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9 De modo geral, sinto que, quando trabalhamos com o ser humano, não devemos deixar que apenas a habilidade técnica permeie nosso trabalho. È necessário usar a sensibilidade e a compreensão quando se lida com vidas, seja na área educacional, seja na área da saúde. É necessário pensar que educação e saúde caminham juntas. Desta forma suponho que a pessoa hospitalizada, em face do crescimento e desenvolvimento especiais, seja pela faixa etária ou outras condições psicossociais, deva ter assistência psicopedagógica ou atendimento pedagógico, pois ela necessita continuar com o seu aprendizado, que traz as concepções do mundo e da realidade de onde veio. A pedagogia auxiliará na transformação do mundo novo do hospital em conhecimento, e esse conhecimento em aprendizagem, em amadurecimento para uma vida futura após o tratamento, para enfrentar o mundo novamente. Quando a criança é hospitalizada e sofre de uma doença que vai deixá- la por um longo período internada, ocorre uma ruptura na normalidade do cotidiano: serão novas pessoas, novas perspectivas, certamente haverá sofrimento, dor, angústia, isso tudo em volto em cuidados e precauções. Então, como ficarão os vínculos anteriores e os conhecimentos? Será que ocorrerão mudanças no seu modo de pensar, de ver a vida? Mittempergher (1998, p.21) afirma que... “o conhecimento vindo da escola, de casa, da rua, de si mesmo e do próprio hospital, deve adquirir um novo significado para a criança hospitalizada, esse conhecimento deve ser positivo, para que sua qualidade de vida seja elevada, não só se pensando na cura e conseqüente reinserção nas atividades diárias de cada uma, mas também

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9

De modo geral, sinto que, quando trabalhamos com o ser humano, não

devemos deixar que apenas a habilidade técnica permeie nosso trabalho. È

necessário usar a sensibilidade e a compreensão quando se lida com vidas,

seja na área educacional, seja na área da saúde. É necessário pensar que

educação e saúde caminham juntas.

Desta forma suponho que a pessoa hospitalizada, em face do

crescimento e desenvolvimento especiais, seja pela faixa etária ou outras

condições psicossociais, deva ter assistência psicopedagógica ou atendimento

pedagógico, pois ela necessita continuar com o seu aprendizado, que traz as

concepções do mundo e da realidade de onde veio. A pedagogia auxiliará na

transformação do mundo novo do hospital em conhecimento, e esse

conhecimento em aprendizagem, em amadurecimento para uma vida futura

após o tratamento, para enfrentar o mundo novamente.

Quando a criança é hospitalizada e sofre de uma doença que vai deixá-

la por um longo período internada, ocorre uma ruptura na normalidade do

cotidiano: serão novas pessoas, novas perspectivas, certamente haverá

sofrimento, dor, angústia, isso tudo em volto em cuidados e precauções. Então,

como ficarão os vínculos anteriores e os conhecimentos? Será que ocorrerão

mudanças no seu modo de pensar, de ver a vida? Mittempergher (1998, p.21)

afirma que...

“o conhecimento vindo da escola, de casa, da rua, de si

mesmo e do próprio hospital, deve adquirir um novo

significado para a criança hospitalizada, esse conhecimento

deve ser positivo, para que sua qualidade de vida seja

elevada, não só se pensando na cura e conseqüente

reinserção nas atividades diárias de cada uma, mas também

10na sua vida durante o tratamento, vida essa que prossegue e

deve ser bem cuidada”. (Mittempergher 1998, p.21).

Nesta direção, o objetivo geral do trabalho é Identificar as práticas de um

pedagogo hospitalar, dentro das instituições. Como objetivos específicos,

procurar caracterizar a pedagogia Empresarial prevendo histórico e espaço de

avaliação; apresentar as especificidades das ações do pedagogo no âmbito

hospitalar; demonstrar as intervenções pedagógicas para crianças

hospitalizadas.

Integrar o doente no seu novo modo de vida, lhe oferecendo assessoria

e atendimento emocional e humanístico tanto para o paciente

(criança/adolescente) como para o familiar (pai/mãe), é uma hipótese

considerável.

Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico; tendo como

procedimentos metodológicos a situação problema, pesquisa a respeito do

assunto para conseguir equacionar bem a questão, planejar ter clara a linha de

pensamento que será adotada, coletar informações objetivas e necessárias ao

desenvolvimento do trabalho.

Esse trabalho está organizado em três capítulos. O primeiro está

apresentando o pedagogo empresarial e seu campo de trabalho; o segundo

está delimitando o pedagogo no âmbito hospitalar, uma vez que o trabalho do

pedagogo não pode se restringir apenas à escola; e por último, mostra a

importância desse trabalho para as crianças hospitalizadas, pois tenta

aproveitar qualquer experiência por dolorosa que possa ser para enriquecer e

mudar sofrimento em aprendizagem.

11

Pedagogo Empresarial e seu campo de trabalho

A Pedagogia conta com o pedagogo empresarial dentro da empresa,

visando sempre melhorar a qualidade de prestação de serviços. Na atualidade,

a empresa tem aberto espaço para que este profissional possa, de maneira

consciente e competente, solucionar problemas, formular hipóteses, e elaborar

projetos, demonstrando que a sua atuação visa à melhoria dos processos

instituídos na empresa, como garantia da qualidade do atendimento aos seus

clientes e ao funcionário, contribuir para a instalação da cultura institucional da

formação continuada dos empregados, orientarem na gestão do melhoramento

dos processos. De que maneira o Pedagogo poderá trabalhar seus projetos

numa empresa visando sempre a sua melhoria?

Esta pesquisa visa a compreender os novos rumos que a Pedagogia

Empresarial tem assumido frente aos novos cenários organizacionais

delimitados pela globalização. A implementação de treinamentos e

desenvolvimento de projetos pressupõe uma nova base para a gestão de

pessoas, desenvolvimento e capacidade de renovação da empresa e dos

funcionários, a busca do conhecimento, de promover atitudes transformadoras

e mobilizadoras, visando a direcionar os negócios da empresa para obtenção

da excelência no atendimento às exigências do mercado e da sociedade.

Para enfrentar os novos desafios impostos pelo mundo dos negócios

nesta virada do milênio, as empresas precisam gerar novas capacidades

organizacionais que devem ser decorrentes da redefinição e redistribuição das

práticas e funções. Gerentes de linha e profissionais precisam juntos, criar

essas novas capacidades, estabelecendo ligações com funcionários,

12fornecedores e clientes, fortalecendo a capacidade de competir, tendo, como

objetivo, analisar a importância do pedagogo e que contribuição poderá

acrescentar dentro da empresa.

Empresas, hospitais, ONGS, associações, igrejas, eventos, emissoras

de transmissão (rádio e TV), e outros formam hoje o novo cenário de atuação

deste profissional, que transpõe os muros da escola, para prestar seu serviço

nestes locais que são espaços até então restritos a outros profissionais. E esta

atual realidade vem com certeza, quebrando preconceitos e idéias de que o

pedagogo está apto para exercer suas funções na sala de aula. Onde houver

uma prática educativa, existe aí uma ação pedagógica.

Toda transformação relacionada à atuação do Pedagogo se dá ao fato

de que, hoje vivemos o processo que reflete a transformação de valores e

pensamentos de uma sociedade voltada para valores mais específicos, como a

cultura de seu povo, valor diferente daquele que até pouco tempo se primava

pelo valor econômico. Ou seja, a cultura hoje tem o seu papel melhor definido e

mais importante para a sociedade do que situação econômica, propriamente

dita.

O novo cenário da educação se abre no século XXI com novas

perspectivas para o profissional que se insere no mercado de trabalho, sob

diversas abrangências, como nos mostra a própria sociedade, que vive um

momento particular discussões sobre globalização, neoliberalismo, terceiro

setor, educação on-line, enfim, uma nova estrutura se firma na sociedade, a

qual exige profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem

neste cenário competitivo.

13

Verdades e conceitos têm sido questionados, mitos e comportamentos

derrubados e o conhecimento tem ultrapassado os limites geográficos, sociais

e educacionais com uma vertiginosa velocidade. As novas tendências sociais

e os novos rumos impostos pela Era da Informação influenciam diretamente a

educação e o conhecimento. Administrar a quantidade de informações

veiculadas e estar atualizado, atualmente, é uma tarefa extremamente difícil e

especializada.

Gerenciar processos de mudança exige novas posturas e novos valores

organizacionais, características fundamentais para empresas que pretendem

manterem-se ativas e competitivas no mercado.

Dessa forma, o profissional da educação atua na área de Recursos

Humanos direcionando seus conhecimentos para os colaboradores da

empresa com o objetivo da melhoria de resultados coletivos, desenvolve

projetos educacionais, seleciona e planeja cursos de aperfeiçoamento e

capacitação, representa a empresa em negociações, convenções, simpósio,

realiza palestras, aportam novas tecnologias, pesquisa a utilização e a

implantação de novos processos, avalia desempenho e desenvolve projetos

para o treinamento dos funcionários.

O pedagogo empresarial pode focar seus conhecimentos em duas

direções: no funcionário ou no produto da empresa. No primeiro caso, trata-se

da atuação no departamento de Recursos Humanos (RH), realizando

atividades relacionadas ao treinamento e desenvolvimento do trabalhador. O

pedagogo é o responsável pela criação de projetos educacionais que visam

14facilitar o aprendizado dos funcionários. Para tanto, realiza pesquisas para

verificar quais

as necessidades de aprimoramento de cada um e qual método pedagógico é

mais adequado.

O desenfreado desenvolvimento científico e tecnológico das últimas

décadas tem marcado a sociedade contemporânea com profundas mudanças

nas organizações, no modo de produção e nas relações humanas.

O mundo transforma-se a cada momento e o resultado mais visível desse

processo é a obsolescência do conhecimento que os impele à atualização

constante e contínua. O MEC evidenciou a intensidade do impacto desse novo

formato social ao publicar os Referenciais para Formação de Professores.

O documento descreve as novas competências do educador e as novas

características das suas aulas, que devem priorizar a formação do aluno

cidadão, capaz de estabelecer relações com o mundo que o cerca, analisar,

pesquisar, estar atualizado e, sobretudo, aprender a aprender. Os reflexos

mutatórios na escola explicitam a exigência urgente do mercado de trabalho

que não abriga mais o trabalhador mecanizado, mero executor de tarefas,

personificado na figura robotizada do personagem do filme Tempos

Modernos de Charles Chaplin.

O ambiente organizacional contemporâneo requer o trabalhador

pensante, criativo, pró-ativo, analítico, com habilidade para resolução de

problemas e tomada de decisões, capacidade de trabalho em equipe e em total

contato com a rapidez de transformação e a flexibilização dos tempos atuais.

Mas como conseguir isso? Como conseguir desenvolver competências

nos alunos de nossas escolas atuais? Como contribuir para a construção de

15colaboradores autônomos, e com espírito de aprendizes? Como manter as

organizações atualizadas no mundo que vive a transformação num ritmo

frenético? Como transformar o ambiente de trabalho em um ambiente de

aprendizagem permanente?

Diante dessas indagações surge a figura do Pedagogo Empresarial.

Cada vez mais as empresas descobrem a importância da educação no trabalho

e desvendam a influência da ação educativa do Pedagogo na empresa. O

Pedagogo não é mais só o profissional que atua no ambiente escolar. Ao

contrário, dispõe de uma imensa área de atuação, tais como: empresas de

diversos setores, ONGS, editoras, sites, consultorias especializadas em T&D e

em todas as áreas que requeiram um trabalho educativo.

A tarefa do Pedagogo Empresarial é, entre outras, a de ser o mediador e

o articulador de ações educacionais na administração de informações dentro

do processo contínuo de mudanças e de gestão do conhecimento.

Outra modalidade para a capacitação e treinamento dos recursos

humanos no mercado empresarial é a Universidade Corporativa. Essas

Universidades desenvolvem um sistema de aprendizado contínuo voltado para

as necessidades específicas das empresas e de seus colaboradores.

Contribuem para a aquisição dos conhecimentos dos novos processos de

produção e valores organizacionais consoantes com a missão da empresa.

Esse novo nicho educacional tem crescido e tende a intensificar-se nos

próximos anos gerando uma demanda social de Pedagogos Empresariais.

Hoje, algumas empresas que possuem Universidades Corporativas podem ser

citadas: Embratel, Accor, Motorola, McDonald´s, Algar, Brahma.

16

As organizações são formadas por pessoas: são elas que atendem ao

público, despacham documentos, recebem recados, fazem pagamentos,

tomam decisões... Há uma mútua simbiose entre pessoas e organizações:

pessoas dependem das organizações e organizações dependem das pessoas.

Dentro dessa interdependência e do novo paradigma de competitividade em

mercados globais, o treinamento e o aprendizado são imprescindíveis para o

aproveitamento das oportunidades pessoais e organizacionais e para a

neutralização das ameaças ambientais.

Os indicadores propulsores da aprendizagem organizacional são a

criatividade e a inovação. A aprendizagem e o treinamento nas empresas são

os diferenciais de competitividade, qualidade e lucratividade. Por esse motivo o

investimento no conhecimento contínuo e coletivo do capital intelectual das

empresas tende ao crescimento progressivo.

Esse conceito administrativo assemelha-se, integralmente, ao novo

conceito educacional de escola e da sua função social: formar cidadãos

autônomos. Segundo a Pedagoga Maria Inês Fini coordenadora do Enem, a

escola não é mais o lugar de simples transmissão do conhecimento, é:

(...) o espaço das relações humanas moldadas, deve ser usada para aprimorar

valores e atitudes, além de capacitar o indivíduo na busca de informações,

onde quer que elas estejam para usá-las no seu cotidiano. (Revista Nova

Escola, Maria Inês, Mar. 2000).

Torna-se evidente que a palavra de ordem hoje é Gestão do

Conhecimento. Escolas e empresas que não repensarem seus modelos e

17agarrarem-se aos velhos paradigmas do aprendizado e das relações humanas

estarão, certamente, fadadas ao fracasso ou ao desaparecimento.

A inexorabilidade da reestruturação sócio-econômica obriga que as

escolas desenvolvam competências nos alunos para atender às exigências do

mercado de trabalho e que as organizações reestruturem-se e transforme o

ambiente de trabalho num ambiente de aprendizagem, contribuindo para a

construção de pessoas que se antecipem aos acontecimentos, sejam

atualizadas e saibam aprender a aprender.

Nas grandes organizações, o pedagogo é o responsável pela elaboração

de projetos de implantação de universidades corporativas, avaliando a

viabilidade de cursos e programas educacionais; contatando profissionais e

confeccionado material didático. Além disso, os pedagogos são os

responsáveis por treinamentos de comportamento para as lideranças. Eles são

os mais indicados para transmitir aos líderes, a maneira correta de como lidar

com subordinados e como ensiná-los a realizar tarefas.

Pode-se ainda, como em qualquer profissão, prestar consultoria ou

assessoria para organizações, em função de uma experiência adquirida em

outras instituições. Ë válido salientar que à medida que o profissional pretende

oferecer um serviço mais elaborado, é necessário especializar-se com cursos e

pós-graduações, desta forma, chega um momento em que a graduação inicial

foi apenas um ponto de partida.

De acordo com as reflexões acima tudo indica que há nos setores

produtivos que programam as novas formas de organização do trabalho a

possibilidade de atuação do pedagogo. Por outro lado, podemos constatar que

18a maior parte dos dirigentes, sejam eles de recursos humanos ou

administrativos, manifestam desconhecimento do trabalho que o pedagogo

possa realizar dentro da indústria.

A maior parte dos diretores e dirigentes demonstra indicar o pedagogo

como docente, restringindo seu trabalho à sala de aula. Embora esses

dirigentes alegassem haver possibilidade de contratação de estagiários do

curso de pedagogia, a concepção restrita do trabalho do pedagogo dificulta o

acesso desse profissional à indústria, pois dificilmente a empresa contratará

um profissional desconhecendo sua área de atuação, ou seja, sem saber que

conhecimento técnico esse profissional possui e em que ele poderia ser útil na

empresa.

No entanto, para que os programas de qualificação profissional não

contemplem a separação entre planejamento e execução, como no modelo

taylorista - fordista, o pedagogo deve oferecer instrumentos que capacitem os

demais agentes do processo produtivo a discutir, questionar, pesquisar e

propor objetivos a serem alcançados, bem como auxiliar na escolha das

metodologias mais apropriadas e materiais a serem utilizados.

19

As especificidades das ações do pedagogo no âmbito

hospitalar

O pedagogo será o mediador para recuperara sentimentos de amor

próprio entre outros e assegurando a valorização da vida do paciente. A

pedagogia Hospitalar situa-se na modalidade de educação especial, definindo

como suas principais ações as atividades de classes hospitalares e

atendimento domiciliar para crianças e adolescentes em tratamento de saúde.

Crianças que necessitam de muitos períodos de internação acabam

sofrendo uma carência em relação à aprendizagem, um bom profissional da

educação percebe que há muito para fazer nesse “Novo” da educação, pois por

meio do acompanhamento educacional dentro do ambiente hospitalar pode-se

resgatar vários sentimentos nessas crianças como aceitação, auto estima,

segurança, uma melhor qualidade de vida e a continuidade do desenvolvimento

das potencialidades que elas apresentam.

Á prática pedagógica hospitalar, que “exige maior flexibilidade”, por

trata-se de uma clientela que se encontra em constante modificação, tanto em

relação ao número de crianças que irão ser atendidas pelas professoras bem

como no que diz respeito ao tempo que cada uma delas permanecerá

internada e ainda o fato de serem crianças e jovens com diferentes patologias,

requisitando diferentes intervenções.

Isso quer dizer que para atuar na classe hospitalar se faz necessária

uma maior compreensão por parte do profissional porque, mais do que em

20outras instituições, não se trabalha com uma receita pronta; cada dia significa

um desafio para traçar, a partir de temas preestabelecidos, caminhos

individualizados. E o pedagogo hospitalar deve aprender a lidar com esses

fatores quando ainda está em formação, para facilitar seu trabalho.

O tempo de tratamento de saúde, em âmbito hospitalar ou na reclusão

domiciliar, pode propiciar o afastamento do ciclo escolar, pela impossibilidade

de freqüentar as aulas regularmente. Isso acarreta prejuízo ao individuo no

tocante ao desenvolvimento da educação escolar, o que traz em si

conseqüências negativas ao desenvolvimento psicológico e as relações sociais

e familiares.

Os fatores que compõe as características de uma hospitalização longa

aos descritos nos conceitos de estresse, e esse estresse é amplamente

definido como um estado negativo podendo alterar o funcionamento do

organismo como um todo, sendo que essas alterações sejam prejudiciais ao

restabelecimento da saúde.

Nesse contexto a Pedagogia Hospitalar pode contribuir para a

manutenção da reação do individuo, pois atua reforçando indiretamente a sua

auto-estima ao dar possibilidade de continuidade de desenvolvimento.

“Observa-se que a continuidade dos estudos, paralelamente

ao internamento, traz maior vigor às forças vitais do enfermo,

como estimulo motivacional, induzindo-se a tornarem

participante e produtivo, com vistas a uma efetiva

recuperação” (Matos e Mugiatti, 2001, p.39).

21Além do beneficio terapêutico, é evidente a importância da continuidade

da escolarização no ambiente hospitalar, sem prejuízos maiores a formação

escolar proposta, respeitando o individuo como cidadão em seu direito a

educação. O trabalho do Pedagogo Hospitalar é propiciar uma prática

educativa visando à formação integral do aluno enfermo numa proposta de

amenizar a possível desmotivação e o interesse ocasionado pela internação.

Tem com principais objetivos, promover a integração entre a criança e a

família, a escola e o hospital, amenizando os traumas da internação e

contribuindo para interação social; dar continuidade ao atendimento às crianças

e adolescentes hospitalizados em busca da qualidade de vida intelectiva sócio-

interativa; aproximar a vivencia da criança no hospital á sua rotina diária

anterior ao internamento, utilizando o conhecimento como forma de

emancipação e formação humana; fortalecer o vinculo com a criança

hospitalizada, possibilitando o fazer pedagógico na pratica educacional dos

ambientes hospitalares; propiciar à criança hospitalizada a possibilidade de

mesmo, estando em ambiente hospitalar, ter acesso á educação.

A prática do pedagogo na Pedagogia Hospitalar poderá ocorrer em

ações inseridas nos projetos e programas nas seguintes modalidades de cunho

pedagógico e formativo: nas unidades de internação, na ala de recreação do

hospital; para as crianças que necessitarem de estimulação essencial; com

classe hospitalar de escolarização para continuidade dos estudos e também no

atendimento ambulatorial.

A pedagogia Hospitalar também busca oferecer assessoria e

atendimento emocional e humanismo tanto para o paciente (criança/jovem)

como para a família (pai/mãe) que muitas vezes apresentam problemas de

22ordem psico/afetiva que podem prejudicar na adaptação no espaço hospitalar,

mas de forma bem diferente do psicólogo.

A prática do pedagogo se dará através das variadas atividades lúdicas e

recreativas como a arte de contar histórias, brincadeiras, jogos, dramatização,

desenhos e pinturas, continuação dos estudos no hospital. Essas práticas são

as estratégias da pedagogia hospitalar para ajudar na adaptação, motivação e

recuperação do paciente, que por outro lado, também estará ocupando o

tempo ocioso.

O hospital, portanto, aciona sua instrumentalização e seu manejo de

controle e tecnologia para obter, se não a cura, a possibilidade da melhora do

paciente para reinserção na sociedade. O evento hospitalização traz consigo a

percepção da fragilidade, o desconforto da dor e a insegurança da possível

finitude.

É um processo de desestruturação do ser humano, que se vê em estado

de permanente ameaça. Neste momento, delineiam se algumas inquietações

sobre como a criança se instrumentaliza para acionar o enfrentamento deste

processo. Para a criança, há, neste momento, uma situação caótica,

implicando mudanças subjetivas em sua vida cotidiana.

Entender os desdobramentos deste evento que ela não conhece (e que,

por isso, teme) demanda ter que incorporar em seu universo de conhecimentos

o não familiar, o assustador desconhecido.

23As rotinas da internação não vislumbram a subjetividade e seus

contornos emocionais, culturais e sociais na criança. Há, portanto, uma

preocupação com a devastadora influencia do adoecimento e da internação

hospitalar no processo de desenvolvimento deste paciente, quando ele é

cercado em seu transcurso de ser humano livre e saudável.

Pode-se afiançar que, no interior dos domínios hospitalares, existe uma

carência de estímulos promotores do desenvolvimento psíquico e sensório-

motor infantil; em contrapartida, prevalece, em alto grau uma estrutura de

medo-estímulo gerada para o cumprimento do aparato terapêutico: exames

bioquímicos, equipamentos cirúrgicos, punções, intervenções evasivas e

amputações.

Portanto, nas situações de risco, cabe o olhar inovador de referência á

sensibilidade como um aparato que legitima a permanência da força motriz do

ser saudável pra a superação do estágio do adoecer e ao atingimento da cura.

É preciso, pois, ressignificar a concepção do hospital como apenas um

cenário asséptico para vislumbrar um espaço onde a vida acontece, onde é

aceito tudo o que faz parte da vida. A passagem da criança nesse espaço

permitirá o surgimento de outra, mas autônoma, aparelhada para a elaboração

de relações ela mesma, experenciando diferentes formas de afeto com os

outros e com o mundo que a cerca.

A enfermidade e a hospitalização das crianças passam por seu corpo e

emoções: passam por sua cultura e relações; produzem afetos e inscrevem

conhecimentos sobre si, o outro, a saúde, a doença, o cuidado, a proteção, a

vida. A corporeidade e a inteligência vivenciam essas informações como

conhecimento e saber pessoal.

24

A situação de enfermidade dilui-se na tentativa de tornar bom o

desagradável. A intervenção educacional assume um risco de insinuar à

existência do mundo extra- hospitalar – a escola – como agenciadora de

processos de aquisição de aprendizagem, desenvolvimento de competência

intelectual e interação entre seus pares, compondo um novo quadro de

qualidade de vida, entrecruzando sentidos e construindo sentidos para

ressignificar o adoecimento.

No ideário simbólico do paciente pediátrico, a escola apresenta-se com

roupagem revolucionária, anunciadora da liberdade, embora provisória, das

rotinas da embora provisória, das rotinas da internação e das torturas dos

procedimentos internação e das torturas dos procedimentos terapêuticos

instituídos, para instituir o novo, a criatividade, a autorização de ser desafiado e

desenvolvido no contato com o saber.

A escola, portanto, apresenta-se para o enfermo como mobilizadora da

construção de modos positivos de vida; a ruptura com esta instituição significa

a negação de estímulos de vida e o sepultamento de sua força motriz de

inventividade – é a falência de seus processos de cognição e de sua de seus

processos de cognição e de sua humanização.

A participação da criança hospitalizada na vida escolar, mesmo em

regime domiciliar de estudos, faz com que se perceba ainda membro de uma

classe, fortalece seu desejo de pertencimento social, e o afastamento

prolongado ou ausências esporádicas da escola não produzirão tantos

prejuízos acadêmicos.

25

Logo, a assistência escolar deixa de ser vista apenas como uma

"ocupação do enfermo" e/ou "ação atenuante dos traumas da internação", para

ser decodificada como uma essencialidade junto ao tratamento terapêutico.

O campo pedagógico se insinua no universo hospitalar, acenando para um

modo singular de compreensão dos sofrimentos das crianças hospitalizadas e

tendo como princípio a promoção da saúde.

Assim, a disponibilidade de atividades escolares, e até mesmo lúdicas,

consagra-se como uma das variáveis que influem na resposta à hospitalização.

Há uma intencionalidade nesta ação: a luta contra a doença, não com arsenal

curativo da medicina, mas, antes, com uma atenção escolarizada, armada com

anseios de crescimento pessoal, investimento na criatividade, na busca de

caminhos novos e na geração de expectativa de realização.

É com este olhar que analiso as experiências que delineiam o perfil do

comprometimento que a educação pode assumir como proposta recriadora, já

que ela resgata a possibilidade de a criança levitar com a opção de "brincar"

com o conhecimento e fazê-lo um instrumento de autonomia e reconstrução de

sua vida.

Neste ínterim, recorro à prática educacional tornada a efeito nas classes

hospitalares. Classe hospitalar entendida por Fonseca (2002) como: Lócus

específico de educação destinado a prover acompanhamento escolar a alunos

impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que

implique internação hospitalar ou atendimento ambulatorial.

26As crianças e adolescentes internados em hospitais, independentemente

da patologia, são considerados alunos temporários de educação especial por

se acharem afastados do universo escolar, privados do universo escolar,

privados da interação social propiciada na vida cotidiana e terem pouco acesso

aos bens culturais como revistas, livros, atividades artístico culturais.

Logo, elas correm um risco maior de reprovação e evasão, podendo

configurar um quadro de fracasso escolar. As propostas escolarizantes de

atuação implementadas nas classes hospitalares ocupam-se das operações

cognitivas e sócio afetivas, ativando circunstâncias pedagógicas sócio-afetivas,

ativando circunstâncias pedagógicas para dirimir problemas de aprendizagem

que, porventura, estejam presentes no processo de desenvolvimento da

criança, independentemente da duração de sua internação hospitalar.

Este segmento educacional trilha para o encontro com o universo

escolar. É uma aposta na manutenção dos vínculos escolares para o envio da

criança à escola regular, sabedora dos pré-requisitos do currículo e reintegrada

aos princípios da socialização, tendo presente, assim, a circulação de outros

significantes afora os saberes terapêuticos que comporão os espaços livres, ou

melhor, aqueles lugares saudáveis da criança para permitir vir à tona a

insustentável leveza do sonho de vida.

É um empreendimento inspirado na crença de que o paciente-aluno,

instrumentalizado pelo conhecimento de si e da realidade, redescubra o seu

papel e possa desenhar com mãos próprias as suas possibilidades.

As práticas das classes hospitalares devem estar centradas em

encaminhamentos pedagógico-educacionais que não deixam de incluir

programações lúdicas educativas.

27

Entendemos que o momento atual seja bastante favorável ao

desenvolvimento do Projeto EIC-Hospitais, considerando que o Programa

Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), do Ministério da

Saúde, salienta que é preciso modificar a forma como os hospitais se

posicionam frente ao seu principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento e a

dor de um indivíduo fragilizado pela doença (BRASIL, 2001).

Neste sentido, o projeto EIC Hospitais trata-se de uma proposta de

criação de um espaço dentro dos hospitais onde as crianças e adolescentes

possam participar de atividades lúdicas e interativas, ao mesmo tempo em que

educativas, utilizando-se de recursos tecnológicos. Seu principal objetivo,

portanto, é contribuir com o movimento de humanização do atendimento à

criança hospitalizada.

Assistência Hospitalar (PNHAH), do Ministério da Saúde, salienta que é

preciso modificar a forma como os hospitais se posicionam frente ao seu

principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento e a dor de um indivíduo

fragilizado pela doença (BRASIL, 2001). Neste sentido, o projeto EIC Hospitais

trata-se de uma proposta de criação de um espaço dentro dos hospitais onde

as crianças e adolescentes possam participar de atividades lúdicas e

interativas, ao mesmo tempo em que educativas, utilizando-se de recursos

tecnológicos. Seu principal objetivo, portanto, é contribuir com o movimento de

humanização do atendimento à criança hospitalizada.

Naturalmente, o período de internação traz experiências difíceis para a

criança. Contudo, este período pode também proporcionar a oportunidade para

o desenvolvimento de atitudes positivas para o enfrentamento de situações

difíceis, além de novos posicionamentos diante da vida. Este tempo pode

28também representar uma oportunidade para o desenvolvimento de novas

habilidades e ser bem aproveitado pela aplicação de recursos educativos.

A concepção de que a assistência à criança hospitalizada requer

prioritariamente procedimentos tais como o isolamento e o repouso no leito

vêm sendo questionados há algum tempo, sendo que muitas alternativas

criativas vem surgindo a cada dia em diversos hospitais do país. É cada vez

maior o número de pesquisas e de intervenções práticas norteadas pelo

objetivo de oferecer bem-estar à criança e ao adolescente hospitalizado.

A modificação do ambiente hospitalar, dentro das possibilidades e

garantias de preservação da saúde da criança, pode ser um fator de ajuda para

a sua recuperação se vislumbradas as demandas infantis no aspecto do lúdico,

da fantasia e do movimento espontâneo e curioso para novas aprendizagens,

no qual o computador e seus recursos interativos, mostram-se como um

catalisador de atenções concentradas. Esta afirmação é apoiada também na

idéia de que a criança e o adolescente são ativos no seu processo de

recuperação, dadas às condições adequadas.

As atividades lúdicas recreativas desenvolvidas durante a hospitalização

possibilitam o brincar criativo e espontâneo; fortalecer o vínculo entre crianças

e acompanhantes e facilitar o relacionamento destes com a equipe de saúde;

lidar com os limites físicos e emocionais referentes ao adoecimento, tratamento

e internação; estimular uma reorganização da imagem corporal, desencadeada

pela doença e pela dor; promover uma integração das crianças internadas e de

seus acompanhantes; experimentar-se na situação de grupo, lidando com

regras e limites; direcionar a atenção da criança e dos familiares para outras

áreas da sua existência, além do adoecimento, facilitando a recuperação;

manter a lucidez mental através dos jogos; desenvolver a atenção e

29coordenação motora; trabalhar as situações de agressividade e destrutividade;

favorecer o contato com a realidade hospitalar; dar continuidade ao contato da

criança e seus familiares com a realidade sócio-cultural em que estão

inseridos.

Atentos a estes aspectos, a reinserção da criança ao cotidiano escolar,

após sua saída do hospital, deverá ser realizada sem maiores prejuízos, dentro

de um sentimento de retomada, de continuidade, de forma motivada. Pois

durante a hospitalização, como nos explica Cecim (1997), a criança sofre uma

profunda cisão nos seus laços sociais. Destacando que o distanciamento da

escola leva a criança a sentir-se isolada, sozinha. Sua vida passa a ficar

restrita aos espaços família/casa e doença/hospital.

Para as crianças a escola é um espaço privilegiado de contato social, de

vida. Manter este laço, este sentido de continuidade, mais do que importante

para a reintegração da criança à escola, é imprescindível para que se

mantenha nesta criança um sentimento de capacidade, de auto-estima, de

alegria de entusiasmo e de vontade de viver.

30

A importância do trabalho do pedagogo hospitalar para

as crianças hospitalizadas

Este campo de atuação exige a preparação do pedagogo voltado para a

saúde, capazes de intervir pedagogicamente junto a crianças que, mesmo

internadas, são capazes de continuar seu processo de aprendizagem, e

quando curadas, inserir-se em suas práticas escolares, com sucesso.

A criança internada precisa, além dos cuidados com a saúde física,

atenção às suas necessidades psíquicas. A Pedagogia Hospitalar como uma

nova vertente para a educação oferece subsídios educacionais e pedagógicos

ao enfermo para ajudá-lo em sua recuperação, pois, carinho, calor humano,

atenção e afeto constituem elementos fundamentais para a saúde, física,

espiritual e cognitiva.

As (os) crianças/jovens hospitalizadas (os) envolvidas por um clima

afetivo positivo, sem perder o contato com suas famílias, com os livros, os

cadernos, as brincadeiras, sentem-se mais integradas à sociedade e ao desejo

de viver. Ao deixar de pensar na doença, envolvem-se nas atividades, sentem-

se felizes e produtivos, criam expectativas para o futuro e para a volta ao

convívio familiar e social.

O papel da educação é transformar o ambiente hospitalar em um lugar

mais descontraído, por meio de projetos lúdicos, pedagógicos e criativos,

trabalhando as necessidades de cada criança/adolescente enfermo.

31

Esse trabalho deve ser inter/multi/transdisciplinar, procurando conciliar o

fato de que no hospital está a (o) criança/jovem com necessidades específicas.

Desta maneira, o atendimento é direcionado a cada um, conforme suas

possibilidades e necessidades, em interação multiprofissional tendo em vista a

recuperação do enfermo.

A criança ou o jovem hospitalizado passa por duas vertentes: uma

primeira voltada para a ludicidade, porque este tipo de atividade aciona o

emocional como canal de comunicação com a criança, fazendo-a esquecer,

durante alguns instantes, do ambiente agressivo no qual se encontra,

resgatando sensações da infância vivida anteriormente à entrada no hospital. A

outra, consiste na desmistificação do ambiente hospitalar, dando origem a um

espaço de confiança e afetividade que possibilite levantar o ânimo das crianças

internadas.

Nesse contexto, em que se interpenetram os conceitos de educação e

saúde, surge uma nova perspectiva de educação que fertiliza a vida, pois o

desejo de aprender/conhecer engendra o desejo de viver.

A hospitalização é um acontecimento permeado por situações de medo

e tristeza, com o potencial de paralisar o processo de construção de si e do

conhecimento. No entanto, uma ação de acolhida dos medos, desejos,

ansiedades, confusões e ambivalências, com adequado nível de informação,

permitirá a produção de conhecimentos sobre si e uma construção positiva a

respeito da saúde, porque a dimensão corpo não se separa da dimensão

cognitiva.

32

Nessa perspectiva, a abordagem pedagógica pode ser entendida como

instrumento de suavização dos períodos de hospitalização é transformado,

então, num tempo de aprendizagem, de construção de conhecimento e

aquisição de novos significados, não sendo preenchido apenas pela dor e o

vazio do não desenvolvimento afetivo, psíquico e social.

Urge, portanto, reconhecer a criança hospitalizada como protagonistas de sua

própria saúde e educação, passando de objeto a sujeito de seu

desenvolvimento.

Para isso, é necessário que a sociedade, os governantes e as escolas

criem projetos diversificados, para atender a todos os problemas que o

indivíduo possa vir a ter, e promover a verdadeira democratização da

educação. A Pedagogia Hospitalar vem se expandindo no atendimento à

criança Hospitalizada, e em muitos hospitais do Brasil tem se enfatizado a

filosofia humanística.

Um dos objetivos da classe hospitalar, na área sócio-política, e o de

defender o direito de toda criança e adolescente a cidadania, e o respeito às

pessoas com necessidades educacionais especiais e no direito de cada um ter

oportunidades iguais. A criança hospitalizada é tida como uma criança

especial e de acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) 9394/96 capítulo V:

Todas as crianças especiais têm direito à educação. Para a criança o

hospital é um lugar que provoca medo e solidão; pois lembra tristeza e doença.

As crianças internadas sentem falta de brincar. Sabe-se que a brincadeira

favorece o bem estar emocional e consequentemente, o biológico, o físico.

33

É através do brincar que as crianças e adolescentes internados

encontram maneiras de viver a situação de doença, de forma criativa e positiva.

Portanto, o trabalho em classe hospitalar faz com que há diminuição do risco

de comprometimento mental, emocional e físico dos enfermos.

À percepção de que mesmo doente a criança pode brincar, pode

aprender, criar e principalmente continuar interagindo socialmente, muitas

vezes ajuda na recuperação.

O trabalho pedagógico para muitas crianças que estão no hospital é uma

oportunidade única de receber atendimento pedagógico, já que na maioria das

classes iniciais de escolas públicas ou particulares não conta com professores

com formação pedagógica adequada, facilitando assim a exclusão como é o

caso de crianças autistas, deficientes mentais e outras situações.

O contato com sua escolarização faz do hospital uma agência

educacional para a criança hospitalizada desenvolver atividades que a ajudem

a construir um percurso cognitivo, emocional e social para manter uma ligação

com a vida familiar e a realidade no hospital.

Lembramos que o atendimento a essas crianças é um direito de todos os

educandos, garantidos por Lei, pelo tempo que estiverem afastados ou

impedidos de freqüentar uma escola, seja por dificuldades físicas ou mentais.

A legislação brasileira reconhece tal direito através da Constituição

Federal de 1988, da lei n.1.044/69, da lei n.6.202/75, da lei n.8.069/90-Estatuto

da Criança e do Adolescente, da Resolução n. 41/95 do Conselho Nacional de

Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, da lei n.9.394/96 - Lei de

34Diretrizes e Bases da Educação Nacional, da Resolução n. 02/01 do Conselho

Nacional de Educação.

Cabe ressaltar que a doença não atinge só a criança. Cada membro da

família pode estar vivendo o adoecimento da criança de maneira muito própria

e aqueles mais atingidos (os cuidadores principais) necessitam de cuidados

especiais.

Podem surgir sentimentos de culpa pela doença do filho, incerteza e

ansiedade diante do futuro, impotência por não conseguir aliviar o sofrimento e

a tristeza pela aproximação da morte. Os familiares precisam ser esclarecidos

e orientados quanto aos tratamentos que, muitas vezes, parecem e são

assustadores e dolorosos.

O estar doente, associado a uma experiência de hospitalização, pode vir

a ser configurar com uma experiência desgastante para a criança. O grau de

estresse pode estar associado não só à gravidade do caso e do período de

internação, mas também às características do próprio ambiente hospitalar e a

maneira como os pais e a família em geral vivem essa situação.

A criação de um território lúdico contribui para quebrar a característica

hospitalar espacial predominantemente voltada pra diagnosticar e intervir no

combate á doença. Rompendo com a totalidade dirigida para o tratamento

médico-hospitalar, onde a criança se percebe como o doente a ser tratado, a

Brinquedoteca insere um lugar alegre e descontraído, onde ela pode e até deve

“fazer de conta” que é, sente ou tem aquilo que gostaria de ser, sentir ou ter no

momento.

35Em outras palavras, o espaço lúdico, aceito formalmente pela equipe da

saúde, permite, dá seu aval, assim como cria condições práticas para que a

realidade vivida pela criança, na fase de hospitalização, seja permeada pelo

imaginário, facilitando sua elaboração da situação á sua medida e ao seu ritmo.

O lúdico, possibilitando à criança sua livre expressão física e psicológica,

configura-se como um instrumento privilegiado de afirmação de si mesmo, o

que é vital pra o processo de recuperação da saúde.

Ora, a presença de uma brinquedoteca auxiliada por um pedagogo, em

um ambiente hospitalar vem a ser um lugar de refugio, de serenidade e de bem

estar também para as mães, que lá, muitas vezes, podem participar de

atividades especialmente voltadas paras elas, como oficinas de jogos, de

pintura ou de artesanato.

A presença dos pais, propriamente dita, além das mães, nas

brinquedoteca Hospitalares, sendo estimulada, cria condições para que

também joguem com seus filhos, vivenciando o ambiente hospitalar em seu

lado mais descontraído, aliviando sua tensão, lembrando que o espaço lúdico,

favorecendo a descontração, quebra o foco na doença.

Além disso, e talvez o mais significativo seja, na Brinquedoteca, a

criança internada é vista por sua família, convivendo com atividades divertidas

e alegres, fazendo coisas que ela estava acostumada a realizar em casa, como

brincar e desenhar, rir e conversar com outras crianças.

Pelo brincar, ela se expressa, mostra o que sente e quem é, aparecendo

como sujeito, com vontades, e não como mero objeto de cuidados. As tensões

36provocadas pela internação diminuem, favorecendo a adesão ao tratamento e

diminuindo sua vitimização, isto é, sua situação de coitadinha.

Mantém-se a continuidade no processo de estimulação de seu

desenvolvimento e aprendizagem, por meio de atividades e experiências que

os apóiam. Neste aspecto, reside a importância da classe hospitalar, entendida

como atendimento pedagógico e escolar á criança a ao adolescente

hospitalizado, desde que, neste espaço, não se repitam os defeitos da escola

tradicional, com seu ensino sem significado e extremamente diretivos.

Se os brinquedos e as brincadeiras são adaptados às limitações e as

especificidades da criança e do ambiente hospitalar se ela pode escolhê-los e

se pode ter sucesso brincando com eles, brincar no hospital propicia a

conquista e/ou manutenção de sua autoconfiança. Seu restabelecimento físico,

cognitivo e psíquico é, por conseguinte, mais imediato e duradouro, acelerando

seu retorno á vida anterior á hospitalização.

Assim com presença de um objeto, um animal, uma boneca ajuda-a a

sentir segura na hora de dormir, pois permitem a recriação da situação mãe-

filho na qual se protegem mutuamente, os brinquedos no hospital cumprem um

papel de proteção como objetos de transferência que fazem com que não se

sinta sozinha.

Contudo, brincar no hospital não deve servir para distanciá-la da

realidade, distraindo-a, tal como uma manobra diversionista, mas deve auxiliá-

la a vivê-la: desenvolvendo seu raciocínio, sua capacidade de expressão,

melhorando seu ânimo; a criança reúne forças e instrumentos intelectuais para

compreender a realidade em que vive.

37

Ao educador lúdico, compete oferecer brinquedos e brincadeiras

variadas, com as quais acriança experimenta sua sensorialidade, motricidade e

inteligência, como livros infantis, jogos de construção, lógicos, motores, de

inventividade e de criatividade, bem como bonecos e acessórios fantásticos.

Tais atividades e objetos devem ser instigantes, mas sem esquecer que

são tanto atraentes quanto mais surpreendentes conseguem ser. Sua atração

decorre menos da beleza plástica ou sofisticação do que mistério surgirem.

Também compete brincar com a criança até mesmo com aqueles brinquedos

com os quais ela já brincou muito e que foram abandonados, pois, ver outra

pessoa brincar com eles revigora o interesse que uma vez provocaram.

A curiosidade suscita pela forma de brincar de outro, criança ou adulto

renova a brincadeira. Como admitem Bandet e Sarazanas, “os brinquedos

nunca morrem completamente, dado que basta um desejo ou uma

circunstância para ressuscitarem”.

Quaisquer que sejam as explicações para a força curativa dos

brinquedos e das brincadeiras, a mágica, que repassa o ato de brincar pode

ser explicada pelo fato de que, sendo a brincadeira universal e própria do

individuo saudável, ela facilita o crescimento e, portanto, a saúde. O hospital é

um lugar onde a doença e a morte é enfrentada, a partir de conhecimentos e

técnicas especializadas, a favor da saúde. Doença compreendida não como

oposição a saúde, mas como desestabilização e confronto como o incontrolável

e o inesperado, característicos da vida. Ora, a atividade lúdica baseia-se no

enfrentamento do inesperado, exigindo capacidade de enfrentá-lo e ensinando

como o fazes.

38

Deste modo, brincar no hospital ensina a enfrentar a doença,

promovendo a saúde, especialmente se a saúde for concebida como afirmação

da vida. A idéia de que privar uma criança de brincar significa priva-la do prazer

de viver. Então, propiciar o brincar equivale a reforçar seu prazer de viver.

Após a implantação da lei que obriga todos os hospitais que atendam

crianças a possuir brinquedoteca, as mesmas foram montadas ou construídas

normalmente na Enfermaria de Pediatria. Portanto, os pacientes internados na

UTI Pediátrica não têm acesso às mesmas, ficando excluídos de tão importante

beneficio, mas os brinquedos podem ser levados a eles no leito.

Montar uma brinquedoteca interna ou mesmo no baú onde possam ser

alocados brinquedos (devidamente higienizados) para várias idades é um meio

bastante fácil e viável para solucionar este problema, trazendo benefícios

inimagináveis as crianças e mesmo aos adolescentes. Pra evitar brigas entre

pacientes, a formulação de horários programados e a monitoragem das

atividades por profissional responsável é bem vinda.

A maioria das crianças, principalmente os lactentes e pré-escolares,

possui um brinquedo preferido. Após avaliação da Equipe Multidisciplinar, os

pais devem ser estimulados a trazê-lo para o convívio domiciliar para as

crianças que ficam internadas por longos períodos.

Para se criar um recurso como esse que a brinquedoteca é necessário,

determinar o local, os objetivos e as metas a serem atingidas, sendo a rotina de

funcionamento estabelecida em um segundo momento. São necessários: fazer

o levantamento bibliográfico a respeito dos objetivos pelos quais vão se

39fundamentar a criação desta Brinquedoteca; faze um mapeamento e estudo a

respeito do local e das condições físicas mais adequadas; fazer a observação e

a analise crítica do ambiente físico e do tipo de relações que se estabelecem

dentro do Hospital; demonstrar a função e sua importância a Direção do

hospital, e também para toda equipe que irão participar.

Como já relatado a Brinquedoteca é das técnicas usadas dentro do

Hospital, para auxiliar na recuperação dos pacientes. Um espaço criado para

as crianças, adolescentes, adultos ou idosos brincar e se relacionar livremente.

Evidencias tem sido comprovada nos tratamentos, tais como:

• Contribuir no fortalecimento do vínculo acompanhante-criança-

adolescente;

• Possibilitar o ato espontâneo e criativo de brincar pela criança ou pelo

adolescente e seu acompanhante;

• Amenizar o sofrimento e a ansiedade do paciente diante do sofrimento,

assim como de seus familiares.

A criança doente continua sendo criança, e para garantir seu equilíbrio e

desenvolvimento emocional, intelectual e motor, o brincar é essencial, o que

torna fundamental a existência de uma Brinquedoteca no Hospital, o lúdico

deve estar presente, acompanhada de uma boa equipe multidisciplinar.

40

Conclusão

A classe hospital é uma modalidade de ensino cuja oferta está

assegurada por lei, conforme demonstrado. No entanto, muitos alunos

internados ou em tratamento de saúde estão sendo privados desse direito.

Faz-se necessário uma política pública educacional voltada aos

interesses desse público, pois eles sofrem pelas patologias e pelo afastamento

de seus familiares e da escola. Os atendimentos pedagógicos oferecidos aos

alunos em hospitais ou até mesmo em domicílio devem ter o conhecimento da

sociedade, para os que eventualmente necessitarem se afastar da escola por

motivos de patologias possa usufruir desse beneficio.

O atendimento pedagógico hospitalar oferece recursos para a

aprendizagem e para o desenvolvimento de crianças e adolescentes

internados, minimizando as suas condições adversas potencializadas pela

doença ou pelo tratamento, tais como insegurança e baixa auto-estima.

Considerando os objetivos da presente pesquisa concluiu-se que a função do

pedagogo dentro das instituições hospitalares é mediar as relações entre a

escola e a criança ou o adolescente internado, ensinando e dando continuidade

aos conteúdos.

Assim, o professor deve proporcionar condições de qualidade de vida. A

atuação pedagógica em ambiente hospitalar aproveita qualquer experiência por

dolorosa que possa ser para enriquecer e mudar sofrimento em aprendizagem.

41 A atuação pedagógica é, antes de qualquer coisa, ajudar a criança ou

adulto enfermo hospitalizado para que o mesmo vivendo um período difícil,

consiga continuar se desenvolvendo em todos os aspectos, com maior

normalidade possível. Aprender com essas sensações e emoções

redimensiona o ensino e as ênfases cognitivas com que se opera o processo

ensino-aprendizagem.

Nesse contexto a Pedagogia Hospitalar pode contribuir para a

manutenção da reação do individuo, pois atua reforçando indiretamente a sua

auto-estima ao dar-lhe possibilidade de continuidade de desenvolvimento.

Alem do beneficio terapêutico, é evidente a importância da continuidade

da escolarização no ambiente hospitalar, sem prejuízos maiores a formação

escolar proposta, respeitando o individuo como cidadão em seu direito a

educação.

42

BIBLIOGRAFIA

1-BRASIL, 1997. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF: Ministério

da Justiça.

2-CECCIM, R. B. Crianças hospitalizadas: a atenção integral como uma escuta

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Editora da Universidade/ UFRS, 1997.

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hospitalar: promoção do desenvolvimento psíquico e cognitivo da criança

hospitalizada. Revista Temas sobre Desenvolvimento. São Paulo, v.7, jan./fev.

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Cortez, 6ª edição, 2002.

5-MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGGIATI, Margarida Maria Teixeira de

Freitas. Pedagogia Hospitalar. Curitiba: Champagnat, 2001. Pedagogia

Hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2006.

6- REBELLO, Lúcia Emilia Figueiredo de Sousa. Uma relação muito delicada:

43Educação e saúde na enfermaria do Núcleo de Estudos da saúde do

Adolescente do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Rio de Janeiro: UERJ.

Monografia de conclusão de graduação em Pedagogia, 2004.

7-TRUCHARTE, F A R; KNIJNIK, R B; SEBASTIANI, R W & CAMON, V A A.

Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 1994.

8-VIEGAS, Drauzio: Brinquedoteca Hospitalar. Isto é humanização. Rio de

Janeiro: Wak, 2008.

44

ÍNDICE

INTRODUÇÃO...................................................................................................08

PEDAGOGO EMPRESARIAL E SEU CAMPO DE TRABALHO.......................11

AS ESPECIFICIDADES DAS AÇÕES DO PEDAGOGO NO ÂMBITO

HOSPITALAR....................................................................................................19

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO PEDAGOGO HOSPITALAR PARA AS

CRIANÇAS HOSPITALIZADAS........................................................................30

CONCLUSÃO....................................................................................................40

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................42

ÍNDICE...............................................................................................................44