais baixo era o

nível social do proprietário,

menos provável seria que

as construções

permanecessem de pé.

Podemos entanto ter uma

ideia do aspeto das casas

dos camponeses medievais de, pelo menos, uma região da Europa examinando alguns

casebres de pedra na Galiza, norte da Espanha. O traçado dessas pallozas remonta aos

tempos célticos. Cada palloza é normalmente retangular, mas com os cantos

arredondados tendo a estrutura em pedra assentada sem argamassa e coberta por um

telhado cônico. São construídas próximas ao chão, de modo a conservar o calor, pois

trata-se de uma região fria. Eram divididas ao meio por um tabique de madeira. A

aspereza do clima também requeria janelas exíguas para entrada de luz e ar.

Algumas poucas casas românicas remanescentes em centros urbanos sugerem

como vivia a população citadina no séc. XII. A princípio a casa poderiam funcionar

como loja no primeiro pavimento e como residência no segundo pavimento. Os balcões

assentavam sobre cavaletes e ao fim do dia retirados para se fechar a loja.

O período românico foi de transição. Os templos pediam mais luz, maiores proporções e

mais inspiração. A tradição românica não falava a favor de grandes alturas e nem de paredes

delgadas, vazada por grandes aberturas, uma vez que se apoiavam em um sistema de arcos a

abóbadas solicitadas a violentíssimos esforços. Era necessário substituir ou aperfeiçoar aqueles

dois elementos medulares, que eram o arco e a abóbada, que foi finalmente conseguido

Capitel interior- Igreja de S. Salvador de Bravães

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escorando-se lateralmente o arco por outro arco (arco botante) e reforçando-se as arestas das

abóbadas com nervuras, que na realidade passam a suportar todo o peso da cobertura. Estas

nervuras descarregam em vários pilares ou colunas finas que rodeavam uma mais larga, que

suportava maior carga, resultando na esbeltez dos feixes góticos de varas de pedra.

[Texto adaptado]