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207 ARBORIZAÇÃO NOS BAIRROS MONTESCLARENCE COMO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO: O ENTORNO DO CAMPUS ICA/UFMG COMO FOCO Urban afforestation in the neighborhoods of Montes Claros as a development process: the ICA/UFMG campus environment as a focus Roger Fabier Vieira Brito¹ Deyvison Lopes de Sirqueira² Giliarde de Souza Brito³ Helder dos Anjos Augusto 4 1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Instituto de Ciências Agrárias (ICA) E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Instituto de Ciências Agrárias (ICA) E-mail: [email protected] 3 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Instituto de Ciências Agrárias (ICA) E-mail: [email protected] 4 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Instituto de Ciências Agrárias (ICA) E-mail: [email protected] RESUMO Dentre os benefícios para a população e para o ambiente destacam-se: a sensação de bem-estar, sombreamento, ambientes para atividades recreativas, a redução da temperatura, amenização da poluição sonora e do ar, melhoria da infiltração da água da chuva e até mesmo alterações no micro clima. Para a realidade da cidade de Montes Claros - MG, o PRODERA (Programa de Desenvolvimento Rural e Apoio a Reforma Agrária), acolheu demandas de moradores e asso- ciações de bairros sobre a busca por melhorias ambientais nesses locais junto à Universidade. Por meio de reuniões nos bairros mais próximos ao ICA-UFMG buscou-se levantar a situação do paisagismo e arborização urbana em quatro bairros: JK, Universitário, Planalto e Monte Sião, localizados diretamente no entorno do campus da UFMG em Montes Claros – MG. Foram feitas observações participativas, de forma aleatória das ruas escolhidas de cada bairro onde se constatou visualmente alguns parâmetros como as espécies mais comuns, densidade de arbori- zação, locais mais expostos, presenças de praças ou áreas comuns e outros. Por meio dos resul-

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ARBORIZAÇÃO NOS BAIRROS MONTESCLARENCE COMO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO: O ENTORNO DO CAMPUS

ICA/UFMG COMO FOCO

Urban afforestation in the neighborhoods of Montes Claros as a development process: the ICA/UFMG campus environment as a focus

Roger Fabier Vieira Brito¹Deyvison Lopes de Sirqueira²

Giliarde de Souza Brito³Helder dos Anjos Augusto4

1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Instituto de Ciências Agrárias (ICA)

E-mail: [email protected]

2 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Instituto de Ciências Agrárias (ICA)

E-mail: [email protected]

3 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Instituto de Ciências Agrárias (ICA)

E-mail: [email protected]

4 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Instituto de Ciências Agrárias (ICA)

E-mail: [email protected]

RESUMO

Dentre os benefícios para a população e para o ambiente destacam-se: a sensação de bem-estar, sombreamento, ambientes para atividades recreativas, a redução da temperatura, amenização da poluição sonora e do ar, melhoria da infi ltração da água da chuva e até mesmo alterações no micro clima. Para a realidade da cidade de Montes Claros - MG, o PRODERA (Programa de Desenvolvimento Rural e Apoio a Reforma Agrária), acolheu demandas de moradores e asso-ciações de bairros sobre a busca por melhorias ambientais nesses locais junto à Universidade. Por meio de reuniões nos bairros mais próximos ao ICA-UFMG buscou-se levantar a situação do paisagismo e arborização urbana em quatro bairros: JK, Universitário, Planalto e Monte Sião, localizados diretamente no entorno do campus da UFMG em Montes Claros – MG. Foram feitas observações participativas, de forma aleatória das ruas escolhidas de cada bairro onde se constatou visualmente alguns parâmetros como as espécies mais comuns, densidade de arbori-zação, locais mais expostos, presenças de praças ou áreas comuns e outros. Por meio dos resul-

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tados encontrados, o ICA-UFMG pode promover através do PRODERA, ações de divulgação dos benefícios encontrados na arborização em bairros com indicadores de maior necessidade, capacitação dos moradores, disponibilização de mudas e demais demandas.

Palavras chaves: Meio Ambiente, Árvores, Áreas Recreativas, Urbanização

INTRODUÇÃO

Com o atual crescimento desordenado das cidades, aumentam também os problemas de degradação ambiental, logo as estratégias de manejo de forma a amenizar impactos são dese-jáveis e necessárias. Considerando a importância das árvores para o meio urbano, destacam-se diversos benefícios para a população como a sensação de bem-estar, a presença de sombrea-mento, a redução da temperatura, melhor efeito visual, amenização da poluição sonora e do ar, melhoria da infi ltração da água da chuva e até mesmo preservação de fauna local (PIVETTA e SILVA FILHO, 2002).

Segundo a CEMIG (2011), as técnicas de arborização urbana têm impactos diretos no modo como a população vive e usufrui dos espaços disponíveis nas cidades. Visando uma cor-reta metodologia de introdução de um componente ou composição fl orestal nesses ambientes, diversos fatores podem interferir na escolha, implementação e manutenção. Alguns destes pon-tos são destacados por Pivetta e Silva Filho (2002), como a infl uência dos diferentes ambientes, as particularidades de cada espécie, as barreiras causadas pelos componentes de uma rua, a maneira de efetuar o plantio e a condução da planta.

Com base nos pontos levantados anteriormente pode-se perceber que a existência e o planejamento da paisagem urbana são extremamente necessários. Gerar ambientes de sociali-zação e contemplação de locais menos artifi ciais se faz necessário e se aplica como um direito da população (BONAMETTI, 2018).

Neste contexto de urbanização, o Instituto de Ciências Agrárias da UFMG (ICA-UFMG), reconhece seu compromisso para com a comunidade que a circunda, levando ao Pro-grama de Desenvolvimento Rural e Apoio a Reforma Agrária (PRODERA) a função de captar as necessidades de políticas ambientais nas comunidades circunvizinhas ao campus de Montes Claros - MG. Através do projeto de cunho participativo em relação ao meio ambiente rural e urbano, surgiram algumas demandas sobre técnicas de arborização e paisagismo urbano, hortas urbanas, cultivos comunitários, educação ambiental e demais formas de resgate do “verde” em meio ao desenvolvimento da cidade.

Para que estas ações se concretizem, é importante conhecer e avaliar a atual situação de projetos promovidos por parte da população e da gestão municipal. Uma base de dados como está se faz necessária e de extrema utilidade como forma de ponto de partida para o trabalho de professores e bolsistas em atividades futuras.

Diante disso, o objetivo do trabalho foi levantar a situação do paisagismo e arborização urbana em alguns bairros diretamente associados ao campus da UFMG em Montes Claros – MG. Alguns pontos analisados compreenderam a observação das espécies, quantidade de in-

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divíduos arbóreos presentes, identifi cação de locais de convívio social, além de erros e acertos cometidos através da escolha e execução de componentes de paisagem.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na cidade de Montes Claros – MG, localizada no norte do es-tado. A área compreendida pelo levantamento está localizada nos arredores do bairro Univer-sitário, local onde se encontra o campus da UFMG. Primeiramente selecionaram-se os bairros que compreendem o entorno do campus para realização de uma amostragem, sendo eles, JK, Universitário, Planalto e Monte Sião. Através de observações participativas, cinco vias de maior fl uxo populacional foram escolhidas, onde se efetuou o levantamento.

Os dados captados compreenderam a variedade de espécies encontradas, a quantida-de de indivíduos arbóreos, a situação destes em relação a própria integridade e também a das vias, a presença ou não de ambientes de convívio social e estratégias de paisagismo corretas e/ou equivocadas. A localização e identifi cação de componentes arbóreos consideraram os indi-víduos arbóreos ou arbustivos com altura superior a 1m, identifi cadas pelos nomes populares e científi cos de acordo com os conhecimentos de dendrologia dos pesquisadores.

Considerou-se a sanidade dos indivíduos quanto à apresentação de doenças, défi cit hídrico, injúrias e ataque de pragas. Em relação à localização, usaram-se as categorias de pre-sença de canteiros, vasos ou calçadas, levando em conta também se houveram erros e acertos quanto ao emprego desses indivíduos em vias urbanas. A presença de praças ou outros am-bientes sociais foi destacado como presente ou ausente dentro da amostragem utilizada, sendo estes enumerados e contextualizados quanto à presença de usuários e do meio no qual este espaço se localizava.

Figura 01: Mapa bairros do entorno do ICA

Fonte: googlemasp

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RESULTADOS

Foram levantados 249 indivíduos de 38 espécies diferentes nas ruas selecionadas, desses indivíduos, os mais repetitivos foram às espécies Licania Tomentosa, Schinusmolle e Bougainvillea glabra. O bairro Universitário se mostrou com maior número de indivíduos e consequentemente de espécies, 22 especifi camente, com 57,89% da diversidade encontrada no levantamento. Seguindo este padrão, o bairro Planalto deteve 16 espécies e 42% da diversidade total, seguido pelos bairros JK e Monte Sião.

Observando-se o posicionamento das plantas nas vias como ilustrado pela Figura 1 abaixo, identifi cou-se que 77,51% das árvores se encontram plantadas diretamente nas calçadas e 23,69% em canteiros construídos nos passeios.

Em relação à sanidade das plantas, 23,69% se apresentam em ótimo estado, sem injú-rias, ataque de pragas e ocorrência de doenças. Em bom estado foram 67,47% e em estado ruim contabilizaram-se 9,24%.

Em consideração a situação de plantio e condução, 83,53% estavam corretamente con-duzidas e posicionadas no seu local indicado, 16,87% estavam incorretas. Dentre estes indiví-duos, 26,19% estavam tortuosas, 21,43% estavam em contato com a fi ação elétrico-telefônica, 38,10% eram espécies não recomendadas ao uso em vias públicas (pelo tipo de fruto, arranjo de copa ou altura alcançada), 2,38% afetavam a estrutura física do passeio e 14,29% apresentaram características de défi cit hídrico (resistência e adaptação das espécies usadas no Norte de Minas com altas temperaturas e chuvas escassas).

Praças e locais de socialização foram praticamente ausentes mesmo tendo-se percorrido quatro bairros. Foi identifi cada na amostragem apenas uma praça no bairro JK, ou seja, uma pequena porcentagem de áreas para uso dos moradores. Mesmo sendo a única, a praça não apre-senta os cuidados devidos de estrutura e de condução das espécies vegetais utilizadas.

Figura 2 – Observações realizadas em campo

Fonte: Pesquisa de campo

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CONCLUSÃO

As áreas urbanas consideradas nesse estudo possuem um número de árvores relevantes presente nas calçadas, com elevado grau de boas práticas de condução. O bairro Monte Sião apresenta arborização ainda jovem e com baixo número de indivíduos e espécies, devendo-se considerar seu curto período de implantação.

O bairro Universitário possui maior diversidade e número de árvores plantadas, apesar de ser relativamente mais jovem, demonstrando melhores infl uências da universidade para com a população. Em relação a má condução dos indivíduos destaca-se que a maioria necessita de podas mais constantes e tutoramentos, prevenindo tortuosidade e contato com barreiras de ris-co.

As áreas de convívio e socialização são insufi cientes e não contam com planejamentos em nenhum dos bairros observados. Para Cabral (2013), o homem vem provocando extremas interferências no ambiente em que vive, tanto negativas como positivas. Com o surgimento dos aglomerados urbanos, esse processo tem se tornado tão intenso que agora o descontrole de algumas regiões modifi cou totalmente o meio.

Como foi relatado, mesmo havendo diversidade e empenho por parte dos moradores, não há campanhas educativas, obras de ambientes recreativos ou mesmo distribuição de mate-rial como mudas e adubos para a população.

Em muitas ruas visitadas percebeu-se descaso ou mesmo ausência total de árvores con-solidadas ou praças, tornando esses lugares visualmente desagradáveis, quentes, e muito expos-tos a intempéries naturais. Em seu trabalho, Rodrigues (2010) ressalta que além da implantação de indivíduos arbóreos, existe uma necessidade clara de manutenção e cuidados com esses componentes, pois são extremamente agradáveis quando bem manejados e podem por outro lado ser um risco quando abandonados e expostos a fatores climáticos ou mesmo do cotidiano humano.

A partir dessa visão, o ICA-UFMG pode promover através do PRODERA, ações de divulgação dos benefícios encontrados na arborização e paisagismo nos bairros de piores resul-tados encontrados, além de fornecer capacitações dos moradores para cuidados com as árvores em suas calçadas, incentivar o plantio do verde, estreitar os laços com o campus Universitário e até mesmo mostrar que muitos destes pontos são direitos dos moradores e que eles podem exigir estas estruturas em seus bairros.

Como ressalta Tiriba (2005), a falta de convívio com o “verde” tem trazido para áreas como essas um maior distanciamento pelas causas ecológicas, causando dessa forma um des-prendimento para com a natureza e preservação de recursos em adultos e crianças.

AGRADECIMENTOS

Fica expresso nossa gratidão a toda equipe do PRODERA, pela manutenção do projeto, parceria e empenho na realização deste trabalho.

Agradecemos também aos envolvidos nos dias de campo, identifi cação de espécies e

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demais contribuições.Aos moradores empenhados na melhoria das suas comunidades e da qualidade de vida

a qual tem direito.

REFERÊNCIAS

BONAMETTI, João Henrique. Arborização Urbana. In: Terra e Cultura, ano XIX, nº36, 2000. Disponível em: www.unifi l.br/docs/revista.../terra%20e%20cultura_36- 6.pdf. Acesso em: 15 de julho de 2018.

CABRAL, Pedro Ivo Decurcio. Arborização Urbana: Problemas e Benefícios. In: Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dez/2013.

CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais. Manual de arborização. Belo Horizonte: Cemig/Fundação Biodiversitas, 2011. 112 p.

PIVETTA, K.F.L.; SILVA FILHO, D.F. Arborização Urbana. Boletim Acadêmico. Serie Arbo-rização Urbana. UNESP/FCAV/FUNEP. Jaboticabal, 2002. 74 p.

RODRIGUES, Tânia Donizetti. Et all. Concepções sobre arborização urbana de moradores em três áreas de Pires do Rio – GO. REA – Revista de Estudos Ambientais (online). V. 12, nº 2, p. 47-67, jul./dez./ 2010.

TIRIBA, Lea. Crianças, natureza e educação infantil. Tese (Doutorado em Educação) – PUC, Rio de Janeiro, 2005.