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  • 08/05/13 arquitextos 133.07: Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil | vitruvius

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    133.07 ano 12, jul 2011

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    arquitextos ISSN 1809-6298

    Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no BrasilQual o papel da profisso?

    Joo Sette Whitaker Ferreira

    Em sua edio de setembro de 2010, a revista AU Arquitetura e Urbanismo,

    com a qualidade que sempre a caracteriza, nos apresentou 25 jovens

    arquitetos em destaque, que devem ser os profissionais mais

    representativos do Brasil nas prximas duas dcadas.

    A reportagem estimula uma reflexo mais aprofundada. No sobre a qualidade

    dos profissionais escolhidos, evidentemente, todos de indiscutvel talento.

    Mas sobre a lgica que serve para parametrizar o que se considera hoje, no

    Brasil, um arquiteto e, mais ainda, um arquiteto cujo sucesso

    profissional sirva para representar a profisso. No se trata aqui de

    questionar o excelente trabalho da revista, e menos ainda a qualidade

    admirvel do trabalho desses jovens. A questo que coloco neste artigo

    que a brilhante produo de alguns escritrios de arquitetura cujo foco

    de atuao bastante restrito ao reduzido mercado da construo civil que

    (ainda?) se vale da arquitetura no deve ser o nico aspecto de

    representatividade do que seja o sucesso na profisso. H uma necessidade

    premente de iluminar tambm uma outra face da arquitetura e do urbanismo,

    menos vistosa, menos evidente e menos festejada, mas cuja importncia

    fundamental para tirar a profisso do complexo impasse em que se encontra.

    Em outras palavras, cabe a questo: no seria hora de revermos nossos

    ideais de sucesso profissional, que no Brasil parecem reduzir a questo to

    somente a uma arquitetura autoral por vezes excelente destinada quase

    que invariavelmente aos estratos sociais de alta renda? Pois, em que pesem

    excees (1), no h como negar que esse o perfil que aparece,

    nitidamente e majoritariamente, quando percorremos o que se considera a

    atual produo arquitetnica de sucesso no nosso pas. O que fez um

    colega arquiteto europeu tecer-me o seguinte comentrio, no isento de

    razo: a arquitetura brasileira fenomenal, mas aparece para ns como uma

    133.07

    sinopses

    como citar

    idiomas

    original: portugus

    compartilhe

    133

    133.00

    Ambiguity in literature

    and architecture

    A reading of

    Shakespeares wordplays

    against Palladios and

    Michelangelos

    architecture

    Junia Mortimer

    133.01

    Anlise grfica, uma

    questo de sntese

    A hermenutica no

    ateli de projeto

    Hilton Berredo e

    Guilherme Lassance

    133.02

    Circuito Cultural

    Sustentvel da Cidade

    de Santo Andr

    Pela via de penetrao

    da rea Urbana at a

    rea de Proteo

    Ambiental

    Maria Rosana Ferreira

    Navarro

    133.03

    Programa Minha Casa

    Minha Vida: a (mesma)

    poltica habitacional

    no Brasil

    Denise Morado

    Nascimento e Simone

    Parrela Tostes

    133.04

    Arranha-cus: evoluo

    e materialidade na

    urbanizao mundial

    Carlos Cassemiro

    Casaril, Ricardo Luiz

    Tws e Cesar Miranda

    Mendes

    133.05

    Salvar Brasilia

    Ral Pastrana

    133.06

    Jardins Verticais uma

    oportunidade para as

    jornal

    notcias

    agenda cultural

    rabiscos

    eventos

    concursos

    seleo

    email do leitor

    Conjunto Helipolis I, arquiteto Luis Espallargas Gimenez

    (Habi/Sehab)

    Foto Luis Espallargas Gimenez

    1/4

    em vitruvius

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    arquitetura apenas de casas chiques, e quando no, de prdios habitacionais

    e comerciais de luxo.

    Esta espcie de endeusamento da arquitetura autoral de talento genial

    limita o horizonte de perspectivas dos nossos estudantes e lhes apresenta

    como nica alternativa um mundo de alta competitividade, angustiante, no

    qual aparentemente alcanar o sucesso apenas um pequeno grupo de eleitos.

    Tal postura no uma caracterstica nossa, no Brasil, mas da arquitetura

    em geral. A glorificao de alguns grandes nomes da arquitetura mundial,

    que formam uma espcie de invejado jet-set da profisso, alimenta ainda

    mais o fenmeno. Curiosamente, grandes nomes da arquitetura nacional

    recentemente manifestaram publicamente seu temor face invaso do nosso

    mercado por parte desses papas da profisso, quando na verdade essa

    apenas a conseqncia de uma lgica que eles mesmos sempre ajudaram a

    alimentar.

    Alm do mais, o festejo em torno da produo autoral, por natureza

    competitiva, acaba por esconder uma maioria de profissionais de

    escritrios, com produo significativa, que batalha arduamente para

    sobreviver dignamente com a profisso da arquitetura, mas que esse funil

    seletivo no colocou no olimpo dos grandes arquitetos. Por mais que se

    queira, a avaliao do que digno ou no de estar nesse altar no tem como

    no carregar uma forte dose de subjetivismo.

    Conjunto habitao de interesse social pelo MCMV, Rio Branco

    Foto divulgao [Acervo LabQuap FAU USP]

    A alta competitividade e as poucas oportunidades de trabalho, decorrentes

    do tamanho reduzido do mercado formal da construo, associado ao grande

    nmero de profissionais (s na Grande So Paulo formam-se, provavelmente,

    mais de 1000 arquitetos/ano) e ao desprestgio da profisso junto s

    construtoras, fazem com que a vida desses escritrios no seja propriamente

    fcil. Como me disse outro colega, escritrio de sucesso no Brasil

    aquele que no fecha, e manter financeiramente suas estruturas funcionais

    no tarefa simples. Por isso, talvez, o alto grau de informalidade que

    marca a profisso, tanto para os arquitetos quanto para a mo-de-obra de

    construo contratada, e o uso abusivo de estudantes estagirios de

    arquitetura como mo-de-obra barata, que no generalizado, mas bastante

    recorrente.

    Uma bem intencionada exposio de arquitetura realizada em 2010 em So

    Paulo, denominada A boa arquitetura de uma gerao (2), levada aos alunos

    da FAU Mackenzie durante uma semana no saguo principal da escola, tinha

    como objetivo estimular a reflexo sobre a importncia do trabalho

    desenvolvido por um grupo de 18 profissionais, arquitetos-professores de

    renome nacional e mundial, e sem dvida importantes representantes de uma

    gerao que muito construiu e transformou as paisagens urbanas brasileiras

    nas ltimas dcadas do sc. XX (embora tal gerao no se limite,

    evidentemente, a 18 arquitetos apenas). Ora, pela proposta da mostra, era

    de se esperar que estimular a reflexo para um pblico de estudantes

    significasse esmiuar minimamente a volumosa produo desses arquitetos,

    alm de procurar explicar em mais detalhes seus pensamentos. Porm, o que

    se apresentou resumiu-se a um painel com uma nica foto de uma obra, um

    croqui autoral, e uma frase, paramentada por uma estilosa assinatura.

    Claro, pode-se argumentar que o intuito da mostra era apenas o de estimular

    os estudantes a pesquisar mais a produo dessa gerao. Ainda assim, o que

    se sobressai da iniciativa acaba sendo, mais uma vez, o endeusamento da

    arquitetura autoral, de 18 arquitetos eleitos, pela qual um croqui, uma

    frase e uma assinatura parecem bastar para explicar o que seja a boa

    arquitetura.

    O caminho no esse, embora se possa entender que a gerao em questo

    produziu em uma poca em que o mercado da arquitetura, ainda muita

    limitado, podia talvez se resumir produo de algumas dezenas de grandes

    profissionais. O problema est em reproduzir esse pensamento para as

    geraes futuras, cujo universo de atuao completamente diferente, muito

    mais amplo, mais complexo, no cabendo mais apenas na prancheta de alguns

    grandes escritrios. Porm, nossos jovens continuam aprendendo que este o

    nossas cidades?

    Carlos Smaniotto Costa

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    modelo a seguir.

    Faamos uma verificao bastante simples: nas seis edies das duas mais

    importantes revistas de arquitetura do pas, as revistas AU e Projeto,

    entre fevereiro e agosto de 2010, excetuando-se os nmeros especiais sobre

    Braslia, dos 69 projetos brasileiros apresentados (no foram somados os

    oito projetos internacionais), temos dezesseis de residncias de alto

    padro e 28 de estabelecimentos comerciais para o mercado de alta renda, ou

    seja 63% do total. Fogem regra dois estabelecimentos industriais e, bom

    sinal, os 28 de edifcios pblicos (museus, bibliotecas, escolas, estaes,

    etc.). Prova de que ao menos os projetos institucionais de uso pblico

    ganharam espao, e que os concursos para os mesmos aumentaram. Porm, vemos

    apenas quatro referncias (projetos ou textos analticos) a questes de

    urbanizao, e somente um projeto 0,1% do total! de habitao

    econmica, aquela voltada classe mdia-baixa. No h nenhum projeto de

    habitao social (para renda abaixo de 3 salrios-mnimos), nenhum projeto

    no mbito do PAC Assentamentos Precrios em andamento, nenhum projeto do

    Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), nenhum projeto de companhias

    pblicas, de assessorias de mutires. Esse mundo da habitao de

    interesse social, da informalidade urbana (generalizada), simplesmente

    parece no pertencer ao mundo da arquitetura.

    Conjunto do MCMV em So Paulo para o segmento econmico

    Foto Helena Galro Rios [LabHab]

    Em outras palavras, o universo em que se coloca a atuao do arquiteto no

    Brasil fenomenalmente reducionista. No seria hora de ampli-lo?

    No estaramos, ao exacerbar cada vez mais o culto atividade profissional

    autoral destinada alta renda, correndo o risco de limitar perigosamente

    nosso campo de atuao a um mercado que estruturalmente reduzido? No

    estaramos nos arriscando a repetir os erros do passado que levaram nossa

    profisso a se distanciar da realidade urbana brasileira, uma tragdia em

    que quase a metade da populao sequer tem acesso casa, quanto menos

    arquitetura?

    Pois disso que se trata: da constatao de que a arquitetura brasileira,

    no obstante seu inegvel sucesso internacional, fracassou no seu papel

    social. a nica concluso que se pode tirar ao olhar para um pas onde,

    em mdia, 40% da populao urbana vive precariamente, sem arquitetura nem

    urbanismo. Uma tragdia, que deveria tirar o sono dos arquitetos. A

    arquitetura e o urbanismo, quando vistos como uma profisso central na

    sociedade, que reflete e prope a organizao do territrio e do espao

    construdo, tem uma vocao indiscutivelmente transformadora. Porm, para

    alm das boas obras de autores individuais, ela indiscutivelmente no foi

    capaz de sustentar uma urbanizao decente no nosso pas.

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    Bairro de Massaranduba (Alagados), Salvador BA

    Foto divulgao [Acervo LabQuap FAU USP]

    No bastasse seu fracasso na construo de cidades mais justas, tambm no

    universo da formalidade, da cidade legal, onde funciona o mercado

    imobilirio de maior capitalizao e, portanto, o mercado dos arquitetos

    a arquitetura parece no ter mais muito o que falar. Apesar das

    expectativas colocadas sobre os ombros da nova gerao de escritrios de

    arquitetura, parece que sua fora para influenciar a produo em massa do

    mercado da construo nas nossas cidades extremamente limitada. Na maior

    parte dos casos, a arquitetura parece ter-se reduzido a um formalismo de

    fachada, que escamoteia por trs da falsa polmica dos estilos adotados

    (neoclssicos ou outras denominaes) a negao de tudo aquilo que se

    aprende na faculdade como sendo a boa arquitetura. A arquitetura que

    impera a da extrema verticalizao capitaneada pelo mercado imobilirio,

    a transfigurar sem culpa bairros tradicionais, produzindo prdios isolados

    no lote, cercados e murados, que renegam a rua e a cidade. A opo

    desenfreada pelo modelo do automvel em detrimento de sistemas de

    transporte coletivos que a arquitetura endossa alegremente alimenta a

    oferta generalizada de unidades habitacionais com s vezes mais de dez

    vagas de garagem (!), o que leva impermeabilizao total do solo,

    afetando sem parcimnia a drenagem urbana e o escoamento de guas. Os

    apartamentos oferecidos, por trs de algum estilo sedutor, esto cada vez

    menos generosos, mais apertados, menos ventilados, substituindo preciosos

    metros quadrados nas unidades habitacionais por espaos coletivos no

    trreo, bem mais econmicos (para as construtoras), sob o glamour das

    denominaes da moda: espaos gourmets, fitness-centers, etc. A lgica de

    construir condomnios murados com equipamentos de lazer e at comrcio, ao

    invs de se abrir para a cidade, produz uma malha urbana segmentada, pouco

    fluida, e que vai aos poucos aniquilando a possibilidade de espaos

    pblicos de qualidade. Praas, jardins e rvores para que, se possvel

    ter tudo isso de maneira exclusiva, nas mini-cidades, ou cidadelas

    fortificadas, que se tornaram os condomnios?

    De quem a culpa?

    Mas antes de aprofundar essa discusso, vale uma observao: no se trata

    aqui, de forma nenhuma, de colocar a culpa nos arquitetos de escritrios,

    menos ainda nas revistas de arquitetura. No h nenhum problema e at

    muito positivo que a produo arquitetnica de um pas tenha uma grande

    participao de escritrios voltados ao mercado formal e de alta renda, com

    um enfoque mais autoral.

    O problema est em alimentar a ideia de que a arquitetura autoral de

    sucesso (por conseguir publicar projetos nas revistas), a nica faceta

    da profisso digna de destaque, a atividade de referncia na arquitetura,

    e que o atendimento ao mercado de alto padro a nica alternativa para

    trilhar um caminho profissional de reconhecimento e sucesso.

    Tal viso, alm do mais, transforma o limitado mercado dos escritrios em

    um verdadeiro campo de caa de oportunidades rarefeitas. O predomnio do

    mercado imobilirio que pouco atenta para a arquitetura e a alta

    competitividade decorrente fazem com que mesmo no mundo dos escritrios, a

    vida no seja simples. comum ver arquitetos com anos de experincia

    tendo, na prtica, que pagar para trabalhar. Ou aceitando remuneraes

    pfias para poder exercitar a arquitetura. Isso no pode estar certo, e

    alimenta ainda mais a necessidade de uma profunda reviso da percepo do

    que o nosso universo profissional.

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    Conjunto do segmento econmico em Manaus

    Foto divulgao [Acervo LabQuap FAU USP]

    Se a culpa desse desvio das expectativas em torno da profisso no

    (somente) dos arquitetos e da imprensa, porque esta uma

    responsabilidade coletiva. A extrema centralizao em torno de um nico

    modelo profissional apenas o reflexo de um processo social pelo qual a

    profisso da arquitetura colocou-se em uma posio de elitizao e de

    afastamento da realidade urbana, como decorrncia do longo perodo de

    autoritarismo e de polticas econmicas de extrema concentrao da renda. A

    culpa de cada um e de todos ns que reproduzimos ad infinitum essa

    lgica social elitista e segregadora em todas as instncias econmicas,

    culturais e polticas e no s no mbito urbano/arquitetnico. A culpa de

    toda a sociedade que considera cidade apenas a cidade do mercado, a

    cidade oficial e formal. Que se recusa a enxergar o caos urbano e social, o

    apartheid assustador dos bairros que no so nobres. A culpa dos

    governos, que atentam somente par essa cidade dos mais ricos, que insistem

    em polticas para eles apenas, por exemplo construindo mais viadutos,

    tneis e vias expressas exclusivas para os carros individuais em detrimento

    de investimentos pblicos para toda a populao. A culpa tambm das

    universidades, que formam arquitetos orientados para uma nica perspectiva

    profissional e alimentam o culto arquitetura autoral; a culpa das

    entidades representativas da classe, que pouco discutem a democratizao da

    profisso, e assim por diante.

    claro, se a culpa de todos, por outro lado no se pode generalizar: h

    arquitetos autorais que tentam de todas as formas entrar no campo de

    atividades mais voltadas democratizao da cidade, mas se veem frente a

    muros intransponveis de burocracias, fisiologismos e impedimentos de todos

    os tipos. H arquitetos que fazem arquitetura social de qualidade h muitos

    anos, mas no conseguem furar a fora do pensamento dominante que festeja

    outro tipo de arquitetura e desconsidera a moradia popular como um problema

    dos arquitetos. H nmeros especiais das revistas especializadas sobre

    habitao popular, embora raros, que mesmo que de forma efmera, trazem o

    problema tona como para lembrar que ele sim, ou deveria ser, objeto da

    arquitetura.

    Conjunto do segmento econmico em So Paulo

    Foto Fernando Boari [LabHab]

    A questo que tais atitudes no so nem maioria, nem fceis, porque

    enfrentam um pensamento dominante que, seja conscientemente (o pior), seja

    simplesmente por inrcia (o menos pior), reproduz e divulga permanentemente

    a viso da sociedade de elite, exclusivista e segregadora. Em suma, o

    Brasil um pas exacerbadamente elitizado, que precisa urgentemente

    comear a mudar essa situao. Suas cidades, que so o reflexo no espao

    dessa sociedade desequilibrada, tambm precisam urgentemente mudar.

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    Isso porque o Brasil est se transformando. Porm, paradoxalmente, o

    crescimento econmico, to festejado, muitas vezes escamoteia o acirramento

    das tenses econmicas e sociais. Nas cidades, se no for controlado, o

    crescimento acelerado significa, tambm paradoxalmente, o aumento da

    destruio ambiental e dos problemas urbanos. Pois nosso modelo de

    urbanizao, que se intensifica neste momento de euforia de crescimento,

    continua sendo o da impermeabilizao das cidades, da verticalizao

    excessiva e no regulamentada nem planejada, dos grandes condomnios

    fechados que renegam o espao pblico e a cidade, dos investimentos virios

    em detrimento do transporte pblico de massa, dos sistemas de esgotamento e

    drenagem insuficientes, da ocupao descontrolada das periferias, e assim

    por diante.

    O resultado desse modelo, estranhamente, ainda choca os brasileiros a cada

    ano, nas chuvas de vero, como se fossem novidade os desabamentos que

    tragicamente, mas invariavelmente, se repetem sem que nada seja

    verdadeiramente feito para evita-los. Nossas grandes cidades so poludas,

    imobilizadas pelos congestionamentos, vulnerveis s enchentes, propcias

    violncia urbana pelo demasiado nmero de ruas ermas e isoladas por muros

    interminveis de condomnios, espaos abandonados, praas esquecidas.

    Nossas cidades inspiram medo, elas so, por si s, uma violncia. Como lhes

    falta aquilo que chamamos de arquitetura e urbanismo!

    Conjunto do MCMV em So Paulo para o segmento econmico

    Foto Helena Galro Rios [LabHab]

    Neste momento estratgico, em que parecemos alcanar a modernidade, mas

    talvez sem perceber que talvez as cidades implodam antes dela chegar,

    coloca-se uma dupla e antagnica possibilidade: a de, por um lado,

    descobrirmos uma nova forma de fazer cidades, ou por outro, de continuar a

    reproduzir e exacerbar cada vez mais o caminho da barbrie urbana. Os

    arquitetos como classe profissional coesa e socialmente atuante

    deveriam ter sim muito que opinar sobre o assunto.

    A arquitetura no novo mercado econmico brasileiro

    Alguns estudos recentes, dentre os quais se destacam os de Tnia Bacelar,

    da UFPE, de Maria da Encarnao Esposito, da Unesp, e tambm uma importante

    produo dos pesquisadores do IPEA, mostram que h uma mudana ocorrendo na

    equao das migraes internas e na conformao das redes de cidades, com

    um novo papel de protagonismo regional das cidades mdias, cuja populao e

    PIB crescem mais do que as outras cidades brasileiras, inclusive as

    metrpoles. Esse fenmeno se relaciona, ao que tudo indica, com o

    crescimento substancial da chamada classe C, que teria passado entre 2005 e

    2010, de 62,7 milhes para 92,8 milhes de pessoas, ou um aumento de 50% em

    cinco anos (3). Isso faz com que a produo do espao edificado nessas

    cidades esteja, por sua vez, em franco aquecimento, sendo bastante focado

    ao atendimento das classes mdia e alta.

    Porm, o que se publica e se difunde sobre a arquitetura brasileira mostra

    uma preferncia inegvel para o que se faz nas grandes capitais, com nfase

    para So Paulo e Rio de Janeiro, e com pouca visibilidade para uma eventual

    produo arquitetnica mais espraiada pelo conjunto do territrio e nas

    cidades mdias e pequenas. Devemos crer que o mundo da arquitetura no

    Brasil no existe para alm das fronteiras das nossas maiores metrpoles?

    A realidade que se expressa na atuao crescente dos organismos de

    representao de classe em regies antes menos visveis no cenrio

    arquitetnico, mostra que sim, a atividade arquitetnica est em

    desenvolvimento, acompanhando o aquecimento do mercado e o crescimento das

    cidades mdias. Porm, ela no est conseguindo colocar-se como um ator

    relevante nesse processo: quem acompanha o cenrio da construo pode

    verificar o domnio do mercado imobilirio, com pouca ou nenhuma ateno

    para a arquitetura, transferindo para as cidades mdias as mesmas

    metodologias predadoras de cidade, verticalizantes a qualquer custo,

    focadas sobretudo no lucro e no na perspectiva de uma alternativa urbana

    mais humana. comum ver em cidades mdias e pequenas a chegada da

    modernidade traduzida pelo simples aparecimento de prdios, de pobre

    arquitetura, que no estabelece relao com os processos construtivos,

    pouco adequada nossa tradio e que busca ornamentao em elementos

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    formais importados. Ao mesmo tempo, cidades do porte de Joinville ou

    Guarulhos tem menos de 20% de cobertura de esgoto, a canalizao de

    crregos e a impermeabilizao do solo continuam predominando, polticas

    para os automveis em detrimento do transporte pblico so a regra,

    bairros exclusivos que segregam os mais pobres ainda ditam a conformao do

    espao urbano. Em suma, reproduz-se pelo pas o desastre urbano e ambiental

    que so nossas grandes cidades. E a arquitetura, como se coloca frente a

    isso?

    Nesse processo que se intensifica, e apesar do esforo louvvel de cada vez

    mais gente, a arquitetura, tradicionalmente bastante menosprezada pelo

    mercado, tem visveis dificuldades em impor um novo padro qualitativo de

    reflexo sobre o urbano. Mas este no deveria ser um novo e frtil campo de

    debates, de posicionamentos e de possibilidades para a profisso,

    inspirando uma mobilizao dos profissionais para a popularizao de uma

    produo arquitetnica generalizada e profissionalmente organizada? Que no

    seja reprodutora, na escala das cidades menores, de uma dinmica j gasta e

    um tanto omissa, limitada opo entre a no-arquitetura do mercado

    imobilirio ou a elitizada arquitetura de grife, quando esta consegue a

    duras penas furar o mercado, mas acaba compactuando, mesmo que

    involuntariamente (mas nem sempre), com esse modelo?

    importante entender que o aquecimento da produo imobiliria destinada

    s classes mdias no surgiu do nada, mas decorre de algumas transformaes

    econmicas recentes, nas quais em regra geral os arquitetos, alis, tambm

    pouco se implicaram, enquanto uma categoria que deveria ter o que opinar

    sobre o assunto. Pode-se dizer, grosso modo, que tais mudanas comearam em

    2006, com a modernizao da legislao para o setor de investimentos

    imobilirios, destravando alguns gargalos histricos, e com decises

    governamentais especficas que colocaram no mercado, somente naquele ano,

    cerca de R$ 8 bilhes para crdito imobilirio oriundos da poupana (4).

    Alm disso, a Lei de Alienao Fiduciria, e a Lei de Incorporao

    Imobiliria (ou Lei de Patrimnio de Afetao), deram segurana ao mercado,

    que evidentemente se reaqueceu, atraindo inclusive investidores externos.

    Por fim, a queda na taxa de juros elevou sensivelmente a oferta de crdito

    imobilirio, embora esta ainda seja no Brasil extremamente tmida em

    relao aos patamares dos pases desenvolvidos, dada a caracterstica

    restritiva do nosso mercado, extremamente concentrador da renda.

    Em decorrncia disso, o mercado imobilirio brasileiro iniciou pela

    primeira vez um importante movimento no sentido de ampliar sua produo

    para faixas de renda intermediria, j que a sua tradicional e quase que

    exclusiva faixa de atuao, a fatia AAA do mercado, de alta renda, tornara-

    se subitamente pequena para tanto crdito disponvel. Muitas construtoras

    abriram ento subsidirias para atuar no que passaram a chamar de segmento

    popular ou econmico, embora ele esteja muito longe da populao de

    baixa renda, mas se refira a uma mercado capaz de pagar entre R$ 80 mil e

    120 mil por um imvel residencial.

    No mesmo embalo, no ano de 2009, em resposta crise econmica mundial, o

    Governo Federal lanou um programa indito de financiamento habitacional, o

    Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), com o ambicioso objetivo de

    produzir um milho de casas. O programa tinha a inteno declarada de

    aquecer a atividade da construo civil, e por isso foi moldado para

    atender preferencialmente essas construtoras privadas do mercado popular

    (5).

    O volume de produo atual decorrente do programa significativo. Pode-se

    dizer sem medo que o pas h anos no via tal movimentao na construo

    civil, e nunca certamente to maciamente voltada a essas faixas de renda.

    Segundo alguns dados disponveis, j so mais de 150 mil unidades

    habitacionais construdas. As obras contratadas ultrapassam as 500 mil

    unidades, repartidas entre as faixas de 0 a 3 salrios-mnimos (cerca de

    55%) e de 3 a 10 (os outros 45%). O que novo o fato de que uma boa

    parcela destas, cerca de 37% esto situadas na regio Norte, uma proporo

    equivalente ao Sudeste, o que ratifica a desconcentrao da produo que

    apontamos acima. Outro dado que corrobora a afirmao sobre o novo papel

    das cidades-mdias que nelas se localiza cerca de 25% dessa produo (6).

    O Programa Minha Casa Minha Vida d s construtoras, como dito, um papel

    central: acima de 3 salrios mnimos, so elas que incorporam, diretamente

    vinculadas instituies financeiras privadas, que acessam os crditos do

    programa. Nas faixas de 0 a 3, as prefeituras passam a ter um papel

    importante, assim como a Caixa, j que so elas que definem os

    empreendimentos, eventualmente (ou muitas vezes) cedem a terra, e

    intermedeiam os emprstimos da Caixa. Mas mesmo neste caso so as

    construtoras as responsveis pela construo dos conjuntos. E a observao

    emprica dessa produo mostra que mais uma vez estas no parecem lembrar-

    se salvo poucas excees da existncia e da importncia dos arquitetos,

    em qualquer que seja a faixa de renda. A qualidade arquitetnica e

    urbanstica no foi incorporada produo desse mercado popular privado,

    dentro ou fora do mbito do Minha Casa Minha Vida. O que se v so

    conjuntos enormes, montonos pela repetio infinita de tipos

    habitacionais, com um padro construtivo de baixa qualidade arquitetnica.

    Um estudo realizado pelo LabHab-FAUUSP e pela Fundao Gerdau, ainda

    indito, denominado Produzir casas ou construir cidades: desafios para um

    novo Brasil urbano, levantou o estarrecedor cenrio do boom da construo

    civil ligado ao novo segmento econmico. Nele, mostramos que nos

    empreendimentos verticalizados, as construtoras optam por tipologias em H

    ou outras variaes trazidas da habitao social da poca do BNH, com a

    mesma pouca qualidade construtiva e arquitetnica, dando-lhes certo

    glamour de mercado, graas utilizao de cores permitidas pelos novos

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    materiais de revestimento, ou ainda ao uso dos mesmos equipamentos que

    seduzem os empreendimentos de alto padro: espaos gourmets, fitness

    centers e afins. Economizam-se preciosos metros quadrados em cada unidade,

    para em troca gastar uns trocados em um fogo ou algumas mquinas de

    ginstica; erguem-se muros com cercas eltricas, colocam-se guaritas, tudo

    para criar um sentimento de ascenso social que dinamize as vendas. O

    questionvel padro urbanstico dos bairros ricos passou a servir de modelo

    na proliferao dos novos bairros de classe mdia.

    Assim, vendem-se apartamentos de menos de 50m por cerca de 100 mil reais,

    dando populao que antes nunca imaginaria ter casa prpria a realizao

    de um sonho, a sensao de se estar vivendo como os ricos. O que poderia

    ser bom torna-se, porm, exageradamente caro, com um padro esttico mais

    do que questionvel. Pior, a maioria das construtoras carimba um mesmo

    projeto indiscriminadamente em qualquer regio, sem nenhuma preocupao com

    a adequao climtica, topogrfica, etc.

    Foto divulgao [Acervo LabQuap FAU USP]

    Nos empreendimentos horizontais, geralmente situados em regies menos

    urbanizadas ou nas periferias distantes das grandes metrpoles (pelo menor

    custo da terra), chama a ateno a reproduo infindvel de casinhas de

    duas guas, aquelas que exemplificaram por dcadas a m produo

    habitacional pblica, agora realizada pelo setor privado (porm com

    importante financiamento pblico). Pouca variedade tipolgica, nenhuma

    inventividade construtiva que possa alterar a sensao de repetio e de se

    morar em um pombal. Custa-se a acreditar que seja oferecida a algum a

    compra de um imvel idntico s centenas de vizinhos, alguns a poucos

    metros da porta de entrada. Porm, nosso quadro habitacional ainda to

    dramtico e o acesso casa to restrito que muitas vezes essa , para o

    comprador, a realizao de um sonho e a possibilidade de acesso uma vida

    melhor, pela qual, alis, paga-se bastante caro. Se ainda a questo fosse

    apenas a falta de diversidade e a mesmice do projeto, em uma excelente

    implantao, respeitosa do relevo, com praas e equipamentos, arborizao

    abundante e facilidades de comrcio, esse problema talvez impactasse menos.

    Porm, o que se v a opo por implantaes com abuso de movimentao de

    terra (muito impactantes ambientalmente), ou em plancies infinitas e

    ridas, longe da cidade, com uso somente residencial, sem oferta de

    servios nem de equipamentos em quantidade e qualidade necessrias e,

    claro, sempre muradas.

    Empreendimentos horizontais em Campinas SP, o novo

    segmento econmico do mercado da construo civil

    Foto divulgao [Acervo LabQuap FAU USP]

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    Empreendimentos horizontais em Campinas SP, o novo segmento econmico do

    mercado da construo civil

    Foto divulgao [Acervo LabQuap FAU USP]

    O programa Minha Casa Minha Vida tambm incentiva ao menos no texto,

    porque na prtica nada se concretizou empreendimentos que proponham a

    reabilitao de edifcios vazios em reas centrais. Uma rpida conta, j

    comprovada em vrios exerccios de faculdade, mostra que os custos de

    compra e reabilitao desses edifcios cabem perfeitamente na equao de

    financiamento do programa, para faixas de renda entre 5 e 10 salrios-

    mnimos. Uma proposta interessante se considerarmos que no Brasil h cerca

    de 5 milhes de unidades habitacionais vazias, para um dficit habitacional

    de cerca de 6 milhes, e mais ainda quando observamos que na Europa cerca

    de 50% da atividade da construo civil de reforma e reabilitao. L,

    porm, desde o ps-guerra o mercado da construo, o que inclui os

    arquitetos, estabeleceu condies para que se desenvolvesse essa vertente

    importante da arquitetura e da construo. Uma vertente que envolve a

    participao dos arquitetos em questes de sustentabilidade, de adequao

    das tcnicas construtivas, dos materiais, e assim por diante. E mais uma

    vez, pergunta-se: qual o nosso avano nessa discusso? O mercado refuta

    sistematicamente a prtica de retrofit alegando seu alto custo, os

    arquitetos pouco se importam com uma faceta da profisso que d pouco

    retorno obra autoral, mas que poderia ser socialmente muito

    transformadora. Eis mais um exemplo de campo de atuao a ser aberto, e ao

    qual a profisso mantm-se salvo excees, como sempre afastada.

    A pergunta que nos cabe a seguinte: onde est arquitetura em tudo isso?

    Para alm da festejada arquitetura brasileira dos escritrios autorais, a

    profisso no deveria ser parte atuante na linha de frente desse processo

    de urbanizao que assistimos? Exigindo a realizao de projetos, a

    discusso de qualidade, incentivando novas tecnologias, a industrializao

    construtiva com qualidade, etc? Porm, temos que admitir que nossa

    profisso, at agora, est alienada disso tudo. Saudosos tempos, quando em

    1963, o Seminrio Nacional de Habitao e Reforma Urbana, contando com a

    participao de grandes arquitetos, fora capaz de pautar as polticas

    habitacionais e urbanas do pas.

    Conjunto habitacional Carl Legien, Pankow, Alemanha, 1928-1930. Arquitetos

    Bruno Taut e Franz Hilinger

    Foto Doris Antony [Wikimedia Commons]

    Mas, hoje, o quadro de uma profunda alienao s perspectivas

    desafiadoras que a atual conjuntura oferece, mesmo quando se trata de uma

    produo profissional de grande qualidade. Pior, a alternativa boa

    arquitetura autoral a da submisso aos ditames do mercado e seus

    imediatismos comerciais. Porm, mesmo a nossa escola moderna,

    supostamente herdeira e reprodutora da arquitetura de qualidade, talvez

    no tenha percebido o quanto se distanciou dos desafios que o prprio

  • 08/05/13 arquitextos 133.07: Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil | vitruvius

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    modernismo se colocou, quando do seu surgimento: o de responder demanda

    macia por moradias na Europa. Srgio Ferro, em seu clssico artigo

    Arquitetura Nova, define a arquitetura moderna como aquela que mostre

    capacidade de levantar propostas para "o atendimento de um progresso

    esperado e de necessidade coletivas". A arquitetura deveria ento adiantar-

    se ao porvir da sociedade, refletindo e oferecendo solues arquitetnicas

    e construtivas que respondam ao cenrio futuro. Pergunta-se: isso que se

    v em face da imploso construtiva que o Brasil vive?

    Unit d'Habitation, Berlim. Construda para a International Exhibition

    (Interbau) de 1957. Arquiteto Le Corbusier

    Foto Manfred Brckels [Wikimedia Commons]

    No foi toa, portanto, que o modernismo europeu j nos anos vinte, e

    posteriormente no Ps-Guerra, elegeria a habitao social como o principal

    desafio para mestres da arquitetura como May, Gropius, Le Corbusier e

    tantos outros. No havia vergonha nem hesitao em colocar a profisso

    frente da necessidade de produzir, em uma conjuntura econmica de

    construo do capitalismo industrial de consumo de massa e do bem-estar

    social, as moradias que tal momento demandava. "De Ledoux a Le Corbusier,

    so constantes as sugestes que avanam sobre tempo", aponta Ferro. O que

    pensariam esses mestres ao ver no nosso pas, reconhecido

    internacionalmente por perpetuar o modernismo, a sua profisso alienada do

    desafio de responder a um dficit de seis milhes de moradias e a cidades

    com metade de sua populao vivendo na informalidade? A arquitetura

    brasileira estaria acima de toda essa reflexo, para permitir-se ficar

    distante das transformaes que o pas passa?

    E a arquitetura na cidade informal?

    Pois se o mercado entenda-se aquele setor da economia capaz de contratar

    os servios de arquitetos est se ampliando, mesmo que a arquitetura

    brasileira no parea ter assimilado a importncia do processo (que a

    indstria da construo civil e o mercado imobilirio, quanto a eles, j

    assimilaram), isso no quer dizer que tenhamos, na outra face da moeda,

    resolvido a tragdia estrutural das nossas cidades, resultante do prprio

    subdesenvolvimento.

    Florestan Fernandes defendia que o Brasil d recorrentemente saltos

    modernizantes que nos levam a um novo patamar econmico sem que,

    entretanto, tenhamos superado com isso os desequilbrios estruturais da

    etapa anterior. Porm, criam-se a cada salto mitos da modernizao, que

    servem para legitim-los, mesmo que, para ocorrer, tais avanos tenham que

    alimentar-se do aprofundamento do atraso e da misria. Como mostrou o

    socilogo Francisco de Oliveira, o moderno no Brasil alimenta-se do atraso,

    e assim parece ocorrer nas dinmicas urbanas. O crescimento das cidades

    mdias, a euforia do boom de urbanizao, uma pseudomodernidade que se

    alimenta da continuidade da urbanizao desigual e socialmente

    segregadoras, que elegeu a no-democratizao do solo urbano, a

    proliferao dos anti-urbansticos condomnios fechados de luxo, a

    verticalizao de forte impacto ambiental, a opo preferencial pelo

    automvel, ou ainda a periferizao da pobreza como seus atributos

    principais. Muito embora, nas aparncias, essa euforia do crescimento se

    alimente de mitos modernizantes como a Copa do Mundo, os Jogos Olmpicos,

    pontes estaiadas, escolas de dana e outras fontes luminosas, s vezes com

    projetos urbanos e arquitetnicos de grandes estrelas do jet-set

    internacional, muito vistosos como factoides eleitorais, mas pouco

    estruturantes da cidade e, sobretudo, raramente democrticos na sua

    concepo. As decises de investimentos pblicos nesses projetos so feitos

    em gabinetes, raramente com participao dos cidados, e as audincias

    pblicas tm se tornado cada vez mais peas de teatro sem nenhum efeito. A

    falta de concursos pblicos e a recorrncia da prtica de projetos urbanos

    e de equipamentos contratados por vias pouco claras ainda , infelizmente,

    praxe, inclusive na maior cidade do pas.

    No podemos esquecer, portanto, que embora estejamos assistindo a uma

    ebulio no mercado imobilirio de classe mdia, nossas cidades ainda so,

    hoje em dia, caracterizadas pelas periferias auto-construdas e precrias.

    E nessas periferias, no h arquitetura, no h urbanismo. Como j dito,

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    nesse aspecto nossa profisso, quando vista em seu conjunto e no na ao

    de alguns grupos to batalhadores quanto minoritrios dentro do governo

    ou em pequenos escritrios , deve aceitar seu absoluto fracasso. Mesmo

    que, na sua vertente autoral, sempre frequentasse as mais festejadas

    premiaes internacionais. Mas como podemos falar em cidades

    globalizadas, por causa de seus prdios em alumnio e fachadas de vidro,

    em um pas em que muitas delas, e das grandes, sequer tm metade da sua

    populao servida por algo to bsico como o saneamento?

    Pergunta-se: esses desafios o da construo de casas de qualidade para os

    que se amontoam em periferias auto-construdas, o da urbanizao dessas

    periferias com qualidade, integrando-as cidade que funciona, o da

    estruturao de sistemas de mobilidade urbana democrticos e eficientes, o

    da proviso generalizada de saneamento ambiental no deveriam ser os

    temas prioritrios de discusso da arquitetura brasileira?

    Capa da revista Veja, edio 1684, de 24 de janeiro de

    2001

    Porm, a cidade informal ainda aparece mais do que tudo como um incmodo.

    Assim sentenciava j em 2001 a revista Veja (Edio 1684, de 24 de janeiro)

    ao estampar em sua capa um desenho em que um pequeno e colorido grupo de

    casas arborizadas e prdios de arquitetos (dentre os quais se reconhece o

    Copan e o Edifcio Itlia) aparecia envolto por uma massa cinzenta de

    casebres, sob um ttulo bastante revelador: O cerco da periferia: os

    bairros de classe mdia esto sendo espremidos por um cinturo de pobreza e

    criminalidade que cresce seis vezes mais que os centros das metrpoles

    brasileiras.

    A seguir o raciocnio, restaria concluir que para desfazer-se dos pobres

    que, na terrvel viso da revista, alm de se reproduzirem demais, so

    tambm criminosos (pobreza e criminalidade aparecem na frase naturalmente

    associados), talvez o mais fcil fosse simplesmente mandar explodir a tal

    periferia. Tomando o cuidado, claro, para no acabar com toda ela, pois

    seno quem iria servir e fazer funcionar a cidade formal colorida, verde,

    urbanizada e cheia de projetos arquitetnicos, e os que nela habitam por

    terem tido a sorte de nascer do lado certo da nossa sociedade cindida?

    Ningum, porm, contestou o tamanho da monstruosidade estampada nessa capa.

    Nem mesmo os arquitetos, afinal, os principais envolvidos na discusso das

    cidades.

    Triste constatao de uma sociedade cujo andar de cima sequer se digna a

    assumir alguma responsabilidade sobre um desequilbrio estrutural que est

    levando imploso das nossas cidades. Muito pelo contrrio, prefere culpar

    os pobres, por um cenrio decorrente essencialmente de dois fenmenos: a

    histrica concentrao da renda, por um lado, e a segregao scio-

    territorial, por outro, que transpe para o territrio os efeitos da

    desigualdade econmica. Se a primeira causa pode ser imputada a polticas

    econmicas mais amplas, a segunda, em compensao, de responsabilidade

    dos arquitetos e urbanistas.

    Porm, ao invs de assistirmos a uma mobilizao cidad por parte de toda a

    classe de arquitetos-urbanistas para erradicar tais desequilbrios urbanos,

    o que se v so prefeituras criando rampas e bancos antimendigos, arrasando

    favelas ou construindo muros para segreg-las. O que se v um padro

    urbano do andar de cima que preconiza condomnios fechados e o isolamento

    atrs de muros, guaritas e cercas eletrificadas. A tranquilidade e o bem-

    estar da famlia de classe-mdia brasileira est na busca de solues que

    exacerbam a fratura social e estimulam uma fragmentao digna do apartheid

    sul-africano, e que s poder gerar se j no tiver gerado a barbrie

    em nossas cidades.

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    O curioso que, no bojo de tantas transformaes, hoje a arquitetura

    social, vinculada produo pblica, historicamente desprestigiada pela

    profisso, quem est dando lies sobre como avanar no campo da produo

    de moradia para a populao de baixa renda, oferecendo alternativas

    embora ainda pontuais de melhor qualidade do que o que produz o novo

    mercado econmico privado. Por mais incrvel que parea, em um pas em

    que habitao social sempre remeteu ao horror dos conjuntos habitacionais

    do BNH, a arquitetura pblica de interesse social hoje est muito frente

    do mercado, embora ainda haja longo caminho a percorrer.

    Isto sem dvida decorre da corajosa insistncia e do know-how adquirido

    pelos pequenos grupos que, h anos, tentam avanar nessa rea, seja de

    tcnicos dentro das prefeituras com todas as dificuldades impostas por

    uma mquina engessada para os objetivos sociais , seja das chamadas

    assessorias tcnicas de mutiro, que desde a constituio de 88 iniciaram

    um lento, mas slido trabalho de reconstituio da prtica da arquitetura

    para os menos favorecidos. A arquitetura social, normalmente to

    desprestigiada pelos prprios pares na profisso (quantas vezes no ouvi

    colegas desaconselhando alunos a fazer projetos de habitao social por

    isso no ser arquitetura), hoje foi capaz de estabelecer um padro de

    produo com muito mais qualidade do que est fazendo o novo mercado

    econmico.

    Em So Paulo, no final da dcada de 1980, a realizao sistemtica de

    concursos de arquitetura para habitao social provocou uma inflexo na

    qualidade dessa produo, graas entrada em cena dos arquitetos. No Rio

    de Janeiro, o IAB local se destacava j nessa poca por promover a

    discusso em torno da questo da habitao social, assim como cidades como

    Recife, Santo Andr, Diadema, ou Porto Alegre, que implementavam,

    antecipadamente at ao Estatuto da Cidade, a prtica da urbanizao de seus

    bairros precrios.

    Assim, acumulou-se importante conhecimento, com inovaes tecnolgicas,

    como a introduo da alvenaria autoportante, da argamassa armada (que em

    alguns casos gerou at certa industrializao do processo construtivo,

    notadamente com as experincias de Lel), do uso de estruturas metlicas.

    Os conjuntos Copromo, em Osasco-SP, ou Unio da Juta, em So Paulo,

    projetados pela assessoria Usina e ambos construdos em regime de mutiro

    com autogesto, atravs de convnios com a CDHU-SP, ainda na dcada de

    1990, ou a produo da assessoria Cearah Periferia, na mesma dcada nas

    imediaes de Fortaleza CE, so exemplos diversos e marcantes, entre

    muitos, dessa inflexo qualitativa, que todo aluno de arquitetura deveria

    conhecer, tanto quanto os projetos autorais nacionais ou internacionais que

    normalmente inundam seu repertrio de estudos.

    Conjunto Habitacional Copromo, Osasco SP. Projeto Usina / Centro de

    trabalhos para o ambiente habitado e construo por mutiro autogerido

    Foto Joo Sette Whitaker Ferreira

    claro que algumas mudanas estruturais na poltica habitacional

    brasileira contriburam para isso, como a criao do Ministrio das Cidades

    e da Secretaria Nacional de Habitao, a aprovao do Estatuto da Cidade, a

    formao dos conselhos e fundos municipais, estaduais e federal de

    habitao, e assim por diante. Ainda assim, embora o Estatuto tenha dado

    condies para que os municpios implementassem instrumentos de combate ao

    dficit habitacional, reteno especulativa da terra e organizao

    territorial segregadora, nossa sociedade e nela, os arquitetos-urbanistas

    ainda no soube, ou no quis, fazer frente ao desafio e hoje, passados

    quase dez anos, praticamente nenhum municpio do pas aplicou de forma

    consistente, macia e sistmica um conjunto de instrumentos que tenha

    efetivamente alterado a equao da segregao scio-espacial.

    Uma das dificuldades que se imputa recorrentemente ao Minha Casa Minha Vida

    vem, alis, justamente dai: no adianta responsabilizar o programa por

    alavancar a ocupao de periferias distantes com mais e mais conjuntos

    habitacionais sofrveis, em razo do preo da terra mais barato, se a

    prerrogativa de gerir a ocupao do territrio dos municpios e estes,

    desde 2001, pouco ou nada fizeram para aplicar os instrumentos do Estatuto

    da Cidade que poderiam, por exemplo, dar-lhes condies de fazer estoques

  • 08/05/13 arquitextos 133.07: Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil | vitruvius

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    de terra em reas mais centrais para hoje destinar habitao social no

    mbito do Minha Casa Minha Vida.

    Mas se no campo do planejamento estamos ainda estagnados sobre o avano que

    representou o Estatuto, no campo da arquitetura h avanos concretos, mesmo

    que ainda pouco expressivos quantitativamente. inegvel a melhoria de

    qualidade nos projetos da CDHU de So Paulo, por exemplo, que desenvolve

    importante discusso interna sobre a qualidade construtiva e arquitetnica.

    A CDHU, alis, lanou em 2010 o Habitao para todos, importante concurso

    de tipologias para habitao social, que agora desenvolve para construir. O

    IAB-SP desde 2008 estabeleceu em sua premiao bi-anual a categoria

    habitao de interesse social, reconhecendo a importncia da mesma para a

    profisso. O Rio de Janeiro destacou-se em 2011 por lanar o concurso

    Morar Carioca, para projetos de urbanizao de favelas, o que a

    Prefeitura de So Paulo fez tambm, na sequencia.

    Alis, alentador que em todos estes concursos, houve uma numerosa e

    entusiasmada adeso dos escritrios de arquitetura, alguns at daquele

    promissor grupo citado no incio deste texto. O que mostra que os

    arquitetos, mesmo aqueles preocupados com uma arquitetura de perfil mais

    autoral, so sensveis a esses novos desafios impostos por nossa trgica

    realidade urbana.

    Com o advento do PAC-Urbanizao de assentamentos precrios, uma poltica

    pblica federal enfrenta pela primeira vez de frente e maciamente a

    questo da urbanizao de favelas, como se v no Rio, no Morro do Alemo.

    Em Manaus, um programa do Governo do Estado, o Prosamin, vem enfrentando

    tambm com certo sucesso e qualidade arquitetnica e urbana a situao

    precria dos igaraps da cidade.

    Conjunto Habitacional Prosamin, Arquiteto Luiz Fernando Freitas

    Cooperativa de profissionais do Habitat, Manaus AM

    Foto Joo Sette Whitaker Ferreira

    O avano nesse campo da arquitetura deveria ser visto com ateno pela

    classe dos arquitetos-urbanistas, pois se trata justamente de uma mudana

    que no resultou da ao de um ou outro arquiteto, mas sim de uma

    mobilizao institucional que envolveu governos, movimentos sociais,

    tcnicos do funcionalismo pblico, e tambm evidentemente, engenheiros e

    arquitetos. Assim, vale o alerta: no se trata de fazer uma arquitetura

    autoral aplicada a situaes de precariedade ou na periferia, acreditando

    que assim a boa arquitetura se generalizar. Mesmo porque, como j dito,

    foi a experincia acumulada por quem trabalha na rea, sombra do glamour

    da profisso, que est ditando os avanos que apontamos. Como diz a

    urbanista Erminia Maricato, o Brasil hoje um dos pases que mais exporta

    conhecimento na rea da urbanizao de assentamentos precrios, porm o

    espao que essa produo tem no nosso prprio meio acadmico no s

    mnimo, como desvalorizado. Prefere-se, de fato, buscar solues de

    arquitetos e universidades de pases centrais, que aportam por aqui com

    muita festa e com receitas que pouco se aplicam nossa realidade. O que

    vem de fora sempre melhor, assim dita a cultura das idias fora do

    lugar to acalentada por nossas elites.

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    PAC Urbanizao de favelas, Morro do Alemo, Rio de Janeiro. Arquiteto

    Jorge Mario Jauregi

    Foto Gabriel Leandro Juregui

    A questo, portanto, repensar a forma de atuao do arquiteto, pois as

    demandas sociais podem mudar concepes de formas e contedos espaciais, e

    dar um novo sentido profisso, em seu papel histrico. H atualmente no

    Brasil uma nova lei, a da Assistncia Tcnica, que garante s famlias com

    renda de at 3 salrios mnimos o direito assistncia tcnica pblica e

    gratuita para projeto, construo ou reforma de suas moradias, e com isso

    prev a organizao da atuao dos arquitetos, por parte das prefeituras,

    para atender de forma sistemtica e organizada a demanda da cidade

    informal. Os arquitetos, entenda-se os IABs, as faculdades de arquitetura,

    os escritrios, deveriam estar completamente submergidos por este desafio

    (como vm fazendo, vale observar, a Federao Nacional dos Arquitetos e os

    sindicatos estaduais) que representa uma enorme oportunidade de ampliao

    do mercado de atuao, sobretudo para nossos jovens recm-formados.

    O que dizer, ento, da enorme oportunidade de mudana que se coloca com a

    prxima criao do CAU? Teremos um rgo que ir reproduzir, com alguma

    melhoria, as lgicas e preocupaes historicamente sustentadas pelos CREAs,

    claramente voltadas quase que exclusivamente regulao da prtica

    profissional, ou aproveitaremos a oportunidade para repensar, de maneira

    tolerante, solidria e democrtica, o papel da nossa profisso na

    construo do nosso pas e fazer uma verdadeira refundao da arquitetura

    brasileira?

    No preciso insistir no quanto tal discusso fundamental para nossos

    estudantes de arquitetura. Aqueles mesmos que se sentem angustiados em face

    de um mercado que s vezes lhes parece to restrito e competitivo. Pois

    fica claro que a arquitetura e o urbanismo so formaes complementares

    extremamente amplas. Cabe aos cursos de arquitetura promover essa

    aproximao com a realidade e, conseqentemente, uma sensvel ampliao do

    campo profissional. Um arquiteto que queira fazer frente aos desafios que o

    Brasil hoje lhe apresenta deve ser um bom projetista, sem dvida, mas deve

    entender da histria econmica e social da nossa formao nacional (para

    compreender as causas dos problemas que enfrentar), deve transitar pelo

    campo da legislao urbanstica, deve conhecer aspectos bsicos de

    engenharia ambiental, deve saber de economia urbana, e assim por diante.

    Deve tornar-se um cidado, um ser poltico capaz de colocar-se ativamente

    nas discusses sobre nosso futuro, em especial no que diz respeito ao

    ambiente construdo. Se recebessem tal formao, as perspectivas

    profissionais dos nossos recm-formados, no s em escritrios, mas em

    instituies pblicas, governos, ONGs, tornar-se-iam muito mais instigantes

    e diversas.

    A arquitetura brasileira no pode conformar-se em apontar apenas dois

    caminhos: ou da arquitetura da alta costura (7) e grande qualidade,

    destinada ao mercado de alta renda, ou o da arquitetura de mercado

    conformada a uma mediocridade ditada pelos interesses imobilirios. O

    urbanismo brasileiro no pode continuar a ser reprodutor de prticas

    segregadoras e exclusivistas. O humorista norte-americano George Carlin

    dizia que o mpeto ecolgico de salvar o planeta tem um problema

    conceitual: a Terra, que j sobreviveu a movimentos tectnicos e

    cataclismas, estar muito bem por mais milhes e milhes de anos, mesmo que

    vire uma rocha desrtica. No sero alguns sacos plsticos e latas de

    alumnio que a faro desaparecer. Quem est em perigo, isto sim, somos ns,

    pois no sobreviveramos ao desastre das nossas prprias aes. Salvemos-

    nos, deveria ser o slogan. Pois o raciocnio vale para ns, arquitetos e

    urbanistas: salvem as cidades, ser essa a verdadeira preocupao? Nossas

    urbes podem sobreviver por anos, porm em um cenrio la Blade Runner,

    recortadas por muralhas eletrificadas, sem saneamento, com espaos pblicos

    abandonados prpria sorte, milcias armadas a fazer a segurana. O que a

    Veja aponta como um cerco est se tornando a realidade; como lembra Ermnia

    Maricato, a pobreza urbana no mais exceo, mas a regra. Salvemo-nos a

    nos mesmos, esse deveria ser o caminho para o novo Brasil urbano. E os

    arquitetos teriam muito o que dizer a respeito, caso se conscientizem que

    no podem, mais uma vez, deixar passar o bonde da histria.

  • 08/05/13 arquitextos 133.07: Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil | vitruvius

    www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.133/3950 15/17

    notas

    1

    Excees como os recentes concursos para urbanizao de favelas, no Rio de

    Janeiro, ou de Habitao Social, em So Paulo, s quais estes mesmos jovens

    arquitetos muitas vezes, e felizmente, se agarram na busca salutar de

    conseguir alguma outra alternativa de atuao.

    2

    Exposio apresentada na Panamericana Escola de Arte e Design, e organizada

    pela mesma, em parceria com o Arquiteto Siegbert Zanettini.

    3

    Cetelem/BNP Paribas, publicado em

    http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1558939-9356,00-

    CLASSE+C+GANHOU+MILHOES+DE+PESSOAS+EM+CINCO+ANOS+DIZ+PESQUISA.html

    4

    A resoluo 3177 do Banco Central, de 8 de maro de 2004, obrigara as

    instituies financeiras a aplicar efetivamente j que esse dinheiro

    costumava ficar no BC porcentagem do Fundo de Compensao das Variaes

    Salariais (FCVS, 2%) e do Sistema Brasileiro de Poupana e Emprstimo (SBPE

    a caderneta de poupana) em emprstimos imobilirios. Tambm exigiu

    dessas instituies que cumprissem acordo anterior para liberar em parcelas

    o saldo do FCVS acumulado desde 1996.

    5

    Com significativos fundos e facilitao de crdito, o programa beneficia o

    mercado de renda mdia, mas tambm, pela primeira vez nessa escala, a

    classe de renda muito baixa, abaixo de 3 salrios-mnimos, oferecendo nesse

    caso importantes e inditos subsdios.

    6

    O que revela um dos desafios que o MCMV deve enfrentar, j que nas

    grandes metrpoles que se concentra a quase totalidade do dficit

    habitacional e da demanda por moradia de interesse social.

    7

    Excelente nome dado pelo arquiteto Rodrigo Vicino, quando meu aluno.

    sobre o autor

    Joo Sette Whitaker Ferreira, arquiteto-urbanista e economista, mestre em

    cincia poltica e doutor em urbanismo, professor da Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo da USP e da Universidade Mackenzie, e coordenador

    do Laboratrio de Habitao e Assentamentos Humanos LabHab, da FAUUSP. ,

    para o ano letivo 2011-2012, professor visitante do Institut de Hautes

    tudes de l Amrique Latine IHEAL (Paris3-Sorbonne Nouvelle). Autor do

    livro O mito da cidade global (Vozes, 2007), atualmente vice-presidente

    do IAB-SP.

    comentrios

    73 comentrios

    ComentarPublicando como Andreia Moassab (No voc?)

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    Erico Masiero

    Caro Prof. Joo,

    Vejo que as escolas de arquitetura hiper valorizam especificamente a atividade de

    projeto, e atualmente h uma escassez enorme de profissionais especialistas em diversas

    reas. Em geral, acredito que os arquitetos aproveitam pouco do potencial profissional e

    das atribuies dispostas na Lei n 12.378, de 31 de dezembro de 2010.

    Parabns pelo texto.

    Responder Curtir Seguir publicao 8 de abril s 10:102

    Rossana Honorato Professora de Arquitetura e urbanismo na empresa

    Universidade Federal da Paraba 1.067 assinantes

    Excelente reflexo! Animadora! Parabns ao autor pela lucidez da abordagem,

    generosamente partilhada entre ns, c na Paraba, pelo colega Marco Suassuna. Penso

    que cabe a ns, arquitetos sensveis amplitude de nosso ofcio, unio corporativa, no

    sentido saudvel da palavra, em benefcio da coletividade e pela afirmao da funo

    social da arquitetura e do urbanismo. Me preocupa a reputao pblica da profisso cada

    vez que fico sabendo de profissionais que mudam, desistem da profisso... Isso muito

    ruim! E isso carece de determinao em prol do rigor e do perfil da formao profissional,

    regulando junto com as escolas o nmero de vagas de acesso, a eleio de contedos

    que a sociedade brasileira requisita e monitorando os destinos do exerccio da profisso,

    dos profissionais egressos.

    Responder Curtir Seguir publicao 21 de maro s 21:51

    Seguir

    1

    Jefferson Pacheco Fontenelle UTP

    Nossa! Terminei de ler o texto e tive vontade de bater palmas! Me emocionei com as

    ideias contidas a. Tomara que em breve essa realidade mude e consigamos construir um

    mundo mais justo.

    Responder Curtir Seguir publicao 21 de novembro de 2012 s 10:34

    Seguir

    4

    Claudio Amaral Professor na empresa Unesp

  • 08/05/13 arquitextos 133.07: Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil | vitruvius

    www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.133/3950 16/17

    Claudio Amaral Professor na empresa Unesp

    Parabens, vou divulgar.

    Responder Curtir Seguir publicao 10 de dezembro de 2012 s 18:273

    Sidney Tamai Professor/Pesquisador na empresa FAAC UNESP (atual),

    Unicamp, Puc-Campinas

    Vou ler, depois te falo. Acho que o Joo Whitaker amigo do Alex.

    Responder Curtir 10 de dezembro de 2012 s 18:31

    Grasi Drumond Seguindo Coordenador na empresa Ashoka Empreendedores Sociais

    leia agora.

    Responder Curtir Seguir publicao 26 de setembro de 2011 s 12:361

    Raphael Potratz Trabalha na empresa Universidade Federal do Esprito

    Santo - UFES

    j li! dmais.

    Responder Curtir 27 de setembro de 2011 s 01:401

    Ivana Fontenele Arquiteta na empresa A4 Arquitetura e Design Ltda.

    Salvemos a ns mesmos! Artigo muito bom para os jovens arquitetos!

    Responder Curtir Seguir publicao 26 de agosto de 2012 s 19:352

    Christiana Pecegueiro UEMA

    tima reflexo! valeu!! Pena que a grande maioria ainda tenha esta viso

    reducionista da arquitetura...

    Responder Curtir 26 de agosto de 2012 s 20:27

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    1

    rsula Motta Universidade Federal Fluminense

    Muitas vezes me vi frustada ao fazer arquitetura, poi pensava que s existia arquitetura

    para aqueles que podiam pagar, bom saber que por mais que seja difcil, h um outro

    caminho a ser escolhido.

    Responder Curtir Seguir publicao 3 de maio de 2012 s 21:345

    Daniela Bobsin Universidade Federal de Itajub - Unifei

    que texto espetacular! dedico a todos os colegas arquitetos e urbanistas, no deixem de

    ler, est muito bom MESMO.

    Responder Curtir Seguir publicao 4 de maio de 2012 s 00:14

    Ver mais 1

    Seguir

    3

    Daniela Bobsin Universidade Federal de Itajub - Unifei

    Adriana Genro, Adriana Denardin, Adriana Santana Pereira, Adriano Da Silva

    Falco, Kelly Oliveira Arquitetura, Lidia Rodrigues, Ana Lidia, Francisco

    Queruz, Alexandre Carvalho de Andrade e todos que se interessam por

    urbanismo e arquitetura em geral

    Responder Curtir 4 de maio de 2012 s 00:21

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    2

    Adriana Santana Pereira Arquiteta e Urbanista na empresa Arquitetura e

    urbanismo

    vou ler sim...

    Responder Curtir 4 de maio de 2012 s 00:24

    Daniela Bobsin Universidade Federal de Itajub - Unifei

    Liliany Schramm Gattermann, Leonora Romano, Alexandre Raponi, Siomara

    Muller, Cibele Walker, Lucienne Lopes Limberger, Caryl Lopes

    Responder Curtir 4 de maio de 2012 s 00:26

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    2

    Marcos Diligenti Docente e Investigador na empresa PUCRS

    Excelente artigo!

    Responder Curtir Seguir publicao 23 de abril de 2012 s 08:123

    Fernanda Pincelli Trabalha na empresa Arquiteta e Urbanista

    nossa, um super artigo inteligentissimo! os arquitetos que vestem a camisa querem botar

    a mao na massa! isso mesmo...

    Responder Curtir Seguir publicao 9 de maio de 2012 s 02:002

    Fernanda Pincelli Trabalha na empresa Arquiteta e Urbanista

    grande mas acrescenta meninas... Camila Nastari, Safira De La Sala.

    Responder Curtir 9 de maio de 2012 s 11:582

    Fernanda Pincelli Trabalha na empresa Arquiteta e Urbanista

    Camila, tem uma parte relacionada a sociologia que achei fantastica...

    Responder Curtir 9 de maio de 2012 s 12:132

    Camila Medeiros Trabalha na empresa W torre

    Para refletir....

    Responder Curtir Seguir publicao 26 de maro de 2012 s 22:293

    Bernardo Amaral Deutsche Schule Porto

    Reflecte sobre temas que podero se aplicar a actual situao portuguesa, com o devido

    desconto de escala e cultura urbana.

    Responder Curtir Seguir publicao 29 de maro de 2012 s 05:452

    Marcos Diligenti Docente e Investigador na empresa PUCRS

    Caro Bernardo,penso que o Processo SAAL,realizado a em Portugal na

    dcada de 70, tem ainda muito a ensinar sobre essa questo, no seria a

  • 08/05/13 arquitextos 133.07: Perspectivas e desafios para o jovem arquiteto no Brasil | vitruvius

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    hora de reinvent-lo?

    Responder Curtir 27 de abril de 2012 s 23:261

    Caroline Aquino Lima Arquitetura e urbanismo

    tima reflexo para ns futuros arquitetos e para o ensino nas faculdades!!!

    Responder Curtir Seguir publicao 13 de fevereiro de 2012 s 21:523

    talo Stephan Universidade Federal de Viosa

    Excelente texto. H outros caminhos para a Arquitetura e o Urbanismo brasileiro e temos

    de lutar por eles, via educao, crtica e participao efetiva. As cidades,

    independentemente de seu porte, esto piorando. Nelas , ocorrem o mesmo roteiro

    esplendidamente descrito pelo autor. Nas pequenas nem sequer h crticos e os

    problemas ambientais e de infraestrutura so graves.

    Responder Curtir Seguir publicao 11 de outubro de 2011 s 19:318

    Marcela Santana Professora na empresa FACIG - Faculdade de Cincias

    Gerenciais

    muito bom o texto talo, realmente uma tima reflexo sobre os rumos que a

    nossa arquitetura est tomando...

    Responder Curtir 11 de outubro de 2011 s 19:471

    Patricia Freitag Universidade de Braslia

    adorei o texto.

    Responder Curtir 11 de outubro de 2011 s 22:351

    Santiago D'vila 31 anos de idade

    Mestre JSWF, parabns. Vejo o novo CAU como o "vai ou racha" da profisso. Os

    desafios so conquistas em potencial, devemos arregaar as mangas e sujar as unhas

    pintadas e lapiseiras importadas. Tenho muitos fragmentos de idias sobre estas

    transformaes! um abc.

    Responder Curtir Seguir publicao 30 de setembro de 2011 s 17:375

    Aylton Silva Affonso Arquiteto na empresa Prefeitura Municipal de Santo Andr

    Matou a pau! O triste a gente assistir, como vejo cotidianamente, um monte de gente

    saindo das escolas sem a mnima noo dessa realidade. No ano retrasado, tive a

    oportunidade de falar, pelo Sindicato dos Arquitetos (junto com seu presidente, o Daniel

    Amor), numa aula da UNINOVE, sobre o mercado de trabalho para a categoria. A histria

    era aquela de sempre: existe mercado pr gente? Eu pedia pr todos olharem pela janela

    (o andar era razoavelmente alto) para a cidade, e se perguntarem primeiro: existe

    TRABALHO pr gente? A, a conversa deu liga...

    Responder Curtir Seguir publicao 20 de agosto de 2011 s 00:095

    Nicia Formiga Leite Professora na empresa UFPI

    Excelente texto! Recomendo a todos os estudantes e profissionais de Arquitetura e

    Urbanismo! Parabns ao Arq. Prof. Joo Sette W. Ferreira

    Responder Curtir Seguir publicao 13 de julho de 2011 s 08:14

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    6

    Arthur Cogo Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Um texto insdipensvel para aqueles profissionais e estudantes criticos que buscam maior

    embasamento intelectual e que atuam de forma digna no mercado de trabalho mesmo

    com a indignao frente a arquitetura "cereja do bolo" x a especulao imobiliria.

    Parabns pelo descrito!

    Responder Curtir Seguir publicao 21 de setembro de 2011 s 12:372

    Helder Brito

    Perfeito o texto! Como arquiteto tambm compartilho a angstia de ver a pssima

    arquitetura disseminada nessa infinidade de condomnios - principalmente verticais -

    disseminados pelo Brasil, a preos totalmente injustificados...

    Responder Curtir Seguir publicao 14 de julho de 2011 s 10:404

    Helder Brito

    Alm disso, a urbanizao (?) das cidades brasileiras se resume a programas

    "tapa-buracos" ou a pavimentaes de ruas e avenidas, sem projetos que

    contemplem uma viso do PLANEJAMENTO URBANO. Onde foram parar a

    ARQUITETURA e o URBANISMO?

    Responder Curtir 14 de julho de 2011 s 11:102

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