armas e munições leves, pesadas e explosivos

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Armas e Munições Leves, Pesadas e Explosivos Organização: Organização: BID.indb 1 13/06/16 16:41

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  • Misso do Ipea

    Aprimorar as polticas pblicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro, por meio da produoe disseminao de conhecimentos e da assessoria ao Estado nas suas decises estratgicas.

    Misso da ABDI

    Contribuir para o aumento da competitividade do setor produtivo brasileiro.

    Armas e Munies Leves,Pesadas e Explosivos

    Organizao:Organizao:

    MINISTRIO DAINDSTRIA, COMRCIO

    E SERVIOS

    MINISTRIO DOPLANEJAMENTO,

    DESENVOLVIMENTO E GESTO

    BID.indb 1 13/06/16 16:41

  • BID.indb 1 13/06/16 16:41

  • Repblica Federativa do BrasilMichel TemerPresidente interino

    Ministrio da Indstria,Comrcio Exterior e ServiosMarcos PereiraMinistro

    Ministrio do Planejamento, Desenvolvimento e Gesto Dyogo OliveiraMinistro

    Miguel NeryPresidente interino

    Maria Luisa Campos Machado LealDiretora de Desenvolvimento Tecnolgico e Inovao

    Paulo Csar Marques da SilvaDiretor de Desenvolvimento Produtivo substituto

    Leonardo ReismanChefe de Gabinete

    Carla Maria Naves FerreiraGerente de Desenvolvimento Tecnolgico e Inovao

    Cynthia Arajo Nascimento MattosCoordenadora de Promoo da Inovao

    Ernesto LozardoPresidente

    Alexandre dos Santos Cunha Diretor de Desenvolvimento Institucional

    Roberto Dutra Torres Junior Diretor de Estudos e Polticas do Estado, das Instituies e da Democracia

    Mathias Jourdain de Alencastro Diretor de Estudos e Polticas Macroeconmicas

    Marco Aurlio Costa Diretor de Estudos e Polticas Regionais, Urbanas e Ambientais

    Fernanda De Negri Diretora de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraestrutura

    Jos Aparecido Carlos RibeiroDiretor de Estudos e Polticas Sociais

    Jos Eduardo Elias Romo Diretor de Estudos e Relaes Econmicase Polticas Internacionais

    Fbio de S e SilvaChefe de Gabinete

    BID.indb 2 13/06/16 16:41

  • MINISTRIO DO PLANEJAMENTO,

    DESENVOLVIMENTO E GESTO

    Organizao:

    BRASLIA, 2016

    MINISTRIO DA INDSTRIA, COMRCIO

    E SERVIOS

    BID.indb 3 13/06/16 16:42

  • Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) 2016

    SupervisoMaria Luisa Campos Machado LealDiretora de Desenvolvimento Tecnolgico e Inovao

    Equipe Tcnica Carla Maria Naves FerreiraGerente de Desenvolvimento Tecnolgico e InovaoCynthia Arajo Nascimento MattosCoordenadora de Promoo da InovaoLarissa de Freitas QuerinoEspecialista em ProjetosClaudio Ferreira da SilvaEspecialista em ProjetosAntonio Carlos TafuriEspecialista em ProjetosKaren Cristina Leal da Silva IlogtiAnalista SniorOsvaldo Spindola da S. JuniorAnalista SniorFernanda Bocorny MessiasAnalista SniorWillian Cecilio de SouzaAssistente de ProjetosAdriana Cristina SilvaAuxiliar Administrativo

    Coordenao de ComunicaoSimone ZerbinatoCoordenadora de Comunicao substituta Rachel MortariEdio/OrganizaoMaurcio Marcelo | TikinetProjeto GrficoRodrigo Martins | TikinetThiago Rodrigues | Fox EventosDiagramao

    Projeto Grfico e Assistncia EditorialTikinet

    Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) 2016

    SupervisoFernanda De Negri Diretora de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraestrutura

    Equipe TcnicaAlixandro Werneck LeiteAssistente de Pesquisa IIIJonathan de Arajo AssisAuxiliar de PesquisaPatricia Oliveira de SouzaEstatstica

    Assessoria de Imprensa e ComunicaoJoo Cludio Garcia Rodrigues LimaAssessor-chefe de Imprensa e Comunicao

    AutoresAna Carolina Aguilera NegreteAlixandro Werneck LeiteAriela Cordeiro LeskeEduardo Xavier Ferreira MigonFernanda das Graas CrreaIsrael de Oliveira AndradeJonathan de Araujo de AssisJuliano Melquiades VianelloMarcos Jos Barbieri FerreiraPatrcia de Oliveira MatosVitelio Brustolin

    As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo necessaria-mente, o ponto de vista da ABDI e do Ipea.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comer-ciais so proibidas.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Mapeamento da Base Industrial de Defesa. -- Braslia : ABDI - Agncia Brasileira de Desenvolvimento Indutrial: Ipea - Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada, 2016.

    Vrios autores. Inclui bibliografia.

    ISBN: 978-85-6132-341-7

    1. Brasil. Aeronutica 2. Brasil. Exrcito 3. Brasil. Marinha 4. Brasil - Defesa 5. Brasil - Foras Armadas 6. Inovaes tecnolgicas 7. Poltica industrial - Brasil.

    16-03725 CDD-338.0981

    ndices para catlogo sistemtico:1. Brasil - Defesa : Poltica industrial : Economia 338.0981

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  • SUMRIO

    APRESENTAO 7

    PREFCIO 9

    INTRODUO 11

    CAPTULO 1 - ARMAS E MUNIES LEVES E PESADAS E EXPLOSIVOSAriela Cordeiro Leske

    31

    CAPTULO 2 - SISTEMAS ELETRNICOS E SISTEMAS DE COMANDO

    E CONTROLEJuliano Melquiades Vianello

    99

    CAPTULO 3 - PLATAFORMA NAVAL MILITARAna Carolina Aguilera Negrete

    177

    BID.indb 5 13/06/16 16:42

  • CAPTULO 4 - PROPULSO NUCLEARAlixandro Werneck Leite, Fernanda das Graas Crrea,

    Jonathan de Araujo de Assis

    251

    CAPTULO 5 - PLATAFORMA TERRESTRE MILITARIsrael de Oliveira Andrade, Alixandro Werneck Leite,

    Eduardo Xavier Ferreira Migon

    335

    CAPTULO 6 - PLATAFORMA AERONUTICA MILITARMarcos Jos Barbieri Ferreira

    399

    CAPTULO 7 - SISTEMAS ESPACIAIS VOLTADOS PARA DEFESAPatrcia de Oliveira Matos

    509

    CAPTULO 8 - EQUIPAMENTOS DE USO INDIVIDUALVitelio Brustolin

    597

    SUMRIOS EXECUTIVOS 693

    NOTA METODOLGICA 737

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  • APRESENTAO

    Ao longo da ltima dcada, o setor de defe-sa tem conquistado um espao relevante na pau-ta das polticas pblicas do governo brasileiro. E, como parte desse avano, a Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Instituto e Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) desenvolveram em parceria o Mapeamento da Base Industrial de Defesa, que traz um conjunto de informaes estra-tgias para o setor.

    O objetivo deste trabalho permitir uma viso sistmica da competitividade, da capacidade produti-va e tecnolgica e de inovao das empresas da Base Industrial de Defesa (BID), oferecendo assim novos elementos para o planejamento de medidas mais efi-cientes e baseadas em evidncias.

    O principal documento norteador para esse estudo foi a Estratgia Nacional de Defesa (END), aprovada pelo Decreto 6.703, de 18 de dezembro

    de 2008, que trouxe uma nova concepo de defe-sa para o pas. A END estabeleceu a revitalizao da indstria de material de defesa como um dos trs eixos estruturantes para a defesa do pas, ao lado da reorganizao das Foras Armadas e da sua poltica de composio dos efetivos.

    O trabalho de construo do Mapeamento da Base Industrial da Defesa, desenvolvido por cerca de dois anos, representa hoje um avano na cons-truo do conhecimento sobre o tema no pas, ao adotar uma perspectiva segmentada pelos diversos subsetores que compem a indstria e reconhecen-do a heterogeneidade que existe entre eles. Desse modo, o estudo foi dividido em oito segmentos, que so: Armas e Munies Leves e Pesadas e Explosivos, Sistemas Eletrnicos e Sistemas de Comando e Controle, Plataforma Naval Militar, Propulso Nuclear, Plataforma Terrestre Militar, Plataforma Aeronutica

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  • 8 Mapeamento da base industrial de defesa

    Militar, Sistemas Espaciais voltados para Defesa e Equipamentos de Uso Individual.

    O projeto Mapeamento da Base Industrial de Defesa, cujos resultados finais esto compilados

    neste volume, representa mais uma produtiva parce-ria entre a ABDI e o Ipea.

    Desejamos a todos uma excelente leitura.

    Miguel NeryPresidente Interino da ABDI

    Ernesto LozardoPresidente do Ipea

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  • PREFCIO

    A partir de uma compreenso j consolidada so-bre a importncia do setor de defesa para o crescimen-to tecnolgico e econmico do pas, o governo federal tem buscado, ao longo dos anos, adotar medidas de in-centivo indstria nacional de defesa, com nfase no fortalecimento das empresas do setor, no aumento da inovao e na capacitao das instituies de ensino brasileiras. Essas aes, no entanto, apenas atingiro o efeito esperado, indo alm do incentivo e do fomento propriamente ditos, quando as autoridades puderem ter em suas mos um documento que revele a situao atual da competitividade, das capacidades produtiva e de inovao e das dificuldades que enfrentam as em-presas da Base Industrial de Defesa (BID).

    Para atender a tal necessidade, a Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) e com o apoio do Ministrio da Defesa

    (MD), assumiu a rdua tarefa de elaborar um estudo que traa um diagnstico completo das indstrias de defesa do Brasil. Dessa forma, o Mapeamento da Base Industrial de Defesa (BID) somar-se- aos diver-sos estudos acadmicos sobre o setor, bem como aos dados de entidades e de associaes representativas desse segmento, como a Associao das Indstrias de Material de Defesa e Segurana (ABIMDE) e a Associao das Indstrias Aeroespaciais Brasileiras (AIAB), para assim agregar informaes sobre a ca-deia produtiva de defesa, abarcando empresas de menor visibilidade em relao quelas vinculadas s associaes de classe. Isso proporcionar uma viso ainda mais completa do setor.

    O fortalecimento da BID preconizado pela Estratgia Nacional de Defesa (END) e, nesse contex-to, fundamental que se conhea, com propriedade, a nossa indstria de defesa, com vistas a viabilizar

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  • 10 Mapeamento da base industrial de defesa

    medidas de fomento mais efetivas e que possibilitem a sustentabilidade de empresas que concentram boa parte do capital tecnolgico do pas e que, portanto, representam, um setor to importante. Com essa fi-nalidade, o Mapeamento da BID contemplou anlises que contribuiro para o planejamento de medidas efi-cientes de apoio BID, tais como a superao de gar-galos tecnolgicos, o aumento da competitividade e o incentivo s exportaes.

    Graas excelente atuao da ABDI e do IPEA, a partir das informaes levantadas no presente estu-do, o governo tem em mos subsdios essenciais para definio de futuras polticas setoriais. Dessa forma, o Mapeamento da BID constituir-se- em um baliza-dor para aqueles que conduzem a poltica industrial do pas, que agora dispem de uma orientao tc-nica que dever contribuir para a construo de uma poltica de Estado.

    Brigadeiro do Ar Jos Augusto Crepaldi AffonsoDiretor do Departamento de Produtos de Defesa

    Secretaria de Produtos de Defesa Ministrio da Defesa

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  • Introduo

    BASE INDUSTRIAL DE DEFESA: CONTEXTUALIZAO HISTRICA, CONJUNTURA

    ATUAL E PERSPECTIVAS FUTURAS1

    Israel de Oliveira Andrade2

    1. OautorregistraumparticularagradecimentoaMarceloColusSumi,EdisonBeneditodaSilvaFilho,FlviadeHolandaSchmidtSqueffeGiovanniRorizLyraHillebrand.Suascontribuiesforamessenciaisparaoresultadofinaldestetrabalho.Quaisquererrosouomissessodeinteiraresponsabilidadedoautor.

    2. TcnicodePlanejamentoePesquisadaDiretoriadeEstudosePolticasSetoriaisdeInovao,RegulaoeInfraestrutura(Diset)doIpea.

    INTRODUO

    A partir do destaque alcanado pelo Brasil nocenrio internacionalnaltimadcada,diversas ini-ciativas foram lanadas na rea de defesa nacionalcomoobjetivodecapacitaropasparadefender-seprontamentedasameaasexternasatuaisefuturas.Assim, entre as diversas medidas governamentaisestabelecidasparaarea,destacam-seaquelasquevisamreorganizarefortalecerabaseindustrialdede-fesa (BID)brasileira.Nesse sentido, adiscusso so-breaatualconjunturadosetordedefesamostra-sedegranderelevncia.Nota-seque,nosltimosanos,a BID tornou-se objeto de estudos e debates nos

    segmentospolticos,militares,empresariaiseacad-micos.Nesseprisma,estecaptuloobjetivatraarumpanoramageraldaBIDnacional.Odebatedesenvol-vidonessetextobuscarretrataraatualsituaodaindstriadedefesa,avaliandosuacapacidade,dimen-soeaspolticaspblicasrelevantesparaarea.

    Estecaptulodivididoemquatrosees,almdestabreveintroduo.Aseo2consistenaapre-sentaodoconceitodeBIDadotadopelosautores.Em seguida, a terceira seo pretende desenvolverumacontextualizaohistricadaindstriadedefesanopas.Aquartaseobuscaavaliaraatualconjuntu-radaBIDnacional,apontandodadosrelativosaoco-mrcioexterioreaosgastosgovernamentaisnarea

    BID.indb 11 13/06/16 16:42

  • 12 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    dedefesa,almdasprincipaispolticaspblicasvolta-dasparaosetor.Porfim,aquintaeltimaseoestreservadasconsideraesfinaisacercadotema.

    CONCEITO DE BID

    Aanlisedesenvolvidanestetextoexige,previa-mente,adelimitaodoconceitodebase industrialdedefesa.Noentanto,essadefiniobastantecon-troversa.UmadasfontesdesteconceitonoBrasilen-contra-senoLivroBrancodeDefesaNacional(Brasil,2012a),segundooqualaBIDdefinidacomoumconjunto de indstrias e empresas organizadas emconformidadecomalegislaobrasileira,quepartici-pamdeumaoumaisdasetapasdapesquisa,desen-volvimento,produo,distribuioemanutenodeprodutosdedefesa.

    Entre a definio de BID apresentada anterior-mente e asvrias outras elencadas na literatura cor-rente,optou-seporadotarumadefiniomaisrestritanestetexto.Tendoemvistaseusobjetivos,parecemaisadequadoanalisarsomenteasempresasengajadasdi-retamente no desenvolvimento e fabricao de benseserviosmilitares.Porbenseserviosmilitares,estetrabalhoadotaentendimentosemelhanteaoStockholmInternationalPeaceResearchInstitute(Sipri),quedefi-neessacategoriadeprodutosdaseguinteforma:

    Bensmilitaressoequipamentosdesenvolvidosespecifi-

    camenteparafinsmilitareseastecnologiasrelacionadas,

    enoincluembensdeusogeral,comogasolina,eletrici-

    dade,computadoresdeescritrioeuniformes.Servios

    militaressotambmdeusomilitarespecfico,incluindo

    servios tcnicos; servios relacionadosoperaodas

    forasarmadas;eseguranaarmadaemzonasdeconfli-

    to.Talcategorianoincluiaproviso,emtemposdepaz,

    de servios puramente civis, como assistncia mdica,

    limpezaetransporte.

    A definio deBIDdeste estudo concentra-se,portanto,nasempresasqueofertamestesbenseser-viosmilitares,deixandode ladodiversasempresasquecomumenteseriamincludasemoutrasanlisesnarea,comoempresasfornecedorasdesuprimen-tos ou equipamentos estritamente civis s Foras

    Armadas, que tambm sero objeto de estudo doscaptulosseguintes,bemcomoindstriasfornecedo-rasdepeasdeusogeralesemorientaesmilitaresespecficas, ainda que faam parte de cadeiasmaisamplasdesuprimentoqueresultemembensouser-viosmilitares.

    CONTEXTUALIZAO HISTRICA DA

    INDSTRIA DE DEFESA BRASILEIRA

    A BID teve seu incio na segunda metade dosculoXVIII,poriniciativaportuguesa.Em1762,se-guindodecisodovice-reiGomesFreiredeAndrade,foiestabelecidaaCasadoTremdeArtilharianoRiodeJaneiro,sendotransformada,doisanosdepois,emArsenaldoTrem.OobjetivodesteempreendimentoeraatenderasnecessidadesdereparaoefundiodemateriaisblicosnaregiodoCone-Sul(Amarante,2004).Nessemeiotempo,tambmsurgiuoArsenaldaMarinhadoRiodeJaneiro.Criadoem1763parafortalecer militarmente a colnia, o Arsenal tinhacomoprincipalfunorealizarreparosemanutenodenaviosdaesquadrareal.3

    A criao da Casa do Trem e do Arsenal daMarinhapodemservistos,portanto, comopontapinicialparaaBID.Noentanto,conformeargumentaAmarante (2004), as atividades industriais no setordedefesaganhariammaiorrelevnciasomenteapsa chegada deDomJooVI ao Brasil. Destaca-se acriao, j em1808, da Fbrica Real de Plvora daLagoaRodrigodeFreitas.EstaseriatransferidaparaMagnoRiodeJaneiro(RJ)em1824,quandopassouaserdenominadaRealFbricadePlvoradaEstrela.Afbricamantm-seemfuncionamentoaindahoje,tendo sido reestruturadae renomeadaparaFbricadaEstrelaem1939,paradepois,em1975,serinte-gradaempresaestatalIndstriadeMaterialBlicodoBrasil(Imbel)(Dellagnezze,2008,p.7-8).

    A seguir, a indstria de defesa do Brasil serapresentadaapartirdequatrofases.AprimeirateveinciocomaProclamaodaRepblicaedurouat

    3. Disponvelem:.

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  • Introduo 13

    osanos1940,sendointituladaporAmarante(2004)como o ciclo das fbricas militares. Em seguida,destaca-se a fasedo conhecimento, emque se in-vestiuemdesenvolvimentotecnolgicoafimdein-centivar a produo industrial no pas.Nessa fase,que perdurou at a instituio do regime militar,foramconcebidasiniciativasqueresultaramemins-tituiesdeensinosuperiorecentrostecnolgicosdastrsForas,comosertratadoadiante.AterceirafaseabrangeoaugeeodeclniodaBID,abarcandodesdeoperododo regimemilitar at o incio dosanos1990,emquesedestacouograndecrescimen-toda indstriadedefesanopas.Porfim,aquartaeltimafasemarcadaporumasriacrisenaBID,queafetoudiretamenteosetoratoinciodosanos2000ecujosefeitosaindaseencontrampresentesnosdiasdehoje.

    Ciclo das fbricas militares (1889 anos 1940)

    Nos primeiros anos aps a proclamao daRepblica,aprincipaldiretrizdogovernonessesenti-doeraimportarosequipamentosdedefesaeimple-mentar,nosarsenaisbrasileiros,atividadesdemonta-gememanuteno.Assim,comesseobjetivo,foramcriadasaFbricadeRealengo,em1898,eaFbricadoPiquete,em1909.Aprimeiratinhacomoobjetivoaproduodemuniodebaixocalibreecontinuouaexistirat1978,quando,logoapsserintegradaImbel, foidesativada.AFbricadePiquete,por suavez,destinava-seproduodeplvora,esuacons-truo foi departicular importncia porque permi-tiriaaoExrcito ser supridopelomercadonacional,evitando-seadependnciadaaquisiodeplvorasnoexterior(Dellagnezze,2008,p.14).

    Alm dessas fbricas estatais, vale destacar acriaodeempresasprivadasnosetordearmamen-tos e munies. Assim, surgiram nesse perodo f-bricas como a Boito, Rossi e a FbricaNacional deCartuchos, hojeCompanhiaBrasileira deCartuchos(CBC)(Pim,2007,p.325).

    OinteresseinicialnoreequipamentodoExrcito,noentanto,sofreuumareduodevidoinstabilida-depolticaquedominouosanosseguintes.Conforme

    Amarante (2004),apreocupaodosgovernoscomas turbulncias internas fez com que, ao final daPrimeira Guerra Mundial, as importaes de equi-pamentomilitar cessassemeoExrcitotivesse seureequipamento congelado. Essa tendncia s seriarevertida a partir daRevoluo de 1930, que colo-coufimchamadaRepblicaVelhacomachegadadeGetlioVargasaopoder.

    Nessesentido,apolticainicialdogovernoVargasseriaadeexpansoemodernizaodoparqueindus-trialnopas,promovendoassimumamaiorautonomiaemrelaoaitensimportados.Destaforma,osanos1930seriammarcadospeloprimeirocicloindustrialmilitar conforme argumenta Amarante (2004), quedescreveque,notranscorrerdadcada,seriamcria-das fbricas para a produo de diversos bensmili-tares,desdearmamentoemuniodegrossocalibreaequipamentosdetecnologiaecomunicao.OutraempresafundadanapocaaForjasTaurus,quesur-giuem1939nacidadedePortoAlegrenoRioGrandedoSul(RS),atuandonaproduodearmascurtas4.

    Amarante(2004)pontuaqueoparqueindustrialcriado nestemomento se baseava inteiramente emtecnologiasestrangeirasadquiridasouutilizadassoblicena.Ademais,aBIDdesteperodonoeracapazde produzir equipamento militar pesado, como ca-nheseveculosblindados,algoquesseriapossvelcomaimplantaodeumaindstriasiderrgicapesa-danopas.Essaconjunturasseriaconcretizadaem1945, com a construo daCompanhia SiderrgicaNacional(CSN)pelogovernoVargas.

    Investindo no conhecimento (anos 19401964)

    Osanos1940marcariam,portanto,umatransi-onaindstrianacionalemtermosdepotencialdecrescimento,especialmenteapartirdaCSN.Noen-tanto,aocorrnciadaSegundaGuerraMundialtam-bm resultaria em consequncias importantes paraaBID.Aprincpio,Amarante (2004)argumentaquea intensificao da importao de equipamentos a

    4. Paramaisinformaesver:Taurus,Histrico:1930.Disponvelem:.Acessoem:22jul.2012.

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  • 14 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    custosreduzidoseoaumentodacooperaointerna-cionaldesencorajaramaproduonacional.Poroutrolado,oautorafirmaqueaguerratambmserviuparaenfatizaraimportnciadodesenvolvimentotecnol-giconosetormilitar,fazendocomqueatividadesdepesquisaedesenvolvimento (P&D)passassema servistascomoprioridadepelasForasArmadas.

    Arelevnciaatribudapelosmilitaresaodesen-volvimento tecnolgico resultou na deciso de fo-mentar atividades de P&D no mbito das prpriasForasArmadas(Amarante,2004).Assim,instituram--se iniciativas que resultariamem importantes cen-tros tecnolgicos, a saber:oCentroTecnolgicodoExrcito(CTEx),institucionalizadoem1946;oCentroTcnicoAeroespacial (CTA), criado oficialmente em1953;eoInstitutodePesquisasdaMarinha(IPqM),estabelecidoem1959.Cadaumdessescentrosbus-caria desenvolver tecnologias militares e incentivaraproduo industrialnoBrasil, cooperandocomasempresasnacionaisparapromoveraproduoaut-nomadeequipamentosparaasForasArmadas.

    Na dcada de 1950, as Foras Armadas cria-ram,ainda, instituiesdeensinosuperior,visandoformaodeengenheirosemreasfundamentaisparaastrsforaseparaaBID.Assim,em1950foicriado o Instituto Tecnolgico Aeroespacial (ITA),vinculado ao CTA, e em 1959 foi estabelecido oInstitutoMilitardeEngenharia (IME).Destemodo,juntamentecomoscentrostecnolgicos,oITAeoIMEajudaramnofomento industrialdopas, tantonosetorpblicocomonoprivado(Keller,1991apud Pim,2007,p.8).

    Outra contribuio importante viria da EscolaSuperiordeGuerra (ESG), criadaem1949para de-senvolvereconsolidarosconhecimentosnecessriosaoexercciodefunesdeassessoramentoedireosuperior e para o planejamento do mais alto nvel(ESG,[s.d.]).Nestecenrio,destaca-seofatodavisodaESGatribuirespecialimportnciaindustrializaodaeconomiae criaodeumaBIDcapazdepro-duzir autonomamente os equipamentos necessriosparaaDefesaNacional.Assim,obinmioseguranaedesenvolvimentoseriaumimportanteguiaparaasvises e decises dos oficiais militares cursados nainstituio.

    Auge e declnio da BID (1964 incio dos anos 1990)

    AsideiaspromovidasnaESGexerceriampoucainfluncianosgovernosqueseseguiramsuacria-o.Noentanto,ainstauraodoregimemilitarem1964mudariaessecenrio.Comoadventodonovoregime,CasteloBrancoeseusassessores,todosrela-cionadoscomaESG,aplicaramoscontedosprogra-mticosdaquela instituioprxisgovernamental(Pim,2007,p.7).Assim,apartirde1964,ogovernopassaadesenvolveriniciativasdiretaouindiretamen-tevoltadas criaodeumcomplexo industrial dedefesanopas.Tendoemvistaopotencialindustrialpreviamentedesenvolvidoeaformaodequadrostcnicos especializados nas dcadas anteriores, osincentivos BID durante o regimemilitar a fariamcrescerdemaneiraaceleradaduranteoperodo;cres-cimentoestequepossibilitouqueoBrasil,pasquepraticamente no exportavamaterial de defesa em1970,setornasseoquintomaiorexportadordomun-donosetorapenasumadcadadepois(Pim,2007,p.9),conformeseobservanogrfico1.

    As explicaes para este sbito e intenso cres-cimentodaBIDvariam.SegundoKenConca (1997),eleseriaresultadodacombinaoentreummercadointernacionalfavorvelecondiespolticas internasespecficas.Internamente,oregimemilitarteriafavo-recidoaBIDpormeiododirecionamentoderecursosaosetor,dagarantiadeummercadointerno,dode-senvolvimentodepolticasvoltadasexportaoedacriaodeumescudoparaasprincipaisempresaseprogramas, protegendo-osde condieseconmicasadversas. Internacionalmente, Conca (1997) apontaparaaimportnciadasmudanasestruturaisocorridasnosanos1970e1980.Deacordocomoautor,nes-seperodosurgiuumnichodemercadoparasistemasdearmasdenveltecnolgicomdionichodeatu-aodoBrasilpoca,almdaocorrnciadeumaexpansoglobalnademandaporarmamentos.Almdisso,Conca tambmapontaparaacontribuiodosistemafinanceirointernacional,emqueasfacilidadesdeobtenoderecursosnapocapermitiramqueasempresas conseguissem financiamentos para desen-volveremseusprojetoseexpandiremsuaproduo.

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  • Introduo 15

    Valedestacarqueocentrodessacrescenteinds-triadedefesadoBrasil,queatingiuseupicoemmea-dosdosanos1980,foiformadoportrsgrandescon-glomerados empresariais, segundoJomPim (2007,p.10):EngenheirosEspecializadosS/A(Engesa),em-presavoltadaparaaproduodeveculosblindados;EmpresaBrasileiradeAeronutica(Embraer),empre-sadecapitalmistoecontroleestatal,atuandonapro-duodeaeronaves;eAvibrasIndstriaAeroespacial,empresa privada voltada produo de foguetes emsseis.ArelevnciadessestrsconglomeradosparaaBIDemseuaugepodesercomprovadapelasuapar-ticipaonabalanacomercialbrasileira:emconjun-to, as empresas correspondiam a aproximadamente95%dasexportaesdosetormilitarpoca(AcuaeSmith,1994apud Pim,2007,p.10).

    A Crise da BID (anos 1990)

    Oinciodosanos1990foimarcadoporumas-riacrisenaBIDquecontinuariaaafetarosetorat

    o incio dos anos 2000. A evidncia mais imediatada crise foi o fatodeque, das trs gigantesdo se-tormilitarbrasileiro,somenteumamanteve-sebemsucedidaaofinaldosanos1990,semterescapado,noentanto,decrisesereestruturaesasaber,aEmbraer. A Avibras, terceira maior exportadora daBIDnoperodoanterior,manteve-sesemvendasex-ternasdeequipamentosmilitaresentre1993e1999,tendopassadoporcriseseconcordatas,enotendo,aindahoje,recuperadosuasadefinanceira.Altimaempresa,aEngesa,napocaamaiorexportadoradeprodutosmilitaresnoBrasil, foifalnciaem1993.Ademais, a drstica queda nas vendas externas dosetor,observadanogrfico1,indicaoforteimpactodessacrisenosetorindustrialdedefesanopas.

    As causas da crise so motivo de debate.Conforme expe RenatoDagnino (2010, p. 67-71),existemopiniesbastantecontroversasacercadoas-sunto.Segundoele,enquantoalgunspesquisadoresestrangeiroscomoFranko-Jones,AbettieMaldifassidefendemofimdaGuerraIr-Iraquecomooprincipal

    Grfico 1Exportaesbrasileirasdearmamentos(1970-2000)

    (EmUS$milhesvaloresde1990)

    Fonte:SIPRIArmsTransfersDatabase.Disponvelem:.Acessoem:03out.2012Elaboraodoautor

    BID.indb 15 13/06/16 16:42

  • 16 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    motivodacrise,noBrasilobserva-setambmoutrosmotivoscomoglobalizao,expansodoneolibera-lismo,desmontedoEstadodobem-estardospasesavanados,quedadomurodeBerlim,etc.(Dagnino,2010,p.69).

    Alinhado com a primeira corrente, DagninoapontaofimdaGuerra Ir-Iraquee a consequentereduodascomprasdematerialblicobrasileironoOrienteMdiocomocausadacrisedosanos1990naBID.Ademais,DagninoeProenaJr. (1998apud Dagnino,2010,p.69)somamaissoadificuldadequejapresentavaaindstriadedefesabrasileira,eque

    tenderiaaseagravar,emcolocarnomercadointerna-cionalosprodutosdemaiorintensidadetecnolgicadoqueseus(...)compradoresviriamademandar.

    Moraes(2012,p.31-33),aoanalisaroenfraque-cimentodoperodo,demonstraqueessesgastosti-veramreduoacentuadasomentenoinciodosanos1990, elevando-se no restante da dcada. O argu-mentocorroboradopelogrfico2,queapontaque,comaexceodeumsbitoaumentoem1990se-guidoporreduoatoano1992,adcadade1990manteveumpatamarnomuitodiscrepantedaqueledosanosde1988e1989.5

    5. ObancodedadosdoSipriMilitaryExpenditureDatabasenoforneceinformaesreferentesaosgastosmilitaresanteriores1988.

    Grfico 2Gastosmilitaresbrasileiros(1988-1999)(EmUS$bilhesvaloresde2010)

    Fonte:SipriMilitaryExpenditureDatabase.Disponvelem:.Acessoem:28nov.2012Elaboraodoautor

    Ademais,Moraes (2012,p.31)defendequetalenfraquecimento da indstria militar brasileira foiresultadodediferentesfatores,especialmenteaex-cessivadependnciadaindstriablicabrasileiraemrelaoaomercadoexterno,afortereduodasim-portaesdearmamentosapsofimdaGuerraFria

    eanoadoo,porpartedogovernobrasileiro,depolticasquegarantissemqueasempresassesusten-tassemeconomicamente.

    BID.indb 16 13/06/16 16:42

  • Introduo 17

    Deumaformaoudeoutra,ofatoqueaBIDso-freugrandereduoduranteosanos1990,compro-vadapelasituaocrticadastrsgigantesdosetorepelareduonovolumedasexportaesdeequipa-mentomilitares.SegundodadosdoSipri,6asvendasexternasdearmamentosbrasileiros,queentre1983e1988mantiveram-seentre151e268milhesdedlares,7sofreriamumaquedaapartirde1989.Oen-fraquecimentoseriaespecialmentemarcanteapartirde1993;destemomentoat2007oBrasilnoul-trapassouemnenhumanoovalorde54milhesdedlaresemvendasmilitares.

    ANLISE DA ATUAL CONJUNTURA

    A situao daBID apresentou relativamelhoranaltimadcada,comindciosdeexpansodasem-presasatuandonareaeumincioderetomadadasexportaes.NesseperodotambmsurgiramnovasiniciativasgovernamentaisvisandobeneficiaraBID.

    6. OsbancosdedadosdoSiprisobreexportaesdeequipamentosmilitaresestodisponveisem:.7. Valorestimadoemdlaresapreosde1990.

    EstaseovisaanalisaronovocontextodaindstriadedefesanoBrasil, avaliandoosdesenvolvimentosno setor a partir do incio dos anos2000e a atualconjunturadaBID.

    Comrcio exterior de produtos de defesa brasileiros

    Amelhora no cenrio da BID, nos anos 2000,podeserevidenciadapeloaumentonasexportaesdeequipamentosmilitaresbrasileiros,observvelnogrfico3.Nesseperodo,osprodutosbrasileirosco-mercializadosnomercadoexterno beneficiaram-sedo crescimento dos gastos militares de vrios pa-sesnadcadade2000,oqual sucedeuoprocessodequedanosanos1990(Moraes,2012,p.45).Noentanto, valemencionar que os valores exportadosainda somenosexpressivosqueaquelesdosanos1980,conformeseobservaaocompararosgrficos1e3.

    Grfico 3Exportaesbrasileirasdearmamentos(2000-2013)

    (EmUS$milhespreosde1990)

    Fonte:Sipri.Disponvelem:Elaboraodoautor

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  • 18 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    Acomposiodapautadeexportaesdomi-nadapelavendadeaeronaves,sendoqueaempresacommaiorparticipaonomercadoexternodedefesaaEmbraer,comdestaqueparaoavioSuperTucano(Moraes,2012,p.45-47).Entreospasesqueadqui-riram o modelo entre 2000 e 2013 encontram-seAngola, Burkina Faso, Chile, Repblica Dominicana,Equador, Indonsia, Mauritnia e Senegal8 (Sipri,2014).Ademais,ressalta-sequeoprimeirocontratodevendaentreaempresabrasileiraeogovernodosEstadosUnidos foifirmadoem2013,envolvendoacompra inicial de vinte aeronaves domodelo, atin-gindoumtotalde427milhesdedlares.Aentre-gadoprimeiroavioocorreuemsetembrode2014,enquanto os demais, produzidos em instalaes daEmbraeremJacksonville,naFlrida,devemserentre-guesatjulhode2015.importanteapontar,ainda,queaaquisiodosSuperTucanosrealizadaspelogo-vernonorte-americanodestina-seaousoemmissesmilitaresdopasnoAfeganisto.

    Aindanoquese refereproduoevendadeaeronaves, destaca-se que, em outubro de 2014, aEmbraerapresentouoprimeiroprottipodoaviodetransportemilitarKC-390,desenvolvidoemparceriacomaForaAreaBrasileira (FAB).Considerandoaversatilidade apresentadapelomodelo, caractersti-caqueabreapossibilidadedeseuusoparaasmaisdiversasmisses,hbastanteexpectativadequeoKC-390venhaacontribuirsignificativamentecomasexportaesbrasileirasnareadedefesa.ConformeocontratoassinadoentreaempresaeaFAB,seroentreguesfora28aeronavesdomodelo,quedeveentrar em operao em 2016 e j conta com car-tasdeintenoparaavendadeoutras32unidadesparapasescomoChile,PortugaleSucia(BianconieHaynes,2014).

    AlmdaEmbraer,outrasempresasquerealiza-ramcontratosexternosdefornecimentodeprodutosmilitares no perodo 2000-2010 foram a Mectron,comavendademsseis,eaAvibras,vendendove-culos,sistemasAstrosIIeradares.Asdemaisexpor-taes seriam, em grande medida, de produtos de

    8. Disponvelem:.

    segundamo(Moraes,2012,p.45-47).Noquecon-cerneocomrcioexterior,osprincipaiscompradoresdebensdedefesabrasileirosentreosanosde2000e2010foramColmbia,EquadoreChile, totalizan-do cerca de 48% das exportaes do setor.9AindaconformedadosdoSipri,observa-seapredominn-ciadosetordeaeronavessobreosdemaisnapautadeexportaesdearmamentosentreosanos2000e2013.Nesseperodo,avendadeaeronavesrepre-sentou81,3%dasexportaesdeprodutosmilitaresbrasileiros.10

    Ademais,oaumentodasvendasexternasindica,assim, condiesmais favorveis ao setor industrialdedefesanopas.Contudo,norefletematotalida-dedasempresaseatividadesdaBID.Portanto,estelivro procura avaliar a dimensodaBIDem termosde nmero de empresas, categorias de produtos etotalproduzido.Taltrabalho,noentanto,dedifcilrealizao, tendoemvistaavariedadedeempresaseprodutos,aexistnciadeprodutoscomfinalidadesduais(civisoumilitares)eadificuldadedeobtenode informaes na rea, de forma que um levanta-mentomaissistemticodaBIDaindanohaviasidorealizadonoBrasil levantamentoesteque feitopelopresentetrabalhopormeiodomapeamentodosoitosegmentosapresentadosanteriormente,afimdeobterinformaesdasmaisdiversasfontessobreasempresasassociadasacadaumdestessegmentos.

    Atual dimenso e principais caractersticas da BID

    A Associao Brasileira das Indstrias deMateriais deDefesaeSegurana (Abimde), institui-oquelistamaisdeduzentasassociadasemseuwe-bsite,umadaspoucasentidadescomacessomais

    9. Disponvelem:.10. Porconsiderarinadequadoabrangertodosostiposdearmase

    equipamentosmilitares,oSipriconsidera,paraosdadosreferen-tesaexportaesdearmamentos,osseguintesitens:aeronavesmilitares,sistemasdedefesaantiarea,armamentoantissubma-rino, veculos blindados, artilharia, motores, msseis, sensores,satlitesenaviosmilitares.Destaforma,podehaverdiscrepn-ciaquandosofeitascomparaescomdadosprovenientesdefontesqueutilizamoutrasmetodologias,especialmentenoqueserefereaoconceitodeBID.

    BID.indb 18 13/06/16 16:42

  • Introduo 19

    amploaosdadosdosetorindustrialnareadedefesanoBrasil.Aassociaodivulgou,emumaapresenta-orealizadaem2014sobreosetor,queasempresasassociadasteriamobtidoumfaturamentodeaproxi-madamente4bilhesdedlaresem2013(Abimde,2014).Ademais,aassociaoapontaqueaBIDseriaconstituda por quarenta empresas exportadoras egeraria,aotodo,umtotalde30milempregosdiretose120milempregosindiretos(Abimde,2013).

    Cabeaindaapontarquealgumasdasprincipaisempresas de defesa atuais, conforme diagnsticodaAgnciaBrasileiradeDesenvolvimentoIndustrial(ABDI, 2011), so aquelas que se beneficiaramdosgrandesprojetosmilitaresnoperododeaugedaBIDaindanadcadade1980.Nessesentido,orelatriodaABDI destaca empresas como Embraer,Avibras,Helibras e Emgepron, remanescentes daquele per-odo, bem como companhias que se estabeleceramposteriormente, mas que acolheram projetos ori-ginados nos anos 1970 e 1980, como as empresasMectron,AgraleeAtech(ABDI,2011,p.20).

    Destaca-se, por fim, que a atual estrutura daBID razoavelmente diversificada, compreendendodiferentessegmentos.OLivroBrancodeDefesadoBrasil,disponibilizadopeloMinistriodaDefesa,enu-meraoitosegmentoscomosendoosmaisimportan-tesnocontextodosetordedefesabrasileiro,sendo:armasleves,munieseexplosivos,armasnoletais,armas e munies pesadas, sistemas eletrnicos esistemasdecomandoecontrole,plataformaterres-tremilitar,plataformaaeroespacialmilitar,plataformanavalmilitarepropulsonuclear(Brasil,2012a).Almdesses,aindaabordadonestelivroosegmentodeequipamentosdeusoindividual.

    Polticas pblicas para o setor

    AcompreensodaatualconjunturadaBID,bemcomodesuasperspectivasfuturas,exigeaindaaan-lisedasmedidasgovernamentaisparaosetor.Desdeofinaldadcadade1990,aposturabrasileiraemre-laoBIDsofreutransformaesimportantes,como desenvolvimento de diferentes polticas pblicasvoltadasindstriadedefesa.Umpassoimportantenessesentidofoiacriao,em1999,doMinistrioda

    Defesa(MD),facilitandoacoordenaoentreastrsforaseaformulaodedemandasepolticaspbli-casnareadadefesanacional.11Nosanosseguintes,issocontribuiriapositivamenteparadiversasiniciati-vasquetinham,diretaou indiretamente,oobjetivodeestimularumarevitalizaodaBID.

    Entreosanosde2003e2004,foiorganizadoochamadoCiclodeDebatesemMatriadeDefesaeSegurana, no qual participaram diversos atores ci-visemilitaresparadiscutirquestes relacionadasdefesaeseguranadopas.Entreosvriosdeba-tesocorridos,destaca-sea5aRodadadoCiclo,cujatemticadediscusseseraprecisamenteaindstriadedefesa.SegundoRenatoDagnino,eleprprioumdosparticipantesdoCiclo,osdebatesresultariamnaconstituiodeumgrupocomprometidocomarevi-talizaodaBID.12

    Representandoum importantepassonadefini-odaposturadogovernoquantoBID,aPolticadeDefesaNacional(PDN)foiaprovadapeloDecretono 5.484, de 30 de junho de 2005. O documento,entre outras questes, deu nfase ao desenvolvi-mentoda indstriadedefesa,visandoreduodadependncia tecnolgica e superao das restri-es unilaterais de acesso a tecnologias sensveis(Brasil,2005a).Naesteiradaformulaodestedocu-mento, foi estabelecida tambmaPolticaNacionaldaIndstriadeDefesa(PNID),publicadanaPortariaNormativano899/MD,de19dejulhode2005.Esse

    11.O propsito de se criar um ministrio nico para as ForasArmadaspermeiaocenriopolticobrasileirodesdemeadosdosculopassado,encontrando-sepresentejnaConstituiode1946.Faz-senotvel,porm,oquantooBrasilfoitardionaefeti-vacriaodeumMinistriodaDefesa.Enquantoopasinstituiuumministrionicosomenteem1999,outrospasesjhaviamestabelecidorgosequivalenteshdcadas:oDepartamentode Defesa dos Estados Unidos da Amrica data de 1947, oMinistriodaDefesadoReinoUnidofoiconstitudoem1964eoMinistriodaDefesadoChilefoiestabelecidoaindaem1932,paracitaralgunsexemplos.

    12. Dagnino intitula essegrupocomoRededaRevitalizao, afir-mandoquesuasprincipaisideiastratamdosimpactospositivosqueseriamgeradosapartirdeumarevitalizaodaindstriadedefesa nacional, alm da possibilidade de diminuio das im-portaeseaumentodasexportaesnareadedefesa,quetambmseriamresultadosdeumaBIDfortalecida.Emsuaobra,Dagninocontestaalgumasdessasideias,questionandoaaplica-bilidadedasmedidasincentivadasporessegrupo.VerDagnino(2010).

    BID.indb 19 13/06/16 16:42

  • 20 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    brevedocumentoestipulacomoseuobjetivogeralofortalecimentodaBID.

    AEstratgiaNacionaldeDefesa(END),aprovadapeloDecretono6.703,de18dedezembrode2008,tevesuaformulaocentradanoMDenaSecretariadeAssuntosEstratgicos(SAE),econsisteemumdo-cumentovoltadoparaoestabelecimentodeumplanodedefesacentradoemaesestratgicasdemdioede longo prazo, almde buscar amodernizao daestruturanacionaldedefesa.AENDdemonstrouain-daespecialatenoindstriadedefesa,colocandoasuareorganizaocomoosegundodostrseixosestruturantesdaEstratgia13(Brasil,2009).

    OutropontorelevantedaEstratgiafoiadefini-odetrssetorestecnolgicosestratgicos,consi-deradosdecisivosparaadefesanacional:oespacial,o cibernticoeonuclear. Esses setores, segundoaEND,devemserfortalecidos,sendoqueasparceriasinternacionais e as importaes de bens e serviosprecisamlevaremcontaoobjetivodepromoveraca-pacitaoeodomnio tecnolgiconacional.AENDrepresentou,assim,umrelevantemarconodesenvol-vimentodepolticasvoltadasBID.

    O Livro Branco de Defesa Nacional, publica-doem2012peloMinistriodaDefesa,trazaindaoconceitodetransformaodadefesa,quevisapossi-bilitarmaiorcapacitaodasForasArmadasecriaroportunidades para o crescimento econmico. Paraviabilizar essamudana, o documento previu a ins-tituiodoPlanodeArticulao eEquipamentodeDefesa(Paed)eareorganizaodaBID.

    VisandorecuperaracapacidadeoperacionaldasForasArmadaseconsolidaraaquisiodeequipa-mentosdedefesa,bemcomofortaleceroensino,apesquisaeaeducaonosetor,oPaedabrange35projetos das trs Foras e apresenta um horizontetemporaldevinteanos.DeacordocomoMinistriodaDefesa, a implantaodoPaed traraopasex-ternalidades positivas nos campos militar, poltico,econmico, cientfico tecnolgico e social, alm de

    13.OprimeiroeixodaENDrefere-seacomoasForasArmadasdevem-seorganizarparadesempenharemsuasatribuies,en-quantooterceiroeixoestruturantedaENDdizrespeitocom-posiodosefetivosdasForasArmadas,versando,porconse-guinte,sobreofuturodoServioMilitarObrigatrio.

    efeitos positivos para a prpria BID.Destacar-se-,a seguir, alguns projetos prioritrios definidos peloPaed.

    NombitodaMarinha,hseteprojetoseman-damento,tantodearticulaonoterritrionacionalcomodeaquisiodeequipamentos.A recuperao da capacidade operacionalconsistenarevitalizaoemodernizaodasestruturas logsticaseoperativasdaMarinha,deseusmeiosnavaisedefuzileirosna-vais.OPrograma Nuclear da Marinha (PNM) inclui odesenvolvimentodociclodecombustvel,ofortale-cimentodoCentroTecnolgicodaMarinhaemSoPauloeaconstruodoLaboratriodeGeraodeEnergiaNcleo-Eltricaedeumprottipodereatorqueservircomobaseparaoprimeirosubmarinodepropulsonuclearbrasileiro.

    O terceiro projeto prioritrio da Marinha, aConstruo do Ncleo do Poder Naval,tememseues-copoodesenvolvimentodesubmarinos(Prosub),queprev,pormeiodeparceriacomaFrana:i)aconstru-odeumsubmarinodepropulsonuclear,dequatrosubmarinos convencionais demodelo Scorpne, deumestaleiroedeumabasedesubmarinosnoestadodoRiodeJaneiro;ii)aobtenodemeiosdesuperf-cie(Prosuper),quetemcomoobjetivoaaquisiodecinconavios-patrulhaocenicos,cinconavios-escolaeumnaviodeapoio logstico;14 e iii)aobtenodemeioanfbio (Proanf),paraaobtenodeumnaviodedesembarquedecarrosdecombate.

    AindanoqueconcerneosprojetosdaMarinha,aponta-se o Sistema de Gerenciamento da Amaznia Azul (SisGAAz), quepermitiromonitoramentoecon-troledasguas jurisdicionaisbrasileiras;oComplexo Naval da 2a Esquadra, a ser instaladanoNorteenoNordeste; e programas voltados para segurana da navegao,visandoampliarapresenadaMarinhanaAmaznia,noCentro-Oesteeemreasfronteirias.Porfim,haindaumprojetodirecionadoaopessoal daprpriafora,queenvolveaampliaodesetores

    14. Ataconclusodestecaptulo,aMarinhaBrasileiraestavaemnegociaocomestaleirosdesetepases,queoferecerampro-postasparaatenderaosrequisitosdasembarcaesconcebidaspeloProsuper,almdeavaliaraindaoNavio-PatrulhaOcenicoBrasileiro,modelodesenhadonoCentrodeProjetosdeNaviosdaMarinhadoBrasilepromovidopelaEmgepron.

    BID.indb 20 13/06/16 16:42

  • Introduo 21

    daMarinhavinculadosargosdeensino, sadeeassistnciasocial.

    O Exrcito Brasileiro apresenta, no mbito doPaed, sete projetos prioritrios de articulao e deaquisiodeequipamentos.OprimeirodelesvisaRecuperao da Capacidade Operacional,eincluiamo-dernizao e revitalizao demeios transportes doExrcitoeaaquisiodeviaturas,armamentoemu-nioespecializados.OprojetodeDefesa Ciberntica, um dos elementos priorizados pela EstratgiaNacionaldeDefesa,vislumbraaconstruodasededefinitivadoCentrodeDefesaCiberntica,aaquisi-odeequipamentos,desoluesdehardware e sof-twarededefesacibernticaeacapacitaoderecur-soshumanos.OProjeto Guarani,porsuavez,consistena implantao da nova famlia de blindados sobrerodasdoExrcito, fortalecendo tambma indstriabrasileira,jquecontribuiparaaaquisiodenovascapacitaeseparaaobtenodetecnologiadual.

    O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) constitui um sistema de moni-toramento integrado aos demais sistemas simila-res, permitindo reduzir o tempode resposta diantede ameaasdedicandoespecial atenoRegioAmaznica.15 J o Sistema Integrado de Proteo de Estruturas Estratgicas Terrestres (Proteger) um sistema voltado para a proteo de estruturasestratgicas, ou seja, instalaes, sistemas, serviosebenscujainterrupooudestruiopodetornar-seumasriaameaasegurananacional.

    Porfim,osltimosdoisprojetosdoExrcitobra-sileiro so: o Sistema de Defesa Antiarea, que temcomoobjetivoatendersexignciasdoSistemadeDefesa Aeroespacial Brasileiro (Sisdabra) por meiodaimplantaodemodernossensoresnasunidadesdeartilhariaedeumsistemalogsticointegrado;eoSistema de Msseis e Foguetes Astros 2020,queprevodesenvolvimentonacionaldeummssilcomalcance

    15.OradoemR$12bilhes,oSisfroncomeaaoperaremno-vembrode2014apartirdecentrosdeoperaoinstaladosemquatrocidadesdoMatoGrossodoSul.Oprojeto,quedeverestartotalmenteimplantadoat2021,trata-sedeumconjuntointegradoderecursostecnolgicosquepretendemreduziravul-nerabilidadenaregiofronteiria.

    deat300km,parafuturaprovisoForaTerrestre,aumentandosuacapacidadededissuaso.

    No que concerne a ForaArea Brasileira, sonoveosprojetosprioritriosvinculadosaoPaed.Emprimeirolugar,oPrograma de Gesto Organizacional e Operacional do Comando da Aeronutica pretendeade-quarbasesareas,redistribuirorganizaeslogsticaseadministrativasetransferirunidadesareasparaasregiesNorteeCentro-Oeste.Enquantoisso,oProjeto de Recuperao da Capacidade Operacionalenvolveati-vidadesdetreinamentodospilotos,recomposiodoestoquedearmamentoseatualizaotecnolgicadeaeronaves.ReferenteaoProjeto de Controle do Espao Areo, planeja-seaimplantaodenovastecnologiascomoobjetivodedar suporteoperao seguraeeficientedotransporteareodopas.

    O quarto projeto daAeronutica diz respeito capacitao operacional da FAB, que consiste noaparelhamento operacional pormeio da aquisiode diferentesmodelos de caas, helicpteros, ae-ronaves de transporte e de busca e salvamento,almdeVeculosAreosNoTripulados(Vants).H,ainda, o projeto relativo Capacitao Cientfico-Tecnolgica da Aeronutica, que visa investir nodesenvolvimento de tecnologias que garantam aindependnciatecnolgicanafabricaodemeiosaeroespaciais de defesa. Por suavez, oProjeto de Fortalecimento da Indstria Aeroespacial e de Defesa Brasileira objetiva ampliar a integrao da ForaAreacomaindstriaaeroespacialededefesadopas e contribuir para umamaior competitividadedosprodutosoferecidosporessessetoresnosmer-cadosinternoeexterno.

    Concernente s atividades espaciais, o desen-volvimento e construo de engenhos aeroespaciais pretendeestabeleceros requisitosnecessriosparaodesenvolvimentodesatlitesgeoestacionrios,vi-sandopromovercampanhasdelanamentoseotimi-zarainfraestruturareferenterea.Porfim,aForaAreaincluiaindaumprogramadeapoio aos militares e civis do comando da aeronutica,quebuscaestabe-lecercondieselevadasdebem-estaraosseusefe-tivos,bemcomoumprogramademodernizao dos sistemas de formao e ps-formao de recursos huma-nos,quevisaasseguraromaisaltonveldeformao,

    BID.indb 21 13/06/16 16:42

  • 22 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    qualificaoehabilitaodeseusrecursoshumanoseampliarainfraestruturadeensinodaForaArea.

    Ainda no mbito do reaparelhamento da ForaAreaBrasileira,destaca-seoprojetoF-X2,cujoob-jetivoamodernizaodafrotadeaeronavesmilita-ressupersnicasdaFora,queresultounaaquisiode36aviesdecaaGripenNGdaempresasuecaSaab.Visandogarantirasoberaniadoespaoareonacional, a escolhapelomodelo sedeuemdezem-brode2013,mas a Saab anunciou a efetivaodacomprasomenteemoutubrode2014.Aolongodasnegociaescomacompanhiasueca,estabeleceu-se,ainda, umcontratode cooperaoque inclui trans-ferncias de tecnologias indstria brasileira pelosprximos dez anos. Entre as 36 aeronaves adquiri-das,estima-sequequinzeunidadesseromontadasnoBrasil,sobalideranadaEmbraerecomaparti-cipaodeempresasdosetor,deformaabeneficiardiretamenteaindstrianacional.Almdisso,haver,ainda,enviodepeaseparticipaodemodeobrabrasileira mesmo naqueles que sero montados naSucia. Segundo a Saab, as aeronaves sero entre-guessForasArmadasentre2019e2024,apartirdequandoopassercapazdeprojetareconstruirosprprioscaaspormeiodatransfernciadetecnolo-giadaempresasueca.

    Somando-se aos projetos estabelecidos peloLivroBrancoequeseencontramnombitodoPaed,apresentadosacima,outramedidaimportanteparaosetordedefesafoiapublicaodaMedidaProvisriano544,de29desetembrode2011,convertidapos-teriormente na Lei no 12.598, de 22 de maro de2012.A leiestipulanormasespeciaisparacompras,contrataesedesenvolvimentodeprodutosesiste-masdedefesa,almdeabordarregrasdeincentivoreaestratgicadedefesa.Entreasmedidascontidasnalei,destaca-seadeterminaodesecriaroRegimeEspecialTributrioparaaIndstriadeDefesa(Retid),visandoestimularasempresasdosetorpormeiodaisenoadeterminadascontribuies(Brasil,2012b).Ademais,areferidaleiestabeleceuaindaadefiniode conceitos relacionados rea de defesa, comoProdutodeDefesa (Prode),quetodobem,servi-o,obraou informao (...)utilizadosnasatividadesfinalsticasdedefesa,comexceodaquelesdeuso

    administrativo (Brasil, 2012b); Produto Estratgicode Defesa (PED), sendo esse definido como todoProdutodeDefesaque,pelocontedotecnolgico,pela dificuldade de obteno ou pela imprescindi-bilidade, sejade interesseestratgicoparaadefesanacional (Brasil, 2012b); eSistemadeDefesa (SD),caracterizado como um conjunto inter-relacionadoouinterativodeProdutodeDefesaqueatendaaumafinalidadeespecfica(Brasil,2012b).

    Almdos programas e dasmedidas apresenta-das anteriormente, dedicados especificamente paraosetordedefesa, faz-se interessantenotarqueto-dasasdemaispolticasindustriaisrecentesincorpo-raramocomplexoindustrialdedefesaeaeronuticocomo setores prioritrios, um avano fundamentalparaodesenvolvimentodaBIDnacional.APolticadeDesenvolvimento Produtivo (PDP) de 2008, porexemplo,considerouocomplexo industrialdedefe-sacomoumdosProgramasMobilizadoresemreasEstratgicas; enquanto o Plano BrasilMaior, criadoem2011paradarcontinuidadePDP,foidefunda-mental importncia para a promulgao daMedidaProvisriano544,em2011,pelaqualfoiestabeleci-dooRetid, apresentadoanteriormente, que consti-tuiuumimportanteincentivosempresasnacionaisdosetordedefesa.

    Ademais, a Estratgia Nacional de Cincia deCincia,Tecnologia e Inovao (ENCTI) tambm in-cluiaindstriadedefesaeossetoresaeroespacialenuclear em seusprogramasprioritrios paraoqua-drinio 2012-2015. Assim, a incorporao da BIDempolticasnodestinadasexclusivamenteaosetordedefesaindicaumreconhecimentoaindamaisam-ploporparteEstadonoqueserefereimportnciaerelevnciadosetor.Aacolhidadessasmedidasgo-vernamentais pelos diversos atores interessadosouenvolvidos com o tema (ForasArmadas, empresasdo setoreespecialistas) foi, em largamedida, posi-tiva.Nocasodasempresas,hclaroincentivoparaapromoodemedidasquevisemfortalecerosetor,criar isenes fiscais, garantir apoios institucionais,facilitarodesenvolvimento, fabricaoecompradeprodutosdedefesaetc.

    No entanto, tambm h crticos s perspecti-vas por vezes assumidas pelo governo e empresas.

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  • Introduo 23

    Dagnino(2010)questiona,porexemplo,asafirmaesdequeinvestimentosemP&Dnaindstriadedefesageramganhospositivosparaaindstriacivileaso-ciedadeemgeral,afirmandoqueofluxocontrrio,dareacivilparaamilitar,tendeasermaiscomum,almdemenoscustoso.Oautortambmapontaparad-vidasquantocapacidadedaBIDdesupriradequa-damenteasdemandasdasForasArmadas,questio-nandoalgumasdasprevisesquantoaocrescimentoeexpansodacapacidadeprodutivaeexportadoradaBIDnosprximosanos.Porfim,eledestacaqueaEND,emparticular,utilizoulargamenteideiaspromo-vidaspelaRededaRevitalizao,cujosfundamentoseimparcialidadecolocacomoquestionveis.

    Aindanoqueserefereaosganhosqueainds-triadedefesapodemtrazercivil,faz-seinteressantenotarqueadiscussonoserestringeaocenriobra-sileiro.Nohumconsenso,tambm,entreautoresinternacionais.Umahiptesebastanteaceitaapontaqueodesenvolvimentodetecnologiasmilitaresfun-damentalparaageraodebenefcioseconmicos,especialmentepormeiodespin-off (transbordamentodareamilitarparaacivil),possibilitandoodesenvol-vimentodetecnologiasdepropsitogeral(ChueLai,2012;Ruttan,2006).Noentanto,percebe-se,desdeadcadade1970,ummovimento inversoconheci-docomospin-in (transbordamentodareacivilparaamilitar),jquecadavezmaisatecnologiatemsidodesenvolvidaporempresasdesetoresconsideradoscivis (Mallik, 2004; Schmidt, 2013). Assim, nota-seumafronteiracadavezmaistnueentretecnologiasmilitaresecivis,deformaquetemsidodifcilafirmarsea indstriadedefesa trazbenefcios aos setorescivisouse favorecidapelosmesmospormeiodoprocessodetransbordamentodetecnologias.

    Dequalquerforma,faz-serazovelsuporqueasmedidasgovernamentaisrecentestiveramecontinu-arotendoefeitospositivosparaasempresasdosetordedefesa,tendopromovidoincentivosquetendemaresultaremumaexpansodacapacidadeprodutivaedaquantidadedeempresasvoltadasproduodematerialdedefesanosprximosanos.Odebatequedeversermantidonasociedadebrasileiraenosse-tores envolvidos quanto utilidade e efetividadedessaspolticas,aosefeitosdessasmedidasnomdio

    elongoprazo,enecessidadedealteraesouapro-vaesdemedidasadicionais.

    Gastos governamentais em defesa

    Osgastosgovernamentaisemdefesaconsistemem outro fator determinante para compreender asituaodaBID.SendoosbenseserviosmilitarespreponderantementevoltadosparaForasArmadaseforasdeseguranapblica,asindstriasdedefe-satendematercomoprincipaisclientesosEstados,particularmente o governode seus prprios pases.Portanto, mostra-se importante analisar os atuaisgastosdedefesabrasileiroseasparcelasdestesgas-tosvoltadasindstriadedefesanacional.Assim,apresentesubseodestina-seaapresentardadosre-lacionadosaessesgastosemvaloresabsolutoseemrelaoaoprodutointernobruto(PIB)eaosgas-tostotaisdogoverno.Emseguida,serfeitoumes-tudocomparativoentreoBrasileosdemaispasesnoqueserefereataisdados.Ogrfico4apresentaosvaloresdosgastosmilitaresbrasileirosentreosanos2000e2013,emvaloresabsolutos.

    Osdadosapresentadosnogrfico4demonstramquenohouvemudanasbruscasnosgastosmilita-resbrasileirosnoperodoconsiderado,havendoape-nasligeirasvariaes,comumatendnciadecresci-mentocontnuaentre2003e2010.Noentanto,paraavaliarocomportamentodosgastosmilitaresnoper-odo,cabeavaliartaisvaloresemrelaoaoPIBeaosgastosgovernamentaistotais.Essasinformaessoapresentadasaseguir,pelogrfico5.16

    16.Ogrfico5considera,enquantogastosmilitares,todasasdes-pesasrelacionadassForasArmadas,incluindogastosrelacio-nadosaosministriosedemaisagnciasengajadasemprojetosdedefesa,sforasdemanutenodapazenviadassNaesUnidas,eabrangendo,ainda,gastoscompessoaleencargosso-ciais.Ainclusodessesltimosgastosimplicaemcertodesequi-lbrionoqueserefereaosreaisinvestimentosbrasileirosnareade defesa, especialmente quando comparados com pases demenorcontingentemilitar.Destaca-seofatodequenoperodoentre2001e2011asdespesasnacionaiscompessoalrepresen-taram,emmdia,maisde70%dototaldosgastosemdefesae,adicionalmente,essesgastostiveramumcrescimentomdioanualacimadeR$2,5bilhesenquantocusteioeinvestimentoapresentaramumcrescimentomdioanualdeR$966milhes.

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  • 24 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    Grfico 4Gastosmilitaresbrasileiros(2000-2013)

    (EmUS$bilhesdedlaresvaloresde2011)

    Fonte:Sipri.Disponvelem:Elaboraodoautor

    Grfico 5Gastosmilitaresbrasileiros(2000-2012)(Em%dosgastosdogovernocentral)

    Fonte:BancoMundial.WorldDevelopmentIndicators.Disponvelem:.Acessoem:7jan.2013Elaboraodoautor

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  • Introduo 25

    Ogrfico5demonstra,portanto,queaaparen-tetendnciadeaumentonosgastosmilitaresbrasi-leirosdeveser relativizada.ApesardoaumentonosvaloresabsolutosinvestidosnocampodadefesanoBrasil, a anlise desses gastos emcomparao como PIB e comos gastos governamentais totaismos-tra que a porcentagem representada pelos gastosmilitares apresentou uma tendncia de queda aolongo da dcada. Portanto, osvalores destinados defesanacionalsomenteacompanharamtendnciasdeaumentonaeconomiabrasileiraenooramento

    governamental,semalterarsignificativamentesuare-presentatividadenessestotais.

    Cabequestionar tambmadimensodosgas-tosmilitaresdoBrasilemtermoscomparativos.Paraessefim,atabela1apresentaosgastosmilitaresdosquinze pases commaior gasto emdefesa, em ter-mosdevalorabsoluto,almdafricadoSul,includacomvistasaabrangertodosospases-membrodosBRICS.Almdosvalores totais, a tabela apresentaosgastosemrelaoaoPIBeaosgastosdogovernocentral.

    Tabela 1 Gastosmilitaresdepasesselecionados(2013)

    Posio PasGastos militares

    (Em US$ milhes preos de 2014)Gastos militares (Em % do PIB)

    Gastos militares(Em % dos gastos do governo central)

    1o EstadosUnidos 640.221 3,8 10

    2o China 188.460 2,0 8,3

    3o Rssia 87.836 4,2 11,2

    4o ArbiaSaudita 66.996 9 25,2

    5o Frana 61.228 2,2 3,9

    6o ReinoUnido 57.891 2,3 5,2

    7o Alemanha 48.790 1,3 3

    8o Japo 48.604 1,0 2,4

    9o ndia 47.398 2,4 9

    10o CoreiadoSul 33.937 2,6 12,8

    11o Itlia 32.657 1,6 3,1

    12o Brasil 31.456 1,4 3,5

    13o Austrlia 23.963 1,6 4,4

    14o Turquia 19.085 2,3 6,1

    15o Canad 18.460 1,0 2,5

    45o fricadoSul 4.108 1,2 3,6

    Fonte:SiprieBancoMundial.Disponvelem:eElaboraodoautor

    Obs.:osgastosmilitares,emvaloresabsolutoseemrelaoaosgastosdogovernocentral,foramobtidosnoSipri(2014),enquantoosgastosemrelaoaoPIBforamobtidosnoBancoMundial(2014)

    Atabela1demonstraqueoBrasilteve,emter-mosdevalorabsoluto,o12omaiorgastomilitardomundo em2013, correspondendo aovalor deUS$31bilhes.Noentanto,percebe-sequeovalordessegastoemrelaoaoPIBfoireduzidoemcomparao

    comosdemaispases,alcanando1,4%.Emtermosglobais,noanode2013oBrasilestariana94a posi-oemrelaoaosgastosmilitarescomoproporodoPIB.Aotomarmososgastosmilitaresemrelaoaooramentodogovernocentral,oBrasilapresenta

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  • 26 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    umvalorde3,5%porcentagemquecolocaoBrasilna86aposiodomundo.

    ApesardevaliosasnestaanliseacercadaBID,essas informaes precisam de um detalhamentoadicional.Osvaloresutilizadosanteriormenteabran-giamosgastosmilitaresbrasileirosdemaneiraampla,incluindo, portanto, gastos referentes no somentea aquisies de bensmilitares,mas tambm a cus-tos operacionais e logsticos, salrios, investimen-tos em P&D, entre outros. Cabe, portanto, buscar

    detalhar esses gastos e especificar a parcela delesreferenteaaquisiesdebensmilitares.Utilizando-sedosrelatriosanuaissobregastosmilitaresenvia-dos OrganizaodasNaesUnidas (ONU)pelosEstados-membros, possvel especificar os valoresdirecionadosaaquisiesdebensmilitares(procure-ments)nosgastosdedefesabrasileiros.Assim,atabe-la4apresentaosgastosmilitaresbrasileirostotais,ovalordessestotaisreferentesaaquisiesdebensmi-litareseaporcentagemreferenteataisaquisies.17

    17. EntreosbensmilitaresconsideradospelaONUfiguram:aerona-ves,msseis,bombas,ogivasconvencionaisenucleares,navioseembarcaesemgeral,veculosmilitaresblindadosenoblin-dados, aparelhos eletrnicos e de comunicao, armamentos,munioeinstrumentosdeartilharia.

    Tabela 2Aquisiesdebensmilitares(procurements)nosgastosmilitaresbrasileiros(2000-2010)

    AnoTotal de gastos militares (em R$

    milhares)Aquisies de bens militares (em R$

    milhares)Porcentagem referente a

    aquisies

    2000 13.988.034 483.812 3,52001 17.399.375 713.780 4,1

    2002 18.810.881 703.665 3,72003 18.377.647 312.474 1,7

    2004 22.069.508 130.644 0,62005 23.706.687 390.415 1,6

    2006 26.323.827 628.929 2,42007 23.690.659 1.166.382 4,9

    2008 26.198.742 1.485.109 5,72009 39.076.818 2.584.241 6,6

    2010 46.052.771 4.725.980 10,3

    Fonte:ONU([s.d.])Elaboraodoautor

    A tabela 2 mostra que os gastos destinados aaquisiesdebensmilitares,apssofreremreduoemseuvalor,aumentaramsignificativamenteapartirde2004.Emparticular,aanlisedaporcentagemre-presentadapelasaquisiesnovalortotaldegastosmilitaresdemonstraqueesseaumentonofoiape-nas consequncia de um aumento geral dos gastosmilitares.Aindaqueestestambmtenhamapresen-tadoaumentoconsidervel,aporcentagemreferen-teaquisiodebens tornou-sesignificativamentemaior.Apsumaqueda,atingindoovalormaisbaixode0,6%em2004,aaquisiodebensmilitarespas-souaaumentar,atingindo10,3%em2010.Umadaspossveis explicaes para esse aumento, que teve

    incioem2005eacentuou-senofinaldadcada,a adoodasmedidas j apontadas neste trabalho,destacando-se a aprovao da Poltica de DefesaNacional (PDN), em2005, bemcomodaEstratgiaNacionaldeDefesa(END),em2008.

    A interpretao dos dados apresentados nessasubseo tem reflexos interessantes na anlise daatual conjuntura daBID.O aumento novolumedegastosmilitaresbrasileirosnosltimosanosprecisa

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  • Introduo 27

    serrelativizado,jquecomovistonogrfico8,esseaumento no representou mudanas significativasna parcela representada pelos gastos militares emrelaoaoPIBouaooramentodogovernocentral.Portanto,aindaquebeneficieaBID,oaumentodosgastosmilitaresprecisaservistosobaperspectivadeumaumentomaisamplodoPIBedosgastosgover-namentaisdoBrasilnoperodo.

    Poroutrolado,aanlisedacomposiodosgas-tos militares revela outra informao de interesse.Aindaqueosgastosemdefesanotenhamaumen-tado sua representatividadena economia brasileira,houveum significativo aumentono apenasnova-lortotaldeaquisiesdebensmilitares,comoestaspassaram a representar umaporcentagem cadavezmaior dos gastosmilitares brasileiros.Dessa forma,pode-seconcluirqueaatualconjunturadomercadoparabensmilitaresnoBrasilapresentaperspectivaspositivasparaa indstrianumhorizontedecurtoamdioprazo.

    CONSIDERAES FINAIS

    Apsduasdcadasderelativaestagnao,comodeclniodascomprasgovernamentais simultanea-menteperdadeparticipaorelativanocomrciointernacional de armamentos, o setor de defesa noBrasil vivenciou nos ltimos anos um intenso pro-cesso de consolidao, evidenciando a vitalidadeatualda indstriadedefesanoBrasilegerandoex-pectativapositivaemrelaoaosnovosprojetosnosetor.Entreasrazesqueexplicamessefenmeno,destaca-seoprogramademodernizaodasForasArmadaspormeiodaaquisiodenovosequipamen-tos,cujooramentoglobalestimadoemaproxima-damenteR$150bilhesparaosprximosvinteanos(Brasil,2012a).

    Contudo,paraalmdesseimportanteincentivoeconmico, o governo brasileiro tambm tem ado-tadomedidas institucionais que buscampropiciar arevitalizao da indstria de defesa e a internaliza-odeprocessostecnolgicosestratgicos,osquaiso pas atualmente no domina em sua totalidade.Entre estas medidas, destacam-se: a aprovao daPolticaNacionalda IndstriadeDefesa (PNID),em

    2005;olanamentodaPolticadeDesenvolvimentoProdutivo (PDP), em 2008, que considerou o com-plexo industrial dedefesa comoumdosProgramasMobilizadores em reas Estratgicas; a criao doPlanoBrasilMaior,em2011,quedeucontinuidadePDP;e,comodesdobramentodoPlanoBrasilMaior,apromulgaodaMedidaProvisriano544,emse-tembrode2011,comdiversosincentivossempre-sasdosetornoBrasil,incluindoacriaodoRegimeEspecialTributrioparaaIndstriadeDefesa(Retid).

    Existem,ainda,outrosfatoresqueincentivamaretomadadosinvestimentosnosetordedefesa,emespecial a capacidade de inovao e absoro tec-nolgicadasfirmasnacionaisoperandonessesetor,aliadasoportunidadesabertaspelasparceriasestra-tgicas comoutrospases, comoa supracitadapar-ceriadetransfernciadetecnologiaentreoBrasileaSuciaparaodesenvolvimentodoscaasGripen.Essa importante capacidade competitiva enseja umcenriopromissorparaaconsolidaoeodesenvol-vimentodaindstriadedefesanoBrasil.

    Assim,aponta-sequeoatualcenrioda inds-triadedefesa, consideradoapartirdosanos2000,parece indicar para certa retomada da capacidadeprodutivadaBIDedasvendasexternasdemateriaisdedefesabrasileiros.Comoapoiogovernamentaleasinalizaodeumvolumeexpressivodeinvestimen-tosdasForasArmadasnasprximasdcadas,diver-sos grupos empresariais do pas se engajaram numamplomovimentodeconsolidaoparaalcanarascapacidadesfinanceirae tecnolgicanecessrias aoaproveitamento destas oportunidades.Nesse senti-do,destaca-seaentradanosetordedefesadegran-desempresasdoramodaconstruocivil,pormeiodacriaodeholdingseaquisiodeoutrascompa-nhiasespecializadasemsoluesdetecnologiamili-tarcomoaOdebrechtesuasubsidiriaOdebrechtDefesaeTecnologia,criadaem2011.

    Aindanoqueserefereaessemovimento,oseg-mentodesistemaseletrnicosedecomandoecon-trole constitui uma importante arena, umavez quefiguranocentrodegrandesprojetosidealizadospelogoverno brasileiro, tais comoo Sisfron e o Sisgaaz.Nosegmentonaval, revitalizadonoperodorecentepelaretomadadasencomendasdaPetrobras,ocorre

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  • 28 Mapeamentodabaseindustrialdedefesa

    tambmuma importantemovimentao a partir daperspectivadenovasoportunidadesdefornecimentoMarinhadoBrasilporpartedosestaleirosnacionais,nobojodosinvestimentosprojetadosparaexpansodonmerodenaviosdesuperfcie.

    Porfim,apesardocrescimentodovolumedere-cursos destinado reamilitar no perodo recente,esseaumentodeveserrelativizadodiantedoaumen-toconcomitantedoPIBedooramentodogovernocentral.Noentanto,aindaqueosgastosmilitaresnotenhamaumentadosuaparticipao relativanovo-lumetotaldosgastospblicos federais,os recursosdestinadosaaquisiesmilitaresaumentaramsigni-ficativamente sua parcela nesses gastos. Destarte,conclui-sehaverumamelhoranascondiesdomer-cadobrasileirodebensmilitares,oquetrazapers-pectivadeaberturadeumajaneladeoportunidadesparaofortalecimentodaBIDnofuturoprximo.

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  • BID.indb 30 13/06/16 16:42

  • Armas e Munies

    CAPTULO 1

    ARMAS E MUNIES LEVES E PESADAS E EXPLOSIVOS

    Ariela Cordeiro Leske1

    1. Professora de Economia e Indstria de Defesa no Programa de Ps-Graduao em Cincias Militares da ECEME.

    INTRODUO

    Ao adotar uma postura pacfica em relao aos demais pases, o Brasil chegou a uma situao em que questes relevantes para a defesa nacional passaram para uma agenda secundria. Com isso, a manuten-o da sua base industrial, tal qual as bases estrat-gicas relacionadas, foi abandonada. Contudo, nos l-timos dez anos, tem-se realizado um esforo poltico para se alterar esta percepo, ressaltando o fato de a soberania nacional estar associada a um projeto de fora (dissuasria), o que tambm inclui a sua capa-citao produtiva e tecnolgica. Neste contexto, as discusses sobre defesa passam a incluir a indstria, sobretudo sua revitalizao, como forma de se ob-ter mnima autonomia na produo de produtos de

    defesa (Prode). Tais aes requerem melhor compre-enso da situao atual e, por conseguinte, deman-dam a elaborao de estudos econmicos adequados como forma de orientar as aes futuras.

    Apesar da longa histria de guerras e produ-o blica de muitos pases, os estudos econmicos sobre o tema s passaram a estar mais presentes aps a Segunda Guerra Mundial, quando o inves-timento em tecnologia e produo militar passa a ser visto como parte significativa do oramento p-blico (Freeman, 2009). Porm, esses estudos ainda no so to populares, o que, em partes pode estar relacionado falta de divulgao de informaes completas sobre produo, investimentos e comr-cio, assim como ocorre em outros setores da eco-nomia que dispem de dados e sries histricas.

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  • 32 Mapeamento da base industrial de defesa

    Ao contrrio destes, a produo na rea de defesa envolve questes de segurana e, por isso, os go-vernos tendem a proteger e cercear muitas infor-maes. Para Brauer (2002), o estudo da indstria de armamento em pases em desenvolvimento no teve boa fluncia. Estes estudos costumam focar em despesas militares e no seu consequente impacto no desenvolvimento econmico em vez de estudar, de fato, a indstria de armas e o mercado mundial e seu funcionamento. Acredita-se que isso se deva, em partes, no s maior disponibilidade de dados agregados sobre os oramentos militares e o cresci-mento econmico, mas, sobretudo, facilidade de analis-los estatisticamente.

    Ainda em relao disponibilidade de dados, observa-se que embora haja diversos acordos en-tre pases para que se divulguem os dados sobre a produo de armas, so poucos aqueles que pos-suem estatsticas oficiais. No mbito internacional, o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) tem realizado estudos anuais sobre as em-presas produtoras de armas. Contudo, esses estudos no mostram a totalidade da produo mundial e no abrangem, por exemplo, todas as empresas chinesas, russas e ucranianas, entre outras (Rolo, 2009). Isso sugere que uma pesquisa possa partir de dados se-cundrios, contudo, um estudo detalhado da inds-tria de armas exige um trabalho de campo mais pro-fundo (Brauer, 2002).

    Assim, para avanar no conhecimento sobre a produo de armas e munies leves e pesadas e ex-plosivos (AMLPEs) no Brasil, o presente captulo ir utilizar dados secundrios, os quais sero confronta-dos com dados primrios obtidos a partir da aplicao de questionrios junto s empresas selecionadas.2 Como se trata de dados secundrios, o foco do es-tudo a firma o que impede que seja conhecido a priori o que, de fato, de defesa e o que abrange outros setores.

    2. Tanto os dados secundrios quanto os primrios foram sele-cionados e tratados pela equipe de coordenao deste proje-to, a qual tambm delimitou toda estrutura e as sees deste relatrio.

    O presente captulo pretende apresentar o pa-norama atual, o atual perfil das empresas ligadas produo de defesa, e nisso se reconhece que o as-sunto no esgotado de imediato, necessitando de continuidade de pesquisa. Assim, neste momento o relatrio foi estruturado para expor o atual estado da base industrial de defesa, mais especificamente o segmento de AMLPEs.

    Alm desta introduo, a primeira seo com-posta por uma breve contextualizao analtica da indstria de defesa, seguida pela delimitao do seg-mento a ser abordado. A segunda seo traz uma vi-so do contexto mundial, apresentando os principais pases produtores de armas e as principais empresas (players) do segmento, bem como o levantamento de algumas oportunidades para a indstria do pas. Na terceira seo feita a anlise das informaes se-cundrias, obtidas junto s instituies pblicas, e das informaes primrias, obtidas atravs da aplicao de questionrios. Por fim so apresentadas algumas consideraes sobre esse segmento, suas necessida-des e possibilidades de ao, alm das questes que surgem a partir desta pesquisa inicial.

    Objetivo

    Diante do contexto exposto e da delimitao deste segmento, o presente captulo busca conhe-cer as empresas produtoras de armas, munies e explosivos no Brasil. Tal pesquisa busca analisar suas capacidades produtivas e inovativas, a fim de obter um perfil amplo que possibilite a melhor compreen-so das necessidades e das possibilidades de aes de polticas de apoio indstria.

    De forma especfica pretende-se:

    apresentar o cenrio mundial no qual a in-dstria compete;

    construir um perfil da estrutura produtiva;

    analisar o fluxo do comrcio exterior;

    conhecer o processo inovativo, alm do per-fil das inovaes;

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  • Armas e munies leves e pesadas e explosivos 33

    identificar as interaes das empresas com centros de pesquisa, Foras Armadas e ou-tras empresas;

    compreender a percepo das empresas em relao s polticas pblicas e aos policy makers; e

    suscitar questes que contribuam para a re-alizao de aes alternativas para promover esse segmento industrial.

    Contextualizao do segmento de armas e munies

    Sobre a indstria de armas, Krause (1992) afirma que a existncia de Estados em situaes potencial-mente conflituosas tem sido a fora motriz para a pro-duo de armas em larga escala e, por extenso, mu-nies e explosivos. Alm dos recursos econmicos, os recursos militares devem estar em condies de atender a poltica externa e a busca de poder por um pas. Adicionalmente, Krause estabelece ainda onze estgios pelos quais seria possvel definir a produo de armas, tal qual um ranking de estgios, atravs dos quais os pases poderiam se tornar produtores, como mostra o quadro 1.

    A classificao das fases mostra certa linearida-de. Porm, limita a anlise, uma vez que as caracters-ticas apresentadas podem ter correlao entre si, no sendo, portanto, interessante adotar a hierarquizao proposta, sobretudo porque o ranking montado a partir de pases com trajetrias diferentes da brasilei-ra. Tal raciocnio compartilhado por Brauer (2002), que defende no fazer sentindo adotar um sistema de evoluo como este j que as empresas podem iniciar suas atividades em qualquer estgio. Ora, isso iria de-pender da sua dotao produtiva e tecnolgica, que pode estar associada a diferentes estgios, inclusive pode ocorrerem em simultneo. Assim, refora-se a percepo de que no existe o modelo no qual iro se encaixar os diferentes pases, dado que estes diferem em termos econmicos, culturais e polticos, sendo preciso estudar cada um de acordo com as suas espe-cificidades (Lundavall, 1992; Schumpeter, 1942).

    As armas podem ser vistas como bens durveis, j as munies podem ser vistas como bens de con-sumo ou mesmo produtos de prateleira no caso de armas e munies leves e explosivos. Porm, seu fim, sua utilizao e as singularidades dos seus de-mandantes geram especificidades que diferenciam consideravelmente estes produtos. A finalidade des-ses produtos, em termos de defesa, abater ou ape-nas dissuadir as intenes de possveis adversrios. A segunda especificidade, quanto s singularidades dos demandantes, define os contornos de um mer-cado que tende a ser rigidamente controlado. Neste caso, os principais demandantes so os governos, que tm como finalidade atender as necessidades de se-gurana e defesa do Estado, adquirindo produtos de portes leves e pesados. S em segundo lugar, vm os consumidores privados que tendem a adquirir, indi-vidualmente, quantidades menores e de calibre leve.

    Desta forma, a participao do governo, muitas vezes, vai alm de apenas um consumidor. O governo regula a produo e a venda dos produtos, bem como promove polticas de apoio para aquelas considera-das estratgicas para o pas. A regulao incide sobre

    Quadro 1Fases produtivas sugeridas por Krause

    1 A capacidade de realizar a manuteno simples2 Reviso, renovao e modificao de capacidades

    rudimentares3 Montagem de componentes importados, produo sob

    licena 4 A produo local de componentes ou matrias-primas 5 A montagem final das armas menos sofisticadas; algum

    componente de produo local 6 Coproduo ou produo sob licena completa das

    armas menos sofisticadas7 Melhorias de pesquisa e desenvolvimento (P&D)

    limitados a armas produzidas sob licena8 Limita a produo independente de armas menos

    sofisticadas; produo limitada de armas mais avanadas

    9 P&D independente e produo de armas menos sofisticadas

    10 P&D independente e produo de armas avanadas com componentes estrangeiros

    11 P&D e produo completamente independente

    Fonte: Krause (1992, p. 171)

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  • 34 Mapeamento da base industrial de defesa

    esses produtos com o intuito de controlar a venda a terceiros e evitar impactos negativos sobre a socie-dade. Contudo, dado o comrcio ilcito que envolve o comrcio de armas, a tentativa de regular o mercado de armas tem sido rdua e com resultados deficien-tes, principalmente no caso daquelas de menor porte (Dreyfus, 2010). Com essas restries (quando e se respeitadas), o papel do governo acaba sendo funda-mental para as histrias de sucesso neste segmento, pois as polticas de apoio e os oramentos de defesa podem definir a capacidade produtiva e tecnolgica das empresas (Krause, 1992).

    Tendo entre seus principais consumidores os governos de Estados, a indstria de armas e muni-es tende a ser suscetvel aos cortes oramentrios, que em muitos casos acaba levando as empresas a enfrentarem dificuldades financeiras ou mesmo de sobrevivncia. O intenso processo de consolidao ocorrido na dcada de 1990 foi um dos resultados dessa fragilidade, quando devido ao fim da guerra fria muitas empresas internacionais fecharam, se fun-diram ou foram incorporadas concentrando a produ-o em poucas empresas e estreitando ainda mais os segmentos viveis economicamente (Dunne, 1995; Brauer, 1995). Consequentemente, diante da redu-o do nmero de empresas produtoras, e at mesmo dos segmentos produtivos, a necessidade de obter produtos de defesa pode demandar, todavia, que o Estado atue tambm como produtor, como ocorreu em pases como Inglaterra, Rssia, China, ndia, Brasil (Reppy, 2000).

    Ainda dentro das suas especificidades e re-laes com o Estado, a produo de armas requer tambm a existncia de adequada infraestrutura, oferta de mo de obra qualificada, cadeia produ-tiva tecnologicamente apta, alm de boa insero externa do apoio e proteo do Estado (Krause, 1992). A grande necessidade de buscar sempre a fronteira tecnolgica para atender aos seus exigen-tes conhecedores e competitivos demandantes co-locou as empresas produtoras de armas no centro do processo inovativo durante o sculo XX, como observado por diversos autores (Freeman e Soete, 2006; Rosenbergue, 2006). O efeito de transborda-mento, chamado de spin-off, serviu de justificativa a

    mais para que os governos continuassem investindo nos projetos ligados ao setor at o final da Guerra Fria. Ao fim desta corrida armamentista e tecnolgi-ca, foram executados severos cortes oramentrios nos recursos de defesa. A partir de ento obser-vou-se que o setor civil passou a liderar o processo inovativo das principais economias, em especial os Estados Unidos, mudando a ordem do transborda-mento onde a inovao passou a ocorrer com mais frequncia na indstria civil transbordando para a indstria blica.

    Nesse contexto, Reppy (2000, p. 120) observa que a utilizao de tecnologias duais tem sido cada vez mais adotada pela indstria de defesa. Isso, alm de ser resultado dos cortes de oramentos de defesa, tambm resulta da consolidao/concentrao das indstrias e da estratgia de integrao vertical para reduzir custos. Adicionalmente, outra estratgia que tem sido utilizada pelas empresas a celebrao de joint-ventures para o desenvolvimento de novos pro-jetos. Tal estratgia tem o intuito de compartilhar co-nhecimento e custos, principalmente quando h pou-co incentivo pblico para investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

    Quanto s especificidades das inovaes milita-res, observa-se ainda que no mercado civil, os pro-dutores esto sempre em busca de consumidores para suas inovaes, e com isso os investimentos em P&D costumam ser um problema ao critrio das empresas, enquanto a inovao militar demanda-da principalmente pelas Foras Armadas e a busca por inovao passa a ser uma preocupao do gover-no, mais especificamente por demanda das Foras Armadas s empresas (Drombowski e Gholz, 2006). Outra caracterstica apontada por Drombowski e Gholz a importncia da adequao das inovaes, em termos de armas, doutrina militar. A doutrina define o modo de atuao da tropa e com isso acaba definindo tambm o perfil de ao e se novas tecno-logias sero teis s tropas ou no.

    A questo da inovao tecnolgica afeta tam-bm as relaes no comrcio internacional de armas, sendo a transferncia de tecnologia um dos fatores de grande impacto nas negociaes. Em geral, esse um fator crtico nas negociaes, j que ao adquirir

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  • Armas e munies leves e pesadas e explosivos 35

    um sistema de armas3, preciso: i) ter treinamento adequado para manuse-lo ou ter pessoal apto a ab-sorver as novas tecnologias; e ii) conseguir adequar este novo sistema infraestrutura produtiva e aos sistemas de armas existentes ou pr-existentes. Ao longo do tempo, vrios mtodos tm sido adotados na busca por tecnologias desenvolvidas em outros pases, seja via coproduo, joint-ventures, aquisio de licenas, produo subcontratada, ou atravs de acordos de compensao os offsets. Este ltimo procedimento costuma ser buscado, sobretudo, por pases em desenvolvimento que pretendem obter tecnologias novas que possam ser exploradas pela indstria nacional (Brauer e Dunne, 2005). Contudo, alm da dificuldade de convencer os vendedores a repassar a tecnologia, preciso ainda lidar com a ab-soro do conhecimento, pois neste mbito preciso que a tecnologia venha acompanhada pelo conheci-mento e por pessoas com capacidade de transmitir o conhecimento intangvel (que extrapola o mbito do produto) e tambm que haja pessoal qualificado para absorver este conhecimento.Por fim, entre outros fatores, estas caractersticas re-foram as especificidades deste setor e com isso seu aspecto sistmico. Esse carter sistmico envolve a necessidade de compreender como o Estado atua no processo produtivo e inovativo, a partir da observa-o das relaes estabelecidas entre este e as empre-sas produtoras de armas, entre ambos e as universi-dades e centros de pesquisa, e de forma mais estreita o papel das Foras Armadas, que so, em grande par-te, os consumidores finais.

    Dessa forma, compreende-se que o segmen-to no pode ser visto apenas sob a perspectiva das empresas, mas deve se preocupar tambm com es-ses demais atores e suas interaes, as quais podem

    3. De acordo com a definio do Glossrio das Foras Armadas (Brasil, 2007, p. 239), o sistema de armas pode ter duas defi-nies: i) conjunto composto de armas, munies, acessrios, equipamentos blicos, computadores/calculadores, sensores e interligaes, que interagem para levar o poder destruidor das armas ao alvo; e ii) instrumento de combate com todo o pessoal, os equipamentos, as tcnicas operativas, as instalaes e os ser-vios de apoio, diretamente necessrios a permitir sua opera-o como entidade singular, capaz de desempenhar uma misso militar.

    ser cruciais para a delimitao das suas capacidades produtivas e inovativas. No escopo deste captu-lo ser abordada apenas a primeira perspectiva a das empresas em relao sua produo, comrcio e interao. Portanto, faz-se fundamental que seja dado prosseguimento pesquisa, para que se possa compreender, tambm, as perspectivas das Foras Armadas e das instituies responsveis pelas polti-cas pblicas, ou seja, do sistema como um todo.

    Delimitao do segmento

    As armas so instrumentos de combate e podem ter diversas categorias arma de choque, msseis, foguete, canho, rifle, pistola. As armas tambm po-dem ser classificadas como convencional (destruio por energia cintica ou por energia qumica) ou no convencional (armas nucleares, armas qumica e bio-lgica). Essa classificao apresentada, com alguma semelhana, no Glossrio das Foras Armadas (Brasil, 2007), o qual define quatro tipos de armas:

    ARMA CONVENCIONAL Aquela que, quando utilizada,

    atende a usos e costumes da guerra e por isto no mo-

    tivo de contestaes. Atualmente no se incluem nesta

    categoria as armas nucleares, radiolgicas, biolgicas e

    qumicas, exceto as que produzem fumaa, incendirias e

    as utilizadas contra o controle de distrbios.

    ARMA DE DESTRUIO EM MASSA - Arma dotada de

    um elevado potencial de destruio e que pode ser em-

    pregada de forma a destruir um grande nmero de pes-

    soas, as infraestruturas ou recursos de qualquer espcie.

    ARMA DE ENERGIA DIRECIONADA Arma dotada de

    extrema capacidade de potncia eletromagntica visando

    destruio fsica dos meios oponentes ou uma reduo

    de sua capacidade de operar, por interferir ou degradar a

    operao dos sensores inimigos com a gerao de fortes

    campos eletromagnticos. Pode ser utilizada para deso-

    rientar os sensores eletrnicos da plataforma inimiga e,

    tambm, contra as pessoas (lasers de alta energia; armas

    de feixe de partculas e micro-ondas de alta potncia).

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  • 36 Mapeamento da base industrial de defesa

    ARMA NO-LETAL Arma empregada para incapacitar

    pessoas ou materiais nas operaes, de maneira a causar

    o mnimo de danos fatais, leses permanentes no pessoal,

    danos indesejveis s instalaes e comprometimento do

    meio ambiente. Busca causar efeitos reversveis sobre as

    pessoas e sobre os materiais. (Brasil, 2007, p. 34)

    Apesar da clara definio estabelecida, optou-se, neste captulo, por estruturar o segmento classifi-cando os produtos apenas quanto ao porte.4 A partir desta classificao entre leves e pesados, no caso das armas e munies, e da incluso dos explosivos, que se pretende identificar os principais nichos de merca-do e seu desempenho.

    A definio das armas como leves e pesadas pode passar pela compreenso do emprego militar destas. Armamentos pesados so de emprego exclu-sivamente militar, so grandes e pesadas, com baixa mobilidade e grande poder destrutivo em geral esto associadas a um sistema de armas. Esse tipo de armamento tem como principais demandantes os governos e as Foras Armadas e, como se obser-var mais adiante, no contexto atual contam com poucos produtores no mundo. Para a Diretoria de Fiscalizao de Produtos Controlados do Exrcito Brasileiro (DFPC) arma pesada aquela empregada em operaes militares em proveito da ao de um grupo de homens, devido ao seu poderoso efeito des-trutivo sobre o alvo e geralmente ao uso de podero-sos meios de lanamento ou de cargas de projeo (Brasil, 2000). A Marinha do Brasil5 define como arma pesada aquelas com calibre a partir de 0.60 (15,24 mm), para a Organizao das Naes Unidas (ONU), so consideradas armas pesadas aquelas com calibre superior 100 mm (ONU, 2008). Em ambos os casos esto includas armas como morteiros, canhes, obu-ses e foguetes.

    Segundo definio utilizada pela Marinha do Brasil, armas leves so aquelas com calibre de at

    4. Essa definio do segmento, assim como a classificao adota-da, foi pr-estabelecida pela coordenao do projeto e, portanto, no representa uma viso particular.

    5. Manual Bsico do Fuzileiro Naval (CGCFN-1003). Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, cap. 17.

    15,24 mm. Para a ONU (2008), as armas leves so, em termos gerais, as armas projetadas para uso in-dividual. Elas incluem, entre outras, revlveres e pis-tolas semiautomticas, espingardas e carabinas, me-tralhadoras, rifles de assalto e