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2

Apresentação 1

O Conselho Regional de Psicologia São Paulo 06, a partir do Núcleo de Assistência 2

Social, de espaços de debate e reflexão sobre a psicologia na Assistência Social e 3

a prática que vem se constituindo nessa política e principalmente nas inúmeras 4

solicitações de orientação de psicólogas (os) à Comissão de Orientação e 5

Fiscalização do CRPSP 06, identificou a necessidade de construir um documento 6

que pudesse subsidiar os profissionais da psicologia em sua prática cotidiana. 7

Neste sentido, buscou-se levantar quais as dúvidas e solicitações de 8

orientações que mais se fizeram presentes no período dessa gestão (2013 – 9

2016) e, a partir destas, o presente caderno foi tomando corpo. 10

Temos aqui uma organização de texto que procurou trazer para reflexão e 11

construção de orientações que devem pautar a prática de psicólogas (os) em sua 12

atuação no Sistema Único de Assistência Social, apontamentos pautados no 13

Código de Ética da Psicologia, Resoluções e Notas Técnicas que norteiam 14

diferentes temáticas dentro da atuação profissional da psicologia, bem como um 15

conjunto de normativas pertinentes ao campo da atuação na Política Nacional de 16

Assistência Social-PNAS. 17

Esta publicação vem marcar mais um momento do CRPSP 06, no sentido de 18

reconhecer a importância de contribuir com orientações para a 19

instrumentalização da psicologia num campo de atuação, permitindo que a 20

intervenção de psicólogas (os) esteja cada vez mais comprometida com uma 21

prática alicerçada em referenciais técnico-científicos e éticos, atendendo a 22

demandas da sociedade e contribuindo para o processo de transformação social. 23

24

3

Introdução 25

Sempre esteve presente nas relações humanas a ideia e a presença da “ajuda ao 26

próximo”, e entre as diferentes expressões de caridade e filantropia a Assistência 27

Social foi nascendo. Entretanto, foi só após a promulgação da Constituição 28

Brasileira de 1988 que a Assistência Social passou a ganhar status de direito 29

garantido, formando com a Saúde e a Previdência Social o Sistema Brasileiro de 30

Seguridade Social. 31

Para o fortalecimento desta Política de proteção social em permanente 32

construção, leis, decretos e resoluções foram sendo escritos e incorporados aos 33

serviços, programas e projetos ofertados fazendo com que a assistência social se 34

organizasse da forma como a qual a conhecemos hoje. É notório, neste processo 35

histórico brasileiro, o papel que ocupa a promulgação da Lei Orgânica de 36

Assistência Social (LOAS / 1993), cujas diretrizes viriam a forjar a Política Nacional 37

de Assistência Social (2004), reconhecida por implantar o SISTEMA ÚNICO DE 38

ASSISTÊNCIA SOCIAL / SUAS. 39

É neste cenário de transformações da sociedade e da política brasileira 40

pós-ditadura militar, em plena luta pela democracia e direitos sociais e 41

enfrentamento da desigualdade social, que a Psicologia marca sua presença 42

comprometida com a transformação social e o fortalecimento de indivíduos, 43

famílias e coletivos, contribuindo com o objetivo de potencializar a autonomia e a 44

cidadania, viabilizando a superação dos desafios e promovendo a emancipação. 45

Por se tratar de um processo em construção, o CRP-SP vem recebendo 46

muitas solicitações de orientação acerca das ações desenvolvidas por psicólogas 47

(os) nos serviços socioassistenciais. Dessa forma, este documento busca 48

apresentar informações que poderão balizar e esclarecer dúvidas sobre o 49

4

trabalho dos profissionais na Política de Assistência Social. 50

Na atuação profissional é importante que a (o) psicóloga (o) tenha sempre 51

como primeira referência o Código de Ética Profissional. Isto, porque nem sempre 52

as definições com relação à prática profissional são especificas ou voltadas 53

apenas para um campo dentro das diferentes áreas de atuação da Psicologia. 54

Neste sentido, o Código de Ética é o orientador central para que a (o) 55

profissional possa problematizar acerca de sua intervenção, apontando padrões 56

técnicos e normas éticas que reflitam as demandas sociais e a relação da 57

profissão com a sociedade. A partir do Código de Ética é que se expressam a 58

concepção de homem e sociedade e sob quais valores se estruturará a 59

intervenção profissional. Tendo em vista que este documento busca reunir 60

reflexões e orientações acerca de diferentes áreas de atuação dentro da 61

Assistência Social, buscamos dividir o que segue por temas. 62

63

5

Atribuições/responsabilidades profissionais da (o) psicóloga 64

(o) nos SUAS: 65

O primeiro documento que apresenta as (os) profissionais da política de 66

assistência social e as suas atribuições, bem como o que deve ser ofertado no 67

sentido de aprofundar metodologias e tecnologias a serem utilizadas nas 68

diferentes ações desenvolvidas dentro da Assistência Social é a Norma 69

Operacional Básica RH SUAS (2006). As atribuições não são específicas a um 70

campo de formação, mas referem-se aos profissionais de nível superior. A diretriz 71

é uma gestão do trabalho interdisciplinar para equipe multiprofissional, sem 72

prejuízo de restrições ou atribuições privativas que as categorias profissionais 73

regulamentadas possam ter, como a psicologia. 74

A NOB RH SUAS destaca ação de equipe multiprofissional, responsável pela 75

execução dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais. 76

Aponta também para a promoção da capacitação dos trabalhadores da área da 77

Assistência Social com a finalidade de produzir e difundir conhecimentos que 78

devem ser direcionados ao desenvolvimento de habilidades e capacidades 79

técnicas e gerenciais, ao efetivo exercício do controle social e ao empoderamento 80

dos usuários para o aprimoramento da política pública. 81

A Norma Operacional Básica de Recursos Humanos SUAS (2006) vem 82

atender a reivindicação apontada na PNAS/2004 no que se refere à 83

reestruturação e requalificação da política de gestão do trabalho dos SUAS. Ao 84

apontar aspectos que envolvem o fazer profissional desta política apresenta à 85

psicologia a necessidade de considerar os princípios éticos da categoria 86

profissional na elaboração, implantação e implementação de protocolos de 87

atuação e de rotinas de trabalho, de forma a orientar o exercício profissional 88

dentro desta política. A NOB RH SUAS segue com a definição dos princípios éticos 89

6

gerais que devem orientar a intervenção dos trabalhadores do SUAS: 90

a) Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais; 91

b) Compromisso em ofertar serviços, programas, projetos e benefícios de 92

qualidade que garantam a oportunidade de convívio para o fortalecimento 93

de laços familiares e sociais; 94

c) Promoção aos usuários do acesso à informação, garantindo conhecer o 95

nome e a credencial de quem os atende; 96

d) Proteção à privacidade dos usuários, observado o sigilo profissional, 97

preservando sua privacidade e opção e resgatando sua história de vida; 98

e) Compromisso em garantir atenção profissional direcionada para construção 99

de projetos pessoais e sociais para autonomia e sustentabilidade; 100

f) Reconhecimento do direito dos usuários a ter acesso a benefícios e renda e 101

a programas de oportunidades para inserção profissional e social; 102

g) Incentivo aos usuários para que estes exerçam seu direito de participar de 103

fóruns, conselhos, movimentos sociais e cooperativas populares de 104

produção; 105

h) Garantia do acesso da população à política de assistência social sem 106

discriminação de qualquer natureza (gênero, raça/etnia, credo, orientação 107

sexual, classe social, (ou outras), resguardados os critérios de elegibilidade 108

dos diferentes programas, projetos, serviços e benefícios; 109

i) Devolução das informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, 110

no sentido de que estes possam usá-las para o fortalecimento de seus 111

interesses; 112

j) Contribuição para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a 113

relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços 114

prestados. 115

7

A partir dos princípios éticos apresentados pela NOB RH o trabalhador do 116

SUAS tem como premissa não apenas o desenvolvimento do trabalho, mas o que 117

este fazer implica, pois exige um compromisso com o usuário, a defesa de 118

direitos, uma compreensão das relações de poder estabelecidas na sociedade e 119

seus impactos no cotidiano de indivíduos, famílias e coletivos, além das relações 120

com e no campo de trabalho. 121

Um documento importante a ser consultado para resgatar referências a 122

respeito da atuação da (o) psicóloga (o) no SUAS é o “Parâmetros para atuação 123

de assistentes sociais e psicólogos na Política de Assistência Social” (2007), 124

produzido em parceria entre CFESS e CFP. Nele podemos encontrar importantes 125

apontamentos e reflexões sobre a atuação conjunta de psicólogas (os) e 126

assistentes sociais na Assistência Social. 127

O documento introduz a proposta do trabalho da (o) psicóloga (o) na 128

referente política: 129

“Intervindo através da política da Assistência Social, os 130 profissionais da Psicologia precisam estar atentos aos 131 processos de sofrimento instalados nas comunidades, nos 132 territórios onde as famílias estabelecem seus laços mais 133 significativos. Se essa política, de fato, for co-construída através 134 dos movimentos populares, da participação plena de seus 135 usuários e do fortalecimento dos espaços e instâncias de 136 controle social, estará conectada com as necessidades dos 137 sujeitos e articulada com a defesa da vida.” (CFESS/CFP p.18). 138

O texto destaca o histórico de lutas das (os) psicólogas (os) em diversas 139

temáticas, como a defesa da reforma psiquiátrica, da promoção da saúde e dos 140

direitos humanos, afirmando o compromisso ético-político em que deve pautar 141

sua atuação. Afirma também a necessária implicação para a redução das 142

desigualdades e violências vividas pela população, sempre buscando o estímulo à 143

autonomia e protagonismo das pessoas atendidas. Dessa forma, cabe à (ao) 144

8

profissional, por meio do trabalho social com base no conhecimento científico e 145

fundamentado, reconhecer e valorizar a subjetividade dos usuários, de forma a 146

contribuir no fortalecimento das identidades e no processo de inserção na 147

sociedade, propondo também estratégias de transformação no meio social. 148

“O psicólogo, nesse campo, pode desenvolver diferentes 149 atividades em espaços institucionais e comunitários. Seu 150 trabalho envolve proposições de políticas e ações relacionadas à 151 comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos 152 étnico-raciais, religiosos, de gênero, geracionais, de orientação 153 sexual, de classes sociais e de outros segmentos socioculturais, 154 com vistas à realização de projetos da área social e/ou definição 155 de políticas públicas”. (CFESS / CFP p.29) 156

O documento também esclarece que a (o) psicóloga (o) pode utilizar 157

diferentes metodologias e abordagens, tanto individuais como em grupo, mas 158

dando centralidade, sempre que possível, ao fortalecimento comunitário e familiar. 159

Este profissional pode e deve atuar de maneira interdisciplinar, estabelecendo 160

inter-relações também com outros profissionais da equipe em que atua, bem 161

como de outros serviços e políticas públicas. Grande parte do trabalho 162

psicossocial a ser realizado pela (o) profissional de Psicologia pode se basear no 163

reconhecimento e “compreensão dos significados presentes nas ações do sujeito, 164

bem como dos grupos de sujeitos, buscando-se-lhes apreender o sentido que leva a 165

determinadas direções de relacionamentos, conflitos e decisões com foco na 166

construção de novas respostas” (CFESS / CRP p.33). 167

Há também de se considerar os aspectos econômicos e sociais que afetam 168

a subjetividade de indivíduos, famílias e comunidades, lembrando que o 169

sofrimento geralmente é construído por meio de desigualdades e injustiças 170

situadas em um contexto histórico e político, cabendo à (ao) profissional da 171

Psicologia a reflexão sobre suas próprias práticas que podem ser reproduzidas 172

9

pelo serviço, pelo município onde atua, enfim, por vários contextos envolvidos no 173

processo de trabalho. 174

O campo de inserção dos profissionais técnicos de nível superior no SUAS 175

se diferencia, conforme o Nível de Proteção Social no qual trabalham. Dessa 176

forma, apresentaremos, abaixo, referências específicas para os principais 177

serviços da rede de proteção social, segundo os níveis de complexidade: 178

179

10

Atuação da/o psicóloga/o na Proteção Social Básica: 180

A Proteção Social Básica busca, a partir da ação técnica, desenvolver prevenção e 181

proteção de situações de vulnerabilidade e risco sociais, reforçando a convivência 182

e a família enquanto espaço de proteção, com foco em ações coletivas que 183

estimulem potencialidades e autonomia, também objetivam a inserção social de 184

indivíduos e grupos. 185

Segundo a PNAS (2004), a proteção social básica destina-se à população 186

que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação 187

(ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) 188

e/ ou, fragilização de vínculos afetivos - relacionais e de pertencimento social 189

(discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras). 190

Prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos e locais de 191

acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme 192

identificação da situação de vulnerabilidade apresentada. 193

Na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais temos definidos os 194

três serviços relacionados à proteção social básica: a) Serviço de Proteção e 195

Atendimento Integral à Família (PAIF); b) Serviço de Convivência e Fortalecimento 196

de Vínculos - SCFV; c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para 197

pessoas com deficiência e idosas. O PAIF somente pode ser ofertado no CRAS, 198

enquanto os outros dois serviços são complementares ao PAIF e podem ser 199

executados no CRAS ou em parceria com organizações sociais. 200

O Programa de Atendimento Integral à Família - PAIF consiste no trabalho 201

social continuado a ser realizado junto às famílias, com o objetivo de contribuir 202

com o fortalecimento dos vínculos familiares por meio do estímulo e valorização 203

da função protetiva e da prevenção à ruptura de vínculos entre seus integrantes. 204

Também tem por finalidade a promoção de acesso a direitos e contribuição à 205

11

melhoria das condições de vida. As ações do PAIF devem ser norteadas pelo 206

desenvolvimento e estímulo às potencialidades das famílias e do vínculo 207

comunitário, configurando-se um trabalho preventivo à intensificação da 208

vulnerabilidade, ao mesmo tempo de proteção e pro atividade. 209

O PAIF tem papel estratégico, deve articular e integrar os serviços 210

socioassistenciais, programas de transferência de renda e benefícios 211

assistenciais, potencializando o impacto das ações desenvolvidas e voltadas à 212

família no território. 213

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV é uma 214

ferramenta integrada e complementar ao PAIF, a ser oferecida para grupos 215

específicos, com o objetivo de favorecer a aquisição de recursos para melhoria 216

das condições de vida de seus usuários, e simultaneamente prevenir a ocorrência 217

de fatos resultantes em risco social. Suas atividades devem ser orientadas pela 218

reconstrução e compartilhamento das histórias e experiências individuais e 219

coletivas de seus participantes, e desse modo, estimular o fortalecimento dos 220

vínculos familiares, da convivência com a comunidade e das próprias identidades. 221

Este processo deve também visar à defesa e afirmação dos direitos das pessoas 222

e auxiliar no desenvolvimento de potencialidades para o traçado de estratégias 223

de emancipação sobre as situações de risco social. 224

Mesmo que se utilize enquanto estratégia de intervenção o trabalho com 225

grupos específicos, tais como de crianças ou idosos, deve-se proporcionar a 226

interação entre gerações e pessoas em diferentes condições e especificidades. 227

Além dos grupos de crianças, adolescentes e idosos citados na Tipificação 228

Nacional de Serviços Socioassistenciais, a resolução CNAS nº 13, de 13 de maio 229

de 2014 acrescenta a possibilidade de atuar com o SCFV para grupos de pessoas 230

com 18 a 59 anos, com objetivo de estimular e orientar na construção e 231

reconstrução de histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no 232

12

território. 233

Ainda na proteção básica, foi estabelecido serviço domiciliar voltado a 234

pessoas com deficiência e idosos, que conforme descrito na Tipificação Nacional 235

de Serviços Socioassistenciais deve promover acesso aos serviços de 236

convivência e fortalecimento de vínculos, à rede socioassistencial e aos serviços 237

de outras políticas públicas. A intervenção dos profissionais envolvidos se dá 238

desde a construção e desenvolvimento de estratégias que permitam estimular e 239

potencializar recursos individuais à construção e efetivação do Plano de 240

Desenvolvimento do Usuário – PDU. 241

Neste sentido, tem se buscado a construção de referências para atuação 242

da (o) psicóloga (o) na Política de Assistência Social, sendo o primeiro documento 243

produzido pelo CREPOP sobre a Psicologia na proteção social básica no CRAS o 244

caderno “Referências Técnicas para atuação do/a psicólogo/a no CRAS/SUAS”. 245

Cabe à (ao) psicóloga (o) da proteção social básica, com base no conhecimento da 246

psicologia, o fortalecimento dos usuários enquanto sujeitos de direitos, de 247

maneira que estimule e facilite o desenvolvimento de estratégias para mudanças 248

em suas condições de vida e em seu meio social, “uma vez que visa à 249

potencialização de recursos psicossociais individuais e coletivos frente às situações 250

de risco e vulnerabilidade social”. (p.24), rompendo com ciclos geracionais de 251

pobreza. 252

As (o) psicólogas (os) podem atuar nas atividades desenvolvidas no CRAS, 253

elaborando planos de trabalho articulados com a equipe multiprofissional. O 254

documento “Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – Orientações 255

Técnicas” do MDS nos apresenta diretrizes metodológicas para realização do 256

trabalho desenvolvido dentro do PAIF com famílias e indivíduos, lembrando a 257

importante função das equipes para realização de busca ativa no território, assim 258

como do planejamento necessário para o trabalho no CRAS, entendendo-se que a 259

13

(o) psicóloga (o) compõe as equipes de trabalho. Cabe observar que teremos 260

atividades não previstas neste guia e que não compõem as ações a serem 261

desenvolvidas pela Política de Assistência Social, mas que fazem parte do rol de 262

atividades desenvolvidas por outras políticas públicas, como, por exemplo, o 263

atendimento clínico psicoterapêutico, que pode ter sua demanda identificada por 264

profissionais da Assistência Social, mas que deve ser referenciada para os 265

serviços de Saúde. Temos ainda, queixa do rendimento escolar ou produção de 266

avaliações psicológicas para finalidades não afetas à proteção social, que devem 267

ser encaminhados a outros serviços da rede pública, ou setores responsáveis, 268

como saúde, educação, Poder Judiciário e outros, conforme demanda 269

apresentada. 270

A “Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais” publicada pela 271

resolução nº 109 do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS em 11 de 272

novembro de 2009 descreve o trabalho social essencial ao CRAS: 273

"Acolhida, estudo social, visita domiciliar, orientação e 274 encaminhamentos, grupos de famílias, acompanhamento familiar, 275 atividades comunitárias, campanhas socioeducativas, 276 informação, comunicação e defesa de direitos, promoção ao 277 acesso á documentação pessoal, mobilização e fortalecimento 278 de redes sociais de apoio, desenvolvimento do convívio familiar e 279 comunitário, mobilização para a cidadania, conhecimento do 280 território, cadastramento socioeconômico, elaboração de 281 relatórios e/ou prontuários, notificação de ocorrência de 282 situações de vulnerabilidade e risco social, busca ativa." 283

É neste campo de possibilidades de construção de metodologias e 284

estratégias de intervenção que psicólogas (os) vêm compor as equipes de 285

trabalho. 286

Cabe à (ao) psicóloga (o) realizar o trabalho de proteção social básica em 287

interface com as diversas áreas e abordagens da Psicologia, considerando a 288

14

perspectiva interdisciplinar de trabalho, e interagir com as equipes de maneira não 289

hierarquizada, dialogando e construindo uma relação de troca de saberes com a 290

finalidade de ofertar a melhor solução possível de proteção social às pessoas que 291

buscam o serviço. 292

Por fim, o caderno “Referências Técnicas para atuação do/a psicólogo/a no 293

CRAS/SUAS” apresenta, nas páginas 27 a 29, importantes diretrizes que balizam 294

concretamente a atuação da (o) psicóloga (o) atuante no CRAS, e que merecem 295

ser observadas. Estas diretrizes foram baseadas no documento “Centro de 296

Referência de Assistência Social (CRAS) – Orientações Técnicas” do MDS, citado 297

anteriormente, onde também estão apontadas as ações a serem executadas 298

pelos profissionais de nível superior que integram as equipes: Acolhida, oferta de 299

informações e realização de encaminhamentos às famílias usuárias do CRAS; 300

Planejamento e implementação do PAIF, de acordo com as características do 301

território de abrangência do CRAS; Mediação de grupos de famílias dos PAIF; 302

Realização de atendimento particularizado e visitas domiciliares às famílias 303

referenciadas ao CRAS; Desenvolvimento de atividades coletivas e comunitárias no 304

território; Apoio técnico continuado aos profissionais responsáveis pelo(s) serviço(s) 305

de convivência e fortalecimento de vínculos desenvolvidos no território ou no CRAS; 306

Acompanhamento de famílias encaminhadas pelos serviços de convivência e 307

fortalecimento de vínculos ofertados no território ou no CRAS; Realização da busca 308

ativa no território de abrangência do CRAS e desenvolvimento de projetos que visam 309

prevenir aumento de incidência de situações de risco; Acompanhamento das famílias 310

em descumprimento de condicionalidades; Alimentação de sistema de informação, 311

registro das ações desenvolvidas e planejamento do trabalho de forma coletiva. 312

Articulação de ações que potencializem as boas experiências no território de 313

abrangência; Realização de encaminhamento, com acompanhamento, para a rede 314

socioassistencial; Realização de encaminhamentos para serviços setoriais; 315

15

Participação das reuniões preparatórias ao planejamento municipal ou do DF; 316

Participação de reuniões sistemáticas no CRAS, para planejamento das ações 317

semanais a serem desenvolvidas, definição de fluxos, instituição de rotina de 318

atendimento e acolhimento dos usuários; organização dos encaminhamentos, fluxos 319

de informações com outros setores, procedimentos, estratégias de resposta às 320

demandas e de fortalecimento das potencialidades do território (pág. 63). 321

322

16

Atuação da (o) psicóloga (o) na Proteção Social Especial: 323

A Proteção Social Especial refere-se a serviços orientados a atender 324

necessidades de pessoas e famílias em situações de risco pessoal ou social, com 325

vínculos fragilizados ou rompidos e que estejam sofrendo violação de direitos. 326

Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de 327

garantia de direitos exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e 328

compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações 329

do Executivo. 330

Portanto, devemos lembrar que não deve ser de única responsabilidade da 331

Assistência Social a proteção social, devendo haver ações articuladas entre 332

diferentes políticas, como de saúde, de habitação, de transporte, de emprego, 333

entre outras, a fim de que as situações complexas e especificidade de cada caso, 334

apresentados por indivíduos e/ou famílias, possam ser no sentido de ofertar 335

proteção, acesso e garantia de direitos, assim como reorganização social e 336

pessoal. 337

A Proteção Social Especial está organizada em dois níveis de 338

complexidade: média e alta. 339

Na média complexidade encontramos os atendimentos nos quais existe 340

uma avaliação de risco social e violação de direitos. Entretanto, nestes casos a 341

intervenção técnica implica investimento no vínculo familiar e comunitário 342

fortalecendo a competência da família em cumprir o papel protetivo com vistas e 343

evitar que estes laços afetivos e de cuidados se rompam e se instale o 344

agravamento da situação identificada. 345

O Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS é o 346

serviço que abrange as ações a serem executadas pela proteção social especial 347

de média complexidade. Conforme a “Tipificação Nacional dos Serviços 348

17

Socioassistenciais”, os serviços de Proteção Social Especial de Média 349

Complexidade são: Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e 350

Indivíduos - PAEFI, Serviço Especializado de Abordagem Social, Serviço de 351

Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de 352

Liberdade Assistida - LA e de Prestação de Serviços a Comunidade - PSC e 353

Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas 354

Famílias, que pode ser ofertado no Domicílio do Usuário do serviço, e /ou em 355

Centro-Dia. 356

Na alta complexidade é identificada a situação de risco, direitos violados e 357

os vínculos familiares e sociais rompidos. Neste sentido, requer maior 358

conhecimento técnico-operacional e atenção especializada e mais individualizada, 359

e/ou, de acompanhamento sistemático e monitorado, tais como: Acolhimento 360

Institucional para crianças, adolescentes e idosos, serviços de abordagem de rua, 361

acolhimento para pessoas em situação de rua. 362

O documento “Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado 363

de Assistência Social (CREAS)” apresenta o trabalho interdisciplinar da equipe 364

multiprofissional dos profissionais de nível superior que formam a equipe técnica. 365

No documento “Referências Técnicas para atuação da/o psicóloga/o no CREAS” 366

(2013), do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas – 367

CREPOP encontramos orientações mais específicas sobre o trabalho da (o) 368

profissional de psicologia nos CREAS, como segue: 369

“Consideramos que, apesar desses profissionais exercerem a mesma 370 função, cada categoria profissional no CREAS trabalha a partir de 371 teorias e metodologias relacionadas com a sua área de 372 conhecimento. No caso da Psicologia, consideramos que esta tem 373 muito a contribuir com a proteção social especial de famílias e/ou 374 indivíduos tendo como foco a subjetividade e os processos 375 psicossociais.” (p.48). 376

18

Importante destacar o delineamento de trabalho através da perspectiva 377

interdisciplinar, o qual prevê ações executadas de maneira articulada aos demais 378

componentes da equipe, sendo eles de outras formações profissionais. Este tipo 379

de estratégia permite agregar diferentes perspectivas e contribuições nos casos 380

dos indivíduos e das famílias atendidas, fato que vai ao encontro das 381

competências e das atribuições específicas de cada profissional. 382

O trabalho a ser realizado pelo serviço CREAS deve envolver a escuta 383

qualificada e a compreensão das realidades vivenciadas pelas famílias e 384

indivíduos, abrangendo as questões sociais, históricas, culturais e econômicas. 385

Devem ser elaborados planos de acompanhamento, oriundos de atendimentos 386

realizados constantemente e que podem ser feitos de diversas formas 387

(atendimentos individuais, em família, em grupo, ou mesmo em grupos de famílias), 388

com o objetivo de fortalecer a autonomia e o acesso dos usuários aos direitos. E 389

para o acesso a direitos, é imprescindível a articulação e encaminhamentos a 390

outros pontos da rede de serviços. Segundo o documento “Orientações técnicas: 391

CREAS”, do MDS, configuram-se as três dimensões para o trabalho no CREAS: 392

“Acolhida, Acompanhamento Especializado e Articulação em Rede” (p.59). Ainda no 393

mesmo documento, podemos encontrar uma lista de ações a serem executadas 394

pelos profissionais da equipe técnica: Acolhida, escuta qualificada, 395

acompanhamento especializado e oferta de informações e orientações; Elaboração, 396

junto com as famílias/indivíduos, do Plano de acompanhamento Individual e/ou 397

Familiar, considerando as especificidades e particularidades de cada um; Realização 398

de acompanhamento especializado, por meio de atendimentos familiar, individuais e 399

em grupo; Realização de visitas domiciliares às famílias acompanhadas pelo CREAS, 400

quando necessário; Realização de encaminhamentos monitorados para a rede 401

socioassistencial, demais políticas públicas setoriais e órgãos de defesa de direito; 402

Trabalho em equipe interdisciplinar; Orientação jurídico-social (advogado); 403

19

Alimentação de registros e sistemas de informação sobre das ações desenvolvidas; 404

Participação nas atividades de planejamento, monitoramento e avaliação dos 405

processos de trabalho; Participação das atividades de capacitação e formação 406

continuada da equipe do CREAS, reuniões de equipe, estudos de casos, e demais 407

atividades correlatas; Participação de reuniões para avaliação das ações e 408

resultados atingidos e para planejamento das ações a serem desenvolvidas; para a 409

definição de fluxos; instituição de rotina de atendimento e acompanhamento dos 410

usuários; organização dos encaminhamentos, fluxos de informações e 411

procedimentos (pag.99). 412

Deve-se, neste sentido, propiciar o fortalecimento e/ou reconstrução dos 413

vínculos familiares e sua função protetiva, o desenvolvimento de estratégias para 414

a transformação de padrões familiares e comunitários que reproduzam violações 415

de direitos, o empoderamento dos sujeitos e sua autonomia, que devem ser 416

estimuladas junto ao seu protagonismo e participação social nos espaços de 417

discussão, o acesso da população aos direitos socioassistenciais e a toda a rede 418

de proteção social, e atuar para a prevenção da institucionalização das pessoas, 419

do afastamento do convívio familiar e comunitário, e agravamentos de situações. 420

O caderno “Referências para atuação da/o psicóloga/o no CREAS” avança 421

na discussão a respeito de maneiras para a atuação dos profissionais de 422

Psicologia, que devem atuar segundo a ótica territorial e considerando as 423

questões estruturais sociais que podem ser violadoras de direitos, articulando 424

questões subjetivas e objetivas em cada situação. Para isso, a (o) psicóloga (o) 425

deve elaborar estratégias baseadas no compromisso ético-político e nos 426

referenciais teóricos da Psicologia enquanto ciência, a partir das vivências e 427

situações encontradas em cada caso, o que exige criatividade e liberdade frente a 428

modelos teóricos tradicionais, buscando criar estratégias com objetivo de 429

promover inserção e vinculação levando serviços, projetos e programas a 430

20

atingirem os objetivos estabelecidos a cada um conforme posto na PNAS e nas 431

ações a serem garantidas e desenvolvidas pelo SUAS. 432

Além das principais funções do técnico de nível superior do CREAS já 433

anteriormente citadas, nos cabe salientar que esta atuação tem como proposta o 434

atendimento psicossocial, e não psicoterápico – em casos que se verifique a 435

necessidade desse tipo de atendimento, a(o) profissional deve buscar serviços na 436

rede de saúde ou outras instituições que ofereçam psicoterapia. 437

Qualquer relação que se estabeleça entre pessoas pode desempenhar uma 438

função terapêutica sem que isso seja entendido como vínculo psicoterapêutico. 439

Neste sentido, na medida em que indivíduos ou famílias são acompanhadas por 440

um serviço, está implícito o estabelecimento de vínculos, e na medida em que a 441

intervenção técnica se dá, efeitos terapêuticos podem ocorrer para pessoas ou 442

coletivos. Não podemos aqui confundir acompanhamento psicoterapêutico e os 443

processos que se estabelecem neste com as estratégias de abordagens e 444

procedimentos inerentes ao trabalho da (o) psicóloga (o) na assistência social. 445

O atendimento psicossocial descrito na ação técnica dos profissionais do 446

SUAS aponta para a construção e manutenção de vínculos e deve ser obtido por 447

meio de ações diversificadas, tais como a oferta de acolhimento, a execução de 448

grupos e/ou atividades coletivas, e atividades que proporcionem reflexão e 449

traçado de estratégias para a autonomia dos sujeitos e inserção social. 450

Sobre a relação do judiciário com os serviços da PNAS e as demandas 451

sobre avaliação psicológica, violação de direitos e violência doméstica que tem 452

sido apresentada aos profissionais de CRAS e CREAS, temos a observar que não 453

é essa a função do profissional nesta Política. A (O) profissional pode ser aquele 454

que identifica essas ocorrências e tem o dever ético de defesa e denúncia, mas 455

não pode ter confundida a intervenção técnica ofertada no acompanhamento 456

desenvolvido nestes serviços com uma ação investigativa para fins de subsidiar 457

21

ações jurídicas a serem encaminhadas conforme o caso. Na cartilha de 458

orientações do CREAS a (o) profissional pode ser solicitado a informar ao 459

Judiciário sobre caso por ele acompanhado e cabe a esta (e) profissional informar 460

apenas sobre ações pertinentes ao serviço por ele executado. 461

Também devemos destacar o artigo 2º do Código de Ética (alínea “k”), que 462

veta a (o) psicóloga (o) de “Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas 463

quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a 464

qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação”, 465

ou seja, não caberia à/ao profissional que esteja oferecendo apoio psicossocial à 466

execução de tais trabalhos, com risco de confundir sua ação profissional 467

desenvolvida na Política de Assistência Social com a ação técnica específica de 468

profissionais do Judiciário. Lembramos ainda que, nas atribuições das/os 469

profissionais do SUAS, não está prevista a função de parecerista, perita(o) ou de 470

realizadora/o de avaliação psicológica. 471

472

22

Atuação junto a crianças e adolescentes: 473

Muitas são as possibilidades de intervenção com crianças e adolescentes no 474

SUAS: Programa de Atenção Integral a Família - PAIF, Serviço de Convivência e 475

Fortalecimento de Vínculos - SCFV, Acolhimento Institucional, Medidas 476

Socioeducativas, Serviços de Convivência Inter geracional, dentre outros. Neste 477

sentido, é primordial que o profissional inicialmente conheça e entenda o que 478

cada um destes serviços deve ofertar, para posteriormente refletir sobre a ação 479

da psicologia neste campo. Será conforme as demandas identificadas durante o 480

acompanhamento que a(o) profissional poderá avaliar quais ferramentas e 481

estratégias podem ser mais adequadas no processo de intervenção. 482

A intervenção técnica se dá desde a acolhida e escuta qualificada, a oferta 483

de orientações e realização de referenciamento das famílias dos usuários para 484

serviços para acompanhamento, com a elaboração do plano de acompanhamento, 485

no CREAS acompanhamento especializado ou no CRAS, com intervenções 486

individual e coletiva, estas são algumas das atividades a serem desenvolvidas por 487

psicólogas (os) presentes nos serviços, programas e projetos do SUAS. 488

Além do Código de Ética, todo o trabalho realizado com crianças e 489

adolescentes devem ser balizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 490

forma a defender e garantir os direitos dos atendidos. Destacamos a 491

obrigatoriedade de comunicar ao Conselho Tutelar, sobre os casos de suspeita de 492

violência e/ou maus tratos e abuso. Além disso, é dever da/o psicóloga (o), 493

enquanto cidadã (o) e defensor de direitos, que atue de forma a empoderar as 494

pessoas para que façam as notificações e denúncias aos órgãos competentes, 495

principalmente quando a (o) psicóloga (o) está em papel de intervenção junto 496

àquela(s) pessoa(s). 497

O Código de Ética - Art. 8º esclarece que, para realizar atendimento não 498

23

eventual de criança, adolescente ou interdito, a (o) psicóloga (o) deve solicitar 499

autorização de ao menos um de seus responsáveis, observadas as 500

determinações da legislação vigente. O §1° informa que “no caso de não se 501

apresentar um responsável legal, o atendimento deverá ser efetuado e comunicado 502

às autoridades competentes”; e o §2° lembra que caberá à (ao) psicóloga (ao) a 503

responsabilidade sobre os encaminhamentos, que devem visar à garantia da 504

proteção integral da criança ou adolescente atendido. Ainda devemos nos ater ao 505

Art. 13º “no atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser 506

comunicado aos responsáveis o estritamente essencial para se promoverem 507

medidas em seu benefício”. 508

No que se refere a casos de suspeita de abusos, violência e maus tratos, 509

destacamos o cuidado para que a (o) psicóloga (o) não seja conivente, devendo 510

realizar os encaminhamentos necessários, como informado no art. 2º, “a” do 511

Código de Ética. 512

Lembramos que os casos inseridos no acompanhamento junto ao CREAS 513

podem e devem continuar acessando as atividades ofertadas no CRAS, 514

respeitando as respectivas atribuições. Cabe aqui observar que embora por 515

alguma situação de violação exija-se um atendimento mais estreito, sistemático e 516

especializado – função do CREAS, não se pode esquecer que a família continua 517

pertencendo a um território. 518

Outro cuidado a ser considerado é a quebra de sigilo, nos artigos. 9º e 10º 519

do Código de Ética define-se que a decisão é da (o) psicóloga (o) sobre a quebra 520

do sigilo em situações em que isso se faça necessário, conforme o critério de se 521

buscar sempre o menor prejuízo. Destacamos que esta decisão deve ser 522

fundamentada tanto no trabalho feito quanto em seu referencial teórico. 523

A cartilha "O Tecido e o Tear" é um importante documento de orientação a 524

respeito de órgãos que tratam de situações de garantia/violação de Direitos 525

24

Humanos, e foi criado, sobretudo, para ser compartilhado com a população em 526

geral, não utilizando linguagem técnica demasiadamente difícil para a 527

compreensão da população. 528

Também devem ser consideradas as resoluções do Conselho Nacional dos 529

Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, principalmente as resoluções 530

conjuntas do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, e CONANDA: 531

• Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 1/2006, de 13 de dezembro 532

de 2006: Aprova o Plano Nacional de Promoção, Defesa e Garantia do 533

Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e 534

Comunitária. 535

• Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 1/2009, de 18 de junho de 536

2009: Aprova o documento Orientações Técnicas: Serviços de 537

Acolhimento para Crianças e Adolescentes. 538

• Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 1/2010, de 09 de junho de 539

2010: Estabelece parâmetros para orientar a constituição, no âmbito 540

dos Estados, Municípios e Distrito Federal, de Comissões 541

Intersetoriais de Convivência Familiar e Comunitária, destinados à 542

promoção, proteção e defesa da criança e do adolescente, e dá 543

outras providências. 544

• Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 2/2010, de 16 de setembro 545

de 2010: Altera o texto do documento Orientações Técnicas: 546

Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. 547

Há também materiais como vídeos, publicações e links de legislações 548

importantes, disponibilizados na página do site do CRP/SP sobre os mais diversos 549

temas, como a escuta de crianças e adolescentes, medidas socioeducativas em 550

25

meio aberto e em unidades de internação, entre outros. O Centro de Referências 551

Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP publicou os documentos 552

“Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, 553

Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do 554

psicólogo”, “Referências Técnicas para a atuação de psicólogos no âmbito das 555

Medidas Socioeducativas em Unidades de Internação”, “Referências Técnicas 556

para atuação do psicólogo em Vara de Família”, “Referências Técnicas para 557

atuação de psicólogas (os) em Programas de atenção à mulher em situação de 558

Violência”, “Referências Técnicas para atuação de Psicólogas (os) em Programas 559

de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto” entre outros, com o intuito de 560

oferecer maiores subsídios às (aos) profissionais. 561

O CRP/SP também dispõe de seção específica em sua página virtual sobre 562

o assunto da infância e adolescência, onde reuniu diversos materiais de 563

orientação sobre o assunto. O Caderno Temático “A Psicologia promovendo o 564

ECA” também traz importantes esclarecimentos sobre a atuação da (o) psicóloga 565

(o). 566

Em situações que envolvam o testemunho de maus tratos promovidos pela 567

equipe do próprio serviço às crianças e adolescentes atendidos, orientamos que 568

sejam realizadas intervenções junto ao grupo, tendo por subsídio o art. 2º, alíneas 569

"a" e "b", e art. 3º do Código de Ética. Orientamos também que a (o) psicóloga (o) 570

tenha um posicionamento crítico para realizar encaminhamentos/condutas 571

necessárias visando à proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes 572

e, como já ressaltado anteriormente, não seja conivente com a violação de 573

direitos, devendo comunicar o necessário e a bom tempo o que observou e seus 574

indícios, conforme o art. 10º do Código de Ética Profissional. 575

Nos casos em que se façam necessárias intervenções de saúde, como 576

atendimentos para tratamento de transtornos mentais, uso abusivo de álcool e 577

26

outras drogas e avaliações psicológicas, deve ser realizada articulação com os 578

profissionais dos serviços de saúde, atendo-se para que cada equipe efetue os 579

atendimentos que lhe cabem, de maneira continuada, complementar e em 580

parceria, e evitando reproduzir a lógica de simples encaminhamento e 581

desligamento da família ao serviço socioassistencial, pois, muitas vezes, o 582

sofrimento psíquico advém de situações ligadas à vulnerabilidade da proteção 583

social e ou à violência doméstica. 584

585

27

Atuação junto a Pessoas Idosas: 586

Em relação aos atendimentos a pessoas idosas, informamos que não há uma 587

resolução do CFP específica sobre o assunto, mas salientamos que a (o) 588

profissional deve estar atenta (o) ao Código de Ética considerando seus Princípios 589

Fundamentais, e o artigo 2° alínea “a” e artigo 3°, além de outras legislações 590

pertinentes, como o Estatuto do Idoso. 591

Os serviços ofertados na Proteção Social Básica e Proteção Social Especial 592

possuem responsabilidades de atendimento sobre esta população. 593

Conforme a orientação na Tipificação Nacional de Serviços 594

Socioassistenciais tem descrito o Serviço de Proteção Social Básica no domicílio 595

para pessoas com deficiência e idosas e Serviço de Proteção Social Especial para 596

Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias, e Instituições de Longa 597

Permanência para Pessoas Idosas/Idosos – ILPIs, e em cada município o serviço 598

deve organizar suas equipes de forma que realizem o trabalho de maneira 599

adequada e garantindo o respeito aos direitos humanos, com atendimento que 600

considere os ciclos de vida e as especificidades que apresentam, ofertando ainda 601

serviços que oportunizem a convivência intergeracional. 602

No que se refere a serviços de acolhimento, temos a publicação disponível 603

no site do CFP “Relatório de Inspeção de Instituições de Longa Permanência”, 604

produzido em parceria com o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do 605

Brasil, que aponta para as condições das instituições de acolhimento para idosos, 606

que nada mais são do que um retrato nacional do serviço ofertado para este 607

público. Além disso, há uma Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA, a RDC 608

nº 283/2005, que aprova o regulamento técnico das normas de funcionamento 609

para as instituições de longa permanência para idosos. 610

Também orientamos que é importante que a (o) psicóloga (o) defina 611

28

juntamente com toda a equipe técnica quais são as necessidades da instituição e 612

dos seus usuários para identificar a melhor forma de intervenção. Adicionalmente, 613

orientamos que os encaminhamentos necessários deverão ser feitos à rede 614

municipal. 615

Deve fazer parte do processo de intervenção à construção do Plano 616

Individual de Atenção, a articulação de um Trabalho em Rede, oportunizando 617

Convivência Comunitária e cuidados que promovam proteção e autonomia, além 618

do acesso a benefícios como o BPC – Beneficio de Prestação Continuada. 619

Conforme expresso no Estatuto do Idoso em seu art. 2° “o idoso goza de 620

todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana...", isto aponta para a 621

necessidade de ofertar serviços que invistam na preservação de sua saúde física 622

e mental, oportunizando espaços e atividades que promovam autonomia, 623

cidadania, dignidade, convivência familiar e comunitária. 624

Para tanto, a intervenção aos idosos deve ser prestada de forma integrada, 625

priorizando a articulação em rede e intersetorial, assegurando dessa forma a 626

atenção integral. 627

628

29

Atuação junto à população em situação de rua: 629

A população em situação de rua apresenta muitos desafios à sua assistência, 630

visto suas necessidades diversas e complexas mediante as estratégias de vida 631

desenvolvidas na condição de rua. Além das orientações já afirmadas pelo Código 632

de Ética, as (os) profissionais da Psicologia devem desenvolver meios criativos no 633

trato a essa população, que rompam com paradigmas e apresentem uma prática 634

inovadora e diferenciada, de forma que não violem direitos através da imposição 635

de modelos de vida domiciliados, e sem deixá-los desassistidos. 636

Deve-se focar o trabalho na realização de negociações contínuas e 637

acordos com os sujeitos, contemplando suas demandas expressas, e as 638

necessidades reconhecidas a partir das intervenções das (os) profissionais, 639

sempre garantindo a atenção com liberdade de escolha. 640

Ressaltamos que a conduta ética das (os) profissionais irá influenciar 641

decisivamente no contato e vinculação dos usuários com os serviços, e para isso 642

deve-se resgatar as orientações da NOB-RH/SUAS, que tratam do dever de 643

promover o acesso dos usuários à informação, principalmente no que se refere 644

aos seus direitos socioassistenciais e humanos, ao acesso aos serviços da rede 645

pública, ao respeito às diferenças, à pluralidade e à diversidade dos territórios, 646

assim como à singularidade de cada pessoa atendida. Estes cuidados devem 647

prever a superação de preconceitos e da reprodução de estigmas sociais, que 648

resultam em discriminação e exclusão social. 649

Devemos considerar a proposta da Política Nacional para Inclusão Social da 650

População em Situação de Rua produzida por um grupo interministerial e demais 651

instituições ligadas a esta população. Este documento nos lembra de que a 652

complexidade apresentada por este segmento social deve ser tratada de maneira 653

30

intersetorial, com os diversos serviços e secretarias atuando de maneira 654

articulada. 655

No que tange à assistência social, há orientações definidas pelo Ministério 656

de Desenvolvimento Social - MDS com a Tipificação Nacional dos Serviços 657

Socioassistenciais que estabelece as ações ofertadas nos Centros de Referência 658

Especializados para a população em Situação de Rua – CENTRO-POP, os Serviços 659

de Abordagem Social e o Serviço de Acolhimento Institucional de Passagem 660

(albergue). Especificamente, o MDS lançou os cadernos “Orientações Técnicas 661

para os Centros de Referência Especializados para a população em Situação de 662

Rua” – Centro Pop e o “Caderno de Perguntas e Respostas do Serviço de 663

Abordagem Social”. Apesar do enfoque mais direcionado aos serviços da 664

proteção social especial, nos municípios em que não existirem estes serviços, as 665

equipes de assistência social devem se manter atentas à existência de pessoas 666

nestas condições vulneráveis e construir estratégias de atendimento dentro de 667

suas possibilidades, sempre considerando a intersetorialidade. 668

O Centro Pop tem sua intervenção na perspectiva da oferta de atenção 669

especializada para População em Situação de Rua e deve integrar-se a outras 670

ações da Política de Assistência Social, onde a intervenção técnica deve ter como 671

foco a promoção de direitos, de maneira a produzir a partir do investimento nas 672

potencialidades dos sujeitos atendidos a construção de novas trajetórias de vida, 673

respeitando a heterogeneidade dessa população. 674

Em relação à População em Situação de Rua a psicologia se insere no 675

Centro Pop e no Serviço Especializado de Abordagem de Rua, ambos tipificados 676

na Proteção Social de Média Complexidade, enquanto na Alta Complexidade 677

temos o Serviço de Acolhimento Institucional, que se refere a local, a uma 678

residência e/ou unidade institucional de passagem (Casa de Passagem), além do 679

Serviço de Acolhimento em Repúblicas. 680

31

Para a atuação técnica é fundamental construir a intervenção pautada na 681

compreensão da heterogeneidade desse público, nas diferenças que constituem 682

o percurso de ida para as ruas, nas relações e vínculos constituídos na rua, bem 683

como do processo de saída da rua. Exige ainda a intervenção na constituição de 684

novos vínculos e formas de relações sociais. 685

Destaca-se também o papel fundamental dos profissionais para romper 686

com estigmas criados em torno desse público, constituindo significados sociais 687

que os excluem socialmente de diferentes formas. Portanto, temos aqui o 688

indicativo de que o trabalho de psicólogas (os) com pessoas em situação de rua 689

não implicam apenas na intervenção direta aos mesmos, mas também na 690

ressignificação social desse público para a sociedade. As possibilidades de 691

intervenção são diversas, devendo ser considerada para a definição de 692

estratégias a especificidade de cada caso, sendo o atendido parceiro no processo 693

de construção do Plano de Desenvolvimento do Usuário – PDU. Considerando não 694

apenas a rede socioassistencial no estabelecimento de parcerias para 695

intervenção, mas também as Políticas Públicas Sociais. 696

697

32

A Psicologia na atenção à mulher em situação de violência: 698

A temática do enfrentamento da violência contra a mulher é, atualmente, uma das 699

grandes preocupações no âmbito das políticas públicas, pois apresenta 700

características complexas e multidimensionais e exige compreensão e 701

intervenção multidisciplinares nas áreas da Saúde, da Assistência Social e do 702

Poder Judiciário, dentre outros. 703

Entre as ações, nas quais há intervenção dos profissionais de CRAS e de 704

CREAS, podemos destacar principalmente as de prevenção, a identificação de 705

casos em que pode estar ocorrendo à violência e o acompanhamento das 706

demandas afetas a PNAS. 707

Segundo pesquisa realizada pelo CREPOP e publicada nas “Referências 708

Técnicas para Atuação de Psicólogas (os) em Programas de Atenção a Mulher em 709

Situação de Violência” (2013), a violência contra a mulher encontra-se 710

categorizada como violência de gênero, embora sua matriz esteja historicamente 711

ligada ao conceito de patriarcado, e inclui, para além do sexo biológico, a sua 712

tradução em papéis sociais, representada pelas expectativas de 713

comportamentos e pelas relações de poder entre homens e mulheres na 714

sociedade. 715

Estas situações de violência deflagraram a implementação de leis que 716

visam proteger a mulher, sendo uma das mais importantes a Lei nº 11.340, mais 717

conhecida como Lei Maria da Penha. Ainda, no caderno de referências técnicas 718

citado, encontramos entre as páginas 40 e 46 o marco legal detalhado a respeito 719

do assunto. 720

A Lei Maria da Penha elenca os seguintes tipos de violência contra a 721

mulher: conduta de discriminação, agressão ou coerção, ocasionada à mulher e 722

que cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, 723

33

moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Violência 724

intrafamiliar ou violência doméstica - ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou 725

em uma relação de familiaridade, afetividade ou coabitação. Geralmente é 726

praticada por um membro da família que vive com a vítima. As agressões 727

domésticas incluem: abusos físico, sexual e psicológico, negligência e abandono. 728

Assim como outros temas, a questão da violência contra a mulher 729

apresenta determinadas especificidades, principalmente na compreensão dos 730

motivos pelos quais é tão difícil para algumas mulheres romperem com o ciclo da 731

violência. As razões que levam estas mulheres a permanecer em uma relação 732

violenta são variadas e muitas vezes se somam, vão desde dependência 733

financeira e emocional, ao medo e falta de rede de apoio, por isso a importância 734

de se compreender o caráter multidimensional e multiprofissional da intervenção 735

a ser feita. 736

Ainda, de acordo com a publicação do CREPOP sobre o tema, a/o 737

profissional psicóloga (o) realiza escuta qualificada e acolhimento, e sua 738

intervenção deve promover fortalecimento da autoestima, favorecendo o 739

rompimento com situações de violência e a promoção de autonomia, superação 740

da vitimização e fortalecimento das mulheres, tanto em serviços especializados 741

quanto nos serviços ofertados pelo SUAS. 742

Nos serviços especializados, as principais atividades da (o) psicóloga (o) 743

são voltadas principalmente para o acolhimento, a avaliação, a elaboração de 744

laudos e pareceres, os atendimentos individuais e grupais e o referenciamento da 745

mulher aos demais serviços da rede, reuniões internas com membros da equipe 746

e/ou serviços externos para deliberação sobre encaminhamentos referentes ao 747

processo de acompanhamento do caso em tela. 748

749

34

Atuação em equipe multiprofissional: 750

Há também muitas dúvidas no que se refere ao trabalho em equipe nos serviços 751

socioassistenciais, em relação à atuação multidisciplinar e interdisciplinar. A 752

política de Assistência Social orienta, em diversos documentos, que os trabalhos 753

nos serviços socioassistenciais sejam realizados de maneira interdisciplinar (por 754

exemplo, a NOB-RH SUAS), ou seja, profissionais de diferentes áreas deverão 755

compartilhar reflexões, decisões e intervenções para o benefício de seus 756

atendidos, tendo por base o conhecimento de seu campo de formação e 757

integrando suas reflexões e perspectivas a fim de encontrarem soluções novas e 758

eficientes no que se pretende. Isto não quer dizer que os profissionais terão suas 759

especificidades restringidas, mas sim que poderão, em alguns momentos, 760

compartilhar as mesmas ações e atribuições balizando-se no olhar diferenciado 761

de suas formações. Disto difere uma atuação multidisciplinar, em que diferentes 762

categorias profissionais podem compor uma mesma equipe, em busca de um 763

objetivo comum, mas sem atuarem conjuntamente e integradamente para o 764

desenvolvimento de estratégias comuns sobre os mesmos casos. 765

O documento “Parâmetros para atuação de assistentes sociais e 766

psicólogas (os) na política de assistência social” nos auxilia a considerar sobre a 767

atuação interdisciplinar. Esta modalidade de trabalho visa construir uma 768

perspectiva global sobre os indivíduos e famílias, permitindo auxiliá-los na análise 769

de seus contextos sociais e dos determinantes principais que agem sobre suas 770

condições de vida, possibilitando o desenvolvimento de estratégias de vida que 771

rompam com ciclos de vulnerabilidade. Para que o trabalho interdisciplinar 772

realmente ocorra, é necessário que as equipes e gestões mantenham espaços de 773

diálogo constantes, momentos que possibilitem a discussão dos diferentes 774

acúmulos teóricos e metodológicos, e o planejamento de ações com vistas às 775

35

especificidades das demandas e das intervenções profissionais. Estes momentos 776

são cruciais para que os profissionais apresentem seus pontos de vista, suas 777

possibilidades de atuação conjunta e integrada, e mesmo as atuações 778

específicas de cada categoria, quando se fizer necessário. 779

Cada profissional deve, mesmo no trabalho interdisciplinar, balizar-se em 780

seus Códigos de Ética, resoluções e diretrizes curriculares, e através do diálogo, 781

construir parâmetros de atuação integrada, sem que para isso sejam colocadas 782

em conflitos suas abordagens. Esta modalidade de trabalho deve ser utilizada nas 783

diferentes estratégias de trabalho, como nas visitas domiciliares, abordagens 784

grupais e individuais, estudos socioeconômicos, entre outros, e permitirá o 785

avanço sobre processos de trabalhos coletivos. Principalmente em relação às 786

(aos) psicólogas (os) e assistentes sociais, o referido documento destaca a 787

função estratégica dessas duas categorias profissionais na garantia de direitos 788

da população, na avaliação e compreensão do contexto sociocultural dos 789

assistidos, e no fortalecimento da política de Assistência Social, dando ênfase às 790

potencialidades do trabalho articulado entre os dois tipos de profissionais e suas 791

diferentes perspectivas. Os códigos de ética de ambas as categorias 792

estabelecem direitos e deveres no trabalho em equipe. As (Os) profissionais 793

devem manter o cuidado em relação ao sigilo profissional, inclusive de 794

documentos produzidos em conjunto, cabendo a ambos apenas o registro de 795

informações relevantes ao cumprimento dos objetivos do trabalho (art. 12 Código 796

de Ética) da (o) Psicóloga (o), e a responsabilidade na divulgação de informações 797

dos casos atendidos no que seja relevante para a questão em tela, devendo essa 798

definição estar sujeita à avaliação da (o) profissional responsável pelo 799

acompanhamento do caso. 800

Ainda em “Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogas/os 801

na política de assistência social” temos que: "A atuação interdisciplinar requer 802

36

construir uma prática político profissional que possa dialogar sobre pontos de vista 803

diferentes, aceitar confrontos de diferentes abordagens, tomar decisões que 804

decorram de posturas éticas e políticas pautadas nos princípios e valores 805

estabelecidos nos Códigos de Ética Profissional." (Brasília, 2007). 806

O fazer no campo do SUAS aponta para a construção de práticas pautadas 807

no conhecimento compartilhado, permitindo a compreensão e atenção a sujeitos 808

e coletivos em sua integralidade. Exige um conjunto de habilidades e 809

competências, assim como o compartilhamento de saberes e fazeres, ampliando 810

a capacidade de resposta técnica as demandas que se apresentam no cotidiano 811

das (os) profissionais envolvidos, construindo práticas no campo das relações 812

sociais, assim se estabelecendo a intervenção psicossocial. 813

A Política de Assistência Social tem como fundamento essencial a 814

superação da fragmentação, o estabelecimento de estratégia de diálogo contínuo 815

que permita a implementação e de metodologias e procedimentos realmente 816

inovadores no sentido de propiciar transformações sociais de indivíduos e 817

contextos. Trabalhamos com vulnerabilidades que se constituem por múltiplos 818

fatores numa sociedade em que as relações criam contextos de violações de 819

direitos sociais e individuais. 820

Temos então um campo de atuação onde diferentes áreas do 821

conhecimento técnico-cientifico devem construir práticas integradas e 822

complementares de emancipação, autonomia e protagonismo, fortalecendo 823

indivíduos internamente para ações concretas que rompam com a violação de 824

direitos. 825

A intervenção psicossocial se diferencia na medida em que propõe a 826

diferentes campos do conhecimento que se agrupam buscar a compreensão de 827

fenômenos que interferem na vida de indivíduos, suas famílias e/ou coletivos. 828

37

A psicologia enquanto ciência vem compor com seu campo de 829

conhecimento no sentido de trazer à luz aspectos subjetivos e propor 830

intervenções que sejam de interface, levando à compreensão de sujeitos e 831

contextos em sua totalidade. 832

Cabe observar que se trata de uma leitura de contextos e ocorrências que 833

rompe com o paradigma da culpabilização de indivíduos e segmentos, aponta 834

para a percepção de fenômenos sociais que interferem na sociedade e nos 835

indivíduos que a compõem e dessa forma traduzem contextos de realidade com 836

seu componente subjetivo. 837

838

38

Produção de documentos e Prontuário SUAS 839

No que se refere à produção de documentos, a primeira orientação a ser seguida 840

é a Resolução do CFP 007/2003, que apresenta os parâmetros para elaboração 841

de documentos escritos, dividindo-os em cinco itens: princípios norteadores, 842

modalidades de documentos (incluindo a declaração e o parecer psicológico, não 843

oriundos de avaliação psicológica, atestado psicológico, relatório/laudo 844

psicológico), conceito / finalidade / estrutura, validade dos documentos, e guarda. 845

Em relação à modalidade, deve-se analisar a finalidade do documento, de onde 846

e/ou de quem parte a demanda para que se decida qual tipo será o mais 847

adequado, a partir do trabalho que realiza e de sua fundamentação teórico-848

técnica. É importante salientar que a responsabilidade de escolha e confecção do 849

documento é, exclusivamente, da(o) profissional. 850

Destacamos também os artigos do Código de Ética: 851

Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe 852

multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as informações necessárias 853

para o cumprimento dos objetivos do trabalho. 854

Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer 855

motivos, ele deverá zelar pelo destino dos seus arquivos confidenciais. § 1° – 856

Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo o 857

material ao psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior 858

utilização pelo psicólogo substituto. § 2° – Em caso de extinção do serviço de 859

Psicologia, o psicólogo responsável informará ao Conselho Regional de 860

Psicologia, que providenciará a destinação dos arquivos confidenciais. 861

39

Nos serviços onde o trabalho é executado por equipe multiprofissional e/ou 862

interdisciplinar, que utiliza o prontuário único, deve ser resguardado o sigilo, 863

registrando apenas as informações necessárias para que os profissionais 864

envolvidos no processo de acompanhamento tenham uma compreensão do caso 865

em sua amplitude, uma vez que o trabalho em equipe multidisciplinar tem como 866

objetivo compreender sujeitos e contextos em sua totalidade. 867

Segundo a NOB RH SUAS, p. 23, cabe à equipe definir parâmetros ao se 868

produzir documentos, atentando-se para registrar apenas o estritamente 869

relevante para entendimento, acompanhamento e resolução do caso e 870

qualificação da assistência oferecida. Dessa discussão faz parte a decisão sobre 871

o grau de detalhamento dos dados, principalmente quando encaminhados a 872

outras instituições, levando-se também em consideração o sigilo que deve ser 873

preservado conforme o código de ética de cada profissão. 874

O documento “Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado 875

de Assistência Social - CREAS” salienta que, para o registro de informações a 876

respeito do acompanhamento de indivíduos e famílias, podem ser utilizados 877

diferentes tipos de registros, esclarecidos nas páginas 69 e 70, como: Prontuários, 878

Plano de Acompanhamento Individual e Familiar, e Relatórios. 879

Devemos lembrar que os usuários dos serviços sociassistenciais, como 880

quaisquer cidadãos brasileiros, têm o direito de acesso às suas informações, 881

conforme o art. 5º, inciso XXXIII da Constituição Federal, e a lei nº 12.527 de 18 de 882

novembro de 2011. 883

Cabe às (aos) profissionais o cuidado no compartilhamento de dados, a fim 884

de se evitar a quebra de sigilo e falta ética em relação às informações dos 885

usuários. Quando são solicitados documentos por profissionais não psicólogas 886

(os), devemos observar o art. 6º do Código de Ética, que prevê a elaboração de 887

documentos informando apenas o que é solicitado e necessário (a partir dos 888

40

modelos definidos na resolução do CFP 007/2003); e orienta a (o) psicóloga (o) a 889

responsabilizar também a (o) profissional que receberá as informações sobre o 890

sigilo dos dados. O artigo 9º aponta como dever da (o) psicóloga (o) o respeito à 891

confidencialidade da intimidade das pessoas, grupos ou instituições, e o artigo 892

10º orienta para os casos em que for necessária a quebra de sigilo, que deve 893

pautar-se na busca do menor prejuízo, e no parágrafo único novamente o 894

destaque para prestar as informações estritamente necessárias. 895

Há também a Resolução CFP 001/2009, que dispõe sobre a obrigatoriedade 896

do registro documental decorrente da prestação de serviços psicológicos. Ainda 897

no que tange ao sigilo, é importante observar que todos os profissionais que 898

compõem a equipe de trabalho também estão submetidos à ética e ao sigilo com 899

relação às informações referentes às pessoas atendidas nos serviços, programas 900

e projetos. Este é um tema que deve cotidianamente estar pautado nas 901

discussões e reflexões da equipe e na construção dos processos de trabalho. 902

Também temos a observar que é direito da pessoa atendida pelos 903

profissionais que compõem a equipe de trabalho ter conhecimento sobre o que 904

consta nos documentos produzidos acerca de sua pessoa a serem encaminhados 905

a outros locais externos ao serviço onde é atendida, assim como das informações 906

que constam de seu prontuário, conforme disposto nas orientações do SUAS. 907

Nesse contexto, o artigo 154 do Código Penal Brasileiro é claro ao prever o 908

crime de violação do segredo profissional a todo aquele que: “Revelar alguém, sem 909

justa causa, segredo, de quem tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou 910

profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem”. 911

Também devemos levar em consideração a Lei° 8.027/1990, que dispõe 912

sobre normas de conduta dos servidores públicos civis da União, das autarquias e 913

das fundações públicas, e dá outras providências. Esta lei coloca como um dos 914

deveres do servidor público o sigilo profissional. Outra Lei federal que podemos 915

41

citar e que possui artigos sobre a questão do sigilo é a 8.112/90, que dispõe sobre 916

o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das 917

fundações públicas federais. Sugerimos também consulta às leis estaduais e 918

municipais específicas. 919

Convém lembrar que o sigilo não se aplica apenas a profissões 920

regulamentadas, mas a todos os trabalhadores que, em virtude de seu ofício ou 921

função, tem acesso a informações relacionadas à intimidade ou à vida privada de 922

alguém. Assim, em casos que ocorra a disponibilização de relatórios às famílias 923

(por exemplo, oficiais de justiça que apresentam relatórios às famílias), a (o) 924

psicóloga (o) pode problematizar esta situação junto aos gestores e com o 925

próprio Judiciário, esclarecendo as implicações que tal ação pode acarretar. 926

Ainda sobre esta questão, diante da solicitação de relatórios e outros 927

materiais psicológicos em fase de investigação ou inquérito civil, cabe um diálogo 928

com o demandante esclarecendo que todo material decorrente de atendimento 929

da (o) psicóloga (o) está sob sigilo profissional, sendo ainda de direito do usuário 930

dos serviços, conforme a NOB/SUAS 2012 (Art. 6º XVIII). Em caso de ordem judicial 931

de quebra do sigilo, a (o) psicóloga (o) cumprirá a determinação, entregando o 932

prontuário e demais documentos solicitados. Entretanto, é recomendável 933

registrar que o material está sob sigilo profissional, cabendo a quem está de 934

posse do mesmo, a responsabilidade pelo sigilo. 935

O CRP recebe muitas solicitações de orientação a respeito de demandas de 936

avaliação psicológica e perícias de outros setores públicos (Judiciário, Ministério 937

Público, Defensoria, Saúde, Educação, Conselho Tutelar dentre outros.), e cabe 938

ressaltar que esta função extrapola a atuação dos serviços socioassistenciais 939

conforme descrito nas Cartilhas de Orientações Técnicas: Centro de Referência 940

Especializado de Assistência Social – CREAS (pag. 43), cabendo a outros setores 941

a responsabilidade sobre este tipo de ação. Isso deve ser debatido e equalizado 942

42

em conjunto com o órgão gestor da assistência social, no cumprimento de sua 943

função de gestão e regulação do trabalho, evitando a sobreposição de tarefas e o 944

desvio das finalidades dos serviços socioassistenciais. 945

Também tem sido demandadas ao CRP/SP orientações sobre situações em 946

que gestores têm interferido em relatórios produzidos pelos técnicos, exigindo 947

e/ou realizando mudanças sem consideração da autonomia e responsabilidade 948

técnica, ou ainda que os documentos tenham sido arquivados e não chegam ao 949

destino. 950

Orientamos, de maneira geral, que os relatórios sejam protocolados e seja 951

produzida 2ª via assinada dos mesmos, arquivadas junto com os registros de 952

informação das respectivas pessoas atendidas. Além disso, devem-se garantir 953

certos princípios constitucionais formais da administração pública, seja nos 954

serviços estatais, seja nas entidades de assistência social, como a solicitação 955

oficial e por escrito, definindo a informação que se pretende e sua finalidade. 956

Quando isso não estiver sendo respeitado, pode se fazer necessária a notificação 957

à parte que a infringe e, caso for, a instâncias superiores do órgão gestor, da 958

administração municipal ou estadual ou até ao Ministério Público, que deve zelar 959

pelo rigoroso cumprimento da Política de Assistência Social. 960

961

43

Diálogo com o Judiciário 962

Atualmente, muitas (os) psicólogas (os) têm procurado o CRP em busca de 963

orientação em relação a demandas solicitadas pelo poder Judiciário, desde a 964

produção de laudos até a presença como testemunha em processos. 965

Inicialmente, no que se refere à solicitação para dar depoimento em casos 966

relativos a usuários atendidos nos serviços socioassistenciais, e cuja psicóloga 967

(o) está envolvida/o com o caso, há considerações importantes a se fazer. O 968

artigo 11 de nosso Código de Ética nos lembra de que podemos prestar 969

depoimento, porém sempre se atendo às demais questões colocadas pelo mesmo 970

código, principalmente, no que se refere ao sigilo profissional. 971

O sigilo deve ser considerado desde a produção dos relatórios de 972

atendimento e prontuários, os quais devem apenas conter informações 973

estritamente necessárias e de conhecimento da pessoa a que se refere às 974

mesmas. Geralmente, estes relatórios já foram requisitados pelo Judiciário antes 975

da solicitação do depoimento, e cabe à (ao) profissional se ater ao que foi escrito, 976

lembrando que a (o) psicóloga (o) pode produzir outros documentos privativos que 977

possuam informações mais detalhadas dos casos, e que estarão protegidos por 978

lei. 979

Há a possibilidade de quebra de sigilo apenas em situações que busquem o 980

menor prejuízo ao assistido, mas caberá a total responsabilidade da (o) 981

profissional sobre esta decisão (artigo 10º do Código de Ética). Caso não haja 982

este cuidado, a (o) profissional estará incorrendo em falta ética, podendo sofrer 983

as consequências deste ato. Deve-se analisar o motivo, as circunstâncias e o 984

modo de realizar esta quebra de sigilo, e se for necessário, recorrer a outros 985

profissionais para decidir pela revelação das informações sigilosas. 986

A (o) psicóloga/o está protegida (o) também pela Constituição Federal nos 987

44

incisos XIII e XIV do artigo 5º: “XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício 988

ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XIV - 989

é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, 990

quando necessário ao exercício profissional.” Por força desse artigo, entende-se 991

que o dever do sigilo tem sua aplicabilidade estendida a todos os que, por sua 992

profissão, ofício ou função, têm acesso a informações confidenciais, 993

independente de serem profissões regulamentadas ou não. 994

Convém lembrar também que o artigo 229 do Código Civil Brasileiro (Lei 995

010406/2002) dispõe que o profissional não está obrigado a depor caso haja o 996

envolvimento de informações obtidas durante o exercício profissional (grifos 997

nossos): “Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato: I - a cujo 998

respeito, por estado ou profissão, deva guardar segredo; II - a que não possa 999

responder sem desonra própria, de seu cônjuge, parente em grau sucessível, ou 1000

amigo íntimo; III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso antecedente, a 1001

perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato”. 1002

No mesmo sentido, o artigo 207 do Código de Processo Penal igualmente 1003

tutela a proteção ao sigilo profissional: “São proibidas de depor as pessoas que, 1004

em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo 1005

se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho”. Por 1006

sua vez, o artigo 347, II e 406, II, ambos do Código de Processo Civil também 1007

resguardam o sigilo profissional: Art. 347. “A parte não é obrigada a depor de 1008

fatos: I - criminosos ou torpes, que Ihe forem imputados; II - a cujo respeito, por 1009

estado ou profissão, deva guardar sigilo.”; Art. 406. “A testemunha não é obrigada 1010

a depor de fatos: (...) II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar 1011

sigilo”. 1012

O artigo 154 do Código Penal Brasileiro é claro ao prever o crime de 1013

violação do segredo profissional a todo aquele que: “Revelar alguém, sem justa 1014

45

causa, segredo, de quem tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou 1015

profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Pena - detenção, de 3 1016

(três) meses a 1 (um) ano, ou multa”. Apesar das (os) psicólogas (os) de a 1017

assistência social atuarem em casos que geralmente envolvem questões 1018

complexas de violações de direitos, deve se ter em mente que os serviços 1019

socioassistenciais não se configuram como serviços que realizam a persecução 1020

penal, não sendo responsabilidade de seus funcionários contribuir com 1021

informações que influenciem diretamente a investigação de fatos e produção de 1022

provas – aos serviços socioassistenciais está à incumbência de prestar a 1023

proteção social, de atuar sobre as vulnerabilidades e, para isso, precisa manter 1024

inviolado o vínculo construído nos atendimentos. Caberá às(aos) profissionais do 1025

Judiciário a investigação dos fatos e coleta de informações. 1026

As questões do sigilo também afetam diretamente a produção de 1027

documentos. No que se refere à realização de perícias e produção de laudos, 1028

devemos reafirmar que os profissionais dos serviços públicos socioassistenciais 1029

fazem parte do Poder Executivo, e não caberia a eles a realização de tarefas 1030

atribuídas a funcionários do Poder Judiciário, setor que devem possuir corpo 1031

técnico específico para estas funções. Nosso Código de Ética esclarece, no artigo 1032

2º: “Ao psicólogo é vedado: (...) k) Ser perito, avaliador ou parecerista em 1033

situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, 1034

possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos 1035

resultados da avaliação.” Ainda sobre este assunto, o CFP regulamentou a 1036

Resolução CFP 08/2010 sobre o papel do perito e do assistente técnico no 1037

Judiciário. A atuação enquanto perito do judiciário requer um conhecimento 1038

específico, pois na atuação como Psicólogo Perito ou Assistente Técnico é 1039

importante o conhecimento da teoria, legislação e prática da atividade pericial. 1040

Também é relevante o Provimento 36 do Conselho Nacional de Justiça, que 1041

46

trata das Varas de Infância e Juventude, da estruturação das varas com equipe 1042

multidisciplinar, e estabelece estratégias integradas com os órgãos de gestão 1043

das políticas públicas em parceria, e conforme o artigo 6º, item II “no curso da 1044

cooperação entre os órgãos do Poder Executivo e do Poder Judiciário, evitem o 1045

uso de expressões admoestadoras, a exemplo de sob pena de crime de 1046

desobediência ou ‘prisão’”. 1047

A (o) própria (o) profissional deve se posicionar criticamente, estar 1048

fundamentada (o) em sua decisão e, se possível, dialogar com a 1049

gerência/coordenação em busca da melhor estratégia para garantir a qualidade 1050

do serviço prestado, e se possível, com o próprio agente do Judiciário. Na 1051

proposta de atenção ofertada pelos serviços sociassistenciais muitas vezes o 1052

sujeito da avaliação é usuário do serviço, o que inviabilizaria a emissão de laudo 1053

ou perícia. 1054

Também é preciso considerar a necessidade de intermediação com o 1055

judiciário, que muitas vezes não tem apropriação sobre a Politica de Assistência 1056

Social e das atribuições das(os) profissionais nela envolvidos, e, a partir deste 1057

diálogo, construir possibilidades de proteção ao público alvo desta política. Vale 1058

lembrar que, muitas vezes, são pessoas com seus direitos violados e/ou são 1059

vítimas de situações de violência que acabam se valendo das instâncias judiciais 1060

para a garantia de seus direitos e, neste momento, necessitam da intervenção/ 1061

atuação das (os) profissionais para se valer da garantia de que estes direitos não 1062

sejam mais violados. Portanto, psicólogas(os) são parte integrante para a 1063

construção de melhores encaminhamentos e solução das questões em tela. 1064

1065

47

Considerações finais: 1066

Apresentar orientações sobre a prática da psicologia no Sistema Único de 1067

Assistência Social – SUAS exige uma reflexão sobre a Política Nacional de 1068

Assistência Social – PNAS e seu processo de constituição que se deu no campo 1069

da disputa rompendo com paradigmas no campo das Políticas Sociais e da 1070

atenção que se pretende oferecer a situações e ocorrências que têm sua origem 1071

em aspectos não apenas sociais, mas também no campo das relações que se 1072

estabelecem na sociedade, relações de poder e culpabilização de segmentos 1073

sociais pelo que lhes ocorre. 1074

Exige uma psicologia crítica e atuante no sentido de romper com formas de 1075

compreensão da desigualdade social e das vulnerabilidades a que sujeitos e 1076

coletivos estão expostos, propondo novas formas de intervenção que vem sendo 1077

constituídas nesse processo de reflexão da prática, contribuindo para um fazer 1078

mais consistente no sentido da transformação social e nas repercussões desse 1079

fazer. Entendendo que a prática dentro dessa política foi se dando no processo 1080

onde os referencias teóricos também vêm se constituindo. 1081

É fundamental que as (os) profissionais busquem aprofundar-se na área em 1082

que trabalham, pois isso possibilitará instrumentalizarem-se enquanto 1083

profissionais deste campo e, dessa forma, fundamentarem-se para dialogar sobre 1084

as demandas que têm surgido, sem que muitas vezes a recusa em executar 1085

determinada ação seja compreendida como apenas uma recusa. 1086

A partir deste aprofundamento é possível à argumentação e reflexão sobre 1087

as atividades que têm sido atribuídas à psicologia na Política de Assistência 1088

Social, permitindo distinguir aquelas que de fato compreendem as atividades 1089

pertinentes à atuação de psicólogas (os) em diferentes lugares do SUAS. 1090

A Política de Assistência Social estabelece as diretrizes para a oferta de 1091

48

atenção e proteção a indivíduos, famílias e coletivos. As Cartilhas de Orientação 1092

de CRAS, CREAS e Pop Rua apontam as ações a serem desenvolvidas, mas as 1093

metodologias e estratégias de trabalho cabem às equipes de trabalho construir 1094

de forma a atender as demandas identificadas em cada localidade de intervenção 1095

respeitando especificidades territoriais, de indivíduos e coletivos. 1096

Cabe à psicologia apropriar-se de contextos políticos e sociais de maneira 1097

a contribuir para esse processo de construção a partir de seu campo de 1098

conhecimento enquanto ciência que apresenta um compromisso social para a 1099

garantia de defesa de direitos humanos, de cidadania e autonomia de sujeitos e 1100

coletivos, trazendo para o debate o subjetivo presente em todos os campos das 1101

relações humanas onde as disputas de poder estão presentes, atuando e 1102

interferindo profundamente. 1103

Neste sentido, cabe observar que a construção de processos de trabalho é 1104

contínua e exige das (os) profissionais o compromisso e posicionamento frente à 1105

dinâmica social com a garantia de direitos sociais, rompendo com a 1106

estigmatização de grupos e a perpetuação de situações de risco e 1107

vulnerabilidade. 1108

1109

49

Referências 1110

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Disponível em: 1111

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/58109e00474597429fb1df3fb1112

c4c6735/ RDC+N%C2%BA+283-2005.pdf?MOD=AJPERES. Acesso em 25 1113

maio 2016. 1114

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Disponível em: http://site.cfp.org.br. 1115

Acesso em 25 maio 2016 1116

CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA. Disponível em: http://www.crpsp.org.br. 1117

Acesso em 25 maio 2016 1118

CENTRO DE REFERÊNCIA TÉCNICA EM PSICOLOGIA E POLÍTICA PÚBLICA. 1119

Disponível em: http://crepop.pol.org.br/novo/cat/publicacoes/referencias-1120

tecnicas. Acesso em 25 maio 2016. 1121

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO. Disponível em: 1122

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assistencia-social/ Acesso em 25 maio 2016. 1124

PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Disponível em: 1125

http://www2.planalto.gov.br/acervo/legislacao. Acesso em 25 maio 2016 1126