aprendizagem significativa no contexto da educaÇÃo
TRANSCRIPT
1443
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL:PROJETO “AS PEGADAS DO DINOSSAURO”
Artur CARMELLO NETO, Faculdade de Ciências e Letras – Unesp Araraquara-SP
Formação de professores na perspectiva da inclusão
Andréia da Cunha Malheiros SANTANA- Universidade Estadual de Londrina-PR
1. Introdução
A idealização do projeto “As Pegadas do Dinossauro” surgiu da vontade de
promover uma ampliação das competências e habilidades dos alunos com deficiência
intelectual matriculados em uma sala de recursos de uma escola pública da rede
estadual de São Paulo.
Amparado pela teoria da aprendizagem significativa de Ausubel, o projeto
procurou transpor os conceitos de conhecimento prévio e mapas conceituais no
desenvolvimento das atividades relacionadas ao projeto. Segundo Moreira; Masini,
O conceito mais importante na teoria de Ausubel é o deaprendizagem significativa. Para Ausubel, aprendizagem significativaé o processo pelo qual a nova informação se relaciona com umaspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo.(MOREIRA; MASINI, 2006, p.17)
A realização do projeto contou com a participação de seis alunos, faixa etária
entre oito a quinze anos, com deficiência intelectual do ensino fundamental ciclo I e II,
e foi organizada basicamente em três etapas: a identificação dos conhecimentos
prévios; a elaboração dos mapas conceituais e a criação de uma maquete de um
dinossauro.
A intenção do projeto foi utilizar os conceitos da aprendizagem significativa
visando à aprendizagem do aluno com deficiência intelectual.
1444
2. A origem teórica do projeto “As Pegadas do Dinossauro”
Inicialmente surgiram algumas questões sobre quais procedimentos que seriam
adotados pelo professor, especialista em deficiência intelectual, na execução do
projeto. Questões como: qual a melhor estratégia de ensino que poderia favorecer o
processo de aprendizagem do aluno com deficiência intelectual? Quais teorias
poderiam auxiliar o professor na condução desse projeto?
Na busca dessas e outras respostas relacionadas à realização do projeto e as
teorias que poderiam auxiliar o trabalho do professor, Vigotsky (1997), Ausubel (1968)
apresentaram algumas reflexões interessantes sobre educação e aprendizagem,
mesmo reconhecendo em boa parte, suas divergências teóricas. A definição sobre a
importância da educação do deficiente, discutida por Vigotsky, foi o primeiro passo
para execução do projeto.
A educação, portanto, é essencial no desenvolvimento de todas aspessoas, inclusive as que possuem qualquer deficiência, assim comoa deficiência intelectual. É possível entender que o aluno deve serconsiderado, acima de tudo, um ser ativo capaz de plenodesenvolvimento desde que lhe sejam dadas as condiçõesadequadas. (VIGOTSKY, 1997, p.12)
Segundo o teórico, a educação escolar é algo fundamental para o
desenvolvimento do aluno com deficiência intelectual, desde que haja condições
adequadas para que esse aluno consiga desenvolver suas potencialidades.
Dentre as condições adequadas, como infraestrutura da escola, material
didático, entre outros; o trabalho educativo do professor em relação ao conhecimento
ocupa um papel central em propiciar condições adequadas para a aprendizagem
desse aluno.
Assim, Yves Chevallard (1991) apresenta uma ideia sobre o conhecimento e a
necessidade de sua transformação pelo professor. Segundo o autor, para que o ensino
seja possível é preciso introduzir alterações ou deformações no conhecimento
cientificamente produzido de modo a torná-lo ensinável. Sendo assim, essa reflexão
também se aplicaria ao aluno com deficiência intelectual, desde que fosse considerado
um indivíduo potencialmente capaz de aprender e se desenvolver. Mas como fixar o
novo conhecimento nas estruturas cognitivas do aluno especial? Como realizar
alteração do conteúdo?
1445
Durante a revisão bibliográfica sobre as teorias de aprendizagem que poderiam
fundamentar o projeto, a teoria ausubeliana apresentou um caminho didático
interessante no sentido de facilitar a fixação do novo conteúdo nas estruturas
cognitivas do aluno especial.
Para o teórico, a aprendizagem do aluno depende de uma estrutura cognitiva
prévia que se relaciona e se integra com uma nova informação. Ou seja, a estrutura
prévia ou o conhecimento prévio do aluno especial será o meio pelo qual o novo
conhecimento ira se ligar, ancorar na sua estrutura cognitiva.
Partindo dessas teorias relacionadas à educação e a aprendizagem o projeto
tem seu inicio e desenvolvimento durante as semanas.
2.1. As etapas do projeto
Após a definição das teorias, iniciou-se o trabalho com os alunos.
Primeiramente foi realizada uma investigação prévia com os alunos sobre diferentes
temas relacionados às aulas de ciência, geografia, matemática, entre outras
disciplinas. Alguns alunos demonstraram curiosidade em conhecer um pouco mais
sobre a vida dos animais pré-históricos. Dentre esses alunos, três apresentaram
conhecimentos prévios sobre a temática, como por exemplo, o nome de alguns
animais pré-históricos, o Tiranossauro Rex. Os outros três alunos não conheciam a
temática em questão. Nesse caso, quando inexiste o conhecimento prévio, Ausubel
propõe o conceito de organizadores prévios. Esse conceito recomenda para o
professor criar condições anteriores ao desenvolvimento do conteúdo, por meio de
leitura de textos, apresentação de figuras, filmes, etc; para que ocorra a formação do
conhecimento prévio sobre o conteúdo que futuramente será trabalhado.
Depois de realizado esse trabalho de identificação do conhecimento prévio foi
possível elaborar o mapa conceitual, no sentido de organizar os novos conhecimentos
que seriam discutidos com esses alunos.
Num sentido amplo, mapas conceituais são apenas diagramasindicando relações entre conceitos. Mais especificamente, no entanto,eles podem ser vistos como diagramas hierárquicos que procuramrefletir a organização conceitual de uma disciplina ou parte de umadisciplina. (MOREIRA;MASINI, 2006, p.51)
Elaborado o diagrama, no qual foi definido os conteúdos que seriam
trabalhados pelo professor e pelo aluno na sala de recursos, foi possível pensar na
1446
transposição didática do conteúdo, ou seja, transformar do saber sabido em um saber
ensinável.
Figura 01. Mapa conceitual – Projeto “Pegadas do Dinossauro”
Fonte: Elaboração própria
Com o mapa conceitual construído o trabalho do professor especialista em
relação ao conteúdo teve seu inicio. Ora por recepção, numa aula expositiva,
considerando a idéia da transposição didática; ora por descoberta, o próprio aluno
descobrindo por si só e se relacionando com a temática, o projeto foi seguindo o seu
ritmo de acordo com a aprendizagem dos alunos. Mas a ideia do projeto era ir um
pouco mais além. Era preciso concretizar algo que pudesse refletir todo o trabalho
realizado pelo professor e pelos alunos. Foi quando surgiu a ideia da criação de uma
maquete.
Os alunos com o auxílio do professor pesquisaram na internet um molde para a
elaboração da maquete. Depois de algumas buscas na internet, foi encontrado o
molde do Tiranossauro Rex. A partir desse momento, os alunos junto com o professor,
iniciaram atividades didáticas relacionadas à maquete. Os alunos recortaram, pintaram
as peças e seguiram as seqüências para montá-lo.
Além dos conhecimentos elencados no mapa conceitual, os alunos puderam
desenvolver a coordenação fina, o tempo maior de concentração, a melhor
DINOSSAURO
TIRANOSSAUROREX
PESO
ALTURAALIMENTAÇÃO
TEMPO DE VIDA
PERÍODO HISTÓRICO
1447
organização das tarefas, os comandos fornecidos pelo professor, entre outros. Desta
forma, ao mesmo tempo em que as habilidades e competências referentes ao
conteúdo estudado eram ampliadas na estrutura cognitiva do aluno, outras habilidades
também eram desenvolvidas.
Figura 02. Desenvolvimento da Maquete
Fonte: Acervo Pessoal do Professor Especialista
O produto final do projeto foi à verificação da apropriação conhecimento, por
meio de vários diálogos entre professor e alunos sobre a temática discutida no projeto,
e a elaboração da maquete do dinossauro. Após o término do projeto, os alunos
demonstraram uma maior competência e habilidade em discutir assuntos relacionados
ao tema “animais pré-históricos” graças às pesquisas e atividades realizadas durante a
realização do projeto. Os alunos conseguiram identificar os diferentes os nomes
animais pré-históricos, os seus habitats, a alimentação, peso, altura e outras
informações.
Enfim, a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel contribuiu para o
trabalho do professor especialista em deficiência intelectual.
1448
3. Conclusões
Realizar uma prática docente fundamentada na teoria da aprendizagem
significativa aplicada na educação especial, deficiência intelectual foi um enorme
desafio. Pensar especialmente na teoria de Ausubeliana na educação especial foi algo
muito sensível no tratamento do conhecimento a ser transmitido ao aluno especial.
Entretanto, o resultado foi significativo no que tange a apropriação do conhecimento
por parte desses alunos. As discussões estabelecidas sobre o tema após o término do
projeto comprovaram o quanto foi importante todo esse trabalho docente. Os alunos
especiais se sentiram entusiasmados em relembrar alguns conteúdos discutidos
durante as três semanas do projeto.
Enfim, a escola e todos os seus integrantes auxiliaram na execução do projeto
“Pegadas do Dinossauro”. Muitos professores, coordenador, diretora, colaboraram
com material, fotografias, opiniões sobre a condução do projeto. No entanto, os
maiores protagonistas foram os próprios alunos da sala de recursos da escola, pois
foram eles que demonstram interesse e disponibilidade em aprender. Uma experiência
muito interessante e significativa para o meu trabalho docente.
Referencias bibliográficas
AUSUBEL, D.P. Educational psychology: A cognitive view. Nova York, Holt,Rinehart and Winston Inc.,1968.
CHEVALLARD, Y. La transposition didactique: du savoir savant ao savoirenseigné. Grenoble: La penseé sauvage, 1991.
MOREIRA, M. A.; MASINI E.F.S. Aprendizagem significativa: A teoria de DavidAusubel. São Paulo: Editora Centauro, 2006.
VIGOTSKY, L. S. Fundamentos da defectologia. Madrid: Visor, p.9-12, p.36, p.99.Obras Escogidas V, 1997.