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A reinvenção do cultivo do arroz em Roraima: um legado para a sustentabilidade ISABEL CRISTINA DOS SANTOS UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL [email protected] MARCILENE FEITOSA ARAÚJO Universidade Municipal de São Caetano do Sul- USCS [email protected]

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A reinvenção do cultivo do arroz em Roraima: um legado paraa sustentabilidade

 

 

ISABEL CRISTINA DOS SANTOSUNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO [email protected] MARCILENE FEITOSA ARAÚJOUniversidade Municipal de São Caetano do Sul- [email protected] 

 

A reinvenção do cultivo do arroz em Roraima: um legado para a sustentabilidade

Resumo: Este artigo analisa as técnicas e tecnologias de plantio do arroz irrigado no

estado de Roraima, identificando os fatores que o tornaram um produto nacionalmente

aceito. Para tanto, utilizou-se pesquisa exploratória, de caráter qualitativo, delineada por

estudo de caso. A produção de arroz em Roraima até a década de 1980 era tipicamente

de sequeiro (lavrado). A mudança para plantio irrigado ocorreu pela estiagem no ciclo

de produção e para conter pragas e doenças que geravam perdas significativas na

produção do arroz. Desde então, predomina o plantio irrigado em várzeas, com técnicas

e tecnologias usadas pelos estados produtores do sul do país. Roraima, que já foi o

segundo maior produtor, atualmente é o terceiro no ranking. A perda de posição

decorreu da demarcação de terras indígenas que reduziu as áreas de plantio do arroz e a

produção. Observa-se que o setor está recuperando os níveis de produção com uso de

tecnologias moderna em atendimento aos anseios socioeconômicos e ambientais,

mecanização da lavoura, bombeamento da água do rio para a irrigação e uso da aviação

agrícola para controle do plantio do arroz irrigado.

Palavras-chave: Arroz Irrigado; Desenvolvimento Regional; Sustentabilidade;

Inovação Social.

The reinvention of the rice planting in Roraima: a legacy for sustainability

Abstract: This article analyzes techniques and technologies used for irrigated rice

plantation in Roraima, identifying the factors that made this product nationally

accepted, through an exploratory research, with qualitative character, underlined by a

case study. The research findings shows up that until 1980 rice plantation in Roraima

was in non-irrigated land. The change for the irrigated system was due to lack of rainfall

during the production, and aim to contain pests and diseases that call losses in rice

plantation. Nowadays, the rice plantation is based on irrigated planting in floodplains

areas. Roraima´s producers applies the same techniques and technologies used by the

producers in the South region of Brazil. Roraima held the second highest productivity

average of the country. Recently, Roraima dropped to the third rice producer position.

The indigenous land demarcation affected the rice planting, reducing significantly the

amount produced. Nowadays, the sector is recovering the production volumes with

irrigated rice, with the use of new technologies that allows meeting social, economic

and environmental demands, mainly in the mechanization of farming, pumping of river

water for irrigation and agricultural aviation for planting control.

Keywords: Irrigated rice. Regional Development. Sustainability. Social Innovation.

1. Introdução

A recuperação de áreas degradadas pelo uso empírico dos solos decorrente das

atividades sócio produtivas e culturais têm se revelado um negócio lucrativo. Com o

robustecimento das campanhas e ações preservacionistas, com a crescente escassez de

recursos naturais e exaustão da capacidade de auto recuperação do meio ambiente, a

expectativa de correção recai sobre o comportamento sócio e ambientalmente correto

dos indivíduos e empresas que exploram as riquezas da terra. Nessa perspectiva,

conforme sugerem Barbosa et al (2012), o termo “desenvolvimento sustentável” ganhou

evidência sendo reconhecido a partir do Relatório Brundtlandem, de 1987, como um

processo de transformação capaz de oferecer, às futuras gerações, as condições

ambientais atuais e, desejavelmente, melhor recuperado.

Por conta da corrente socioambiental preservacionista, a preocupação com as

condições de vida no planeta tem levado à adoção de inúmeras iniciativas, com destaque

para a gestão ambiental, sustentabilidade e inovação social que visam minimizar o

impacto da ação do homem sobre o meio ambiente. Incluem-se, nessa pauta, as ações e

a conduta dos produtores do agronegócio.

Um dos principais produtos agrícolas produzidos no estado de Roraima, o arroz

é considerado um dos alimentos mais cultivados e consumidos do mundo. O plantio do

arroz está presente em mais de 100 países e atende as necessidades de consumo de,

aproximadamente, dois terços da população mundial. Pela relevância do produto na

dieta humana, são consideradas como uma inovação social, a adoção de recursos

tecnológicos que possa prover aumento da produtividade e segurança alimentar.

O setor de agronegócios no Brasil tem passado por uma expressiva

modernização que abrange novas técnicas e uso de sofisticadas tecnologias para colheita

e tratamento do produto, bem como a implantação de sistemas de irrigação e

normalização do solo, aumentando a produtividade. E faz sentido que assim seja, uma

vez que o setor tem participado de forma crescente na composição do Produto Interno

Bruto, o país e das regiões produtoras, como é o caso do estado de Roraima.

Conforme dados da Secretaria de Estado do Planejamento e Desenvolvimento de

Roraima/SEPLAN, o Produto Interno Bruto do Estado ficou em R$ 6,3 bilhões em

2010, sendo que o Setor Terciário respondeu por 82% desse total, seguido pelo Setor

Secundário, com 13% e pelo Setor Primário com 5%, apresentando um crescimento real

em volume de 9,6% naquele ano (SEPLAN, 2013). Destacada a atividade extrativa, o

setor primário, a soma das riquezas geradas na agricultura e pecuária alcança 4% do

valor do PIB do estado (SEPLAN, 2013). Roraima participa em 0,17% do PIB nacional.

No caso particular da produção de arroz (plantio), a estimativa de crescimento da

produção nacional, baseada na melhoria da produtividade, é de 12.369 milhões de

toneladas para o limite de aproximadamente 17 milhões com uma redução de área de

plantio que, “pelas projeções pode cair de 2,23 milhões de hectares em 2012/13 para

1,50 milhão de hectares em 2022/23” (BRASIL, 2013).

No setor de agronegócios, até recentemente a busca por competitividade baseou-

se em um modelo de negócio insustentável com uso de produtos tóxicos que agrediam

tanto a saúde do consumidor com o próprio meio ambiente. Assim, o agronegócio, sob a

perspectiva de produção sustentável deve fundamentar-se no uso de novas técnicas e

tecnologias capazes de conciliar ganhos econômicos, sociais e ambientais.

A inovação, sob a perspectiva socioambiental, frente à abundância de recursos

naturais do país, sugere a possibilidade de inserção produtiva para todos que vivem da

terra e, a partir dela, agregação de novos valores e a construção de seres humanos

melhores (OLIVEIRA e SILVA, 2012). Diante do exposto, surgiu a motivação para a

presente pesquisa, norteada pela seguinte pergunta: Quais técnicas e tecnologias são

utilizadas para o cultivo do arroz em Roraima e quais fatores influenciam na

potencialidade do produto de forma a torná-lo nacionalmente aceito?

O objetivo deste estudo é analisar as técnicas e tecnologias utilizadas para o

cultivo do arroz em Roraima, identificando os fatores que o tornaram um produto

nacionalmente aceito.

2. Referencial Teórico

2.1 Desenvolvimento Regional

Estudos voltados atemática do desenvolvimento de regiões estão em evidência

desde a segunda metade do século XIX. Sob esta ótica, destacam-se os trabalhos de

Alfred Marshall, com ênfase para a sua obra clássica “Princípios de Economia”,

originalmente publicado em 1890 (MARSHALL, 1982). Para o autor, a vantagem

competitiva das regiões era sustentada por potencialidades locais. A visão de Marshall

sobre a economia das regiões inspiraria outros autores a investigar a influência dos

fatores de produção sobre a geração de riquezas como a Teoria do Valor e a Teoria

Econômica Neoclássica, por exemplo.

Outro estudo de alto relevo no entendimento do desenvolvimento regional

refere-se a obra de Alfred Weber (1868-1958) acerca dos fatores da localidade, tema

revisitado pela obra de Paul Krugman (1953 - atual).

Objeto de interesse de estudiosos da Microeconomia, o conceito de

desenvolvimento regional enfatiza as oportunidades locais evidenciadas por meio de

uma estreita relação entre agentes, podendo ser entendido como um processo endógeno

que se utiliza da capacidade, oportunidade e potencialidade do local para obter

resultados econômicos mais significativos, influenciando diretamente na qualidade de

vida das pessoas (BUARQUE, 2006).

Assim, conforme sugerem Lima e Simões (2010), uma região “é representada

por um conjunto de pontos do espaço que tenham maior integração entre si do que em

relação ao resto do mundo”, isto é, “um conjunto de centros urbanos dotados de um

determinado grau de integração”. E a integração, por outro lado, tem extrapolado os

limites primitivos e geográficos da localidade, ensejando que o território seja uma

constituição, sobretudo, formada por relacionamentos e trocas.

O desenvolvimento de regiões, conforme sugerem Oliveira Junior, Pereira e

Bresciani (2011), trata dos conceitos atribuídos ao desenvolvimento não somente focado

nos aspectos econômicos, mas que envolvam atualmente questões sociais, ambientais e

culturais, que de acordo com os autores, são consideradas dimensões indissociáveis.

2.2 Desenvolvimento Sustentável e a Tríade da Sustentabilidade

Decorrente da crise social e ambiental deflagrada em meados do século XX, o

termo “desenvolvimento sustentável” emergiu a partir dos estudos da Organização das

Nações Unidas sobre as mudanças climáticas. Tais estudos deram origem ao relatório

que ficou conhecido como Our Common Future.

O termo “desenvolvimento sustentável”, como sugere Veiga (2007) foi usado

pela primeira vez em 1979, em um simpósio das Nações Unidas. Para ele, o termo

enfatiza que o crescimento econômico deve respeitar os limites da natureza ao invés de

destruir seus ecossistemas, e oferecer uma chance de evolução às futuras gerações.

Ao longo dos anos a relação entre o homem e natureza foi ficando cada vez mais

conflituosa demonstrando sinais claros de exaustão. Os problemas ambientais, o grande

responsável por esta crise, apresenta-se como um dos maiores desafios enfrentados pela

humanidade, este vem afetando as relações entre a sociedade e as condições de

sobrevivência no planeta (MOSCOVICI, 2007).

Em nome do desenvolvimento, durante séculos, a sociedade praticou um modelo

de desenvolvimento focado nos índices econômicos. E comportava-se como se as fontes

de matérias-primas fossem inesgotáveis e que o planeta assimilaria os resíduos

indefinidamente (SANTOS, CÂNDIDO, 2013). Assim, o meio ambiente foi sendo

violentamente degradado, atingindo níveis de esgotamento de seus recursos naturais.

Diante da crise ambiental e social que repercutiu mundialmente, surgiram na década de

1970 diversos debates a respeito das boas praticas no uso dos recursos naturais.

Na visão de Santos e Cândido (2013) para o alcance do desenvolvimento

sustentável é necessário um modelo de sociedade que almeje a minimização de tais

problemas, pensando não somente em crescer economicamente, mas também em se

desenvolver sustentavelmente, em resposta à crise ambiental global.

A sociedade vê o desenvolvimento sustentável como um processo de

transformação, assim, conforme sugerem Barbosa et al (2012) a exploração dos

recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as

mudanças institucionais devem se harmonizar, reforçando a potencialidade de se

atender as necessidades e aspirações humanas tanto no presente como no futuro. O

desenvolvimento sustentável consiste na integração de três vetores da sustentabilidade

que são: ambiental, econômico e social, como sintetiza a Figura 1.

Figura 1: Tríade da Sustentabilidade

Fonte: Adaptado de Barbosa et al (2012).

Tido como teoricamente eficiente e de fácil aceitação, o conceito de

desenvolvimento sustentável, na realidade, compreende uma visão sistêmica de difícil

aplicação, uma vez que envolve a combinação de diversos fatores ambientais,

tecnológicos, econômicos, cultural e políticos. Cada um deles, por si só, de natureza

complexa. O desenvolvimento sustentável requer um conjunto de mudanças, tanto na

forma de pensar e agir dos agentes, mas, sobretudo, na forma de consumir da sociedade

(CÂNDIDO, 2004; BARBOSA et al, 2012; SANTOS, CÂNDIDO, 2013).

Para gerar mudanças significativas no modelo mental de consumo e descarte,

com vista à proteção do meio ambiente, é preciso que haja uma maior interação entre as

empresas, o governo, as universidades e as organizações sociais, no formato de uma

Hélice Tríplice, que ao girar – ou agir – parecer ser um único objeto.

Paganotti (2014, p. 61) descreve que esse modelo de articulação desenvolvido

por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, em 1999, surgiu como uma hélice tríplice, da

qual participavam o governo, as universidades e as empresas e foi. Para Faccin, Weiler

e Bonilha (2012) é na Hélice Tríplice que se situa a dinâmica da inovação, em que

segundo os autores as relações se estabelecem entre as três esferas institucionais (pás da

hélice). Essas relações são derivadas de transformações internas em cada parte da

hélice, gerando um efeito cascata nas demais instituições, e em toda sociedade.

Para acomodar melhor as práticas recentes, Etzkowitz e Zhou (2006, apud

PAGANOTTI, 2014) introduziram um fator que seria o mais crítico, o meio ambiente e

a sociedade. Sob essa ótica, os autores ampliaram o modelo, considerando dois grupos

de “hélices gêmeas”, uma representando a estrutura tradicional e a outra considerando a

tríade Universidade, Governo e Público-Social, como descreve a Figura 2.

Figura 2: Hélice Tríplice Gêmeas

Fonte: Paganotti (2014, p. 61)

Os autores denominaram esse novo modelo de hélices tríplices gêmeas em que a

inovação implicaria tanto no desenvolvimento econômico e social, quanto influiria

positivamente no meio ambiente e, por extensão, no planeta e nas condições de vida

(PAGANOTTI, 2014).

Etzkowtiz e Melo (2004) destacam que a interação é a chave para melhorar as

condições de inovação na sociedade baseada no conhecimento. Assim, a empresa

participaria da hélice por meio das áreas de produção. O governo, por sua vez, atuaria

na fonte de relações contratuais que garantam interações estáveis e a universidade como

fonte de novos conhecimentos e tecnologias. E o meio ambiente é o objeto de interesse.

2.3 Inovação Social

O conceito de inovação social, no que se refere à geração de mudanças sociais,

remete à ideia de preocupação com a melhoria nas condições de vida. A inovação social

de acordo com o que postulam Oliveira e Silva (2012, p. 285) surge de desejo sou

necessidades não satisfeitos pelo Estado, ou pelo mercado, e que encontram

principalmente nos países em desenvolvimento, mais espaço de atuação pelas condições

de degradação da vida humana. Para André e Abreu (2006, p. 125) “entre inovação

tecnológica e social nem sempre é clara. Numa primeira fase, entre os anos de 60 e 80

do século XX, a inovação social esteve meio confinado aos domínios da aprendizagem

(ensino e formação) e do emprego (organização do trabalho). Mais tarde, a partir dos

anos 80, mas ainda na mesma linha, a inovação social surge também ligado a ao campo

das políticas sociais e do ordenamento do território”. Castor (2007, p. 77) define “uma inovação social poderia analogicamente ser

entendida como a busca, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e

adoção de arranjos sociais alternativos para produzir algo”. Neste caso, o arroz irrigado.

A busca emerge fora das organizações e, na maioria das vezes, contra elas. Na

opinião de André e Abreu (2006), a busca é o resultado de uma mobilização social

entorno deum objetivo protagonizado informalmente por um movimento social. Assim,

infere-se, a inovação social é um produto resultante das pressões da sociedade civil.

Ainda, a inovação social pode ser entendida como uma nova solução para os

diversos problemas sociais existentes, uma vez que ela responde de forma mais eficaz,

eficiente e sustentável que as demais abordagens de inovação já existentes (PHILLS

JR., DEIGLMEIER e MILLER, 2008).

Resumidamente, os benefícios da inovação social são estendidos a todos,

criando valor, por meio de ganhos coletivos que minimizam as desigualdades sociais.

Assim, na perspectiva de gerar mudança social, a abordagem da inovação social focaliza

os processos inovadores visando atender as necessidades sociais, difundindo a ideia dos

propósitos sociais (MULGAN et al., 2006; ANDRÉ e ABREU, 2006; PHILLS JR.,

DEIGLMEIER e MILLER, 2008).

Conforme sugerem André e Abreu (2006, p. 5) “as inovações sociais

diferenciam-se das tecnológicas na medida em que estas apresentam uma natureza não

mercantil, um caráter coletivo e uma intenção que não só gera, mas também visa as

transformações das relações sociais”.

2.5 O Agronegócio do Arroz irrigado em Roraima

O arroz é um dos alimentos mais importantes do mundo, e cultivado em mais de

100 países. Tal alimento atende a necessidade de consumo de aproximadamente dois

terços da população mundial, segundo afirmam Cordeiro et al. (2010), sendo o

continente asiático o maior produtor e consumidor desse produto.

O Brasil, avaliam Cordeiro et al (2010), ocupa a nona posição no ranking dos

principais países produtores. Na safra de 2007-2008, a área de cultivada no país era de

2,9 milhões de hectares, com uma produção de 11,94 milhões de toneladas, das quais

67% de produção em áreas de várzeas (irrigado). Os outros 33% refere-se à produção

em áreas de terras altas, também conhecidas como arroz de sequeiro.

No país, o maior produtor de arroz irrigado é o Estado do Rio Grande do Sul,

seguido pelo estado do Mato Grosso. A região Sul é responsável por 59% da produção

nacional, totalizando 7,1 milhões de toneladas. Em segundo lugar vem o Estado do

Mato Grosso, com uma área em torno de 233.400 hectares que gera 634.432 toneladas

do produto (CONAB, 2008; CORDEIRO et al., 2010).

Cordeiro et al (2010, p.1) destacam que o agronegócio do arroz em Roraima é

uma das poucas cadeias produtivas efetivamente estabilizadas no Estado. Até ano de

2008, a área semeada do produto apontava potencial de crescimento. Até 2010, Roraima

dispunha de 160.211 hectares (ha) de solos de várzeas. Destes, 124.888 ha

apresentavam aptidão agrícola para cultivo do arroz irrigado (CORDEIRO et al., 2010).

Porém, que a homologação das terras indígenas no estado modificou essa realidade.

Suhre et al (2008) e Cordeiro et al (2010) destacam que os principais sistemas de

cultivo de arroz em várzea utilizados pelos produtores do Estado são: irrigação por

inundação contínua com semeadura a lanço, que é a principal, ou linhas; e o de várzeas

úmidas, sendo que este último somente é utilizado no período chuvoso. Ainda, como

destacam os autores citados, o cultivo do arroz pode ocorrer por qualquer método de

irrigação existente. No entanto, em Roraima, o sistema por inundação contínua é o mais

utilizado por ser mais prático na execução e, com isso, gera maior produtividade e

melhora a qualidade industrial dos grãos (SUHRE et al., 2008; CORDEIRO et al, 2010).

3. Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa caracteriza-se, quanto à forma de abordagem ao problema,

como qualitativa (GODOY, BANDEIRA-DE-MELO; SILVA, 2006). Do ponto de vista

da forma de abordagem dos objetivos, esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, pois

visa descrever as características de uma população ou fenômeno (produtores/cultivo do

arroz), observando e analisando os dados, sem nenhuma interferência do pesquisador.

Quanto aos procedimentos técnicos, esta pesquisa classifica-se como documental

e ex-post facto. No campo recorreu-se a uma entrevista semiestruturada com a

presidente da principal associação do setor. Esta pesquisa caracteriza-se também como

de caráter bibliográfica e documental por utilizar fontes primárias e secundárias

publicadas e não publicadas. Esta se classificada como ex-post facto, por se basear em

dados fornecidos pela associação dos produtores de arroz e Embrapa de Roraima. A

pesquisa ex-post facto é caracterizada por ser uma investigação que buscar

compreender, explicar e descrever fatos passados (GIL, 1994).

4. Análise e Discussão dos Resultados

Devido à reorganização do plantio de arroz no estado, em razão da retirada de

produtores das, então, homologadas reservas indígenas e sua realocação em novas áreas,

os dados oficiais disponíveis vão até 2010. Assim, as informações referentes anos de

2011 á 2014 foram coletadas de fontes não oficiais.

O cultivo do arroz irrigado em Roraima teve início na década de 1980, segundo

a Embrapa. No início a produção era apenas de áreas de savana, ou arroz de sequeiro

que, ao longo do tempo, por vários motivos, deixou de ser cultivado em grande escala.

O Quadro 1 aponta os valores de área cultivada e a produtividade, nos períodos

históricos da cultura do arroz irrigado em Roraima. Esses períodos equivalem à

evolução dos estágios de implantação, estabelecimento e expansão da produção de arroz

de 1981 até 2006 (CORDEIRO et al, 2008).

Quadro 1:Produtividade da cultura do arroz irrigado em Roraima

Fonte: Cordeiro et al., 2008

Braga et al (2009) destacam que as cultivares utilizadas para esse plantio

possuíam grãos com qualidade inferior aos que eram colhidos em outros estados, além

de muito susceptíveis às doenças que afetavam diretamente a produção. Outro fator

desestimulante para os produtores de arroz sequeiro era a falta de mercado, pois a

qualidade dos grãos produzidos no estado não permitia que o produtor tivesse preço

para competir com o arroz produzido nas demais regiões do país. Visando produzir um

produto com qualidade capaz de competir com outras regiões, é que alguns produtores

passaram a realizar o plantio às margens dos principais rios da região, dando início ao

plantio do arroz irrigado de Roraima, apresentado na Figura 3.

Figura 3: Lavoura de arroz irrigado

Fonte: Sistema de produção de arroz em várzeas de Roraima/ Embrapa (2010, p.1).

O sistema de produção do arroz irrigado no estado conforme Cordeiro et al

(2010) era praticado até 2010 por cerca de 25 produtores que cultivam área média de

600 hectares/ano, sendo que as maiores lavouras ocupam área superior a 1.000

hectares/ano. Após a retirada destes produtores das áreas consideradas reservas

indígenas por meio do decreto que homologou, de forma contínua, a terra indígena

Raposa Serra do Sol, segundo a associação dos arrozeiros do Estado apenas sete (7)

produtores continuam na atividade. Apesar dos recentes acontecimentos envolvendo

atividade do arroz irrigado no estado, Cordeiro et al (2010) salienta que esta é uma das

poucas cadeias produtivas agrícolas efetivamente estabilizadas no Estado.

O estado de Roraima é beneficiado por seu clima favorável à produção. O

cultivo do arroz na região é feito duas vezes ao ano, sendo 30% semeado no período

chuvoso (abril a setembro) e 70% no período seco (outubro a março). A condição

climática do estado contribui significativamente para a quantidade e para a qualidade do

arroz produzido na região (CORDEIRO et al., 2010).

Na safra de 2007 e 2008, de acordo com dados de Cordeiro e Medeiros (2010),

foram colhidos cerca de 24.000 hectares, gerando produção de 152.400 toneladas de

arroz em casca, com produtividade média de 6.350 kg ha-1, como descreve a Tabela 1.

Até 2010, a indústria local de arroz era composta por 13 agroindústrias que

comercializam 27 marcas, algumas das quais apresentadas na Figura 4.

Figura 4: Marcas de arroz locais

Fonte: Mercado Varejista de Arroz em Boa Vista, Roraima/Embrapa (2009)

Na safra de 2009/ e 2010, após o ápice do conflito entre os produtores e os

índios, houve uma significativa redução da produção, em razão da homologação, em

caráter contínua, das terras indígenas. A produção, então, passou de 24.000 hectares

plantando para 11.500 mil de hectares com uma produção de 73.025 toneladas, como

destaca a Tabela 1.Atualmente, conforme dados não oficiais, a quantidade produzida

varia entre 11 a 12 mil hectares que geram uma produção de aproximadamente 75 mil

toneladas de arroz em casca com uma produtividade média de 6.250 kg ha-1.

A produção de arroz irrigado do estado já atingiu mercados como o Pará e de

Letícia na Colômbia.75% do arroz produzido em Roraima é destinada ao Amazonas,

que é o maior e mais importante consumidor de arroz. Os outros 25% da produção

abastece o mercado local (CORDEIRO et al, 2007; BRAGA et al, 2009).

Analisando a Tabela 1, é possível observar que as safras de 2007-2008 e 2008-

2009 foram aquelas que apresentaram maior área plantada no estado, alcançando índices

de produtividade significativos. Tais resultados podem ser, segundo Cordeiro et al

(2010), decorrentes de ajustes tecnológicos implementados pelo setor, principalmente

por meio da aquisição de tecnologia de ponta técnicas mais sofisticadas.

Os atuais sistemas de produção têm trazido benefícios como a redução de custo

na produção, menor impacto ambiental e melhor qualidade do produto. Sob esta ótica, o

qualificativo da sustentabilidade, conforme sugere Ramos (2001) indica o desejo de um

novo paradigma tecnológico que não agrida o meio ambiente.

As tecnologias usadas no plantio e beneficiamento têm proporcionado aos

produtores e beneficiadores maior quantidade e qualidade na produção, considerando o

desejo destes de alcançar níveis competitivos mais significativos.

Tabela 1: Arroz (em casca) irrigado em várzeas no período de 1981 a 2010.

Fonte: Sistema de produção de arroz em várzeas de Roraima/ Embrapa (2010, p.8)

No que se refere as tecnologias usadas para a produção no campo, a presidente

da associação dos arrozeiros do Estado, produtora e sócia/proprietária da Itikawa

indústria e comércio Ltda., destaca:

A tecnologia usada aqui por nos no estado é uma tecnologia que não

deixa a desejar ao maior produtor do Brasil que é o Rio grande do

Sul, Mato grosso, Santa Catarina e a outros que estão à frente de

Roraima em termo de quantidade de produção por hectare. Aqui são

aplicadas tecnologias iguais ou similares a outros mercados que vem

produzindo arroz a nível nacional e até internacional.

No que diz respeito às tecnologias usadas na indústria ela complementa:

Aqui na indústria nos estamos sempre sendo visitados por empresas

como Zaccaria, Kepler Weber, Paje. Já na área de empacotamento

recebemos visitas de empresas como Indumak e Selgron que estão

sempre aqui em Roraima, visitando as empresas, as usinas de

beneficiamento para mostrar o que eles têm de diferencial e a gente

dentro do possível né, tem adquirido estes equipamentos para

colocarmos nosso produto no mercado da melhor forma possível no

que diz respeito a qualidade. Hoje, o arroz produzido em Roraima é

de excelente qualidade e compete com qualquer arroz produzido a

nível nacional.

Para a empresária não existe diferença entre a tecnologia e técnicas usada na

produção do arroz no estado e nos demais estados produtores do país. Ela salienta que o

estado do Rio Grande do Sul vem retirando uma quantidade maior por hectare em

algumas lavouras pontuais, mas isso não estar diretamente associado a questões

tecnológicas e sim a questão de tradição e atitude, uma vez que os produtores daquela

região se antecipam em algumas atitudes junto ao governo daquele estado.

Conforme a entrevistada, os produtores de Roraima por meio da associação dos

arrozeiros têm, todos os anos buscado realizar uma semana de comemoração da colheita

do arroz, na oportunidade tem trazido técnicos de ponta do instituto Rio Grandense do

Arroz –IRGA, que visitam as lavouras e mostram o que está sendo adotado lá em

termos de novas técnicas que visam uma maior produção por hectare.

No que tange a contribuição da produção do arroz irrigado para o

desenvolvimento do estado, a presidente da associação salienta a geração de emprego

como a maior contribuição. Segundo ela, a atividade tem participação significativa na

geração de aproximadamente 8.000 empregos diretos e indiretos.

Outro ponto importante segundo a empresária é a construção de divisas, uma vez

que o produto é vendido para outros mercados isso traz benéficos para o estado e para a

economia regional, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento

econômico do estado e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas da região.

Quanto ao desenvolvimento sustentável, vale salientar que em nome do

crescimento econômico, o meio ambiente foi violentamente degradado, atingindo

elevados níveis de esgotamento de seus recursos naturais (SANTOS E CÂNDIDO,

2013). O grande desafio atual é conciliar o crescimento econômico respeitando os

limites da natureza. Neste sentido, a produção de arroz irrigado no estado busca por

meio de tecnologia de ponta minimizar o impacto da atividade no meio ambiente. Se

comparada com a produção de arroz sequeiro a produção de arroz irrigado é mais

sustentável, uma vez que seu impacto no meio ambiente é menor (VEIGA, 2007).

Considerado um processo de transformação, o desenvolvimento sustentável

consiste na integração de três vetores da sustentabilidade que são: ambiental, econômico

e social. No negócio do arroz irrigado de Roraima esses três vetores são atendidos na

medida em que tantos os produtores como as agroindústrias buscam respeitar o meio

ambiente, com o uso de técnicas e tecnologias que atendam às necessidades e respeitem

os anseios sociais quanto à gestão ambiental. Por exemplo, o reaproveitamento da palha

do arroz que antes era jogada nos lixões e hoje é utilizada pela maioria das empresas

para secagem do arroz, bem como, a não utilização de copo descartáveis pelos

funcionários da empresa também são consideradas ações sustentáveis.

No campo, o produtor que usa o método de irrigação usa menos agrotóxico,

aproveitando os recursos naturais como a água que não degrada o meio ambiente e nem

a qualidade do produto. A água utilizada no plantio retorna a natureza com qualidade

melhor, o que é considerada uma prática sustentável.

Outro ponto importante é uso consciente de energia. Antes os industriais

ligavam as maquinas no mesmo momento. Hoje com a ajuda de profissionais do

SENAI, os empresários passaram a ligar uma máquina por vez, isto é, esperar que uma

esteja totalmente aquecida para ligar outra. Tal técnica tem trazido para as empresas

redução significativa no uso e nos gastos com energia.

No que se refere ao desenvolvimento econômico à atividade como já

mencionado tem contribuído por meio da geração de emprego e renda movimentando a

economia regional. Em relação à responsabilidade social, as agroindústrias

principalmente, conforme declara a Associação dos Arrozeiros do estado, tem buscado

praticar ações como, por exemplo, o Programa Mesa Brasil, do SESC. Esse programa

utiliza uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome e o desperdício, seu

objetivo é contribuir para a promoção da cidadania e a melhoria da qualidade de vida de

pessoas em situação de pobreza, em uma perspectiva de inclusão social (SESC, 2014).

Assim, segundo a associação dos arrozeiros, algumas empresas como, por

exemplo, a empresa Itikwa, realiza doações para creches e outras instituições,

cumprindo seu papel social, confirmando a observação de Oliveira Junior, Pereira e

Bresciani (2011), que destacam que o desenvolvimento de regiões trata dos conceitos

atribuídos ao desenvolvimento não somente focado nos aspectos econômicos, mas que

envolvam atualmente questões sociais, ambientais e culturais.

No que se refere à interação entre os produtores e as agroindústrias, e os demais

agentes - governos e universidades - a maior interação vem do governo federal. Neste

sentido, a produtora e empresária Isabel Itikwa destaca que a maior contribuição do

governo vem por meio da Embrapa que frequentemente realiza pesquisas nas áreas de

resistência, isto é, sementes que resistem ao clima tropical da região, sementes precoce

para o retorno mais rápido na colheita, bem como variedade de sementes.

A pessoa entrevistada, essa destacou que: a Embrapa tem sido uma parceira

fantástica para o melhoramento na condição da área da rizicultura no Estado em todos

os aspectos. No que tange a interação com a universidade, a empresária salienta:

Eu gostaria muito de neste momento esta colocando a universidade

federal ao lado da Embrapa, mais infelizmente a universidade federal

nunca fez nenhum trabalho voltado a área da rizicultura,

melhoramentos, e é isso que a gente precisa, variedade de sementes

que melhor se adaptam, ou ainda pesquisas voltadas para pragas,

bruzones e outras situações emblemáticas que envolvem a produção

no campo na área da rizicultura.

No que se refere a importância da interação entre os atores, Azeredo et al (2010)

destaca que esta é a chave para melhorar as condições para inovação nos diversos

setores. É na interação entre as empresas, o governo e as universidades que se situa a

dinâmica da inovação. Neste sentido, é na abordagem da Hélice Tríplice, conforme

sugerem Faccin, Weiler e Bonilha (2012) que as transformações internas são geradas,

iniciando pela interação entre os atores em cada hélice. Tal interação segundos os atores

pode influenciar as ações de outras instituições, bem como da sociedade como um todo.

Para o professor e pesquisador da Embrapa Dr. Antônio Carlos Cordeiro a

universidade Federal de Roraima tem uma pequena contribuição em termos de pesquisa

por meio dos trabalhos de pós-graduação em agronomia (mestrado). Ainda segundo ele,

quase que 100% dos resultados de pesquisas na área são realizadas pela Embrapa.

Em relação a interação entre os atores, o que se observa, é que a relação entre a

universidade e os produtores e beneficiadores de arroz irrigado do estado ainda é

incipiente. Por outro lado, a relação destes com o governo, principalmente, o governo

federal por meio da Embrapa, SENAI e SEBRAE é mais intensa. A Embrapa por meio

das diversas pesquisas realizadas tem contribuído segundo o entrevistado de forma

significativa para a qualidade do arroz produzido na região.

Em relação à interação entre os empresários do setor e o governo do Estado,

segundo a presidente da associação dos arrozeiros está é quase inexistente, isso porque,

não existe interesse do governo em contribuir para a solução de problemas relacionados

a atividade, uma vez que até estradas para o escoamento da produção os produtores já

construíram no estado, responsabilidade esta, segundo a empresário do governo.

Ao contrario do que enfatiza a empresária, o pesquisador Cordeiro destaca que

existe interação dos empresários com o governo. Essa, segundo ele, ocorre por meio da

construção de estradas para o escoamento da produção de arroz. Neste sentido, ele cita a

famosa estrada do arroz no município de Normandia, que foi construída especialmente

para atender as necessidades dos produtores de arroz.

Para o pesquisador, os produtores e empresários do setor, são beneficiados

também por meio da lei estadual 215 (lei de isenção fiscal) que atende o agronegócio

como um todo. Tal lei isenta os produtores e beneficiadores de tributos, como ICMS e

IPVA na aquisição de máquinas agrícolas e veículos do tipo camionete. Considerando a

importância da atividade do arroz irrigado para o desenvolvimento do estado, acredita-

se que uma maior interação entre os atores traria benefícios para as instituições

envolvidas, incluindo a sociedade e, por extensão, para a região como um todo.

Considerações Finais

O presente trabalho teve como objetivo analisar as técnicas e tecnologias

utilizadas para o cultivo do arroz irrigado em Roraima identificando os fatores que o

tornaram um produto nacionalmente aceito.

Para a coleta dos dados fez-se contato com cinco agroindústria do estado, destas,

somente duas respondeu as ligações, uma foi a empresa Itikwae a outra a empresa

Faccio. Apesar de responder nossas ligações e solicitar o roteiro de entrevista, a

administração da empresa Faccio não atendeu a pesquisadora durante o período de

coleta, remarcando por varias vezes o dia para a entrevista. As demais empresas do setor

não responderam as ligações.

Das cinco agroindústrias do estado apenas a empresa arroz Itikwa nos recebeu.

Pelos dados obtidos constatou-se que o estado de Roraima já teve a segunda maior

produtividade média do país, hoje, porém, ocupa a terceira posição nesse quesito.

O arroz produzido em Roraima já atendeu mercados como o do Pará e o de

Letícia na Colômbia, mas, após a problemática da homologação de terras indígenas de

forma contínua, a área de plantio reduziu 24.000/ha para 11.500/ha, atendendo

atualmente somente o estado do Amazonas considerado hoje o maior e mais importante

consumidor do arroz irrigado produzido no estado de Roraima.

Nota-se que desde o início da produção de arroz irrigado no estado na década de

80 a atividade vem sofrendo oscilações tanto no que se refere a área plantada por

hectare como pela quantidade produzida. Sendo os anos de 2006 a 2008 os que

apresentamos melhores índices.

Foi possível verificar que os empresários interagem mais frequentemente com o

governo federal por meio da Embrapa que realiza pesquisas voltadas, principalmente,

para a resistência de sementes, SENAI por meio da profissionalização de trabalhadores

que buscam contribui com soluções de problemas técnicos principalmente no chão de

fabrica e do SEBRAE por meio de orientação empresarial.

Em relação à questão da sustentabilidade da atividade esta estar alicerçada em

questões como gestão ambiental por meio do uso adequado do solo, menor utilização de

produtos químicos no plantio, reaproveitamento da água, bombeamento da água dos rios

para as lavouras, uso de aviação agrícola, reaproveitamento da palha do arroz na

indústria, uso consciente de energia na indústria.

Em relação a contribuição da atividade no desenvolvimento econômico e social

da região, nota-se que o agronegócio do arroz irrigado de Roraima gera no estado

aproximadamente 8.000 mil empregos diretos e indiretos movimentando a economia

regional e melhorando a qualidade de vida de muitas famílias da região. Outro ponto

importante são as ações sociais desenvolvidas por alguns empresários do setor como a

doação de arroz para creches, mesa Brasil e outras instituições.

A produção de arroz irrigado em Roraima é uma potencialidade da região e que

pode proporcionar ao estado resultados econômicos significativos, influenciando

diretamente na qualidade de vida das pessoas (BUARQUE, 2006).

No que tange a interação dos empresários com as universidades Federal e

Estadual, as mais importantes do estado, nota-se que essa interação ainda é incipiente.

As únicas pesquisas realizadas são feitas por alunos de pós-graduação em nível de

mestrado (agronomia) da universidade Federal com contribuição ainda muito pequena.

Em relação à universidade Estadual, esta não foi citada em nenhum documento

oficial que trata da questão do arroz irrigado do estado e também não foi citada por

nenhum dos entrevistados, concluindo-se que está não mantém nenhum tipo de

interação com esses empresários. Em relação a interação com o governo estadual,

percebe-se que, do ponto de vista empresarial essa interação não existe, porém, segundo

a Embrapa esta ocorre principalmente por meio de incentivos fiscais para o setor.

Vale salientar que a abordagem da tríplice hélice conforme Azeredo et al (2010)

sugere que a interação entre os atores é a chave para melhorar as condições para

inovação numa sociedade baseada no conhecimento. Para os atores as empresa

participam da hélice tripla por meio do lócus de produção, neste caso a produção do

arroz irrigado no estado, já o governo atua na fonte de relações contratuais que

garantem interações estáveis, além de questões estruturais como construção de estradas,

benefícios fiscais e outros. A universidade por sua vez atua como fonte de novos

conhecimentos e tecnologias resultantes de pesquisas realizadas.

No que se refere ao uso de técnicas e tecnologias utilizadas tanto na produção de

arroz irrigado como no beneficiamento dessa produção, nota-se, conforme dados da

Embrapa, bem como os relatos dos entrevistados que tais técnicas e tecnologias são as

mesmas utilizadas pelas maiores regiões produtoras. O fato do estado encontra-se muito

atrás das grandes regiões produtoras não tem haver com questões relacionadas às

técnicas e tecnologias usadas e, sim, a questão de tradição e de estrutura, uma vez que,

as melhores terras para o plantio desse tipo de produto encontram-se localizadas em

áreas hoje consideradas reservas indígenas.

Outra justificativa para o atual estágio (declínio) de produção do arroz irrigado

no estado é o fato de que a realocação dos produtores em novas áreas trouxe também a

necessidade de investimento no solo, uma vez que as antigas áreas já estavam

preparadas com pesados investimentos tecnológicos. Sendo esta a maior reclamação dos

produtores segundo a associação dos arrozeiros do estado.

Segundo a Embrapa o quantitativo de terras aptas para o plantio (áreas irrigadas)

desse tipo de produto dentro de áreas indígenas é maior do que as disponíveis fora

delas. As poucas terras aptas para o plantio do arroz foras das áreas indígenas já estão

todas ocupadas, muitas vezes com atividades que não são compatíveis com a rizicultura.

Por essa razão, tem produtores que estão migrando para países vizinhos, principalmente,

Guina Inglesa, como é o caso da marca Itikwa que atualmente, devido à

indisponibilidade de áreas vem mantendo plantação de arroz irrigado naquele país.

Observa-se que, até a homologação das terras indígenas no estado, Roraima era um

potencial estado produtor, hoje, considerando as técnicas e tecnologias usadas pelos

produtores ele ainda é, uma vez que mesmo com todos os entraves mantém-se como o

terceiro em produtividade média conforme a Embrapa

Como contribuição para o ambiente empresarial entende-se que os resultados

encontrados indicam a necessidade de uma maior interação entre os empresários do

setor, o governo e as universidades na tentativa de encontrarem alternativa para a

sobrevivência da atividade da rizicultura irrigada no estado. Vale salientar que o

agronegócio do arroz irrigado é uma das mais importantes cadeias produtivas

estabelecida no estado. Esta contribui significativamente no que tange o

desenvolvimento econômico e social da região.

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