apresentação - sampalam.com.br · igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos...

28
É com muita alegria que o Conselho Formativo da Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo - ANALAM apresenta a você, estimado associado, o segundo módulo do Kit de Formação que agrega os subsídios n os 06 a 10. A presente publicação é resultado da decisão tomada pela IX Assembleia Nacional que aconteceu em São Paulo - SP no mês de julho de 2007. A edição do primeiro módulo, bem como este, que agrega 5 volumes, busca valorizar e facilitar o processo formativo da ANALAM através de seus membros. Lembramos que o artigo nº 3 do Estatuto da Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo diz: “São fins da ANALAM: I - promover a formação de seus associados na linha do carisma e da pedagogia de São Leonardo Murialdo...”. Esta obrigação estatutária remete à ANALAM buscar, com muito afinco, a formação de seus membros para que estejam mais preparados para viver o caminho da santidade. O fruto deste esforço na formação é colhido através da ação apostólica junto às crianças, adolescentes e jovens empobrecidos de nossa sociedade. Desta forma, a ANALAM sente-se contribuindo na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. É preciso, segundo Murialdo, “fazer o bem. Fazer muito bem, mas fazê-lo bem”. Para isso, não estamos sozinhos, “estamos nas mãos de Deus, estamos em boas mãos”. Conselho Formativo da ANALAM Dezembro de 2008 Apresentação

Upload: nguyencong

Post on 27-Dec-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

É com muita alegria que o Conselho Formativo da

Associação Nacional dos Leigos Amigos de Murialdo -

ANALAM apresenta a você, estimado associado, o

segundo módulo do Kit de Formação que agrega os

subsídios nos 06 a 10.

A presente publicação é resultado da decisão tomada pela IX

Assembleia Nacional que aconteceu em São Paulo - SP no mês de julho

de 2007. A edição do primeiro módulo, bem como este, que agrega 5

volumes, busca valorizar e facilitar o processo formativo da ANALAM

através de seus membros.

Lembramos que o artigo nº 3 do Estatuto da Associação Nacional

dos Leigos Amigos de Murialdo diz: “São fins da ANALAM: I - promover

a formação de seus associados na linha do carisma e da pedagogia de São

Leonardo Murialdo...”.

Esta obrigação estatutária remete à ANALAM buscar, com muito

afinco, a formação de seus membros para que estejam mais preparados

para viver o caminho da santidade. O fruto deste esforço na formação é

colhido através da ação apostólica junto às crianças, adolescentes e jovens

empobrecidos de nossa sociedade. Desta forma, a ANALAM sente-se

contribuindo na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário.

É preciso, segundo Murialdo, “fazer o bem. Fazer muito bem, mas

fazê-lo bem”. Para isso, não estamos sozinhos, “estamos nas mãos de

Deus, estamos em boas mãos”.

Conselho Formativo da ANALAMDezembro de 2008

Apresentação

Page 2: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo
Page 3: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Sumário

Subsídio de Formação nº 6

Aprendendo a cuidar - Metodologia de Ação do Leigo Amigo

de Murialdo............................................................................................. 5

Subsídio de Formação nº 7

Família: Lugar de Construção ...................................................... 29

Subsídio de Formação nº 8

Encantamento e Ternura - o Amor de Deus .................................. 65

Subsídio de Formação nº 9

Ética e Solidariedade na Mística de Murialdo .................................. 105

Subsídio nº 10

Corações ao alto, pés no chão - grande é aquele que serve .......... 153

Page 4: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo
Page 5: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

APRENDENDO A CUIDAR

Metodologia de Ação do LeigoAmigo de Murialdo

Brasil, 2002

Subsídio de Formação nº 6

Associação Nacional dos Leigos Amigosde Murialdo - ANALAM

Page 6: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo
Page 7: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Sumário

Apresentação ......................................................................................... 9

Introdução ............................................................................................... 11

1. Porque Deus nos Ama ....................................................................... 121.1 Murialdo: Cuidar do Amor de Deus .......................................... 121.2 Cuidando da Relação com Deus ..............................................14

2. Porque o Segundo é o Semelhante ao Primeiro ....................................15

3. Compaixão com Cuidado ......................................................................183.1 A Compaixão .......................................................................... 193.2 O Cuidado .................................................................................20

4. Cuidando das Crianças, Adolescentes e Jovens .................................... 22a) Pedagogia da Presença ............................................................. 23b) Pedagogia da Esperança ...............................................................24c) Pedagogia da Ternura ................................................................ 24d) Resiliência ............................................................................... 25

Conclusão .............................................................................................. 27

Page 8: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo
Page 9: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Apresentação

A Associação Nacional dos Leigos Amigos deMurialdo - ANALAM tem, entre seus objetivos, ocompromisso da formação dos membros. Buscandoresponder a este desafio com os serviços do ConselhoFormativo, foi criado o Kit de Formação, composto decadernos que abordam temas específicos do carismae da missão. A Diretoria e o Conselho Formativo da

ANALAM percebem a necessidade de oferecer um material sobre ocuidado com crianças e adolescentes.

Os leigos são cristãos que recebem uma missão específica dentroda Igreja. Batizados, já recebem um convite ao cuidado. São chamados acuidar da própria vocação e da vocação dos irmãos. A filiação divina,iniciativa amorosa do Pai, convida o leigo a cuidar do Reino de Deus.

“O apostolado dos leigos é a participação na própria missãosalvífica da Igreja. A este apostolado todos são destinados pelopróprio Senhor através do batismo e da confirmação.” (LúmenGentium, 83)

“A todos os leigos, portanto, incumbe o preclaro ônus detrabalhar para que o plano divino de salvação atinja sempre maisa todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares daterra. Conseqüentemente, sejam-lhes dadas amplas oportunidadespara que também eles participem ativamente na obra salvífica daIgreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.”(Lúmen Gentium, 85)

Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo estende-se atodos os seus filhos. Deixa de ser tarefa específica de alguns poucospara tornar-se missão do povo de Deus. Cada um, de acordo com aspróprias capacidades ou dons recebidos, é chamado a dar suacontribuição.

9

Page 10: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

A busca da justiça, o espírito de solidariedade e a compaixão com ooutro são experiências interiores que, aliadas à dimensão da fé, levam ocristão ao compromisso com a vida, especialmente descuidada. Tal qualo pastor que cuida das ovelhas e é capaz de correr o risco de perder asnoventa e nove que estão bem para cuidar daquela que se perdeu, assim

é a vocação do leigo.

Para Murialdo, os leigos exerciam umpapel de fundamental importância noapostolado de concretização da propostado Reino de Deus.

Para nós, do Brasil, o Reino de Deuscomeça a acontecer, especialmente,quando as crianças não tiverem quemorrer tão cedo, quando não precisaremtrabalhar para o sustento seu e de suasfamílias, quando não forem vítimas deviolência e abusos, quando o mundo adulto

for capaz de se deixar converter por elas. Então, estaremos inaugurandoum novo tempo: aquele do cuidado absoluto com a vida. E o Reino deDeus estará não só presente, como também, visível entre nós.

Neste sentido é que nós, os Leigos Amigos de Murialdo,acompanhando as necessidades da realidade brasileira e sua próprialegislação, dedicamos nosso esforço e voltamos nosso coração paracuidar das crianças, adolescentes e jovens empobrecidos e em situaçãode risco. Fazemos isso, unindo-nos aos Josefinos de Murialdo eMurialdinas de São José, inspirados na pedagogia e espiritualidade destegrande Santo.

Conselho Formativo da ANALAM

10

Page 11: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Introdução

Crianças e adolescentes, a partir daConstituição Federal Brasileira, de 1998, comseu artigo 227, ganham o reconhecimentooficial da prioridade absoluta brasileira.Depois, com o advento do Estatuto da Criançae do Adolescente, lei federal 8069/90, o paísconsolida esta diretriz.

Dizer que algo ou alguém é a prioridadeabsoluta significa reconhecer nele um valor euma preciosidade inconfundíveis. Significatambém, afirmar que no momento dediscussão de prioridades para um país,crianças e adolescentes não entrarão no roldas disputas de prioridades temáticas, porquejá são a absoluta. Crianças e adolescentesestão acima de qualquer outro tema. Até poderá haver algo mais urgente, masnunca poderá haver algo mais importante que elas.

Para São Leonardo Murialdo, as crianças, os adolescentes e os jovensforam a razão da existência. Via ali, preferencialmente entre os filhos dos pobres,um imenso campo de apostolado. Eram aquilo que a sociedade possuía demais precioso. Para tanto, se fazia necessário cuidar bem dessa parcela dapopulação, porque mais vulnerável e necessitada de ajuda.

Os Leigos Amigos de Murialdo, impulsionados pela fé, vêem-secomprometidos com a causa dos direitos das crianças e adolescentesempobrecidos. E dizem que isto nasce qual paixão muito forte. Mas o sentimentonão é tudo. O desejo de cuidado exige também jeito e opção.

Como cuidar das crianças e adolescentes? Que inspirações e queindicativos encontramos em São Leonardo Murialdo? Quais são as exigênciasda pedagogia e qual sua relação com a afetividade e com o coração? Comoexercer a pedagogia do amor e como ter o próprio coração educado para educaro coração? É ao redor destas questões que queremos ir aperfeiçoando a paixãoe o cuidado com nossas crianças e adolescentes.

11

Page 12: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

1. PORQUE É QUE DEUS NOS AMA

“Quando Israel era um menino, euo amei, e do Egito chamei meu filho. Masquanto mais eu os chamava, tanto maisse afastavam de mim. Sacrificavam aosbaals e queimavam incenso aos ídolos.Fui eu, contudo, quem ensinou Efraim acaminhar; eu os tomei nos braços, masnão reconheceram que eu cuidava deles!Com vínculos humanos eu os atraía, comlaços de amor; eu era para eles comoquem levanta uma criancinha a seurosto, eu me inclinava para ele e o alimentava.” (Os 11, 1-4)

1.1 Murialdo: cuidar do Amor de Deus

Se alguém quisesse procurar pelo núcleo central da espiritualidadede Murialdo, com certeza, teria que buscar compreender a descobertaque faz do amor de Deus. Ali, ele demonstra profunda convicção de sesentir amado e solicitado a amar a Deus e aos irmãos com o mesmo amorinfinito, atual, pessoal, terno e misericordioso. Amar crianças eadolescentes que estejam vivendo em situação de risco é conseqüênciada experiência pessoal de se sentir cuidado por Deus.

O amor de Deus é:

Infinito: porque Deus se doa a cada ser humano em sua totalidade,sem reservas. A encarnação de seu Filho não será prova disto?

Atual: porque esse amor opera em qualquer situação de tempo oulugar, independente de nossos comportamentos. Mas é pura iniciativadivina, que não depende dos nossos merecimentos.

Pessoal: porque cada um de nós, cada pessoa, é para Deus umaobra prima da criação, irrepetível, e assim permanece, mesmo quandoem pecado.

Misericordioso: porque o coração de Deus se inclina ao coraçãoda pessoa para ser afago, carinho, compaixão e cuidado.

12

Page 13: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Terno: porque Deus se inclina para admirar e cuidar assim comoum pai ou uma mãe que se enchem de contemplação frente ao filho quegeraram.

Murialdo estava convencido de que podia e devia retribuir ao amorde Deus, buscando fazê-lo com a mesma intensidade, sem economizarenergias. Tais convicções explicam o grande otimismo e a serena confiançade sua espiritualidade. Nestas convicções se pode entender seu espíritode humildade e doação total à oração e ao apostolado.

Contudo, surge sempre uma dúvida: “Como é possível que nós, emnossas limitações, defeitos e pecados, possamos amar a Deus com aquelemesmo amor com que Deus nos ama? Aqui é que Murialdo percebeu queé possível amar com amor infinito, apesar da sua finitude; com amor atual,apesar dos percalços dos momentos; com amor pessoal, apesar dosegoísmos...Trata-se de oferecer todo o nosso finito, todos os instantesda vida, todo o ser... sem reservas de tempo, de lugar e de forças. Trata-se de colocar toda a nossa pequenez a serviço do criador, semcondicionamentos.

Nesta espiritualidade as ações perdem a idéia de sacrifício paradarem lugar à alegria, à realização e ao prazer. Assim, a pessoa amadanão mede esforços para dar respostas de amor. A admiração amorosapassa a ser muito maior do que qualquer dificuldade e a esperança desuperação é sempre muito forte e convincente.

A ação apostólica de Murialdo junto às crianças e adolescentes tem,com certeza, uma grande estrutura espiritual. Ali estará a fundamentaçãopara uma intensa atividade social. Se por um lado é verdade que nãoexiste a fé sem obras, conforme afirma São Tiago (Tg, 2,20), para Murialdonão existem as obras sem a fé. Porque as obras nascem da resposta aoamor de Deus.

“A dimensão de infinito no amor aos irmãos, traduzida emtermos de resposta humana, significou, para Murialdo, a dedicaçãosem condições ao apostolado.

A forma mais alta, infinita, de amar ao próximo foi para eleo apostolado, no qual viveu com intensidade a dimensão de infinitono amor fraterno.

O apostolado foi na vida de Murialdo preocupação absoluta,seja na maneira de se dedicar a ele, seja nos seus conteúdosessenciais. Maneira infinita, isto é, sem condições. Conteúdoinfinito, isto é, Deus, o bem infinito do próximo.” (Salvati, Pe.Roberto. Espiritualidade de Murialdo. p. 43)

13

Page 14: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

1.2 Cuidando da relação com Deus

Um desafio que parece sempre acompanhar os seres humanos é ode saber cuidar da alma inteira: os sentimentos, os sonhos, os desejos,as paixões, a imaginação, as utopias e as visões que guardamos nocoração.

Esse mesmo ser humano não pode deixar de se perguntar. Existemperguntas que se apresentam com muita freqüência: Quem sou eu? Comoé e para que estou neste mundo? Quem se esconde atrás deste universo?O que se pode esperar além da vida e da morte? Leonardo Boff diz queessas perguntas são próprias dos seres portadores de espírito. Ele afirmaque espírito é aquele momento do ser humano, corpo-alma, em que eleescuta estas interrogações e procura dar-lhes uma resposta. Como serfalante e interrogante é um ser espiritual. (Boff, Leonardo. Saber Cuidar.Ed. Vozes, p 150)

Outras vezes, diante de grandezas imensas como a do oceano,ficamos fascinados e nos sentimos frágeis, irrompendo em nós o respeitosilencioso. No momento de viver o fascínio do amor, na experiência desentir-se abraçado, a pessoa amada é transformada numa divindade e adificuldade se transforma em ocupação prazerosa. Ao encontrar uma mãoque suplica pela comida, a compaixão e a generosidade mexem com agente. Todas essas experiências são expressão do espírito que nós somos.

Mas existe uma outra experiência que é vivenciada desde os iníciosda humanidade: aquela do Divino na vida e na interioridade humana.Atrás de toda a natureza existe um criador. Impossível deixar de reconheceristo. A este ser muitos nomes têm sido atribuídos. Alguns simplesmentelhe dão o nome de Deus. Ele é percebido como algo que está no interiordas pessoas, que as acompanha e as ajuda a distinguir o bem e o mal. Éum elã que faz com que a vida desabroche, cresça, supere dificuldades,alimente esperanças e se realizem.

A espiritualidade é fruto da abertura do ser humano ao Divino. Muitospensadores têm afirmado que sem o cultivo desse espaço espiritual, oser humano se sentirá frustrado; bem como, que o Divino lhe podeproporcionar luz, serenidade e chances de felicidade.

14

Page 15: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Assim, cuidar do espírito é cuidar daquilo que dá rumo à vida,daquilo que é capaz de cuidar da esperança e do sentido da própriavida. Cuidar de Deus, garantindo um espaço na própria existência,significa permitir seu constante nascer e renascer no coração. Isto exigealimento na contemplação e na oração para que tal espiritualidade nuncase apague.

2. POIS O SEGUNDO É SEMELHANTE AO PRIMEIRO

“Os fariseus, ouvindo que ele fechara a boca dos saduceus,reuniram-se em grupo e um deles, a fim de pô-lo à prova,perguntou-lhe: Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? Elerespondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, detoda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e oprimeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amaráso teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentosdependem toda a Lei e os profetas.” (Lc 22, 34-40)

O fenômeno humanodos milhões de pobres e excluídosé um dos maiores desafios, não sópara o campo da ética-política,como também para a ética-cristã.Fruto da forma injusta de como temse organizado a sociedade, afantástica produção de serviços ebens materiais distribuída de formadesumana jogou dois terços da

humanidade em situação de grande pobreza. Este fato revela que o serhumano sabe cuidar muito pouco de seu semelhante.

A solidariedade vem assumindo um rosto novo. Segundo D. PedroCasaldáliga, ela é o “nome sócio-político-econômico da caridade”.(Solidariedade, Caminho da Paz. Cáritas Brasileira. Brasília, 1999, p 13)Assim como a Bíblia afirma que é mentiroso quem diz que ama a Deus enão ama seu próximo, pode-se dizer que a falta de solidariedade tornavazia qualquer prática evangelizadora. Torna-se impossível amar a Deussem amar o irmão, onde Deus se encontra presente (cf 1Jo 4, 20). O

15

Page 16: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

texto do evangelho de Mateus (25, 31-46) é muito elucidativo sobre aforma como os seres humanos serão julgados: de acordo com seus atosde solidariedade para com os excluídos. Podemos dizer, então, que asolidariedade é a vivência em atos quotidianos do dom divino da caridade.Saber cuidar do outro que está “ferido” pela fome, pelo esquecimento,pela rua, pelo descaso, pela indiferença... torna-se tão importante quantosaber cuidar da relação com Deus através da oração, da eucaristia, dogrupo de oração, do terço...

Na sinagoga Jesus de Nazaré declarou de forma oficial sua opçãode anunciador do caminho para a realização do projeto do Pai:

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiupara evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissãoaos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir aliberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor...Hoje realizou-se esta Escritura que acabastes de ouvir.” (Lc 4, 14-22)

A opção cristã é pelos pobres e não pela sua pobreza. Aqui adimensão do cuidado humano passa pelo compromisso dos oprimidos ede seus aliados com a construção de um novo tipo de sociedade, capazde superar a exploração do ser humano e a espoliação da terra. Trata-sede cultivar o cuidado e o comprometimento com a inalienável dignidadeda vida de todos os seres humanos.

A história humana precisa ser vista com os olhos e o coraçãoapaixonado de Deus-Pai. Existem, de um lado, aqueles que preferemfazer da Bíblia e da fé uma interpretação espiritualizada, isto é, deslocadada vida concreta. Acusam outros de politizar demais a fé. Porém, a boanotícia hoje, a ser anunciada, se liga à disposição de dar a vida pelaspessoas assumidas como próximo, pelas pessoas amadas. O outro queé próximo tem a identidade daquele que se encontra com o rostodesfigurado, vítima da exclusão.

As pessoas humanas são seres de relação. Estas relações sãoilimitadas. O eu e o tu não são qualquer coisa indefinida. São sereshumanos com uma história e um olhar. O rosto do outro torna impossívela diferença. Especialmente o rosto do empobrecido é uma provocação.Nasce daí a exigência de dar respostas, a responsabilidade.

16

Page 17: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Cuidar do outro é estabelecer uma dialogação, ação de diálogoeu-tu que significa, antes de tudo, escuta. Murialdo usa uma expressãomuito profunda para sintetizar a justificativa do porquê cuidar do outroem sua originalidade pessoal: “obra-prima das mãos de Deus”, “imagensde Deus”, “filhos de Deus”.

Quando se diz que uma obra é “prima”, afirma-se que ela não serepete e que é única em seu gênero. Também, que ela não é inferior anenhuma das outras, mesmo quando parece estar deteriorada. Porqueobra-prima deve ser sempre estimada, amada e cuidada. Não restadúvidas que uma obra-prima desperta comoção, encanto, admiração egera afeto e ternura.

Murialdo deixou, nos escritos, compromissos importantes queexpressam muito bem o sentimento do coração no cuidado com as criançase os adolescentes:

“Eis que já chegou a hora de nos separar, meus jovens muitoqueridos. Oh! Se vocês soubessem quanto me custa esta separação!Eu vos tinha já dedicado tanto afeto! E depois era tão lindo, coisatão grata reunir-se cada dia juntos aqui na casa de Deus,aconchegar-se ao redor do trono terreno de Jesus, e aqui consolar-nos com as esperanças imortais.” (Escritos, Ps. 229/1)

“Meus queridos filhos, meus queridos amigos. Permitamque use estas carinhosas expressões: os quarenta e mais anos emque lhes estou prestando minha insignificante ação, me autorizamchamá-los com o afável título de filhos à maioria de vocês, a quemverdadeiramente amei como filhos.” (Escritos, Ps. 153/1)

“O meu coração com seus mais vivos afetos se divide entre aminha família natural e a adotiva que são vocês.” (Escritos, Ps.1175/1)

“Não devemos nos cansar, desanimar, desesperar tãofacilmente. Não se deve esquecer que reunindo abandonadosdevemos saber que encontraremos jovens totalmente ignorantes,mal-educados, e com todos os vícios, coisas que vêm por causado abandono... Sua miséria moral deve comover-nos mais doque a material, e ao invés de irritar-nos cedo demais a paciênciae a esperança, deve-nos animar a trabalhar com mais entusiasmoe cheios de compaixão com estes pobres infelizes.” (Escritos, Ps.387)

“Os pobres, os meninos e, enfim, os pecadores eram a pupilados olhos de Jesus Cristo!” (Escritos, Ps. 387)

17

Page 18: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

3. COMPAIXÃO COM CUIDADO

“Pobres e abandonados; eis os dois requisitos que constituemum jovem como um dos nossos. E quanto mais pobre eabandonado, tanto mais é dos nossos. Como é bela a missão decuidar da educação dos pobres!

Os nossos jovens são pobres e, acrescentemos ainda, nadatêm de inocentes! Não nos esqueçamos de que, recolhendomarginalizados, encontraremos jovens ignorantes, selvagens,viciados...

Mas estas características, embora não amáveis em si, devemtorná-los para nós mais queridos.” (São Leonardo Murialdo)

Segundo Leonardo Boff, foi especialmente a partir da década de80, com a subida ao poder de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, quese instaurou no mundo o chamado “fundamentalismo do mercado”. Istoé, o mercado passou a ser o centro de tudo; e nele está a solução paratudo. Sua lógica é a da competição e vence o que já é mais forte. Acooperação não encontra espaço de atuação. Os valores individualistasdo mercado se sobrepõem aos valores sociais da comunidade. Hojesabemos que uma economia de mercado é tudo, menos uma comunidade.Esta centralidade no mercado conferiu centralidade ao capital financeiroque vive da especulação mundial, arruinando economias inteiras de paísesjá pobres.

Para Boff, a globalização do mercado capitalista provocou uma megacentralização de riquezas. Existe uma enorme dor estampada nos filhosde Deus, provocada pela instabilidade das economias nacionais e quese expressa no desemprego, na fome, nas enfermidades... Não é possívelacreditar na paz e na justiça quando 20% da humanidade detém 84%dos meios de vida. Não se pode aceitar passivamente como “normal” ofato de que um bilhão de pessoas vivam em extrema pobreza e tolerarque 14 milhões de crianças morram antes de completar cinco dias deexistência (Princípio de Compaixão e Cuidado, Ed. Vozes, Petrópolis, 2ªEdição, 2001, p 8).

Há uma situação de barbárie com o ser humano. Resultado este dafalta de cuidado com a própria espécie. Há um apelo forte que evoca acompaixão.

18

Page 19: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

3.1 A Compaixão

Alguns estudiososacreditam que a com-paixão faz parte daessência humana. Isto é,não existe ser humanosem compaixão. Enrai-zada na natureza humanaela é uma atitude fun-damental que gera atoscompassivos. Então, émais que um ato ou conjunto de atos de profunda humanidade em direçãodo outro; é atitude.

A modernidade, e de um modo geral em nosso cultura ocidental,acreditou na capacidade humana centrada na razão. Desenvolveu ologocentrismo. Ou seja, a fundamentação do desenvolvimento humanona lógica racional, na razão. A razão era capaz de organizar tudo e sótinha sentido aquilo que a razão conseguia legitimar. Esta razão, ainstrumental-analítica, assumiu a soberania sobre todos os outros tiposde razão, como a razão emocional. Os sentimentos, a subjetividade, aternura, a bondade, a sensibilidade e a ética se viram recalcadas. A razãoinstrumental-analítica exerceu uma verdadeira ditadura sobre as demaisdimensões da pessoa humana. Daí surgiu a razão produtivista, aquelaque devastou a humanidade com armas e guerras e feriu gravemente anatureza e o cosmos.

Murialdo já afirmava:“É maldito o trabalho que destrói a vida em sua fraqueza,

que destrói a juventude em flor. É maldito o trabalho que produz riqueza criando miséria,

que dá alma à máquina e a tira do homem.”

Acreditamos que nos seres humanos exista mais que a razão fria,objetivista e calculadora, que se realiza por meio das máquinas inteligentes.A marca das ações humanas depende muito da sua capacidade de

139

Page 20: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

emocionar-se, de afetar-se e de sentir-se afetado. As máquinas, por maisperfeitas que possam parecer, não possuem a capacidade de compadecer-se de um companheiro, de pôr a mão sobre o ombro do outro, de ouvi-loe emocionar-se com ele. Elas não possuem coração. Mas nós, os humanos,temos a capacidade da compaixão porque podemos sentir o coração.

Para Murialdo:“A amizade é o eco do divino sobre a terra, e o testemunho

mais certo da presença de Deus e de sua graça na vida do homem.É um grande dom de Deus ter um belo caráter, ter um bom

coração.E tem um bom coração quem é de coração afetuoso, terno,

que sabe querer bem, que é gentil com os outros e sabe ajudá-los.”

O coração, onde tem origem a compaixão, é quem assume aresponsabilidade pelo sentido da vida. A vida possui sentido ou significadoquando é capaz de construir laços. Os laços fazem com que as pessoassejam portadoras de valor. Alguém que cria laços afetivos se enche decuidado com aquilo que lhe tem significado. A vida não se define pelotrabalho, mas principalmente pelo que é próprio do humano: a compaixão,o cuidado e a amorosidade.

Se para a filosofia, e de modo especial para Descartes - tinhasentido a máxima: “cogito, ergo sum” (penso, logo existo) - hoje oshumanistas se voltam para esta outra verdade: “sentio, ergo sum” (sinto,logo existo). Se outrora era a inteligência racional que definia a identidadedo ser humano, agora Daniel Goleman diz que a inteligência emocional éque garante a sua dinâmica básica. A reflexão contemporânea redescobrea importância e a centralidade da compaixão, do sentimento, do cuidadoe da ternura como necessidade de equilibrar a racionalidade.

3.2 O Cuidado

A pessoa humana é um ser no mundo com os outros. Seu existir é,ao mesmo tempo, um co-existir. Ela é relação. E, porque um ser de relações,uma das suas atitudes básicas com o outro é o cuidado. Cuidado que elaguardará com todos os seres que estão ao seu redor.

20

Page 21: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

O cuidado, é uma atitude de atenção para com o outro, de dedicaçãoa ele, de preocupação e inquietude pelo mesmo. Leonardo Boff diz que apessoa que tem cuidado sempre sente-se afetada e afetivamente ligadaao outro (Princípio de Compaixão e Cuidado, Ed. Vozes, Petrópolis, 2ªEdição, 2001, p 14). Pode-se dizer que o estar no mundo com os outrosé o ser cuidado em si mesmo. Dessa forma, é do cuidado que surge acompaixão. Se a com-paixão é a capacidade de com-partilhar a própriapaixão com a paixão do outro então, aparece aí uma exigência de saídade si mesmo. Sair de si, de seu universo, para entrar no universo dooutro é buscar cuidar dele. Esse cuidado é construção de solidariedade.

O presente modo de ser pessoa humana no mundo acarreta umaforte vontade de cuidar do outro, de ser para ele dedicação a fim dealiviar-lhe a dor e o sofrimento. O cuidado aqui é a ajuda para fazer comque o outro se erga do chão, e caminhe... A compaixão é o cuidado coma vida. Significa renúnciar a qualquer exercício de poder sobre a vida dooutro.

O cuidado pode significar esse “não machucar”. É a atitude radicalde não violência que procura evitar dor e constrangimento ao outro. Ecomo devem ser tratadas as crianças: com extremo cuidado, expressãomáxima de carinho e compaixão.

Pode-se afirmar ainda que o cuidado é o jeito com que se buscaconstruir a comunhão com os que sofrem. Começando por eles é que sepode chegar a uma sociedade realmente integradora e solidária.

Murialdo deixa estacerteza assim expressa:

“O leigo, de qualquercategoria social, pode ser umapóstolo não menos que umsacerdote, e para alguns ambientes,mais do que o sacerdote.

Vocês, leigos, sobretudoserão os missionários do nossoséculo... aumentando a caridadeativa em benefício da elevação das

classes operárias que vão crescendo na periferia das cidades...Ouvindo, interessando-se, apresentando-se para trabalhar

como amigos e não superiores, não como patrões, como senhores,pior ainda, como censores da sua pobreza...”

21

Page 22: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

4. CUIDANDO DAS CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS

O trabalho com crianças,adolescentes e jovens empo-brecidos, ou excluídos, para osmembros da Família de SãoLeonardo Murialdo, deve ser umaressonância do cuidado. Res-sonância porque o cuidado, quena espiritualidade de Murialdoparte do pressuposto de queDeus nos ama e perpassa todaa existência humana. As pessoasque estão nesta grande Famíliadevem ser pessoas de cuidado.As atitudes serão ressonâncias deste cuidado de que estão impregnadas.E isto, no cuidado com as crianças, adolescentes e jovens, tem importânciaainda mais fundamental quando falamos de princípios pedagógicos quese enraízam na educação do coração.

“Nós temos o cuidado daquilo que há de mais precioso nasociedade, isto é as crianças. E o que elas tem de mais preciosonão é tanto a conduta, a tarefa feita... é o coração. Importa educaro coração.” (São Leonardo Murialdo)

Pode-se, pois, dizer que a metodologia da ação do Leigo Amigo deMurialdo se expressa como um jeito próprio de cuidar das crianças, dosadolescentes e jovens. Esse jeito é uma ressonância do cuidado queestá presente na vida do próprio leigo.

Se falarmos das convicções da fé que encontram raízes no amordo Pai, então a dedicação e o cuidado para com os pequenos se redobrade empenho.

“Jesus, porém, conhecendo o pensamento de seus corações,tomou uma criança, colocou-a a seu lado e disse-lhes: Aquele quereceber uma criança como esta por causa do meu nome, recebe amim, e aquele que me receber recebe aquele que me enviou; comefeito, aquele que no vosso meio for o menor, esse será grande.”(Lc 9,46-48)

22

Page 23: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Assim, o cuidado com as crianças, adolescentes e jovens impulsionaos membros da Família de São Leonardo Murialdo a assumirem um rostopróprio nesta relação. E existem propostas pedagógicas que auxiliam noexercício deste cuidado. Vejamos alguns exemplos:

a) Pedagogia da Presença

A ação pedagógica com crianças, adolescentes e jovens temsignificado especialmente quando ela é capaz de reconhecer a presençado outro. Trata-se de abrir possibilidades para que o outro entre no mundocomo pessoa ativa. Reconhecer a existência do outro exige atenção ecuidado. Quem cuida de alguém manifesta carinho e afeição. Perceber ooutro é provocar a geração de espaços na própria vida, para que o outropasse a fazer parte importante de nossa existência.

Esta ação pedagógica que trabalha a importância da presença dooutro é uma ação de ordem pessoal. A ação de ordem pessoal é aquelaque assume e faz o outro existir. O outro tem sua presença reconhecida.Com ele, o educador estabelece diálogo. O diálogo é a chave. Ouvir efalar com alguém é diferente de só falar com ele. Falar pode ser umaforma de não ouvir. E não ouvir é não reconhecer a presença do outro.Quando o outro tem a palavra, ela, a palavra, passa a ter-lhe significado.Isto põe a pessoa humana em primeiro lugar e ajuda a desenvolver asegurança e auto-estima. Uma pessoa que se sente amada, sente-setambém estimulada a dar passos, a buscar e a conquistar. O amor é aterapia da esperança e a percepção da presença do outro é manifestaçãode amor.

Crianças, adolescentes e jovens empobrecidos quase nunca tiveramo reconhecimento da existência de suas pessoas. Vive-se numa sociedadeque valoriza estruturas e pessoas classificadas de acordo com os padrõesprodutivos e consumistas. Nossas crianças, adolescentes e jovens têmsuas pessoas negadas por tal sociedade estruturada e estabelecida emmodelos de individualismo, competição e exclusão. Cuidar bem deles épercebê-los. É parar para vê-los e para escutá-los. É fazer com quepercebam a nossa presença porque significativa para eles e,especialmente, que vejam que percebemos a presença deles. E que, aonotarem isto, se sintam felizes e motivados ao desafio de viver.

A ação dos Leigos Amigos de Murialdo é a ação de ir em busca daovelha perdida. Ser presença na vida destas pessoas é ser reabilitaçãopública e efetiva de rejeitados.

23

Page 24: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

b) Pedagogia da Esperança

A esperança é o ato de esperar comoexpressão de um desejo carregado deconfiança em alcançar o que se pretende.

A esperança, na educação, temrelação direta com a pedagogia libertadora.Trata-se de uma abertura às pessoas e deum ir ao encontro do outro.

As pessoas humanas são seres deprojetos. Crianças, adolescentes e jovenstêm sonhos, desejos e utopias. Precisam docuidado para que tenham capacidade desair da facticidade, das adversidades e se projetem para a frente.

As utopias e os sonhos são provocadores do novo. Ajudam nacriação e na recriação de perspectivas de vida. Estão entrelaçados comum bom projeto de vida. Os sonhos ajudam a alimentar o otimismo. Nainconformidade com dados da realidade, o otimista passa a acreditar napossibilidade da mudança e de alternativas. O otimista é também alguémque encontra, com facilidade, aliados que se aproximam e se deixamcontagiar nessa busca incansável das possibilidades.

A presença adulta junto às crianças, adolescentes e jovens deveser carregada de otimismo, da alegria da presença e da segurança dospassos. Não é possível trabalhar a dimensão da esperança no pessimismo,na amargura ou no mau humor.

Atuar na perspectiva da esperança é trabalhar no risco, porque abusca pelo novo ou pela mudança traz conflitos e inquietações. Mas énestas situações que a vida ganha significado e se torna atraente. Faz-se necessário fugir da quotidianiedade, do tédio e da mesmice.

c) Pedagogia da Ternura

A ternura corresponde a uma experiência de amor carregado deafeto e de aconchego; amor que se faz com paixão e compaixão. Expressaum enamoramento quase que cego pelo outro.

24

Page 25: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

A Bíblia apresenta um rosto terno de Deus pelos seus filhos. Naternura do amor de Deus aparecem três características exigentes destapedagogia:

- Identidade: quem sou eu para ti;

- Fidelidade: como garantia de amor, presença no risco, e nasconseqüências do amor;

- Solidariedade: para com o outro.

Na sua pedagogia conosco, Deus se apresenta como alguém quetem paixão pelas pessoas. Seu coração o atrai sempre em direção daspessoas e, de modo especial, as que se encontram mais esquecidas. Aspessoas que vivenciam esta ternura conseguem dar respostas de ternuraaos outros. Se tornam como uma manifestação da carícia divina pelaspessoas.

A ternura dedica atenção para a escuta. Ela acontece com a trocado epicentro; o outro é a motivação para atenção.

A ternura é expressão de cuidado, porque ela é, basicamente, sairde si mesmo para olhar o outro. Olhar o outro é entrar em sintonia comele para comungar com suas necessidades.

A ternura é para quem é muito forte e só é possível exercê-la quemse possui a si mesmo. Porque só se possuindo, tendo o próprio coraçãoeducado, sentindo-se amado, é que a pessoa consegue sair de si paraencontrar o outro. Essa pedagogia é um cuidado que sabe conviver nasdiferenças sem dramatizações.

d) Resiliência

A psicologia moderna tem trabalhado o conceito de resiliência paradesignar a capacidade que uma pessoa tem para fazer bem as coisas,apesar das condições adversas de sua vida.

A resiliência se manifesta como uma energia positiva presente noindivíduo que, mesmo passando por muitas dificuldades, o auxilia a manterativo o desenvolvimento pessoal.

É verdade que alguns meninos e meninas, mesmo quando seencontram em situações de alto risco, podem manejar suficientementeseus problemas, para superá-los e alcançar um bom desenvolvimentopessoal.

25

Page 26: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Subsídio 06

“Em toda situação de crise,

seja guerra, miséria ou desastre

natural, as crianças são as maiores

vítimas... mesmo nas piores

circunstâncias as crianças são a fonte

da mais pura energia.”

(Sebastião Salgado)

A resiliência permite esperar com otimismo a possibilidade de quenossas crianças, adolescentes ou jovens possam estabelecer projetospositivos de vida. E isto não apenas como desenvolvimento pessoal, mascomo projeto familiar ou social, mesmo quando existam circunstânciasque marcam ou poderiam ter marcado negativamente suas vidas.

Crianças, adolescentes e jovens, bem como os adultos, devem serestimulados a cuidar do próprio corpo. Isto tem papel importante naconstrução da auto-estima. Trata-se de estimular a capacidade de cuidare gostar de si mesmo. O mesmo se deve dizer quanto aos ambientesfísicos em que se vive. A dimensão estética, as cores, as formas e aconstrução de “coisas bonitas” são estímulos positivos. Interessa essemovimento de preservação do bonito, de construção do belo, do carinhoe do cuidado consigo, com os outros e com as coisas.

O fenômeno da resiliência é algo a ser construído com fortesestímulos. Os resilientes contam, quase sempre, com a presença depessoas significativas em suas vidas. Têm necessidade de criar vínculos.Os vínculos são importantes em suas vidas. Bebês morrem quando nãosão amados. O afeto é tão importante quanto as vitaminas. Os resilientesestabelecem vínculos, tanto de apoio quanto de admiração. Isto permiteo desenvolvimento da auto-estima e auto-confiança. O resiliente temesperança no futuro, possui uma meta a ser perseguida e um sentidoético que o joga à frente. O modelo é o do desafio.

A resiliência, como ressonância do cuidado, exige que tenhamosamor pelo outro, autêntica preocupação com ele e desejo de ser ajuda.Exige que estejamos atentos às pequenas conquistas do menino ou damenina e que haja orientações para como trabalhar as relações sociais,os próprios impulsos, o nervosismo, a agitação, a raiva... É importantemanter sempre vivo o humor e a capacidade de se divertir com os próprioserros, mais do que ficar “chorando o leite derramado”.

26

Page 27: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo

Aprendendo a Cuidar

Conclusão

Crianças, adolescentes e jovens empobrecidos são seres de cuidado ecompaixão. Leigos Amigos de Murialdo, na busca de fidelidade à propostapedagógica de Murialdo, aquela que se fundamenta na educação do coração,são chamados a serem portadores de compaixão e cuidado.

Podemos dizer que são decorrências docuidado: a alegria, o prazer e a mística. E que sãocontra-indicações ou sinais de ausência docuidado: o mau-humor, o desânimo, a buscaimediata pelos resultados, a impaciência. A práticado cuidado leva as pessoas a perceberem que oindividualismo, a agressividade, a busca do prestígioe do poder, a necessidade de levar vantagem... estãoconduzindo a humanidade para o abismo.

Importa, mais do que nunca, acender asforças positivas. A base emocional, a importânciado coração para orientar as relações humanasnecessita também de uma inspiração espiritual. A

criação do mundo tem sua origem no divino. A divindade, com cuidado ecompaixão, dá origem a pessoas humanas vivendo em paraíso. Fruto do cuidadode Deus, a raça humana não conhecia a dor. Fruto do amor de Deus surgiu aharmonia entre os seres criados e o universo.

O princípio do cuidado, expressão de resposta para a experiência do amorde Deus, ajuda a desenvolvermos concretamente novas atitudes de sereshumanos, de benevolência e de solidariedade.

Saber cuidar das crianças, adolescentes e jovens empobrecidos é iniciaruma verdadeira revolução na cultura das relações humanas. Priorizando pessoashumanas, do encantamento pela vida acabará surgindo um ser humano sensível,solidário, cordial e fraterno. Esse cuidado nos pequenos vive das manifestaçõesde ternura, de presença, da resiliência e da esperança. Encontra na dimensãoreligiosa a significação mais profunda da experiência do amor.

É por isso que Leigos Amigos de Murialdo, que sabem cuidar das crianças,adolescentes e jovens empobrecidos, estão ajudando a ressuscitar o amor e asalvar a vida.

27

Page 28: Apresentação - sampalam.com.br · Igreja, de acordo com suas forças e as necessidades dos tempos.” (Lúmen Gentium, 85) Esta missão de continuar a obra salvífica de Cristo