arquitetos em maringá

25
25 a 28 conselho superior do IAB 25 e 26 seminário nacional de núcleos do IAB arquitetos em maringá janeiro de 2017 25 reunião dos presidentes dos departamentos do IAB

Upload: institutoarquitetos

Post on 07-Feb-2017

108 views

Category:

Data & Analytics


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Arquitetos em Maringá

25 a 28

conselho superior do IAB25 e 26

seminário nacional de núcleos do IAB

arquitetos em maringá janeiro de 201725

reunião dos presidentes dos departamentos do IAB

Page 2: Arquitetos em Maringá
Page 3: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

boas-vindas

Aqui começa nova etapa.

Um encontro histórico de uma entidade quase

centenária: a reunião do Conselho Superior e o

Seminário de Núcleos do Instituto de Arquitetos do

Brasil.

Com noventa e seis anos de fundação, o IAB – a mais

antiga entidade de representação dos arquitetos e

urbanistas brasileiros – é uma livre associação, de

caráter voluntário, organizada como federação de

Departamentos estaduais e Direção Nacional, cujas

diretrizes gerais são emanadas de seu Conselho

Super ior . O COSU em gera l se reúne

semestralmente, e neste encontro em Maringá,

Paraná, terá a sua 151ª sessão.

Os Departamentos do IAB têm sua sede nas capitais

dos estados respectivos, podendo criar Núcleos em

cidades importantes do interior. Aqui, em

concomitância com o COSU, se realiza o II Seminário

Nacional de Núcleos do IAB.

É encontro histórico porque é a primeira vez que se

organiza essa simultaneidade. E, também, porque é a

primeira ocasião em que uma reunião do COSU é

organizada por um dos Núcleos do IAB, em apoio ao

seu Departamento.

Mas a questão não é de mera formalidade, por

significativa que possa parecer.

Nesta reunião em Maringá, temas importantes para

a arquitetura e o urbanismo serão debatidos, tais

como a revisão da legislação federal de licitações

de obras públicas, o serviço de assistência técnica à

habitação popular, o planejamento das cidades

brasileiras, entre outros. E também para o IAB: a

sua sustentação financeira.

Sobretudo, teremos à frente uma questão crucial a

fundamentar nosso debate: a projeção de que,

nesta geração, o Brasil construirá como nunca

antes: mais quarenta milhões de unidades

hab i t a c i ona i s , equ i pamentos soc i a i s e

infraestrutura se somarão aos sessenta milhões de

domicílios existentes. Mais de meia cidade se

somará à cidade existente!

Essa é a perspectiva para a ação do arquiteto

nesta geração.

Em todos os âmbitos da profissão, no planejamento

urbano e territorial, no projeto e na construção de

cidades e edificações, no serviço público, na

empresa pr i vada , na urban i zação dos

assentamentos populares, na consultoria – enfim,

em todas as competências do arquiteto, é preciso

que estejamos presentes, levando a nossa

contribuição profissional tal como a sociedade nos

encargou. A produção do espaço construído

brasileiro é atribuição que devemos exercer

plenamente: não subestimemos nossa contribuição,

ela é essencial para a população e para o próprio

país.

Nos próximos anos e desde agora, em preparativo

para o centenário do IAB, e quando também nos

preparamos para realizar o Congresso Mundial de

Arquitetos no Brasil, em 2020, será tempo para

estruturarmos nossa estratégia de avanço da

cultura arquitetônica em benefício da organização

do espaço brasileiro. É uma tarefa a que o IAB há de

se propor em estreito diálogo com a sociedade

brasileira e em unidade com as demais instituições

da profissão.

Esse encontro em Maringá será ainda mais uma vez

histórico.

Arquiteto Sérgio Magalhães

Presidente do IAB

02

Page 4: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

boas-vindas

Caros colegas,

Uma honra recebê-los em nossa terra!

Esse encontro tem o caráter protocolar com as

necessárias reuniões - COSU e Seminário dos

Núcleos - mas é também uma rica oportunidade para

a troca de experiências entre as diferentes e

complementares práticas adotadas pelas entidades

de todo país.

Será uma ocasião para apresentarmos a cidade, a

canção, desejando que vivenciem uns dias com os

pés vermelhos da terra que nos orgulha.

Sejam bem vindos!

03

Arquiteto Aníbal Verri Junior

Presidente do Núcleo Maringá

organizaçãopromoção apoioNÚCLEO MARINGÁ

Maringá recebe Arquitetos do IAB de todo o Brasil,

profissionais interessados no avanço do ofício

arquitetônico e na sua relação com a sociedade.

Durante anos muitas barreiras foram quebradas

pelo IAB, e o Instituto continua trabalhando com

dedicação e seriedade para melhores condições para

os Arquitetos, seja no tocante à atividade

profissional, seja no âmbito da cultura

arquitetônica, por meio de pessoas comprometidas

com a qualidade.

Desafios podem ser encarados como barreiras

intransponíveis ou obstáculos a serem superados.

Estabelecer metas grandiosas impõe desafios

importantes, onde os objetivos primordiais serão

estabelecidos nesses dias de reunião.

Arquiteto Luiz Reis

Presidente do IAB-PR

Page 5: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

a cidade canção

A cidade que os acolhe é planejada, faz 70 anos de

idade em 2017, tem perto de 400.000 cidadãos que a

habitam em um desenho urbanístico elaborado em

1942, pelo engenheiro paulista Jorge de Macedo

Vieira (1894-1978). Localizada no noroeste do

estado, a cidade faz parte de um empreendimento

privado inglês do início do século XX, através da

Companhia de Terras Norte do Paraná – CTNP. A

empresa comprou uma parcela de terras de 515.000

alqueires, na qual um projeto de escala urbano-

regional foi implantado. A ferrovia foi a indutora

das ações, com intuito de escoar a produção

agrícola que ali seria desenvolvida, dando

continuidade ao braço ferroviário de São Paulo.

O projeto envolveu a abertura de cidades e a venda

de lotes, os transportes rodoviário e ferroviário e

o parcelamento das áreas rurais no norte e

noroeste paranaense. Essa ocupação previu a

implantação de núcleos urbanos maiores em um

distanciamento de cerca de cem quilômetros uns dos

outros, Londrina, Maringá, Cianorte e Umuarama,

que foram intercalados por núcleos menores. O

estreito posicionamento entre cidades e estradas,

ambas sobre as cumeadas principais e secundárias

do relevo, representa o resultado de uma

programação racionalizada entre as estações

(cidades). O parcelamento do solo rural foi

configurado por pequenas propriedades agrícolas

que possuíam duas interfaces: na cota mais baixa, a

presença do rio ou córrego, possibilitando o

abastecimento de água e, na cota mais alta, no

espigão, o acesso à ferrovia ou rodovia para o

escoamento da produção, ressaltando que a

população que habitava essa região era

predominantemente rural.

Maringá, um dos núcleos de maior porte

empreendidos pela colonizadora, foi projetada e

construída por sua sucessora de capital privado

nacional, a Companhia Melhoramentos Norte do

Paraná – CMNP. Foi distrito entre 1947 e 1951,

quando foi elevada a município. O nome da cidade

faz homenagem à popular canção à época,

“Maringá”, de autoria de Joubert de Carvalho.

A partir do núcleo de origem estabelecido pelos

ingleses no início dos anos 1940, constituído por

oito quadras, foi realizado um levantamento

topográfico rigoroso que definiu a posição do braço

ferroviário, o pátio de manobras no platô 550 e

serviu de base para o desenho urbanístico, que

possui as seguintes características: um

quadrilátero na porção central e plana do sítio;

ruas que acompanham as curvas de nível; a

preservação dos fundos de vale com mata nativa

através de dois bosques urbanos, o Parque do Ingá

e o Bosque II; um eixo transversal à linha férrea,

também no espigão para a implantação dos edifícios

institucionais, públicos, hotel e igreja; e desenho

hierárquico das vias articuladas por rotatórias, em

um zoneamento funcional.

A linha férrea foi prevista próxima ao limite norte

da cidade, entretanto, no processo de expansão

urbana, a cidade dobrou para essa direção. No final

dos anos 1960, com uma população de 200.000

habitantes, a prefeitura contava com os arquitetos

Nildo Ribeiro da Rocha e José Vicente do Soccorro,

que desenvolveram o plano de diretrizes viárias

para a expansão da cidade, contemplando as vias

rurais existentes e interligando-as de um espigão

ao outro através de avenidas. Nesse desenho

estabeleceu-se o afastamento de 60m para a

preservação dos fundos de vale.

Na década de 1980, a cidade expandida à norte tinha

linha férrea configurada como uma barreira. Tem-se

a oportunidade de mudança do pátio de manobras da

área central para o posto de transbordo de cargas

04

Page 6: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

a cidade canção05

da recém-concluída obra da usina de Itaipu. Em 1986,

a convite da prefeitura, Oscar Niemeyer desenha um

projeto para este local, propondo o rebaixamento

da via férrea e ocupação do antigo pátio de

manobras, batizado de Projeto Ágora, com extensa

área pública livre e edifícios como biblioteca, teatro

e restaurantes, com o seu perímetro ocupado por

galerias comerciais baixas e torres em seu interior.

Do projeto, tem-se executado o rebaixamento da

linha em seus 7.360 m de extensão, com trechos em

túnel, outros em vala a céu aberto, obra concluída

em 2012, que nos dá a oportunidade de instalar um

sistema de transporte de passageiros nesta calha,

interligando os municípios vizinhos.

Hoje, Maringá está com seu território triplicado com

relação ao projeto urbanístico dos anos 1940 e

possui como base econômica a prestação de

serviços e agricultura. A sociedade civil organizada

vem trabalhando para a elaboração de um

Masterplan para assegurar seu crescimento e

planejamento organizados com vista aos próximos

30 anos.

Foi numa lévaQue a cabocla Maringá

Ficou sendo a retiranteQue mais dava o que falá.

E junto delaVeio alguem que suplicou

Prá que nunca se esquecesseDe um caboclo que ficou

AntigamenteUma alegria sem igualDominava aquela genteDa cidade de Pombal.

Mas veio a secaToda chuva foi-se embora

Só restando então as águaDos meus óio quando chóra.

Maringá, Maringá,Depois que tu partiste,

Tudo aqui ficou tão triste,Que eu garrei a maginá:

Maringá, Maringá,Para havê felicidade,

É preciso que a saudadeVá batê noutro lugá.

Maringá, Maringá,Volta aqui pro meu sertão

Pra de novo o coraçãoDe um caboclo assossegá.

MaringáJoubert de Carvalho, 1932

Page 7: Arquitetos em Maringá

1950 1960 1970 1980 1990 2000

arquitetos em maringá

ante-projeto e evolução urbana06

ANTE-PROJETOJORGE MACEDO VIEIRA - 1945

Page 8: Arquitetos em Maringá

550

arquitetos em maringá

BASE TOPOGRÁFICA

Page 9: Arquitetos em Maringá

luty kasprowicz07. antiga biblioteca municipal08. urbanização dos canteiros da avenida getúlio vargas

salvador candia09. edifício maringá

arquitetos em maringá

JORGE MACEDO VIEIRA- 1947

13. capela santa cruz14. antiga sede da CompanhiaMelhoramentos do Norte do Paraná15. cine maringá16. cine teatro plaza17. galeria comercial18. ACIM

josé augusto bellucci01. catedral02. hotel bandeirantes03. gabinete do prefeito04. praça napoleão moreira da silva05. maringá clube06. cemitério municipal

jaime lerner e equipe10. centro esportivo municipal maringá - CEMM11. universidade estadual de maringá

paulo mendes da rocha12. banespa

a. parque do ingáb. bosque IIc. horto florestald. bosque das grevílease. parque alfredo nyffeler

5

6

linha férrea, hoje rebaixada

limite do plano inicialmaringá velho

antigo pátio de manobrashoje novo centro

a

b

c

e

1

23

4

7

14

179

10

11

1215

16

8

d

13 18

H

07

Page 10: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

programação II seminário nacional de núcleos do IAB08

credenciamento

25 quarta-feira 26 quinta-feira

planejamento estratégicodos núcleos do IAB [ACIM]

aberturareunião dos presidentesdireção nacional, departa-mentos e núcleos

painel de abertura"revisão da lei 8666/2008e a contratação deobras públicas"

planejamento estratégicodos núcleos do IAB [ACIM]

apresentação dosresultados ao COSU

10h00

12h00

14h30

18h30

19h00

palestra"o croquis na formaçãodo arquiteto e urbanista"

9h00

17h00

apresentação entidadessociedade civil em maringá

mesa redonda"lei de assistênciatécnica"

20h00

Page 11: Arquitetos em Maringá

reunião das comissõesdo CAU/PR

credenciamentoe apresentaçãodos núcleos do IAB

24 terça-feira 25 quarta-feira 26 quinta-feira 27 sexta-feira 28 sábado

planejamento estratégicodos núcleos do IAB [ACIM]

151º conselho superiordo IAB - COSU [ACIM]

151º conselho superiordo IAB - COSU

151º conselho superiordo IAB - COSU

oficina"desenhando Maringá"com Campelo Costa

organizaçãopromoção apoioNÚCLEO MARINGÁ

arquitetos em maringá

programação geral09

9h

9h30

10h

reunião extraordináriada CEDCAU/PR

reunião da plenária do CAU/PR

planejamento estratégicodos núcleos do IAB [ACIM]151º conselho superiordo IAB - COSU

151º conselho superiordo IAB - COSU

14h30

reunião câmara técnica (regional de maringá)e coordenadores de cursosde AU e do fórum de arquitetura públicaCAU/PR

painel de abertura151º COSU"revisão da lei8666/2008 e acontratação deobras públicas"Sergio Magalhães (IAB),Haroldo Pinheiro (CAU/BR),Cícero Alvarez (FNA),Gilson Paranhos (CODHAB-DF),Jeferson Navolar (CAU/PR)

19h

palestra"o croqui na formaçãodo arquiteto e urbanista"Campelo Costa (IAB-CE)

mesa redonda"uma agenda paraas cidades"Roberto Montezuma (CAU/PE), Pedro da Luz Moreira (IAB-RJ),Gilberto Belleza (CAU/SP),Tiago Holzmann (IAB-RS)

visita guiada17h30

18h30

20h00

mesa redonda"lei de assistênciatécnica"Clóvis Ilgenfritz (IAB-RS), Jerônimo de Moraes Netto(CAU/RJ),Gilson Paranhos (CODHAB-DF)

151º conselho superiordo IAB - COSUreunião dos presidentesdireção nacional, departa-mentos e núcleos

apresentação entidadessociedade civil em maringá

12h

Page 12: Arquitetos em Maringá

Praia de Iracema, Janeiro de 2017.

Às vezes pode parecer inútil a ideia de procurar

uma autonomia para nós, para a nossa América,

nesse começo de século de incertezas e tanta

inquietude. A morte da literatura, da pintura, da

arquitetura... A morte anunciada da arte,

proclamada pelos coveiros dos tempos sem história,

simbolicamente trai a morte do homem.

Conversar com vocês sobre o desenho é negar essa

perspectiva medonha. É estabelecer formas de

interlocução com a história, com o prazer cotidiano

das pessoas, com a memória e a imaginação de

vocês, com este lugar e com os lugares de todos os

tempos. É palmilhar um caminho contando com os

ingredientes indispensáveis do conhecimento e das

possibilidades, de transmiti-los com emoção, para

acentuar a dimensão estética e o caráter

transformador do saber e da cultura arquitetônica

e fixar num plano – demarcado pela voracidade da

história moderna e pelo capitalismo – um sutil apelo

em favor do compromisso com as possibilidades e

capacidades da invenção humana como alternativa à

falta de certezas e contra a contaminação cultural

destruidora de valores culturais, signos populares

e formas de convivência social.

Pois bem, eu cá com meus botões, direi com todo

zelo, feito um poeta e me restarem como dons,

apenas o amor e a arte, em cima deles conceberei

um mundo.

Eis aí, exposto de maneira singela, os caminhos da

minha utopia. Disso trataremos aqui. Para tanto,

escoro-me na sabedoria de dois ilustres

professores que nesta terra brasileira construíram

suas vidas, irradiaram seus conhecimentos e a quem

devo muito do que sou, como artista e arquiteto.

Falo dos mestres Vilanova Artigas e Flávio Motta.

Com eles aprendi a crer na razão, nas possibilidades

da cultura e da técnica. Na democracia e na

liberdade como pressupostos fundamentais para

existência do homem sobre a terra. Na liberdade que

não sobrevive sem o oxigênio do debate que os

pulmões do homem político aspiram. Quero dizer com

isso que a liberdade precisa exercitar-se – como

certamente faremos aqui – e para que esse

exercício faça-se exequível, é necessário fincar os

pés com vontade naquilo que nos interessa, faz

livre os homens e fortalece as instituições.

Obviamente, se quisermos, com efeito, regenerar o

que possuímos e emergir da desordem, do tumulto,

da mediocridade acabrunhada e da decadência que

acorrentam o nosso futuro.

O desenho, única linguagem entre nós que não

carece de intérpretes, nasceu com o grafismo

paleolítico. Origem das primeiras manifestações

ardentes do instinto mágico do homem. Ali já se

mostrava carregado de um intrínseco desejo, de

uma vontade de possuir e dominar.

Não conseguindo dizer melhor, valho-me do que

disse o Artigas, em sua memorável aula para os

novos alunos da FAU-USP em 67.

O desenho no renascimento ganha cidadania. Se de

um lado é risco, traçado, mediação para a

expressão de um plano a realizar, linguagem de

uma técnica construtiva, de outro é desígnio,

intenção, propósito, projeto humano no sentido de

proposta do espírito.Um espírito que cria objetos novos e o introduz na

vida real.O desígnio do renascimento, donde se origina a

palavra para todas as línguas ligadas ao latim,

como era de se esperar, tem dois conteúdos

entrelaçados.Um significado e uma semântica, dinâmicos, que

agitam a palavra pelo conflito que ela carrega

consigo ao ser expressão de uma linguagem

técnica e de uma linguagem para a arte.

arquitetos em maringá

o desenho10

Page 13: Arquitetos em Maringá

A noção de desenho, particularmente o desenho

industrial, tem assumido entre nós um sentido

restrito. Reduzindo-se a forma de determinado

produto (o automóvel, o eletrodoméstico, o móvel...)

correspondendo no campo da arquitetura ao

equívoco de considerá-la como um dos aspectos da

produção.

A palavra desenho deverá reapropriar-se do seu

mais longínquo. Deverá conter o propósito humano

de transformar as condições de vida dos indivíduos,

de estabelecer novas relações humanas, de

construir a história, o próprio homem, a sociedade,

um modo de ocupar a terra, de tratar a natureza.

Esta ideia de reafirmar, de reapropriação de um

conceito, tem o condão de se antepor às

impertinentes e pouco precisas especulações de

caráter filosófico, de tendências arquitetônicas ou

correntes estéticas que constituem o alimento de

pernósticos debates e toma conta de muitas

cabeças.

Destacam-se, quase sempre, nesses encontros, a

atitude olímpica dos arquitetos e críticos de

arquitetura ou um distanciamento matizado por uma

autonomia que não possuímos. Muito pior, a crença

errônea de se considerar a arquitetura potência

cultural independente. É dessa lavra a comparação

da arquitetura a uma “metáfora de pensamento”,

como pensam alguns. Isso não nos interessa e não

passa, a meu ver, de uma desatinada tolice.

Prefiro reafirmar aqui a apreciação do Argan sobre

o agir artístico – “é um agir segundo um projeto, e o

projeto é uma finalidade que, realizando-se no

presente, assegura à ação um valor permanente

histórico”.

Faço parte dessa corrente humana mais lógica,

simples e tolerante que existe a face deste

vagabundo planeta.

Em virtude disso, importo-me muito mais com as

atitudes perante à existência, ao futuro do país, ao

nosso povo e à qualidade do nosso trabalho, do que

com o debate vão da arquitetura pela arquitetura.

Discuti-la no Brasil sem nos darmos conta, o mais

das vezes, de que os argumentos utilizados não são

frutos da reflexão sobre a massacrante realidade

brasileira, sem considerar as vicissitudes e as

esperanças nas quais nos debatemos e nem as

perspectivas que nos restam com o lugar como

expressão cultural e como profissão, é

absolutamente estéril.

É preciso alimentar nossos encontros, não com

ideias pré-concebidas, mas com os fundamentos de

nossa vivência histórica e com os nossos

propósitos.

Considero falta imperdoável encorajar estudantes e

jovens arquitetos, obrigando-os a ouvir

generalizações perigosas que a nossa ignorância

não tem permitido desenvolver com cuidado e

profundidade.

Correndo-se, assim, o risco de deteriorar-lhes os

espíritos com sistemas de frouxa motivação,

imprecisos, superficiais e incapazes de ajudá-los a

superarem as estratégias individualistas da

sobrevivência profissional existente no país.

Quase sempre, o que se observa é alguém mais

sensível sentir-se incomodado com a insistência (de

alguns) em testemunhar, às vezes, de maneira

ostensiva, a miserável condição humana.

É possível que a verdade ou a franqueza de certas

atitudes possam causar dissabor a certos ouvidos

acostumados à retórica da hipocrisia.

É possível ainda que a rebeldia intelectual não

encontre ressonância em determinados setores do

pensamento arquitetônico dominante, ou nos

arquitetos em maringá

o desenho11

Page 14: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

o desenho12

círculos do poder, verdadeiros quistos,

anacronismos ambulantes, que não sabem senão se

curvar diante do imediatismo do interesse privado,

“nadando no caldo grosso da ganância e da

especulação”. Tudo isso só acontece quando se

coloca em primeiro plano o prestígio pessoal e os

interesses particulares, ao invés dos compromissos

éticos, estéticos e socioculturais inerentes ao

nosso ofício.

Para alguns, os queimadores de incenso

profissional, esses maria-vai-com-as-outras da

inteligência, esses bajuladores movidos pelo desejo

inconfessável de controle do mercado e do poder de

fogo da mídia, só o sucesso interessa e causa

alívio.

Mas, para muitos outros, desprovidos de

oportunidades, só existe a tensão sem descarga e a

irritação que não produz nenhuma crença.

Sobretudo aqui, num país como o nosso, onde

proliferam as vaidades mais ocas e um

profissionalismo pedante tão ao gosto das mais

iluminadas estrelas. Se o objetivo é a discussão, o

sentido da descoberta, a ilustração do indivíduo,

nossos encontros devem possuir algo de mais duro

e positivo. Devem materializar a grandeza da

expressão arquitetônica, como também, um

propósito político, símbolos capazes de criar, em

nossa confusa e atormentada realidade, o sentido

da participação, da dignidade profissional e o

compromisso em se reduzir a distância entre o

resultado do trabalho dos arquitetos e os anseios e

necessidades coletivas dos brasileiros.

O processo de crescimento observado em vários

aspectos da vida metropolitana, o caos urbano que

toma conta do planeta, a explosão demográfica, a

industrialização, os irreversíveis processos

migratórios, o desenvolvimento dos meios de

comunicação, mostram que devemos redobrar

nossas atenções às influências que possamos

exercer sobre os valores da existência e da

sobrevivência sobre a Terra.

A paisagem e os homens exibem cicatrizes

irreparáveis. Tudo conspira a favor do deserto.

Perderemos os nossos rios, montanhas, animais,

plantas e o próprio ar que respiramos se não

encontrarmos o novo clima de convivência entre

os homens, clima capaz de sustentar todas as

modalidades de respiração. O processo de

isolamento nas grandes metrópoles e a acentuada

solidão das pessoas são decorrência da

decomposição do social, da exacerbação do

privatismo e da incontida angústia infantil de

possuir só para si, sem admitir a comunidade de

participação, o valor social dos meios e do próprio

indivíduo.

Assim falava Flávio Motta.

Aguçou-se a tendência, tantas vezes denunciada,

da homogeneização da cultura, segundo os padrões

e a lógica hegemônica dos meios de comunicação de

massa. O objetivo é incorporar o Brasil inteiro, com

sua diversidade e antagonismos, a um padrão

cultural, de forma unilateral e autoritária. A

indústria cultural, nesse sentido, converte-se em

instituição disciplinadora que age enrijecendo a

produção cultural.

Uma das consequências disso consiste na

despolitização da sociedade, como verifica-se no

Brasil. Não obstante, os graves acontecimentos e

conflitos sociais, políticos e econômicos, as

manifestações e os movimentos surgem meio sem

rumo, falta de maior suporte coletivo e ideológico.

Nós, os arquitetos, os desenhadores, devemos

buscar outros caminhos que tornem menos árdua a

existência.

Page 15: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

o desenho13

O risco do artista é feito com uma intensão precisa.

Com esses propósitos ajudaremos a construir um

mundo de dimensões espirituais novas, cujo

estímulo intelectual favorecerá uma nova

consciência perceptiva.

O desenho investe, estrutura o projeto. Há nessa

atitude o sentido de atirar-se para frente. Nunca é

arbitrário. É domínio da sensibilidade e da razão e

possui uma lógica intrínseca.

Nascem dessas condições, aliadas à emoção criadora

do homem, a qualidade do seu projeto, a sua nitidez

estrutural. Nas condições atuais brasileiras, no

desenho e no projeto de arquitetos, há uma total

ausência de reflexão sobre os programas e as

necessidades mais prementes.

Claro, que a referência aqui é ao grosso do que se

constitui ou ao que se reduziu o trabalho dos

arquitetos brasileiros.

Vivemos uma situação singular de projetos e de

construções de emergência, gerando-se, por

conseguinte, uma arquitetura também de

emergência de qualidade discutível.

Estou convencido de que trabalhar para o

desenvolv imento do ind ivíduo soc ia l –

desalienando-o – constitui o verdadeiro desafio que

se coloca perante a sociedade brasileira.

Isso se dará quando formos capazes de aliar a

capacidade de pensar e fazer arquitetura um

compromisso preciso ditado pelo domínio do

conhecimento e das qualificações que aprimorem as

condições da existência humana e ajudem a

distender os processos acumulativos, pensando e

projetando um mundo que procura a paz

construt iva , ban indo-se as der ivações

colonizadoras, as dependências subalternas, tanto

econômicas como culturais.

“É pelo trabalho que se estabelece a essencialidade

do processo histórico, na medida mesmo que

corresponde à produção e reprodução da vida.

Chamar de 'desenho' aquilo que leva à morte e à

destruição, seria consagrar a negação da atividade

científica, artística, da história e da cultura como

formas de liberdade, isso é, do direito do homem à

vida”¹. Como poderemos nós, nesse país de

retemperadas lutas e incomensurável generosidade,

despirmo-nos desse servilismo que se desfaz em

deslumbramentos “jecas” ou na mais abjeta e

tamanha mesquinhez?

Homens, lugares e paisagens espalhados pelo

litoral e pelos sertões, ocupando o vasto miolo da

terra brasileira, não se constituem em coisa

homogênea. Estão mais para a multiplicidade do que

massa uniforme e condicionada. Desvelam um

universo riquíssimo e propício à experimentação, ao

desenvolvimento e ao futuro.

Roland Barthes decifrou-nos o “fatídico”

modernismo como pluralização das visões de mundo

derivada da evolução das novas classes sociais e

dos meios de comunicação.

O conhecimento dessa diversidade capacita-nos a

enxergar quais serão os novos caminhos e a

compreender que o desenho não é a única linguagem

para o artista. Ignorar ou deixar em segundo plano

o papel da imaginação criadora, nascida da

observação e do convívio direto com a realidade, no

processo transformador que é a arquitetura,

causaria a perda da especificidade histórica da

arquitetura como área determinada dentro do

conjunto maior do conhecimento e da ação humana.

“Uma clara noção do vínculo específico que a

imaginação estabelece entre a criação arquitetônica

e a realidade concreta circundante é essencial para

se perceber, em toda a sua profundidade, as raízes

culturais locais da verdadeira arquitetura”².

Page 16: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

o desenho14

Um povo só se autonomiza quando é capaz de

apropriar-se sem constrangimento de sua própria

cultura, no respeito a padrões culturais

emergentes, tidos por vezes como pobres, mas, nem

por isso, destituídos de interesses e do sentido da

universalidade.

A posição passiva face ao desprezo drástico pela

identidade e cultura nacionais, torna-nos cúmplices

desse descaso.

A cidadania manifesta-se pela via participativa e

pela exteriorização da vontade de cada membro da

sociedade.

Essa noção de militância e concurso da intenção se

faz requisito na formação de uma cultura política,

de uma cultura nacional, de um projeto das gentes

para as gentes brasileiras.

Ela nos impõe fulminante recusa às indefinições e

incertezas nas quais se entretece o status quo da

sociedade contemporânea em nosso país.

Perdoem-me o tom panfletário que condicionou e

dominou as minhas palavras. Foi assim porque não

sei dizer de outro jeito. Falta-me fôlego.

Limitado por uma visão generalista, pela

sensibilidade poética e pela convivência cotidiana

com o desamparo, não há como desconhecer os

contornos nítidos, os liames humanistas de minhas

responsabilidades com a ação política necessária à

emancipação do povo brasileiro.

Para vocês, jovens estudantes e professores, para

esta escola, animados que estão por esse grande e

límpido senso de curiosidade e entusiasmo tão

vitais à vida universitária e caros à permanência do

sonho e da utopia, rendo-lhes minhas homenagens e

gratidão sincera.

Deixo-lhes como brado final – qual paráfrase ao

velho Artigas – a pergunta:

- Que projetos tendes em vossas cabeças?

No mais, que os frutos deste encontro e dos muitos

que o porvir nos concederá, balizem um arco pleno

capaz de abrigar um generoso cântico pela paz e

fraternidade entre os homens.

Antônio Carlos Campelo Costa._______________________________________¹ MOTTA, Flávio. Sobre o desenho industrial – Informe Nº 2 – 1976.² RIBEIRO, Demétrio. Criatividade e tecnologia. Tese do IAB ao Congresso da UIA – Madri (1972).

Page 17: Arquitetos em Maringá
Page 18: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

uma agenda para as cidades15

O Instituto de Arquitetos do Brasil IAB

Entidade de representação de arquitetos e

urbanistas brasileiros, com noventa e seis anos de

história, constituído em todos os estados da

Federação, e um dos responsáveis pela pauta da

Reforma Urbana – definida em 1963 no histórico

Seminário de Quitandinha - reafirma seu

compromisso com a democracia, o desenvolvimento,

a cultura e o bem-estar do povo brasileiro.

O Brasil tem 85% de sua população vivendo em

centros urbanos, fenômeno que se acelerou nas

últimas cinco décadas. Mas o crescimento de nossas

cidades não foi acompanhado por políticas públicas

capazes de adequá-las às exigências da vida

contemporânea nem de conferir aos brasileiros o

cumprimento de seus direitos urbanos prescritos

pela Constituição de 1988.

Há cinquenta anos tivemos a possibilidade de

estruturar um pensamento sobre as cidades

brasileiras, que pouco passavam de 30 milhões de

habitantes. A ênfase do Seminário de 1963 foi a

moradia e a questão fundiária, em função da

emigração do campo. O documento final propôs que a

Reforma Urbana fosse incluída, em simetria com a

Reforma Agrária, no rol das “reformas de base”,

então dominantes na pauta política brasileira.

Hoje, com 170 milhões de habitantes, os desafios

para as cidades brasileiras são ainda maiores -

postos pela desigualdade, por problemas ambientais

e pela inexistência de mobilidade e de moradia

compatíveis com os direitos cidadãos definidos

constitucionalmente. Sabemos que o tratamento do

espaço e o projeto do território são condições

indispensáveis para o desenvolvimento e a

democracia em nosso país.

Nós, arquitetos e urbanistas, em conjunto com

outras categorias profissionais, movimentos sociais

e a sociedade civil organizada, temos a tarefa de

contribuir, de forma interdisciplinar, para a

construção de uma agenda urbana para o Brasil do

século 21.

Nesse sentido, o IAB, considerando que:

- O desenvolvimento nacional e o desenvolvimento

urbano são interdependentes. A cidade é o núcleo

potencializador do mundo contemporâneo em suas

áreas dinâmicas: economia, cultura, inovação,

conhecimento, comunicação. A cidade aberta,

segura, agradável, que oferece oportunidades de

interação social e profissional é o lugar privilegiado

do conhecimento e da inovação. As diversas escalas

econômicas dependem da qualidade urbana para que

os micros, pequenos, médios e grandes negócios

possam prosperar e distribuir riqueza.

- As ações sobre a cidade não são isoladas; e,

mesmo quando assim o forem consideradas, têm

consequências sobre os demais aspectos da vida

urbana.

As cidades não podem ser geridas tecnocrática e

discricionariamente; os encaminhamentos de

propostas e a deliberação sobre investimentos

públicos devem ser mediados pela participação da

cidadania organizada. Nada sobre a cidade será

destituído de disputa política e de consequências

sociais.

- A democracia veio para ficar; as cidades

precisarão corresponder a essa dimensão política.

Nosso país foi capaz de construir um franco

desenvolvimento político e econômico nestes vinte

e cinco anos de vigência da Constituição Cidadã, com

a incorporação econômica de estratos mais pobres

da população. No âmbito urbano, essa conquista

deverá corresponder à busca pela equidade no

acesso e usufruto da cidade. Ou seja, corresponder

a um processo que objetive à universalização dos

Page 19: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

uma agenda para as cidades16

serviços públicos, prestados em condições

adequadas, sistemáticas, impessoais e republicanas.

- O sistema urbano brasileiro apresenta-se como

riquíssimo patrimônio nacional. Produzido pelo

esforço e possibilidades do povo brasileiro, suas

preexistências ambientais e culturais precisam ser

reconhecidas e valorizadas. Suas dimensões

arquitetônicas, históricas, econômicas, sociais e

políticas são bases fundamentais e indispensáveis

para o desenvolvimento do país.

1. Sob o ponto de vista urbano-ambiental e

habitacional

1.1. O IAB afirma:

Habitação, ocupação do território e mobilidade são

funções indissociáveis na promoção da qualidade

urbana. Na cidade contemporânea, essa relação

também é determinante na constituição da questão

ambiental.

O Brasil urbano apresenta um elevado passivo

socioambiental e urbanístico. As cidades possuem

baixa cobertura de saneamento e os seus sistemas

hídricos se encontram comprometidos; o lixo urbano

tem destinação inadequada.

As favelas e os loteamentos, produzidos pela

poupança das famílias em busca da inserção na vida

urbana, constituem-se em fundamental patrimônio

urbano e cultural, que requer a implantação das

infraestrutruras, dos serviços públicos e a

regularização fundiária. O enfrentamento desse

passivo é demanda de interesse geral.

O modelo rodoviarista adotado pelas cidades

brasileiras está esgotado. Hegemônico nos últimos

cinquenta anos, ele é poluidor, gastador de energia

e estimulador da expansão urbana sem limites.

A implantação de grandes empreendimentos

imobiliários dissociados do meio urbano, seja de

iniciativa privada ou pública, reforça a dispersão, a

fragmentação e a segregação socioespacial das

cidades brasileiras.

Tal expansão rodoviarista e esse modelo de

dispersão são irmãos siameses e incompatíveis com

a promoção de cidades cultural e ambientalmente

sustentáveis.

As famílias têm o direito de decidir sobre a moradia.

A expectativa de demanda de 15 milhões de

moradias nos próximos dez anos, formulada pelo

Ministério das Cidades, precisa ser atendida por

variados modos de produção habitacional, para que

as famílias exerçam o principal papel na decisão de

onde, como e em que condições construirão ou

comprarão a sua moradia.

Políticas públicas de habitação devem criar

mecanismos democráticos de acesso à terra

urbanizada em áreas consolidadas, privilegiando a

construção de moradias em terrenos inseridos no

tecido urbano e com variedades tipológicas,

flexibilidade de uso e crescimento, para atender às

diferentes faixas de renda e evitar a criação de

enclaves sociais segregadores e monofuncionais.

O atendimento à demanda habitacional também

precisa estar em sintonia com a adoção de políticas

de mobilidade e de urbanismo que impeçam a

expansão predatória do território das cidades.

Obras habitacionais não devem ser fator de

estímulo à expansão e espraiamento urbano.

Programas como o “Minha Casa Minha Vida” devem

financiar obras que estejam localizadas dentro do

tecido urbano consolidado.

Page 20: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

uma agenda para as cidades17

1.2. O IAB propõe:

A criação de uma Meta Nacional de Urbanização de

assentamentos populares - favelas e loteamentos

que evidencie o compromisso coletivo de enfrentar o

passivo sócio-ambiental-habitacional, reconhecendo

os assentamentos informais de favelas e

loteamentos como morfologias urbanas específicas

e neles implantando as infraestruturas, bens e

equipamentos públicos necessários à vida urbana. O

enorme esforço feito pelas famílias na produção de

suas moradias deve ser complementado pelo

investimento coletivo na produção de cidade.

A formulação de um Programa de Universalização do

Crédito Imobiliário diretamente às famílias, segundo

suas condições econômicas, acessível e sem

burocracia, independentemente das construtoras,

que lhes permita escolher onde morar, como

comprar ou construir sua habitação.

Implementar a Assistência Técnica como política

pública de Estado, seja para construção ou melhoria

da casa, seja para a eliminação de riscos

geotécnicos, ambientais e construtivos, dando

consequência à Lei 11.888/08.

2. Sob o ponto de vista da mobilidade urbana

2.1. O IAB afirma:

A mobilidade é um direito cidadão e essencial na

promoção do desenvolvimento. A sociedade

contemporânea tem se caracterizado pela promoção

de um progressivo processo de intercâmbio

mediante o fluxo de pessoas, bens e serviços. A

complexidade da vida urbana exige um conceito de

mobilidade amplo e integrado.

Nas grandes cidades brasileiras o quadro é de

crescentes restrições à mobilidade dos cidadãos. O

privilégio ao transporte rodoviário alcançou o

impasse, em prejuízo de todos, mas, em especial,

dos mais pobres, que dependem do transporte

público. O país precisa trocar o modelo rodoviarista,

que gasta 14 vezes mais recursos públicos em

transporte individual do que em transporte

coletivo.

A mobilidade baseada em transporte público

ef ic iente é elemento essenc ial para a

democratização das cidades. O desafio é garantir

amplas condições de mobilidade nas grandes cidades

e situa-la em patamar de qualidade e conforto

compatível com as possibilidades político-

econômicas contemporâneas.

A cidade deve assegurar uma multiplicidade de

modais de transporte que tenham sentido do ponto

de vista econômico, sociocultural e ambiental,

incluindo a melhora do espaço público para o uso

confortável e seguro de pedestres.

É claro: pedestre antes que carro; calçada antes

que rua; espaços públicos antes que obras de

trânsito; transporte público antes que privado.

A mobilidade induz a cidade que se quer, não é

apenas consequência da cidade que se faz.

2.2. O IAB propõe:

Condicionar o investimento público à existência de

Planos Urbanos e Metropolitanos de Mobilidade,

elaborados conforme princípios e diretrizes da

Política Nacional de Mobilidade Urbana. Os

investimentos públicos em mobilidade precisam

orientar-se à melhora do transporte coletivo e não

ao sistema viário urbano. Asfalto não é mobilidade.

Planos de mobilidade para as cidades brasileiras

devem ser parte do processo permanente de

planejamento, no âmbito de uma gestão democrática

e participativa, que garantam voz ao usuário do

transporte.

Page 21: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

uma agenda para as cidades18

Privilegiar o transporte público de alta capacidade

– metrô, ferrovia e hidrovia – articulado a rede

intermodal, que atenda aos deslocamentos casa-

trabalho e à diversificação de motivações,

característica da contemporaneidade.

Garantir o espaço público de pedestres, com

calçadas seguras e acessíveis. Implantar sistemas

de ciclovias como alternativa de transporte, metas

também desejáveis para o aumento da qualidade de

vida e de saúde da população.

Criar Fundo Financiador de Estudos de Mobilidade,

no âmbito do governo federal, articulado a estados

e municípios. Parte dos impostos cobrados na

produção e no financiamento para automóveis deve

ser destinada a esse Fundo.

3. Sob o ponto de vista da inclusão social

3.1. O IAB afirma:

As grandes cidades brasileiras apresentam as

maiores desigualdades sociais e os piores índices de

miséria, não obstante proporcionarem, também, o

desenvolvimento e a prosperidade.

A escassez e má distribuição dos serviços públicos,

inclusive o de segurança, reforça a desigualdade

social. Parcelas importantes da população brasileira

ficam à margem do Estado democrático de direito,

sem as garantias constitucionais, submetidas a

regime discricionário imposto pelo crime organizado.

A ocupação extensiva e rarefeita do solo urbano

dificulta e posterga a necessária universalização

dos serviços públicos.

Novas construções devem estar inseridas no tecido

urbano preexistente, evitando ampliar a área

ocupada pela cidade – diferentemente do que fazem

os privilégios aos negócios imobiliários, sejam de

iniciativa privada ou pública.

Adequadas condições de moradia, de mobilidade, de

equipamentos públicos de educação, saúde e lazer

são condicionantes para a redução da desigualdade

social.

3.2. O IAB propõe:

Compromisso nacional e local pela universalização

dos serviços públicos indispensáveis à vida urbana

contemporânea, tais como o saneamento, o

transporte público e a segurança.

Criação de um serviço específico de monitoramento

desse compromisso, vinculado preferencialmente

aos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais da

Cidade.

Urbanização dos assentamentos populares, favelas

e loteamentos - acompanhada por equipamentos

públicos de alta qualidade arquitetônica, em reforço

à dignidade cidadã, com alternativas culturais,

econômicas e de inserção social das populações

beneficiadas, para que as mesmas aí possam se

desenvolver.

Políticas públicas – planos e projetos – devem

garantir o direito à cidade a toda sociedade de

forma plena, reconhecendo as preexistências e

preservando o ambiente para gerações futuras.

4. Sob o ponto de vista do espaço urbano

4.1. O IAB afirma:

A cidade é constituída historicamente para a

interação social. O espaço público, livre, acessível a

todos, é o lugar do encontro e das diferenças. Essa

é a condição essencial a ser preservada na

dimensão da sustentabilidade urbana.

Os fatores econômicos nem sempre determinam a

forma que assume a cidade. Mas o espaço, muitas

vezes, é que dá forma às relações sociais, podendo

Page 22: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

uma agenda para as cidades19

piorar ou melhorar a experiência social.

A composição da forma edificada define o espaço

urbano. A desejada vitalidade do espaço urbano

como lugar do encontro também é determinada pela

diversidade funcional e pela adequada composição

entre construções e áreas públicas.

A composição do espaço urbano é uma função do

coletivo, por isso uma prerrogativa do Estado, que

se legitima na busca pelo melhor ambiente. Essa

prerrogativa não deve ser terceirizada ou vendida.

Isto é, não cabe à iniciativa privada definir a forma

urbana.

O Centro das cidades representa o território da

cidadania, símbolo do espaço democrático e lugar de

expressão da diversidade. Os centros precisam ser

permanentemente cuidados e valorizados nas

decisões locacionais dos principais equipamentos

sociais e de representação, para evitar seu

esvaziamento simbólico, econômico e político.

4.2. O IAB propõe:

Cada cidade precisa ser permanentemente

projetada.

Essa é uma tarefa para quadros técnicos estáveis,

considerados como função de Estado – não de

governo.

Cada cidade é única; embora as cidades detenham

características e problemas em comum, suas

especificidades devem ser valorizadas. O desenho

urbano é uma ferramenta não apenas para se

construir o espaço, mas para pensar soluções.

Propor uma visão para o futuro da cidade não é

ficar só no terreno das ideias, é cruzar escalas e ir

ao detalhe.

O desenho urbano e o seu acompanhamento

precisam ser responsabilidade dos “arquitetos da

cidade”, funcionários públicos integrantes de

quadro estável da administração. Mas é a

participação da sociedade que dá legitimidade ao

desenho.

O espaço urbano de qualidade é lugar com

vitalidade, de tipologias e usos múltiplos, sem

monofuncionalismo e anti-segregação.

A formulação de Programas de recuperação de

Áreas Centrais que possam valorizar o patrimônio

histórico e arquitetônico existente e qualificar os

espaços públicos, através da inserção de moradia e

de empreendimentos de usos diversificados.

5. Sob o ponto de vista da gestão das cidades

5.1. O IAB afirma:

As cidades brasileiras têm sido construídas à

margem de estudos e de planejamento, sem

articulações institucionais. Isso é comprovadamente

danoso à busca pela equidade no acesso e usufruto

da cidade.

As cidades metropolitanas têm se ressentido da

ausência de estatuto próprio e de políticas que

articulem seus problemas essenciais: mobilidade,

habitação, saneamento, saúde e educação.

A falta de planejamento de médio e longo prazo

aumenta o discricionarismo nas decisões sobre a

cidade, seus custos e sua ineficiência, ao tempo em

que sobrevaloriza a participação do interesse

privado na definição da forma edificada e na

ocupação urbana.

A falta de planejamento leva ao improviso e aos

privilégios na promoção de obras públicas, fatores

agravantes para a baixa qualidade construtiva, o

alto custo das obras, a indução de reajustes e

superfaturamentos, caminho da corrupção.

Page 23: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

uma agenda para as cidades20

A partic ipação cidadã na formulação e

acompanhamento das políticas públicas urbanas é

uma conquista que precisa ser enriquecida, com a

transformação dos Conselhos Nacional, Estaduais e

Municipais da Cidade em órgãos efetivos de

deliberação, e um sistema de informações com

acesso democrático.

5.2. O IAB propõe:

A implantação nos municípios e cidades

metropolitanas de Sistemas de Planejamento

Urbano ou Metropolitano permanentes e

reconhecidos como função de Estado. Isso

pressupõe a articulação entre planejamentos

urbano e metropolitano, parte de um processo

permanente de desenvolvimento regional.

Compor um estatuto próprio para as cidades

metropolitanas, compatível com a dinâmica e a

intensidade de suas especificidades, estabelecido

para além dos papéis constitucionais de municípios e

estados.

As cidades metropolitanas exigem uma atenção

específica. As políticas públicas, o planejamento e a

gestão das cidades metropolitanas demandam

instrumentos democráticos de governança

compartilhados entre estado, municípios e

sociedade.

Os Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano

precisam incorporar a dimensão espacial – o projeto.

Os Planos Diretores são instrumentos

indispensáveis à política urbana, mas suas

determinações precisam ir além da formulação de

diretrizes, índices e desejos. O arquiteto e

urbanista desenha, projeta.

O projeto tem o caráter integrador entre escalas,

materializa ideias, permite o debate, possibilita

transformações.

As obras públicas devem ser licitadas ou

financiadas somente a partir de Projeto Completo,

assegurando a sua independência e integralidade.

Quando a obra pública é licitada a partir do chamado

“Projeto Básico” ou do “Anteprojeto” transfere-se

àempreiteira vencedora da licitação a tarefa de

detalhar e completar o projeto.

A promiscuidade entre projeto e obra é danosa ao

interesse coletivo, demandando a modificação dos

artigos correspondentes da Lei 8.666/93 e da Lei

12.462/2011 (RDC). Quem projeta obra pública, não

constrói.

Garantir-se recursos específicos para o custeio de

Projetos Completos, considerando-os como

investimento autônomo, dissociando-o dos

orçamentos de obras públicas.

Tornar obrigatória a realização de Concurso de

Projeto para obras públicas. Regulamentar o artigo

13, parágrafo 1º, da lei 8.666/93, que considera a

modalidade de concurso como “preferencial”,

determinando que seja obrigatória, de modo a

qualificar a obra pública e garantir a isenção e

autonomia entre projeto e obra.

O Instituto de Arquitetos do Brasil reafirma a sua

convicção no valor das instituições republicanas,

estáveis e democráticas, condição indispensável

para alcançar o desenvolvimento, a inclusão social e

o bem-estar da população, e garantir o Direito à

Cidade a todo cidadão brasileiro.

Quitandinha, Petrópolis, Rio de Janeiro

09 de novembro de 2013

Publicado originalmente na Revista do Instituto de

Arquitetos do Brasil IAB, edição especial nº 82 2014

Page 24: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

decálogo do Q+50: o novo ambiente urbano21

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) contribuiu

para apresentar a pauta da Reforma Urbana no

Brasil, no histórico Seminário de Quitandinha, em

1963. O evento tornou-se um marco da política

urbana brasileira.

Em meio século, a população das zonas urbanas

saltou de 30 para 170 milhões. Surgiram novas

demandas, novos obstáculos e a necessidade de

uma nova agenda urbana. Para se debruçar no tema,

o IAB, ao longo de 2013, realizou, em sete estados

brasileiros, o ciclo de eventos Q+50.

No cinquentenário do primeiro evento de reforma

urbana brasileiro, arquitetos, urbanistas, cientistas

políticos, economistas e outros profissionais de

todo o país fizeram considerações e formularam

propostas para um NOVO AMBIENTE URBANO – mais

democrático e com mais qualidade de vida. A seguir,

as 10 principais considerações e propostas.

Considerações:

1) O desenvolvimento nacional e o desenvolvimento

urbano são interdependentes.

2) Todos os investimentos públicos devem ser

mediados pela cidadania organizada.

3) O avanço da democracia depende da

universalização dos serviços públicos urbanos.

4) Favela é patrimônio urbano e cultural. Portanto,

deve ser urbanizada e regularizada.

5) Asfalto não é mobilidade: o modelo rodoviarista

está esgotado e é incompatível com cidades

ambientalmente sustentáveis.

6) É claro: pedestre antes de carro; calçada antes

de rua; espaços públicos antes de obras de

trânsito; transporte público antes de privado.

7) Construções devem estar na cidade consolidada,

com infraestrutura, sem ampliar a ocupação urbana.

8) Cidades precisam ser permanentemente

projetadas, como função de Estado, e não de

governo.

9) É preciso resgatar a cultura de planejamento e

projetos completos para reduzir custos, aumentar a

qualidade das obras e combater a corrupção.

10) Cidades metropolitanas equilibradas têm

estatuto próprio e de políticas que articulem seus

problemas essenciais: mobilidade, habitação,

saneamento, saúde e educação.

Propostas do IAB:

1) Criação da Meta Nacional de Urbanização de

assentamentos populares: favelas e loteamentos.

2) Elaboração de um Compromisso Nacional e Local

pela universalização dos serviços públicos.

3) Implementar a Assistência Técnica à moradia

popular como política de Estado, fazendo valer a lei

existente.

4) Criação de um Programa de Universalização do

Crédito Imobiliário, diretamente para as famílias,

sem intermediação de construtoras. Juro zero para

Habitação Popular – não só para automóveis.

5) O Programa Minha Casa Minha Vida precisa ocupar

áreas dentro do tecido urbano consolidado, com

variações tipológicas, evitando enclaves sociais

segregadores.

6) Condicionar o investimento público em transporte

à existência de Planos Urbanos de Mobilidade, que

privilegiem o modo de alta capacidade integrado e o

espaço público para pedestres e ciclistas.

7) Criação de Fundo Financiador de Estudos de

Mobilidade.

8) Implantação de Sistemas de Planejamento

Urbano ou Metropolitano permanentes, como função

de Estado.

9) Adequar a lei, obrigando a licitação e

financiamento de obras públicas somente a partir de

projetos completos.

10) Adequar a lei, tornando obrigatória, em vez

de preferencial, a realização de concursos para a

escolha de projetos em obras públicas.

Publicado originalmente na Revista do Instituto de Arquitetos do Brasil IAB, edião especial nº 82 2014

Page 25: Arquitetos em Maringá

arquitetos em maringá

TELEFONES ÚTEISarquitetos em maringá

BARES E RESTAURANTES

01 monte líbano A/J $$$ avenida são paulo, 1476

02 matsuri japanese food J $$ avenida tiradentes, 103

03 boteco do neco J $$ avenida tiradentes, 133

04 taqueria mexicana J $ avenida tiradentes, 211

05 silvan cult grill A/J $$$ avenida tiradentes, 789

06 farol brasil pizza bar J $$ avenida tiradentes, 768

07 casa portuguesa A/J $$$ avenida cerro azul, 214

08 tatoe’s burger A/J $ avenida herval, 230

09 restaurante calçadão A $ avenida getúlio vargas, 50

10 marcos boutique de pão A $$ avenida XV de novembro, 803

11 açukapê café e restaurante A $ rua santos dumont, 2543

12 taberna portuguesa A/J $$$ avenida luís teixeira mendes, 554

praças de alimentação13 shopping maringá park avenida são paulo, 1099

14 shopping avenida center avenida são paulo, 743

H hotel deville

193192

44 999 725 62244 3224 1408

44 999 111 256

bombeiros/siatesamuaníbal

tânia

A almoçoJ jantar

. janeiro de 2017

13

3

1

14

24

89

11

6 5

7

10

12

H

22