araujo;alvarenga - portfolio - conceitos basicos e indicacoes para utilizacao

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  • Estudos em Avaliao Educacional, v. 17, n. 33, jan./abr. 2006 137

    Professora do Departamento de Educao da Universidade Estadual de Londrina.

    Coordenadora do Ncleo de Estudos e Pesquisas em Avaliao [email protected]

    Bolsista do Ncleo de Estudos e Pesquisas em Avaliao Educacional. Aluna do

    Programa de Mestrado em Educao da Universidade Estadual de [email protected]

    ResumoPortflios de ensino tm sido apontados como ferramentas de avaliao de grande valorformativo e reflexivo nos diversos graus de ensino. Neste artigo, apresentamos um brevereferencial terico, selecionado da vasta literatura disponvel, cujo objetivo identificar aimportncia do seu uso como amostra de evidncias das habilidades, atitudes e/ouconhecimentos e aquisies obtidas pelo estudante durante um espao de tempo.Palavras-chave: avaliao formativa, portflio, ensino e aprendizagem.

    ResumenPortflios de enseanza han sido sealados como herramientas de evaluacin de gran valorformativo y reflexivo en los grados diversos de la enseanza. En este artculo, presentamosun breve informe referencial terico, elegido entre la vasta literatura a disposicin, cuyoobjetivo es identificar la importancia de su uso como muestra de seales de capacidades,actitudes, conocimientos y adquisiciones conseguidas por el estudiante durante un espaciode tiempo.Palabras-clave: evaluacin formativa, portflio, enseanza e apredizaje.

    AbstractTeaching portfolios have been pointed out as highly valuable educational and reflectiveevaluation tools at various teaching levels. This article presents a brief selection oftheoretical references from the large literature available. Its aim is to identify the relevanceof using it as a sample of abilities, attitudes, and/or knowledge and acquisitions achievedby students during a certain period of time.Key words: formative evaluation, portfolio, teaching and learning.

    * A pesquisa contou com o apoio financeiro da Fundao Ford e teve a colaborao dasalunas-bolsistas Dbora Alves Batista e Almira Conelhero Alves Souza.

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    Ao fazer uma busca no referencial j construdo sobre o tema,percebemos que os educadores no propem uma definio geral, nem ummtodo determinista para o uso do portflio, embora concordem que eleseja uma tima ferramenta alternativa para avaliao.

    Em geral, portflios tm sido descritos como uma coletnea dasevidncias que documentam o desenvolvimento, as competncias e ashabilidades do indivduo (Waterman, 1991). O valor de um portflio estcaracterizado no seu desenvolvimento (Ryan, Kuhs, 1993), especialmenteporque o processo envolve a auto-reflexo do aluno, induzindo-o auto-avaliao e oferecendo a oportunidade para sedimentar e ampliar suasaprendizagens.

    Crockett (1998), grande defensor da ferramenta, ressalta queportflios podem ser usados como alternativa para o professor avaliar osseus estudantes, bem como para conduzi-los a uma auto-reflexo eposterior auto-avaliao. O autor conceitua portflio como uma amostra deexemplos, documentos, gravaes ou produes que evidenciamhabilidades, atitudes e/ou conhecimentos e aquisies obtidas peloestudante durante um espao de tempo.

    Harp e Huinsker (1997, p.224), com idia semelhante, caracterizamportflio como uma coletnea de trabalhos, que demonstram ocrescimento, as crenas, as atitudes e o processo de aprendizagem de umaluno. Sendo assim, um portflio deve incluir, entre outros itens, planos ereflexes sobre os temas importantes tratados em sala de aula, estudos decaso pertinentes aos contedos em evidncia, relatrios, snteses dediscusses, produes escritas ou gravadas, que devem ser a base para aavaliao contnua e evolutiva do progresso dos alunos em relao aoaprendizado.

    Na mesma direo, Gelfer e Perkins (1998, p.44) afirmam queportflios

    so mais que simples arquivos ou uma coleo de performances dos alunos. Umportflio pode ser considerado como um arquivo em expanso dos trabalhos doestudante. Pode ser estruturado de acordo com a rea de interesse, conhecimento,habilidades, temas e progressos dirios.

    As informaes que o compem podem e devem representar osesforos do indivduo numa rea de estudo determinada e demonstrar suaintegrao e aplicao no desenvolvimento dos trabalhos.

    Kish e outros (1997, p.255) so particularmente enfticos ao destacarportflio como ferramenta de avaliao que convida o aluno a contar a

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    histria de seu trabalho e a se tornar mais reflexivo sobre suas prticas.Para eles,

    atravs da voz do aluno que h a troca de experincia em sala de aula e que sedeterminam as necessidades instrucionais relevantes. o portflio que fornece aperformance do aluno baseada em muitas provas coletadas em cenrios reais. oportflio que nutre o pensamento reflexivo.

    Os autores so pungentes ao afirmar que

    a reflexo reduz a tendncia do aluno a ser impulsivo e melhora a capacidade desolucionar problemas. O pensamento reflexivo ajuda o aluno a analisar e debater oassunto, bem como melhora a comunicao. Alm disso promove a autoconscientizao, forando o indivduo a questionar-se. (Kish et al., 1997, p.255)

    Percebe-se que uma das maiores vantagens oferecidas pelo uso doportflio, e sem a qual ele no faria sentido, o desenvolvimento dopensamento reflexivo. Como bem lembra Rosen (1998), o objetivo daeducao ensinar o aluno a pensar, o que implica conduzir um assuntoalm da mera aquisio, dando-lhe tratamento cuidadoso e conseqentepara o desenvolvimento de competncias e habilidades adrede definidas. Anfase dada ao elemento reflexivo tem sido destacada tambm por outrosautores como Anson (1994), Arter (1992) e Bushman (1993).

    Importa destacar que o portflio demonstra a performance doestudante num determinado momento, tendo como base documentoscoletados em cenrios reais, selecionados e justificados quanto aosconhecimentos previstos, exigindo que o professor crie situaes para que oaluno reflita sobre o que est explorando, para elabor-lo adequadamente.

    Eichinger e Krockover (1998, p.913), alm de destacar portflioscomo coleo selecionada de documentos e outros materiais quedemonstrem as atividades escolares, os objetivos e o impacto produzidopor esse rol de propostas, evidenciam que as declaraes reflexivas so ocorao do portflio.

    Kish e outros (1997, p.257) tratam tambm de aspectos de reflexoque podem ser melhorados pelo uso do portflio, ao mesmo tempo em queexplicitam cada um deles.

    O primeiro a ser lembrado o elemento cognitivo de reflexo ligado capacidade de sntese de informaes, a partir da anlise e avaliao.Afirmam a importncia de se estruturar situaes que permitam aosestudantes refletir a respeito de seus pensamentos para entender o motivodo aprendizado ou do no-aprendizado. Alm disso, identificar quaishabilidades j foram adquiridas para seguir em frente, primordial.

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    Segundo os autores, esse auto-diagnstico uma das mais importantespossibilidades que o portflio apresenta. Muitos instrumentos se prestam aisso, como relatam Herbert (1992), Camp e Levine (1991) e Kish et al. (1997),a respeito do programa Propel de Pittsburgh.

    O segundo aspecto destaca o elemento socioemocional de reflexo,situa a melhoria da auto-estima, do autoconceito positivo, daautoconfiana, medida que os estudantes percebem os prpriosprogressos. Fraisier e Paulson (1992) relatam que mesmo estudantes queapresentam dificuldades em relao a determinados contedos comeam aescrever melhor e mostram desejo de compartilhar seus trabalhosdocumentados no portflio com os colegas, pois isso evidencia seu sucessoe no seus fracassos

    Kish e outros (1997) destacam que o elemento moral de reflexopode facilitar o questionamento tico que guia as aes das pessoas. Aoincentivar a reflexo moral pode-se disparar o subseqentedesenvolvimento da estrutura pessoal de crenas de cada um. Atravs doscontedos lidos, escritos e/ou documentados o aluno pode comear areconhecer, a questionar e formar uma viso de mundo. Isso pode sercriticamente importante para jovens adolescentes que esto tentandoentender o mundo, o seu lugar nele e estabelecer hbitos de pensamento(Camp, Levine, 1991, p.203).

    Nunca demais enfatizar que a reflexo, como forma de pensarcriticamente a realidade, de olh-la com clareza, abrangncia eprofundidade, de absoluta importncia para o desenvolvimento do aluno.Por isso importante que se encoraje e se melhore essa habilidade.

    Sendo os portflios arquivos do aprendizado que tm como foco otrabalho dos alunos e sua reflexo sobre os mesmos, parece pertinenteafirmar que essa ferramenta pode desenvolver o pensamento crtico e ashabilidades que so a base dos processos de tomada de decises em nossasvidas.

    Algumas sugestes preciosas podem ser consideradas ao se iniciarum programa, tendo o portflio como ferramenta. Crockett (1998)considera que para atender a finalidade qual se destina necessrio que oprofessor:

    aprenda sobre portflio e perceba o que representa para osestudantes elabor-lo;

    compreenda que existem objetivos e/ou competncias a serematingidos e que podem ser modificados ao longo do caminho;

    decida os tipos de evidncias que podem ser usadas pelos alunoscomo prova ou evidncia do aprendizado;

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    prepare os materiais a serem utilizados e auxilie cominformaes e leituras adicionais para que compreendam eelaborem adequadamente as tarefas propostas. Alm disso,esclarecer quais evidncias bsicas so importantes e quaisprocessos e procedimentos so necessrios para documentar asrealizaes;

    encoraje os estudantes a refletirem sobre suas habilidades,dificuldades, interesses e experincias, estimulando acriatividade;

    seja um facilitador e saiba que construir um portflio no tarefafcil. Requer perseverana e pacincia;

    ajude o aluno a refinar suas tarefas e refletir sobre elas e aindaensine como criar portflios especiais para projetos especficos;

    auxilie os estudantes a entenderem o caminho que precisampercorrer para atingir os propsitos definidos;

    crie oportunidades para estudantes desenvolverem ecompartilharem seus portflios com colegas, amigos, pais ecomunidade por meio de atividades e informaes verbais e no-verbais.

    Uma questo que precisa ser colocada refere-se ao arquivamento dadocumentao ou armazenamento dos trabalhos, de forma que isso no setransforme num amontoado de informaes desconexas.

    essencial identificar objetivos, competncias, habilidades econtedos para o ensino e a avaliao, coletar e arquivar apenas trabalhosrelacionados proposta e que tenham real significado, como prova dedesenvolvimento das competncias ento requeridas.

    Para isso, preciso lembrar que existem tipos especficos deportflios; portanto, trabalhos especficos a serem destacados, analisados earquivados. A deciso sobre o que documentar e para que documentar,com certeza, influencia a coleta de trabalhos que comporo a amostra doportflio. A escolha de um ou mais de um tipo arbtrio do professor.

    Danielson e Abruptin (1997) caracterizam pelo menos trs tipos deportflios, considerando basicamente sua funo no processo. Os chamadosdisplay, os demonstrativos de trabalho e aqueles cujo objetivo a avaliaodo trabalho durante um determinado perodo.

    Os denominados display so utilizados para documentar asatividades executadas em sala de aula. Por exemplo, fotos sem comentriosdocumentam visualmente as atividades de aprendizagem, mas no oprogresso ou o desenvolvimento do estudante. Tornam-se importantes,valiosas, mesmo, no portflio de trabalho, quando acompanhadas de

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    comentrios do professor e/ou do aluno, e a servio de uma avaliao maisrica, diversificada, com vistas regulao da aprendizagem.

    O portflio de demonstrao de trabalho aquele que mostra osmelhores trabalhos realizados pelo estudante. Pode ser escolhido peloprofessor, pelo aluno ou por ambos, tendo como critrio a melhorperformance apresentada. Isso inclui a possibilidade de apresentar apenastrabalhos reescritos.

    No que tange ao ltimo aspecto, preciso esclarecer que, emboraoferea uma noo individualizada da performance do estudante, aavaliao que se pode fazer no muito precisa. Isso porque s se destaca omelhor do aluno, e quem no acompanhou o processo pode terexpectativas irreais sobre o desempenho. Tambm no ofereceminformaes que sirvam como guia para o cotidiano da sala de aula, neminformaes de como o estudante chegou quele desempenho.

    Gronlund (1998) lembra que uma das formas precisas de se obteruma documentao congruente e que permita um real acompanhamento a utilizao do portflio de trabalho, que demonstra o que ocorreu duranteo processo de aprendizagem de fatos, conceitos, procedimentos, atitudese/ou a sua aplicao nas tarefas propostas ou no cotidiano.

    Em alguns casos, coletam-se inclusive os rascunhos, corrigidos peloprofessor ou pelo professor juntamente com o aluno, que so colocadospara anlise junto ao trabalho refeito. A anlise d a dimenso do esforoinicial, da aplicao do conhecimento e das habilidades desenvolvidas noprocesso de crescimento.

    Esse tipo de portflio permite, tanto ao estudante como aoprofessor, uma viso clara do progresso, alm de auxiliar na determinaode novos patamares a serem alcanados.

    Resta lembrar que avaliar cuidadosamente os trabalhos,relacionando-os com os objetivos pretendidos e com os progressos, tornaesse tipo de portflio uma verdadeira jia, ferramenta de ouro para aavaliao.

    Carney, Cobia e Shannon (1996) chamam a ateno para apreocupao constante com o acompanhamento do aluno por meio doportflio. Salientam a necessidade do estabelecimento de critrios para omonitoramento contnuo. Recomendaes desses autores incluemindicadores para a auto-avaliao, para anlise de reflexes, parademonstrao de habilidades, para aplicao do conhecimento. Critriosso elementos importantes e devem compor qualquer proposta avaliativapara ser considerada sria. Os autores sugerem que a avaliao sejaefetivada em dois momentos: durante o processo de ensino eaprendizagem, no contexto de sala de aula e ao final do processo,

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    analisando-se o crescimento e o desenvolvimento demonstrados pelosalunos e retratados nos documentos arquivados no portflio.

    No processo de avaliao do portflio, importante que o estudantetenha informaes sobre como ser processada. Os autores, em geral,sugerem negociao sobre os nveis de competncia necessrios ao final decada episdio de aprendizagem; sobre os processos de seleo, elaborao eorganizao dos materiais que comporo cada parte do processo; sobrequem ter acesso aos materiais e ao portflio, entre outros. Auto-reflexo,demonstrao de habilidades e competncias, aplicao do conhecimentotambm so elementos importantes que devem ser levados em conta desdeo incio do processo.

    Alguns indicadores gerais podem ser usados para monitoramento(Crockett, 1998), embora outros do arbtrio do professor sejam tambmvlidos. Por exemplo, quanto:

    organizao; documentao e demonstrao do conhecimento do aluno

    sobre o contedo desenvolvido; presena de reflexes sobre os temas; a evidncias que demonstrem como o progresso aconteceu; demonstrao do conhecimento obtido e a aplicao do mesmo; a reflexes do aluno com os indcios ou indicadores do progresso

    em aprendizagens factuais, conceituais, atitudinais eprocedimentais.

    Meisels e outros (apud Gronlund, 1998) sugerem um sistema paracoleta de informaes baseado na performance e desenvolvido naUniversidade de Michigan. Recomendam considerar os objetivoscurriculares em vrias reas de contedo e domnio, sugerem escolher duasreas por domnio e coletar materiais trs vezes ao ano para, ento, analisarcomo foi o progresso em relao quelas reas de aprendizagem. Chamamessas amostras de itens centrais e as consideram como a principaldocumentao para avaliao. Nada impede que se colete materialmensalmente para saber se foram atingidos alguns objetivos, eposteriormente decidir por aqueles que realmente documentem oprogresso do aluno.

    Gronlund (1998) afirma, oportunamente, que o pr-planejamento,com base nos objetivos curriculares em uma determinada rea ou em reasafins, que torna o processo de coleta de documentao realmenteinformativo para a avaliao.

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    O autor cita quatro passos importantes para que o processo deelaborao do portflio realmente seja eficaz. O primeiro deles antecede oincio das atividades desenvolvidas pelos alunos, enquanto os outrospodem ter a participao dos estudantes. So eles:

    determinar os objetivos, as competncias e habilidades a seremdesenvolvidas e avaliadas;

    coletar os trabalhos com inteno e propsito; determinar como os trabalhos sero organizados e onde sero

    arquivados; selecionar e avaliar os trabalhos.

    A literatura e a experincia nos fazem destacar que o portflio uminstrumento de aprendizagem, tanto para o estudante como para oprofessor. Avaliar por meio de portflios demanda tempo, pacincia eprtica. Decises sobre que trabalhos so informativos ou que objetivos somais importantes para documentar requerem uma certa aprendizagem porparte do professor e do aluno.

    comum entre os autores j citados, especialmente Gronlund(1998), enfatizar que os comentrios do professor e do aluno junto samostras so importantes para explicar e analisar contextos, demonstrarcomo determinados trabalhos foram desenvolvidos e o que ocorreudurante a execuo. H uma certa insistncia na idia de que o objetivo demonstrar a extenso da compreenso do estudante a respeito docontedo includo.

    Definido o que um portflio, suas caractersticas, vantagens eetapas para construo, resta ainda saber como orientar o aluno para fazera sua apresentao. Embora no exista um padro, algumas pistas podemser auxiliares importantes para tornar o percurso mais fcil e proveitoso.

    A maioria dos autores estudados oferece sugestes comuns aoindicar o formato para a exibio. Destacam a importncia de um sumriobem elaborado que oriente, tanto o aluno como o leitor (professores,colegas, pais), para o contedo do portflio, bem como para a localizaode determinadas tarefas e/ou produtos. Crockett (1998) sugere aintroduo de uma carta ao leitor logo no incio, aps o sumrio, queinforme sobre o caminho ou a metodologia que o elaborador do portflioutilizou para evidenciar as competncias e habilidades adquiridas. Almdisso, explicitar o formato escolhido para apresentao das atividadesdocumentadas e como elas ilustram o seu desenvolvimento.

    Em portflios de alunos do curso superior, interessante a inclusode uma apresentao inicial, que demonstre o contedo, os objetivos, as

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    tarefas e as atividades que o compem, para que os colegas e professorestenham uma viso geral do trabalho. Alm disso, uma apresentao oral,semelhante s defesas de dissertao ou tese, valoriza, e muito, tanto otrabalho em si como o resultado em termos de aprendizagem obtida peloaluno, no perodo. Outro detalhe importante refere-se ao estmulo e ajudaproporcionada ao aluno para que ele mesmo desenvolva um critrio paraavaliar e organizar seu prprio portflio. Em ltima instncia, o teor dapasta que representa o crescimento e a aquisio do aluno. A pode estar osegredo da consecuo positiva de uma avaliao formativa.

    No tocante a isso, Crockett (1998) lembra algumas categorias paraarquivo dos trabalhos. A primeira diz respeito aos trabalhos realizados peloaluno, mas escolhidos e classificados pelo professor. Embora haja certapolmica sobre a escolha pelo professor, considera-se que no umaalternativa invlida, j que o aluno pode retir-lo a qualquer momento dasua pasta, especialmente para fazer correes e apresentar a nova verso.

    Outra categoria relaciona-se s amostras processadas, ou seja,analisadas pelo prprio aluno e j reformuladas. Segundo o autor, essaforma interessante, pois auxilia o desenvolvimento de um senso decontinuidade de projeto a projeto e a habilidade de auto-anlise. Alm doque, d poder aos alunos de se tornarem parceiros no processo deavaliao, evitando que assumam o papel de receptores passivos ou queapenas reformulem trabalhos a partir das indicaes do professor. Oprocessamento em si no deve necessariamente receber uma nota, maspode ser apropriado encorajar o aluno por meio do uso de bnus oupenalidade.

    Alm dessas, outra a ser ressaltada diz respeito aos trabalhos queforam revisados ou reescritos, em razo [...] das mudanas recomendadaspelo professor e pelos prprios alunos durante a fase de processamento(Crockett, 1998, p.63).

    Sesses de discusso sobre a documentao arquivada, entre osalunos e entre professor e alunos, ao serem institudas, fazem com que osestudantes tenham oportunidade de expressar sua compreenso a respeitode contedos, competncias e habilidades. Tambm permitem que oprofessor possa dar ateno s reas em que o estudante apresentedefasagens, propondo outras alternativas que favoream as aprendizagenspretendidas.

    Essas sesses tambm so importantes para a determinao denovos objetivos. As reunies so poderosos auxiliares para identificar reasque necessitam de melhoria, sugerir formas para o desenvolvimento,documentar o crescimento, o desenvolvimento individual, demostrar opotencial de trabalho do estudante e at mesmo para auxiliar o prprio

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    estudante a determinar um plano de ao para construir novas habilidadese competncias (Gelfer, Perkins, 1998, p.47).

    de bom senso considerar que desenvolver um portflio demandatempo e um processo trabalhoso, tanto para o aluno como para oprofessor. Isso porque preciso que no s a coleta, que caracteriza aamostra de trabalhos, como a sua organizao sejam reais indicadores dasaprendizagens obtidas, para que a avaliao seja justa, embora rigorosa. Atarefa de acompanhar e oferecer feedback onerosa em termos de cuidado,especialmente no que diz respeito definio dos critrios que permitirouma acompanhamento quase que individualizado. Apesar da elaboraodemorada e trabalhosa, os benefcios de seu uso superam essa limitao.

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    Recebido em: junho de 2005

    Aprovado para publicao em: setembro de 2005

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