apresentação do powerpoint · na segunda etapa do século, viradas se deram com o pasquim, jornal...

21

Upload: dangkien

Post on 08-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 2: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 3: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 4: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 5: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 6: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 7: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 8: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

Humor brasileiro reflete a nossa falta de identidade, diz historiadorAutor do livro As Raízes do Riso, sobre a gênese do humor no país, mostra como características culturais estão impregnadas no nosso jeito de fazer rir

Há um humor tipicamente brasileiro? Baseado em formatos importados e de história relativamente recente, o humor nacional não parece muito descolado de seus modelos estrangeiros. Mas ele tem, sim, as suas particularidades. De acordo com Elias Thomé Saliba, titular de teoria da história da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro As Raízes do Riso (editora Companhia das Letras, 366 páginas), que investiga a gênese do humor no Brasil, o cômico feito no país é impregnado da nossa cultura. Estão presentes nele duas características marcantes da sociedade brasileira: a confusão entre as esferas pública e privada e a vocação para tratar tudo de maneira emocional – ou cordial, como diria Sérgio Buarque de Hollanda. “O humor brasileiro é reflexo da nossa falta de identidade”, diz Saliba.

Page 9: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

Segundo o historiador, foi na Belle Époque brasileira – período compreendido entre as duas décadas finais do século XIX e o fim da 1ª. Guerra Mundial, em 1918 – que surgiu esse humor, no esteio do jornalismo moderno e suas seções fixas de humor e de caricaturas. Mais tarde, no teatro, no rádio e no cinema, o humor frutificou. A partir do abrasileiramento de formatos ingleses e italianos já consagrados, surgiram programas hoje clássicos como o Balança Mas Não Cai, sucesso do rádio nos anos 1930 e 1940 que lançou personagens até hoje usados pela televisão como Ofélia e Fernandinho. E o cinema das chanchadas, da lendária produtora Atlântica, que mesclava musicais com o humor radiofônico. A partir da década de 1950, essas mídias forneceram para a televisão atores, diretores, textos e formatos.

Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e com a influência do Monthy Python, que na Inglaterra emparedou o conservadorismo político, no final da década de 1970, e aqui deu impulso a programas como a TV Pirata e o Casseta & Planeta, levados ao ar entre o fim dos anos 1980 e o início dos 1990. Até hoje, pouco há de renovação nesses formatos consagrados. Há um quê de humor de rádio em programas como Zorra Total e A Praça É Nossa, por exemplo. “Em algumas épocas, sobretudo as de forte censura, o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão”, diz Saliba.

O stand up, embora só agora tenha virado febre no país, já está por aqui desde a década de 1960, representado pelo recém-falecido humorista José Vasconcellos. E não só com ele. Outros veteranos do humor experimentaram o gênero. Conhecidos principalmente por seus trabalhos na televisão, como os já clássicos Chico City, Satiricom e Planeta dos Homens, nomes como Jô Soares e Chico Anysio já faziam uso do formato desde os anos 1960. Na antiga TV Tupi, Anysio enfrentava a plateia munido de um microfone – e de verve.

Renascido como novidade em meados dos anos 2000 com auxílio da internet, o gênero revelou uma nova leva de humoristas que, assim como se deu no começo do século passado com o rádio e o cinema, migraram da web para a televisão. Na TV, o

Page 10: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

humor de clubes e pequenos palcos ganhou amplitude nacional com os participantes do CQC, exibido pela Band, assim como o grupo em torno de Marcelo Adnet, que levou elementos desse formato para a MTV. O movimento deu aos humoristas audiência, mas também limitações e riscos, além de críticas e debates sobre os textos que criam ou improvisam. Piadas com teor de bullying são defendidas pelos autores como o sagrado direito ao politicamente correto, quando o que está em jogo é, na realidade, a qualidade artística do texto.

As discussões de hoje são, segundo o autor de As Raízes do Riso, um fato raro no Brasil, onde os debates em torno do humor se instalaram, mais comumente, em períodos de crise política e institucional. Mais um exemplo do jeitinho brasileiro de lidarcom as coisas, por certo. Confira abaixo os melhores momentos da entrevista de Elias Thomé Saliba.

Em que contexto histórico o humor tomou corpo no Brasil? Os anos mais decisivos para o humor no país foram aqueles marcados pela introdução da imprensa moderna no Brasil. Nas duas últimas décadas do século XIX, surgem os primeiros grandes jornais diários e as primeiras revistas semanais ilustradas, com seções fixas de humor e de caricaturas, além de publicidade. Foi essa abertura proporcionada pela imprensa moderna – juntamente com a crise de expectativas gerada pelo advento da República – que possibilitou a criação de uma linguagem humorística nacional, feita a partir da mistura de poemas paródicos, música, anúncios publicitários, dança e marchinhas de carnaval.Houve um momento, como o que se vê agora, em que o humor pautou um debate de proporção nacional? Em especial, nenhum momento. Em algumas épocas, sobretudo as de forte censura (informal ou institucional), o humor funcionou como válvula de escape, já que possui vocação intrínseca para revelar verdades escondidas sob o véu da mera diversão. É aí que a produção humorística atua como catalisadora das insatisfações e da impotência política da maioria da população. Um momento criativo, no Brasil, é aquele que vem logo após o império: é o que chamo de “humor da desilusão republicana”. Outro período muito criativo do humor nacional foi a época da campanha Civilista (1909-1910), quando se abriu a primeira grande crise na sucessão presidencial (São Paulo e Minas Gerais se viram em lados opostos na disputa, quebrando a política

Page 11: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

do café-com-leite). Outros momentos em que o humor serviu como instrumento de crítica política direta foram os períodos ditatoriais ou autoritários: a era Vargas (1930-1945) e a dos governos militares (1964-1979).Qual o principal elemento do humor produzido no Brasil? A eterna confusão entre as esferas pública e privada e a nossa vocação – que temos esperança de superar – para tratar tudo de maneira emocional, reduzindo as distâncias sociais. Chamamos esta vocação para a cordialidade de Síndrome de Santa Terezinha. No Brasil, a santa francesa Thereza de Lisieux se transforma em Terezinha – ou seja, até os santos partilham de nossa vida privada, tornando-se mais próximos de nós. Usamos de diminutivos para quebrar hierarquias e tornar tudo próximo, porque temos horror às distâncias sociais, que são enormes.E em relação ao papel social do riso, o que se pode dizer? O riso é arma social para os impotentes. No decorrer da história, o riso popular permitiu que se criasse, cada vez mais, uma cultura da divergência, ativa e oculta – o que mostra como o humor se tornou arma contra regimes repressivos. Se não se pode mudar a história real, muda-se o sentido dela. O riso, a piada é, essencialmente, reversão de significado.O humor brasileiro é, portanto, reflexo da nossa identidade? Da nossa falta de identidade. Somos uma sociedade mal costurada, que sempre praticou a exclusão. Brasileiros só se sentem brasileiros em momentos emocionais, rápidos e circunstanciais. O humor funciona como o carnaval e o futebol para o brasileiro ter este momento efêmero e emocional de identidade. A piada é o paradigma do efêmero. Nas últimas décadas, isso se acentuou, visto que as promessas trazidas pela redemocratização do país estancaram na corrupção crônica – institucionalizada pela impunidade -, numa política social remediadora e na tibieza dos partidos e organizações políticas.

Page 12: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

O riso dos outros: o humor tem limites?

O riso dos outros é o título do documentário dirigido por Pedro Arantes, financiado pela TV Câmara.[1] O documentário centra-se no Stand-up, ou seja, comediantes que se apresentam individualmente sem outros recursos e acessórios além da voz, e, geralmente, em pé, dirigem-se à platéia (daí o termo). Alyson Vilela, Ana Maria Gonçalves, Antonio Prata, Arnaldo Branco, Bem Ludmer, Danilo Gentili, Fábio Rabin, Fernando Caruso, Gabriel Grosvald, Hugo Possolo, Idelber Avelar, Jean Wyllys, Laerte Coutinho, Lola Aronovich, Marcela Leal, Mariana Armellini, Maurício Meirelles, Nanny People, Rafinha Bastos, Renata Moreno, entre outros, são os entrevistados.Afinal, existem limites para o humor? Piadas ofendem, ferem o politicamente correto? O argumento “É só uma piada!” é válido para qualquer circunstância, ainda que expresse o racismo, o sexismo, o preconceito contra as minorias e indivíduos? Piadas preconceituosas contra negros, mulheres, gays, lésbicas, gordos, deficientes físicos, etc. são engraçadas? Por que provocam o riso? Quem ri é cúmplice ou o humorista apenas expressa os valores presentes na sociedade? Se é ofensivo não deveria ser proibido? Quem define o limite entre a liberdade de expressão e a ofensa preconceituosa? O politicamente correto? Este não é uma forma de policiamento ideológico, social e político? Então, em nome da “senhora liberdade” tudo é permitido? Até mesmo o riso profano que ridiculariza o sagrado?[2]O fundamento do humorO humor, seja qual for o seu objeto, não se explica apenas pela capacidade individual de criação. Seu fundamento é os valores compartilhados socialmente. O humorista não é um indivíduo isolado, mas um ser social. A linguagem do comediante não é axiologicamente neutra. Todo discurso tem raízes na sociedade. Nem a piada nem o riso ocorrem no vácuo, seus alicerces são culturais, sociais, políticos e ideológicos. Quem fala, fala de um lugar determinado, está consciente do que pronuncia, espera um determinado efeito: provocar o riso. Quem ri também o faz conscientemente, e ao fazê-lo reforça a mensagem. Neste sentido, nem a fala nem o riso são naturais. O fundamento é social.

Page 13: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

O preconceito, portanto, está na sociedade. O humor dialoga com o preconceito, mas este diálogo não está livre de tensões. O humor pode reforçar – ou não – os estereótipos. Ele busca o reconhecimento, o aplauso e o riso. Seu gozo advém da capacidade de conquistar. Qual é o caminho mais fácil? Para muitos, a forma mais fácil de provocar risadas é investir no preconceito, nos estereótipos. Se estes são compartilhados pela maioria, basta falar o que a maioria quer ouvir. O humorista desresponsabiliza-se com o argumento de que resgata algo já inculcado pelo ouvinte. Ou seja, ele apenas despertou algo – um valor, um sentimento – na mente de quem riu. Tá na cabeça de quem ri! E não está na cabeça de quem faz a piada? Isto significa descomprometer-se, imaginar que o discurso elaborado é neutro e/ou apenas reproduz os valores dos outros. A piada sobre a Preta Gil é um exemplo sutil de como o comediante se desresponsabiliza e transfere o ônus para o público. Ao arrancar risadas, Danilo Gentili diz que a platéia não deveria ter rido. Mas, por que ele conta a piada? Ora, porque o público ri. Conclui, então, que o f.d.p é quem ri. “Não eu!”, afirma Gentili.Os preconceitos arraigados na sociedade fornecem material abundante para os piadistas. O humor é cruel, caricatural. Expõe defeitos, limitações e faz rir; mas insulta! O humor insultante, preconceituoso parece o mais fácil, o que menos criatividadeexige. Basta reproduzir o conservadorismo da maioria em forma de piada! Por isso, é o humor em seu nível mais baixo. Da mesma forma que encontra platéias numerosas que riem das mesmas piadas de sempre, também encontra defensores. Argumenta-se que este tipo de humor simplesmente colhe o pensamento existente e o reproduz de uma forma “engraçada”. Convenhamos, o argumento de que o humorista não é responsável pelas mazelas da sociedade, mas apenas o expressa, é forte. Não se deve, portanto, culpabilizá-lo. Neste raciocínio, seria exagero falarmos em humor preconceituoso.Não se trata, porém, de culpar mas sim da reflexão. “A gente ri e isso faz parte da vida. Mas a gente também pensa sobre coisas. A culpa é um sentimento castrador. Não precisa se culpar, basta refletir”, afirma Pedro Arantes.[3] O diretor do documentário se refere às situações em que rimos de uma piada que, de fato, revela-se preconceituosa. “Mais jovem, eu ria muito de piada de gay. Hoje em dia, já tendo pensado sobre isso, eu realmente não acho mais graça. Você faz essa elaboração na sua cabeça e a partir daí você passa a não achar mais engraçado”, diz ele.[4] De fato, todos estamos sujeitos a deslizes. Mas

Page 14: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

não é o caso do preconceituoso empedernido, daquele que introjetou valores conservadores. Para este tipo, as minorias sempre serão um alvo de riso. E sem culpa! Por outro lado, deve-se considerar o papel do humorista. É muito simples partir do pressuposto de que ele apenas expressa o que a maioria pensa. Primeiro, ele também é educado pela mesma sociedade que forja e cristaliza tais pensamentos. Como garantir que ele também não incorpora o discurso que pronuncia ao seu público?! Segundo, se a reflexão é necessária, é lícito indagarmos se e em que medida reprodutores de preconceitos fortalecem valores preconceituosos ou se contribuem para a indagação reflexiva sobre os mesmos. De qualquer forma, não há graça alguma para quem sofre as ofensas em forma de humor!É bem mais difícil elaborar o humor que seja instigante. Exige criatividade, trabalho e superação dos lugares e senso comum. Será que não é possível fazer humor sem humilhar o outro? O humor também pode contribuir no sentido de levar à reflexão sobre os preconceitos e mostrar o ridículo da postura preconceituosa. Se, como afirma Danilo Gentili, “Toda piada tem um alvo”, uma vítima, qual e quem deve sê-lo? Será que o único critério válido é “se for engraçado”, como argumenta Gentili? Como este “alvo” deve ser trabalhado, tratado? Se o humor pressupõe a crítica, o que deve ser criticado? Como esta crítica deve ser elaborada? Criticar “alvos” sem condições de defesa é fácil. É mais difícil criticar a autoridade.O humor machista para consumo do público é reproduzido na relação interna entre os que se envolvem com esta atividade. Também neste aspecto, expressa a realidade social. Os homens predominam e, segundo o depoimento da comediante NanyPeople, as mulheres reproduzem os valores do universo masculino. As piadas sobre mulheres expostas no documentário mostra bem o caldo cultural sexista. Aliás, talvez seja exagero denominar tais falas como “piadas”. Não há graça, mas desrespeito. Não é preciso ser feminista para convencer-se do risível que é repetir chavões dos tataravôs, basta apenas ter senso de reflexão crítica. Há alguma graça em, por exemplo, afirmar que a mulher feia que sofreu estupro deveria agradecer pela oportunidade? Estupro é um tema para piadistas? No entanto, piadas como esta e outras pérolas humorísticas provocam risos – inclusive entre as mulheres.

Page 15: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

A mesma sociedade que legitima valores machistas, racistas, homofóbicos, etc., contesta-os. Os “alvos” e “vítimas” deste tipo de humor organizam-se, reagem e exigem respeito. Mas não é patrulhamento da liberdade de expressão?! Não há temas proibidos, nem se trata de proibir. A questão é a forma que assume o discurso. Se este é ofensivo e quem se ofende é capaz de reagir coletivamente, é legítimo. A liberdade de expressão não se dá no vácuo, mas em tensão com o contexto social, político, cultural, histórico. Também o comediante não é neutro, ele precisa saber de que lado está. As piadas podem, inclusive, levar a pensar sobre as minorias, o racismo, o sexismo, etc.O politicamente correto é chato? Quem contesta é careta? Mas é correto insistir em reproduzir os preconceitos? Quem cunhou o termo politicamente correto, a quem interessa? A questão é polêmica e aparenta ser uma forma de desviar-se do principal. O fato é que antes mesmo do surgimento e propagação do politicamente correto, as piadas racistas, preconceituosas, etc. existiam e não perderam este caráter. Em outras palavras, o racismo, sexismo, xenofobismo, homofobia, etc., são realidades no passado e no presente. A discussão sobre o politicamente correto desvia o foco. Uma piada racista permanece com o mesmo conteúdo e significado. Como afirma Mariana Armellini:“Chamar um negro de macaco não é e nunca foi engraçado”. Se palavra desqualifica, quem a utiliza tem consciência. Não é suficiente acusar quem não aceita o racismo e qualquer tipo de preconceito de expressar a ditadura do politicamente correto. Ainda que seja considerado “chato”, “careta”, etc., a reação é legítima.A prática social questionadora do discurso racista, sexista, homofóbico, etc. não dirige-se apenas àquele que faz piadas de mal gosto, mas expressa o questionamento legítimo de setores da sociedade em relação a outras práticas sociais, culturais e classistas que legitimam o discurso hegemônico aceito pela maioria. A tensão do politicamente correto é expressão desse movimento histórico de não aceitação dessa hegemonia.A grita contra o politicamente correto é também uma forma de não aceitar a crítica. Isto, em nome da liberdade de expressão ilimitada. Mas a liberdade ilimitada só existe na cabeça de quem se acredita acima das leis, normas, convenções sociais, etc.Por exemplo, racismo é crime. Então, a pretensa liberdade de expressão do comediante que adota o discurso racista revela-se

Page 16: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

ilusão. A contestação do discurso e práticas preconceituosas está tão relacionada à liberdade de expressão quando a fala contestada. O comediante tem a liberdade de fazer a piada, mas deve saber que não está acima da lei, do bem e do mal, menos ainda livre da contestação. Como diz Jean Wyllys: “As liberdades têm limites”. Não, nem sempre “É só uma piada!”, como proclama Rafinha Bastos e outros. A piada é concebida como desprovida de conteúdo ideológico, político, social, etc. É tratada como a piada em si, neutra. “É um insulto!, responde Lola Aronovich. Sim, uma piada preconceituosa não é apenas uma piada. A manifestação do artista reforça preconceitos ou contribui para questioná-los. Não é um discurso neutro, apolítico. Quem se imagina apolítico, tem uma compreensão simplista da política, restringindo-se à esfera institucional. Como diria Brecht é um “analfabeto político”! De qualquer forma, o que chama a atenção em tudo isto é o fato de as pessoas ainda rirem deste tipo de piada! Não tem graça! No entanto, o riso da maioria inebria e parece legitimar o comediante que diz o que o povo quer ouvir. E ele ainda fica com a impressão de que faz sucesso. Mas, como alerta Hugo Possolo, “Quem se curva demais ao público fica de quatro pra ele”.

Page 17: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 18: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 19: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje
Page 20: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

PROVA DE REDAÇÃO UFRGS 2007

A emoção brinca com o tempo, mas é sempre avessa ao chronos, por sua previsibilidade. A emoção se alia àmusicalidade de kairós, que vive de surpresas e mede a vida pelas batidas do coração. Kairós desconsidera o passado e ofuturo, ele é presente puro... Por isso, emoção! Adaptado de: O amor que acende a lua, Rubem Alves.

Sua redação tem de ser dissertativa e versar sobre o tema: O que é mais importante para você: vivenciar situaçõesracionalmente previsíveis ou vivenciar outras que o surpreendam e despertem sua emoção?Ao escrever seu texto, analise o tema proposto, estabeleça um ponto de vista e selecione idéias que sustentem aargumentação pretendida. Os dados que seguem objetivam auxiliá-lo na contextualização do assunto.

A palavra emoção, por sua origem latina, vincula-se à idéia de movimento. Seu significado provém da junção de doiselementos: ex, prefixo que quer dizer ‘para fora’, e motio, que corresponde a movimento, ação, comoção, gesto. Parte daslínguas indo-européias adotou, por empréstimo, a significação original de ‘agitação popular’, ou ‘desordem’; a partir do séculoXVII, a palavra emoção passa a ser entendida também como agitação da mente ou do espírito, e, mais tarde, no século XIX, éadotada com esse mesmo sentido pela comunidade científica, em especial na linguagem da psicologia.

Na sua trajetória, o homem aprendeu que é necessário conviver em harmonia na sociedade de que participa; porisso, vem buscando o equilíbrio entre razão e emoção. Nessa evolução, ele teve que desenvolver agilidade de raciocínio ecapacidade para atender às demandas instintivas e emocionais; precisou aprimorar habilidades para argumentar de formasensata com seus semelhantes, para produzir conhecimentos, estabelecer colaboração e defender conceitos como altruísmo,felicidade, respeito, afeição e solidariedade, entre outros. Em consequência, tornou-se um ser capaz de preservar seussentimentos mais nobres e de se emocionar diante da vida... Hoje em dia, a vida parece adotar rotinas esquematizadas que serepetem, e o ser humano tem necessidade de vivenciar experiências que suscitem reações e atitudes diante das quais aindapossa se emocionar. O êxito pessoal – afetivo e profissional – do indivíduo continua atrelado ao seu núcleo emocional, o quecontribui para consagrar suas conquistas e lhe permite avaliar quais valores são realmente significativos para alicerçar sua

Page 21: Apresentação do PowerPoint · Na segunda etapa do século, viradas se deram com o Pasquim, jornal que cutucou a ditadura militar com humor e picardia, e ... As discussões de hoje

autoconfiança. Você está convidado a exercitar sua emoção ao escrever este texto! Leia atentamente as instruções: sua redação deverá ter extensão mínima de 30 linhas, excluindo o título – aquém disso, seu texto não será avaliado –, e máxima de 50 linhas, considerando o limite da folha e letra de tamanho regular. Lápis poderá ser usado apenas no rascunho; ao passar sua redação para a folha definitiva, faça-o com letra legível e utilize caneta.