Fundamentos Fundamentos teóricos e teóricos e

metodológicos para o metodológicos para o trabalho com trabalho com conhecimentos conhecimentos

linguísticoslinguísticos com com alunos em processo alunos em processo

de recuperação de recuperação paralela paralela Jacqueline Peixoto BarbosaJacqueline Peixoto Barbosa

PUC-SPPUC-SPJaneiro/2010Janeiro/2010

Situando a questão: o Situando a questão: o ensino de gramática ao ensino de gramática ao

longo dos temposlongo dos tempos Sempre esteve ligado ao ler e escrever Sempre esteve ligado ao ler e escrever

bem;bem; O que mudou (ou não) é o que se O que mudou (ou não) é o que se

entende por ler e escrever bem:entende por ler e escrever bem: Perspectiva tradicional: aparece mais Perspectiva tradicional: aparece mais

relacionado àrelacionado à ““norma culta”: para poder compreender e norma culta”: para poder compreender e

apreciar os grandes escritores e apreciar os grandes escritores e norma padrão: expressar-se corretamente, de norma padrão: expressar-se corretamente, de

acordo com as regras do bem dizer. acordo com as regras do bem dizer.

Com o desenvolvimento dos estudos Com o desenvolvimento dos estudos pragmáticos, enunciativos, discursivos e pragmáticos, enunciativos, discursivos e sociolinguísticos, sociolinguísticos,

““ler bem” aparece associado a ler bem” aparece associado a perceber implícitos, intenções, ações, perceber implícitos, intenções, ações,

posicionamentos, efeitos de sentidos etc. nos posicionamentos, efeitos de sentidos etc. nos vários textos em circulação social e vários textos em circulação social e

ser capaz de produzir apreciações e réplicas aos ser capaz de produzir apreciações e réplicas aos textos lidos e textos lidos e

““escrever bem” é associado a escrever bem” é associado a se adequar a diferentes objetivos e situações. se adequar a diferentes objetivos e situações.

A norma culta passa a ser uma das A norma culta passa a ser uma das variedades a ser ensinada e não a única a variedades a ser ensinada e não a única a ser considerada. ser considerada.

Motores da mudançaMotores da mudança O desenvolvimento dos estudos O desenvolvimento dos estudos

pragmáticos, enunciativos, discursivos e pragmáticos, enunciativos, discursivos e sociolinguísticos que denunciavam as sociolinguísticos que denunciavam as limitações da gramática e da concepção de limitações da gramática e da concepção de língua como sistema;língua como sistema;

Dados das avaliações de sistema e de Dados das avaliações de sistema e de aprendizagem dos alunos da escola básica aprendizagem dos alunos da escola básica sinalizavam para o fracasso da escola com sinalizavam para o fracasso da escola com relação ao desenvolvimento das relação ao desenvolvimento das competências leitoras e escritoras dos competências leitoras e escritoras dos alunos. alunos.

Motores da mudança (2)Motores da mudança (2) O ensino centrado na gramática e na O ensino centrado na gramática e na

norma padrão, ênfase comum até então, norma padrão, ênfase comum até então, não estava se revertendo para os processos não estava se revertendo para os processos de compreensão e produção de textos dos de compreensão e produção de textos dos alunos.alunos.

A ideia de que o conhecimento das A ideia de que o conhecimento das estruturas da língua por si só melhoraria o estruturas da língua por si só melhoraria o desempenho dos seus usuários mostrou-se desempenho dos seus usuários mostrou-se equivocada. equivocada.

Mudar o foco do ensino de língua tornou-se Mudar o foco do ensino de língua tornou-se então um imperativo pedagógico e político.então um imperativo pedagógico e político.

Questões que ainda se Questões que ainda se colocamcolocam Deve-se ou não ensinar gramática? Quando? Deve-se ou não ensinar gramática? Quando?

Que tipo de conteúdo deve ser priorizado?Que tipo de conteúdo deve ser priorizado? De que modo deve-se ou pode-se ensiná-la? De que modo deve-se ou pode-se ensiná-la? Gramática ou análise linguística? Gramática ou análise linguística? Além da gramática, o que deve ser ensinado? Além da gramática, o que deve ser ensinado? Como articular o trabalho com análise Como articular o trabalho com análise

linguística leitura/escuta e produção de linguística leitura/escuta e produção de textos orais e escritos? textos orais e escritos?

A gramática deve ser ensinada somente no A gramática deve ser ensinada somente no interior dessas práticas ou deve também ser interior dessas práticas ou deve também ser trabalhada paralelamente?trabalhada paralelamente?

Da gramática à Da gramática à análise análise

linguísticalinguística

Reorganização do currículo de Reorganização do currículo de língua materna: o trabalho com língua materna: o trabalho com

as práticas de linguagemas práticas de linguagem Por que práticas de linguagem?Por que práticas de linguagem?

Práticas: atividades tipicamente Práticas: atividades tipicamente humanas que, perpassam, engendram, humanas que, perpassam, engendram, asseguram, regulam a vida social.asseguram, regulam a vida social.

De uma concepção centrada na língua De uma concepção centrada na língua como sistema, passa-se a consideração como sistema, passa-se a consideração da linguagem em uso nas várias da linguagem em uso nas várias práticas sociais.práticas sociais.

Movimento metodológicoMovimento metodológico

Práticas de leitura,

escuta e produção de textos orais e

escritos

USO REFLEXÃO USO

Práticas de leitura, escuta e produção de textos orais e

escritos

Práticas de análise

linguística

Análise linguística Análise linguística (Geraldi ,1991) :(Geraldi ,1991) :

““(...) refere-se a este conjunto de (...) refere-se a este conjunto de atividades que tomam uma das atividades que tomam uma das características da linguagem como características da linguagem como seu objeto: o fato de ela poder seu objeto: o fato de ela poder remeter a si própria, ou seja, com a remeter a si própria, ou seja, com a linguagem não só falamos sobre o linguagem não só falamos sobre o mundo ou sobre nossa relação com mundo ou sobre nossa relação com as coisas, mas também falamos as coisas, mas também falamos sobre como falamos”.sobre como falamos”.

Análise linguísticaAnálise linguística

Atividades epilinguísticas:

dizem respeito a uma reflexão sobre a

linguagem, orientada para o uso de

recursos expressivos em função de uma dada situação de

comunicação.

Atividades metalinguísticas

dizem respeito a uma reflexão sobre os recursos

expressivos, tendo em vista à construção de

noções e/ou conceitos, com os quais se torna

possível classificar esses recursos.

(Supõem a construção de uma metalinguagem que possibilitaria falar sobre o funcionamento da

linguagem, os gêneros do discurso, as configurações

textuais, as estruturas morfossintáticas etc.)

Trata-se de selecionar conteúdos Trata-se de selecionar conteúdos (gramaticais e outros.) em função das (gramaticais e outros.) em função das necessidades apresentadas pelos alunos necessidades apresentadas pelos alunos nas atividades de produção e compreensão nas atividades de produção e compreensão de textos. de textos.

O trabalho deixa de ser baseado em O trabalho deixa de ser baseado em taxonomias descontextualizadas e se taxonomias descontextualizadas e se volta para a exploração de recursos volta para a exploração de recursos linguísticos colocados à disposição dos linguísticos colocados à disposição dos sujeitos para a construção de sentidos, sujeitos para a construção de sentidos, seja em atividades de compreensão ou seja em atividades de compreensão ou produção de textos orais e escritos. produção de textos orais e escritos.

*Síntese proposta por Mendonça (2006)

Ensino de gramática *Ensino de gramática * Prática de análise Prática de análise linguística (AL)linguística (AL)

Concepção de língua como Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e sistema, estrutura inflexível e invariável.invariável.

Concepção de língua como Concepção de língua como ação interlocutiva situada, ação interlocutiva situada, sujeita às interferências dos sujeita às interferências dos falantes.falantes.

Fragmentação entre os eixos de Fragmentação entre os eixos de ensino: as aulas de gramática não ensino: as aulas de gramática não se relacionam necessariamente se relacionam necessariamente com as de leitura e de produção com as de leitura e de produção textual.textual.

Integração entre os eixos de Integração entre os eixos de ensino: a AL é ferramenta para ensino: a AL é ferramenta para a leitura e a produção de a leitura e a produção de textos.textos.

Metodologia transmissiva, Metodologia transmissiva, baseada na exposição baseada na exposição dedutiva (do geral para o dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento.para o exemplo) + treinamento.

Metodologia reflexiva, baseada Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação de na indução (observação de casos particulares para a casos particulares para a conclusão das conclusão das regularidades/regras). regularidades/regras).

Ensino de gramática Ensino de gramática Prática de análise Prática de análise linguística (AL)linguística (AL)

Privilégio das habilidades Privilégio das habilidades metalinguísticas.metalinguísticas.

Trabalho paralelo com habilidades Trabalho paralelo com habilidades metalinguísticas e epilinguísticasmetalinguísticas e epilinguísticas

Ênfase nos conteúdos Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de gramaticais como objetos de ensino, abordados ensino, abordados isoladamente e em sequência isoladamente e em sequência mais ou menos fixa.mais ou menos fixa.

Ênfase nos usos como objetos de Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de leitura e ensino (habilidades de leitura e escrita), que remetem a vários escrita), que remetem a vários outros objetos de ensino outros objetos de ensino (estruturais, textuais, discursivos, (estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e normativos), apresentados e retomados sempre que retomados sempre que necessário.necessário.

Centralidade da norma-padrão. Centralidade da norma-padrão. Centralidade dos efeitos de Centralidade dos efeitos de sentido.sentido.

Ensino de gramática Ensino de gramática Prática de análise Prática de análise linguística (AL)linguística (AL)

Ausência de relação com as Ausência de relação com as especificidades dos gêneros, uma especificidades dos gêneros, uma vez que a análise é mais de cunho vez que a análise é mais de cunho estrutural e, quando normativa, estrutural e, quando normativa, desconsidera o funcionamento desconsidera o funcionamento desses gêneros nos contextos de desses gêneros nos contextos de interação verbal.interação verbal.

Fusão com o trabalho com Fusão com o trabalho com gêneros, na medida em que gêneros, na medida em que contempla justamente a contempla justamente a intersecção das condições de intersecção das condições de produção dos textos e as produção dos textos e as escolhas linguísticas.escolhas linguísticas.

Unidades privilegiadas: a Unidades privilegiadas: a palavra, a frase e o período.palavra, a frase e o período.

Unidade privilegiada: o texto.Unidade privilegiada: o texto.

Preferência pelos exercícios Preferência pelos exercícios estruturais, de identificação e estruturais, de identificação e classificação de classificação de unidades/funções unidades/funções morfossintáticas e correção.morfossintáticas e correção.

Preferência por questões Preferência por questões abertas e atividades de abertas e atividades de pesquisa, que exigem pesquisa, que exigem comparação e reflexão sobre comparação e reflexão sobre adequação e efeitos de adequação e efeitos de sentido.sentido.

Duas questões:Duas questões:

O que trabalhar em termos de O que trabalhar em termos de conhecimentos linguísticos?conhecimentos linguísticos?

Como trabalhar:Como trabalhar: na perspectiva da construção e reflexão na perspectiva da construção e reflexão

(da análise linguística) em oposição a (da análise linguística) em oposição a uma metodologia de cunho uma metodologia de cunho transmissivo?transmissivo?

articulando os conhecimentos articulando os conhecimentos linguísticos com as demais práticas?linguísticos com as demais práticas?

Parte considerável dos conteúdos Parte considerável dos conteúdos gramaticais (“o que ensinar”) continua gramaticais (“o que ensinar”) continua presente, acrescido de outros presente, acrescido de outros conhecimentos, também conhecimentos, também metalinguísticos, relativos a textos e metalinguísticos, relativos a textos e gêneros do discurso. Mas o peso dado a gêneros do discurso. Mas o peso dado a esses conteúdos, a finalidade (para que esses conteúdos, a finalidade (para que ensinar gramática) e a metodologia ensinar gramática) e a metodologia (como trabalhar com gramática) (como trabalhar com gramática) mudam radicalmente.mudam radicalmente.

Conhecimentos linguísticos Conhecimentos linguísticos (1): (1):

o que trabalharo que trabalhar descrição gramatical (morfologia, sintaxe descrição gramatical (morfologia, sintaxe

etc.)etc.) gramática normativa (prescrição de regras gramática normativa (prescrição de regras

a serem seguidas em determinadas a serem seguidas em determinadas situações sociais de uso da língua)situações sociais de uso da língua)

variação linguísticavariação linguística relação fala/escritarelação fala/escrita convenções da escrita (sistema de escrita, convenções da escrita (sistema de escrita,

conhecimentos fonoortográficos, conhecimentos fonoortográficos, pontuação etc.)pontuação etc.)

Conhecimentos linguísticos Conhecimentos linguísticos (2): (2):

o que trabalharo que trabalhar vocabulário/léxicovocabulário/léxico Aspectos textuais (responsáveis pela Aspectos textuais (responsáveis pela

textualidade – configurações textualidade – configurações textuais, coesão etc.)textuais, coesão etc.)

aspectos discursivos (responsáveis aspectos discursivos (responsáveis por efeitos de sentido)por efeitos de sentido)

propriedades dos gêneros do propriedades dos gêneros do discursodiscurso

Como articular os Como articular os conhecimentos conhecimentos

linguísticos com as linguísticos com as demais práticas:demais práticas:

Exemplos de Exemplos de atividadesatividades

Exemplo 1: NotíciasExemplo 1: Notícias

1) Leitura de notícia Jornal 1:1) Leitura de notícia Jornal 1:Manchete: Manchete: Alunos da USP invadem reitoriaAlunos da USP invadem reitoria

Por que invadiram a reitoria? Como foi a invasão? Por que invadiram a reitoria? Como foi a invasão? Etc.Etc.

2) Leitura de notícia Jornal 2:2) Leitura de notícia Jornal 2:Manchete – Manchete – Reitora da USP é ocupada por alunoReitora da USP é ocupada por aluno

Há algum acréscimo de informação na notícia 2?Há algum acréscimo de informação na notícia 2? Qual manchete é mais favorável aos estudantes? Qual manchete é mais favorável aos estudantes?

Por quê?Por quê? Escreva uma parágrafo expondo sua opinião sobre Escreva uma parágrafo expondo sua opinião sobre

o ocorrido.o ocorrido.

3) Leitura e discussão de mais dois pares 3) Leitura e discussão de mais dois pares de manchete:de manchete:

Moradores de zonas de mananciais são Moradores de zonas de mananciais são despejadosdespejadosMoradores deixam zonas de mananciaisMoradores deixam zonas de mananciais

Chuvas causam 21 mortes em todo o Chuvas causam 21 mortes em todo o EstadoEstado21 pessoas morrem em SP em 21 pessoas morrem em SP em decorrência das enchentesdecorrência das enchentes

A partir dos exemplos analisados, podemos A partir dos exemplos analisados, podemos afirmar que (numa notícia) pode existir um afirmar que (numa notícia) pode existir um relato totalmente neutro de fatos?relato totalmente neutro de fatos?

Analisando o percurso da Analisando o percurso da atividadeatividade

Atividade de leitura (prática principal em Atividade de leitura (prática principal em jogo), relacionando intertextualmente às jogo), relacionando intertextualmente às notícias;notícias;

Trabalho com conhecimentos linguísticos:Trabalho com conhecimentos linguísticos:

Léxico e efeitos de sentido proveniente das Léxico e efeitos de sentido proveniente das escolhasescolhas

Propriedades do gênero e de sua esfera de Propriedades do gênero e de sua esfera de circulaçãocirculação

Atividade de leitura – exploração Atividade de leitura – exploração interdiscursiva interdiscursiva

Exemplo 2: Exemplo 2: Revisão coletiva Revisão coletiva

de textode texto

P: Vamos reescrever juntos o conto que a gente leu que P: Vamos reescrever juntos o conto que a gente leu que uma criança de outra classe escreveu. (...) Como a gente uma criança de outra classe escreveu. (...) Como a gente poderia melhorar essa parte que “tá” na lousa (o início poderia melhorar essa parte que “tá” na lousa (o início da história), para que ela fique mais clara e tenha mais a da história), para que ela fique mais clara e tenha mais a cara de um conto de fadas?cara de um conto de fadas?

J: Falta falar do lugar onde a princesa morava, assim, “ó”: J: Falta falar do lugar onde a princesa morava, assim, “ó”: “Era uma vez, num reino muito distante”...“Era uma vez, num reino muito distante”...

(...) (...)

M: Podia “troca” “andava” por “caminhava”.M: Podia “troca” “andava” por “caminhava”.

P: Cê acha? Por quê?P: Cê acha? Por quê?

C: Ou “passeava”.C: Ou “passeava”.

M: É. Princesas não andam; caminham ou passeiam...M: É. Princesas não andam; caminham ou passeiam...

J: É, que nem em Ciências. A gente não fala que os animais J: É, que nem em Ciências. A gente não fala que os animais “andam”; a gente diz que os animais “se locomovem”. “andam”; a gente diz que os animais “se locomovem”.

P: Tá, então podia fica assim: “Todas as manhãs, a P: Tá, então podia fica assim: “Todas as manhãs, a princesa caminhava pelos jardins do palácio...” princesa caminhava pelos jardins do palácio...” (Trecho de uma aula de 2ª série ; P = professor; J., M., C. = alunos)(Trecho de uma aula de 2ª série ; P = professor; J., M., C. = alunos)

Uma nota sobre o trabalho Uma nota sobre o trabalho com gêneros do discurso na com gêneros do discurso na

escolaescolaA simples apresentação das A simples apresentação das propriedades dos gêneros não propriedades dos gêneros não possibilita que esse conteúdo possa se possibilita que esse conteúdo possa se reverter para o uso e pode alimentar o reverter para o uso e pode alimentar o viés classificatório e transmissivo do viés classificatório e transmissivo do modelo de ensino tradicional.modelo de ensino tradicional.

Metalinguagem a serviço Metalinguagem a serviço do usodo uso

A construção de uma metalinguagem A construção de uma metalinguagem na escola, na medida certa, sem na escola, na medida certa, sem resvalar em minúcias que pouco ou resvalar em minúcias que pouco ou nunca são usadas, é necessária para nunca são usadas, é necessária para que possamos falar dos textos, que possamos falar dos textos, analisá-los, apreciá-los, criticá-los, analisá-los, apreciá-los, criticá-los, reformulá-los etc.reformulá-los etc.

Resta uma questão: até que ponto é Resta uma questão: até que ponto é possível (re)construir a lógica (as possível (re)construir a lógica (as lógicas e, até mesmo, a falta de lógicas e, até mesmo, a falta de lógica) do sistema linguístico, mais lógica) do sistema linguístico, mais especificamente de questões especificamente de questões gramaticais, partindo sempre das gramaticais, partindo sempre das práticas de uso? práticas de uso?

Sincronias e assincronias Sincronias e assincronias entre as práticas de uso e as entre as práticas de uso e as

práticas de análise linguísticapráticas de análise linguística Conteúdos metalinguísticos (incluindo-Conteúdos metalinguísticos (incluindo-

se os gramaticais) são requeridos nas se os gramaticais) são requeridos nas atividades epilinguísticas. atividades epilinguísticas.

Se a cada exploração epilinguística, Se a cada exploração epilinguística, houver a necessidade de uma parada houver a necessidade de uma parada que introduza alguma metalinguagem, que introduza alguma metalinguagem, o próprio trabalho com o texto pode o próprio trabalho com o texto pode perder seu foco, além de poder torna-perder seu foco, além de poder torna-se extremamente enfadonho. se extremamente enfadonho.

O foco concomitante das práticas de O foco concomitante das práticas de análise linguística com as práticas análise linguística com as práticas de uso não permite que o aluno de uso não permite que o aluno (re)construa a lógica (ou a falta de (re)construa a lógica (ou a falta de lógica) do sistema linguístico. lógica) do sistema linguístico.

Como resolver essas Como resolver essas questões?questões?

Propor um trabalho paralelo com a Propor um trabalho paralelo com a gramática que tenha um menor peso gramática que tenha um menor peso em relação a outras práticas e que em relação a outras práticas e que seja orientado para o uso a médio e seja orientado para o uso a médio e longo prazo. longo prazo.

O movimento metodológico geral O movimento metodológico geral (USO – REFLEXÃO – USO) deve ser (USO – REFLEXÃO – USO) deve ser tomado ao longo do currículo e não tomado ao longo do currículo e não em relação a uma série ou a uma em relação a uma série ou a uma unidade do plano de ensino.unidade do plano de ensino.

Nesse trabalho “paralelo” que tem como Nesse trabalho “paralelo” que tem como foco a gramática, sempre que for pertinente, foco a gramática, sempre que for pertinente, o texto deve contextualizar alguma questão o texto deve contextualizar alguma questão e, nesse caso (e, nesse caso (e somente nesse casoe somente nesse caso), o ), o texto pode servir como pretexto para o texto pode servir como pretexto para o trabalho com conteúdos gramaticais. trabalho com conteúdos gramaticais.

A unidade considerada nas atividades de A unidade considerada nas atividades de gramática não precisa ser necessariamente gramática não precisa ser necessariamente o texto ou o discurso. Dependendo do que se o texto ou o discurso. Dependendo do que se queira focar, é possível partir de unidades queira focar, é possível partir de unidades menores – orações, palavras etc.menores – orações, palavras etc.

Um exemplo: Um exemplo: compreendendo os compreendendo os

usos de tempos usos de tempos verbais em textos, verbais em textos, a partir do efeitos a partir do efeitos

de sentido que de sentido que podem provocar.podem provocar.

Atividade 1Atividade 1

1. Leia os textos abaixo1. Leia os textos abaixo

Texto 1Texto 1 Texto 2Texto 2Acordava cedoAcordava cedo

Saía de casa sempre no mesmo Saía de casa sempre no mesmo horáriohorário

Chegava à esquina de sempre,Chegava à esquina de sempre,

aproximava-se dos carros eaproximava-se dos carros e

oferecia suas guloseimasoferecia suas guloseimas

Quase sempre, ao meio dia, comia Quase sempre, ao meio dia, comia um chocolateum chocolate

Voltava para casa já de noiteVoltava para casa já de noite

Contava a féria do diaContava a féria do dia

Comia alguma coisa, geralmente uma Comia alguma coisa, geralmente uma

sopasopa fria, mais caldo que sólido fria, mais caldo que sólido

Deitava-se no colchão, roçava a mão Deitava-se no colchão, roçava a mão

numnum montinho de panos e adormecia.montinho de panos e adormecia.

Acordou cedoAcordou cedo

Saiu para o seu primeiro dia de Saiu para o seu primeiro dia de trabalhotrabalho

Confiante, chegou à esquina Confiante, chegou à esquina pretendidapretendida

Aproximou-se dos carros e Aproximou-se dos carros e

ofereceu suas guloseimasofereceu suas guloseimas

Ao meio dia, comeu um chocolate Ao meio dia, comeu um chocolate

Voltou para casa já de noiteVoltou para casa já de noite

Treze reais foi a féria do diaTreze reais foi a féria do dia

Tomou uma sopa fria, mais caldo que Tomou uma sopa fria, mais caldo que sólidosólido

Deitou-se no colchão e, roçando a Deitou-se no colchão e, roçando a mão num montinho de panos, mão num montinho de panos, adormeceu.adormeceu.

Atividade 1 - continuaçãoAtividade 1 - continuação2. Compare os dois textos, levando em conta os diferentes tempos 2. Compare os dois textos, levando em conta os diferentes tempos verbais neles usados. Qual a diferença que você nota quanto ao verbais neles usados. Qual a diferença que você nota quanto ao sentido geral dos textos?sentido geral dos textos?

3. Pensando no sentido geral dos dois textos, invente um título para 3. Pensando no sentido geral dos dois textos, invente um título para cada um deles e escreva no local destinado aos títulos.cada um deles e escreva no local destinado aos títulos.

4. Uma música do conjunto Legião Urbana, chamada 4. Uma música do conjunto Legião Urbana, chamada Meninos e Meninos e Meninas,Meninas, traz a seguinte afirmação: traz a seguinte afirmação:

"... "... Acho que o imperfeito não participa do passadoAcho que o imperfeito não participa do passado ...“ ...“

Levando em conta o que você já aprendeu sobre o pretérito imperfeito, Levando em conta o que você já aprendeu sobre o pretérito imperfeito, como é que você poderia interpretar este trecho da música?como é que você poderia interpretar este trecho da música?

Mais dois Mais dois exemplos: exemplos:

possibilitando um possibilitando um olhar sob a olhar sob a

perspectiva da perspectiva da morfologia e da morfologia e da

sintaxesintaxe

Atividade 2Atividade 2ESTRANHA MENSAGEMESTRANHA MENSAGEM

A mensagem abaixo foi encontrada dentro de A mensagem abaixo foi encontrada dentro de uma garrafa que boiava no Oceano Pacífico. uma garrafa que boiava no Oceano Pacífico. Junto com ela, havia destroços de algo que Junto com ela, havia destroços de algo que se tomou por um dicionário. Sua tarefa é se tomou por um dicionário. Sua tarefa é desvendar tal mensagem juntamente com desvendar tal mensagem juntamente com seus companheiros. Boa sorteseus companheiros. Boa sorte!!

ARNI PIC HIGARO MORPER RINI.TRENERAM RAPU, RAPENICOL,RAPUNICO, ARPE E ARPUNICO.RAPUL TORNIDUL BUGADIL.RAPENICOL TORNIDEL ARTICAL.TRENEDUM PIC HIGARO, TUCADUM SENIPO, OSTE HIGADUM.

Restos do dicionárioRestos do dicionário

gata: tofe gata: tofe pata: pirepata: piregatinho: tofunico gatinho: tofunico patos: pirulpatos: pirul  gatinha: tofenico gatinha: tofenico patinho: pirunicopatinho: pirunico  gatos: tofulgatos: toful patinha: pirenicopatinha: pirenico  gatas: tofel gatas: tofel patinhas: pirenicolpatinhas: pirenicol  gatinhos: tofunicol gatinhos: tofunicol macaco: arpumacaco: arpu  disco voador: pic higaro disco voador: pic higaro azul: bugadiazul: bugadiburaco: senipo buraco: senipo aterrissar: morpedaterrissar: morpedcavar: tucad cavar: tucad decolar: higaddecolar: higaddepois: oste depois: oste homem: rapuhomem: rapumagro: tornidu magro: tornidu verde: articaverde: articaver: arned ver: arned descer: trened descer: trened ontem: riniontem: rini

A. De acordo com o dicionário, quais seriam as A. De acordo com o dicionário, quais seriam as palavras correspondentes a "patas", "gatinhas", palavras correspondentes a "patas", "gatinhas", "mulher" e "homenzinhos“ nessa língua?"mulher" e "homenzinhos“ nessa língua?

B. Os substantivos dessa língua variam em gênero, B. Os substantivos dessa língua variam em gênero, número e grau?número e grau?

C. Como faríamos para variar o gênero dos C. Como faríamos para variar o gênero dos substantivos nessa língua? E para variar substantivos nessa língua? E para variar número? E o grau? E para variar gênero e grau número? E o grau? E para variar gênero e grau juntos?juntos?

D. Em Português, quando flexionamos gênero e D. Em Português, quando flexionamos gênero e grau numa mesma palavra, a flexão do grau vem grau numa mesma palavra, a flexão do grau vem em primeiro lugar, como em patinha, onde “inh” em primeiro lugar, como em patinha, onde “inh” indica grau e “a” indica gênero. Nessa língua indica grau e “a” indica gênero. Nessa língua que estamos conhecendo, a flexão de gênero e que estamos conhecendo, a flexão de gênero e grau numa mesma palavra acontece da mesma grau numa mesma palavra acontece da mesma forma? Mostre com um exemplo.forma? Mostre com um exemplo.

Atividade 3Atividade 3Inventamos algumas palavras. Mesmo sem saber o Inventamos algumas palavras. Mesmo sem saber o significado delas, tente dizer a que classe gramatical significado delas, tente dizer a que classe gramatical pertenceriam se existissem na língua portuguesa. Justifique pertenceriam se existissem na língua portuguesa. Justifique sua resposta.sua resposta.

1) O bravo general apracotará o tenente na festa do Clube 1) O bravo general apracotará o tenente na festa do Clube dos Oficiais.dos Oficiais.

2) Jonas ganhou um cachorro preneco de presente de 2) Jonas ganhou um cachorro preneco de presente de aniversário.aniversário.

3) Maria passou suas férias em Catindeva.3) Maria passou suas férias em Catindeva.

4) Meu pai comprou um esdruquinique de primeira.4) Meu pai comprou um esdruquinique de primeira.

5) O aspetável deputado federal Joaquim das Flores faleceu 5) O aspetável deputado federal Joaquim das Flores faleceu ontem de madrugada.ontem de madrugada.

6) Você espelocou as plantas do jardim?6) Você espelocou as plantas do jardim?

7) Hoje de manhã, apareceu uma penota no quintal da 7) Hoje de manhã, apareceu uma penota no quintal da minha casa.minha casa.

Um último Um último exemplo: exemplo:

(re)construindo (re)construindo classes gramaticais classes gramaticais

Atividade 4Atividade 4Contexto da AtividadeContexto da Atividade

Classe: 3ª série (4º ano) – Ens. Fund. (Alunos de 9 anos)Classe: 3ª série (4º ano) – Ens. Fund. (Alunos de 9 anos)

Objetivo: verificar critérios de classificação de palavras Objetivo: verificar critérios de classificação de palavras utilizados pelos alunos, visando:utilizados pelos alunos, visando:

obter dados para a programação subsequente de obter dados para a programação subsequente de conteúdos gramaticais; conteúdos gramaticais;

introduzir um novo conteúdo - categorias gramaticais;introduzir um novo conteúdo - categorias gramaticais;

Situação inicial: alunos não tinham tido formalmente na Situação inicial: alunos não tinham tido formalmente na escola nenhum contato com classes gramaticais.escola nenhum contato com classes gramaticais.

Metodologia: a partir de discussões em grupos, propiciar a Metodologia: a partir de discussões em grupos, propiciar a comparação entre palavras pertencentes às mesmas comparação entre palavras pertencentes às mesmas classes gramaticais e a classes gramaticais diferentes, classes gramaticais e a classes gramaticais diferentes, fazendo com que os alunos intentem diferentes fazendo com que os alunos intentem diferentes classificações, explicitando os critérios utilizados. classificações, explicitando os critérios utilizados.

Relato da atividadeRelato da atividade

O professor dividiu os alunos em grupos. O professor dividiu os alunos em grupos. Cada grupo recebeu cartelas com palavras Cada grupo recebeu cartelas com palavras escritas pertencentes às categorias escritas pertencentes às categorias gramaticais que seriam trabalhadas em aulas gramaticais que seriam trabalhadas em aulas subsequentes: artigos, substantivos, subsequentes: artigos, substantivos, adjetivos e verbos.adjetivos e verbos.

. PALAVRAS DADAS:. PALAVRAS DADAS:MESA, CADEIRA, SAPO, JACARÉ, AMOR, MESA, CADEIRA, SAPO, JACARÉ, AMOR, VIDA, MORREU, JOGOU, VIU, OUVIR, É, VIDA, MORREU, JOGOU, VIU, OUVIR, É, FICAR, GORDO, MAGRO, VERMELHO, FICAR, GORDO, MAGRO, VERMELHO, AMARELO, VELHO, NOVO, A, AS, OS, UM, AMARELO, VELHO, NOVO, A, AS, OS, UM, UMA, UMASUMA, UMAS

Algumas classificações Algumas classificações finais realizadas pelos finais realizadas pelos

alunos:alunos: GORDO, MAGRO, VERMELHO, AMARELO, VELHO, NOVO:GORDO, MAGRO, VERMELHO, AMARELO, VELHO, NOVO: ““grupo do que pode ser”; “aparências”; “qualidades”.grupo do que pode ser”; “aparências”; “qualidades”. A, AS, OS, UM, UMA, UMAS:A, AS, OS, UM, UMA, UMAS: ““palavras que ajudam a forma frases”; “indicação ou palavras que ajudam a forma frases”; “indicação ou

explicação de pessoa”; “quantidade”. explicação de pessoa”; “quantidade”. MESA, CADEIRA: “objetos”.MESA, CADEIRA: “objetos”. SAPO, JACARÉ: “animais ou seres vivos”.SAPO, JACARÉ: “animais ou seres vivos”. AMOR, VIDA: “sentimentos”; “alegrias”; “grupo da vida”AMOR, VIDA: “sentimentos”; “alegrias”; “grupo da vida” MESA, CADEIRA, SAPO, JACARÉ: “grupo do nome das coisas MESA, CADEIRA, SAPO, JACARÉ: “grupo do nome das coisas

que existem”que existem” JOGOU, OUVIR, VIU, FICAR: “coisas que eu posso fazer ou JOGOU, OUVIR, VIU, FICAR: “coisas que eu posso fazer ou

ação”ação” MORREU: “coisas que nós fazemos”. “coisa que acontece com MORREU: “coisas que nós fazemos”. “coisa que acontece com

a gente”a gente” É: “ajuda a formar frases”, “grupo do sim”.É: “ajuda a formar frases”, “grupo do sim”.

O trabalho com O trabalho com conhecimentos linguísticos conhecimentos linguísticos nas aulas de recuperaçãonas aulas de recuperação

Deve estar sincronicamente articulado ao Deve estar sincronicamente articulado ao trabalho com as outras práticas de trabalho com as outras práticas de linguagem. linguagem.

Em relação à leitura, devem ser Em relação à leitura, devem ser priorizados:priorizados: Aspectos discursivosAspectos discursivos Aspectos relativos à textualidade Aspectos relativos à textualidade

que devem ser articulados ao trabalho com o que devem ser articulados ao trabalho com o desenvolvimento das habilidades/capacidades de desenvolvimento das habilidades/capacidades de leitura de forma a possibilitar a (re)construção leitura de forma a possibilitar a (re)construção dos sentidos dos textos lidos ou ouvidos.dos sentidos dos textos lidos ou ouvidos.

Em relação à produção de textos, Em relação à produção de textos, devem ser priorizados:devem ser priorizados: Aspectos discursivosAspectos discursivos Propriedades dos gênerosPropriedades dos gêneros Aspectos relativos à textualidade Aspectos relativos à textualidade Convenções relativas ao sistema de Convenções relativas ao sistema de

escrita e, se for o caso, também, à norma escrita e, se for o caso, também, à norma padrão.padrão.

O escrever corretamente deve estar O escrever corretamente deve estar vinculado ao escrever vinculado ao escrever adequadamente e bem!adequadamente e bem!

Voltando à questão :Voltando à questão :Deve-se ou não ensinar gramática? SIM:Deve-se ou não ensinar gramática? SIM:

Como um dos conteúdos necessários para a Como um dos conteúdos necessários para a prática de análise linguística (outros prática de análise linguística (outros conhecimentos linguísticos devem ser conhecimentos linguísticos devem ser também focados);também focados);

De forma orientada para o uso, a curto, De forma orientada para o uso, a curto, médio e longo prazo ao longo do médio e longo prazo ao longo do desenvolvimento curricular. O que desenvolvimento curricular. O que significa, por vezes, propor um trabalho em significa, por vezes, propor um trabalho em paralelo, momentaneamente assíncrono, paralelo, momentaneamente assíncrono, em relação às questões de uso em foco;em relação às questões de uso em foco;

A partir de uma metodologia que prime A partir de uma metodologia que prime pela reflexão e possibilite a (re)construção pela reflexão e possibilite a (re)construção de aspectos do sistema linguístico;de aspectos do sistema linguístico;

Nessa perspectiva, retirar os conteúdos Nessa perspectiva, retirar os conteúdos gramaticais (e também os demais gramaticais (e também os demais conhecimentos linguísticos)do currículo conhecimentos linguísticos)do currículo da escola pública, é contribuir para a da escola pública, é contribuir para a manutenção das desigualdades: é manutenção das desigualdades: é novamente ratificar a ideia perversa de novamente ratificar a ideia perversa de que é legítimo ter uma escola para rico que é legítimo ter uma escola para rico (onde esses conteúdos são trabalhados de (onde esses conteúdos são trabalhados de forma a fornecer mais subsídios para um forma a fornecer mais subsídios para um desempenho mais adequado e efetivo nas desempenho mais adequado e efetivo nas práticas de produção de textos) e uma práticas de produção de textos) e uma escola para pobre, onde as chances são, escola para pobre, onde as chances são, de saída, menores.de saída, menores.

Mas, em hipótese alguma, o trabalho Mas, em hipótese alguma, o trabalho com a gramática deve provocar esse com a gramática deve provocar esse estranhamento (?) e/ou estranhamento (?) e/ou desapontamento (?) e/ou desapontamento (?) e/ou distanciamento (?) manifesto no distanciamento (?) manifesto no poema de Drummond: poema de Drummond:

AULA DE PORTUGUÊS

A linguagemna ponta da língua,tão fácil de falare de entender.

A linguagemna superfície estrelada de letras,sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,e vai desmatandoo Amazonas da minha ignorância.Figuras de gramática, esquipáticas,atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,em que pedia para ir lá fora,em que levava e dava pontapé,a língua, breve língua entrecortadado namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

(Andrade, Carlos Drummond de, 1979. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: Record.)

Essa gramática deve ser decididamente Essa gramática deve ser decididamente banida da sala de aula, porque opera a banida da sala de aula, porque opera a favor da exclusão. favor da exclusão.

É preciso cuidar do momento certo de É preciso cuidar do momento certo de introduzir os conteúdos gramaticais (é introduzir os conteúdos gramaticais (é preciso que outras aprendizagens preciso que outras aprendizagens relativas ao uso já estejam garantidas, relativas ao uso já estejam garantidas, mobilizem ou reclamem esses conteúdos) mobilizem ou reclamem esses conteúdos) e da forma de fazê-lo (metodologia). e da forma de fazê-lo (metodologia).

O mesmo se aplica aos demais O mesmo se aplica aos demais conhecimentos linguísticos, que conhecimentos linguísticos, que devem ser mais privilegiados e devem ser mais privilegiados e contemplados nas aulas de contemplados nas aulas de recuperação e devem emergir das recuperação e devem emergir das necessidades provenientes do necessidades provenientes do desempenho dos alunos nas práticas desempenho dos alunos nas práticas de leitura/escuta e produção de de leitura/escuta e produção de textos propostas.textos propostas.