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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE TECNOLOGIA – CT GRUPO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE - GEPOC SEPOC 2010 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA APRESENTADOR: MATHEUS IENSEN DESCONZI, ENG. ORIENTADOR: PROF. HÉLIO LEÃES HEY, DR. ENG. CO-ORIENTADOR: PROF. CASSIANO RECH, DR. ENG COLABORADOR: FABRÍCIO EMMANUEL CAZAKEVICIUS Santa Maria, Agosto de 2010.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM CENTRO DE TECNOLOGIA – CT

GRUPO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE - GEPOC

SEPOC 2010

ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

APRESENTADOR: MATHEUS IENSEN DESCONZI, ENG.

ORIENTADOR: PROF. HÉLIO LEÃES HEY, DR. ENG.

CO-ORIENTADOR: PROF. CASSIANO RECH, DR. ENG

COLABORADOR: FABRÍCIO EMMANUEL CAZAKEVICIUS

Santa Maria, Agosto de 2010.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 2

Conteúdo • Panorama energético mundial; • O efeito fotovoltaico; • Características operacionais de módulos fotovoltaicos; • Sistemas fotovoltaicos; • Estudo do rastreamento do ponto de máxima potência; • Protótipo implementado.

Panorama energético mundial O crescente aumento no desenvolvimento do setor industrial mundial e a utilização de

equipamentos eletro-eletrônicos nas mais diversas atividades desenvolvidas pelo homem, fez com que a demanda por energia elétrica sofresse aumentos exponenciais nas últimas décadas. A exemplo do exposto, a Figura 1 apresenta o crescimento da demanda energética, com uma projeção para os próximos anos, até 2030 [1].

*1 BTU = 0,000293 kWh

x10 BTU15 *

Crescimento médio de1,2% ao ano entre

2005 e 2030

700

600

500

400

300

200

100

0 2005 2030

Figura 1 – Demanda energética mundial [1].

Para suprir esta crescente demanda, muito tem se discutido a respeito da matriz energética mundial e o que esta representa no contexto ambiental. A Figura 2 apresenta o gráfico, com dados referentes ao ano de 2007, da distribuição percentual das principais fontes primárias de energia que suprem a demanda energética mundial [2]. Observa-se que aproximadamente 13% desta energia é provida por fontes renováveis. Observa-se também que a maior parte da energia mundial é obtida através de fontes não renováveis, como o petróleo (34%) e o carvão (26,5%).

A utilização de fontes não renováveis derivadas do petróleo apresenta um impacto ambiental bastante negativo. A emissão de gases tóxicos na atmosfera, resultantes da queima do petróleo, provocam o aquecimento global, afetando o clima e o ecossistema de uma forma geral, podendo resultar em conseqüências catastróficas em longo prazo.

A preocupação da sociedade com estes problemas ambientais e a escassez de combustíveis fósseis fez com que governantes desenvolvessem medidas para tentar barrar o aumento indiscriminado do uso de combustíveis fosseis poluentes, reduzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa, principal causa do aquecimento global, e incentivar o uso de fontes alternativas renováveis. Um exemplo é o protocolo de Kyoto, que propõe um calendário pelo qual os países desenvolvidos têm a obrigação de reduzir a quantidade de gases poluentes em, pelo menos, 5,2% até 2012, em relação aos níveis de 1990.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 3

34% 26,5% 20,9% 9,8% 5,9% 2,2% 0,7%

Petróleo

Carvão/Turfa

Gás

BiomassaNuclear

Hidro Outros*

* Inclui geotérmica, solar, eólica e marés. Figura 2 – Matriz energética mundial [2].

Além disso, há um grande esforço da comunidade científica na busca de formas alternativas e ecologicamente corretas para resolver o problema da falta de energia elétrica mundial [3].

A energia solar fotovoltaica além de ser uma das fontes primárias menos poluentes, também se destaca por ser uma fonte silenciosa, modular, necessitar de baixa manutenção, possuir curtos prazos de instalação e operação [3], [4], provocar baixo impacto na fauna e flora local. Ainda, esta pode ser facilmente integrada às construções, gerando eletricidade localmente, sem a necessidade de linhas de transmissão que acarretam perdas e alto impacto ambiental.

Entretanto, os altos custos dos sistemas fotovoltaicos sempre foram uma barreira para a disseminação desta tecnologia. Até a década de 70 sua utilização era restrita a aplicações muito específicas, como por exemplo, em satélites espaciais [4] onde altos orçamentos eram empregados. Porém, com a crise do petróleo na década de 70 a energia fotovoltaica recebeu grandes investimentos [3], [4], tanto do setor público, através de programas de incentivos governamentais, como de empresas privadas, que vislumbraram na energia solar fotovoltaica um grande nicho para investimentos.

Como conseqüência desta política de investimentos na pesquisa e no desenvolvimento dos painéis fotovoltaicos, a sua produção mundial e a sua utilização cresceu expressivamente, fazendo com que os custos da geração fotovoltaica de energia elétrica apresentassem um decréscimo significativo. Na Figura 3 são observados os custos da energia solar fotovoltaica em comparação aos custos da energia disponível na rede de distribuição atual em momentos de alta e baixa demanda [5]. Observa-se, portanto, que a partir de 2020 os custos da energia solar fotovoltaica serão competitivos com as taxas atuais.

Até o presente momento os sistemas fotovoltaicos são amplamente empregados em alguns países que desenvolveram os incentivos fiscais. Estes incentivos, também chamados de tarifa-prêmio, são uma maneira de impulsionar a utilização desta tecnologia por parte da população em geral. O princípio básico das políticas de apoio implantadas por cada governo propõe que o indivíduo que conectar seu sistema fotovoltaico (residencial, por exemplo) a rede poderá vender energia elétrica para a rede de distribuição [5], de acordo com a tarifa estipulada pelo programa.

A Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Japão compõem um grupo que lidera a produção de energia solar fotovoltaica, representando cerca de 90% de toda potência fotovoltaica instalada no mundo, que ao final de 2008 chegou a 15GW.[6] O desenvolvimento desta tecnologia nestes países (cada vez mais crescente) deu-se em grande parte devido às leis de incentivos citadas anteriormente.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 4

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

1990 2000 2010 2020 2030 2040

€/kWh

0,44 €/kWh900 h/a*

0,22 €/kWh1800 h/a*

FotovoltaicaRede - pico de demandaRede - baixa demanda

*h/a: horas de sol por ano900h/a corresponde a países ao norte da Europa 1800h/a corresponde a países ao sul da Europa

Fonte: EPIA, 2008. Figura 3 – Custos da energia solar fotovoltaica e da energia consumida atualmente ao longo dos anos [5].

O Brasil conta com um potencial fotovoltaico instalado de 20MW [7]. Porém o emprego desta tecnologia é predominantemente em sistemas autônomos; para aplicações em telecomunicações, eletrificação rural e para alimentação de bombas d’água. Os sistemas conectados a rede são raros, sendo a maior parte para fornecimento de energia a prédios e laboratórios, para estudos de comportamento deste sistema. Como por exemplo, o sistema conectado a rede de 16kW instalado no CEPEL em 2002 [8]. Este sistema supre parte do consumo energético do edifício.

A implantação de sistemas conectados a rede no Brasil é barrada por não haver uma legislação que permita esta execução. Até o presente momento, há apenas um projeto de lei em discussão. O Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) foi um exemplo da tentativa do governo em incentivar a produção de energia elétrica através de fontes alternativas. No entanto, após uma revisão deste programa, os sistemas a serem implementados deveriam atender um índice mínimo de nacionalização de serviços e equipamentos, e, ainda, a energia solar fotovoltaica não estava contemplada pelo programa [9].

Embora o pequeno avanço com esta tecnologia, o potencial brasileiro de produção de energia solar fotovoltaica é muito vasto. A Tabela 1 compara o potencial disponível e o instalado no Brasil, na Alemanha e na Espanha. Observa-se, portanto, a potencialidade pouco aproveitada no país.

Tabela 1 – Capacidade solar fotovoltaica instalada e potencial disponível na Alemanha, Espanha e Brasil [7].

Alemanha Espanha Brasil

Capacidade instalada (MW) 3.800 451 0,145*

Potencial (kW·h/m²·ano) 900 1800 1950

*Sistemas conectados a rede. Fonte: Zilles, 2008

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 5

O efeito fotovoltaico O aproveitamento da energia gerada pelo Sol, inesgotável na escala terrestre de tempo, tanto

como fonte de calor quanto de luz, é hoje, sem sombra de dúvidas, uma das alternativas energéticas mais promissoras para se enfrentar os desafios do novo milênio [10], [11].

A Energia Solar Fotovoltaica é a energia obtida através da conversão direta da luz em eletricidade. O dispositivo base para a conversão da luz em energia elétrica é a célula fotovoltaica que, através do efeito fotovoltaico, converte diretamente energia solar em elétrica [11].

O efeito fotovoltaico definido por Edmond Becquerel, em 1839, é o aparecimento de uma diferença de potencial, produzida pela absorção da luz, nos extremos de uma estrutura de material semicondutor [10].

As células fotovoltaicas são constituídas por um material semicondutor ao qual são adicionadas substâncias, ditas dopantes, de modo a criar um meio adequado para o estabelecimento do efeito fotovoltaico, isto é, conversão direta da potência associada à radiação solar em potência elétrica CC.

Se em um pedaço de silício puro, material mais utilizado para a construção de células fotovoltaicas, forem introduzidos átomos de boro em uma metade e de fósforo na outra, será formado o que se chama de junção pn, Figura 4. Nesta junção, elétrons livres do lado n passam para o lado p até ocorrer um equilíbrio de cargas, fazendo assim, com que o lado p se torne negativamente carregado e o lado n eletricamente positivo.

++++++

+------

------

+++++

p n

Silíciocomfósforo

Silíciocomboro

E

a)

b)

E

x

Figura 4 – Junção pn. Se uma junção pn for exposta à radiação solar onde os fótons possuam energia maior que o

gap, próximo de 1eV (elétron-volt), ocorrerá a geração de pares elétron-lacuna. Se isto acontecer na região onde o campo elétrico é diferente de zero, Figura 4, as cargas elétricas serão aceleradas, gerando uma corrente através da junção pn, dando origem a uma diferença de potencial. Se as duas extremidades do "pedaço" de silício forem conectadas por um fio, haverá uma circulação de corrente elétrica [11].

Modelo elétrico da célula fotovoltaica

Uma célula fotovoltaica, fabricada a partir do silício e dopada com impurezas do tipo p e do tipo n, tem o princípio de funcionamento e as propriedades elétricas semelhantes a de um diodo comum, também de silício e do ponto de vista elétrico pode ser representada através de um circuito elétrico equivalente [11].

O diagrama equivalente e a curva característica de funcionamento de uma célula fotovoltaica não iluminada são representados, nesta situação, por um diodo e sua curva característica, Figura 5 [11].

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 6

Para uma célula solar monocristalina, a tensão limiar de condução é de aproximadamente 0,5V e a tensão de bloqueio de 12-50V (dependendo da qualidade e do material da célula).

i(t)

v(t)

0,5 V

20 V

I

IV

II

III

I

V

Figura 5 – Diagrama do circuito elétrico equivalente e curva característica da célula sem radiação solar.

Quando a luz incide na célula solar, gerando o efeito fotovoltaico, o circuito equivalente que representa a célula fotovoltaica é formado por uma fonte de corrente em paralelo com um diodo, Figura 6 [11]. A fonte de corrente produz uma corrente fotoelétrica IPV proporcional a radiação solar incidente. Nesta situação, a curva característica da célula fotovoltaica é representada pela curva no terceiro e quarto quadrante de um diodo. Esta curva é desviada pela magnitude da corrente gerada na direção da polarização inversa, Figura 6.

i(t)

v(t)

0,5 V

IPV

20 V

I

IVIII

V

III

Figura 6 – Diagrama do circuito elétrico equivalente e curva característica da célula irradiada.

Na literatura técnica é encontrada com freqüência apenas a parte da curva de corrente e de tensão na qual a célula fotovoltaica produz corrente, quarto quadrante da curva característica na Figura 6. Nesta representação comercial, para facilitar a visualização dos pontos de operação da célula, a curva do quarto quadrante é refletida segundo o eixo da tensão e é então denominada curva característica da célula fotovoltaica, Figura 7.

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,70

1

2

3

4

5

Tensão (V) Figura 7 – Curva característica de uma célula fotovoltaica.

O circuito equivalente da célula fotovoltaica apresentada na Figura 5 e na Figura 6 é denominado circuito equivalente simplificado.

Outro circuito comumente utilizado para representar com mais precisão o funcionamento de uma célula fotovoltaica é o apresentado na Figura 8 [11], que adiciona uma resistência em série e outra em paralelo ao circuito simplificado, representando a queda de tensão, quando os portadores de carga migram do semicondutor para os contatos elétricos, e a corrente de fuga inversa do diodo, respectivamente.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 7

Rsm

i(t)

v(t)Rpm Z

Figura 8 – Circuito equivalente detalhado de uma célula fotovoltaica alimentando uma carga Z.

Características operacionais de módulos fotovoltaicos

A curva característica corrente versus tensão para um painel nas condições padrão de testes dos painéis fotovoltaicos, definida para uma radiação de 1000W/m2 e temperatura de 25ºC na célula, é apresentada na Figura 9.

0 5 10 15 20 250

1

2

3

4

5

6

Tensao (V)

Cor

rent

e (A

)

Caracteristicas I x V

Icc

Imax

Vmax Vca

Ponto de MáximaPotência

Figura 9 – Curva característica IxV de um painel fotovoltaico.

Três pontos de operação do módulo fotovoltaico merecem atenção particular: a) Corrente de Curto Circuito (ISC): é o valor máximo da corrente de carga, igual,

portanto, à corrente gerada por efeito fotovoltaico. O seu valor é uma característica da célula, sendo um dado fornecido pelo fabricante para determinadas condições de radiação incidente e temperatura.

b) Tensão de Circuito Aberto (VOC): é o máximo valor da tensão nos terminais do módulo fotovoltaico, quando nenhuma carga está conectada a ele. O seu valor é fornecido pelo fabricante para determinadas condições de radiação incidente e temperatura.

c) Ponto de Máxima Potência (MPP): Para cada ponto na curva IxV, o produto corrente vs. tensão representa a potência gerada para aquela condição de operação. Em um módulo fotovoltaico, para uma dada condição climática, só existe um ponto na curva IxV onde a potência máxima pode ser alcançada. Este ponto corresponde ao produto da tensão de potência máxima e corrente de potência máxima.

Influência das condições meteorológicas

As características elétricas de uma célula fotovoltaica e, portanto, de um painel fotovoltaico, são influenciadas diretamente por dois fatores climáticos: intensidade da radiação solar e temperatura das células.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 8

• Radiação solar Com a variação da intensidade da radiação solar incidente em um painel fotovoltaico ocorre

uma variação proporcional na corrente gerada por este painel, Figura 10 a). A tensão de circuito aberto (VOC) sofre poucas alterações com a variação da intensidade luminosa, exceto para os casos quando a radiação solar é muito baixa e VOC decresce rapidamente até zero, nas condições de escuridão.

• Temperatura Ao contrário do caso anterior, a corrente gerada pelo módulo fotovoltaico apresenta poucas

variações com a alteração da temperatura da célula fotovoltaica. Porém, com o aumento da temperatura da célula, a tensão de circuito aberto do módulo fotovoltaico apresenta uma diminuição em seus valores.

A Figura 10 b) apresenta as curvas características de um módulo fotovoltaico sob intensidade de radiação solar constante (1000W/m2) a diferentes temperaturas.

0 5 10 15 20 250

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

4.5

5

Característica I x V

Tensão (V)

Cor

rent

e (A

)

0 5 10 15 20 25

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

4.5

5

Tensão (V)

Característica I x V

25ºC

35ºC

45ºC

Cor

rent

e (A

)

a) b)

Figura 10 – Efeitos da variação da a) radiação solar e b) temperatura na curva IxV de um painel fotovoltaico. Na Figura 11 é apresentada a curva característica P vs V e o deslocamento do ponto de

máxima potência para a variação da temperatura, considerando a radiação solar constante a 1000W/m2.

Ponto de Máxima Potência

0 5 10 15 20 250

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Tensão (V)

Curva Potência x Tensão

Potê

ncia

(W)

Figura 11 – Curva característica P vs V para variação de temperatura e radiação solar.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 9

Sistemas fotovoltaicos Os sistemas fotovoltaicos podem ser divididos em três principais categorias, apresentadas a

seguir [11]: • Sistemas conectados à rede (Grid Connection)

Estes sistemas geralmente utilizam um número elevado de painéis fotovoltaicos, e não utilizam armazenamento de energia, pois toda a geração é entregue diretamente à rede. Representa uma fonte complementar ao sistema elétrico de grande porte ao qual esta conectada.

O arranjo de painéis fotovoltaicos é conectado diretamente a inversores e logo em seguida à na rede elétrica.

Estes sistemas exigem certa complexidade no projeto dos inversores, uma vez que devem satisfazer as exigências de qualidade e segurança para que a rede não seja afetada.

• Sistemas híbridos (Hybrid System) Os sistemas híbridos apresentam mais de uma fonte de geração de energia como, por

exemplo: turbinas eólicas, geração diesel, células de combustível, módulos fotovoltaicos entre outras. Com a utilização de várias formas de geração de energia elétrica o tamanho do arranjo fotovoltaico pode ser reduzido, juntamente com a capacidade do banco de baterias, pois a outra forma de geração (ou outras) garante o fornecimento de energia elétrica para a carga durante a noite ou em períodos de pouca insolação.

• Sistemas isolados (Stand Alone) Nesta configuração a carga é suprida apenas pelos painéis fotovoltaicos. É comumente

empregada em situações em que a extensão da rede elétrica ou o emprego de outra forma de geração de energia se torna muito oneroso.

Como visto na literatura técnica, (em [12], [13]) para pequenas localidades distantes mais de 3km da rede convencional de energia elétrica, a geração através de painéis fotovoltaicos é a opção mais vantajosa.

Topologias de sistemas fotovoltaicos

Uma outra classificação que é realizada nos sistemas fotovoltaicos é de acordo com o configuração (disposição) do(s) arranjo(s) de painéis fotovoltaicos e estágios de conversão que compõem o sistema de geração de energia elétrica. Esta classificação pode ser representada basicamente por quatro famílias topológicas [11]: Inversor central (Central Inverter), String Inverters, Multi-string Inverters e Módulo CA (AC Module), apresentadas na Figura 12.

• Inversor central Foi o primeiro arranjo topológico a ser utilizado em sistemas fotovoltaicos, e continua até

hoje sendo utilizada em grande escala. Esta configuração se caracteriza por possuir apenas um único inversor, responsável pela inversão da corrente CC. Todos os painéis do sistema são ligados em série, criando uma fonte de tensão elevada e, posteriormente ligada via conexão CC ao inversor.

Esta topologia possui como grande desvantagem a utilização de apenas um sistema de busca do ponto de máxima potência (MPPT). Isto resulta em baixa eficiência em sistemas de grande potência, onde a área utilizada pelos painéis fotovoltaicos é elevada e o sombreamento de alguns painéis pode influenciar na eficiência do sistema como um todo.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 10

• String inverters A topologia string inverters é muito semelhante ao inversor central, porém, a diferença

fundamental é a inserção de um inversor para cada string. Com o aumento do número de conversores, o rendimento é penalizado e o custo torna-se mais elevado. No entanto, esta modificação possibilita o rastreamento do ponto de máxima potência em cada string, otimizando o rendimento de cada painel.

• Multi-string inverters Esta topologia apresenta conversores CC-CC de baixa potência diretamente conectados a

pequenos arranjos de painéis fotovoltaicos. Estes conversores são conectados em série e posteriormente ligados a um único inversor. Cada arranjo possui seu próprio sistema de busca do ponto de máxima potência (MPPT), maximizando a energia entregue a carga e possibilitando a instalação dos painéis fotovoltaicos em diferentes orientações, facilitando a sua instalação em fachada de prédios.

Como os conversores CC-CC são de baixa potência, semicondutores de baixa potência largamente utilizados na indústria podem ser aplicados, reduzindo os custos das chaves.

• Módulo CA Nesta topologia o sistema é conectado diretamente a apenas um painel fotovoltaico ou a um

pequeno grupo de painéis, formando um arranjo de até 500W. Posteriormente todos os inversores são ligados em paralelo e colocados junto à carga/rede. A baixa tensão de entrada do sistema exige a utilização de um transformador ou conversor elevador para o ajuste da tensão de saída de acordo com as exigências da carga, elevando os custos do sistema.

A vantagem desta topologia em relação a sua precursora é a possibilidade de utilização de um sistema MPPT para cada painel ou pequeno grupo de painéis fotovoltaicos, maximizando a potência entregue à carga.

Esta padronização do sistema leva também a uma redução dos custos do sistema, pois os conversores podem ser produzidos em larga escala.

Barramento da rede de distribuição

CCCA

. . .

. . .

. . .

. . .

Inversor central

PVstring 1

PVstring 2

PVstring n

String Inverters

CCCA

CCCA

. . .

. ..

PVstring 1

PVstring 2

Multi-string Inverters

...

...

...

. . .

PVstring 1

PVstring 2

PVstring n

CCCA

CCCC

CCCC

CCCC

Módulo CA

CACC

CA

CC

CACC

. . .

PVmodule 1

PVmodule 2

PVmodule n

Figura 12 – Principais topologias de sistemas fotovoltaicos.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 11

Estudo do rastreamento do ponto de máxima potência A baixa eficiência de conversão das células solares e o alto custo de instalação são os

maiores obstáculos da geração de energia elétrica através de painéis fotovoltaicos. Com vistas a isto, é de fundamental importância extrair a máxima potência gerada pelos

painéis fotovoltaicos para, desta forma, aumentar a eficiência do sistema e reduzir os custos da energia gerada. Para que este aproveitamento ocorra, faz-se necessário garantir que o sistema opere o maior tempo possível sobre o ponto de máxima potência. Porém, como visto anteriormente, devido às características dos painéis fotovoltaicos este ponto é variável e fortemente dependente da temperatura e radiação solar incidente.

Para garantir o funcionamento do sistema sobre o ponto de máxima potência, mesmo com variações meteorológicas, a utilização de uma técnica que busque continuamente o ponto de máxima potência deve ser utilizada. Assim, é possível gerar mais energia com o mesmo número de painéis, podendo-se obter um incremento na geração da ordem de 15 a 30 %.

Nas últimas décadas, diversos métodos para busca do ponto de máxima potência foram desenvolvidos. Os métodos on-line de busca do ponto de máxima potência podem ser classificados como: Tensão Constante (CV), Perturbação e Observação (P&O) e Condutância Incremental (IncCond).

Estas técnicas são diferenciadas pela forma com que o ponto de máxima potência é rastreado, resultando em diferenças significativas no aproveitamento da energia gerada pelos painéis fotovoltaicos.

Para a implementação destas técnicas são empregados conversores estáticos, tais como buck, boost e buck-boost. Atuando através da razão cíclica, a operação destes conversores irá determinar o ponto de operação dos painéis de modo a extrair a máxima potência. Abaixo (Figura 13 a)) é mostrada uma simulação de um sistema composto por um painel fotovoltaico e um conversor elevador CC-CC boost. O painel fotovoltaico é representado pelo circuito equivalente mostrado nas seções anteriores, com potência máxima de 80 W, a uma radiação de 1000 W/m² e a 25°C.

O rastreador do ponto de máxima potência (MPPT – Maximum Power Point Tracker) escolhido para esta simulação foi o P&O. Para empregar esta técnica, é necessário ter medidas anteriores e atuais da potência gerada pelo painel PV e da razão cíclica do conversor. A partir de uma lógica simples, o algoritmo incrementa ou decrementa a razão cíclica até que seja drenada a máxima potência do painel PV.

A Figura 13 b) apresenta o comportamento da potência gerada pelo painel fotovoltaico ao longo do tempo. Observa-se inicialmente um transitório devido às dinâmicas do conversor estático, e posteriormente nota-se que a potência gerada ainda não corresponde aos 80 W do painel PV.

Após as primeiras leituras, o MPPT incrementa a razão cíclica, que no início do rastreamento é pré-definida 5%. À medida que o MPPT atua, a potência gerada cresce até convergir para os 80 W do painel PV. A Figura 13 c) mostra como a razão cíclica é modificada pelo MPPT empregado.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 12

a)

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,50

10

20

30

40

50

60

70

80

90

P (W)PV

Tempo (s)

b)

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,50

5

10

15

20

25

30

Razão Cíclica (%)

Tempo (s)

c) Figura 13 – a) Simulação de um painel fotovoltaico empregando o rastreamento do ponto de máxima potência, b)

potência gerada pelo painel e c) variação da razão cíclica dada pelo MPPT.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 13

Protótipo implementado Com o objetivo de tornar mais didática a técnica de rastreamento do ponto de máxima

potência, o Grupo de Eletrônica de Potência e Controle (GEPOC) desenvolveu um protótipo utilizando iluminação artificial, um painel fotovoltaico e um conversor boost CC-CC. A iluminação artificial é fornecida através de um painel de lâmpadas incandescentes, excitando o painel fotovoltaico, que por sua vez gera energia elétrica (Figura 14).

Suportes

LâmpadasPainelFotovoltaico

Figura 14 – Estrutura do protótipo implementado.

O conversor boost conectado ao painel fotovoltaico é responsável por rastrear o ponto de

máxima potência. De maneira interativa, o usuário poderá rastrear o MPP alterando a razão cíclica do conversor boost através de um potenciômetro, e, ao mesmo tempo, visualizar a potência gerada. Para realizar estas tarefas foi utilizado um microcontrolador e um display LCD (Figura 15).

CC CC Carga

PainelFotovoltaico

VPV

IPV

µC

gate

drive

Razão cíclica0 10,5

displayP(W)

Boost

Figura 15 – Esquema do circuito de sensoriamento e controle do protótipo implementado.

SEMINÁRIO DE ELETRÔNICA DE POTÊNCIA E CONTROLE – SEPOC 2010 14

Referências Bibliográficas [1] EXXON MOBIL CORPORATION, Outlook for Energy: A View to 2030. 2009.

[2] INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA), Key World Energy Statistics – 2009. 2009.

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[4] M. S. C. Dias, Energia Solar Fotovoltaica para Linhas de Transmissão, in XV Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, 1999.

[5] EUROPEAN PHOTOVOLTAIC INDUSTRY ASSOCIATION (EPIA), Solar Generation V – 2008. 2008.

[6] EUROPEAN PHOTOVOLTAIC INDUSTRY ASSOCIATION (EPIA), Global Market Outlook for Photovoltaics until 2013. 2009.

[7] R. Zilles, Geração Distribuída com Sistemas Fotovoltaicos, in 1ª Reunião do Grupo de Trabalho GT-GDSF, 15 Dezembro, 2008.

[8] M. A. Galdino, “Maior sistema fotovoltaico do País conectado à rede é instalado no CEPEL”, CRESESB Informe, Rio de Janeiro, ano 8, n. 8, p. 3, 2003.

[9] F. K. O. M. Varella, Estimativa do Índice de Nacionalização dos Sistemas Fotovoltaicos no Brasil, in Comissão de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2009. 148 p. (Tese de Doutorado).

[10] A. P. C. Guimarães, C. M. Ribeiro, L. E. G. Bastos, L. C. G. Valente, P. C. d. Silva, R. X. d. Oliveira, Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos, CEPEL - CRESESB, Rio de Janeiro 2004.

[11] J. Imhoff, Desenvolvimento de Conversores Estáticos para Sistemas Fotovoltaicos Autônomos, in Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE), Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2007. 146 p. (Dissertação de Mestrado).

[12] G. F. Rodrigues, J. Imhoff, H. Tomas, H. L. Hey, Análise Comparativa entre os Custos de Extensão da Rede Elétrica e Instalação de Sistemas Fotovoltaicos para Localidades Isoladas, in XIX CRICTE, 2004.

[13] M. R. Patel, Wind and Solar Power Systems, 1ª ed. New York: CRC Press, 1999.