(apresentação1 [modo de compatibilidade]) anterior ao aparecimen-to da imprensa(1434)....

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06/05/2013 1 MARCOS - Início: 1189 (1198?) – Provável data da Cantiga da Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós. - Término: 1434 – Fernão Lopes é escolhido para guarda-mor da Torre do Tombo. A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós) No mundo nom me sei parelha, mentre me for como me vai, ca já moiro por vós – e ai! mia senhor branca e vermelha, quererdes que vos retraia quando vos eu vi em saia! Mau dia me levantei, quando vo enton non vi fea! A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós) No mundo não sei quem se compara a mim enquanto (minha vida) continuar assim pois morro por vós – e ai! minha senhora branca e (de face) rosada, quereis que eu vos retrate quando vos vi sem manto! em mau dia me levantei, pois então não vos vi feia! A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós) E mia senhor, dês aquel dia’ai! me foi a mi mui mal, e vós, filha de don Paai Moniz, e bem vos semelha d’haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d’alfaia nunca de vós houve nem hei valia d’ua correa. A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós) E, minha, desde aquele dia, ai! me foi (tuo) muito mal, e vós, filha de dom Paio Moniz, vos parece bem que eu deva receber de vós uma guarvaira pois eu, minha senhora, de presente nunca de vós recebi ou receberei nem mesmo algo tão simples como uma correia. A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós) Supõe-se que seja a mais antiga das composições conservadas nos cancioneiros; Dedicada à dama da Corte Maria Pais Ribeiro, amante de Dom Sancho I, apelidada de Ribeirinha;

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Page 1: (Apresentação1 [Modo de Compatibilidade]) anterior ao aparecimen-to da imprensa(1434). CANCIONEIROS:coletivodecantigas.Conjuntode cantigasmanuscritas. Recebem o nome da biblioteca

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MARCOS

- Início: 1189 (1198?) – Provável data da Cantiga da

Ribeirinha, de Paio Soares de Taveirós.

- Término: 1434 – Fernão Lopes é escolhido para guarda-mor da Torre do Tombo.

A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós)

No mundo nom me sei parelha,

mentre me for como me vai,

ca já moiro por vós – e ai!

mia senhor branca e vermelha,

quererdes que vos retraia

quando vos eu vi em saia!

Mau dia me levantei,

quando vo enton non vi fea!

A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós)

No mundo não sei quem se compara a mim

enquanto (minha vida) continuar assim

pois morro por vós – e ai!

minha senhora branca e (de face) rosada,

quereis que eu vos retrate

quando vos vi sem manto!

em mau dia me levantei,

pois então não vos vi feia!

A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós)

E mia senhor, dês aquel dia’ai!

me foi a mi mui mal,

e vós, filha de don Paai

Moniz, e bem vos semelha

d’haver eu por vós guarvaia,

pois eu, mia senhor, d’alfaia

nunca de vós houve nem hei

valia d’ua correa.

A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós)

E, minha, desde aquele dia, ai!

me foi (tuo) muito mal,

e vós, filha de dom Paio

Moniz, vos parece bem

que eu deva receber de vós uma guarvaira

pois eu, minha senhora, de presente

nunca de vós recebi ou receberei

nem mesmo algo tão simples como uma correia.

A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós)

� Supõe-se que seja a mais antiga das composições

conservadas nos cancioneiros;

� Dedicada à dama da Corte Maria Pais Ribeiro,

amante de Dom Sancho I, apelidada de Ribeirinha;

Page 2: (Apresentação1 [Modo de Compatibilidade]) anterior ao aparecimen-to da imprensa(1434). CANCIONEIROS:coletivodecantigas.Conjuntode cantigasmanuscritas. Recebem o nome da biblioteca

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A CANTIGA DA RIBEIRINHA (Paio Soares de Taveirós)

� Também chamada de "Cantiga de Guarva-ia"

(luxuoso manto de lã, provavelmente escarlate;

vestimenta real).

� Escrita mais ou menos 50 anos após a

Independência do Condado Portucalense dos Reinos

Católicos.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

FEUDALISMO

A POESIA NO PERÍODO TROVADORESCO

� CANTIGAS: textos escritos não para serem lidos

por um leitor solitário, eram poesias para serem

acompanhadas com melodia (daí o nome cantiga);

� IDIOMAS: galego-português, provençal.

REINOSCATÓLICOS

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INSTRUMENTOS MUSICAIS INSTRUMENTOS MUSICAIS

TROVADOR, SEGREL, JOGRAL e MENESTREL

TROVADOR: pessoa culta, fidalga, que não só

escrevia poesia, mas também era capaz de compor

música e apresentar seu trabalho, sem receber

qualquer recompensa material.

SEGREL: trovador profissional, geralmente um

fidalgo decaído, que ia de corte em corte, de castelo

em castelo, com o seu executante (o jogral).

TROVADOR, SEGREL, JOGRAL e MENESTREL

JOGRAL: designação que tanto poderia per-tencer ao

saltimbanco como ao ator mímico, ou, simplesmente,

ao compositor. Cantava nas festas e nos torneios as

poesias de trovadores e segréis em troca de

pagamento, às vezes, rivalizando com estes na

elaboração da letra e da música.

MENESTREL: músico ligado a determinada corte.

CANCIONEIROS

� TROVADORISMO: anterior ao aparecimen-to da

imprensa (1434).

� CANCIONEIROS: coletivo de cantigas. Conjunto de

cantigas manuscritas.

� Recebem o nome da biblioteca onde foram

encontrados.

CANCIONEIROS

� Cancioneiro da Ajuda ou do Real Colégio dos

Nobres – Compilado provavelmente no século XIII e

se encontra na Biblioteca do Palácio da Ajuda em

Lisboa. Contém 310* cantigas de amor em 88 folhas

de papel-per-gaminho;

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CANCIONEIROS

� Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa –

Também conhecido como Colocci- Brancuti, nome de

seus últimos possuidores, foi compilado

provavelmente no século XV. É o mais completo:

contém 1.647* cantigas e um Tratado de Poética;

� Cantigas de Santa Maria – reúne 426* com-

posições acompanhadas de respectiva música.

CANCIONEIROS

� Cancioneiro da Vati-cana

– encontrado na Biblioteca

do Vaticano, foi organizado

prova-velmente também

no século XV. Contém

1.205* cantigas. Reúne as

cantigas de D. Dinis.

D. Dinis, trovador e rei dePortugal

OS TIPOS DE CANTIGAS

LÍRICAS― de AMOR

― de AMIGO

SATÍRICAS― de ESCÁRNIO

― de MALDIZERSATÍRICAS

C. DE AMOR C. DE AMIGO

ORIGEMÉ de origem pro-vençal.

Teve origem no ter-ritório galaico-por-tuguês.

SUJEITOO trovador assu-me oeu-lírico masculino.

O trovador assu-me oeu-lírico fe-minino.

OBJETOFeminino: a dama, a"senhor".

Masculino: o amigo.

HOMEMNOBRE

TROVADORMULHERNOBRE

ENTENDA AS CANTIGAS DE AMOR

HOMEMNOBRE

TROVADORMULHERNOBRE

CAMPO-NESA

SENTIMENTOS PARECIDOS

ENTENDA AS CANTIGAS DE AMIGO

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C. DE AMOR C. DE AMIGO

CARACTERI-ZAÇÃO DO

SUJEITO

Cativo, coitado,enlouquecido, aflito,sofredor.

Louçã (formosa),velida (bela, gra-ciosa), loada (lou-vada), leda (ale-gre),fremosa (for-mosa).

CARACTERI-ZAÇÃO DO

OBJETO

Idealização da mu-lher pelas suasqualidades físicas,morais e sociais.

Mentiroso, traidor,fremoso (formoso).

C. DE AMOR C. DE AMIGO

EXPRESSÃO DOS SENTI-

MENTOS

Expressa a coita (dor,mágoa) do trovadorpor uma mulherinascessí-vel a quemrende vassalagemamo-rosa.

Expressa os senti-mentos de umamulher que sofre porsentir sauda-des doamigo (na-morado).

CENÁRIOA natureza e o am-biente da corte.

O campo (fonte,flores, aves) o mar, e acasa.

AS CANTIGAS DE AMOR E SUAS VARIEDADES

QUANTO AO ASSUNTO

� Temática pouco variada. A "fremosa se-nhor" é

enaltecida. O amor é um fatalismo que provoca

grande dor (coita), é o resultado é morrer de amor.

���� VASSALAGEM AMOROSA

AS CANTIGAS DE AMOR E SUAS VARIEDADES

QUANTO À FORMA

� Maestria: cantiga sem refrão ou estribilho, tem trêsou mais estrofes regulares, devendo submeter-se acertos formalismos estilísti-cos: dobre, atafinda, finda.

• DOBRE: Repetição da mesma palavra ou expressão em certoslugares da estrofe;• ATAFINDA: encadeamento de versos e de estrofes entre si atéao fim da cantiga: enjambement;• FINDA: Última estrofe de uma cantiga, de estrutura própria,mas ligada pela rima às demais, com uma função conclusiva.

AS CANTIGAS DE AMOR E SUAS VARIEDADES

QUANTO À FORMA

� Refrão: cantiga com estribilho ou refrão;

� Descordo ou desacordo: cantiga em que a

intranqüilidade de espírito era expressa pela variedade

métrica ou por uma diferente estrutura estrófica.

Pois naci nunca vi amorE ouço del sempre falar.Pero sei que me quer matarMais rogarei a mia senhorQue me mostr' aquel matadorOu que m'ampare del melhor.

LOVE SONG (Nuno Fernandes Torneol)

Legião Urbana V, 1991.

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AS CANTIGAS DE AMIGO E SUAS VARIEDADES

PARALELISMO - Princípio estrutural fundamentalda lírica galego-portuguesa, que resulta em di-versos processos estilísticos: repetição de pala-vras, de estruturas sintáticas e rítmicas e de con-ceitos. Na paralelística de esquema típico, emdísticos, o segundo verso do primeiro dístico é oprimeiro verso do terceiro; o segundo do segun-dodístico será o primeiro do quarto, etc.

ENO SAGRADO, EN VIGO ― Martim Codax

Eno sagrado, en Vigobaylava corpo velido:

Amor ey!

En Vigo, no sagrado,baylava corpo delgado:

Amor ey!

Baylava corpo velido,que nunca ouver' amigo:

Amor ey!

Baylava corpo delgado,que nunca ouver' amado:

Amor ey!

Que nunca ouver' amigo,ergas no sagrad', en Vigo:

Amor ey!

Que nunca ouver' amado,ergas en Vigo, no sagrado:

Amor ey!

A NATUREZA NAS CANTIGAS DE AMIGO

A natureza tem uma presença constante nas

cantigas de amigo. Como já observou um crítico, a

natureza não é descrita: ela envolve o quadro

amoroso e participa dele. Não há oposição entre o

sujeito amoroso e o mundo natural; o que há é

integração, como se vê numa cantiga em que a

moça dialoga com os pinheiros, perguntando por

seu amigo, ou

A NATUREZA NAS CANTIGAS DE AMIGO

noutra em que ela, desesperada com a demora do

amigo, conversa com o papagaio que levara consigo

para o encontro amoroso (o papagaio, aliás, que é

uma figura muito simpática, é quem anuncia à moça

desmaiada, no fim do poema, que o seu amigo

enfim chegara).

CANTIGAS DE ESCÁRNIO

� Cantiga de caráter satírico, em que o ataque se

processa indiretamente, por intermédio da ironia

e do sarcasmo.

� Criticava pessoas, costumes e acontecimentos,

sem revelar o nome de quem era visado.

� Cantiga de caráter satírico, em que o ataque se

processa diretamente.

� Criticava pessoas, costumes e acontecimentos,

citando o nome de quem era visado.

CANTIGAS DE MALDIZER