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3. SCHUMPETER 3.2. Inovações, Concorrência e Mudança Estrutural POSSAS, M. (2002). “Concorrência schumpeteriana”. In: KUPFER, D., HASENCLEVER, L. (org.). Economia Industrial, cap. 18. A visão de Schumpeter Concorrência Schumpeteriana Conclusão SCHUMPETER, J. (1961[1943]). Capitalismo, Socialismo e Democracia. Caps. 7 e 8 14/06/2017 1

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

3. SCHUMPETER

3.2. Inovações, Concorrência e Mudança Estrutural

POSSAS, M. (2002). “Concorrência schumpeteriana”. In: KUPFER, D., HASENCLEVER,

L. (org.). Economia Industrial, cap. 18. A visão de Schumpeter

Concorrência Schumpeteriana Conclusão

SCHUMPETER, J. (1961[1943]). Capitalismo, Socialismo e Democracia. Caps. 7 e 8

14/06/2017 1

Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

3. SCHUMPETER

3.2. Inovações, Concorrência e Mudança Estrutural

POSSAS, M. (2002). “Concorrência schumpeteriana”. In: KUPFER, D., HASENCLEVER,

L. (org.). Economia Industrial, cap. 18. A visão de Schumpeter

Concorrência Schumpeteriana Conclusão

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Concorrência Schumpeteriana: “processo ininterrupto de introdução e difusão de inovações em sentido amplo” que conforma a dinâmica evolucionária da economia, cujas transformações devem ser avaliadas ao longo do tempo.

A visão de Schumpeter

“Em que consiste a noção – mais que isso, a “teoria” – de concorrência proposta por Schumpeter? Trata-se de uma noção não ortodoxa, mas potencialmente a mais interessante de todas, hoje conhecida como concorrência schumpeteriana. Sua principal característica é que ela se insere numa visão dinâmica e evolucionária do funcionamento da economia capitalista. Por ela, a evolução desta economia é vista ao longo do tempo (e por isso é dinâmica e evolucionária) como baseada num processo ininterrupto de introdução e difusão de inovações em sentido amplo, isto é, de quaisquer mudanças no “espaço econômico” no qual operam as empresas, sejam elas mudanças nos produtos, nos processos produtivos, nas fontes de matérias-primas, nas formas de organização produtiva, ou nos próprios mercados, inclusive em termos geográficos.” (POSSAS, M.L.. (2002), p.246)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Inovação e concorrência: a inovação é o principal instrumento de concorrência na busca por lucros extraordinários por meio de diferenciação e criação de vantagens competitivas, que serão dissipadas ao longo do tempo por meio de imitações ou da introdução de novas inovações.

A visão de Schumpeter

“Por sua vez, qualquer inovação, nesse sentido amplo, é entendida como resultado da busca constante de lucros extraordinários, mediante a obtenção de vantagens competitivas entre os agentes (empresas), que procuram se diferenciar uns dos outros nas mais variadas dimensões do processo competitivo, tanto os tecnológicos quanto os de mercado (processos produtivos, produtos, insumos, organização: mercados, clientela, serviços pós-venda).” (POSSAS, M.L.. (2002), p.247) Concorrência Schumpeteriana

“A concorrência schumpeteriana caracteriza-se pela busca permanente de diferenciação por parte dos agentes, por meio de estratégias deliberadas, tendo em vista a obtenção de vantagens competitivas que proporcionem lucros de monopólio, ainda que temporários”. (POSSAS, M.L.. (2002), p.247)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Inovação: novos produtos e processos, novas formas de organização da produção e dos mercados, novas fontes de matérias-primas, novos mercados.

Concorrência Schumpeteriana “Há muitas formas ou dimensões da concorrência, sendo a concorrência em preços apenas a mais tradicional e mais simples, mas não a mais importante ou mais frequente. A concorrência se dá também por diferenciação do produto (inclusive qualidade) e, especialmente, por inovações, que no sentido schumpeteriano – muito amplo, como se viu – envolve toda e qualquer criação de novos espaços econômicos (novos produtos e processos, novas formas de organização da produção e dos mercados, novas fontes de matérias-primas, novos mercados).” (POSSAS, M.L.. (2002), p.247)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Concorrência e estrutura de mercado: as estratégias das empresas (inovação, preço, vendas, investimento) transformam endogenamente as estruturas de mercado e moldam a dinâmica industrial.

Concorrência Schumpeteriana “A interação, ao longo do tempo, entre as estratégias das empresas – não apenas de inovação, mas também de investimento, de preços, etc. – ou seja, estratégias competitivas, de um modo geral – e as estruturas de mercado preexistentes gera uma dinâmica industrial, pela qual a configuração de uma indústria, em termos de produtos e processos (tecnologias) utilizados, de participações no mercado das empresas, de rentabilidade, de crescimento, etc. vai se transformando ao longo do tempo. Assim, as estruturas de mercado são relevantes, mas não algo único nem imutável. (...) Em outras palavras, essas estruturas são em grande medida endógenas ao processo competitivo, e sua evolução deve ser vista no contexto da interação dinâmica entre estratégia empresarial e estrutura de mercado. (...) ” (POSSAS, M.L.. (2002), p.247-8)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Concorrência e estrutura de mercado: monopólio é um resultado potencial e (muitas vezes) temporário do próprio processo de concorrência que permite a realização de lucros extraordinários que recompensam o arriscado esforço inovador sem desestimular a manutenção da busca por inovações em função da pressão permanente da concorrência potencial.

Concorrência Schumpeteriana

“Por isso mesmo, concorrência não é o contrário de monopólio. Se bem-sucedida, a busca de novas oportunidades, ou inovações em sentido amplo, deve gerar monopólios, em maior ou menor grau de duração. Se eles serão ou não eliminados eventualmente, por meio de novos concorrentes e/ou imitadores, é algo que não pode ser preestabelecido.(...)” (POSSAS, M.L.. (2002), p.247)

“Da mesma forma, as situações monopolíticas criadas a partir de inovações bem-sucedidas não devem ser vistas como intrinsecamente anticompetitivas, pois constituem o objetivo mesmo, e o resultado esperado, do processo competitivo, ainda que de forma temporária e restrita. É por isso que, como já visto, monopólio (uma configuração de mercado, às vezes temporária) e concorrência (um processo) não são incompatíveis entre si – muito ao contrário!” (POSSAS, M.L.. (2002), p.248)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Concorrência e estrutura de mercado: fortalecer a concorrência não significa necessariamente tornar o mercado mais atomizado, o que, na verdade, poderia ser até prejudicial à dinâmica capitalista, ao diminuir (eventualmente) o potencial inovador das empresas.

Conclusão

“Nesse sentido, fortalecer a concorrência não implica obrigatoriamente “enfraquecer” (reduzir seu tamanho e/ou sua lucratividade) as empresas, com por vezes se depreende do antigo e muito citado slogan segundo o qual “as leis antitruste foram criadas para proteger a concorrência, e não os concorrentes”. No enfoque schumpeteriano, concorrência fortalecida requer um ambiente intensamente competitivo, o qual, por sua vez, supõe empresas competidoras fortes, isto é, empresas competitivas, por sua capacitação e por sua eficiência técnica, produtiva e organizacional. Na visão schumpeteriana da concorrência, um mercado atomístico, composto de empresas economicamente insignificantes e desprovidas de qualquer poder de mercado, como paradigma competitivo, é uma lamentável ficção da ortodoxia econômica que, se verdadeira, debilitaria o ambiente competitivo e o processo de concorrência ao ponto de tornar este último inoperante, com consequentes prejuízos ao consumidor e ao bem-estar social, quando visto em perspectiva dinâmica.” (POSSAS, M.L.. (2002), p.251)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

3. SCHUMPETER

3.2. Inovações, Concorrência e Mudança Estrutural

SCHUMPETER, J. (1961[1943]). Capitalismo, Socialismo e Democracia. Caps. 7 e 8

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A concorrência perfeita nunca existiu e tampouco o crescimento da produção desacelerou com o surgimento das grandes corporações modernas.

Capítulo 7 - O PROCESSO DA DESTRUICAO CRIADORA

“PODEREMOS USAR de duas maneiras as teorias da concorrência monopolista e oligopolista e suas variações populares para explicar a opinião de que a realidade capitalista é desfavorável ao rendimento máximo da produção. Pode existir quem diga que isso sempre ocorreu e que a produção continuou a expandir-se a despeito da sabotagem secular perpetrada pela burguesia dominante. (...).

Em primeiro lugar, essa tese implica a criação de uma imaginária idade de ouro de concorrência perfeita que, em dado momento, se metamorfoseou na era monopolista, quando é evidente que a concorrência perfeita jamais foi mais real do que é atualmente. Em segundo, é necessário observar que a média de crescimento da produção não decresceu a partir de 1890, data a partir da qual se deve contar a prevalência dos grandes empreendimentos ou, pelo menos, da indústria manufatureira, segundo supomos.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]), p.108)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

O capitalismo não se “reveste de caráter estacionário”. A inovação, e consequente transformação, é o impulso fundamental do capitalismo...

“O capitalismo é, por natureza, uma forma ou método de transformação econômica e não, apenas, reveste caráter estacionário, pois jamais poderia tê-lo. (...) O impulso fundamental que põe e mantém em funcionamento a máquina capitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados e das novas formas de organização industrial criadas pela empresa capitalista. (...) (A) história da aparelhagem produtiva de uma fazenda típica, desde os princípios da racionalização da rotação das colheitas, da lavra e da engorda do gado até a agricultura mecanizada dos nossos dias — juntamente com os silos e as estradas-de-ferro — é uma história de revoluções, como o é a história da indústria de ferro e aço, desde o forno de carvão vegetal até os tipos que hoje conhecemos, a história da produção da eletricidade, da roda acionada pela água à instalação moderna, ou a história dos meios de transporte, que se estende da antiga carruagem ao avião que hoje corta os céus.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]), p.110)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A inovação, e consequente transformação, é o impulso fundamental do capitalismo, “revolucionando incessantemente a estrutura econômica a partir de dentro”. O capitalismo evolui por meio de um processo de destruição criadora, ao qual as empresas devem se adaptar para sobreviver.

“A abertura de novos mercados, estrangeiros e domésticos, e a organização da produção, da oficina do artesão a firmas, como a U.S. Steel, servem de exemplo do mesmo processo de mutação industrial — se é que podemos usar esse termo biológico — que revoluciona incessantemente * a estrutura econômica a partir de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos. (*Essas revoluções não são permanentes, num sentido estrito; ocorrem em explosões discretas, separadas por períodos de calma relativa. O processo, como um todo, no entanto, jamais para, no sentido de que há sempre uma revolução ou absorção dos resultados da revolução, ambos formando o que é conhecido como ciclos econômicos.) Este processo de destruição criadora é básico para se entender o capitalismo. É dele que se constitui o capitalismo e a ele deve se adaptar toda a empresa capitalista para sobreviver.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.110)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Os resultados desse processo de destruição criadora devem ser avaliados ao longo do tempo e não a partir de um único período de tempo. Um sistema que utiliza plenamente sua capacidade num determinado momento pode revelar-se inferior a outro que nunca utiliza plenamente sua capacidade, mas que promove desenvolvimento a longo prazo.

“Em primeiro lugar, uma vez que estamos tratando de um processo cujos elementos necessitam de tempo considerável para surgirem nas suas formas verdadeiras e efeitos definitivos, de nada adianta estudar o rendimento desse processo ex visu de determinada época. Devemos estudá-lo através de um período longo de tempo, que se desenrole por décadas ou séculos. Um sistema qualquer — econômico ou não — que em algum período de tempo utiliza ao máximo as suas possibilidades pode, à proporção que o tempo passa, revelar-se inferior a um outro que não alcança em nenhum momento esses resultados, pois a incapacidade deste pode consistir em um nível ou ímpeto de um rendimento a longo prazo.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A análise de uma firma ou indústria deve contemplar o “papel que desempenham na tempestade eterna da destruição criadora” e não considerando a vigência de uma “calmaria perene”.

“Em segundo, já que estudamos um processo orgânico, a análise do que acontece a qualquer das suas partes isoladas — digamos, numa firma ou indústria particular — pode, na verdade, esclarecer certos detalhes do mecanismo, mas não propiciar conclusões de ordem geral. Todos os exemplos de estratégia econômica adquirem a sua verdadeira significação apenas em relação a esse processo e dentro da situação por ele criada. Necessitam ser observados no papel que desempenham na tempestade eterna da destruição criadora, pois não podem ser compreendidos independentes deste processo ou baseados na hipótese de que há uma calmaria perene.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Observações estanques e isoladas geram conclusões distorcidas sobre o comportamento da indústria oligopolista (alto preço e restrição da produção).

“Mas é precisamente essa a hipótese adotada por economistas que, ex visu de um determinado período de tempo, procuram exemplos no comportamento da indústria oligopolista — que consiste de umas poucas firmas — e observam as conhecidas marchas e contramarchas em que ela vive e que nada parecem visar senão altos preços e restrições da produção. Aceitara os dados de uma situação passageira como se não houvesse passado ou futuro, e acreditam ter compreendido o cerne da questão interpretando o comportamento dessas firmas mediante a aplicação do princípio do lucro máximo a esses dados.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Os economistas focam, em geral, na análise sobre “como o capitalismo administra a estrutura existente, ao passo que o problema crucial é saber como ele as cria e destrói”.

“As dissertaçoes habituais dos teoricos e o relatorio governamental comum praticamente nunca tentam entender esse comportamento como consequência de determinada epoca da Historia e de esforço para enfrentar uma situaçao que tudo indica que mudará, ou seja, como uma tentativa dessas empresas de firmar-se em um terreno que lhe foge sob os pes. Em outras palavras, o problema usualmente estudado é o da maneira como o capitalismo administra a estrutura existente, ao passo que o problema crucial é saber como ele as cria e destrói.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.111)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A concorrência não se dá via preço (tradicional modus operandi da concorrência), mas via novas mercadorias, novas técnicas, novas fontes de suprimento, novo tipo de organização, que determinam superioridade de custo ou qualidade (compara-se bombardear uma porta a arrombá-la).

“O primeiro conceito que se descarta é o tradicional modus operandi da concorrência. Os economistas emergem, por fim, de uma fase em que se preocupavam apenas com a concorrência dos preços. Tão logo a concorrência de qualidade e o esforço de venda são admitidos no recinto sagrado da teoria, o fator variável do preço é apeado da sua posição dominante. Nada obstante, é ainda a concorrência, dentro de um conjunto rígido de condições invariáveis, métodos de produção e particularmente de formas de organização industrial, que continua praticamente a monopolizar-lhes a atenção. Mas, na realidade capitalista e não na descrição contida nos manuais, o que conta não é esse tipo de concorrência, mas a concorrência de novas mercadorias, novas técnicas, novas fontes de suprimento, novo tipo de organização (a unidade de controle na maior escala possível, por exemplo) — a concorrência que determina uma superioridade decisiva no custo ou na qualidade e que fere não a margem de lucros e a produção de firmas existentes, mas seus alicerces e a própria existência.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.112)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Inovação (e não preço) é o principal instrumento de concorrência e a “poderosa alavanca que, a longo prazo, expande a produção e reduz os preços”.

“Tal tipo de concorrência é muito mais eficaz do que o outro, da mesma maneira que é mais eficiente bombardear uma porta do que arrombá-la, e, de fato, tão mais importante que se torna indiferente, no sentido ordinário, se a concorrência faz sentir seus efeitos mais ou menos rapidamente. De qualquer maneira, a poderosa alavanca que, a longo prazo, expande a produção e reduz os preços é constituída de outro material. ” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.112)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A concorrência, que estimula a busca por inovações, se faz sentir não apenas quando está presente em termos reais, mas também quando existe apenas em termos potenciais – pressionando até mesmo aqueles que estão sozinhos em seus campos.

“Dificilmente seria necessário observar aqui que a concorrência a que nos vimos referindo atua não somente quando está presente, mas também quando constitui apenas ameaça constante. O homem de negócios sente-se cercado pela concorrência mesmo quando está sozinho no seu campo ou, quando não está, ocupa tal posição que nenhum perito governamental poderá descobrir uma concorrência eficaz entre ele e outras pessoas do mesmo ramo ou de ramos afins, e que se vê forçado a concluir, durante o trabalho de investigação, que as reclamações competitivas só são pura fantasia. Em muitos casos, embora não em todos, essa pressão forçará a longo prazo um comportamento muito semelhante ao que seria induzido por um sistema de concorrência perfeita.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.112)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Críticas ao ideal de concorrência perfeita e defesa da concorrência imperfeita

Capitulo 8 - AS PRATICAS MONOPOLISTAS

“O QUE DISSEMOS até agora certamente dará ao leitor condições suficientes para interpretar a maioria dos casos práticos que provavelmente encontrará e a compreender a falta de propriedade da maioria dessas críticas à economia do lucro que, direta ou indiretamente, depende da inexistência da concorrência perfeita. Sendo possível, no entanto, que a legitimidade da nossa argumentação não se torne evidente à primeira vista, será útil estendermo-nos um pouco mais sobre o assunto e tornar mais explícitos certos pontos.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.114)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Práticas restritivas de curto prazo viabilizam o processo arriscado de busca por inovações (“atirar num alvo que se move”), cujas vantagens se fazem sentir a longo prazo.

“1. Acabamos de ver que, como realidade inegável ou simples ameaça, o impacto das inovações — novas técnicas, por exemplo — sobre a estrutura de uma indústria reduz consideravelmente o efeito a longo prazo e a importância de práticas que visam, através da restrição da produção, a conservação de posições tradicionais e a exploração ao máximo dos lucros que nelas se baseiam. Devemos admitir ainda que práticas restritivas desse tipo, enquanto conservarem a eficácia, adquirem uma nova significação na tempestade eterna da destruição criadora, uma significação que não teriam num estado estacionário ou numa fase de crescimento lento e equilibrado.

O investimento a longo prazo em condições de rápida mutação, especialmente aquelas que mudam ou podem mudar a qualquer momento sob o efeito de novas mercadorias e técnicas, assemelha-se a atirar num alvo que não e apenas indistinto, mas se move — e aos arrancos, por falar nisso. Dai a necessidade de se recorrer a expedientes de proteção, como patentes, ocultamento temporário de certos processos ou, em alguns casos, contratos de longa duração obtidos com antecedência.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.114-5)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Práticas restritivas de curto prazo viabilizam o processo arriscado de busca por inovações (“atirar num alvo que se move”), cujas vantagens se fazem sentir a longo prazo.

“Ao analisar tal estratégia em determinadas épocas, o economista ou o agente do Governo deparam-se com políticas de preços que lhes parecem predatórias e restrições à produção que consideram desperdício da oportunidade de produzir. Não percebem que restrições desse tipo são, nas condições desse vendaval eterno, meros incidentes, muitas vezes inevitáveis, de um processo de expansão a longo prazo que protegem e nunca impedem. Não há mais paradoxo neste caso do que haveria em dizer que os carros correm cada vez mais rapidamente porque possuem freios.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.115)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Uma análise superficial pode perceber apenas as restrições à produção e a alta de preços, sem notar os efeitos a longo prazo sobre a qualidade e a própria quantidade.

“2. Esta tese torna-se muito mais clara nos casos dos setores da economia que em determinada época recebem todo o impacto das novas mercadorias e métodos sobre a estrutura industrial. (...) Como vimos anteriormente, essas empresas são agressoras por natureza e empregam com notável eficácia a arma da concorrência. Apenas em raríssimos casos a sua intromissão deixa de melhorar em quantidade e qualidade a produção, através de novos métodos — embora não os utilizem ao máximo — e por meio da pressão exercida sobre firmas antigas. As condições em que se encontram esses agressores, no entanto, são de tal tipo que eles necessitam, para o ataque e defesa, de outra proteção além do preço e da qualidade dos produtos que vendem, os quais devem ser constantemente manipulados de forma a dar a impressão de que se limitam a restringir a produção e manter altos os preços.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.116)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Sem as restrições iniciais, que asseguram o retorno por certo período de tempo em caso de sucesso, muitas inovações não seriam desenvolvidas.

“Por um lado, o planejamento em grande escala poderia fracassar se não se soubesse desde o início que a concorrência seria desencorajada pela exigência de grandes capitais ou falta de experiência, ou que existem meios para desencorajar e controlar os rivais e, dessa maneira, ganhar tempo e espaço para ulterior desenvolvimento. Até mesmo a conquista do domínio financeiro sobre firmas rivais, que ocupam posições inexpugnáveis e somente seriam derrotadas por esse meio, ou a obtenção de privilégios que se chocam com a opinião pública sobre o fair-play — tarifas ferroviárias preferenciais — surgem, na medida em que se considera o seu efeito a longo prazo sobre a produção total, sob luz diferente.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.116)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A perspectiva de lucros extraordinários é que move os capitalistas a arriscarem-se pelos caminhos incertos da busca por inovações em ambiente de concorrência imperfeita.

“A criação de uma empresa particular, por outro lado, seria impossível se não soubesse de início que haveria oportunidade de situações excepcionalmente favoráveis que, se exploradas de acordo com o critério de preço, qualidade e quantidade, produziriam lucros suficientes para contrabalançar condições excepcionalmente desfavoráveis, desde que enfrentadas da mesma maneira. Mais uma vez essa possibilidade requer estratégia que, a curto prazo, é freqüentemente de natureza restritiva e, na maioria dos casos, consegue dificilmente atender a seus objetivos. Em outros casos, todavia, revela-se tão bem sucedida que produz lucros muito maiores do que os necessários para provocar um investimento correspondente. São essas justamente as iscas que atraem os capitais para os caminhos virgens.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.117)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Exemplo de concorrência imperfeita – indústria de automóveis

“Um bom exemplo ilustrativo desse ponto — na verdade de grande parte do nosso argumento geral — é a história das indústrias de automóveis e rayon no após-guerra. A primeira ilustra muito bem a natureza e o valor do que poderíamos chamar concorrência depurada. O tempo da bonança terminou mais ou menos pelas alturas de 1916. Numerosas firmas, no entanto, se estabeleceram na indústria, a maioria das quais sendo eliminada pelas alturas de 1925. De uma luta de vida ou morte surgiram três companhias que hoje absorvem mais de 80% das vendas totais. Sofrem a pressão da concorrência até o ponto em que, a despeito das vantagens de uma posição tradicional e de uma complicada organização de vendas e serviços, qualquer fracasso em manter ou melhorar a qualidade dos seus produtos ou qualquer nova tentativa de entrar em combinação monopolista provocaria o aparecimento de novos concorrentes. Entre si, as três empresas atuam de maneira que se poderia considerar de respeito mútuo e não competitiva: abstêm-se de certas táticas agressivas (que, por falar nisso, estariam também ausentes num estado de concorrência perfeita); trabalham no mesmo ritmo, e procuram obter vantagens marginais. Essa situação prevalece há mais de 15 anos e hoje não é claro que, se as condições de concorrência teoricamente perfeita tivessem prevalecido durante esse período, carros melhores e mais baratos teriam sido oferecidos ao público ou maiores salários e empregos mais seguros para os operários.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.118)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Não é verdade que toda concorrência imperfeita é prejudicial ao sistema econômico e, portanto, não deve ser regra evitá-la, apesar de não ser verdade que sempre é favorável – atuação dos reguladores deve ser criteriosa.

“Embora exaustiva como vem sendo, a nossa argumentação não abrange todos os casos de estratégia restritiva ou reguladora, muitos dos quais sem dúvida exercem efeito prejudicial sobre o desenvolvimento a longo prazo da produção e que, sem maior exame, se atribui a todos eles. E, mesmo no caso abrangido pelo nosso argumento, o efeito líquido depende das circunstâncias e da maneira e grau em que a indústria se controla em cada caso individual. É tão admissível, na verdade, que um sistema onipresente de cartéis possa sabotar todo o progresso, como é admissível que possa conseguir com menos desvantagens sociais e privadas os resultados que são atribuídos à concorrência perfeita. E é justamente por isso que o nosso argumento não chega a constituir uma alegação válida contra a regulamentação-estatal. Demonstra apenas que não há qualquer razão que justifique o desmembramento indiscriminado dos trustes ou a condenação de todas as práticas que podem ser qualificadas de restrições ao comércio.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.119)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

O que quer dizer “preço rigido”?

“3. Examinemos agora brevemente a questão dos preços rígidos, que despertaram tanta atenção ultimamente. A questão dos preços é, na verdade, apenas um aspecto particular do problema que vimos discutindo. Definiremos a rigidez da seguinte maneira: um preço é rígido se menos sensível às alterações da oferta e da procura do que seria numa situação de concorrência perfeita. (...) ” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.119)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Novas mercadorias podem satisfazer necessidades antigas a preços menores, sem alterar o preço de outras mercadorias.

“Já chamamos a atenção para a importância da introdução de novas mercadorias para o processo capitalista em geral e para o mecanismo competitivo em particular. Uma nova mercadoria pode modificar radicalmente a estrutura dos preços preexistente e satisfazer uma determinada necessidade a preços mais baixos por unidade de serviço (o serviço de transporte, por exemplo), sem que necessite variar sequer um dos preços habituais. Em outras palavras, a flexibilidade, no sentido lato da palavra, pode ser acompanhada de rigidez, no sentido formal. Sabemos de outros casos, mas não deste tipo, nos quais a redução do preço constitui a única razão para o aparecimento de uma nova marca, enquanto a antiga continua cotada da mesma maneira. Mais uma vez, deparamo-nos aqui com uma redução de preços que não se reflete nas estatísticas.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.120)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Ou ainda, uma mesma mercadoria pode contar com incremento de qualidade sem que seu preço seja alterado.

“Além disso, a grande maioria das mercadorias de consumo — particularmente os aparelhos modernos — é apresentada em primeiro lugar de forma insatisfatória e experimental e com a qual não poderia conquistar os mercados potenciais. O melhoramento da qualidade dos produtos constitui, pois, um aspecto praticamente geral da evolução das indústrias e empresas individuais. E implique ou não esse melhoramento novas despesas, o preço constante por unidade de uma mercadoria em fase de aperfeiçoamento não deve ser considerado rígido sem estudos adicionais.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.120)

14/06/2017 30

Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Rigidez de preços é um fenômeno de curto prazo. No longo prazo, os preços se adaptam ao progresso tecnológico, que, em geral, dita melhora de qualidade e queda dos preços.

“Restam ainda, naturalmente, numerosos casos de rigidez autêntica de preços — preços que são mantidos inalterados por questão de política comercial ou que continuam inflexíveis — porque é difícil alterá-los, como acontece com o caso dos preços fixados pelos cartéis depois de difíceis negociações. Para se compreender a influência a longo prazo desse fator sobre o desenvolvimento a longo prazo da produção é, antes de tudo, necessário levar em conta que essa rigidez é, essencialmente, um fenômeno a curto prazo. Não se conhecem exemplos de rigidez a longo prazo. Seja qual for a indústria manufatureira ou grupo de artigos manufaturados que submetamos a estudo, em um período longo de tempo, verificaremos quase sem exceção que, a longo prazo, os preços jamais deixam de se adaptar ao progresso tecnológico — muitas vezes reagem baixando de maneira espetacular — a menos que contrariados por acontecimentos, política monetária ou, em alguns casos, por variações independentes nas escalas de salário que, naturalmente, devem ser levadas em conta mediante correções apropriadas, da mesma maneira que ocorre com os casos de variações da qualidade dos produtos.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.120-1)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Tampouco é verdade que grandes corporações são avessas ao progresso como forma de proteger seus investimentos. Ao contrário, priorizam a existência de departamentos de pesquisa e desenvolvimento, dos quais depende sua permanência no mercado.

“4. Uma outra doutrina cristalizou-se em lema, isto é, de que, na era dos grandes empreendimentos, a manutenção do valor dos investimentos — a conservação do capital — tornou-se o principal objetivo dos chefes de empresa e parece impedir todas as medidas tendentes a uma redução dos preços. Daí a noção de que a ordem capitalista é incompatível com o progresso. (...) Mais uma vez, sentimos a tentação de levantar uma questão de fato. Tão logo está em condições de enfrentar as despesas, a primeira coisa que uma firma moderna faz é fundar um departamento de pesquisas, cujos funcionários sabem que o pão de cada dia depende do êxito que obtiverem na descoberta de novas invenções. Essa prática, evidentemente, não sugere qualquer aversão ao progresso tecnológico.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.125)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Monopolista: difícil encontrar casos efetivos, mas, se existir, só será mantida se o monopolista agir como se estivesse sujeito à concorrência efetiva, tendo em vista a existência de concorrência potencial.

“5. Demos ao presente capítulo o título acima porque ele trata quase exclusivamente dos fatos e problemas que a opinião corrente associa ao monopólio ou às práticas monopolistas. Até agora, abstivemo-nos, na medida do possível, de usar tais termos a fim de reservar para uma seção separada alguns comentários sobre uns poucos tópicos especificamente pertinentes. Mas nada diremos, todavia, que já não tenha sido aqui encontrado, de uma forma ou outra.

(a) Comecemos com a própria palavra. Monopolista significa único vendedor. (...) Não é fácil descobrir, e nem mesmo imaginar, uma moderna empresa comercial protegida dessa maneira e, mesmo se protegida por direitos ou restrições de importação, que seja capaz de exercer esse poder, exceto, talvez, temporariamente. (...) De maneira geral, a posição de vendedor único pode ser conquistada e mantida, fora do campo das utilidades públicas, por algumas décadas, apenas se a empresa não agir como entidade monopolista.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.127-8)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

As vantagens obtidas por uma empresa monopolista (métodos, recursos) podem levar a produção maior e preços menores do que aqueles passíveis de serem alcançados via concorrência perfeita.

“(b) A teoria do monopólio simples e característico ensina que, na ausência de uma força limitadora, o preço do monopólio é mais alto e a produção menor do que nos casos de preços e produção competitiva. Esse conceito é verdadeiro, contanto que o método e a organização da produção — e as demais condições — sejam exatamente iguais em ambos os casos. Na realidade, todavia, o monopolista dispõe de métodos superiores que, ou não estão absolutamente ao alcance da massa de concorrentes, ou eles não podem desfrutá-los tão prontamente, pois há vantagens que, embora não totalmente inalcançáveis no nível competitivo, são obtidas, na verdade, apenas no nível monopolista, pois esta última posição, por exemplo, pode alargar a esfera de influência dos cérebros privilegiados e diminuir a dos inferiores, ou porque o monopólio possui uma situação financeira desproporcionadamente mais alta. Em todos os casos em que isso acontece, por conseguinte, o conceito não mais se sustenta. Em outras palavras, este elemento na defesa da concorrência pode falhar inteiramente, pois os preços do monopólio não são necessariamente mais altos, nem a produção menor do que os preços e a produção competitiva o seriam nos níveis de eficiência produtiva e administrativa que estão dentro do alcance do tipo de firma compatível com a hipótese competitiva.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.129-30)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

As vantagens obtidas por uma empresa monopolista (métodos, recursos) podem levar a produção maior e preços menores do que aqueles passíveis de serem alcançados via concorrência perfeita.

“A motivação carece também de importância prática. Ainda que os preços monopolistas fossem o único objetivo, a pressão de métodos mais modernos e as imensas instalações tenderiam, de maneira geral, a ajustar o preço monopolista ideal ao mesmo nível ou abaixo do preço competitivo, no sentido anteriormente exposto, realizando — parcialmente, totalmente, ou mais do que totalmente — o trabalho do mecanismo competitivo, mesmo que restrições fossem feitas e sobrasse sempre um excesso de capacidade produtiva.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.130)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A posição de monopólio (transitória) reflete uma recompensa ao “inovador vitorioso”, uma proteção contra a desorganização temporária do mercado e tempo para assegurar um planejamento de longo prazo.

“(c) A curto prazo, as autênticas posições monopolistas, ou aquelas a que a elas se assemelham, são muito mais freqüentes. (...) Novos métodos de produção ou novas mercadorias, especialmente as últimas, não conferem por si a posição monopolista, mesmo se usadas ou produzidas por uma única firma. Os produtos decorrentes de um novo método têm de concorrer com os fabricados de acordo com sistemas antigos e a nova mercadoria deve ser promovida, isto é, criar a sua própria curva de procura. De maneira geral, nem as patentes nem as práticas monopolistas podem evitar essa situação. Por isso mesmo, há ou pode haver uma característica autenticamente monopolista nos lucros privados que constituem os prêmios oferecidos pela sociedade capitalista ao inovador vitorioso. A importância quantitativa dessa característica, no entanto, a sua natureza fugaz e a sua função no processo em que surge a relegam a uma classe especial. A principal vantagem para uma firma na posição de vendedora única, obtida por patente ou estratégia monopolista, não consiste tanto na oportunidade de agir temporariamente de acordo com o esquema monopolista, mas na proteção que consegue contra a desorganização temporária do mercado e o espaço de tempo que garante para um planejamento a longo prazo. Aqui, no entanto, este argumento se funde com a análise feita anteriormente.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.131-2)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Crítica ao ideal da concorrência perfeita e defesa das vantagens da concorrência imperfeita.

“6. Recordando o que dissemos acima, verificamos que a maioria dos fatos e argumentos esboçados no presente capítulo tende a empanar a auréola que envolvia a concorrência perfeita, ao mesmo tempo que apresenta em luz mais favorável a sua alternativa. Reformulemos, pois, essa argumentação desse ponto-de-vista. (...) ” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.132)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Concorrência perfeita é incompatível com a introdução de inovações, que cria assimetrias. O progresso tecnológico elimina a concorrência perfeita.

“A concorrência perfeita implica o livre acesso a todas as indústrias. É exato, dentro do contexto da teoria geral, que o livre acesso a todas as indústrias é condição indispensável à distribuição ideal dos recursos e, daí, à produção máxima. Se nosso mundo econômico consistisse de certo número de indústrias tradicionais, produzindo mercadorias familiares, de acordo com métodos também tradicionais e virtualmente invariáveis, e se nada ocorresse senão o aparecimento de outros homens e novas economias, conjugando recursos para o estabelecimento de novas firmas do velho tipo, todos os obstáculos levantados ao acesso a uma qualquer indústria significariam uma perda para a comunidade. A condição de acesso perfeitamente livre a uma nova esfera de atividade, no entanto, pode, na realidade, tornar impossível qualquer acesso. E dificilmente concebível a introdução, desde o início, de novos métodos de produção e novas mercadorias em condições de perfeita e imediata concorrência. Significa isso também que o que chamamos de progresso econômico é incompatível com a concorrência perfeita. Na verdade, a concorrência perfeita desaparece, e sempre desapareceu, em todos os casos em que surge qualquer inovação — automaticamente ou graças a medidas tomadas com esse fim — mesmo que existam todas as outras condições para ela.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.134)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

Não é correto dizer que concorrência perfeita é o melhor sistema, uma vez que se considera a qualidade e quantidade de produção da grande empresa capitalista no tempo.

“Levando-se em consideração, no entanto, todos os aspectos do problema, não é mais correto dizer que a concorrência perfeita é o melhor sistema, pois, embora uma firma, que seja forçada a aceitar os preços e não a impô-los, utilize na realidade toda sua capacidade suscetível de produzir ao custo marginal abrangido pelos preços vigorantes, não se segue necessariamente que a empresa teria a quantidade ou a qualidade de capacidade que o grande empreendimento criou e foi capaz de criar justamente porque se encontra numa posição em que pode usá-la estrategicamente.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.135)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

A concorrência perfeita desperdiça oportunidades de desenvolvimento tecnológico.

“Por outro lado, atuando nas condições prevalecentes na evolução capitalista, o sistema da concorrência perfeita exibe alguns tipos próprios de desperdício. A firma compatível com a concorrência perfeita é, em muitos casos, inferior em eficiência interna, especialmente tecnológica. Se está neste caso, desperdiça oportunidades. Pode, também, nas suas tentativas para melhorar seus métodos de produção, desperdiçar capital, pois se encontra em posição menos satisfatória para evoluir e julgar as novas possibilidades. E, como já vimos antes, uma indústria perfeitamente competitiva é muito mais suscetível de ser desbaratada — propagar os bacilos da depressão — sob o impacto do progresso ou de perturbação externa do que o grande empreendimento.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.136)

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Inovações, Concorrência e Estrutura de Mercado

O progresso e a expansão da produção total a longo prazo decorrem da existência das grandes empresas e não apesar delas. A concorrência perfeita é um sistema impossível e inferior.

“Por conseguinte, não basta argumentar que, em virtude de a concorrência perfeita ser impossível nas modernas condições industriais — ou porque sempre o foi — o grande empreendimento ou o monopólio devam ser aceitos como males necessários, inseparáveis do progresso econômico, que é protegido da sabotagem pelas forças inerentes à sua maquinaria econômica. Devemos, pelo contrário, reconhecer que a grande empresa transformou-se no mais poderoso motor desse progresso e, em particular, da expansão a longo prazo da produção total, não apenas a despeito, mas em grande parte devido a essa estratégia que parece tão restritiva quando estudada em casos individuais e do ponto-de-vista de uma determinada época. Nesse sentido, a concorrência perfeita é não apenas sistema impossível, mas inferior, e de nenhuma maneira se justifica que seja apresentada como modelo de eficiência ideal. Daí o erro de se basear a regulamentação estatal da indústria no princípio de que o grande empreendimento deve ser forçado a atuar como atuaria a respectiva indústria num regime de concorrência perfeita.” (SCHUMPETER, J. (1961[1943]),p.136)

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