Larissa Adler Lomnitz

Apresentação

A professora Larissa Lomnitz é considerada uma das mais importantes pensadoras latino-americanas que trabalha na interdisciplinaridade fronteiriça das ciências exatas e sociais.

Foi pioneira na identificação do papel central das redes sociais nos estudos urbanos na década de 1970, vendo nos marginados das periferias um resultado da expansão industrial distorcionada característica do paradigma, que as comunidades populares transformavam em estratégias de sobrevivência, aproveitando e criando nichos nos interstícios do sistema tecnológico que as excluía. No centro nervoso dessas estratégias estavam as redes sociais construídas sobre o princípio da reciprocidade e os vínculos horizontais.Inquieta, em seguida passou a estudar com métodos antropológicos o mundo universitário mexicano, em particular a UNAM - uma das maiores universidades do planeta - e a carreira de pesquisador. Em uma estrutura universitária aparentemente ininteligível enquanto racionalidade formal, a professora Lomnitz identificou racionalidades subjacentes e aos vínculos horizontais foi necessário destacar o funcionamento dos grupos clientelísticos e a intermediação política vertical nos níveis acadêmico, profissional, político ideológico e político pragmático.Em seguida, a trajetória intelectual de Larissa Lomnitz abarcou outro projeto inovador, orientado para a análise do fenômeno da classe alta e das elites econômicas na América Latina cuja reprodução, em geral esteve vinculada à reprodução de empresas familiares dentro de um panorama institucional ou macro-político. Centrada na articulação e uso de estruturas ideológicas e simbólicas, a analise revelou a sutil relevância dos papéis femininos nas tramas empresariais onde se intercambiam informações e se consolidam alianças informais, apoiadas em uma estrutura familiar de gerações construída em torno às relações verticais. Essa estrutura permite criar e manipular relações preferenciais que podem ser transladas para âmbitos pragmáticos variados, combinando autoridade, compadrio, interdependência econômica e espírito corporativo.Seguindo por esse caminho, em meados da década de 1980, a pesquisadora e assistentes buscam aprofundar o sentido das redes informais de intercâmbio nos sistemas formais mexicanos e formular um modelo teórico de interpretação, concluindo que a própria formalização da sociedade é quem produz a informalidade graças às contradições e imperfeições dos sistemas. Em sistemas onde a lei e as garantias individuais constituem um espaço fictício, as relações de confiança e lealdade incorporadas em redes de laços horizontais e verticais permitem aos indivíduos construir um espaço inteligível e previsível, nos negócios, nos bairros populares, na universidade, na praticas profissionais e especialmente na política. O projeto seguinte de Larissa Lomnitz foi dirigido a explicar a criação do consenso em uma sociedade autoritária e desigual como a mexicana. Observando o fenômeno do apadrinhamento e compadrio, destacou que o domínio estatal não era independente da relatividade desse tipo de vínculos, pois o consenso descansava sobre uma complexa rede de alianças verticais e horizontais que requeria uma ideologia que a justificasse, nacionalista em termos abstratos, proclamadora da legitimidade do Partido Revolucionário Institucionalizado (PRI) em termos práticos. Nos últimos dez anos, a professora Lomnitz ampliou seu campo de pesquisas dedicando-se a estudar as classes médias no Chile a partir do professorado fortemente afetado pelas reformas neoliberais, revisitando e atualizando seu conceito

de compadrio e redes sociais, além de abordar o problema da transição democrática e o nacionalismo, comparando as sociedades chilena e mexicana. Em outros estudos vem explorando os impactos da globalização e dos ajustes econômicos, concomitantemente à liberalização política mexicana na estrutura corporativa do país e à derrota do PRI nas eleições de 2000 que desestabilizaram os consensos de base ao limitar e reduzir o poderio de um partido de estado monopolizador dos recursos clientelísticos.Em 30 anos de vida acadêmica, a obra de Larissa Lomnitz abriu caminhos inéditos para as ciências sociais latino-americanas e os estudos de organizações e gestão de redes. Partindo dos estudos sobre comunidades indígenas e camponesas avançou pesquisando e iluminando as análises sobre as classes médias, a cidade, a universidade e as profissões, o mundo dos grandes negócios, as redes familiares modernas, os partidos políticos, o espaço cultural das nações e os efeitos da globalização sobre as instituições e as organizações sociais. Ao rigor científico, ao conhecimento da teoria e da literatura empírica uniu a rara virtude da intuição, realizando uma produção acadêmica desmistificadora e crítica, sem retórica, desprovida de falsos radicalismos.