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«Trova do Vento que Passa»
Pergunto ao vento que passanotícias do meu país
e o vento cala a desgraçao vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levamtanto sonho à flor das águase os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoasai rios do meu país
minha pátria à flor das águaspara onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e dizao trevo de quatro folhasque morro por meu país.
(…) Manuel Alegre.
Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos vales socalcos searas serras atalhos veredas lezírias e praias claras um povo se debruçava
como um vime de tristeza sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país onde o pão era contado onde quem tinha a raiz tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro que dormia com o gado onde tossia o mineiro em Aljustrel ajustado onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.(…)
José Carlos Ary dos Santos
«As Portas que Abril Abriu»
A Rapariga do País de Abril
Habito o sol dentro de tidescubro a terra aprendo o mar
rio acima rio abaixo vou remandopor esse Tejo aberto no teu corpo.
E sou metade camponês metade marinheiroapascento meus sonhos iço as velassobre o teu corpo que de certo modo
é um país marítimo com árvores no meio.
Tu és meu vinho. Tu és meu pão.Guitarra e fruta. Melodia.
A mesma melodia destas noitesenlouquecidas pela brisa no País de Abril.
E eu procurava-te nas pontes da tristezacantava adivinhando-te cantava
quando o País de Abril se vestia de tie eu perguntava atónito quem eras.
Por ti cheguei ao longe aqui tão pertoe vi um chão puro: algarves de ternura.
Qaundo vieste tudo ficou certoe achei achando-te o País de Abril.
Manuel Alegre