argamassas de cal aerea com incorporacao de cinzas de casca de arroz. estudo da influencia da...
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Argamassas de cal area com incorporao de cinzas de
casca de arroz
Estudo da influncia da granulometria das cinzas
Joo Carlos Duarte Tiago
Dissertao para obteno do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Jri
Presidente: Prof. Doutor Jorge Manuel Calio Lopes de Brito
Orientador: Prof. Doutora Ana Paula Teixeira Ferreira Pinto Frana de Santana
Co-Orientador: Prof. Doutor Augusto Martins Gomes
Vogal: Eng. Joo Manuel Bessa Pinto
Outubro de 2011
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RESUMO
A aplicao de argamassas de cal area com incorporao de materiais pozolnicos no
recente na construo. Contudo, nos ltimos anos a sua aplicao foi gradualmente substituda
por argamassas base de cimento e de cal hidrulica, o que provocou um esquecimento das
tcnicas e conhecimentos associados aplicao de argamassas de cal area com adio de
materiais pozolnicos. Porm, estas novas tcnicas nem sempre so compatveis com os
materiais existentes nos edifcios a reabilitar, o que suscitou o interesse de readquirir os
conhecimentos relativos utilizao de argamassas de cal area com incorporao de adies
pozolnicas.
A presente dissertao teve como objectivo estudar a reactividade pozolnica de cinzas de
casca de arroz numa argamassa de cal area e avaliar a influncia da granulometria das
cinzas no desempenho de argamassas de cal area formuladas com estas cinzas.
O trabalho experimental incidiu sobre o estudo de quatro argamassas formuladas com cinza de
casca de arroz, igual relao cal/cinza (1:2) e consistncia (165 5 mm) e uma argamassa de
referncia. A cinza comercial foi previamente preparada para se obter amostras com
granulometrias diferentes. A caracterizao das argamassas foi efectuada com base em vrias
determinaes utilizadas neste tipo de estudos.
A melhoria de vrias caractersticas das argamassas estudadas evidenciou a reactividade
pozolnica da cinza estudada, a possibilidade do seu incremento atravs da reduo da
dimenso das suas partculas, bem como o interesse da sua aplicao em argamassas de
reabilitao, uma vez que cumprem alguns dos requisitos de compatibilidade com os suportes
antigos.
Palavras-chave: argamassas de cal area, cinza de casca de arroz, reactividade pozolnica,
granulometria.
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Abstract
The use of lime based mortars with pozzolanic material is not new in constrution. Its application
has been gradually replaced by cement-based mortars and hydraulic lime. However, cement
based mortars and hydraulic lime are often incompatible with the materials used to rehabilitate
buildings. That increase the interest in recovering the lost knowledge associated with the use of
lime mortars with pozzolanic materials.
The aim of the present work is to study the pozzolanic reactivity of rice husk ash in lime mortars
and evaluate the effect of rice husk ash particle size in lime based mortars. For the purpose,
four mortars were studied with three fixed parameters: the rice husk ash type), ratio lime/ash
(1:2) and consistency (165 5 mm). The commercial rice husk ash was previously prepared in
order to obtain samples with different particle sizes. As a reference a pure lime mortar sample
was also formulated. The latter was subjected to dry cure whereas the lime mortars with rice
husk ash were subjected to saturated environments. Mortars characterization tests included:
determination of consistence of fresh mortar, bulk density, water retention, flexural resistance,
compressive resistance, ultrasonic propagation velocity, superficial hardness, capillarity water
absorption, open porosity, karsten tube penetration test.
Improved characteristics of the mortars suggest that rice husk ash is pozzolanic reactive.
Furthermore pozzolanic reactivity of rice husk ash is increased by particle size reduction. Given
that the studied mortars fulfill most of the requirements for old buildings applications, the
present study highlights its potential as repair mortars.
Key-Words: lime mortar, rice husk ash, pozzolanic reactivity, particle size.
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AGRADECIMENTOS
Professora Ana Paula Pinto pela definio das linhas mestras desta dissertao, pelos
esclarecimentos, disponibilidade e orientaes prestadas.
Professor Augusto Gomes pela pacincia, pela disponibilidade e auxilio na concluso deste
trabalho.
Engenheiro Nuno Almeida, um agradecimento muito especial pela motivao incansvel,
acompanhamento laboratorial e companheirismo, sem o qual esta dissertao no seria a
mesma.
Ana Rita pela ajuda, companhia e pelos bons momentos passados durante o trabalho
experimental.
Ao Sr. Leonel pelo apoio prestado durante o perodo de ensaios.
Eng. ngela Nunes da SECIL assim como ao Centro de Desenvolvimento de Aplicaes de
Cimento pelo importante contributo para uma melhor caracterizao da Cinza de Casca de
Arroz.
A todos os meus amigos que ao longo deste anos sempre estiveram ao meu lado em todas as
aventuras!
minha me, ao meu pai e ao meu irmo por serem quem so! Muito obrigado por tudo!
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NDICE DE TEXTO
1 Introduo .............................................................................................................................. 1
1.1 Justificao .................................................................................................................... 1
1.2 Objectivos da dissertao ............................................................................................. 3
1.3 Estrutura e organizao da dissertao ........................................................................ 3
2 Argamassas de Cal Area em edifcios antigos ................................................................... 5
2.1 Consideraes gerais .................................................................................................... 5
2.2 Argamassas de cal area para paredes de edifcios antigos ....................................... 6
2.2.1 Principais anomalias em argamassas de cal area e princpios orientadores de
interveno face s anomalias .............................................................................................. 6
2.2.2 Caractersticas das argamassas para rebocos exteriores de edifcios antigos ...... 11
2.2.2.1 Requisitos e caractersticas relacionadas com a proteco dos substratos... 12
2.2.2.2 Requisitos e caractersticas relacionadas com a durabilidade das argamassas
13
3 Argamassas de cal area e componentes pozolnicos ...................................................... 15
3.1 Cal area ..................................................................................................................... 15
3.2 Definio de materiais pozolnicos ............................................................................. 17
3.3 Reactividade das pozolanas ....................................................................................... 18
3.4 Medio da reactividade das pozolanas ..................................................................... 20
3.4.1 Ensaios mecnicos .................................................................................................. 20
3.4.2 Ensaios qumicos .................................................................................................... 21
4 Cinzas de casca de arroz .................................................................................................... 23
4.1 Contextualizao histrica .......................................................................................... 23
4.2 Propriedades da casca de arroz ................................................................................. 24
4.3 Propriedades pozolnicas das cinzas de casca de arroz ........................................... 26
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4.4 Influncia da granulometria das cinzas de casca de arroz na reactividade pozolnica
33
5 Materiais utilizados na produo das argamassas ............................................................. 43
5.1 Areia de rio .................................................................................................................. 43
5.1.1 Anlise granulomtrica da areia de rio .................................................................... 43
5.1.2 Determinao da baridade ...................................................................................... 45
5.2 Cal area hidratada em p .......................................................................................... 45
5.3 Cinza de casca de arroz comercial ............................................................................. 46
5.3.1 Pr peneirao ..................................................................................................... 46
5.3.2 Moagem ................................................................................................................... 49
5.3.3 Peneirao fraccionamento da cinza em diferentes granulometrias ................... 53
6 Plano de ensaios experimentais ......................................................................................... 61
6.1 Consideraes gerais .................................................................................................. 61
6.2 Descrio do plano de ensaios ................................................................................... 62
6.2.1 Primeira fase do trabalho experimental................................................................... 62
6.2.2 Segunda fase do trabalho experimental.................................................................. 63
6.3 Caracterizao das argamassas estudadas ............................................................... 65
6.4 Produo das argamassas e preparao dos provetes.............................................. 66
6.4.1 Produo da argamassa ......................................................................................... 66
6.4.2 Produo dos provetes prismticos ........................................................................ 69
6.4.3 Aplicao da camada de revestimento sobre tijolos ............................................... 71
6.5 Caracterizao das argamassas no estado fresco ..................................................... 72
6.5.1 Avaliao da consistncia por espalhamento ......................................................... 73
6.5.2 Reteno de gua ................................................................................................... 75
6.5.3 Determinao da massa volmica aparente ........................................................... 76
6.5.4 Exsudao ............................................................................................................... 78
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6.6 Caracterizao das argamassas no estado endurecido ............................................. 79
6.6.1 Caractersticas mecnicas ...................................................................................... 79
6.6.1.1 Resistncia flexo e compresso .............................................................. 79
6.6.1.2 Determinao da velocidade de propagao de ultra-sons ............................ 81
6.6.1.3 Determinao da dureza superficial Esclermetro Pendular ....................... 84
6.6.2 Avaliao das caractersticas fsicas ....................................................................... 85
6.6.2.1 Determinao da absoro de gua por capilaridade .................................... 85
6.6.2.2 Determinao da porosidade aberta ............................................................... 87
6.6.2.3 Determinao da absoro de gua sob baixa presso Mtodo do cachimbo
89
6.6.2.4 Avaliao da cintica de secagem .................................................................. 90
6.6.2.5 Avaliao da profundidade de carbonatao com o indicador de fenolflalena
93
7 Apresentao, Anlise e discusso dos resultados ............................................................ 95
7.1 Caracterizao das argamassas no estado fresco ..................................................... 95
7.1.1 Avaliao da consistncia por espalhamento ......................................................... 95
7.1.2 Reteno de gua ................................................................................................... 98
7.1.3 Massa volmica aparente ..................................................................................... 100
7.1.4 Exsudao ............................................................................................................. 100
7.2 Caracterizao das argamassas no estado endurecido ........................................... 102
7.2.1 Avaliao das caractersticas mecnicas.............................................................. 102
7.2.1.1 Resistncia flexo e compresso ............................................................ 102
7.2.1.2 Determinao da velocidade de propagao de ultra-sons .......................... 107
7.2.2 Avaliao das caractersticas fsicas ..................................................................... 111
7.2.2.1 Determinao da absoro de gua por capilaridade .................................. 111
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x
7.2.2.2 Determinao da porosidade aberta ............................................................. 114
7.2.2.3 Determinao da absoro de gua sob baixa presso Mtodo do cachimbo
121
7.2.2.4 Avaliao da cintica de secagem ................................................................ 122
7.2.2.5 Determinao da dureza superficial Esclermetro Pendular ..................... 125
7.2.2.6 Avaliao da profundidade de carbonatao ................................................ 127
8 Consideraes finais ......................................................................................................... 129
8.1 Concluses ................................................................................................................ 129
8.2 Propostas para desenvolvimentos futuros ................................................................ 131
Bibliografia ................................................................................................................................. 133
Anexos
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NDICE DE FIGURAS
Figura 2-1 Esquema da metodologia proposta para interveno envolvendo a aplicao de
novas argamassas. ..................................................................................................................... 10
Figura 4-1 Distncia (aproximadamente 50 m) entre superfcie externa, A, e interna, B. ..... 25
Figura 4-2 Possibilidades de aplicao da casca de arroz e da respectiva cinza. .................. 26
Figura 4-3 (a) Estrutura da slica cristalina formada por tomos orientados a longa distncia;
(b) Slica amorfa cuja orientao dos tomos ocorre apenas a curta distncia. ..................... 27
Figura 4-4 Curvas que representam a perda da massa durante o processo de incinerao. . 30
Figura 4-5 Curva que representa a perda da massa durante o processo de incinerao. ..... 31
Figura 4-6 Curvas granulomtricas cinza de casca de arroz utilizada na argamassa cp3 e
cpm3, cp e cpm3 respectivamente.............................................................................................. 34
Figura 4-7 Evoluo da resistncia compresso ao longo do tempo. .................................. 35
Figura 4-8 Esquema do processo de moagem das vrias cinzas volantes ............................. 38
Figura 4-9 Relao entre o dimetro mdia das partculas e o ndice da actividade resistente
..................................................................................................................................................... 40
Figura 4-10 Variao do ndice de actividade pozolnica com o tempo de moagem. ............ 41
Figura 5-1 Curva granulomtrica da areia de rio. .................................................................... 44
Figura 5-2 Peneirao da cinza da cinza de casca de arroz. .................................................. 47
Figura 5-3 (a) Cinza de casca de arroz comercial C ;(b) Cinza de casca de arroz
peneirada CP . ....................................................................................................................... 48
Figura 5-4 Curvas granulomtricas da cinza de casca de arroz comercial (C) e da cinza de
casca de arroz passada pelo peneiro de abertura 500 m (CP). ............................................... 48
Figura 5-5 Moinho para o ensaio de Los Angeles utilizado na moagem da cinza de casca de
arroz. ........................................................................................................................................... 49
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Figura 5-6 Curvas granulomtricas da cinza de casca de arroz passada em 500 m CP e
das cinzas de casca de arroz obtidas durante o processo de moagem CPm15, CPm30 . ... 50
Figura 5-7 Curvas granulomtricas da cinza de casca de arroz passada em 500 m CP e
das cinzas de casca de arroz obtidas durante o processo de moagem CPm15, CPm30,
CPm60 e CPm75 . .................................................................................................................... 51
Figura 5-8 Curvas granulomtricas da cinza de casca de arroz passada em 500 m CP e
das cinzas de casca de arroz obtidas durante o processo de moagem CPm30 e CPm60 . . 51
Figura 5-9 Curvas granulomtricas da cinza de casca de arroz passada em 500 m CP e
da cinza de casca de arroz obtidas durante o processo de moagem CPm60 e CPm75 . .... 52
Figura 5-10 esquerda Cinza de casca de arroz peneirada CP . direita Cinza de
casca de arroz moda CPm75 . .............................................................................................. 52
Figura 5-11 Curvas granulomtricas da cinza obtida aps 75 minutos de moagem e das
cinzas utilizadas na produo de argamassas resultantes da peneirao CM500, CM250,
CM125, CM75 . ......................................................................................................................... 53
Figura 5-12 (a) Cinza de casca de arroz moda CM500 ; (b) Cinza de casca de arroz
moda direita CM250 . ......................................................................................................... 54
Figura 5-13 (a) Cinza de casca de arroz moda CM125 ; (b) Cinza de casca de arroz
moda CM75 . ......................................................................................................................... 54
Figura 5-14 Anlise granulomtrica da cinza de casca de arroz comercial (C) pelo mtodo de
peneirao (lavagem e peneirao). ........................................................................................... 57
Figura 5-15 Anlise granulomtrica da cinza CM500, CM250, CM125 e CM75 por difraco
laser. ............................................................................................................................................ 58
Figura 6-1 Ensaios mecnicos e nmero de provetes que foram efectuados sobre cada
composio na primeira fase do trabalho. .................................................................................. 63
Figura 6-2 Esquema de ensaios dos provetes prismticos realizados na segunda fase do
trabalho. ....................................................................................................................................... 64
Figura 6-3 Esquema de ensaios realizados sobre os provetes constitudos por uma camada e
acabamento aplicado tijolos cermicos. ..................................................................................... 65
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Figura 6-4 Sequncia de procedimentos da produo de argamassa. (a) Preparao previa
dos constituintes; (b;c) Pr-mistura manual dos ligantes; (e;f) Perodo inicial de
amassadura; (g;h) Introduo de areia; (i) Remoo do material das faces laterais; (j;m)
Perodo final da amassadura. ..................................................................................................... 68
Figura 6-5 Sequncia de procedimentos da preparao dos provetes prismticos: (a)
Aparelho de compactao mecnica; (b;e) Colocao da argamassa; (f) Colocao dos
moldes em cmara saturada. ...................................................................................................... 70
Figura 6-6 Sequncia de procedimentos da preparao da camada de revestimento em
tijolos. (a) Molde e tijolo; (b;e) Aplicao da argamassa; (f) Regularizao da camada de
revestimento; (g;i) Desmoldagem. ........................................................................................... 72
Figura 6-7 Sequncia de procedimentos realizados para a avaliao da consistncia por
espalhamento. (a) Colocao de argamassa no molde; (b) - Compactao; (c;d)
enchimento do molde; (e) Alisamento da superfcie; (g) Limpeza da mesa de espalhamento;
(h;i) Argamassa; (j) Medio com craveira. .......................................................................... 74
Figura 6-8 Esquema de ensaio da reteno de gua. ............................................................. 75
Figura 6-9 Avaliao da reteno de gua. (a) Preparao do material; (b) Ensaio de
reteno de gua. ....................................................................................................................... 76
Figura 6-10 Sequncia de procedimentos realizados para a determinao da massa volmica
aparente.(a) Colocao de argamassa no recipiente; (b;c) Compactao da argamassa;
(d;e) Alisamento da superfcie; (f) Determinao da massa do conjunto. ............................ 77
Figura 6-11 Sequncia de procedimentos realizados para a determinao da exsudao. (a)
Proveta com argamassa isolada; (b) Argamassa em repouso; (c) Determinao da lmina
liquida de gua. ........................................................................................................................... 79
Figura 6-12 Determinao da resistncia flexo e compresso. (a) Mquina de ensaio;
(b) Provetes a ensaiar; (c;d) Ensaio de resistncia flexo; (e;f) Ensaio de resistncia
compresso. ................................................................................................................................ 81
Figura 6-13 Calibrao do aparelho e medio directa em provetes prismticos. (a)
Equipamento; (b;c) Realizao do ensaio de velocidade de propagao de ultra-sons. ........ 82
Figura 6-14 Calibrao do aparelho e medio indirecta em provetes constitudos por
argamassa aplicada como camada de revestimento em tijolos. (a) Calibrao do
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equipamento; (b) regularizao da superfcie de contacto; (c;d) Colocao dos
transdutores; (e;f) Medio do tempo de propagao da onda. .............................................. 84
Figura 6-15 Determinao da dureza superficial Esclermetro Pendular. (a) Ensaio de
esclermetro nos pontos principais; (b) Ensaio de esclermetro em pontos secundrios. ..... 85
Figura 6-16 Sequncia do ensaio de absoro de gua por capilaridade. (a;b)
Posicionamento dos provetes; (c) Realizao do ensaio. ....................................................... 87
Figura 6-17 determinao da porosidade aberta. (a) Exsicador ligado a bomba de vcuo;
(b) Esquema de ensaio (pesagem hidrosttica) ...................................................................... 89
Figura 6-18 Ensaio de absoro de gua sob baixa presso .................................................. 90
Figura 6-19 Exemplo de uma curva de secagem. ................................................................... 92
Figura 6-20 Preparao dos provetes para o ensaio de secagem. ......................................... 93
Figura 6-21 Procedimentos para a determinao da profundidade de carbonatao. (a)
Material utilizado; (b;d) Ensaio em provetes de argamassa com cinza de casca de arroz;
(e;f) Ensaio em provetes de argamassa de referncia. ........................................................... 94
Figura 7-1 Determinao da relao gua/ligante (Cal). ......................................................... 96
Figura 7-2 Determinao da relao gua/(mistura ligante) (CM500)..................................... 96
Figura 7-3 Determinao da relao gua/(mistura ligante) (CM250)..................................... 96
Figura 7-4 Determinao da relao gua/(mistura ligante) (CM125)..................................... 96
Figura 7-5 Determinao da relao gua/(mistura ligante) (CM75). ...................................... 97
Figura 7-6 Relao gua/mistura ligante para a obteno de um espalhamento de 1655mm.
..................................................................................................................................................... 98
Figura 7-7 Influncia da mxima dimenso da cinza na relao gua/(mistura ligante) para a
obteno de consistncia por espalhamento de 1655mm. ....................................................... 98
Figura 7-8 Reteno de gua das argamassas estudadas. .................................................... 99
Figura 7-9 Massa volmica das argamassas estudadas. ...................................................... 100
Figura 7-10 Exsudao das argamassas estudadas. ............................................................ 101
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Figura 7-11 Libertao de gua de amassadura durante o ensaio de espalhamento. ......... 101
Figura 7-12 Valores mdios das tenses de rotura compresso aos 14 dias de idade. .... 103
Figura 7-13 Valores mdios das tenses de rotura flexo aos 14 dias. ............................. 103
Figura 7-14 Valores mdios das tenses de rotura compresso em provetes aos 28 dias de
idade. ......................................................................................................................................... 105
Figura 7-15 Valores mdios das tenses de rotura flexo em provetes aos 28 dias de idade.
................................................................................................................................................... 105
Figura 7-16 Valores mdios das tenses de rotura compresso em provetes aos 14 e 28
dias de idade. ............................................................................................................................ 106
Figura 7-17 Valores mdios das tenses de rotura flexo em provetes aos 14 e 28 dias de
idade. ......................................................................................................................................... 106
Figura 7-18 Influncia da mxima dimenso da cinza de casca de arroz nos valores mdios
da resistncia mecnica aos 14 e 28 dias de idade. ................................................................ 107
Figura 7-19 Valores mdios da velocidade de propagao de ultra-sons das diferentes
argamassas. .............................................................................................................................. 108
Figura 7-20 Evoluo da velocidade de propagao de ultra-sons avaliada com o mtodo
indirecto. .................................................................................................................................... 110
Figura 7-21 Comparao das velocidades de propagao de ultra-sons entre ensaio directo e
indirecto. .................................................................................................................................... 110
Figura 7-22 Curvas de absoro de gua por capilaridade. .................................................. 112
Figura 7-23 Curvas de absoro de gua por capilaridade (0-120 minutos). ....................... 113
Figura 7-24 Valores de coeficiente de absoro de gua por capilaridade. .......................... 114
Figura 7-25 Valores assimptticos da absoro de gua por capilaridade. .......................... 114
Figura 7-26 Valores mdios da porosidade aberta das argamassas estudadas. .................. 116
Figura 7-27 Valores mdios da massa volmica aparente e real. ......................................... 117
Figura 7-28 Anlise granulomtrica dos ligantes, efectuada por Almeida ............................. 118
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Figura 7-29 (a) Resistncia mecnica (compresso e flexo) de cada argamassa estudada;
(b) Resistncia mecnica (compresso e flexo) em funo da porosidade das argamassas.
................................................................................................................................................... 118
Figura 7-30 (a) Influncia da porosidade aberta no coeficiente de absoro de gua por
capilaridade das argamassas estudadas; (b) Coeficiente de absoro de gua em funo da
porosidade das argamassas. .................................................................................................... 119
Figura 7-31 (a) Influncia da porosidade aberta no valor assimpttico das argamassas
estudadas; (b) Valor assimpttico em funo da porosidade das argamassas .................... 120
Figura 7-32 (a) Influncia da porosidade aberta na velocidade de propagao de ultra-sons
das argamassas estudadas; (b) Velocidade de propagao de ultra-sons em funo da
porosidade das argamassas. .................................................................................................... 120
Figura 7-33 (a) Valores de absoro de gua a baixa presso das argamassas estudadas;
(b) Curvas de regresso polinomial dos valores de absoro de gua a baixa presso. ..... 121
Figura 7-34 Curvas de secagem da argamassa CAL. ........................................................... 123
Figura 7-35 (a) Curvas de secagem da argamassa A500; (b) Curvas de secagem da
argamassa A250. ...................................................................................................................... 123
Figura 7-36 (a) Curvas de secagem da argamassa A125; (b) Curvas de secagem da
argamassa A75. ........................................................................................................................ 124
Figura 7-37 Comparao das curvas de secagem mdias das vrias argamassas. ............ 125
Figura 7-38 Relao entre ndice escleromtrico e resistncia compresso das diferentes
argamassas. .............................................................................................................................. 126
Figura 7-39 baco do esclermetro pendular do Tipo PT. .................................................... 127
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NDICE DE TABELAS
Tabela 2-1 Principais fenmenos de deteriorao..................................................................... 8
Tabela 2-2 Fontes de humidade mais comuns nos edifcios antigos. ....................................... 8
Tabela 3-1 Vantagens e desvantagens associadas aos diferentes mtodos de extino da cal
viva. ............................................................................................................................................. 16
Tabela 3-2 Classificao, composio e caracterizao de materiais com caractersticas
pozolnicas ou hidrulicas latentes. ........................................................................................... 18
Tabela 3-3 Classificao pozolnica de materiais baseada na medio da condutividade. ... 22
Tabela 4-1 Listagem dos 10 maiores produtores de arroz do mundo. .................................... 24
Tabela 4-2 Constituies qumic0as das cinzas obtidas por Della e Zhang. .......................... 29
Tabela 4-3 Mtodos de incinerao controlada da casca de arroz. ........................................ 32
Tabela 4-4 Mtodos de incinerao no controlada da casca de arroz. ................................. 32
Tabela 4-5 Caracterizao qumica de cinzas de casca de arroz resultante de vrios estudos.
..................................................................................................................................................... 33
Tabela 4-6 Caractersticas das cinzas de casca de arroz . ..................................................... 35
Tabela 4-7 Caractersticas fsicas da CCA. ............................................................................. 36
Tabela 4-8 Resistncia compresso da CCA. ...................................................................... 36
Tabela 4-9 Propriedades fsicas do cimento e das cinzas volantes analisadas. ..................... 39
Tabela 4-10 Valores da resistncia compresso e restantes relaes. ............................... 40
Tabela 5-1 Caracterizao da areia de rio. .............................................................................. 44
Tabela 5-2 Determinao da baridade da areia de rio. ........................................................... 45
Tabela 5-3 Ensaios realizados por tipologia de cinza de casca de arroz. ............................... 55
Tabela 5-4 A anlise qumica obtida pelo ensaio de fluorescncia de raio-X das cinzas C e
CP. ............................................................................................................................................... 55
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Tabela 5-5 Superfcie especfica Mtodo de Blaine. ............................................................ 56
Tabela 5-6 Determinao da superfcie especfica pela anlise granulomtrica por difraco
laser. ............................................................................................................................................ 59
Tabela 6-1 Composies das argamassas estudadas experimentalmente. ........................... 66
Tabela 7-1 Caracterizao no estado fresco das diferentes argamassas. .............................. 95
Tabela 7-2 Resistncia compresso e flexo aos 14 dias de idade. ............................... 102
Tabela 7-3 Resistncia compresso e flexo aos 28 dias de idade. ............................... 104
Tabela 7-4 Valores mdios da velocidade de propagao de ultra-sons das diferentes
argamassas. .............................................................................................................................. 108
Tabela 7-5 Velocidade de propagao de ultra-sons (ensaio indirecto). .............................. 109
Tabela 7-6 Valores de coeficiente de absoro de gua por capilaridade, quantidade de gua
absorvida e valor assimpttico. ................................................................................................. 113
Tabela 7-7 Valores mdios da porosidade aberta, massa volmica aparente e real das
diferentes argamassas. ............................................................................................................. 115
Tabela 7-8 Equaes das regresses polinomiais das diferentes argamassas e os
respectivos coeficientes de determinao. ............................................................................... 122
Tabela 7-9 Valores mdios do ndice de secagem das diferentes argamassas estudadas. . 124
Tabela 7-10 ndice escleromtrico e respectiva resistncia superficial das diferentes
argamassas. .............................................................................................................................. 126
Tabela 7-11 Valores mdios da espessura carbonatada das vrias argamassas. ............... 127
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xix
SIMBOLOGIA
Cal Cal area hidratada
C Cinza de casca de arroz comercial
CP Cinza de casca de arroz peneirada
CPm15 Cinza de casca de arroz peneirada e moda durante 15 minutos
CPm30 Cinza de casca de arroz peneirada e moda durante 30 minutos
CPm45 Cinza de casca de arroz peneirada e moda durante 45 minutos
CPm60 Cinza de casca de arroz peneirada e moda durante 60 minutos
CPm75 Cinza de casca de arroz peneirada e moda durante 75 minutos
CM500 Fraco de cinza de casca de arroz moda e passada no peneiro de malha 500 mm
CM250 Fraco de cinza de casca de arroz moda e passada no peneiro de malha 250 mm
CM125 Fraco de cinza de casca de arroz moda e passada no peneiro de malha 125 mm
CM75 Fraco de cinza de casca de arroz moda e passada no peneiro de malha 75 mm
CAL Argamassa de cal area hidratada
A500 Argamassa de cal area com adio de CM500
A250 Argamassa de cal area com adio de CM250
A125 Argamassa de cal area com adio de CM125
A75 Argamassa de cal area com adio de CM75
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xx
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1
1 INTRODUO
1.1 Justificao
Sendo as argamassas componentes importantes na construo desde h longo tempo, quer
como revestimento superficial exterior ou interior, quer como aglutinante de outros materiais,
fundamental o continuado estudo sobre estas.
Dada a situao do patrimnio edificado em Portugal e considerando que na construo nem
sempre construir de raiz o mais indicado, o mercado de reabilitao de Portugal apresenta
fortes possibilidades de expanso, principalmente devido conduta dos pases europeus.
A este aspecto acrescenta-se, ainda, o aumento da preocupao relativa ao meio ambiente
levada a cabo pelas tentativas de valorizao e reciclagem de resduos e subprodutos,
contribuindo para a prtica indispensvel da sustentabilidade. Deste modo, dada importncia
reduo da degradao ambiental e da utilizao de recursos naturais. Um princpio que
traduz este pressuposto a utilizao de um material que j se encontra em fim de ciclo para a
reabilitao do edificado. , ento, imprescindvel conhecer os materiais existentes nas
construes a reabilitar possibilitando uma adequada seleco dos materiais que melhor
apresentam solues compatveis com os existentes e ao mesmo tempo, adequados prtica
construtiva actual.
As argamassas base de cal area apresentam-se como uma soluo compatvel para a
reabilitao de alvenarias antigas. Contudo, esto-lhes associadas vrias caractersticas que
dificultam a sua aplicao neste domnio. A principal dificuldade prende-se com estas
apresentarem dificuldades de endurecimento em locais de fraco contacto com o dixido de
carbono presente na atmosfera ou em ambientes muito hmidos.
Neste contexto, as argamassas de cal com adio de componentes pozolnicos apresentam-
se como uma interessante alternativa. A possibilidade da presa destas argamassas passar a
ocorrer tambm por reaces de hidratao permite assim a sua aplicao como argamassas
de junta e como argamassas de revestimento em condies climticas mais diversificadas.
Assim sendo, controlando a quantidade de pozolanas, ser possvel formular argamassas com
diferentes propriedades em funo da finalidade, tendo presente a necessidade de
compatibilidade em termos mecnicos, fsicos e qumicos.
Considerando a necessidade de utilizao de subprodutos anteriormente referida assim como
a adopo de solues que possam envolver uma reduo do consumo de energia, tm sido
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2
desenvolvidos diversos estudos sobre formulaes de argamassas de cal area com
incorporao de subprodutos industriais com caractersticas pozolnicas. As cinzas de casca
de arroz apresentam-se como um material com bastante potencialidade neste contexto. Torna-
se ento essencial conhecer os factores condicionantes da reactividade pozolnica das cinzas,
de forma a maximizar a sua potencial utilizao na formulao de argamassas.
Deste modo, o presente trabalho tem como objectivo estudar a aco pozolnica conferida pela
adio de cinzas de casca de arroz em argamassas de cal area e avaliar a influncia da sua
granulometria no desempenho das argamassas.
A presente dissertao enquadra-se num projecto de investigao que tem como objectivo
estudar formulaes de argamassa de cal area com incorporao de cinzas de casca de arroz
com potencial interesse para a aplicao em revestimentos de paredes de edifcios antigos.
Este projecto surge no seguimento do estudo desenvolvido por Almeida (2008) e foi
desenvolvido em parceria com um estudo intitulado Argamassas de cal area com adio de
cinza de casca de arroz. Influncia das condies de cura desenvolvido por Marques (2010).
Os trabalhos tiveram em comum uma primeira fase, onde foram definidas as granulometrias da
cinza de casca de arroz a utilizar no desenvolvimento de ambas as dissertaes. No mbito
dos estudos realizados para a seleco das granulometrias a utilizar na formulao das
argamassas a estudar, encontra-se publicado o artigo intitulado Argamassas de cal area e
cinza de casca de arroz. Influncia da finura na reactividade pozolnica, (Ferreira Pinto et al.,
2010). Tambm se encontra publicado o artigo Effect of Rice Husk Ash Particle Size in Lime
Based Mortars (Ferreira Pinto et al., 2010).
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3
1.2 Objectivos da dissertao
O trabalho desenvolvido d continuidade ao estudo que tem sido realizado sobre argamassas
de cal area com incorporao de cinzas de casca de arroz, nomeadamente o trabalho
desenvolvido em Almeida (2008). O principal objectivo desta dissertao o estudo da
influncia da finura de uma cinza de casca de arroz na reactividade pozolnica, atravs da
avaliao de diversas caractersticas nomeadamente da resistncia mecnica de argamassas
de cal area com incorporao de cinzas de granulometrias diferentes.
1.3 Estrutura e organizao da dissertao
A presente dissertao est organizada em nove captulos, os quais, para alm da presente
introduo (captulo 1), das concluses e propostas para desenvolvimentos futuros (captulos 8
e 9), agrupam-se em duas partes distintas.
Na primeira parte, apresenta-se um estado de arte que se desenvolve nos captulos 2 a 4. No
captulo 2, so abordados os conceitos gerais para intervenes em edifcios antigos, onde se
apresentam os requisitos de compatibilidade e durabilidade a exigir s novas argamassas.
No captulo 3, referente a argamassas de cal area e componentes pozolnicos, alm da breve
introduo da cal area e do tratamento que lhe est associado, apresenta os materiais
pozolnicos e as suas caractersticas, enumerando alguns mtodos de avaliao da
reactividade pozolnica.
O captulo 4 aborda o caso concreto da casca de arroz, a qual possui caractersticas que
mediante uma transformao adequada permite obter uma cinza com propriedades
pozolnicas. Deste modo, neste captulo so apresentadas as propriedades da casca de arroz,
bem como os conceitos inerentes ao seu processo de transformao em cinza. Este captulo
aprofunda ainda as propriedades pozolnicas das cinzas de casca de arroz, assim como a
influncia da granulometria das cinzas nessas mesmas propriedades.
A segunda parte da dissertao apresenta e descreve o desenvolvimento experimental e inclui
os captulos 5 a 7.
O captulo 5 descreve a preparao e caracterizao de todas os materiais (areia de rio, cal
area e cinza de casca de arroz) utilizadas na formulao das argamassas estudadas, sendo
dada especial nfase ao processo de peneirao e moagem aplicado cinza de casca de
arroz.
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4
No captulo 6, procede-se apresentao do plano de ensaios bem como descrio dos
procedimentos de todos os ensaios realizados no mbito do presente trabalho.
O captulo 7 apresenta numa fase inicial a justificao para a escolha das argamassas
estudadas. Posteriormente, procede-se anlise detalhada dos resultados obtidos nos
diferentes ensaios, tendo sempre presente a influncia da granulometria da cinza de casca de
arroz nesses mesmos resultados.
O captulo 8, como referido, sintetiza a anlise dos resultados, apresentando as concluses de
todo o trabalho desenvolvido. As concluses finais so apresentadas tendo em vista o
cumprimento dos objectivos propostos, ou seja, apresenta-se a influncia da finura das cinzas
de casca de arroz nas argamassas de cal area.
Por fim, o captulo 9 apresenta propostas para desenvolvimentos futuros.
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5
2 ARGAMASSAS DE CAL AREA EM EDIFCIOS ANTIGOS
Neste captulo, faz-se uma breve introduo ao uso de argamassas de cal area em edifcios
antigos, onde so abordados os conceitos gerais para as intervenes nesses mesmos
edifcios. Enumera-se ainda um conjunto de requisitos que as argamassas a usar na
reabilitao devem respeitar.
2.1 Consideraes gerais
Os primeiros vestgios da utilizao da cal pelo homem remontam ao incio da Idade da Pedra,
no perodo Paleoltico, aps a descoberta do fogo. No entanto, as primeiras referncias
utilizao da cal na construo remontam ao perodo compreendido entre 12000 e 5000 a.c.
em algumas zonas da Turquia (Cavaco, 2005; Silva, 2006).
Na construo da Pirmide de Shersi no Tibete, datada de 5000 a.c., a estabilizao do solo
argiloso foi efectuada com o recurso cal. Atravs de anlises efectuadas aos materiais
utilizados no revestimento das cmaras da Piramide de Quops assim como nas juntas dos
blocos de calcrio e granito da Pirmide de Qufren, foram tambm encontrados vestgios de
cal (Guimares, 2002; Cowan, 1977).
A civilizao grega evidenciou o uso em grande escala de argamassas de cal, atravs da sua
aplicao em revestimentos de paredes. Contudo, foi no imprio romano que definitivamente
se desenvolveu o conhecimento associado aplicao da cal na construo. Este processo foi
motivado pela constante expanso territorial que impunha uma necessidade de desenvolver
tcnicas mais rpidas e econmicas de fabrico de cal (Ferreira Pinto et al., 2006/2007).
Alm do uso das argamassas de cal, os romanos assumiram um papel importantssimo no
estudo da influncia das adies pozolnicas, adquirindo o conhecimento de quando e como
aplic-las. Deste modo, a sua aplicao em revestimentos de vrias camadas com espessuras
elevadas e a conjugao das caractersticas dos seus elementos em termos de compatibilidade
de materiais, permitiram que as argamassas de cal e adies comeassem a desempenhar um
papel estrutural e de proteco gua (Ferreira Pinto et al., 2006/2007).
A erupo do Vesvio em 79 D.C., que cobriu com um manto de cinza as cidades de Pompeia
e Herculano, permitiu a descoberta das vantagens do uso das cinzas em argamassas,
contribuindo para o conhecimento da aplicao de adies, em particular das pozolanas
naturais. So exemplo da aplicao de argamassas base de cal e pozolanas, assim como da
durabilidade que lhe est associada, o Coliseu e o Panteo em Roma, bem como o aqueduto
de Pont du Grad no sul de Frana (Margalha, 2008).
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6
Aps o fim do Imprio Romano e durante a Idade Mdia, o uso de argamassas de cal tornou-se
pratica corrente. Contudo, o custo da produo da cal reflectiu-se na qualidade da argamassa
base da mesma. Com a entrada dos Califados rabes na Pennsula Ibrica no sculo XVIII,
chegou tambm a prtica de argamassas base de gesso. Aps esta data, tornou-se habitual
o fabrico de argamassas de cal area e de gesso com a adio de vrios produtos, como
gorduras vegetais e animais. A introduo do gesso permitiu uma menor retraco da
argamassa assim como um menor tempo de presa. A argamassa de cal com a adio de
pozolanas ou de gesso teve o seu momento de maior utilizao no sculo XX. Porm, foi neste
perodo que se descobriu o cimento Portland e a cal hidrulica. Este acontecimento marcou o
progressivo desuso das argamassas de cal na construo, dadas as caractersticas que estes
novos ligantes conferiam s argamassas tais como o aumento das resistncias mecnicas e a
reduo do tempo de endurecimento das mesmas, que permitiam um encurtamento no tempo
de construo das obras (Alvarez et al., 2005).
A generalizao da utilizao dos ligantes hidrulicos teve como consequncia o actual
desconhecimento por parte dos intervenientes na construo em relao aos procedimentos e
cuidados associados utilizao e aplicao de argamassas de cal area (Botelho, 2003;
Ferreira Pinto et al., 2006/2007). No entanto, tem-se agora constatado que os ligantes
hidrulicos so responsveis por vrias anomalias que surgem aps a sua aplicao na
reabilitao de edifcios. Tal deve-se ao facto da sua incompatibilidade qumica com as
argamassas de cal area, pela introduo de sais solveis, pela sua baixa permeabilidade e
pelo seu elevado mdulo de elasticidade, o que impossibilita a compatibilidade de deformaes
com os elementos da alvenaria. Deste modo, as argamassas de cal area voltam a apresentar
um papel relevante na construo, em particular nas alvenarias de pedra, sendo importante
voltar a fomentar o seu uso e a sua compreenso.
2.2 Argamassas de cal area para paredes de edifcios antigos
2.2.1 Principais anomalias em argamassas de cal area e princpios
orientadores de interveno face s anomalias
As causas da degradao dos rebocos exteriores em edifcios antigos podem assumir
diferentes formas, podendo estas ser classificadas como de origem estrutural ou no estrutural.
Contudo, interessa apenas referir as que ocorrem com maior frequncia neste contexto, ou
seja, o envelhecimento e a incompatibilidade dos prprios materiais, a presena de gua e de
sais solveis (Appleton, 2003; Magalhes, 2002).
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7
Importa ainda realar que grande parte das anomalias verificadas no so independentes das
caractersticas do prprio suporte, as paredes dos edifcios antigos. Este factor ganha maior
importncia se considerarmos que estes tipos de parede possuem uma tipologia e um
funcionamento totalmente diferente das paredes actuais (Appleton, 2003). As paredes antigas
foram definidas para desempenharem um papel estrutural e ao mesmo tempo de proteco do
interior das construes, garantindo deste modo as exigncias mnimas de segurana
estrutural e de conforto face aos agentes atmosfricos do exterior (Veiga, 2006).
Tendo em considerao os ltimos factores apresentados, as paredes dos edifcios antigos
apresentam usualmente uma espessura elevada, sendo constitudas por materiais com
resistncias inferiores e com maior porosidade que os materiais actuais. Devido s
caractersticas dos materiais e ao seu processo construtivo, as paredes conseguem manter um
equilbrio hdrico razovel, possibilitando a evaporao rpida da gua presente, que resulta de
fenmenos de ascenso capilar ou de infiltrao atravs de paramentos, garantindo que muitas
construes se tenham mantido at aos nossos dias.
Na Tabela 2-1 apresentam-se os vrios tipos de fenmenos de deteriorao que possibilitam a
degradao dos materiais constituintes, pedras, tijolos e argamassas. Tais fenmenos no s
danificam os elementos anteriormente referidos como ainda deterioram as ligaes entre os
elementos da alvenaria e das camadas de revestimento, possibilitando uma progressiva
degradao da alvenaria.
Entre os fenmenos de degradao apresentados na Tabela 2-1, a aco da gua sempre foi,
e continua a ser, um dos principais agentes que contribui para a deteriorao dos materiais
existentes neste tipo de suporte (Appleton, 2003; Magalhes, 2002). Na Tabela 2-2
apresentam-se ainda as principais fontes de humidade que podem interferir com os
revestimentos das paredes antigas.
importante ter em considerao que na maioria das patologias a sua complexidade e a
gravidade so majoradas pela conjugao de mais do que uma causa patolgica, tendo como
consequncia o seu agravamento, como o caso das fissuras que possibilitam o aumento da
humidade no interior dos rebocos ou das alvenarias.
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8
Tabela 2-1 Principais fenmenos de deteriorao (Almeida, 2008)
Designao Causas mais provveis
Fsicos Causados pelas variaes de temperatura,
eroso provocada pela gua e vento.
Fsico-qumicos
Fenmenos de deteriorao que se encontram associados cristalizao de sais ou
hidratao de cristais.
Qumicos Degradao devida, essencialmente,
formao de sulfatos como consequncia da poluio atmosfrica.
Biolgicos Degradao provocada pela aco de microrganismos, plantas ou at mesmo
resultantes da aco do homem.
Refira-se ainda que grande parte das anomalias no de fcil eliminao, principalmente
devido sua natureza. Por exemplo no caso da fissurao, devem ser bem analisadas as suas
causas previamente a qualquer tipo de interveno, para que no se executem trabalhos cuja
eficincia se possa vir a constatar que bastante baixa, ou que possa at facilitar o
aparecimento de novas fissuras.
Tabela 2-2 Fontes de humidade mais comuns nos edifcios antigos (Magalhes, 2002).
Tipo de humidade Causas mais provveis
De obra ou construo
Tem origem na gua de amassadura.
De terreno
Existncia de zonas de paredes em contacto com a gua do solo; Existncia de materiais de elevada capacidade de absoro de gua
por capilaridade nas paredes; Inexistncia ou deficiente posicionamento de barreiras estanques nas paredes.
De precipitao Revestimentos com elevada permeabilidade gua.
De condensao Ocorrncia de condensaes, geralmente quando a temperatura
superficial das paredes em contacto com o ar hmido atinge o ponto de orvalho.
Devida a fenmenos de
higroscopicidade
Existncia de sais higroscpicos no interior dos revestimento que fixam a gua em grandes quantidades, constituindo uma espcie de depsito de gua, permitindo a dissoluo de mais sais, originando
assim um fenmeno em cadeia.
Devido a causas fortuitas
Humidade com origens acidentais, tais como roturas de canalizaes em rede de guas e esgotos, entupimentos de caleiras, algerozes,
tubos de queda, corroso de canalizaes metlicas, deficincias de remates da cobertura, entre outras.
Considerando o acima exposto, importante perceber que para cada tipo de interveno em
rebocos anmalos deve-se analisar previamente o seu real estado de conservao, de modo a
ser determinado o grau de severidade assim como a verdadeira causa da anomalia. Deste
modo, os projectos de recuperao e/ou reabilitao em edifcios antigos devero compreender
quatro etapas: Anamnese e Anlise, Diagnstico, Terapia e Controlo (Almeida, 2008).
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Na primeira fase, designada por Anamnese e Anlise, efectuada uma compilao histrica e
uma anlise preliminar, atravs de uma inspeco visual onde se realiza um mapeamento das
patologias. Na fase de Diagnstico, realizam-se vrios ensaios de modo a identificar as causas
das anomalias, permitindo tambm uma caracterizao qumica, fsica, mineralgica e
mecnica das argamassas existentes. A fase da Terapia a fase onde se realizam as
intervenes nos rebocos. Finalmente, a fase de Controlo a fase ps interveno, onde se
realiza uma monitorizao peridica, com o objectivo de avaliar a evoluo do estado das
argamassas com o tempo. Esta fase desempenha um papel muito importante com vista a
novas reabilitaes, uma vez que atravs desta que se podero criar bases de dados,
elementos estes que podero facilitar e melhorar qualquer uma das quatro etapas num futuro
processo de reabilitao/recuperao.
Almeida apresentou de uma forma esquemtica, uma proposta de metodologia a adoptar em
intervenes que envolvam argamassas, a qual foi baseada em metodologias previamente
propostas por outros autores (Almeida, 2008). Este esquema apresentado na Figura 2-1.
Apesar de j referido anteriormente, interessa realar que o presente trabalho incide sobre as
argamassas destinadas proteco das camadas subjacentes, mais concretamente, sobre o
caso dos rebocos exteriores. No se inclui o revestimento de paramentos interiores neste
estudo uma vez que estes, estando expostos a uma menor quantidade de agentes de
degradao, no necessitam de requisitos de durabilidade to exigentes.
Por fim, importa referir que uma interveno do reboco (conservao, consolidao, reparao
localizada, substituio parcial ou total) com o recurso a argamassa dever ser programada
nas diferentes fases de modo a sustentar as opes tomadas. A escolha do tipo de interveno
depender sempre de factores tcnicos como o estado de conservao da argamassa,
avaliado pelo tipo e severidade da anomalia constatada. Alm destes factores, o tipo de
interveno depender ainda das possibilidades existentes assim como dos meios e
oramentos disponveis, sem esquecer os factores respeitantes ao seu valor patrimonial e ao
prprio edifcio.
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Figura 2-1 Esquema da metodologia proposta para interveno envolvendo a aplicao de novas argamassas (Almeida, 2008).
Inspeco visual:
Compilao histrica;
Mapeamento de patologias com recurso a levantamentos fotogrficos.
Pesquisa histrica
Levantamento de intervenes anteriores (materiais utilizados)
Caracterizao das argamassas e seu estado de degradao
Ensaios realizados in situ: o Cachimbos, esclormetros, ultra-sons.
Ensaios realizados em laboratrio o Caracterizao fsica: porosidade, porometria; o Caracterizao mecnica: resistncias; elasticidade,
deformabilidade; o Caracterizao qumica e mineralgica: tipo e
proporo de ligantes; o Anlise microscpica: tipo de agregado, presena de
sais solveis.
Caracterizao das condies ambientais do local de interveno.
Definio da constituio da argamassa:
Caracterizao das matrias-primas: ligantes, agregados, adies.
Definio das formulaes de argamassas a testar: o Caracterizao fsica, qumica e mecnica das
argamassas frescas e endurecidas; o Verificao de requisitos.
Seleco das formulaes de argamassas a testar in situ: o Realizao de painis experimentais; o Ensaios realizados in situ.
Seleco da formulao e/ou formulaes de argamassas a aplicar;
Aplicao.
Inspeces ao local para avaliao do estado da nova argamassa ou
sistema de argamassas aps a sua aplicao. Contr
olo
T
era
pia
D
iag
nstico
A
na
mnese
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2.2.2 Caractersticas das argamassas para rebocos exteriores de
edifcios antigos
Devido s condies atmosfricas e aos agentes de degradao, os rebocos das paredes
exteriores expostos a estes elementos, apresentam frequentemente anomalias que definem o
seu grau de conservao. Uma vez que os rebocos apresentam tambm um papel de
proteco dos elementos do suporte, o estado destes mesmos elementos est sempre
dependente do estado de degradao dos rebocos.
Deste modo, o primeiro requisito a respeitar na formulao de argamassas de rebocos
exteriores para edifcios antigos dever ser o da proteco dos estratos subjacentes. Este
primeiro requisito est directamente relacionado com o princpio da compatibilidade de
materiais (Henriques, 2004), o qual ser apresentado no subcaptulo 2.2.2.1.
O segundo, e no menos importante requisito a ser respeitado para que todas as propriedades
da argamassa adquiram significado, o conjunto das caractersticas relacionadas com a
durabilidade da prpria argamassa. Tal desempenha um papel preponderante numa
reabilitao pois s assim ser possvel garantir uma proteco mais duradoura dos substratos
assim como a manuteno do aspecto esttico que se exige, contribuindo deste modo para o
aumento do perodo de vida til do elemento ou do edifcio (Henriques, 2004).
Interessa ainda referir, mesmo no fazendo parte do mbito deste trabalho, que as tcnicas de
execuo dos rebocos so tambm um factor fundamental para que sejam cumpridos os
diferentes princpios associados reabilitao dos rebocos (Cavaco et al., 2003).
Contudo, muitas vezes as solues adoptadas para as intervenes no so as mais
adequadas tendo como consequncia o agravamento ou o desenvolvimento de processos de
degradao. Uma das solues mais adoptadas a remoo e a substituio total dos rebocos
antigos por novas argamassas sem que exista um conhecimento adequado do potencial dessa
argamassa de reparao e sem se analisar as causas das anomalias observadas (Veiga et al.,
2002).
Concluindo, as argamassas para rebocos exteriores de edifcios antigos no devem contribuir
para a degradao dos elementos j existentes nem para a descaracterizao dos elementos
ou do edifcio, devendo por isso evidenciar um conjunto de caractersticas necessrias para
que se apresentem como soluo durvel e compatvel com os suportes onde aplicadas
(Ferreira Pinto et al., 2006/2007; Veiga, 2005; Veiga, 2003).
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2.2.2.1 Requisitos e caractersticas relacionadas com a proteco dos
substratos
Como referido nos subcaptulos anteriores, para que se possa assegurar a proteco dos
substratos, necessrio que se verifique uma compatibilidade entre a argamassa utilizada na
interveno e os elementos do substrato. Esta compatibilidade dever ser avaliada em trs
grupos: mecnica, fsica e qumica. No estudo desenvolvido em Almeida (2008), apresentada
uma descrio desse grupo, como se indica seguidamente:
Compatibilidade mecnica:
As argamassas devem apresentar resistncias mecnicas e mdulos de elasticidade
semelhantes s argamassas originais e inferiores s do suporte, para que
acompanhem os movimentos do suporte e deste modo no se verifiquem elevadas
tenses internas. Nas situaes em que os rebocos so constitudos por diferentes
argamassas, as resistncias destas devero ser decrescentes do interior para o
exterior enquanto que a deformabilidade dever ser crescente.
A aderncia ao suporte dever ser caracterizada por uma rotura adesiva ou coesiva
pelo reboco.
Para que se evite a formao de fissuras, dever ser garantida a estabilidade
dimensional ao longo do termo da argamassa. Se o reboco foi executado com o
recurso a vrias camadas, este requisito dever ser verificado na camada exterior para
que se evitem tenses no suporte ou na prpria argamassa que poderiam conduzir
perda de adeso entre ambos.
Compatibilidade fsica:
A absoro de gua por capilaridade das argamassas dever ser a menor possvel,
devendo ser semelhante da argamassa utilizada no reboco original e inferior do
suporte.
Em relao permeabilidade ao vapor de gua, esta dever ser semelhante da
argamassa utilizada no reboco original e superior do suporte, permitindo assim a
libertao de gua de infiltrao.
Dever ser utilizada uma argamassa com um coeficiente de dilatao trmica o mais
semelhante ao do suporte para que, na presena de gradientes trmicos e associada a
um baixo mdulo de elasticidade, no origine grandes deformaes e
consequentemente no se verifiquem tenses de origem trmica.
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Compatibilidade qumica:
A argamassa no dever ser rica em sais solveis, pois a sua libertao poder ser
prejudicial para os elementos do suporte, tendo como consequncia o agravamento ou
o desenvolvimento de aces de degradao.
2.2.2.2 Requisitos e caractersticas relacionadas com a durabilidade das
argamassas
Os agentes de deteriorao que podem gerar e agravar esses fenmenos so os sais solveis,
a gua, organismos, microrganismos e todas as condies ambientais. De seguida, e tendo
tambm como base o estudo desenvolvido em (Almeida, 2008), enumeram-se as
caractersticas que as argamassas devero possuir para a interveno em rebocos exteriores,
de modo a respeitar as exigncias necessrias a um adequado desempenho:
Permeabilidade ao vapor de gua que permita a sada da gua infiltrada ou o
transporte de sais solveis para o exterior. No caso em que estes existam nas
argamassas, a sua cristalizao deve ocorrer na superfcie exterior, formando assim
eflorescncias, patologia esta muito menos abrasiva que as criptoflorescncias.
Resistncia aco de sais solveis. Nos edifcios antigos frequente a presena
destes sais no interior das paredes, sendo a resistncia das argamassas s aces
destes sais um aspecto importante a ter em considerao na formulao da argamassa
a aplicar. Deste modo, para fazer face aos sais que provocam degradao nas
argamassas atravs de ataques qumicos, a argamassa a aplicar dever possuir baixos
teores de silicatos e aluminatos. Por outro lado, para fazer face aos sais solveis que
causam degradao nas argamassas por aces mecnicas, isto , por alteraes
cclicas do volume dos respectivos sais no interior dos poros, a argamassa dever
possuir uma resistncia mecnica elevada, assim como uma elevada porometria.
Uma boa resistncia a ciclos de gelo degelo quando a argamassa aplicada em
climas frios, o que ser possvel se a argamassa possuir uma reduzida absoro de
gua e uma resistncia mecnica capaz de suportar as tenses geradas durante a
gelidificao.
Boa resistncia colonizao biolgica que ser conseguida se for garantido um bom
comportamento da argamassa face gua, assim como uma baixa percentagem de
elementos orgnicos na constituio da mesma, uma vez que a presena de fungos
bastante potenciada pela presena prolongada de humidade.
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3 ARGAMASSAS DE CAL AREA E COMPONENTES
POZOLNICOS
Este captulo descreve as argamassas de cal area com adio de produtos com
caractersticas pozolnicas. Enumera ainda alguns mtodos de avaliao da reactividade
pozolnica desses componentes.
3.1 Cal area
A matria-prima que origina a cal area a rocha de calcrio com baixo teor de impurezas
devendo essa apresentar uma percentagem superior a 95 % de carbonato de clcio ou
carbonato de clcio e de magnsio. Esta diferenciao de elementos na sua constituio
origina uma denominao distinta. Se o teor de magnsio na matria-prima for superior a 20 %,
a cal designa-se por cal magnesiana. Caso contrrio, a cal denomina-se por cal clcica
(Cavaco, 2005).
No passado eram utilizadas duas denominaes para a cal: cais gordas e cais magras. Estas
ltimas apresentam uma cor menos clara assim como uma resistncia mecnica inferior. Em
relao sua constituio, o seu teor de carbonato de clcio situa-se entre os 95 % e os 99 %,
enquanto que nas cais gordas, este teor superior a 99 %. Um outro aspecto que difere nestes
dois tipos de cal o incremento de volume que existe em ambas aquando da sua extino,
sendo o da cal gorda superior (Cavaco, 2005).
Em relao s principais etapas associadas produo e endurecimento da cal area,
interessa referir que podem ser divididas em trs fases: calcinao, hidratao ou extino e
carbonatao. A calcinao ocorre num forno cuja temperatura ronda os 900 C, o que
possibilita a cozedura dos calcrios, que causa a transformao do carbonato de clcio
(CaCO3) em dixido de carbono e xido de clcio (CaO), composto este vulgarmente
conhecido por cal viva (Cavaco, 2005; Botelho, 2003).
[3-1]
A hidratao ou extino da cal uma fase fundamental, uma vez que a cal viva no possui
caractersticas de ligante, necessitando previamente de ser hidratada. A hidratao, que resulta
da mistura do xido de clcio com gua, desencadeia uma reaco muito expansiva e
exotrmica, originando a sua desagregao com efervescncia transformando o xido de
clcio em hidrxido de clcio (Ca(OH)2). Este produto que se designa por cal apagada,
-
16
hidratada ou extinta, utilizado como ligante (Cavaco, 2005; Botelho, 2003). A equao
qumica que descreve o processo de hidratao apresentada de seguida.
[3-2]
A extino da cal viva pode ser realizada por trs processos distintos (asperso, imerso e
tambm atravs da mistura com areia molhada, dos quais resultam, respectivamente, a cal em
p, a cal em pasta e uma argamassa de cal e areia) (Faria-Rodrigues, 2004). Almeida (2008)
ao citar Faria-Rodrigues (2004), apresenta uma tabela com as vantagens e as desvantagens
dos respectivos mtodos de extino da cal viva.
Tabela 3-1 Vantagens e desvantagens associadas aos diferentes mtodos de extino da cal viva (Faria-Rodrigues, 2004).
Mtodos de extino
Vantagens Desvantagens
Asperso
Facilidade de transporte, armazenamento e utilizao;
Facilita processos industriais; Mais adequada para cais hidrulicas.
No optimiza a plasticidade; Necessidade de controlo elaborado para garantir
hidratao completa.
Imerso
Garante a hidratao completa; Reduz a dimenso das partculas (maior reactividade); Aumenta a
plasticidade e reduz a quantidade de gua.
Inadequada para cais hidrulicas; Processo
perigoso (calor e causticidade); Necessidade
de perodo prolongado.
Atravs de areia molhada
Envolvimento total dos agregados pela pasta; Menos gua para obter
plasticidade; Menor retraco e maior durabilidade das argamassas;
Trao mais forte em ligante.
Requer tempo, espao e boa execuo in situ; Geralmente reservado para trabalhos de conservao importantes.
Durante o processo de endurecimento da cal area ocorrem dois fenmenos principais, a
evaporao da gua em excesso e a reaco do hidrxido de clcio com o dixido de carbono
presente na atmosfera, reaco esta conhecida por carbonatao. Associadas a estes
fenmenos esto a libertao de calor e a formao de carbonato de clcio. O fenmeno de
carbonatao pode ser traduzido pela seguinte equao da reaco (Cavaco, 2005):
[3-3]
-
17
A reaco de carbonatao desenvolve-se durante vrios meses, ocorrendo do exterior para o
interior da argamassa. Como tal, para um adequado desenvolvimento do fenmeno de
carbonatao necessrio que a argamassa seja suficientemente porosa de modo a permitir a
evaporao da gua em excesso, assim como possibilitar a penetrao do dixido de carbono
do ar para o seu interior (Ferreira Pinto et al., 2006/2007).
3.2 Definio de materiais pozolnicos
Coutinho define os materiais pozolnicos como produtos naturais ou artificiais constitudos
essencialmente por slica e alumina que, apesar de no terem por si s propriedades
aglomerantes e hidrulicas, contm constituintes que s temperaturas ordinrias se combinam,
em presena de gua, com o hidrxido de clcio, originando compostos de grande estabilidade
na gua e com propriedades aglomerantes (Coutinho, 2006).
As pozolanas podem ser classificadas em duas categorias: as pozolanas naturais e as
artificiais.
As pozolanas naturais so materiais com elevada percentagem de slica amorfa e que podem
ser divididas consoante a sua origem: as de origem vulcnica (Pozolanas dos Aores,
Pozolanas do Porto Santo, Pozolanas de Santo Anto, Pozolanas Italianas, Terras de
Santorini, etc.) e as de origem sedimentar (Terra diatomcea/ diatomite) (Lea, 1970; Taylor,
1972). Quer nas pozolanas de origem vulcnica, quer nas de origem sedimentar, o local da
origem das mesmas desempenha uma forte influncia na sua composio e reactividade
pozolnica. Um outro aspecto que tambm define as pozolanas naturais o facto de no
necessitarem de um tratamento especial alm da sua extraco e de uma possvel moagem
(Coutinho, 2006).
Por sua vez, as pozolanas artificiais podem ser obtidas atravs de tratamentos trmicos
(calcinao) de materiais rochosos com constituio predominantemente siliciosa ou atravs de
subprodutos industriais, como o caso das cinzas de casca de arroz, material utilizado no
presente estudo.
Almeida (2008), com base no estudo desenvolvido por Metha (1983), elaborou uma tabela
(Tabela 3-2) onde apresenta uma classificao de materiais com caractersticas pozolnicas ou
hidrulicas latentes (Almeida, 2008). De realar que nesta tabela esto includas as escrias de
alto-forno, subproduto da industria do ao, material este que apresenta uma constituio muito
semelhante do cimento, sendo considerado um ligante hidrulico por vrios autores (Charola
et al., 1995; Coutinho, 2006).
-
18
Tabela 3-2 Classificao, composio e caracterizao de materiais com caractersticas pozolnicas ou hidrulicas latentes (Almeida, 2008).
Classificao Composio qumica e
mineralgica Caractersticas das partculas
Po
zo
lan
as
co
m p
rop
rie
da
des
hid
ru
lic
as l
ate
nte
s
Escrias de alto-forno
Constitudas essencialmente por silicatos, contendo maioritariamente clcio, magnsio, alumina e slica. Compostos cristalinos do grupo da melilite podem ser encontrados em
pequenas quantidades.
O material no tratado possui o tamanho da areia e contm cerca de
10 a 15% de fraco no slida. Antes de ser usada, seca e moda
em partculas de dimenses inferiores a 45 m (geralmente com
cerca de 500 m2/kg Blaine). As
partculas possuem uma textura rugosa.
Cinza volante com elevado teor de clcio
Constitudas por silicatos amorfos de clcio, magnsio, alumina e alcalis. A
pequena quantidade de matria cristalina consiste geralmente em quartzo e C3A; poder tambm
ocorrer cal livre e perclases; CS e C4A3S podem tambm ocorrer no
caso de serem utilizados arrefecimentos rpidos com
sulfuretos.
As partculas modas correspondem de 10 a 15% de partculas com dimenses superiores a 45 m
usualmente de 200-300 m2/kg Blaine.
A maior parte das partculas so esferas slidas com dimetro mdio
inferior a 20 m. As partculas apresentam uma textura lisa mas no
tanto como nas cinzas volantes de baixo teor de clcio.
Po
zo
lan
as
de
ele
va
da
rea
cti
vid
ad
e Slica de fumo
Consistem essencialmente em slica pura no estado amorfo.
Extremamente fina de forma esfrica com dimetros mdios de 0,1 m
(superfcie especfica de aproximadamente 20 m
2/g por
adsoro de nitrognio)
Cinza de casca de arroz
Consistem essencialmente em slica pura no estado amorfo.
Partculas de dimenso geralmente inferiores a 45 m e extremamente celulares (superfcie especfica de
aproximadamente 60 m2/g por
adsoro de nitrognio).
Po
zo
lan
as
no
rma
is
Cinza volante de baixos valores de
clcio
Constitudas maioritariamente por silicatos amorfos de alumina, ferro e lcalis. A pequena parte da matria cristalina consiste, geralmente, em quartzo, hematite e magnetite. A
presena de carbono geralmente inferior a 5% podendo, no entanto,
ser superior a 10%.
15 a 30% de partculas com dimenses superiores a 45 m (usualmente de 200-300 m
2/kg
Blaine). A maior parte das partculas so esferas slidas com dimetro
mdio de 20 m. As partculas apresentam uma textura lisa.
Po
zo
lan
as
frac
as Escrias e
cinzas de arrefecimentos
lentos
Consistem essencialmente em minerais de slica cristalina e apenas uma pequena quantidade de matria
no cristalina.
Os materiais devem ser pulverizados de modo a obter-se partculas muito
finas e conferir-lhes alguma actividade pozolnica. As partculas modas apresentam uma textura lisa.
3.3 Reactividade das pozolanas
A reactividade pozolnica pode designar-se como a capacidade que as pozolanas tm em se
combinar quer com o hidrxido de clcio, quer com os constituintes do cimento hidratado na
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19
presena de gua, para formarem silicatos e aluminatos de clcio hidratados, do tipo que se
desenvolvem com a hidratao dos ligantes hidrulicos (Coutinho, 2006).
Neste contexto, importante diferenciar a hidratao do cimento da reaco pozolnica
(Almeida, 2008; Velosa, 2006). Um dos aspectos que se evidencia em primeiro lugar o facto
que na hidratao do cimento, os principais compostos do tipo silicatos e aluminatos estarem
no estado cristalino, decompondo-se rapidamente na gua em ies de silicatos e aluminatos,
formando compostos de hidratao. J na reaco pozolnica, para que a slica e a alumina se
combinem com o hidrxido de clcio, necessrio que se apresentem na forma de partculas
de pequenas dimenses e no estado amorfo. Assim sendo, nem todos os materiais contendo
slica e alumina podem ser considerados pozolanas, como o caso da slica na forma de
quartzo.
Coutinho refere ainda que, para alm de quantidade de slica e alumina amorfa existente nas
pozolanas, esta reaco qumica tambm influenciada pela sua estrutura interna (Coutinho,
2006). Isto , a reactividade ser tanto maior quanto maior estiver a sua estrutura interna
afastada do estado cristalino.
Nas pozolanas naturais com origem vulcnica, o estado amorfo das partculas predomina em
virtude do arrefecimento brusco das lavas e da alterao subsequente pelos agentes
atmosfricos, que tendem a destruir os raros cristais que se formaram durante o arrefecimento
brusco do magma.
Nas pozolanas artificiais conseguem-se obter arranjos na estrutura atravs da aco da
temperatura, desde que esta no seja suficientemente intensa para provocar um rearranjo
cristalino. Deste modo, consegue-se obter pozolanas mais reactivas (Velosa, 2006).
Alm destes ltimos aspectos, um factor que condiciona significativamente a reactividade das
pozolanas a sua elevada superfcie especfica. Tal justificado pelo facto de a reaco se
realizar entre um slido a pozolana e um reagente dissolvido o hidrxido de clcio (James
et al., 1986).
Para o caso das cinzas de casca de arroz e ao contrrio das pozolanas de baixa rugosidade,
como o caso da slica de fumo, Metha (1983) afirma que a superfcie especfica no s
depende da dimenso das partculas como tambm da rugosidade que lhe est associada visto
que esta caracterizada por uma estrutura celular e por uma superfcie rugosa (Metha, 1983).
A natureza da reaco pozolnica ainda no bem conhecida, o que tem promovido a
realizao de vrios estudos sobre este assunto. A nvel nacional Velosa (2006), ao citar Villar-
Cocia, refere que na reaco pozolnica ocorre primeiramente uma interaco na superfcie
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das pozolanas, entre estas e os ies de Ca2+
,que so obtidos atravs da hidrlise do hidrxido
de clcio. Posteriormente, esta interaco passa a realizar-se no interior do ncleo das
partculas pozolnicas (Velosa, 2006).
Tal conjunto de interaces permitir que numa soluo aquosa, os monosilicatos e aluminatos
possam reagir com os ies de clcio, resultantes da hidrlise do clcio, possibilitando deste
modo a origem de compostos do tipo silicatos de clcio hidratados e aluminatos de clcio
hidratados.
Almeida refere que em argamassas base de cal area, a quantidade de cal livre que se
combina com os materiais pozolnicos fornece um indicador da pozolanicidade destes
materiais, o que se encontra fortemente relacionado com a sua superfcie especfica (Almeida,
2008).
3.4 Medio da reactividade das pozolanas
No estudo das propriedades pozolnicas, corrente recorrer a mtodos expeditos e rpidos
como so os mtodos qumicos. Como consequncia, quando se pretende avaliar a resistncia
mecnica ou qumica de uma pozolana misturada com uma cal, em vez de se optar pelos
mtodos mais longos como o caso da caracterizao mecnica, opta-se pelo mtodo qumico
(Coutinho, 1958).
3.4.1 Ensaios mecnicos
Um dos tipos de ensaio utilizado para efectuar a medio da reactividade pozolnica o ensaio
mecnico.
Os ensaios mecnicos baseiam-se no princpio de que os produtos originados pela reaco
pozolnica provocaro um aumento da resistncia mecnica de pastas de cal e pozolana. Este
incremento permitir identificar uma pozolana ao nvel da sua capacidade de reaco com a
cal, atravs da sua comparao com resistncias mecnicas de provetes normalizados
(Velosa, 2006).
Velosa (2006), ao citar Vicat (1837), comenta que este utilizava os termos muito energtico,
energtica, fracamente energtica e finalmente inerte, consoante o grau de dureza que
atingiam as pastas de cal e pozolana, tendo como referncia o grau de dureza de outros
produtos, como por exemplo o tijolo, a pedra branda ou o sabo.
-
21
Muitos pases j possuem uma normalizao especfica para este tipo de ensaios, sendo as
principais diferenas verificadas quer na execuo dos provetes (composio, trao e
execuo), quer no condicionamento. Estes ensaios so usualmente efectuados aos 7 e 28
dias de idade (Velosa, 2006; Wanson et al., 2009).
O Caderno de Encargos para Fornecimento e Recepo de Pozolanas (1991) descreve as
exigncias para pozolanas e ensaios em pasta de cal e pozolanas e argamassas de areia.
Quanto a Portugal, o documento regulava nica e exclusivamente pastas de cal e pozolana,
permitindo a classificao de pozolanas e estabelecendo um mtodo de avaliao da
pozolanicidade. O mtodo de avaliao tinha como base as caractersticas fsicas da pozolana
assim como a tenso de rotura flexo e compresso das pastas.
A ASTM C 593-06 (2006) apresenta os valores mnimos de resistncia mecnica que as
argamassas formuladas com cal e pozolanas devem respeitar.
Actualmente, e apesar da existncia da NP EN 196-5, Mtodos de ensaio de cimentos. Parte
5: Ensaio de pozolanicidade dos cimentos pozolnicos, no existe um normativo europeu que
regulamente os ensaios de pozolanicidade em argamassas de cal area hidratada.
3.4.2 Ensaios qumicos
Os ensaios qumicos desempenham um papel importante na determinao da sua origem,
permitindo uma classificao das pozolanas em relao sua natureza. Para efectuar esta
classificao, importante determinar a percentagem de elementos qumicos existentes nas
mesmas. Alm dos usuais SiO2, Al2O3, Fe2O3, MgO e CaO, ainda necessrio a determinao
da percentagem de FeO, MnO, K2O, Na2O, TiO2, P2O5 e H2O. Contudo, este tipo de ensaio
requer de bastante rigor tendo em conta o possvel estado alterado em que as partculas se
podem encontrar (Coutinho, 2006).
O teste Chapelle apresenta-se como um mtodo qumico muito utilizado para a medio da
reactividade pozolnica, sendo este semelhante a outros mtodos utilizados, tais como a
determinao da quantidade de xido de clcio (CaO) numa soluo, aps aquecimento ou por
anlise trmica diferencial (Coutinho, 1958). O teste Chapelle preconiza a colocao de 1 g da
pozolana em estudo e de 1 g de hidrxido de clcio em 199 ml de gua a ferver durante 16 h.
Terminado este perodo e com o recurso a um equipamento padronizado, efectua-se a
medio da quantidade de hidrxido de clcio que ficou por reagir.
Apesar de no se enquadrar no domnio das argamassas de cal area com adio de
componentes pozolnicos, a NP EN 196-5, Mtodos de ensaio de cimentos. Parte 5: Ensaio
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de pozolanicidade dos cimentos pozolnicos, sugere a possibilidade de verificao da
pozolanicidade dos cimentos pozolnicos. Para tal, usam-se 20 g de pozolana para 100 ml de
gua. No final, mede-se a quantidade de Ca(OH)2 existente na soluo e compara-se com a
quantidade do mesmo composto que satura uma outra soluo com a mesma alcalinidade. Em
relao a esta norma europeia, importa referir que no aplicvel s pozolanas.
Vrios autores (Luxan et al., 1989; Lea, 1970) defendem que a medio da pozolanicidade das
respectivas pozolanas pode ser efectuada atravs do fenmeno da condutividade, ou seja, na
variao da condutividade de uma soluo saturada de hidrxido de clcio antes e aps a
adio da pozolana. O mtodo consiste em determinar a condutividade inicial de 200 ml de
soluo saturada, introduzir 5 g de pozolana na soluo e, aps 2 minutos de reaco,
determinar a condutividade final.
Tabela 3-3 Classificao pozolnica de materiais baseada na medio da condutividade (Luxan et al., 1989).
Classificao da Pozolanicidade do Material
Condutividade [mSi]
No pozolnico < 0,4
Com pozolanicidade varivel 0,4 - 1,2
Com Boa Pozolanicidade >1,2
O princpio inerente aos ensaios apresentados baseia-se no facto de a actividade pozolnica
possibilitar uma fixao do hidrxido de clcio na pozolana, pelo que quando menor for a
concentrao no final de hidrxido de clcio, maior ser a pozolanicidade.
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4 CINZAS DE CASCA DE ARROZ
Neste captulo, aborda-se o tema da casca de arroz, mais concretamente a cinza derivada da
sua calcinao. Apresentam-se os seus processos de transformao e aprofunda-se as
propriedades pozolnicas das cinzas de casca de arroz, assim como a influncia da
granulometria das cinzas nessas mesmas propriedades.
4.1 Contextualizao histrica
Na mitologia, pode-se encontrar vrias lendas que relatam a origem do arroz. Por exemplo, os
rabes acreditavam que o arroz foi gerado a partir de uma gota de suor de Maom. Por sua
vez, uma lenda chinesa conta que durante um perodo de grande fome, alguns habitantes da
regio de Sichuan, num acto de desespero, enviaram pssaros aos deuses pedindo um
alimento que os pudesse ajudar. Como resposta a este pedido, os pssaros trouxeram gros
de arroz
As referncias bibliogrficas mais antigas situam a origem do arroz na ndia e sudeste asitico,
mais concretamente, existem documentos datados de 3000 a.c. que relatam a existncia deste
cereal na China e tambm vrios escritos hindus que citam o arroz por esta data. Pelos anos
1000 a.c., o valor nutritivo do arroz j era conhecido. Posteriormente, a cultura do arroz
expandiu-se at Prsia e Indonsia. Por meados de 100 a.c., o arroz j era cultivado no
Japo, e tambm nas Filipinas, onde foram criados os Arrozais de Banaue. Os rabes levaram-
no para o delta do Nilo, possibilitando assim a sua descoberta, atravs dos turcos, pelos
pases mediterrnicos, onde comeou a ser cultivado nos Balcs. Com a ocupao da
Pennsula Ibrica pelos muulmanos, o arroz chegou a este territrio, com os primeiros indcios
do cultivo em Portugal a apontarem para que este ten