aptidão de uso do solo em uma propriedade rural de santa

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Relatório de Estágio APTIDÃO DE USO DO SOLO EM UMA PROPRIEDADE RURAL DE SANTA MARGARIDA DO SUL, RS Acadêmica Franquiéle Bonilha da Silva CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL São Gabriel RS, Brasil Dezembro, 2011

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Relatório de Estágio

APTIDÃO DE USO DO SOLO EM UMA PROPRIEDADE

RURAL DE SANTA MARGARIDA DO SUL, RS

Acadêmica

Franquiéle Bonilha da Silva

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

São Gabriel – RS, Brasil

Dezembro, 2011

FRANQUIÉLE BONILHA DA SILVA

APTIDÃO DE USO DO SOLO EM UMA PROPRIEDADE RURAL DE

SANTA MARGARIDA DO SUL, RS

São Gabriel

2011

Relatório de Estágio Curricular

Obrigatório como requisito parcial

para obtenção do grau de Engenheiro

Florestal.

Orientador: Frederico Costa Beber

Vieira

FRANQUIÉLE BONILHA DA SILVA

APTIDÃO DE USO DO SOLO EM UMA PROPRIEDADE RURAL DE

SANTA MARGARIDA DO SUL, RS

Relatório de estágio defendido e aprovado em: 19 de dezembro de 2011.

Banca examinadora:

________________________

Prof. Dr. Frederico Costa Beber Vieira

Orientador

Engenharia Florestal – UNIPAMPA

______________________

Prof. Dr. Igor Poletto

Engenharia Florestal – UNIPAMPA

______________________

Prof. Dr. Ítalo Filippi Teixeira

Engenharia Florestal - UNIPAMPA

Relatório de Estágio Curricular

Obrigatório como requisito parcial para

obtenção do grau de Engenheiro

Florestal.

AGRADECIMENTOS

Os meus mais sinceros agradecimentos:

Primeiramente a Deus, pela minha existência.

À minha mãe, por ser a minha base e meu exemplo de vida.

À Prefeitura de Santa Margarida do Sul, em especial ao Eng. Agrônomo Paulo

Fassina, por me proporcionar essa oportunidade.

Aos colegas, Leonardo Severo da Costa, pelas coletas de amostras de solo, Cássio

Strassburger de Oliveira, pela ajuda nas análises de solo, Aline Nogueira Palmeira e Málaga

Souto Mayor pela companhia das madrugadas no laboratório.

Ao professor Dr. Frederico Costa Beber Vieira, pelo apoio e aprendizado.

Muito Obrigada!

RESUMO

Relatório de Estágio Curricular Obrigatório

Curso de Engenharia Florestal

Universidade Federal do Pampa

APTIDÃO DE USO DO SOLO EM UMA PROPRIEDADE RURAL DE SANTA

MARGARIDA DO SUL, RS

AUTORA: FRANQUIÉLE BONILHA DA SILVA

ORIENTADOR: Prof. Dr. FREDERICO COSTA BEBER VIEIRA

Local e Data de Defesa: São Gabriel, 19 de dezembro de 2011

O Brasil, pelas dimensões continentais, apresenta vários problemas ambientais, sendo a

degradação dos solos um dos principais. A classificação de terras para fins agrícolas é,

provavelmente, o mais importante fator no planejamento territorial de uma região. Essa

classificação trata da previsão do comportamento dos solos sob manejos específicos e sob

certas condições ambientais. O presente trabalho trata do relatório de atividades do estágio

realizado na Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente da Prefeitura de Santa Margarida do

Sul, no período de 03/10 a 16/12 de 2011. O objetivo principal do trabalho foi realizar um

levantamento de aptidão de uso do solo em uma topossequência representativa da área do

assentamento rural Novo Horizonte II no município, para o auxílio dos produtores rurais

quanto ao seu uso adequado sem que se exceda a capacidade de uso. A propriedade escolhida

foi a referente ao lote 26.1. A mesma foi dividida em cinco glebas, de acordo com o uso atual

do solo, histórico de uso, tipo de vegetação e declividade aparente. Em cada gleba foram

observados aspectos como, área da gleba, declividade média, porcentagem de cobertura do

solo, vegetação presente e uso atual. Foram amostrados cinco pontos aleatórios em cada

gleba, em cada ponto foram analisados: profundidade efetiva do solo, textura, pH em água,

pedregosidade e rochosidade. Para avaliação da aptidão de uso agrícola das terras, foram

avaliadas características do solo e também do ambiente. A área foi dividida seguindo a

topossequência, ou seja, a gleba 1 localizou-se no ponto mais alto, e assim consecutivamente

mente até chegar na gleba 5, ponto mais baixo. Alguns pontos apresentaram a declividade

mais acentuada, o que indica risco de erosão. A maior parte da área apresentou textura

arenosa, havendo gradiente textural, sendo estas sujeitas a erosão por escorrimento

superficial. As glebas dos pontos mais altos apresentam uma melhor fertilidade o que mostra

um baixo grau de limitação, pois apresentou valores mais elevados de pH, sendo assim são

locais menos ácidos. À medida que se desce a encosta o grau de limitação de uso do solo é

maior. O solo é, em geral, profundo e sem pedregosidade e rochosidade. As glebas 1, 2 e 3,

que representam 50,5 % da área avaliada, se encontram aptas para cultivo de culturas anuais

(classes de aptidão II e III). Porém, as glebas 4 e 5, representadas pelos demais 49,5 %, que se

enquadram nas classes VI e IV, respectivamente, apresentam maiores limitações ao uso,

podendo ser utilizadas para silvicultura, pastagens e fruticultura, ressaltando-se então, o uso

sustentável do solo.

Palavras-chave: Potencial de uso do solo, capacidade de uso do solo, topossequência

ABSTRACT

Completion of Course Work

Course of Forest Engineering

Universidade Federal do Pampa, RS, Brasil

LAND USE CAPACITY OF A FARM OF SANTA MARGARIDA DO SUL, RS

AUTHOR: FRANQUIÉLE BONILHA DA SILVA

ADVISOR: Prof. Dr. FREDERICO COSTA BEBER VIEIRA

Place and Date: São Gabriel, December 19th

, 2011

The Brazil, because of continental dimensions, has several environmental problems, land

degradation is a major one. The classification of land for agricultural purposes is probably the

most important factor in planning a territorial region. This classification is the prediction of

the soils behavior under specific management systems and under certain environmental

conditions. The present work deals with the probation report held in the Department of

Agriculture and Environment of the City of St. Margarida do Sul, from 03/10/11 to 16/12/11.

The main purpose of this study was to evaluate the land use capacity of a representative

topossequence of the area from the "Assentamento Rural Novo Horizonte II" in the city, in

order to guide farmers in its appropriate use without exceeding the soil use capacity. The

chosen farm was the lot 26.1. Such site was divided into five homogeneous plots, according to

the current land use, historical use, vegetation type and apparent slope. In each plot, aspects

such as plot area, average slope, percentage of ground cover, vegetation cover and current use

were evaluated. Soil from five random points was sampled in each plot and was analyzed for

effective soil depth, texture, pH in water, stony and rocky. Soil and environment attributes

were employed for evaluating the land use capacity. The area was divided following the

landscape position, in which the plot 1 and 5 were located at the highest and the lowest point,

respectively, with intermediates along the slope. Some sites presented accentuated gradient of

slope, which indicates risk of erosion. Most of the area had a sandy texture, with textural

gradient, which are subject to erosion by surface runoff. The plots of the top sites have a

better fertility which suggests a low degree of chemical limitation, indicated by the less acidic

pH values. The degree of land use constraint increases as one descends the landscape. The soil

is generally deep and without stony and rocky. The plots 1, 2 and 3, which represent 50.5% of

the evaluated area, are suitable for cultivation of annual crops (land use classes II and III).

However, plots 4 and 5, represented by the remaining 49.5%, which fall in classes IV and VI,

respectively, have major limitations to the use and can be used for forestry, grazing and

horticulture, emphasizing then the use sustainable land.

Keywords: Potential land use, land use capability, topossequence

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mapa da localização do município de Santa Margarida do Sul, RS. Fonte:

Wikipédia (2011). ..................................................................................................................... 14

FIGURA 2 – Imagem desatualizada da área de estudo*. Fonte: Google Earth (2011) ............ 17

FIGURA 3 - Área com a divisão das glebas e pontos amostrados por gleba. Fonte: Google

Earth (2011) .............................................................................................................................. 18

FIGURA 4 - Indicações para uso das classes de capacidade de uso. Fonte: Lepsch (2002) .... 21

FIGURA 5 - Triângulo simplificado para estimação de textura do solo. Fonte: SBCS (2008)23

FIGURA 6 – Croqui representativo da área divida por classe de uso do solo. Fonte: Google

Earth (2011) .............................................................................................................................. 30

LISTA DE TABELA

TABELA 1 - Graus de limitação do solo em relação ao seu pH ..................................... 18

TABELA 2 - Parâmetros utilizados para descrever as características de

agroecossistemas arenosos na Campanha – RS................................................................. 22

TABELA 3 - Valores do teor de argila da gleba 1 em todos os pontos e profundidades

e valores de pH em todos os pontos.................................................................................. 25

TABELA 4 - Valores do teor de argila da gleba 2 em todos os pontos e profundidades

e valores de pH em todos os pontos.................................................................................. 26

TABELA 5 - Valores do teor de argila da gleba 3 em todos os pontos e profundidades

e valores de pH em todos os pontos.................................................................................. 27

TABELA 6 - Valores do teor de argila da gleba 4 em todos os pontos e profundidades

e valores de pH em todos os pontos.................................................................................. 27

TABELA 7 - Valores do teor de argila da gleba 5 em todos os pontos e profundidades

e valores de pH em todos os pontos.................................................................................. 28

TABELA 8 - Porcentagem da área apta para cada classe de aptidão agrícola................. 29

TABELA 9 - Classes de aptidão de uso, principais limitações e indicações de uso

agrícola das glebas............................................................................................................. 30

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 10

2.1 Assentamentos rurais no Brasil ....................................................................................... 10

2.2 Uso do solo em agroecossistemas ................................................................................... 10

2.3 Aptidão agrícola .............................................................................................................. 12

3 ORGANIZAÇÃO .................................................................................................................. 14

4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO ............................................................ 17

4.1 Área de estudo ................................................................................................................ 17

4.2 Amostragem do solo ....................................................................................................... 17

4.3 Determinação do pH em água ......................................................................................... 18

4.4 Determinação do teor de argila ....................................................................................... 19

4.5 Aptidão para uso agrícola ........................................................................................ 19

4.6 Critérios adotados para classificação de aptidão agrícola ............................... 22

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 25

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 25

7 AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO .............................................................................................. 31

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 33

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, pelas dimensões continentais, apresenta vários problemas ambientais, sendo

a degradação dos solos um dos principais. A classificação de terras para fins agrícolas é,

provavelmente, o mais importante fator no planejamento territorial de uma região. Essa

classificação trata da previsão do comportamento dos solos sob manejos específicos e sob

certas condições ambientais (STELLE, 1967 apud GARCIA et al., 2005).

No Brasil, a produtividade em assentamentos rurais é normalmente abaixo da média

nacional, uma vez que dispõe de escassa assistência técnica, baixo nível tecnológico e, muitas

vezes, condições edáficas adversas (ARAÚJO, 2000).

Sob a ótica agroecológica, a avaliação da aptidão agrícola reveste-se de grande

importância, pois sabe-se que historicamente a ocupação agrícola das terras tem ocasionado

problemas ambientais, ocasionados não só pelo mau uso de áreas frágeis, mas também do uso

do solo acima de sua capacidade produtiva. Sabe-se que em muitos casos, o uso de uma área

não é conduzido de forma compatível com sua real aptidão agrícola, resultando na degradação

de agroecossistemas, trazendo junto a perda de competitividade do setor agrícola e

deterioração da qualidade de vida (CURI et al., 1992 apud PEREIRA et al., 2006).

Na formação do solo, a partir de diferentes materiais de origem e em várias condições

climáticas, ocorrem diversos processos químicos, físicos e biológicos. As combinações de

alguns desses processos sob inúmeras influências ambientais dão origem a solos com

características químicas e físicas distintas, oferecendo diferentes condições para o

desenvolvimento das plantas (BISSANI et al., 2008).

O presente trabalho trata do relatório de atividades do estágio realizado na Secretaria

de Agricultura e Meio Ambiente da Prefeitura de Santa Margarida do Sul, no período de

03/10 a 16/12 de 2011. O objetivo principal do trabalho foi realizar um levantamento de

aptidão de uso do solo em uma topossequência representativa da área do assentamento rural

no Novo Horizonte II no município, para o auxílio dos produtores rurais quanto ao seu uso

adequado sem que se exceda a capacidade de uso.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Assentamentos rurais no Brasil

Os assentamentos rurais no Brasil passaram a existir oficialmente a partir da década de

1980 e foram criados para responder às pressões localizadas, como forma de mitigar conflitos

relacionados à posse da terra. Devido à falta de um planejamento para implantação e de

mecanismos de apoio, muitos desses assentamentos enfrentam situações bastante adversas no

que se refere à estabilidade das parcelas, com evidentes reflexos sobre as condições de

produção e comercialização, formas de organização e preservação dos recursos naturais

(SILVA et al., 2010).

A problemática da ocupação da terra em assentamentos rurais e as precárias condições

da agricultura familiar nessas áreas têm sido tema de pesquisas, que propõem novos métodos

de planejamento, implantação e manutenção desses assentamentos. Essas pesquisas mostram

as diversidades ambientais e socioeconômicas das áreas, chamando a atenção dos órgãos

competentes para uma revisão dos conceitos e técnicas utilizados até o momento para

avaliação de terras visando à desapropriação e ao assentamento de famílias pelo Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) (SILVA et al., 2010).

O INCRA, sociedade civil e órgãos ambientais têm pressionado a incorporação à

perspectiva de sustentabilidade no processo de constituição de assentamentos; o que tem

ocorrido através da incorporação do Licenciamento Ambiental como condição para o seu

funcionamento. A cobrança em relação ao cumprimento da legislação ambiental proporciona

um desafio aos pequenos agricultores; pois as terras desapropriadas se encontram, no geral,

muito degradadas ambientalmente. Porém, em contrapartida, torna necessária a existência de

um programa de assistência técnica que, ainda que incipiente, tem incluído as famílias

assentadas nos processos de decisões durante a organização socioespacial dos assentamentos

rurais (FREITAS, 2005).

2.2 Uso do solo em agroecossistemas

Agroecossistema é um ecossistema com presença de pelo menos uma população

agrícola. Portanto, pode ser entendido como uma unidade de trabalho no caso de sistemas

11

agrícolas, diferindo fundamentalmente dos ecossistemas naturais por ser regulado pela

intervenção humana na busca de um determinado propósito. Os agroecossistemas possuem

quatro propriedades (produtividade, estabilidade, sustentabilidade e equidade) que avaliam se

os objetivos do sistema – aumentar o bem-estar econômico e os valores sociais dos produtores

– estão sendo atingidos (HART, 1980).

Áreas frágeis ou agroecossistemas frágeis são particularmente sensíveis aos impactos

ambientais negativos, e se caracterizam por uma baixa capacidade de recuperação. Já os

agroecossistemas estáveis, possuem a habilidade para resistir à mudança, ou para manter as

condições de estado estável, quando submetido a uma perturbação, e apresentam-se com

elevada resiliência (ART, 2001 apud PEREIRA, 2002).

Os ecossistemas serão tão mais frágeis quanto menor a capacidade de manter ou

recuperar a situação de equilíbrio, quer seja espacialmente ou no tempo, assim como serão tão

mais estáveis quanto mais rapidamente e com menor variação ele volta ao estado de equilíbrio

(ART, 2001 apud PEREIRA, 2002).

Resende et al. (1995), em estudos sobre modelo tropical de ordenamento de território e

uso da terra, considerou a declividade e a profundidade efetiva na estratificação de ambientes.

Os autores definem ambientes instáveis como àquelas áreas que estão situadas em regiões

acidentadas, inadequadas à agricultura, pastagens e reflorestamento, devendo ser preservadas

e protegidas. A sua identificação, é fundamental para o planejamento do uso das terra, em

base sustentáveis.

Considerando um dos objetivos do levantamento de solo, que é subdividir áreas

heterogênas em áreas mais homogêneas (com base nos parâmetros e critérios de

classificação), Resende et al. (1995), destacam a importância da estratificação de

agroecossistemas. Para os autores, estratificar, significa separar uma área maior em porções

mais ou menos homogêneas dentro do ambiente heterogêneo. Nesse contexto, os referidos

autores afirmam que os solos são os melhores estratificadores de ambientes, em pequenas

áreas, por isso o uso das informações dos levantamentos serem imprescindíveis.

Os mesmos autores destacam a importância das classificações, que de um modo geral

visam:

Organizar conhecimentos, contribuindo para a economia de tempo;

Salientar e entender relações entre elementos e classes;

Relembrar propriedades dos objetos classificados;

12

Aprender novas relações e princípios dentro do assunto ou tema que está sendo

classificado;

Estabelecer grupos ou subdivisões (classes) de objetos sob estudos, com

propósitos práticos aplicados para predizer comportamento; identificar os

melhores usos; estimar a produtividade; e prover objetos ou unidades para

pesquisa e para extensão, possibilitando inclusive a extrapolação de resultados

de pesquisas e/ou de observações.

Segundo Penteado (1980) apud Pereira (2002), o solo é um recurso natural bastante

vulnerável à degradação pelas atividades antrópicas. Segundo os mesmos, os trabalhos nessa

área devem incluir pesquisas básicas e também aplicadas. Os resultados deverão ser o melhor

entendimento do solo e ocasionando no seu manejo para a agricultura, enfatizando sempre o

aspecto ambiental.

2.3 Aptidão agrícola

As duas principais classificações de terras para fins agrícolas são:

Capacidade de uso das terras: é um sistema generalista, qualitativo e que leva em conta

as limitações das terras. Baseia-se nas combinações de efeito do clima, características físicas e

químicas do solo e aspectos de relevo, que limitam seu uso agrícola ou ainda os predispõem

aos riscos de degradação (LEPCH et al.,1983 apud GARCIA et al., 2005).

Aptidão agrícola das terras: sistema baseado na melhor utilização das terras. As classes

de aptidão agrícola representam um agrupamento de terras cujo conjunto de qualidades e

limitações lhe confere condições semelhantes de utilização. Essa classificação leva em conta

tanto fatores edafoclimáticos como tipos de culturas (RAMALHO FILHO et al., 1978 apud

GARCIA et al., 2005).

Ramalho Filho e Beek (1995) apud Câmara e Medeiros (1998) indicam que a aptidão

agrícola de terra é caracterizada a partir dos seguintes fatores:

Deficiência de fertilidade.

Deficiência de água.

Excesso de água ou deficiência de oxigênio.

Suscetibilidade à erosão.

Impedimentos à mecanização.

13

Larach (1990) apud Pereira (2002) ressalta que, apesar da concepção da metodologia

de aptidão agrícola tenha sido desenvolvida para interpretação de levantamentos

generalizados, ela é suficientemente elástica para permitir reajustes, o que pode ser de grande

utilidade em projetos de desenvolvimento sustentável.

A adoção de níveis de manejo, no sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras, é

considerada como um procedimento altamente válido, sobretudo em países como o Brasil,

onde, numa mesma região, existe uma grande variedade de condições técnicas e

socioeconômicas , o que gera diferentes sistemas de manejo lado a lado (RESENDE et al.,

1995).

Cline (1949) apud Pereira (2002) estabeleceram que as interpretações de levantamento

de solos devem obedecer a determinados critérios, tais como:

Definição clara dos propósitos – a classificação técnica deve ser organizada

para uma finalidade específica, o mais simples possível, de forma a atender a

finalidade prevista;

Nível de generalização mais conveniente – as informações referentes aos solos,

bem como suas interações com o ambiente, ou entre solos e práticas de

manejo, devem ser organizadas e apresentadas num nível de generalização

compatível com o objetivo pretendido; e

Seleção de critérios – eleger indicadores que realmente tenham significância

para o objetivo visado.

3 ORGANIZAÇÃO

O município de Santa Margarida do Sul está localizado na região Sudoeste do Estado

do Rio Grande do Sul, estando assentado sobre as regiões morfológicas do Escudo Sul-

riograndense e Depressão Central do Rio Grande do Sul e posiciona-se entre as coordenadas

geográficas 53° 52’ 52” a 54° 17’ 34” de longitude Oeste e 30° 10’ 43” a 30° 34’ 50” de

latitude Sul, como mostra a Figura 1.

FIGURA 1 - Mapa da localização do município de Santa Margarida do Sul, RS. Fonte: Wikipédia (2011).

15

A Prefeitura de Santa Margarida do Sul - RS, localizada no Residencial Santa

Margarida, s/nº, no Centro, CEP 97335-000 é a sede do poder executivo do município, e sua

competência é equivalente a das prefeituras municipais de todo território nacional, ou seja,

nos moldes da constituição do país. Possui a atribuição de governar o povo e administrar os

interesses públicos, cumprindo fielmente as ordenações legais.

A administração municipal executa as atividades que lhe compete através de sua

estrutura administrativa que, geralmente, é agrupada em secretarias, departamentos, seções,

dependendo de alguns fatores, como número de habitantes, extensão territorial e

complexidade dos problemas.

A Prefeitura de Santa Margarida do Sul, unidade concedente do estágio, atua em

diversas áreas do setor ambiental, com programa, projetos e trabalhos realizados junto à

comunidade, citam-se alguns destes:

- Programa "Árvore é Vida" - utiliza recursos estaduais, tendo como parceiros o

Departamento de Florestas e Áreas Protegidas da Secretaria do Meio Ambiente do Rio

Grande do Sul (DEFAP-SEMA/RS) e a Associação dos Municípios da Fronteira Oeste

(AMFRO), que consiste na distribuição de 123 mil mudas nativas para a recuperação de áreas

degradadas, Áreas de Preservação Permanente (APP´s) e Reserva Legal, programa

"Educação, conscientização ambiental e recuperação de áreas degradadas no assentamento

rural e nas comunidades em Santa Margarida do Sul";

- Projeto Prevenção de Emergências: construindo comunidades mais seguras. Promovem a

preservação/recuperação de nascentes como forma de melhorar a sustentabilidade da pequena

propriedade rural, prevenção de emergências, visando também a conscientização das pessoas

e servindo de modelo e incentivo para que outras comunidades preservem seus recursos

hídricos;

- Corredores Ecológicos - possibilitam a implantação de sistemas de corredores ecológicos,

permitindo a interligação de remanescentes de vegetação nativa com as diferentes áreas de

vegetação ciliar (ripária), permitindo o aumento da diversidade e riqueza das espécies,

aumento da variabilidade genética, estabilização de micro climas e diminuição das taxas de

extinção.

- Programa de gestão ambiental nas propriedades rurais - introduz a gestão ambiental na sua

propriedade rural, demonstrando a importância da informação e capacitação para os

profissionais da área e, também, a implantação de programas de educação ambiental

direcionada aos produtores rurais. A adoção das melhores práticas de gestão ambiental nas

propriedades rurais é fundamental para viabilizar sistemas produtivos mais sustentáveis.

16

A principal responsável pelos projetos é a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio

Ambiente, e também conta com parcerias da Associação Riograndense de Empreendimentos

de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), Companhia Manufaturada de Papéis e

Cartões (CMPC) Celulose Riograndense Ltda., Universidade Federal do Pampa

(UNIPAMPA), o Batalhão de Policiamento Ambiental, o DEFAP e órgãos ambientais de

Municípios vizinhos da Região.

4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO

4.1 Área de estudo

O estágio foi realizado junto ao Assentamento Novo Horizonte II localizado na zona

rural de Santa Margarida do Sul. A área é cultivada por famílias assentadas no local após a

realização de um projeto de reforma agrária, que resultou na desapropriação do imóvel,

emissão dos novos títulos de posse e criação efetiva do projeto de assentamento.

A propriedade escolhida foi a referente ao lote 26.1 (Figura 2). O local de 9,8 ha foi

escolhido por se tratar de uma topossequência que abrange as diferentes posições existentes

no relevo local, além de apresentar sinais de erosão em alguns de seus locais.

FIGURA 2 – Imagem desatualizada da área de estudo*. Fonte: Google Earth (2011)

* imagem referente à 2009 e não representa o uso atual.

4.2 Amostragem do solo

A propriedade foi dividida em cinco glebas, de acordo com o uso atual do solo,

histórico de uso, tipo de vegetação e declividade aparente. Em cada gleba foram observados

aspectos como, área da gleba, declividade média, porcentagem de cobertura do solo,

18

vegetação presente e uso atual. Foram amostrados, com o trado holandês, cinco pontos

aleatórios em cada gleba (Figura 3) e em cada ponto, foram analisados profundidade efetiva

do solo, textura (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm), pH em água (0-20 cm), pedregosidade e

rochosidade.

FIGURA 3 - Área com a divisão das glebas e pontos amostrados por gleba. Fonte: Google Earth (2011)

4.3 Determinação do pH em água

A determinação da acidez ativa (pH) foi determinada em água, na relação solo-água

2:1, adaptado da metodologia sugerida por Tedesco et al. (1995).

TABELA 1 - Graus de limitação do solo em relação ao seu pH

Grau de Limitação pH

Muito baixo > 5,6

Baixo 5,3 a 5,6

Médio 4,9 a 5,2

Alto 4,5 a 4,8

Muito alto < 4,5

Fonte: SBCS (2008)

19

Em um recipiente descartável (40 ml) foi adicionado 10 g de solo e 20 ml de água

agitando com um bastão de vidro. Esperou-se 30 minutos, agitou-se novamente e fez-se a

leitura do pH com o pHmetro previamente calibrado (Tabela 1).

4.4 Determinação do teor de argila

Para a determinação de argila, utilizou-se a metodologia de Tedesco et al. (1995), com

algumas adaptações. Foram pesados 50 g de solo (terra fina seca ao ar, menor que 2 mm) e

adicionado 100 mL de NaOH 1 M, logo em seguida foi agitado por 15 minutos e deixou-se

repousar por uma noite. No dia seguinte, foi agitado por mais 15 minutos e imediatamente o

sobrenadante foi transferido para a proveta de 1 L e mantido em repouso na posição vertical

por 2,5 horas onde então, determinou-se a densidade com o densímetro.

Em uma proveta de 1 L separada, foi adicionado 100 mL de NaOH 1 M e completada

com água destilada até completar 1000 mL (amostra sem solo que constitui a prova em

branco). O teor de argila (g Kg-1

solo) foi obtido a partir do seguinte cálculo: (leitura dos dois

últimos números da amostra – leitura dos dois últimos números da prova em branco) x 20.

4.5 Aptidão para uso agrícola

A capacidade de uso do solo de cada gleba, foi determinada de acordo co a metologia

proposta por Lepsch (2002), que leva em cosideração as seguintes variáveis: declividade

média, profundidade efetiva do solo, uso atual e porcentagem de cobertura do solo, bem como

dos atributos químicos e físicos de solo avaliados.

Esta classificação ajuda a organizar os conhecimentos relacionados ao uso e

conservação de terras. O termo “capacidade de uso” está relacionado ao grau de risco de

degradação dos solos e a indicação do seu melhor uso agrícola. As características do solo e do

relevo servem de base para a determinação de oito classes de capacidade de uso da terra, as

quais indicam o melhor uso da terra, bem como as práticas que devem ser implantadas para

melhor controlar as forças de erosão e, ao mesmo tempo, assegurar boas colheitas.

As unidades de uso são sucessivamente agrupadas em classes e subclasses, sendo que

estas são agrupadas em oito classes de capacidade, tradicionalmente conhecidas por

20

algarismos romanos (Figura 4) que, finalmente, compõem três subdivisões, discriminadas a

seguir.

A – Terras próprias para todos os usos, inclusive cultivos intensivos.

Classe I – Terras com limitações muito pequenas no que diz respeito à suscetibilidade à

erosão, podendo seguramente ser cultivadas. Os solos são profundos, produtivos, fáceis de

serem lavrados e quase planos. Não são suscetíveis a inundações, mas estão sujeitos à erosão

por lixiviação (movimento vertical de lavagem) e à deterioração da estrutura (como, por

exemplo, compactação). Quando usados sucessiva e intensivamente com lavouras necessitam

de práticas construtoras e/ou mantenedoras de fertilidade, tais como adubações periódicas.

Classe II – Terras com limitações moderadas de uso apresentando riscos moderados de

degradação. Podem diferir da classe I de várias maneiras: estão em áreas ligeiramente

inclinadas, sujeitas a erosão, ou com excesso de água no solo. Quando estas terras são usadas

para a agricultura intensiva, necessitam de práticas simples de conservação do solo, tais como

plantio em nível ou métodos de cultivo especiais, tais como plantio direto.

Classe III – Terras apropriadas para cultivos intensivos, mas que necessitam de práticas

complexas de conservação. Os solos desta classe, normalmente, têm declives mais

pronunciados, são suscetíveis às erosões aceleradas tendo, portanto, mais limitações edáficas

e risco maior de erosão que os enquadrados na classe II.

B – Terras impróprias para cultivos intensivos, mas aptas para pastagens e reflorestamento ou

manutenção da vegetação natural.

Classe IV – Terras com severas limitações permanentes. Lavouras intensivas (milho, soja,

etc.) devem ser implantadas apenas ocasionalmente ou em extensão limitada (por exemplo:

arroz ou feijão durante um ano alternando por quatro anos de pastagens). Os solos, em sua

maior parte, devem ser mantidos com pastagens ou cultivos permanentes mais protetores (tais

como laranjais e cafezais). Terras desta classe já possuem características desfavoráveis à

agricultura, pela forte declividade ou muitas pedras à superfície.

Classe V – Terras que devem ser mantidas com pastagens ou reflorestamento. O terreno é

quase plano, pouco sujeito à erosão, mas apresenta algumas limitações ao cultivo, com muitas

pedras à superfície ou problemas de encharcamento, o que impossibilita o uso com lavouras.

Classe VI – Terras que não devem se cultivadas com lavouras intensivas, sendo mais

adaptadas para pastagens, reflorestamento ou cultivos especiais que mais protegem os solos,

21

tais como seringais. Quando usadas para pastagens, requerem cuidados intensivos para evitar

erosão.

Classe VII – Solos sujeitos a limitações permanentes mais severas, mesmo quando usados

para pastagens ou reflorestamento. São terrenos muito inclinados, erodidos, ressecados ou

pantanosos, considerados como de baixa qualidade e devem ser usados com muito cuidado.

Reflorestamento, quando a vegetação natural já foi removida, é o uso mais indicado nas

regiões de clima mais úmido, e pastagens, no caso de solos situados em climas mais secos.

C – Terras impróprias para cultivo, recomendadas (pelas condições físicas) para proteção da

flora, fauna ou ecoturismo.

Classe VIII – Terras nas quais não é aconselhável qualquer tipo de lavoura, pastagem ou

florestas comerciais. Devem ser obrigatoriamente reservadas para proteção da flora e fauna

silvestre ou recreação controlada. São áreas muito áridas, declivosas, arenosas, pantanosas ou

severamente erodidas. São, por exemplo, encostas com muitos afloramentos rochosos,

terrenos íngremes montanhosos, dunas arenosas costeiras e mangues.

FIGURA 4 - Indicações para uso das classes de capacidade de uso. Fonte: Lepsch (2002)

22

4.6 Critérios adotados para classificação de aptidão agrícola (SCPS, 2008)

Para avaliação da aptidão de uso agrícola das terras é necessário avaliar algumas

características, para isto, foi utilizada a metodologia descrita pela Sociedade brasileira de

Ciências do Solo (SCPS, 2008). No caso em questão, foram avaliadas características do solo e

também do ambiente (Tabela 2).

TABELA 2 - Parâmetros utilizados para descrever as características de agroecossistemas

arenosos na Campanha – RS.

Classes de declividade

Plano a suave ondulado 0 - 6 %

Ondulado 6 - 12 %

Forte ondulado 12 - 25 %

Montanhoso > 25 %

Classes de profundidade e de pedregosidade

Profundo e sem pedras > 80 cm

Profundidade média com ou sem pedras 40 - 80 cm

Rasos com pedras < 40 cm

Fonte: SBCS (2008)

4.6.1 Características do solo

Ao longo do perfil do solo foram feitas avaliações das características utilizadas para

classificar e identificar as possíveis limitações ao seu uso agrícola. São elas:

a) Profundidade efetiva

É importante para o desenvolvimento normal das raízes, podendo ser profundo (> 80 cm),

pouco profundo (40-80 cm) e raso (< 40 cm).

b) Textura

As partículas de solo são classificadas como areia, argila e silte. Correspondendo então à

textura arenosa (< 15 % de argila), textura média (15 a 35 % de argila) e argilosa (> 35 % de

argila) (Figura 5). Um cuidado importante é a observação da ocorrência de um gradiente

textural, que ocorre quando há um horizonte A mais arenoso sobre um B mais argiloso,

23

indicando uma maior suscetibilidade á erosão, pois nessa situação, a água da chuva infiltra

rapidamente no horizonte A (arenoso) e mais lentamente no B (mais argiloso). Quando há

ocorrência de grande precipitação, o horizonte A fica saturado, favorecendo o escorrimento

superficial, gerando erosão.

FIGURA 5 - Triângulo simplificado para estimação de textura do solo. Fonte: SBCS (2008)

4.6.2 Características do ambiente

As características do ambiente também afetam a aptidão de uso agrícola. As principais

características avaliadas foram:

a) Declividade

Corresponde ao desnível em porcentagem. As faixas de declividade adotadas na avaliação

da aptidão de uso agrícola, são menor que 6 % terras planas ou suavemente onduladas, pouco

sujeitas à erosão e indicadas para lavouras; de 6 a 12 % terras onduladas sujeitas à erosão e

regulares para lavouras; de 12 a 16 % terras fortemente onduladas muito sujeitas à erosão e

que não permitem o uso para lavouras, sendo aptas para pastagem natural ou para silvicultura;

24

de 16 a 25 % terras muito declivosas, extremamente sujeitas à erosão e que não permitem o

uso de lavouras, sendo aptas para pastagem natural ou para silvicultura; e maiores que 25 %

terras extremamente declivosas que devem ser destinadas a preservação permanente.

b) Pedregosidade

Classificada como: sem pedras - algumas pedras, quando presentes, não atrapalham o

cultivo da terra; pedregosa - as pedras dificultam, mas não impedem o cultivo da terra para

lavoura; e muito pedregosa - as pedras não permitem o cultivo da terra para lavoura.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após serem obtidos, analisados e interpretados todos os dados, foi possível chegar aos

seguintes resultados:

Gleba 1

Área aproximada: 1,9 ha

Declividade média: 11,7%

Cobertura do solo: 70 %

Vegetação presente: ervas-daninhas

Uso atual: milho

Profundidade efetiva do solo: maior que 1 m de profundidade

Pedregosidade e rochosidade: ausente

Textura e pH do solo: Tabela 3

TABELA 3 - Valores do teor de argila da gleba 1 em todos os pontos e profundidades e

valores de pH em todos os pontos

Teor de argila (g Kg-1

)

Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5

0 - 20 cm 160 140 180 220 160 20 - 40 cm 160 140 200 140 160 40 - 60 cm 180 140 60 120 160

pH (0 - 20 cm)

4,98 5,16 5,8 5,3 5,65

Gleba 2

Área aproximada: 2 ha

Declividade média: 22,6 %

26

Cobertura do solo: 85 %

Vegetação presente: ervas-daninhas

Uso atual: nenhum

Profundidade efetiva do solo: maior que 1 m de profundidade

Pedregosidade e rochosidade: ausente

Textura e pH do solo: Tabela 4

TABELA 4 - Valores do teor de argila da gleba 2 em todos os pontos e profundidades e

valores de pH em todos os pontos

Teor de argila (g Kg-1

)

Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5

0 - 20 cm 140 140 120 140 120 20 - 40 cm 120 180 140 160 140 40 - 60 cm 140 140 180 200 180

pH (0 - 20 cm)

5,48 5,34 5,33 5,39 5,27

Gleba 3

Área aproximada: 1,1 ha

Declividade média: 6,4 %

Cobertura do solo: 90 %

Vegetação presente: ervas-daninhas

Uso atual: nenhum

Profundidade efetiva do solo: maior que 1 m de profundidade

Pedregosidade e rochosidade: baixa pedregosidade, rochosidade ausente

Textura e pH do solo: Tabela 5

27

TABELA 5 - Valores do teor de argila da gleba 3 em todos os pontos e profundidades e

valores de pH em todos os pontos

Teor de argila (g Kg-1

)

Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5

0 - 20 cm 120 120 120 120 160 20 - 40 cm 120 140 180 140 140 40 - 60 cm 120 120 160 160 140

pH (0 - 20)

5,07 4,67 5,04 4,87 4,59

Gleba 4

Área aproximada: 1,9 ha

Declividade média: 33,46%

Cobertura do solo: 30 %

Vegetação presente: culturas

Uso atual: abóbora, árvores frutíferas e cebola

Profundidade efetiva do solo: maior que 1 m de profundidade

Pedregosidade e rochosidade: média pedregosidade, rochosidade ausente

Textura e pH do solo: Tabela 6

TABELA 6 - Valores do teor de argila da gleba 4 em todos os pontos e profundidades e

valores de pH em todos os pontos

Teor de argila (g Kg-1

)

Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5

0 - 20 cm 200 140 140 160 120 20 - 40 cm 140 160 160 160 180 40 - 60 cm 120 140 160 80 160

pH (0 - 20 cm)

4,87 4,66 4,96 5,02 4,9

28

Gleba 5

Área aproximada: 3,29 ha

Declividade média: 18,2 %

Cobertura do solo: 80 %

Vegetação presente: ervas-daninhas

Uso atual: nenhum

Profundidade efetiva do solo: menor que 1 m de profundidade

Pedregosidade e rochosidade: baixa pedregosidade, rochosidade ausente

Textura e pH do solo: Tabela 7

TABELA 7 - Valores do teor de argila da gleba 5 em todos os pontos e profundidades e

valores de pH em todos os pontos

Teor de argila (g Kg-1

)

Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5

0 - 20 cm 60 80 120 120 140 20 - 40 cm 40 120 160 160 160 40 - 60 cm 20 - 200 220 160

pH (0 - 20)

4,84 4,73 4,91 4,93 4,29

A área foi dividida seguindo a topossequência, ou seja, a gleba 1 localizou-se no ponto

mais alto, e assim consequentemente até chegar na gleba 5, ponto mais baixo.

As principais limitações observadas se referem à declividade, à textura arenosa e à

presença de gradiente textural. No local, há pouca limitação em relação a alagamentos e

mecanização. Entretanto, a elevada declividade, associada ao baixo teor de argila, implicam

em baixa coesão entre as partículas, favorecendo as perdas de solo por erosão hídrica. Em

adição, a presença de gradiente textural normalmente diminui a taxa de infiltração de água,

favorecendo o escoamento superficial desta intensificando o problema da erosão.

Os pontos apresentaram a declividade mais acentuada, foram referentes as glebas 2, 4

e 5. A maior parte da área apresentou textura arenosa, dando-se enfoque para o gradiente

29

textural observados nas glebas 2 e 5. As glebas dos pontos mais altos como 1 e 2 apresentam

uma melhor fertilidade o que mostra um baixo grau de limitação, pois apresentou valores mais

elevados de pH, sendo assim são locais menos ácidos. À medida que se desce a encosta o grau

de limitação de uso do solo é maior, associado não só ao pH baixo, mas também à textura

mais arenosa. O baixo teor de argila, associado a um teor de matéria orgânica provavelmente

baixo (sugerido pela cor clara do solo e pelo histórico de uso do solo com baixo aporte de

resíduos pelas culturas) favorece uma menor CTC e, consequentemente, menores estoques de

nutrientes em geral. A profundidade do solo na área é maior que 1 m, excetuando-se ao ponto

mais baixo coletado da geba 5 (ponto 2), que apresentou profundidade de 40 cm, e presença

de pedregosidade. Nas tabelas 8 e 9 é possível observar as classes de uso, limitações e

indicação de uso do solo, e também foi confeccionado um croqui (Figura 6), indicando a

classe das glebas.

TABELA 8 - Porcentagem da área apta para cada classe de aptidão agrícola

Classe Área (%)

II 19,4

III 31,6

IV 29,6

VI 19,4

As glebas 1, 2 e 3, apresentam uma menor fragilidade quanto aos métodos de cultivo,

porém, também podem ser utilizadas com pastagem, silvicultura e reflorestamento. Isto faria

com que áreas como a gleba 2, de elevada declividade, tenha menos chance de sofrer erosão

hídrica. Em adição, nas glebas 4 e 5, é conveniente destacar que o uso de cultivos anuais deve

ser evitado devido à suas limitações. A gleba 4, que apresentou a maior declividade dentre as

glebas avaliadas, está sendo utilizada com culturas anuais e frutíferas. Porém, esta é uma área

que não poderia ficar sem cobertura vegetal e deveria-se evitar o revolvimento intensivo do

solo, portanto, cultivos com culturas anuais deveriam ser evitados.

30

TABELA 9 - Classes de aptidão de uso, principais limitações e indicações de uso agrícola

das glebas

Glebas Classe Limitações Indicação de uso

1 II relevo ondulado Indicado para uso de lavoura com

adoção de plantio direto e plantio.

2 III relevo forte ondulado, textura

arenosa, gradiente textural

Indicado para lavoura com plantio

direto, plantio em curvas de nível e

rotação de culturas.

3 III

relevo ondulado, textura

arenosa, alto grau de limitação

(solo ácido)

Indicado para lavoura com plantio direto

e rotação de culturas.

4 VI relevo montanhoso e ato grau de

limitação (solo ácido)

Indicado para silvicultura, e pastagens

com cuidados especiais.

5 IV

relevo forte ondulado, textura

arenosa e alto grau de limitação

(solo ácido), gradiente textural

Indicada para culturas de ciclo longo

(cana, capim-elefante) e fruticultura.

FIGURA 6 – Croqui representativo da área divida por classe de uso do solo. Fonte: Google Earth (2011)

II

III

IV

VI

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As limitações de uso do solo devem ser respeitadas e seguidas para que o solo seja

utilizado de forma mais sustentável, pois, o solo é um recurso natural não renovável a curto e

médio prazo e, especialmente em propriedades de pequeno porte, todo o recurso solo deve ser

preservado, pois a manutenção da capacidade produtiva deve ser máxima em toda a área a fim

de maximizar o retorno econômico para estes produtores, que dependem disso para sua

sobrevivência.

7 AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO

O presente estágio teve como principal importância, a oportunidade de vivência

prática de um profissional formado trabalhando dentro de um órgão público.

A interação junto ao assentamento foi de grande importância para conhecer o

cotidiano e as dificuldades enfrentadas pelos assentados, tanto relativo à assistência técnica,

como social.

Estágios em órgão públicos, principalmente em se tratando de prefeituras, têm uma

realidade diferente de estágios em empresas privadas. O número de opções para atividades é

maior, visto que, no nosso caso, abrange toda a área da agroecologia. Cabe ao aluno fazer

uma boa escolha, pois em muitos casos a falta de recursos é iminente, e isso traz reflexos no

resultado final do trabalho. É uma boa opção de escolha para estágio, mas depende muito

mais da vontade e dedicação do aluno do que qualquer outro fator.

Retiro como lição, que muitas vezes, somos impedidos de realizar alguma atividade

por algum motivo, e que devemos saber contornar esta situação, encontrando uma forma

viável para realização desta.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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e assentamento Favo de Mel, na região do Purus – Acre. 2000. 135 f. Tese (Doutorado em

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Núcleo Regional Sul. 2004. 400 p.

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<http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Margarida_do_Sul>. Acesso em: 12 de novembro de

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