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Jura GentiumRivista di filosofia del diritto internazionale e della politica globale
CUPIO DISSOLV I: OCCIDENTE E RAZIONALITÀ NEOLIBERALE
Mariano Croce
La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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ARGUMENTOS E A HOMOPARENTALIDADE: O PERCURSO DO SENSO COMUM À PROTEÇÃO PELO DIREITO BRASILEIRO
ARGUMENTS AND THE HOMOPARENTING: THE ROUTE FROM COMMON SENSE
TO THE BRAZILIAN LAW PROTECTION
Ana Carla Harmatiuk Matos1 Jacqueline Lopes Pereira2
Resumo: Relações de parentalidade e conjugalidade são exercidas cotidianamente e de modo cada vez mais plural no seio da sociedade brasileira contemporânea. Entidades familiares homoafetivas buscam por meio de técnicas de reprodução humana assistida, adoção unilateral ou habilitação conjunta concretizar a parentalidade. Esses fatos sociais são levados à apreciação do Poder Judiciário e acabam por mostrar sua intensa força construtiva. A homoparentalidade não é exclusividade da sociedade brasileira, sendo relevante ao presente estudo a pesquisa desenvolvida pela estudiosa argentina Micaela Libson. Através do presente artigo, será apresentado viés que demonstra o quanto o “senso comum” e a tendência “neoconservadora” do Poder Legislativo brasileiro enfrentam o tema da parentalidade exercida por sujeitos homossexuais. É imprescindível e oportuno traçar quadro comparativo crítico de decisões jurisprudenciais para que se reflita se seus fundamentos são predominantemente jurídicos ou se estão eivados de preconceitos derivados de um consenso social obsoleto. Em um momento em que a realidade se impõe frente a um sistema legislativo ultrapassado, cabe ao aplicador do Direito e à doutrina repensarem os instrumentos empregados, a fim de garantir a proteção de minorias e vulneráveis, como as famílias não explicitamente previstas no ordenamento jurídico, crianças e adolescentes. Palavras-chave: Homoparentalidade. Precedentes judiciais. Filiação. Afetividade. Melhor interesse da criança e do adolescente.
Abstract: Parenthood and conjugal relationships are exercised daily and increasingly within the current Brazilian society. Homoaffective family entities seek ways to achieve the parenthood feeling. The Judiciary faces these social facts, which show its intense constructive force. The homoparenting is not limited to the Brazilian society, and this study will be based on a research developed by the Argentine scholar Micaela LIBSON. By means of this paper, it will be presented a point of view that shows how the “common sense” and the “neoconservative” Brazilian Parliament face the parenting exercised by gays. Comparing
1Doutora pela Universidade Federal do Paraná (2003). Mestra em Direito pela Universidade Federal do Paraná (1999) e mestra em Derecho Humano pela Universidad Internacional de Andalucía (1997). Tuttora Diritto na Universidade di Pisa- Italia (2002). Professora na graduação, mestrado e doutorado em Direito da Universidade Federal do Paraná . Vice-Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal do Paraná. Professora de Direito Civil, de Direitos Humanos e de Novos Direitos. Advogada.2Mestranda do Programa de Pós-gradução em Direito da Universidade Federal do Paraná. Bolsista da CAPES/PROEX. Bacharela em Direito pela Universidade Federal do Paraná (2010-2014).
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Mariano Croce
La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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critically the judgements is essential and appropriate to reflect if its arguments are predominantly legal or if they are immersed in prejudices. In a time when reality imposes itself against an outdated legal system, it is the lawyer’s role to rethink about the instruments used in order to ensure the protection of minorities and vulnerable, such as families not explicitly defined by Law, children, and adolescents on the adoption list. Keywords: Homoparenting. Brazilian Judgements. Filiation. Affection. Best interest of the
child.
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Ponto de partida: o que se compreende por
homoparentalidade?; 3. Análise jurisprudencial: estagnação e avanços; 3.1. Ingresso para
o exercício da homoparentalidade: o trâmite da adoção e o posicionamento atual do
supremo tribunal federal; 3.2. Adoção unilateral de filha da companheira de união estável;
3.3. O superior tribunal de justiça e seu posicionamento no recurso especial nº 889.852
/RS; 4. A afetividade como norte do rumo a ser tomado; 5. Conclusões.
1. INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, impende ao Poder Judiciário a tarefa de se posicionar de modo
contramajoritário à onda neoconservadora que movimenta o Poder Legislativo e às diversas
crenças que movem argumentos discriminatórios pelo senso popular. Afinal, a realidade como
ela é bate às portas do julgador, independentemente da existência de lei expressa ou de
consenso social.
Esse é o caso da união homoafetiva, que foi equiparada à união estável
heteroafetiva por interpretação extensiva do texto constitucional a partir da decisão da Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental nº 132, julgadas pelo Supremo Tribunal Federal3.
Reconhecida a referida entidade familiar, seus efeitos devem ser tutelados, tal
como o direito de exercício da parentalidade e do planejamento familiar. O desejo de se tornar 3 A decisão da Corte Suprema conferiu ao art. 1.723 do Código Civil Brasileiro a interpretação conforme a Constituição Federal para o fim de combater a discriminação de pessoas em razão do sexo ou de orientação sexual. O julgamento prestou homenagem ao pluralismo como valor sócio-político-cultural, assim como à liberdade e fez menção ao “Direito à busca da felicidade”, em perspectiva eudemonista das entidades familiares.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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pai ou mãe transcende obstáculos biológicos, já que atualmente é possível tanto a adoção,
quanto a reprodução humana assistida por técnicas de fecundação artificial.
Assim, a homoparentalidade ganha visibilidade no debate judicial e legislativo
como realidade concreta a ser encarada pelo jurista brasileiro. Nesses casos, não pode o
julgador dispensar a leitura conjunta da situação analisada com os princípios da afetividade e
do melhor interesse da criança e do adolescente.
O presente trabalho pretende evidenciar em primeiro momento a opinião
majoritária da sociedade, que reproduz de forma evidente valores preconceituosos, e, em
segundo tópico, o papel das decisões judiciais para a concretização da possibilidade do
exercício da parentalidade por uniões homoafetivas.
Em terceiro estágio, será feira reflexão sobre qual é a finalidade do rumo a ser
tomado na conjuntura contemporânea do Direito brasileiro a respeito da proteção da
homoparentalidade e vínculos de filiação a ela atrelados.
2. PONTO DE PARTIDA: O QUE SE COMPREENDE POR
HOMOPARENTALIDADE?
O termo homoparentalidade, utilizado no presente trabalho, é neologismo
proposto pela Associação de Pais e Futuros Pais Gays e Lésbicas no ano de 1997 em Paris4 e
é objeto recente de estudos no Brasil. Embora a união entre pessoas do mesmo sexo seja
reconhecida por tribunais e por doutrinadores pátrios como entidade familiar, admite-se que
há um longo percurso de estudos a ser percorrido pela academia no atinente à expressão
parental dessas pessoas.
A “normalidade” e a “conformidade” são elementos que o heteropatriarcado exige
de toda família. Entretanto, as relações humanas pautadas pela igualdade e pela dignidade não
podem admitir um ditar de como seria a forma “ideal” de uma família ou de uma relação
afetiva. Partindo desse pressuposto, abrem-se janelas para a sociedade, e nela inseridos os
4 A autora Anna Paula Uziel indica que o termo foi traduzido do francês homoparentalité: UZIEL, Anna Paula. Homossexualidade e adoção. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, p. 9.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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juristas, enxergarem as relações pessoais existentes formadas por parceiros homoafetivos que
têm o objetivo de se tornarem pais e mães.
Um grupo de estudiosos, em artigo denominado “Não podemos falhar”: a busca
pela normalidade em famílias homoparentais, salientou que a própria academia brasileira,
apesar de na última década ter intensificado seus estudos sobre o assunto, ainda precisa
discutir formas de reconhecimento de entidades familiares caracterizadas pela
homoparentalidade5.
Em que pese o termo homoparentalidade seja uma inovação que ultrapassou a
linguística, deve-se assinalar que também se mostrou como uma restrição, pois enfatiza a
orientação sexual dos pais ou mães, associando tal condição à criação dos filhos e, ademais,
deixa de abranger formas de família em que os genitores são, por exemplo, transexuais com
orientação heterossexual.
Conquanto o significado do vocábulo deva ser encarado de maneira crítica, o
presente artigo propõe enfatizar e estudar sua alusão a indivíduos de orientação homossexual
que exercem a parentalidade a partir da análise de precedentes judiciais.
A empresa Datafolha, um dos mais importantes institutos de pesquisa de opinião
do Brasil, realizou estudo em 20106, perguntando a 2.660 pessoas seu posicionamento – a
favor ou contra – a adoção de crianças por casais homossexuais. A partir dos dados coletados,
é possível elaborar o seguinte gráfico:
5 GARCIA, M. R. V.; WOLF, A. G.; OLIVEIRA, E.V.; SOUZA, J. T. F.; GONÇALVEZ, L. O.; OLIVEIRA, M. “Não podemos falhar”: a busca pela normalidade em famílias homoparentais. In: Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Org.: Miriam Grossi; Anna Paula Uziel; Luiz Mello. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, p. 277 6 Metade dos brasileiros é contra a adoção de crianças por homossexuais. Disponível em:<http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2010/06/1223486-metade-dos-brasileiros-e-contra-a-adocao-de-criancas-por-homossexuais.shtml>. Acesso em: 15/06/2016.
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La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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A favor: 39%
Contra: 51%
Indiferente ou Não opinou:10%
Gráfico 1- Elaborado pelas autoras com base nos resultados divulgados pela pesquisa Datafolha/2010.
O Gráfico 1 demonstra que mais da metade das pessoas ouvidas pelo instituto de
pesquisa afirmaram ser contra a adoção de crianças por casais homossexuais. O então
presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais –
ABGLT– Toni Reis, em entrevista publicada pelo site do jornal Folha de S. Paulo em 04 de
junho de 2010, avaliou os dados com otimismo: “Já é um grande avanço. Na Idade Média,
éramos queimados. Depois, tidos como criminosos e doentes. O fato de quase 40% da
população apoiar a adoção gay é uma ótima notícia.”7
A visão animadora de Toni Reis é ampliada quando se faz a análise dos dados
decorrentes da separação por idade dos brasileiros ouvidos. Enquanto 58% das pessoas com
idade compreendida entre 16 e 24 anos se mostraram favoráveis à adoção por casais
homossexuais, para os maiores de 60 anos, o percentual é o total inverso, sendo 68% das
pessoas contra e 19% a favor, conforme se depreende dos Gráficos 2 e 3:
7Maioria é contra adoção por casal gay. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0406201001.htm>. Acesso em: 15/06/2016.
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A favor: 58%
Contra: 34%
Indiferente ou Não opinou: 8%
Gráfico 2- Opinião de pessoas entre 16 e 24 anos. Elaborado pelas autoras com base nos resultados
divulgados pela pesquisa Datafolha/2010.
A favor: 19%
Contra: 68%
Indiferente ou Não opinou: 13%
Gráfico 3- Opinião de pessoas com mais de 60 anos. Elaborado pelas autoras com base nos
resultados divulgados pela pesquisa Datafolha/2010.
A autora Micaela Libson, em artigo intitulado “Yo opino...construcciones
discursivas sobre La homoparentalidad”, estudou resultados semelhantes a partir das
diversas opiniões de leitores do jornal argentino La Nación, colhidas entre os anos de 2002 e
2005. A partir dos dados levantados por Libson, é possível traçar paralelo com os índices da
pesquisa da Datafolha.
Dos argumentos contidos em noventa e duas cartas de leitores do La Nación,
Micaela Libson identificou em vinte delas a discussão sobre a homoparentalidade. Com a
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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finalidade de sistematizar os argumentos dos leitores, a autora levantou três questões8: 1- Em
que se acredita? (¿En qué se cree?) 2- O que se argumenta (¿Qué se argumenta?) 3- A partir
de que área do saber? (¿Desde qué espacio de saber?).
Os resultados apresentados pela autora mostram para a primeira pergunta três
diferentes crenças9: a- de que só é aceitável um modelo de casal e de família, a heterossexual;
b- de que são aceitos vários modelos de casal, inclusive o homossexual, mas o conceito de
família é somente o heterossexual; c- de que o conceito de família é amplo e são aceitos os
seus vários modelos, englobando relações entre sujeitos hetero e homossexuais.
Quanto aos argumentos que embasam tais crenças, Micaela Libson aponta,
primeiramente, um argumento estruturado em discurso sobre o “natural e o normal”, trazido
especialmente por quem defende a primeira crença, mas também notado entre os que apoiam
a segunda. A autora argentina também identifica outro argumento, predominantemente
sustentado por quem tolera uma pluralidade de modelos de união afetiva, mas só reconhece
como família aquela que é heterossexual (segunda crença), cuja justificativa enfatiza os
“possíveis danos psicológicos causados nos meninos ou meninas”10. Por fim, a autora
constata um terceiro argumento, que é o discurso sobre a necessidade afetiva das crianças
abandonadas e os aspectos positivos da adoção, mesmo que por casais homossexuais.
Os três argumentos contém traços discriminatórios, mesmo que velados, como é o
caso do terceiro, a partir do qual se infere que “dentre as opções terríveis que uma criança
abrigada tem, a ‘menos danosa’ é a ser adotada por um casal homossexual.”
Em momento final da análise, Libson se concentra em examinar qual é o espaço
de saber que circunda as crenças e os respectivos argumentos. Tais espaços são o jurídico (as
três crenças), psicológico (todas as crenças, com predomínio da segunda), o senso comum
(primeira crença), o religioso (primeira crença) e o científico (terceira crença, somente).
8 LIBSON, M. Yo opino...construcciones discursivas sobre La homoparentalidad. In: Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Org.: Miriam Grossi; Anna Paula Uziel; Luiz Mello. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, p. 348. 9 LIBSON, M. Yo opino...construcciones discursivas sobre La homoparentalidad. In: Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Org.: Miriam Grossi; Anna Paula Uziel; Luiz Mello. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, p. 349-353. 10 Tradução livre para a frase: “posibles daños psicológicos causados en los niños o niñas”.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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Ora, não obstante a pesquisa da Datafolha de 2010 ter apresentado o dado de que
51% das pessoas ouvidas são contra a adoção por casais homossexuais, não houve uma
análise dos argumentos que fundavam a opinião do entrevistado, nos moldes do exame
detalhado e aprofundado de Micaela Libson.
No entanto, ao consultar em 2015 o setor de Enquetes do sítio eletrônico da
Câmara dos Deputados da República Federativa Brasileira11, depara-se com a discussão
intitulada “Conceito de núcleo familiar no Estatuto da Família12. O dito projeto de lei em seu
art. 2º traz uma definição do conceito legal de entidade familiar:
Art. 2º Para os fins desta Lei, define-se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. (Grifou-se)
A enquete proposta pelo site não tem valor científico, tal como a pesquisa
desenvolvida pelo instituto Datafolha, não obstante, é importante veículo de interação com o
cidadão, que facilmente aponta sua opinião ao responder a seguinte pergunta “Você concorda
com a definição de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher,
prevista no projeto que cria o Estatuto da Família?”. Em meados de março de 2015, a
pesquisa já contava com 4.802.690 (quatro milhões, oitocentos e dois mil, seiscentos e
noventa) votos, sendo que 51,99% (2.497.050 votos) eram a favor do conceito exposto no
artigo acima transcrito, 47,69% (2.290.346 votos) tinham opinião contrária a tal
enquadramento e 0,32% (15.294 votos) indicaram não ter opinião formada.
A opinião dos que se mostraram a favor do conceito contido no dispositivo do
projeto de lei é equivalente ao da primeira crença exposta por Libson, ou seja, só seria
admissível como entidade familiar a união entre pessoas de sexos biológicos diferentes.
Nota-se pela proposta que o Poder Legislativo brasileiro tem posicionamento
conservador, que desconsidera um dos maiores fundamentos da Constituição da República
11 Questionário disponível no sítio eletrônico: <http://www2.camara.leg.br/agencia-app/listaEnquete>. Acesso em: 15/07/2016. 12 O Estatuto da Família consiste no projeto de lei nº 6.583/2013, proposto pelo Deputado Federal Anderson Ferreira, do Partido da República no estado de Pernambuco.
Jura GentiumRivista di filosofia del diritto internazionale e della politica globale
CUPIO DISSOLV I: OCCIDENTE E RAZIONALITÀ NEOLIBERALE
Mariano Croce
La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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Brasileira: a dignidade da pessoa humana. Isso porque uma lei em tais termos dificulta o
reconhecimento de famílias que fogem do padrão heterossexual e tradicional13.
Há um discurso eivado de heteronormatividade, a qual consiste em tornar o
modelo de família fundada na heterossexualidade o prevalente e “correto” a ser adotado
universalmente. Ela é o que predomina nas opiniões dos indivíduos consultados pela
Datafolha, dos leitores do periódico argentino La Nación, de representantes do povo brasileiro
no Poder Legislativo e dos cidadãos que responderam à enquete disposta no sítio eletrônico da
Câmara dos Deputados.
O discurso da bancada conservadora no Poder Legislativo priva casais e pessoas
de orientação sexual homossexual do direito ao planejamento familiar e de exercerem a
parentalidade.
Há um verdadeiro embate nos debates judiciais sobre a homoparentalidade, em
suas diferentes formas e práticas, nos quais se constatam crenças com argumentos baseados
em áreas do saber que escapam do jurídico e refletem dados semelhantes aos da pesquisadora
argentina Micaela Libson, conforme se verá adiante.
Uma observação que não pode deixar de ser realizada neste momento inicial é a
de que os tribunais acabam por ter que enfrentar o conservadorismo e retrocessos das leis
pátrias para garantir direitos fundamentais de forma pontual em cada caso concreto, inclusive
no que diz respeito à adoção por pessoas em união homoafetiva.
3. ANÁLISE JURISPRUDENCIAL: ESTAGNAÇÃO E AVANÇOS
O Poder Judiciário brasileiro tem importante papel em assegurar direitos
fundamentais por vezes restringidos pelo Poder Legislativo composto por bancadas
conservadoras. Esse desafio ora atribuído aos julgadores não destoa do histórico vivenciado
13 O artigo 2º do Projeto de lei nº 6.583/2013 dispõe que será família a união entre um homem e uma mulher, o que também demonstra um apego à monogamia e desconsideração das famílias denominadas “paralelas” ou das relações de “poliamor”, que são realidade com a qual os tribunais brasileiros trabalha há tempos, como se observa do julgamento do Recurso Extraordinário nº 397.762/BA, disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=547259>.
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La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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num país em que, nas palavras do abalizado professor Francisco José Ferreira Muniz14, há um
verdadeiro “Direito Judicial de Família”, em que súmulas15 e entendimentos dominantes de
tribunais são aplicados aos casos concretos em uma tentativa de acompanhar a realidade
inconstante da vida concreta.
O Direito é construção diária e importa em um amálgama de crenças e valores
sociais em interação complexa que avançam diariamente. Acompanhar de modo adequado
essas mudanças pode, entretanto, não ser tarefa fácil de ser cumprida pelo Poder Judiciário.
As professoras Silvia Pimentel, Beatriz di Giorgi e Flávia Piovesan, da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo em estudo jurisprudencial pioneiro sobre a visão da
mulher perante os tribunais em processos de família, afirmavam em 1993 que “há também
casos em que a legislação avança mas não a interpretação por parte dos agentes do sistema
judicial.”16
Não é o caso da decisão do Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.277. O leading case é um exemplo de aplicação do Princípio da
Igualdade, por ter sedimentado a interpretação extensiva em fenômeno de mutação
constitucional de que o art. 226, § 3º17 da Constituição Federal Brasileira deveria ser lido
incluindo como entidade familiar a união estável formada por “homem e homem” e “mulher e
mulher”.
A partir do reconhecimento judicial apontado, as autoras Maria Berenice Dias e
Marta Cauduro Oppermann fazem observação relevante sobre a consequente possibilidade de
exercício da parentalidade por essa conjugalidade:
[...] é possível que qualquer casal de pretensos adotantes impedidos de realizar o sonho de adotar uma criança ou adolescente interponha reclamação diretamente no
14 MUNIZ, Francisco José Ferreira. Textos de Direito Civil. Curitiba: Juruá, 1998, p. 116. 15 Aqui se faz menção à Súmula nº 380 do Supremo Tribunal Federal: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.” (DE 03/04/1964 - DJ DE 12/05/1964)”. O enunciado regeu desde 1964 o regime de bens de pessoas que viviam em união estável, antes de seu reconhecimento como entidade familiar somente pela Constituição Federal de 1988. Seu enunciado: “. 16 DI GIORGI, Beatriz; PIMENTEL, Silvia; PIOVESAN, Flávia. A figura/personagem mulher em processos de família. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1993. p. 19. 17 “§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.” – Grifou-se.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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STF. Recebida a reclamação, os Ministros do STF poderão impor, de pronto, a sua decisão, determinando ao Magistrado que reaprecie a questão à luz da igualdade absoluta entre as uniões estáveis tradicionais e as uniões homoafetivas.18
Podemos indagar, em seguida, a fim de ler os casos adiante esmiuçados, se o tema
da homoparentalidade não se encontra, no atual contexto brasileiro, em um “meio-termo”
entre a interpretação da lei construída pelo Supremo Tribunal Federal e o processo de
elaboração de lei que atribua efeitos a essa realidade, ante o neoconservadorismo que
desponta no Parlamento brasileiro.
Para uma análise mais atenta e global, deve-se atentar não apenas aos argumentos
levantados pelos julgadores, mas também pelos agentes, como o Ministério Público, que
figuram nos precedentes selecionados. Por fim, serão destacados nos casos os argumentos que
se adéquam às crenças apresentadas pela autora Micaela Libson, expostas no item 2 do
presente artigo.
3.1. INGRESSO PARA O EXERCÍCIO DA HOMOPARENTALIDADE: O
TRÂMITE DA ADOÇÃO E O POSICIONAMENTO ATUAL DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL
O primeiro caso trazido nesse estudo permeia a questão do trâmite da adoção no
Brasil, especialmente por parceiros homoafetivos, sendo imprescindível sua análise, já que
seu desfecho ocorreu em recente decisão da Suprema Corte brasileira.
O primeiro desafio enfrentado por quem deseja adotar crianças abrigadas no
Brasil perpassa pelo processo de adoção em trâmite judicial19. E, embora haja suficiente
arcabouço de informações sobre que passos devem ser tomados para dar início e impulso ao
processo, há desafios e discriminações que atingem pessoas em união homoafetiva,
decorrentes de sua orientação sexual.
18 DIAS, M. B., OPPERMANN, M. C. Adoção. In: MATOS, Ana Carla Harmatiuk; MENEZES, Joyceane Bezerra (org.). Direito das famílias: por juristas brasileiras. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 398. 19 O processo de adoção no Brasil não é simples e, atualmente, há cerca de 50 mil crianças e adolescentes em abrigos no país, conforme dados do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA). Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62023-cerca-de-35-mil-criancas-e-adolescentes-acolhidos-foram-reintegrados-a-familia-nos-primeiros-seis-meses-do-ano>.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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A etapa de habilitação consiste em o interessado em adotar preencher os
requisitos objetivos dispostos no art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente20.
Até a decisão da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277 e da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, os parceiros de união homoafetiva
buscavam por meio da adoção unilateral uma forma de concretizarem sua vontade de assumir
a responsabilidade de exercer a parentalidade conjuntamente. Por vezes, adotava-se o filho
biológico de um dos companheiros, fruto de um relacionamento anterior ou de reprodução
humana assistida, ou então se buscava a adoção unilateral de uma criança que estava no
Cadastro Nacional de Adoção, omitindo-se a existência de seu companheiro no processo de
habilitação. Entretanto, este último cenário trazia instabilidade e insegurança tanto para o
pai/mãe que não registrava a criança, quando para a própria, já que o vínculo civil era
formado somente com um dos pais, embora houvesse o vínculo socioafetivo construído com
ambos.
No estado do Paraná, dois parceiros homoafetivos propuseram a habilitação
conjunta para adoção perante Juízo de Família. A sentença de primeiro grau, embora tenha
deferido o pedido, fixou restrições ao perfil da criança: apenas poderia ser adotada uma
menina acima de 10 anos de idade.
Em face da sentença, os adotantes interpuseram recurso de Apelação perante o
Tribunal do Estado do Paraná, que não foi recebido em efeito suspensivo, para o fim de
eliminar as restrições estabelecidas pelo julgador originário.
O julgamento colegiado reformou a sentença para suprimir as limitações, contudo,
um representante do Ministério Público do estado do Paraná levou o caso às Cortes
Superiores.
20 Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. § 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. § 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. § 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. § 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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A Ministra Carmén Lúcia em decisão monocrática ao Recurso Extraordinário nº
846.10221 compreendeu que o recurso deveria ter seu seguimento negado de plano, diante do
julgamento da ADI nº 4.277 e da ADPF nº 132, pelo reconhecimento de unia homoafetiva
como entidade familiar.
Tomando como partida o leading case, a Ministra fundamentou que esses núcleos
familiares possibilitam a proteção com comunhão de vida de crianças e adolescentes,
ressaltando que “interpretando por forma não-reducionista o conceito de família, penso que
este STF fará o que lhe compete: manter a Constituição na posse do seu fundamental atributo
da coerência, pois o conceito contrário implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele
mesmo, em discurso indisfarçavelmente preconceituoso ou homofóbico.”.
Assim, o Supremo Tribunal Federal demonstra que sua compreensão sobre
homoparentalidade decorre do reconhecimento anterior de uniões homoafetivas e sua
equiparação à união estável.
A decisão monocrática aponta que o papel da Corte, na qualidade de guardiã da
Constituição Federal brasileira é eliminar discriminações, o que significa ampliar de forma
não reduzida o próprio conceito de família.
Apesar de a decisão ter cunho comemorativo aos militantes de movimentos
sociais como a ABLGBT, não se pode deixar iludir pelo discurso avançado de igualdade, pois
como pano de fundo do julgamento, houve um representante do Ministério Público que
interpôs o recurso para manter as restrições dadas pelo juízo de primeiro grau, em flagrante
apoio a uma discriminação relativa à orientação sexual dos adotantes, coincidindo com a
primeira crença apresentada por Micaela Libson, de que só seria “aceitável” a adoção por
casais em relação heteroafetiva.
Passamos, agora, ao estudo de um segundo precedente, dessa vez de uma corte de
justiça estadual.
21 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ________. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 846.103. Relatora Ministra Cármen Lúcia. Julgado em 16/03/2015. Disponível em: < https://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20150317_052.pdf >. Acesso em: 15/06/2016.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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3.2. ADOÇÃO UNILATERAL DE FILHA DA COMPANHEIRA DE
UNIÃO ESTÁVEL
O segundo precedente analisado trata-se de Recurso Especial nº 128.109-3/SP
interposto pelo Ministério Público estadual contra acórdão do Tribunal de Justiça de São
Paulo que concedeu a uma mulher a adoção unilateral da filha biológica de sua companheira.
Neste caso, foi possível acesso ao inteiro teor do julgamento, junto à página oficial da Corte
Superior22. A Relatora da decisão, Ministra Nancy Andrighi, foi acompanhada por
unanimidade ao votar pelo desprovimento do Recurso, o qual tinha como um de seus
principais fundamentos a impossibilidade jurídica do pedido.
O acórdão impugnado sustentava que a concessão do pedido de adoção formulado
seria vantajosa para a criança e exemplo do exercício digno dos direitos e deveres
consagrados na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente,
especialmente no art. 4323 deste diploma que busca na adoção o atendimento de reais
vantagens ao adotando.
Nesse caso, a de que a criança foi gerada com técnica de reprodução humana
assistida heteróloga com uso de material genético de doador anônimo.
O debate que fundamenta a interposição do recurso foi o de que a mãe
socioafetiva desejou adotar unilateralmente a criança, sendo tanto ela quanto sua companheira
mães.
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça se respaldou no entendimento
de que as uniões entre pessoas de mesmo sexo se equiparam à união estável entre homem e
mulher, o que, ao ver da Corte, confere a possibilidade jurídica do pedido.
No caso em análise, a adotante em suas contrarrazões defendeu que a mãe
biológica permitiu a adoção, que a relação homoafetiva existente entre ambas era estável e a
concessão do pedido traria benefícios à adotanda. 22 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 128.109-3. Relatora Ministra Nancy Andrighi. Terceira Turma. Julgado em 18/12/2012. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=1203140&sReg=201102016852&sData=20130204&formato=PDF>. Acesso em: 15/06/2016. 23 Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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Ao nosso ver, é criticável a conduta do Ministério Público estadual ao longo do
processo. O parquet discordou do acórdão do tribunal estadual, alegando que seria
juridicamente impossível a adoção de criança ou adolescente por duas pessoas do mesmo sexo
e que a adoção deve ser compatível com a filiação natural, decorrente da união entre homem e
mulher. Aqui, novamente, constata-se o argumento trazido pela pesquisa de Micaela Libson
de que só seria possível o modelo heterossexual, “normal e natural” de família para permitir a
adoção unilateral pela companheira homoafetiva.
Um argumento usado no julgamento para rechaçar essa insurgência do Ministério
Público de São Paulo é a do amparo da decisão judicial em pesquisas científicas, o que lembra
outra das crenças apresentadas por Libson, a de que há aspectos positivos comprovados
cientificamente de que a adoção é benéfica à criança, mesmo quando o adotante tem
orientação homossexual. Na própria ementa do Recurso Especial nº 128.109-3, lê-se a citação
de um estudo realizado por psicólogas:
Estudos feitos no âmbito da Psicologia afirmam que pesquisas "(...) têm demonstrado que os filhos de pais ou mães homossexuais não apresentam comprometimento e problemas em seu desenvolvimento psicossocial quando comparados com filhos de pais e mães heterossexuais. O ambiente familiar sustentado pelas famílias homo e heterossexuais para o bom desenvolvimento psicossocial das crianças parece ser o mesmo". (FARIAS, Mariana de Oliveira e MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi in: Adoção por homossexuais: a família homoparental sob o olhar da Psicologia jurídica. Curitiba: Juruá, 2009, pp.75/76). – Grifos Nossos
O que o Superior Tribunal de Justiça quer dizer nas entrelinhas quando demonstra
a preocupação em enfatizar a “normalidade” das crianças filhas de casais homossexuais? A
resposta pode ser desconfortável, pois se infere que crianças filhas de casais homossexuais
poderiam ter algum “desvio”, diferentemente de filhos de casais heterossexuais, que seriam
“normais”. Ora, é ultrapassada a ideia de que a orientação sexual diferente da heterossexual
Jura GentiumRivista di filosofia del diritto internazionale e della politica globale
CUPIO DISSOLV I: OCCIDENTE E RAZIONALITÀ NEOLIBERALE
Mariano Croce
La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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seria um “desvio”. Abandonou-se o sufixo “-ismo”24, propôs-se centralidade na pessoa
humana e em todas as suas opções de ser feliz e digno.
Portanto, qual é o sentido de trazer dados científicos e de pesquisas da área “psi” a
fim de corroborar a decisão de que o melhor para a criança é ficar com suas mães ou seus pais
homossexuais? As decisões judiciais, como a desse precedente, ainda se centram no discurso
científico, como contra-argumento a razões moralistas, não sendo simplesmente pró-
felicidade, pró-família e pró-melhor interesse da criança.
Em que pesem as críticas à decisão da Corte, ela foi acertada ao acolher a vontade
do casal em concretizar o planejamento familiar, pois houve desfecho favorável à mãe
socioafetiva que conseguiu adotar a filha biológica de sua companheira, mesmo com os
obstáculos enfrentados ao longo da causa.
3.3. O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E SEU POSICIONAMENTO
NO RECURSO ESPECIAL Nº 889.852 /RS
O último julgamento a ser analisado é o do Recurso Especial nº
889.852 do Rio Grande do Sul, apreciado pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
e julgado em 27 de abril de 2010, isto é, antes da decisão do Supremo Tribunal Federal na
Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.277 de maio de 2011.
No caso, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, o Ministério Público do
Rio Grande do Sul recorreu de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do estado que
reconheceu a adoção unilateral de dois irmãos biológicos por uma mulher, cuja companheira
já as havia adotado anteriormente.
Esse caso retrata a adoção de crianças sem vínculo biológico com nenhuma das
adotantes, que viviam em união homoafetiva desde o ano de 1998.
24 O sufixo foi abandonado pela Medicina, que revelou uma nova compreensão sobre a homossexualidade, qual seja, a sua retirada do rol das perturbações mentais, em 1973, pela Sociedade Americana de Psiquiatria. No Brasil, o “Grupo Gay da Bahia” liderou um movimento que culminou em 1985, com a retirada do então dito homossexualismo do enquadramento como “desvio e transtorno sexual”. Sobre o debate ocorrido, informações mais detalhadas são encontradas na obra: MATOS, Ana Carla Harmatiuk. União Entre Pessoas do Mesmo Sexo: Aspectos Jurídicos e Sociais Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 34 e ss.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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L. B. M. G., doravante “L” e sua companheira “Lu” optaram pela adoção para
realizar o planejamento de parentalidade. Lu se habilitou para a adoção, omitindo viver em
união homoafetiva e, assim, adotou unilateralmente dois irmãos em 2004.
Desde então, as crianças residiram com as parceiras homoafetivas, recebendo
educação e afeto de ambas as mães, da registral e da socioafetiva. Em 2006, “L” desejou
também adotar unilateralmente os filhos e a sentença de primeiro grau deferiu o pedido com
apoio em estudo social. Desse modo, houve inserção do nome de “L”, sem menção dos
termos “pai e mãe” nos registros de nascimento das crianças, tampouco a “materna e paterna”
sobre a relação avoenga.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul interpôs recurso de Apelação cível
contra a sentença e o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu pelo seu
desprovimento, entendendo que a adoção deveria ser deferida, pois se estaria diante de
entidade familiar e ressaltando ser “hora de abandonar os preconceitos e atitudes hipócritas
desprovidas de base científica, adotando-se uma postura de firme defesa da absoluta
prioridade que constitucionalmente é assegurada aos direitos das crianças e dos
adolescentes”.25 O Ministério Público do Rio Grande do Sul interpôs Recurso Especial,
fundado no art. 105, inciso III, alíneas a e c da Constituição Federal26, afirmando que o
acórdão do Tribunal de Justiça estaria indo de encontro ao previsto no art. 1.622 e caput do
art. 1.723 do Código Civil Brasileiro27.
25 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 889.852. Relator Ministro Luis Felipe Salomão. Quarta Turma. Julgado em 27/04/2010. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=966556&sReg=200602091374&sData=20100810&formato=PDF>. Acesso em: 15/06/2016. 26 Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...) III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: (...)a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; 27 Art. 1.622. Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou se viverem em união estável. Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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Diante do cenário, o relator Ministro Luis Felipe Salomão negou provimento ao
Recurso Especial, tomando por base a Proibição de discriminação, prevista no art. 3º, inc. IV
da Constituição Federal e nos preceitos da Declaração Universal de Direitos Humanos.
O julgador fez referência ao laudo de assistente social que apontou a evidência da
divisão de responsabilidades entre L. e Lu para criação e educação das crianças. L. era
professora universitária o que, ao ver do Ministro, proporcionaria benefícios às crianças,
como registro em plano de saúde, facilidade de acesso aos ensinos básico e superior,
vantagens sucessórias e, no caso de possível divórcio ou morte da mãe registral, as crianças
poderiam restar em situação de “órfãos de mãe viva”.
O Relator também mencionou a existência de “situação fática consolidada”, em
consonância com o art. 1º da Lei nº 12.010/2009: “Esta Lei dispõe sobre o aperfeiçoamento
da sistemática prevista para garantia do direito à convivência familiar a todas as crianças e
adolescentes, na forma prevista pelo ECA.”,bem como com o art. 43 do Estatuto da Criança e
do Adolescente.
O interesse das crianças é privilegiado no voto do Relator, o qual reitera que
dados de estudos científicos “não indicam qualquer inconveniente em que crianças sejam
adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do afeto que
permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga a seus curadores.”.
Diferentemente do parquet estadual, o Ministério Público Federal emitiu parecer
favorável à adoção, por conta da segurança, afeto e amparo encontrado pelas crianças: “Se as
crianças vêm sendo criadas com amor e se cabe ao Estado, ao mesmo tempo, assegurar seus
direitos, o deferimento da adoção é medida que se impõe”. O argumento reitera a situação
fática consolidada de dupla maternidade.
O Ministro Luis Felipe Salomão em seu voto observa que a adoção é “ato de
amor, desprendimento, gesto de humanidade”. Ressalta que diferentemente de 86% (oitenta e
seis por cento) das pessoas que deseja adotar apenas uma criança, L. e Lu adotaram dois
irmãos biológicos. O voto do ministro relator ressaltou que haveria prejuízo ao bem- estar dos
menores se não deferida a adoção unilateral à mãe socioafetiva.
Embora ainda não houvesse decisão do Supremo Tribunal Federal acerca da
equiparação de uniões homoafetivas a união estável entre homem e mulher, o Superior
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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Tribunal de Justiça julgou por analogia a essa entidade familiar, nos termos do art. 4º da
LINDB28.
Quanto aos votos dos demais magistrados, nota-se que o Ministro Aldir
Passarinho Junior seguiu o entendimento do Relator, do mesmo modo que o desembargador
convocado Honildo Amaral Mello Castro e o Ministro João Otávio de Noronha. Sobre os
votos desses dois últimos, nota-se que aquele afirmou que seria “preferível que se admita a
adoção”, sendo possível detectar o terceiro argumento apontado por Micaela Libson de que
dentre a opção da criança ficar institucionalizada e não ter um lar onde se desenvolver, é
preferível que seja adotada, mesmo que por um “casal” homossexual, a fim de ter
possibilidades de um futuro melhor. Do voto do Ministro João Otávio de Noronha, ressalta-se
o trecho “Aproveito a oportunidade para dizer que o fato de ser uma relação homoafetiva
não traz nenhuma influência na opção sexual dessas crianças ou na futura opção sexual
desses meninos adotados. Não tem nada a ver.”.
As críticas a serem feitas sobre esse caso residem na ênfase no interesse das
crianças, deixando o direito da mãe socioafetiva em poder adotar unilateralmente em um
segundo plano, na reiteração exacerbada nos benefícios patrimoniais que as crianças terão ao
serem adotadas pela companheira L., e nos argumentos evidenciados de que a opção é “menos
gravosa” para as crianças do que permanecerem em abrigos.
Feitas essas considerações sobre as decisões, é preciso sopesar qual é a finalidade
de se reconhecer e dar efeitos à homoparentalidade, a despeito de qualquer crença ou
argumento contrário.
4. A AFETIVIDADE COMO NORTE DO RUMO A SER TOMADO
Observa-se a partir dos julgados analisados que por vezes o órgão do Poder
Judiciário evidencia o interesse da criança fruto do planejamento familiar dos parceiros
homoafetivos, por outras, há ênfase no próprio direito dos potenciais pais, em relação
considerada entidade familiar.
28 Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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O princípio da afetividade é o ponto de partida e o ponto final da jornada que
envolve a homoparentalidade e não há opinião que possa desfazer ou ocultar o
comportamento que presume a existência de laço afetivo entre pais/mães e filhos, seja qual for
sua orientação sexual.
O avanço do direito de família brasileiro decorre do alargamento justamente do
conceito do que seria família. Atualmente, pela concepção eudemonista delineada pelos
professores José Lamartine Correa de Oliveira e Francisco José Ferreira Muniz, a busca pela
felicidade e a centralização do indivíduo como sujeito de direito é o que orienta a
identificação do “sentir-se” em família29.
De acordo com Paulo Luiz Netto Lôbo, a filiação é um conceito relacional,
estabelecido entre duas pessoas, uma das quais nasce da outra, ou é por ela adotada, ou
vinculada por “posse de estado de filiação” ou fruto de reprodução humana assistida30.
No Brasil, como o planejamento familiar é liberdade concedida aos pais, não se
pode admitir uma intervenção indevida e discriminatória no exercício da homoparentalidade,
pois esta é apenas uma forma de expressão da autoridade parental.
O princípio da afetividade cessa qualquer discussão sobre o vínculo a ser
reconhecido em casos como os enfrentados no item anterior, pois permite uma visão de quem
integra a relação social para verifica a existência de fatos signo-presuntivos de afetividade e,
por consequência, admitir a filiação e a parentalidade31.
O princípio do melhor interesse da criança em casos de adoção é imperativo a ser
observado pelo Estado, mas não pode ser usado em discurso que o deturpe, trazendo óbices e
limites de faixa etária de forma discriminatória à orientação sexual dos adotantes parceiros
homoafetivos. 29 De acordo com os citados autores, “A concepção eudemonista da família progride à medida que ela regride ao seu aspecto instrumental. E, precisamente por isso, a família e o casamento passam a existir para o desenvolvimento da pessoa – para a realização dos seus interesses afetivos e existenciais”. (MUNIZ, Francisco José Ferreira; OLIVEIRA, José Lamartine Côrrea de. Curso de direito de família. 4. ed. Curitiba: Juruá Editora, 2003, p. 13). 30 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: Famílias. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 218. 31 A autoridade acerca da construção doutrinária sobre o Princípio da Afetividade no direito brasileiro é o professor Ricardo Calderón que, em sua dissertação de mestrado se refere a uma “objetivação” da Afetivadade a ser identificada pelos “fatos signo-presuntivos”. CALDERÓN, Ricardo Lucas. Princípio da Afetividade no direito de Família. Rio de Janeiro: Renovar, 2013, p. 312-313.
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Logo, os argumentos de “naturalidade”, rigidez do conceito de família, ou
baseados em dados científicos sobre os efeitos da homoparentalidade no desenvolvimento da
criança não devem se sobrepor à razão de ser da família, que deixou de seguir ditames alheios
à busca pela felicidade de cada um de seus membros, sem enxergar na orientação sexual uma
fonte de preconceito.
5. CONCLUSÕES
A partir da leitura das decisões tomadas como paradigmas desta pesquisa, dos
dados da realidade concreta e dos critérios indicados pela autora argentina Micaela Libson,
algumas conclusões podem ser brevemente listadas:
I- em todos os casos analisados, mesmo naqueles anteriores à decisão da ADIN nº
4.277 e da ADPF nº 132, se mostrou imprescindível a equiparação da união homoafetiva a
entidade familiar. Denota-se uma especial tentativa de adequação da relação homoafetiva a
um padrão de família que trouxesse benefícios à criança adotada ou gerada, de forma que se
tornasse “aceitável” a homoparentalidade ao ver do senso comum;
II- há persistência de argumentos dos protagonistas processuais, em destaque dos
representantes do Ministério Público dos estados federados, que se voltam a combater a
adoção por famílias que fogem do padrão heteronormativo, “natural e normal”;
III- mesmo em decisões favoráveis à homoparentalidade, nota-se uma ênfase na
comprovação de inexistência de danos psicológicos causados nas crianças. Essa dependência
por dados científicos reproduz o terceiro argumento evidenciado por Micaela Libson, de que
crianças abandonadas necessitam de afeto, mesmo que de alguém fora do padrão de
“normalidade” esperado. Além disso, há vinculação dos fundamentos das decisões com os
espaços de saber científico e psicológico, como se verifica, por exemplo, nos Recursos
Especiais nº 128.109-3 e nº 889. 852 (pontos 3.3 e 3.4).
IV- Na decisão monocrática da Ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal
Federal (ponto 3.1) desponta a preocupação do Poder Judiciário tutelar relações afetivas, sem
se preocupar em fazer menção a discursos científicos genéricos que escapassem da
centralidade do caso concreto.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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Como visto ao longo do presente artigo, é recente a abertura da discussão nos
tribunais sobre questões de filiação e homossexualidade, as quais são realidade concreta que
caminha em busca da ponderação de princípios adequados e da não reprodução de valores
ultrapassados. Por essa razão, apesar de serem tecidas críticas a alguns fundamentos desses
julgados, há que se reconhecer uma abertura para a pluralidade e para a afetividade.
O percurso em busca da plenitude do exercício da parentalidade por uniões
homoafetivas, assim como a igualdade de tratamento de seu planejamento familiar precisam
de reparos diários e de operadores capazes de tornar essa via mais visível, de forma a
combater a opinião majoritária e discriminatória que busca “afastar o que não se conhece”.
A mudança da opinião que reproduz valores preconceituosos mesmo que de forma
inconsciente requer esforço, postura ativa de reflexão, de revisão de pontos de vista antes
adotados e necessidade de encarar o novo, sem medo de enfrentar o inusitado.
Olhar de modo crítico os preconceitos, evidentes ou velados em discursos
jurídicos, é forma de dar movimento a um Direito que projeta uma sociedade mais justa,
fraterna e igualitária, sem se ater a crenças e a argumentos em áreas de saber reprodutoras de
preconceitos, claros ou encobertos.
6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Câmara Notícias, Enquetes Ativas. Conceito de Núcleo familiar no Estatuto da Família. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/agencia-app/listaEnquete>. Acesso em: 15/06/2016. ________. Conselho Nacional de Justiça. Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA). Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62023-cerca-de-35-mil-criancas-e-adolescentes-acolhidos-foram-reintegrados-a-familia-nos-primeiros-seis-meses-do-ano>. Acesso em: 15/06/2016. ________. Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro. Agravo de Instrumento nº 54488-46.2013.8.19.0000. Relatora: Desembargadora Teresa de Andrade Castro Neves, Rio de Janeiro, RJ, julgado em 30 de abril de 2014. Disponível em: <http://www4.tjrj.jus.br/ejud/ConsultaProcesso.aspx?N=201300238877>. Acesso em: 15/06/2016.
Jura GentiumRivista di filosofia del diritto internazionale e della politica globale
CUPIO DISSOLV I: OCCIDENTE E RAZIONALITÀ NEOLIBERALE
Mariano Croce
La trama della politica occidentale: ius e lex
Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 889.852. Relator Ministro Luis Felipe Salomão. Quarta Turma. Julgado em 27/04/2010. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=966556&sReg=200602091374&sData=20100810&formato=PDF>. Acesso em: 15/06/2016. ________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 128.109-3. Relatora Ministra Nancy Andrighi. Terceira Turma. Julgado em 18/12/2012. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=1203140&sReg=201102016852&sData=20130204&formato=PDF>. Acesso em:. 15/06/2016 ________. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 397.762. Relator Ministro Marco Aurélio. Primeira Turma. Julgado em 03/06/2008. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=547259>. Acesso em: 15/06/2016. ________. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 846.103. Relatora Ministra Cármen Lúcia. Julgado em 16/03/2015. Disponível em: < https://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20150317_052.pdf >. Acesso em: 15/06/2016. ________. Supremo Tribunal Federal. Súmula n.º380. Disponível em: <http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/75/STF/380.htm>. Acesso em: 15/06/2016. CALDERÓN, Ricardo Lucas. Princípio da Afetividade no direito de Família. Rio de Janeiro: Renovar, 2013.
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Non v’è dubbio che quel che si suole definire come Occidente, i cui confini temporali e geografici sono da sempre in discussione, e che sempre è vissuto di ambivalenti scambi e commistioni con l’al-tro da sé, possa caratterizzarsi per alcuni tratti che risultano affatto peculiari. In particolare, è assai suggestiva l’ipotesi, elaborata in di-versi ambiti, perlopiù a partire da analisi di tipo storico e storico-an-tropologico, per cui la trama della vita politico-giuridica occidentale sarebbe caratterizzata da un perpetuo confronto/conflitto tra due sfere costitutive del sociale: il diritto e la politica. Autori come Paolo Grossi, Charles McIlwain e Aldo Schiavone, seppur con intenti e obiettivi diversi, ci hanno restituito l’immagine di una perdurante contrapposizione tra un modello orizzontale di organizzazione delle relazioni tra soggetti sociali, cui sovente ci si riferisce col termine “ius”, e una forma di regolazione delle condotte a proiezione verti-cale, che trova sintesi nel termine “lex”. Lo ius viene generalmente descritto come una forma di disciplinamento, tendenzialmente spontanea e auto-organizzata, affidata alle cure sapienti di un ridot-to numero di esperti, cui è attribuito il compito di rivenire e rendere espliciti quei fatti normativi (dalla natura consuetudinaria e ariflessi-va) che intessono e regolano il quotidiano ben prima di ogni inter-vento da parte di chi gestisce le risorse di forza. In ragione di ciò, lo ius è in grado di vivere di risorse interne, legate alla bontà ingenita delle sue raccomandazioni, e può prescindere – se non sempre al-meno in linea tendenziale e per una buona porzione della popola-zione a esso soggetta – dal ricorso alla minaccia di sanzioni. Lo ius costituisce quindi la trasfigurazione organizzata e duratura di un so-ciale che trova in sé le proprie regole di condotta. La lex consiste in-vece nell’uso di risorse di forza organizzata per la regolazione di ar-
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