apostila psicologia geral

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PSICOLOGIA GERAL noes introdutrias1 ... as pessoas no esto sempre iguais, ainda no foram terminadas... (Guimares Rosa) A Psicologia to antiga quanto o prprio homem, pois desde sempre se colocaram questes ao homem sobre si prprio e sobre o que vulgarmente se designava "alma". At o sc. XIX a Psicologia tinha um tom especulativo e sem qualquer explicao ou base experimental, sendo sempre orientada para a metafsica, mantendo-se fortemente ligada filosofia at aquela poca. A Psicologia Clssica ocupava-se pelo estudo da conscincia, da alma, do esprito, baseando-se em crenas, f, dogmas e convices emocionais. Envolvia a interveno de filsofos, padres, mediums e exorcistas. A psicologia fazia parte da filosofia, que teve o seu incio na Grcia por volta do sculo VI a.C., com a preocupao de entender e explicar o cosmo (perodo cosmolgico). O mtodo de estudo era a reduo do elemento complexo ao mais simples, sendo denominado por esta razo de elementarismo, atomismo ou monismo. A Psicologia na antiguidade ganhou consistncia com Scrates, para quem a principal caracterstica humana era a razo, condio que permitia ao homem sobrepor-se aos instintos, a base da irracionalidade. Scrates acreditava que o nico conhecimento que podia ser obtido era do prprio "eu" "conhece-te a ti mesmo" o mtodo filosfico da introspeco. A conscincia da prpria ignorncia o ponto de partida do conhecimento ("sei que nada sei"). As teorias da conscincia foram assentadas nesta base filosfica. Plato procurou definir no corpo fsico um lugar para a razo (ou a alma), que seria a cabea. Ao morrer, segundo ele, o corpo desaparecia e a alma ficava livre para ocupar outro corpo. Para Plato, o mundo material, mutvel seria uma cpia imperfeita do mundo ideal (mundo das idias), imutvel e perfeito. Na sua concepo o homem um ser dualista, composto de mente e corpo. Dessa viso dualista surgiram duas correntes filosficas, a da essncia (mundo ideal) e a da existncia (mundo concreto). Aristteles, ao contrrio, postulava que alma e corpo no podiam ser dissociados. Para ele tudo, at mesmo os vegetais, possuam a sua psych ou alma. A diferena que o homem teria a alma racional, com a funo pensante. Aristteles acreditava que o indivduo ao nascer uma "tbula rasa", que ir adquir conhecimento pelas experincias, por meio dos sentidos. As sensaes seriam os elementos mais simples do conhecimento empirismo. Ele foi o primeiro a escrever tratados em psicologia, sendo o mais significativo o relativo memria. Dois grandes filsofos representaram a Idade Mdia: Santo Agostinho, que considerava a alma, sede do pensamento, como uma manifestao do divino; e So Toms de Aquino, que foi buscar em Aristteles a distino entre essncia e existncia.

Compilado de BOCK, Ana Maria et alii. Psicologias, DAVIDOFF, Linda. Introduo Psicologia, SCHULTZ, Duane P.; SCHULTZ, Sydney Ellen. Histria da psicologia moderna.1

PSICOLOGIA GERAL/ UEA

Profa. Graa Medeiros

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O perodo pr-cientfico da psicologia teve incio no Renascimento, por meio da retomada do mtodo atomista ou elementarista, com o uso da observao, experimentao e quantificao. A fisiologia e a anatomia contriburam para o desenvolvimento da psicologia, pelo estudo do organismo que reage frente aos estmulos, tendo o estudo do sistema nervoso ocupado grande parte do interesse dos estudiosos, especialmente o crebro. A quantificao e a estatstica colaboraram com a cincia, tornando os resultados das pesquisas mais objetivos e confiveis. No Renascimento Descartes postula a separao entre a mente (alma, esprito) e o corpo, afirmando que o homem possui uma substncia material e uma substncia pensante (dualismo mente-corpo). Descartes coloca a dvida como ponto de partida de todo raciocnio. Seu mtodo de estudo a dvida metdica ("Penso, logo existo"). Introduziu o estudo do conceito de ao reflexa, relacionado ao comportamento dos animais, dando origem as duas teorias, o dualismo psicofsico e a interpretao mecanicista do comportamento animal. Embora a Filosofia h muito tempo se preocupasse em desvendar o humano, a Psicologia s se constituiu como campo de conhecimento cientfico no final no sculo 19, por isso houve tempo de apresentar teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar com maior preciso o seu objeto de estudo que, em sentido mais amplo o homem. Um grande problema enfrentado pela Psicologia, assim como por todas as Cincias Humanas que, conforme a definio de homem h diferentes concepes de objeto que combine com ela. Como atualmente h uma riqueza de valores sociais que permitem vrias concepes de homem, pode-se dizer que a cincia psicolgica estuda os diversos homens concebidos pelo conjunto social, caracterizando-se, assim, pela diversidade de objetos de estudo. Essa diversidade de objetos justifica-se porque os diversos fenmenos psicolgicos no podem ser acessveis ao mesmo nvel de observao e, portanto, no podem ser sujeitos aos mesmos padres de descrio, medida, controle e interpretao. No momento, ento, no existe uma psicologia, mas cincias psicolgicas em desenvolvimento. A matria-prima da Psicologia, ento, o homem em todas as suas expresses, visveis e invisveis, singulares ou genricas. A sua contribuio especfica para a compreenso da totalidade da vida humana o estudo da subjetividade, a maneira prpria de cada indivduo experienciar o mundo, construda aos poucos, ao mesmo tempo em que o homem atua sobre o mundo e sofre seus efeitos. A origem da psicologia cientfica A psicologia cientfica veio luz na segunda metade do sculo XIX, na Alemanha, tendo como expoentes Fechner e Wundt. Em meados do sc. 19 os problemas e temas da psicologia passam at investigados pela Fisiologia e pela Neurofisiologia. Por volta de 1860 foi formulada uma importante lei no campo da Psicofsica: a Lei de Fechner-Weber, que estabelece relao entre estmulo e sensao, permitindo a sua mensurao. Essa lei teve muita importncia na histria da Psicologia porque instaurou a possibilidade de medida do fenmeno psicolgico. Gustav Theodor FECHNER sua obra Elementos de Psicofsica foi um marco na histria da psicologia, na qual procurava encontrar a relao existente entre o fsico e o psquico adotando a idia do paralelismo, sendo a mente e o corpo faces daPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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mesma moeda e a ligao entre esses dois mundo uma relao matemtica quantitativa. Essa concluso foi alcanada por meio de diversas experincias, nas quais testava os processos psicolgicos com os mtodos das cincias exatas. Seus mtodos de pesquisa constituiram uma contribuio metodolgica para a psicologia, e ainda hoje so instrumento de pesquisa psicolgica, sendo Fechner considerado o precursor da psicometria. Wilhelm WUNDT a afirmao da psicologia como cincia autnoma e experimental foi marcada pela publicao dos livros Elementos de Psicologia Fisiolgica e pela fundao, em 1875, do primeiro Laboratrio de Experimentos em Psicofisiologia, em Leipzig, na Alemanha. Wundt desenvolveu a concepo de paralelismo psicofsico, segundo a qual aos fenmenos mentais correspondem fenmenos orgnicos. Em sua obra a psicologia estruturada e normatizada, deixando de ser o estudo da vida mental e da alma para ser o estudo da conscincia ou dos fatos conscientes. Para estudo dos processos mentais utilizou a observao, a experimentao e a quantificao, sem desprezar a introspeco. Para explorar a mente ou conscincia do indivduo, Wundt criou um mtodo denominado introspeccionismo. medida em que se liberta da filosofia, o status de cincia da psicologia passa a atrair novos estudiosos que, com base a novos padres de conhecimento, buscam produzir teorias a partir dos critrios bsicos da metodologia cientfica, ou seja, buscando a neutralidade do conhecimento cientfico, reunindo dados passveis de comprovao e conhecimento cumulativo que possa servir de ponto de partida para outros experimentos e pesquisas.

A ESTRUTURAO DA PSICOLOGIA NO SCULO XX ESCOLAS PSICOLGICAS No incio do sc. XX, as diversas tendncias foram reorientadas e aglutinadas em novas ramificaes, estruturando e caracterizando as chamadas escolas psicolgicas. Nos Estados Unidos a Psicologia cientifica encontra campo para um rpido crescimento, com o o Estruturalismo, de Edward Titchner, o Funcionalismo, de William James, e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike. O Estruturalismo define a psicologia como cincia da conscincia ou da mente, sendo esta a soma total dos processos mentais. A tarefa da psicologia seria a descoberta do verdadeiro contedo da mente e maneira pela qual ela se estrutura. Edward Bradford TITCHENER foi o seu representante mximo. Ele considerava que toda a vida psquica construda a partir das sensaes, imagens, afeies e sentimentos, e o mtodo empregado para chegar a esses elementos deveria ser a introspeco, sem, no entanto, desprezar a experimentao. O estruturalismo um sistema elementarista, atomista e associacionista, procurando entender a concatenao da unidade no todo. Sua linha filosfica o empirismo crtico, sendo uma escola mais pura que aplicada, que procurou estabelecer leis gerais, sem preocupao com as diferenas individuais e os problemas prticos. O Funcionalismo foi a primeira escola exclusivamente norte-americana. Concentra seus esforos em questes de ordem prtica e utilitria ("para que serve? ", "qual a funo?"), dirigindo ao estudo ao aspecto fundamental da conscincia, cuja funo ajustar o homem s condies ambientais fsicas e sociais. A conscincia exerce uma atividade adaptativa, destina-se a ajustar a ao. O funcionalismo se enquadra no modelo filosfico do pragmatismo, em que a funo da conscincia no conhecer, mas adaptar. William James, psiclogo americano, se opunha radicalmente ao estruturalismo, e centrou seus estudos em rigorosas observaes de si mesmo e dos outros, criandoPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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um sistema baseado no funcionamento dos processos mentais e no modo como estes operavam na adaptao dos indivduos ao meio, assim como as diferenas individuais entre as pessoas. A introspeco informal (auto-observao e autorelato) era o mtodo de investigao, devendo os conhecimentos psicolgicos serem aplicados a coisas prticas como educao, direito e negcios. James elege a conscincia como o centro de suas preocupaes e busca a compreenso de seu funcionamento, na medida em que o homem a usa para adaptar-se ao meio. O Associacionismo baseado na concepo de que a aprendizagem se d por um processo de associao das idias, das mais simples s mais complexas. Thorndike formulou a Lei do Efeito, pela qual todo comportamento de um organismo vivo tende a se repetir se for recompensado e a ser suprimido se o organismo for castigado. Pela Lei do Efeito, haver associao de uma situao com outras semelhantes. Edward L. THORNDIKE considerado precursor do behaviorismo por sua investigao sobre a conduta animal. Formulou a lei do exerccio (relao entre frequncia e fixao) e estabeleceu o princpio do ensaio e erro na aprendizagem, concluindo tambm que a recompensa mais eficiente que o castigo na educao, na qual seus princpios foram amplamente utilizados. No sculo 20 as trs consideradas como as mais importantes tendncias tericas da Psicologia so o Behaviorismo (ou Teoria S-R), a Gestalt e a Psicanlise. O BEHAVIORISMO nasce com Watson e tornou-se importante por ter definido o fato psicolgico de modo concreto, a partir da noo de comportamento (behavior). Watson defendia uma perspectiva funcionalista para a Psicologia, de que o comportamento deveria ser estudado como funo de certas variveis do meio. Para ele, certos estmulos levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre porque os organismo se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditrios e pela formao de hbitos. Watson considera o estudo da mente e da conscincia como entraves psicologia como cincia. Nega tambm as tendncias inatas, explicando os diversos tipos de comportamentos pelo condicionamento exercido pelo ambiente e as circunstncias, buscando a construo de uma psicologia sem alma e sem mente, livre de mtodos subjetivos, passvel de previso e controle. Assim, o behaviorismo dedica-se ao estudo das interaes entre as aes do indivduo (respostas) e o ambiente (estmulos). O homem comea a ser estudado a partir de sua interao com o ambiente, produto e produtor dessas interaes. O processo de aprendizagem, portanto, termina na elaborao do comportamento e para Watson inteiramente dependente e consequncia do meio ambiente social. Os princpios do behaviorismo foram reforados pelos estudos dos reflexologistas russos como Sechenov. Bechterev e Ivan PAVLOV, o mais conhecido por sua pesquisa sobre reflexo condicionado. Essa descoberta foi utilizada pelo behaviorismo para o estudo dos processos psquicos e revelou-se um mtodo objetivo na anlise do comportamento, pela tcnica do condicionamento, que partia da unidades reflexas (emoo, instinto, hbito) e suas associaes, at chegar ao comportamento ou atividade global do organismo. O homem, neste caso, seria uma mquina orgnica, e todas as reaes humanas deveriam ser analisadas no padro estmulo-resposta. Aquelas reaes que no se enquadrassem nos padres fisiolgicos seriam irreais.

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O mais importante sucessor de Watson Burrhus Frederic SKINNER, cuja base de estudo est na formulao do conceito de comportamento operante que, ao contrrio do comportamento reflexo ou respondente, no-voluntrio, que inclui as respostas produzidas por estmulos ambientais de maneira incondicionada, pode ser aprendido ou condicionado. Skinner rejeita toda a subjetividade, considerando o adequado controle do meio e a observao do comportamento resultante, suficientes para explicar a conduta das pessoas, sem interferncia de agentes externos. Do condicionamento operante foi derivada a sua tecnologia educacional, ou instruo programada, de grande aplicao da rea educacional. No caso do comportamento operante, o que propicia a aprendizagem dos comportamentos a ao do organismo sobre o meio e o efeito dela resultante a satisfao de alguma necessidade e a aprendizagem est na relao entre uma ao e seu efeito, sendo o estmulo reforador chamado de reforo, considerado como toda conseqncia que, seguindo uma resposta, altera a probabilidade futura de ocorrncia dessa resposta. O reforo pode ser positivo, quando aumenta a probabilidade da resposta que o produz, e negativo, quando aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua, ou seja, vai se chamar de reforamento positivo ou negativo conforme vise provocar ou remover um determinado estmulo. O reforamento positivo oferece alguma coisa ao organismo; o negativo permite a retirada de algo desagradvel. A funo reforadora de um evento ambiental qualquer s definida por sua funo sobre o comportamento do indivduo. Alguns eventos tendem a ser reforadores para toda uma espcie, como alimento e afeto (reforos primrios), enquanto outros adquirem a funo quando temporalmente pareados com os primrios (reforos secundrios). No reforamento negativo, dois processos merecem destaque: a esquiva, processo no qual os estmulos aversivos condicionados e incondicionados esto separados por um intervalo de tempo aprecivel, permitindo que o indivduo execute um comportamento que previna a ocorrncia ou reduza a magnitude do segundo estmulo. No processo de esquiva, aps o estmulo condicionado o indivduo apresenta um comportamento que reforado pela necessidade de reduzir ou evitar o segundo estmulo, igualmente aversivo. No processo de fuga, h um estmulo aversivo incondicionado que, quando apresentado, ser evitado pelo comportamento de fuga. Outros processos foram sendo formulados pela anlise experimental do comportamento, como a extino , quando uma resposta deixa abruptamente de ser reforada; e a punio, quando h apresentao de um estmulo aversivo ou remoo de um reforador positivo. Verificou-se, no entanto, que, embora a punio leve supresso temporria da resposta, no altera a motivao, levando os behavioristas a questionar a validade do procedimento de punio como forma de reduzir a freqncia de certas respostas. Diz-se que se desenvolveu uma discriminao de estmulos quando uma resposta se mantm na presena de um estmulo, mas sofre certo grau de extino na presena de outro, ou seja, somos capazes de discriminar diferentes estmulos e de nos comportarmos de maneira diferente em cada situao. Na generalizao de estmulos, respondemos de forma semelhante a um conjunto de estmulos percebidos como semelhantes, o que faz com que possamos transferir aprendizados para diferentes situaes.

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A GESTALT surge como uma negao da fragmentao das aes e processos humanos, postulando a compreenso do homem como uma totalidade (tendncia terica mais ligada Filosofia). O movimento gestltico surgiu na Alemanha, tendo como ponto de partida o estudo da percepo. Max WERTHEIMER estudou a percepo visual do movimento e concluiu que a percepo era um fenmeno total, unificado, que no poderia ser considerado como a soma de elementos ou de sensaes isoladas. Alm da percepo foram estudados outros fenmenos psicolgicos, como a aprendizagem, a memria, as reaes motoras, etc. O comportamento, ento, no a soma das sensaes e percepes, mas tem uma dinmica prpria, assim tambm os processo psicolgicos so organizaes de dentro para fora e so significativos. A gestalt d relevncia ao estudo das relaes entre as partes que compem o todo, sendo a relao entre os elementos essencial para a determinao do processo psquico. Mente e corpo devem se unificar na compreenso da realidade, pois o homem uma totalidade, e no se estuda um fenmeno isolado, pois os fatos tm ligao entre si dentro de um contexto. Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka iniciaram seus estudos pela percepo e sensao do movimento, preocupados em compreender quais os processos envolvidos na iluso de tica, quando o estmulo fsico percebido pelo sujeito como uma forma diferente da realidade. A percepo o ponto de partida e um dos temas centrais da teoria da gestalt. Para os gestaltistas, entre o estmulo que o meio fornece e a resposta do indivduo, encontra-se o processo de percepo, sendo o que o indivduo percebe e como percebe, dados importantes para a compreenso do comportamento humano, que deve ser estudo em seus aspectos mais globais, levando em considerao as condies que alteram a percepo do estmulo: a maneira como percebemos um determinado estmulo ir desencadear nosso comportamento. Muitas vezes os nossos comportamentos guardam relao estreita com os estmulos fsicos, e outras, eles so completamente diferentes do esperado porque entendemos o ambiente de uma maneira diferente da sua realidade. Se nos elementos percebidos no h equilbrio, simetria, estabilidade s simplicidade, no alcanaremos a boa-forma; assim, o elemento que objetivamos compreender deve ser apresentado em aspectos bsicos, que permitam a sua decodificao, ou seja, a percepo da boa forma. A tendncia da nossa percepo em buscar a boa-forma permitir a relao figura-fundo. O comportamento determinado pela percepo do estmulo e, portanto, estar submetido lei da boa forma. O conjunto de estmulos determinantes do comportamento denominado meio, que pode ser meio geogrfico (meio fsico) e meio comportamental (resultante da interao do indivduo com o meio fsico), que resulta em uma particular interpretao do meio, onde o que percebemos uma realidade subjetiva, particular, criada pela mente. O comportamento, ento, desencadeado pela percepo do meio comportamental, e a tendncia a juntar os elementos denominada pela Gestalt como resultante da fora do campo psicolgico, entendido como um campo de fora que tende a garantir a busca da melhor forma possvel em situaes que no esto muito estruturadas. Diferentemente do associativismo, a Gestalt v a aprendizagem como a relao entre o todo e a parte, onde o todo tem papel fundamental na compreenso doPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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objeto percebido. Em situaes onde no h uma clara definio figura-fundo, pode ocorrer uma compreenso imediata sem que tenha havido um esforo especial, fenmeno denominado insight pelos gestaltistas, que usam o mtodo fenomenolgico e experimental e rejeitam a quantificao e a introspeco. Sua contribuio foi importante na rea da psicologia cognitiva, onde introduziu os conceitos de estrutura e equilbrio, adotados por Piaget. Faz parte do neogestaltismo Kurt LEWIN, criador da dinmica de grupo. Ele buscava estudar o comportamento individual a partir do grupo ou do todo que circunda o indivduo, composto de fatores psicolgicos e personalidades das pessoas atuantes. Seus estudos contriburam para elaborao da teoria da motivao, da aprendizagem, da personalidade, da psicologia infantil e da psicologia social. A Teoria de Campo de Kurt Lewin - O principal conceito de Lewin o espao vital, definido como a totalidade dos fatos que determinam o comportamento do indivduo num certo momento. O campo psicolgico foi concebido por ele como o espao de vida considerado dinamicamente, onde so levados em conta, alm do indivduo e o meio, a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes. Para Lewin, a realidade fenomnica no se refere apenas a percepo como fenmeno psicofisiolgico, mas tambm a caractersticas de personalidade do indivduo, a componentes emocionais ligados ao grupo e prpria situao vivida, assim como a situaes passadas ligadas ao acontecimento, na forma em que so representadas no espao de vida atual do indivduo. Transportando a noo de campo psicolgico para a Psicologia Social, Lewin criou o conceito de campo social, formado pelo grupo e seu ambiente. A PSICANLISE recupera a importncia da afetividade e postula o inconsciente como objeto de estudo. O movimento psicanaltico, a despeito de sua influncia, no tinha como objetivo contra-argumentar ou atrair adeptos. A teoria psicanaltica apenas uma teoria psicolgica que atraiu inmeros seguidores, da o seu status de movimento psicolgico. Sigmund Freud tratava seus pacientes tentando trazer conscincia aquilo que estava inconsciente, formulando a partir de anlise minuciosa das escutas, hipteses a respeito da personalidade das pessoas, comparando-as e testando-as com observaes posteriores, procurando explicar cada fato, por mais trivial. Sua base era a motivao inconsciente como mola-mestra do comportamento. O termo psicanlise usado para se referir a uma teoria, a um mtodo de investigao e a uma prtica profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psquica; enquanto mtodo de investigao, caracteriza-se pelo mtodo interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que manifesto por meio de aes e palavras ou pelas produes imaginrias, como os sonhos, os delrios, as associaes livres, os atos falhos. A prtica profissional refere-se forma de tratamento, a anlise, que busca o autoconhecimento ou a cura, que ocorre por meio desse autoconhecimento. No livro A interpretao dos sonhos, em 1900, Freud apresenta a primeira concepo sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade. Essa teoria refere-se existncia de trs sistemas ou instncias psquicas: inconsciente, prconsciente e consciente.

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O inconsciente exprime o conjunto dos contedos no presentes no campo atual da conscincia. constitudo por contedos reprimidos, que no tm acesso aos sistemas pr-consciente/consciente, pela ao de censuras internas. Estes contedos podem ter sido conscientes em algum momento e depois reprimidos, ou podem ser genuinamente inconscientes. O pr-consciente refere-se ao sistema onde permanecem aqueles contedos acessveis conscincia; e o consciente o sistema que recebe ao mesmo tempo as informaes do mundo exterior e as do mundo interior. Em seus estudos sobre as causas e o funcionamento das neuroses, Freud identificou conflitos de ordem sexual localizados nos primeiros anos de vida do indivduo, isto , na vida infantil estavam as experincias de carter traumtico que se configuraram como origem de sintomas na vida adulta. No processo de desenvolvimento psicossexual, o indivduo nos primeiros anos de vida tem a funo sexual ligada sobrevivncia, portanto o prazer erotizada, estando as zonas de excitao sexual localizadas em partes do corpo. Freud postou as seguintes fases do desenvolvimento sexual: fase oral, quando a zona de erotizao a boca; fase anal, a zona de erotizao o nus; fase flica, a zona de erotizao o rgo sexual. Depois dessas fases vem um perodo de latncia, que se prolonga at a puberdade, poca em que atingida a ltima fase, a fase genital , quando o objeto de erotizao passa a ser externo ao indivduo. Um dos eventos considerados mais importantes para a estruturao da personalidade do indivduo acontece entre os 3 e 5 anos, durante a fase flica: o Complexo de dipo, quando a me o objeto de desejo do menino, e o pai o rival. Para Freud, aquilo que para o indivduo assume valor de realidade a realidade psquica, e isso o que importa, mesmo que no corresponda realidade objetiva. O funcionamento psquico concebido a partir de trs pontos de vista, que devem ser considerados simultaneamente para a compreenso dos processos psquicos: o econmico, quando existe uma quantidade de energia que alimenta os processos psquicos; o tpico, onde o aparelho psquico constitudo de um nmero de sistemas que so diferenciados quanto sua natureza e modo de funcionamento, o que permite considera-l como lugar psquico; e o dinmico, porque no interior do indivduo existem foras que entram em conflito e esto permanentemente ativas. A origem dessas foras a pulso. A pulso refere-se a um estado de tenso que busca, atravs de um objeto, a supresso deste estado. Eros a pulso de vida e abrange as pulses sexuais e as de autoconservao. Tanatos a pulso de morte, que pode ser autodestrutiva ou manifestar-se exteriormente como agressiva ou destrutiva. Sintoma, na teoria psicanaltica, seja um comportamento ou pensamento, uma produo resultante de um conflito entre o desejo e os mecanismos de defesa. Ao mesmo tempo em que sinaliza, o sintoma busca encobrir um conflito e substituir a satisfao do desejo. Posteriormente Freud introduziu na teoria do aparelho psquico os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos trs sistemas da personalidade. O id constitui o reservatrio da energia psquica, onde se localizam as pulses de vida e de morte. regido pelo princpio do prazer. O ego o sistema que estabelece o equilbrio entre as exigncias do id, a realidade e as ordens do superego. um regulador, regido pelo princpio da realidade, cujas funes bsicas so a percepo, memria, sentimentos e pensamento.

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O superego origina-se com o Complexo de dito, com a internalizao das proibies, dos limites e da autoridade. Seu contedo refere-se s exigncias sociais e culturais. O id refere-se ao inconsciente, mas o ego e o superego tambm tm aspectos ou partes inconscientes. Os mecanismos de defesa So processos inconscientes realizados pelo ego, pelos quais so excludos da conscincia os contedos indesejveis. Com a finalidade de proteger o aparelho psquico, o ego mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepo do perigo interno, em funo de perigos reais ou imaginrios do mundo exterior. Recalque supresso de uma parte da realidade, deformando o sentido do todo (no ver ou ouvir algo que no se deseja). Formao reativa afastamento de um desejo por uma atitude oposta, visando o ocultamento das verdadeiras motivaes do indivduo (me superprotetora). Regresso retorno a etapas anteriores do desenvolvimento, reagindo com modos de expresso mais primitivos. Projeo transferncia a outrem ou alguma coisa de algo de si considerado indesejvel pelo indivduo (um defeito moral, p. ex.). Racionalizao justificativa convincente e aceitvel para encobrir deformaes da conscincia. O ego coloca a razo a servio do irracional (justificativa para o preconceito ou a pena de morte, p. ex.) A psicanlise no faz parte das psicologias experimentais, mas elementista e tambm associacionista, pois busca encontrar os elementos inconscientes que provocariam a neurose e associar as causas que provocaram tal efeito, ou seja, a neurose. Os mtodos usados por Freud foram o introspectivo e o da livre associao. Entre os seus representantes mais influentes esto Adler e Jung. Houve na psicanlise uma tendncia culturalista nos EUA, dando nfase ao meio ambiente, s represses sociais como causadoras das neuroses, representados principalmente por Karen HORNEY e Erich FROM. Melanie KLEIN e Jacques LACAN esto ligados psicanlise moderna. Alfred ADLER sua escola foi denominada de Psicologia do Indivduo ou Psicologia Individual, por valorizar os fatores psicolgicos individuais e sociais na formao da personalidade. Os conflitos esto centrados entre o indivduo e o meio ambiente, sendo a raiz dos sintomas neurticos o sentimento de inferioridade. Carl Gustav JUNG identificava a libido como energia vital, que poderia ser direcionada para qualquer necessidade, considerava o presente e o futuro perspectivas de vida e ajuda teraputica. A descoberta do inconsciente coletivo foi outro aspecto relevante do seu sistema, sendo considerado por ele como a parte mais profunda do inconsciente, onde estariam armazenadas as experincias acumuladas pela espcie humana, chamadas de arqutipos. O sistema de Jung foi chamado de Psicologia Analtica ou Complexa. Compara oObjeto

Estruturali smoOs processos elementares da conscincia (esp. as experincias sensoriais),

Funcionalis moO funcionament o dos processos mentais, sobretudo quanto

Behavioris moEstmulos e respostas observveis, com nfase na aprendizagem .

GestaltA experincia subjetiva humana global; nfase na percepo, no pensamento e

PsicanliseA personalid ade normal e a anormal; nfase na primeira

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Objetivo

suas combinaes e relaes com o sistema nervoso. O conhecimento em si. Introspeco analtica

adaptao das pessoas ao meio em que vivem. O conhecimento e sua aplicao. Introspeco informal e mtodos objetivos O conhecimento e a aplicao. Mtodos objetivos

na resoluo de problemas.

infncia e nos aspectos inconscien tes. Servios, conhecimento s. Introspeco informal (pacientes); anlise lgica e observao (terapeutas).

O conhecimento . Introspeco informal; mtodos objetivos.

Mtodo(s)

A PSICOLOGIA HUMANISTA a terceira fora No incio dos anos 60, desenvolveu-se na psicologia americana um movimento conhecido como psicologia humanista, cuja pretenso era substituir o comportamentalismo e a psicanlise. Os temas bsicos, reconhecidos e defendidos anteriormente, eram: (1) nfase da experincia consciente; (2) crena na integralidade da natureza e da conduta do ser humano; (3) concentrao no livrearbtrio, na espontaneidade e no poder de criao do indivduo, e (4) estudo de tudo o que tenha relevncia para a condio humana. Os psiclogos humanistas acreditavam que o comportamentalismo era uma abordagem estreita, artificial e relativamente estril da natureza humana, rejeitando a concepo de seres humanos funcionando de modo determinista em resposta a estmulos, considerando que os seres humanos no podem ser objetificados, quantificados e reduzidos a unidades de estmulo-resposta, pois os indivduos no so organismos vazios. Alm disso, o comportamentalismo no chegara a um acordo com caractersticas propriamente humanas, com as qualidades e capacidades conscientes que distinguem as pessoas dos animais de laboratrio. Todos os aspectos da experincia humana so levados em considerao pela psicologia humanista: o amor, o dio, o medo, a esperana, a felicidade, a afeio etc. A psicologia humanista teve nos seus dois maiores representantes, Abraham Maslow e Carl Rogers, exemplos de importantes estudos sobre a natureza e a conduta humana. A hierarquia das necessidades e a teoria da auto-realizao, de Maslow, ainda hoje fazem sucesso na rea administrativa, educacional e mdica, apesar de consideradas de baixa validade cientfica. Rogers criou a terapia centrada na pessoa, com base na convico de todo ser humano possui uma tendncia inata para atualizar suas capacidades e potenciais, e capacidade para alterar consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos. A psicologia humanista no constituiu uma escola de pensamento propriamente dita, tendo sido avaliada pelos prprios psiclogos humanistas como uma grande experincia. O humanismo, no entanto, reforou a idia de que o homem capaz de, consciente e livremente, moldar a prpria vida. O Movimento Cognitivo A fundao da psicologia cognitiva ocorreu lentamente, sem que se pudesse identificar um lder, embora dois estudiosos possam ser identificados como marcosPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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no processo de seu desenvolvimento: George Miller e Ulric Neisser. Os psiclogos cognitivos interessam-se principalmente pela forma como se d o processamento de informaes, raciocnio e resoluo de problemas na mente humana, ou seja, descobrir os programas que permitem ao indivduo compreender, assimilar experincias e regras e resolver problemas. A mente humana, para o cognitivismo, baseada no processamento de informaes. Os cognitivistas concentram-se no processo do conhecimento, com nfase nos processos mentais, sendo as respostas comportamentais usadas como fontes para a inferncia dos processos mentais que as acompanham. Interessam-se tambm pela forma como a mente estrutura ou organiza a experincia. Para eles, a mente d forma e coerncia experincia mental, e o objeto de estudo da psicologia cognitiva esse processo de organizao. Na concepo cognitiva, o indivduo organiza ativa e criativamente os estmulos recebidos do ambiente, e capaz de participar da aquisio e do uso do conhecimento, no respondendo passivamente a foras externas. Os psiclogos cognitivos tm estudado o efeito de drogas sobre o comportamento em termos de mudanas tanto nas respostas fisiolgicas como nas experincias conscientes relatadas aquilo que as pessoas fazem sob a influncia de drogas e aquilo que elas dizem que sentem. Sob o impacto do movimento cognitivo, voltouse a atribuir conscincia aos animais. Com base em pesquisas sobre cognio animal que inferem evidncias de conscincia a partir de observaes do comportamento que demonstram adaptabilidade mudana de condies ambientais. Esse trabalho se concentra na capacidade dos animais de pensar sobre objetos e eventos especficos, mesmo quando esses objetos e eventos no esto presentes, e de iniciar alguma ao. O movimento cognitivista, baseado no estudo dos fenmenos e processos mentais, tem crescido e se expandido consideravelmente nos ltimos anos.

VISES ATUAIS DA PSICOLOGIA MODERNA A maioria dos cientistas do comportamento identificam-se mais com um ou outro dos quatro pontos de vistas considerados mais importantes na atualidade o psicanaltico, o neobehaviorista, o cognitivo e o humanista. Alguns preferem uma abordagem ecltica, combinando-os entre si. O ponto de vista psicanaltico De acordo com Erich Fromm, a essncia do mtodo psicanalista a observao dos fatos, consistindo o mtodo da psicanlise em tirar inferncias (concluses) dos fatos observados, formular hipteses, compara-las com os fatos posteriores que forem encontrados e eventualmente fundir um corpo organizado de material com o fim de verificar a validade das hipteses. O mtodo utilizado principalmente para estudo da personalidade, o ajustamento, a anormalidade e o tratamento de pessoas psicologicamente perturbadas. O ponto de vista neobehaviorista Os behavioristas modernos investigam, alm dos estmulos, respostas observveis e a aprendizagem, fenmenos complexos que no podem ser observadosPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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diretamente, como o amor, a empatia, a tenso, a confiana e a personalidade. Sua principal caracterstica o uso de perguntas precisas e bem delineadas e a utilizao de mtodos objetivos em pesquisas meticulosas. O ponto de vista cognitivo A psicologia cognitiva combina aspectos do funcionalismo, da gestalt e do behaviorismo. Tm como base de estudo os processos mentais como o pensamento, a percepo, a memria, a ateno, a resoluo de problemas e a linguagem, visando a aquisio de conhecimentos precisos sobre como esses processos funcionam e como so aplicados na vida cotidiana. Consideram adequado o uso da introspeco informal para desenvolver intuies e os mtodos objetivos para confirmar as impresses colhidas. O ponto de vista humanista Os psiclogos humanistas querem fazer da psicologia o estudo daquilo que significa estar vivo como ser humano, considerando que o objetivo principal do psiclogo ajudar as pessoas a compreender e desenvolver o seu potencial, visando o enriquecimento da vida. Os objetos principais das investigaes psicolgicas devem ser os problemas humanos significativos (objetivos de vida, auto-realizao, criatividade etc), com foco na conscincia subjetiva dos indivduos, esforando-se por compreender o individual, o excepcional e o imprevisvel da experincia humana. Combinam mtodos objetivos, estudos de caso, tcnicas introspectivas informais e mesmo anlise de obras literrias. Compara o Viso Psicanaltica Personalidade normal e anormal; nfase nos aspectos inconscientes; tratamento do comportamento normal. Conhecimento, servios. Viso Neobehavioris ta Qualquer questo definida que verse sobre comportamento simples ou complexo. Conhecimentos, aplicaes. Viso Cognitiva O funcionamento das atividades mentais (percepo, soluo de problemas, memria etc). Conhecimento Viso Humanista A pessoa integral, a experincia humana subjetiva e problemas humanos significativos. Servios e qualidade de vida; conhecimentos( 2.) Intuio, mtodos objetivos, introspeco informal, estudos de caso, anlise literria etc.

Objeto

Finalidade s

Mtodos pesquisa

Introspeco informal (pacientes); anlise lgica e observao (terapeutas).

Mtodos objetivos

Mtodos objetivos, introspeco informal.

BASES FISIOLGICAS DO COMPORTAMENTO A HEREDITARIEDADE, O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

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A hereditariedade refere-se s caractersticas fsicas transmitidas pelos pais descendncia no momento da concepo. O meio abrange muitas influncias: o meio qumico pr-natal e ps-natal, as experincias sensoriais constantes e variveis e os eventos fsicos traumticos). Hereditariedade (programando as potencialidades) e meio (dentro e fora do tero) interagem continuamente, influenciando o desenvolvimento de forma mais ou menos significativa. Hereditariedade e comportamento Os psiclogos conhecidos como geneticistas do comportamento estudam o grau em que a hereditariedade influencia as diferenas de comportamento e o funcionamento mental de uma dada populao e os mecanismos biolgicos atravs dos quais os genes afetam a expresso do comportamento e do funcionamento mental. Uma especial ateno dada pelos pesquisadores ao temperamento (nvel tpico de atividade, sociabilidade e emotividade), mas os resultados tm mostrado que, embora parte das diferenas de comportamento sejam determinadas pela hereditariedade, a tendncia identificar tambm no maio fatores que exercero influncia conjunta. O processo de socializao A socializao define-se como o processo de orientar a criana para comportamentos, valores objetivos e motivos que a cultura considera apropriados. A qualidade das interaes sociais primrias da criana estrutura a personalidade do indivduo de algumas formas importantes. Dois tipos de estimulao social esto associados competncia futura: a sensibilidade s necessidades e ao ritmo especial da criana e a satisfao da curiosidade. Pesquisas indicam que a sensibilidade dos pais uma influncia significativa no desenvolvimento da competncia do indivduo. Presumivelmente, a reao dos pais ensina aos bebs que os mesmo tm impacto sobre o ambiente e so capazes de lidar com experincias novas (presena de estranhos, p. ex.). Essa confiana no adulto parece traduzir-se em auto-confiana. O CREBRO, O COMPORTAMENTO E A COGNIO O crtex cerebral, estrutura macia que contm cerca de trs quartos dos neurnios cerebrais, a principal estrutura utilizada no processamento de informaes. Os lbulos occipitais, na parte posterior, recebem e processam a informao visual. Os lbulos temporais, acima das orelhas, incluem regies que registram e sintetizam dados auditivos. Os lbulos parietais contm no centro regies relacionadas com o controle da palavra, alm de reas que registram e analisam mensagens da superfcie do corpo (externa e interna) sobre tato, presso, temperatura e movimento e posio muscular. Os lbulos frontais, na rea da testa, desempenham papel particularmente importante nas atividades mentais superiores, como a formao de planos, o processamento de lembranas e a interpretao da linguagem, alm de estarem relacionado com o envio de impulsos motores aos msculos. O tlamo uma grande coleo de corpos celulares situados no crebro anterior, onde so processadas as informaes sensoriais, alm de tomar parte ativa no controle do sono e da viglia. O sistema lmbico uma coleo de aglomerados de neurnios dentro do crebro anterior, incluindo a amgdala, o hipocampo, o septo e o giro cingulado, bem como pores do hipotlamo e do tlamo. Em combinao com o crtex, os circuitos do sistema lmbico esto implicados na expresso da motivao e da emoo. So conhecidos como responsveis por papis essenciais na fome, sede, sono, viglia, temperatura do corpo, sexo, agressividade, medo e docilidade.PSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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O hipotlamo parece ser a rea central do sistema lmbico, controlando vrias funes vitais, com papel predominante na regulao do meio interno. Em nvel fisiolgico, o hipotlamo aciona a diviso simptica do sistema nervoso autnomo e o sistema endcrino, de modo que os recursos de energia interna possam ser redistribudos e conservando os recursos energticos quando estes no so necessrios. Ao hipocampo so atribudas importantes funes na memria e na organizao de informaes sobre a localizao espacial, enquanto que a amgdala tem sido relacionada ao comportamento social. O cerebelo, situado no crebro posterior, atrs dos hemisfrios cerebrais, tambm recebe informaes de todo o corpo, de milhares de receptores sensoriais, mas, ao invs de entrar na conscincia e evocar sensaes, como no crtex, essas informaes so utilizadas inconscientemente para regular a postura, o equilbrio e o movimento. A formao reticular tem papel muito importante na ativao e no despertar do crtex, ou seja, os sinais que entram na formao reticular despertam o crebro previamente, aumentando a probabilidade da informao causar impacto. Cada um dos dois hemisfrios cerebrais tende a se associar predominantemente a um lado do corpo no controle de movimentos e sensaes, alm de terem papis distintos no processamento de informaes e no funcionamento intelectual, exceto nas reas de associaes, que recebem mensagens de ambos os lados do corpo. O corpo caloso , rede macia de cerca de 200 milhes de axnios, permite que as duas metades do crebro dividam os seus recursos.

PROCESSOS PSICOLGICOS BSICOS A PERCEPO A percepo, atividade cognitiva mais fundamental, da qual emergem todas as outras, supe numerosas atividades cognitivas, como conscincia, memria, pensamento e linguagem. A ateno precede a percepo, por isso ser considerada inicialmente. Ateno - abertura seletiva para uma pequena poro de fenmenos sensoriais. Estudos sugerem que a ateno se ativa em diversas ocasies e pode ser caracterizada de diversas maneiras: intensidade, capacidade, direo. Necessidades, interesses e valores tm sido citados como influncias importantes sobre a ateno. O processo perceptivo complexo depende tanto dos sistemas sensrios como do crebro. Os sistemas sensrios detectam a informao, convertem-na (ou fazem transduo) em impulsos nervosos, processam parte dela e mandam a maior parte para o crebro via fibras nervosas. A percepo depende, portanto, de quatro operaes: deteco, transduo (converso da energia de uma forma para outra), transmisso e processamento da informao. Nosso organismo equipado com sistemas especiais de captao de informaes, que denominamos sentidos ou sistemas sensoriais. Onze sentidos humanos foram identificados cientificamente, agrupados nos cinco sentido perceptivos: 1) visual (vista); 2) auditivo (audio); 3) somato-sensorial (tato, presso profunda, calor, dor mais combinaes como ccegas, comicho e maciez); 4) qumico (paladar, olfato); proprioceptivo (sentido vestibular, sentido cinestsico). O sentido cinestsico depende dos receptores dos msculos, tendes e articulaes, e informa o posicionamento relativo das partes do corpo durante o movimento; oPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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sentido vestibular (sentido de orientao ou equilbrio), informa a respeito do movimento e da orientao de sua cabea e corpo com relao terra quando se movimentam sozinhos ou quando impulsionados. Os rgos vestibulares esto situados nas partes sseas do crnio em ambos os ouvidos internos. Os sentidos detectam, realizam transduo e transmitem informaes sensoriais. Cada sentido tem um elemento de deteco denominado receptor, uma nica clula ou grupo de clulas especificamente responsvel por um determinado tipo de energia. Os receptores comportam-se como transdutores, convertem a energia que entra nos sinais eletroqumicos que o sistema nervoso utiliza para a comunicao. Muitas condies ambientais durante a infncia so essenciais ao desenvolvimento de uma capacidade madura de percepo. Nos primrdios da vida, experincias negativas ou ausncia de experincias necessrias podem destruir o desenvolvimento das aptides normais, como p. ex. os efeitos da luz, de experincias visuais padronizadas e do movimento ativo. A privao sensorial afeta as pessoas de modo diferentes, dependendo de fatores como a durao, as condies durante a privao e tambm as caractersticas pessoais dos participantes. A motivao pessoal, as emoes, os valores, os objetivos, os interesses, as expectativas e outros estados mentais influenciam o que as pessoas percebem. A tendncia do indivduo dar nfase aos aspectos dos dados de realidade que se acham em harmonia com suas crenas; as expectativas influenciam as aes que, por sua vez, afetam a conduta das pessoas percebidas. Assim tambm as vivncias culturais podem influenciar o modo de processar a informao visual. A CONSCINCIA O termo conscincia tem significado mltiplo. Utilizamos a palavra para nos referirmos ao total estado de uma pessoa e/ou ao seu estado normal de viglia. A ateno parece desempenhar importante papel no direcionamento do estado de conscincia. Durante as formas alteradas da conscincia, a ateno pode deslocarse automaticamente, colocando novos subsistemas no comando do comportamento. A conscincia comum em viglia est continuamente mudando, sendo influenciada pelas caractersticas pessoais persistentes e pelas circunstncias ambientais, bem como os ritmos biolgicos. As circunstncias ambientais tambm estruturam o contedo da conscincia. A MEMRIA A percepo e a conscincia muitas vezes dependem de comparaes entre o presente e o passado, e a aprendizagem exige a reteno de hbitos ou de novas informaes, e mesmo as atividades corriqueiras dependem da capacidade de recordar. De acordo com estudos psicolgicos, trs processos bsicos so necessrios para todos os sistemas de memria: codificao, armazenamento e recuperao. A codificao refere-se a todo o preparo de informao para a armazenagem, o que acarreta a representao do material sob uma forma com a qual o sistema de

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armazenagem tambm possa lidar. Uma vez codificada a experincia, ela ser armazenada e posteriormente recuperada. Herman Ebbinghaus publicou em 1885 a primeira investigao sistemtica sobre a memria humana, com base na teoria de que a mente armazena idias sobre as experincias sensoriais e que os acontecimentos subseqentes no tempo e no espao ficam ligados entre si. Assim, a memria contm milhares de impresses sensoriais interligadas. Os estudos modernos da memria baseiam principalmente em duas medidas: a recordao e o reconhecimento. Recordao a capacidade de lembrar-se da informao desejada quando intimados por material associado denominado sinal, sondagem, indicador ou instigao. Reconhecimento a capacidade de escolher uma resposta que foi vista, ouvida ou lida antes, comparando-se a informao dada com a que est armazenada na memria. Memria sensorial nossos sentidos esto sendo continuamente bombardeados por grande volume de informaes e, mesmo que no estejamos prestando ateno, a informao absorvida pelos sentido e entra em um depsito sensorial. Memria icnica refere-se informao retida sob a forma de imagem. Devido grande quantidade de estmulos recebidos, uma vasta proporo de informaes icnicas se apaga aps aprox. 250 milissegundos (processo de deteriorao). Se a pessoa presta ateno ao material e/ou interpreta seu significado, a informao pode ser temporariamente preservada, transferida para o depsito a curto prazo. Quando uma nova imagem apresentada antes que uma antiga tenha decado, a mais recente sobrescrita (mascaramento). Memria a curto prazo as pessoa podem recordar das palavras mais recentes ditas ou ouvidas por elas prprias, mesmo que tenham prestado apenas ligeira ateno, entretanto essas informaes so perdidas minutos mais tarde. A memria a curto prazo tem como funes o armazenamento temporrio e o armazenamento geral (selecionando material para manter momentaneamente em seu prprio depsito, transferindo experincias para a memria a longo prazo, para um registro mais permanente, e recuperando dados dos vrios sistemas de memria). Acredita-se que os eventos so guardados no depsito a curto prazo sob a forma em que so praticados ou repetidos (a repetio pode conservar a informao por mais tempo neste depsito, retardando a deteriorao). Quando uma nova informao torna difcil a recordao dos dados passados, diz-se que houve inibio retroativa. Quando o material passado interfere na reteno de novas informaes, diz-se que houve inibio proativa. Memria a longo prazo aparentemente o armazenamento na memria a longo prazo feito por codificao, sendo o material representado por seu significado, mais do que por seu som ou aparncia. Representamos provavelmente algumas experincias pelo resumo do significado e outras em formas paralelas detalhadas (imagem por imagem, som por som etc.). A recuperao da memria a longo prazo administrada pelo sistema a curto prazo. A recuperao de fatos da memria a longo prazo tambm requer uma estratgia de soluo de problema denominada memria de reconstruo, de reintegrao, de refabricao ou criativa. Sempre lembramos fragmentos e preenchemos as lacunas com conjecturas lgicas, surgindo com respostas precisas que muitas vezes so inexatas. Influenciadas por experincias passadas e expectativas, as reconstrues so frequentemente abreviadas, simplificadas, pr-datadas e coladas umas s outras de forma lgica,PSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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geralmente fabricadas de forma totalmente inconsciente. Em alguns casos, o esquecimento acontece porque o material deixa de ser representado na memria a longo prazo ou representado de modo inexato. A teoria da deteriorao a explicao mais racional para o esquecimento da memria a longo prazo: medida que o tempo vai passando, a lembrana vai se desintegrando cada vez mais. Alm disso, assim como nos depsitos sensrias e da memria a curto prazo, os materiais do sistema de memria a longo prazo podem interferir um no outros (inibio proativa e retroativa). As falhas de recuperao podem ser explicadas tambm por duas outras possibilidades provveis: o esquecimento dependente de sinal, referente a ausncia de sinais especficos no momento da codificao (ex. esquecer onde foi arquivado um documento por no t-lo identificado de forma inequvoca); e o esquecimento motivado, que se refere supresso consciente ou inconsciente de um pensamento ou evento perturbador. Quanto a este ltimo, os psiclogos discordam que este tipo de esquecimento realmente exista, porque as pessoas tendem a lembrar-se mais de eventos desagradveis do que agradveis, alm do que as lembranas que mobilizam aflio e que parecem esquecidas podem s vezes ser restauradas por mtodos como a livre associao e a hipnose. Estudos de Lee Brooks sugerem que os seres humanos tm sistemas mltiplos de memria a longo prazo que codificam, armazenam e recuperam diferentes tipos de dados sensoriais. Dados clnicos indicam que cada hemisfrio do crebro tem a aptido de aprender materiais especficos, corroborando a idia de eu os seres humanos tm certo nmero de aptides de memria fisicamente separadas. Quando usamos o termo aprendizagem, estamos falando sobre a codificao da memria a longo prazo e sua recuperao, o que implica a transferncia de dados do depsito a longo prazo para o de curto prazo. A ateno, a organizao, a participao ativa, o espaamento apropriado das sesses de aprendizagem e o emprego de reforo positivo podem melhorar a operao de codificao. Alm disso, colocar novas informaes na memria a longo prazo exige leitura, com busca de sentido e emprego de estratgias de processamento profundo (repetio elaborativa). O sucesso em tarefas complexas como a aprendizagem exige tambm a concentrao de esforos e ateno focalizada. Quando a pessoa tenta sobrecarregar a memria a longo prazo com fatos sem inicialmente ter organizado as informaes, tem muita dificuldade em lembrar-se mais tarde do material. No apenas importante procurar a organizao da matria nova, mas tambm integras as novas informaes ao conhecimento j existente: quanto mais um fato estiver associado a outros na mente, melhor nossa memria o retm. A mnemnica (ou processos mnemnicos) uma estratgia de organizao para itens de difcil associao, capacitando a integrao de itens sem relao mtua em agrupamentos mais significativos. O processamento ativo importante para a reteno da maior parte do material verbal, consistindo em volumes relativamente pequenos de informao, seguidos de teste de compreenso antes de novos volumes. Os efeitos na aprendizagem da prtica massificada (aprender num nico perodo de tempo com pouco ou nenhum descanso) e da prtica distribuda (aprendizagem espaada durante vrios perodos, com pausas para descanso) foram testados por estudiosos, concluindo-se que ambas tm vantagens: a massificao til para ser feita s vsperas de um exame (repassar o material j estudado), enquanto que a distribuio eficiente para trabalhar o material com maior organizao e possibilita a repetio. Pesquisas indicam que a recuperao de informaes mais fcil nas seguintes condies:PSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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a) quando a informao foi organizada durante a codificao; b) quando as condies internas durante a codificao e a recuperao so semelhantes (aprendizagem dependente do estado); c) quando as condies externas (ambiente) durante a codificao so semelhantes; d) quando a pessoa praticou a recuperao ( a prtica na recuperao de dada informao torna a busca subseqente do mesmo material muito mais fcil). e) quando a ansiedade baixa. PENSAMENTO E LINGUAGEM A linguagem depende do pensamento e, at certo ponto, o pensamento depende da linguagem. Para dominar uma linguagem, uma pessoa tem que representar mentalmente alguma coisa; as palavras tm que desfilar em conjunto de modo ordenado. O pensamento, por sua vez, influenciado pela linguagem, mas pode ocorrer sem ela, havendo situaes em que as palavras podem at restringir ou limitar o pensamento. O que o pensamento? Esta palavra utilizada para atividades mentais variadas, tais como raciocinar, resolver problemas e formar conceitos. O pensamento pode ser caracterizado por suas metas ou elementos. Durante o tempo em que estamos acordados, as idias se misturam com lembranas, imagens, fantasias, percepes e associaes. A atividade mental errante sem meta especfica chamada de pensamento no dirigido, corrente de conscincia ou conscincia comum de viglia. O pensamento dirigido visa a uma determinada meta, podendo ser avaliado por padres externos: raciocnio, soluo de problemas e aprendizagem so exemplos de pensamento dirigido. Jean Piaget descobriu em suas pesquisas que as crianas pensavam de forma diferente dos adultos. Assumindo a perspectiva construcionista, afirmou que as pessoas precisam usar a imaginao para dar sentido s suas experincias, ou seja, para entender o pensamento, deve-se descobrir o que as pessoas tiram de suas experincias e o que acrescentam s suas construes. Ele acreditava que medida que as crianas ficam mais velhas, suas capacidades para interpretar ou construir a realidade progridem em estgios at que se paream com as dos adultos. Para ele, um processo de adaptao ocorre naturalmente quando os organismos interagem com seus ambientes: aprendem a enfrentar os desafios e sua capacidade mental se desenvolve automaticamente. A adaptao envolve dois subprocessos, a assimilao (recebimento e categorizao de termos que j conhecem) e a acomodao (quando as situaes no podem ser categorizadas em termos conhecidos, so criadas novas estratgias, modificadas ou combinadas estratgias antigas para lidar com o desafio). Alm da capacidade de adaptao, existe uma tendncia de combinar dois ou mais processos fsicos e/ou psicolgicos em um sistema que funciona perfeitamente, chamada organizao. O estilo geral do indivduo de interagir com o ambiente, chamado esquema, se modifica continuamente por meio da assimilao e da acomodao, sempre evoluindo para padres mais complexos. Em pontos especficos do desenvolvimento da criana, surgem esquemas caractersticos (estgios). 1. Estgio sensrio-motor (at aprox. dois anos) desenvolvimento de capacidades cognitivas fundamentais; noo de permanncia; imitao diferenciada etc pensamento na maior parte confinado ao.PSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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2. Estgio pr-operacional (aprox. dois a sete anos) tornam-se capazes depensar a respeito do ambiente pela manipulao de smbolos (inclusive palavras) que representam os ambientes: uso da linguagem, formao de conceitos simples, representao da realidade, incio do aprendizado da classificao (uma dimenso de cada vez). Pensamento egocntrico (no conseguem se colocar na posio dos outros). 3. Estgio de operaes concretas (aprox. 7 a 11 anos) desenvolvimento da capacidade de usar a lgica (fazer as coisas de cabea, p. ex.). Expanso da capacidade para distinguir a aparncia da realidade e caractersticas temporrias de permanentes, mas ainda no so capazes de lidar racionalmente com idias abstratas. 4. Estgio de operaes formais (aprox. 11 a 15 anos) desenvolvimento da capacidade de compreenso lgica abstrata (pensar a respeito do pensamento). Conseguem checar mentalmente solues alternativas para problemas e examinar a coerncia lgica de suas crenas, bem como compreender metforas e formular teorias. MOTIVAO Motivo ou motivao, refere-se a um estado interno que resulta de uma necessidade e que ativa ou desperta comportamento usualmente dirigido ao cumprimento da necessidade ativante. Geralmente os motivos so estudados nas seguintes categorias: Impulsos bsicos visam a satisfao de necessidades relativas sobrevivncia (fome, sede, sexo, homeostase etc). Motivos sociais satisfao de necessidade de sentir-se amado, aceito, aprovado e estimado. Motivos para estimulao sensorial satisfao de necessidades de experincias sensoriais (modificaes ambientais, atividades estimulantes, novos experincias etc). Motivos de crescimento satisfao de necessidade de desenvolver competncias e realizar o potencial (intimamente ligados aos motivos de estimulao, explorao e manipulao sensorial). Idias como motivos necessidade de valores, crenas e metas como guias do comportamento. A necessidade de coerncia intelectual ou cognitiva frequentemente motiva comportamento, no sentido de reduzir a dissonncia cognitiva (ansiedade produzida pela coliso entre conhecimentos, idias e percepes). Nesses casos, usualmente os indivduos procuram nova informao, mudam seu comportamento ou alteram suas atitudes. Ocorre dissonncia, p.ex., quando as condies pessoais do indivduo no so coerentes com os padres sociais; quando uma pessoa espera uma coisa e ocorre outra; ou quando os indivduos se empenham em comportamento que no est de acordo com suas atitudes gerais. O psiclogo humanista Abraham Maslow propes que os seres humanos nascem com cinco sistemas de necessidades dispostos hierarquicamente: necessidades fisiolgicas, de segurana, de amor, de estima e de auto-realizao. Quando um conjunto de necessidades satisfeito, um novo conjunto o substitui. Na base da pirmide de Maslow esto as necessidades fisiolgicas (sobrevivncia), que so as mais fortes e mais compulsrias, que precisam ser minimamente satisfeitas antes que as outras necessidades possam surgir. Se uma dessas necessidades no for satisfeita, ela pode dominar todas as outras.

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Uma vez satisfeitas as necessidades fisiolgicas, tornam-se aparentes as necessidades da pessoa sentir-se protegida, livre de perigo. Na seqncia aparecem as necessidades de afeio, afiliao e pertencimento ao grupo, seguidas das necessidades de valorizao e reconhecimento na comunidade, no trabalho e no lar. Quando todas as outras necessidades esto garantidas, as pessoas procuram auto-realizao, esforando-se para realizar suas capacidades potenciais e cumprir seus ideais. A EMOO As emoes (ou afetos) so estados internos caracterizados por cognies, sensaes, reaes fisiolgicas e comportamento especfico expressivo, que tendem a aparecer subitamente e ser de difcil controle. O fisilogo americano Walter Cannon sugeriu que as respostas fisiolgicas associadas s emoes proporcionam aos animais energia para o atendimento a emergncias. Durante os afetos, as reaes fisiolgicas so geradas pelos sistemas nervosos central e autnomo e pelas glndulas endcrinas. 1. Sistema Nervoso Central (SNC) os circuitos dentro do SNC despertam, regulam e integram as respostas feitas durante uma emoo. O crtex cerebral se acha envolvido na identificao, avaliao e tomada de decises a respeito de dados sensoriais e comportamento subseqente. Os pensamentos, expectativas e percepes que surgem aqui desempenham papis importantes em manter e dissolver afetos e o comportamento que os acompanha. A formao reticular , uma rede de clulas nervosas no tronco cerebral, alerta o crtex para importante informao sensorial. Quando os dados a respeito destes eventos potencialmente despertadores de emoo filtram atravs deste sistema, so isolados como importantes. A formao reticular desperta o crtex, que d matria sua plena ateno, pois para respondermos apropriadamente a uma emergncia, temos de estar alertas. O sistema lmbico, um grupo de circuitos inter-relacionados profundamente dentro do ncleo do crebro, desempenha um papel regulatrio nas emoes e nos motivos. Uma estrutura lmbica, o hipotlamo, responsvel pela ativao do sistema nervoso simptico durante emergncias. O hipotlamo tambm est envolvido no medo e na raiva, bem como na fome, sede e sexo. Outros centros lmbicos, com a amgdala e o septo, desempenham papis na raiva, prazer, dor e medo. 2. Sistema Nervoso Autnomo (SNE) durante uma emoo intensa, muitas vezes as pessoas esto consciente de um tumulto interno (corao acelerado, pulso mais rpido, msculos tensos, tremores etc). Estas respostas so chamadas reaes autnomas porque so iniciadas pelo SNA, sistema que consiste em nervos que vo da medula espinhal e do crebro para os msculos lisos dos rgos internos, glndulas, corao e vasos sanguneos. Os dois ramos do SNA, sistemas simptico e parassimptico, mantm um ambiente interno timo. O parassimptico tende a ser mais ativo quando as pessoas esto calmas, e o simptico assume quando surgem emergncias 3. Glndulas Supra-Renais quando ocorrem experincias despertadoras de emoes, as glndulas supra-renais liberam os hormnio adrenalina e noradrenalina. Estes mensageiros qumicos estimulam muitos dos mesmos centros que o sistema nervoso simptico j ativou (incluindo os circulatrios e respiratrios). Enquanto o corpo permanecer alerta e ativo at que a crise tenha passado ou que haja exausto estes hormnios so continuamente secretados.

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O padro de resposta fisiolgica de uma pessoa a determinadas emoes influenciado por idade, sexo, drogas, dieta, personalidade etc. Durante uma emoo, o comportamento, assim como os pensamentos, pode modificar as sensaes. Aparentemente, as componentes variadas de uma emoo podem alterar-se mutuamente. As emoes no apenas esto misturadas umas s outras; elas tambm esto ligadas aos motivos. As emoes, por sua vez, geram motivos e comportamentos. INTELIGNCIA Inteligncia pode ser definida como uma capacidade para atividade mental que no pode ser medida diretamente, pois consiste em muitas capacidades cognitivas distintas, inclusive as envolvidas em percepo, memria, pensamento e linguagem, cujos processos variam em eficincia. A inteligncia se aplica em ajustamento em todas as esferas da vida. Chama-se inteligncia medida o desempenho em uma situao especfica de teste, baseado em realizaes, ou seja, hbitos e habilidades adquiridos. Francis Galton foi a primeira pessoa a pensar seriamente em testar a inteligncia, mas foi o psiclogo francs Alfred Binet a criar a primeira medida prtica de inteligncia. O teste de Binet (ou Escala de Binet) foi criado para avaliar a equivalncia entre o nvel mental (em termos de habilidades) e a faixa etria da criana. As diferenas entre o nvel mental e a idade cronolgica serviam como o ndice de inteligncia. Hoje existem centenas de testes de inteligncia. A Escala de Inteligncia Adulta Wechsler (EIAW), montada pelo psiclogo David Wechsler, por exemplo, um teste atualmente usado para avaliar as capacidades mentais adultas. O QI (Quociente de Inteligncia) uma categoria que diz como um indivduo se situa em relao a outros da mesma idade. Na verdade uma pontuao numrica que mostra o desempenho de uma pessoa em determinado teste, em comparao com outras na mesma faixa etria. Os construtores de testes procuram produzir testes vlidos que, submetidos aplicao prtica, provem que medem o que dizem medir. Neste aspecto, os testes de inteligncia tradicionais, apoiados por grande quantidade de estudos e constataes prticas, so considerados vlidos para determinadas situaes, embora no conclusivos. Tanto a hereditariedade quanto o ambiente influenciam as diferenas em inteligncia medida, constatando-se as diferenas em ambientes empobrecidos e estimuladores da inteligncia para as crianas, e tambm que, quanto maior a similaridade gentica entre duas pessoas, tanto mais parecidos os seus escores de QI tendem a ser.

TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento humano tem sido abordado a partir de quatro aspectos bsicos: a) fsico-motor refere-se ao crescimento orgnico, maturao neurofisiolgica; b) aspecto intelectual a capacidade de pensamento, raciocnio; c) afetivo-emocional o modo particular de o indivduo integrar as suas experincias; d) social a maneira como o indivduo reage diante das situaes que envolvem outras pessoas.PSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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O processo de desenvolvimento biolgico do ser humano denominado maturao. Ocorre em etapas, dependendo da hereditariedade e condies ambientais adequadas. Condies pr-natais adversas, como falta de oxignio no tero ou uso de drogas, dificultam ou impedem a maturao. A falta de espao fsico e de alimentao adequada tambm interferem. A maturao biolgica depende da hereditariedade, mas pode ser dificultada por fatores ambientais. Do ponto de vista psicolgico, o meio definido como a soma de estmulos que o indivduo recebe desde a concepo at a morte. O meio psicolgico do ser humano integrado pelos meios pr-natal (condies ambientais anteriores ao nascimento), intercelular (clulas somticas circundantes e substncias que cada clula contm) e social (grupo/sociedade onde a criana nasce e cresce). As teorias que estudam o desenvolvimento humano consideram os quatro aspectos mencionados, mas costumam enfatizar aspectos diferentes. Algumas das principais teorias so: Teoria do Desenvolvimento de PIAGET Piaget divide os perodos do desenvolvimento humano de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento: Perodo Sensrio-Motor (0 a 2 anos) no incio a vida mental reduzida ao exerccio dos movimentos reflexos. Por volta dos 2 anos, a criana evolui do estado passivo para maior participao e integrao no ambiente. Perodo Pr-Operatrio (2 a 7 anos) aparecimento da linguagem. Passa a procurar a razo de tudo (fase dos porqus). Primazia do prprio ponto de vista. Surgimento ao uma escala prpria de valores, pela qual passa a avaliar suas prprias aes. Perodo das Operaes Concretas (7 a 12 anos) capacidade de estabelecer relaes, cooperar com os outros, trabalhar em grupo. Autonomia crescente em relao ao adulto e sentimento de pertencimento ao grupo (do mesmo sexo) mais forte. Perodo das Operaes Formais (11 ou 12 anos em diante) passagem pensamento concreto para o abstrato (no plano das idias). Desenvolvimento conceitos, crescente capacidade de abstrao, generalizao e formulao hipteses. Comea a estabelecer sua moral individual, referenciada moral grupo. do de de do

De acordo com Piaget, a personalidade comea a se formar no final da infncia, entre 8 e 12 anos, com a organizao autnoma das regras, dos valores e afirmao da vontade. O Desenvolvimento Infantil segundo VIGOTSKI Para Vigotski, o desenvolvimento infantil visto a partir de trs aspectos:

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1. Instrumental no apenas respondemos aos estmulos ambientais, mas os alteramos e os usamos suas como um instrumento de nosso comportamento. 2. Cultural - envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criana enfrenta, e os tipos de instrumentos que ela dispe para dominar aquelas tarefas, sendo a linguagem um dos principais. 3. Histrico - funde-se com o cultural, pois os instrumentos usados para dominar o ambiente foram criados e modificados ao longo da histria social da civilizao. As crianas, desde o nascimento, esto em constante interao com os adultos, e atravs dessa mediao que os processos psicolgicos mais complexos tomam forma: primeiramente so interpsquicos (partilhados), depois, medida que a criana cresce, tornam-se intrapsquicos. O desenvolvimento est alicerado sobre o plano das interaes. Por meio da fala a criana comea a fazer distines para si mesma e vai adquirindo a funo de auto-direo.. As relaes sociais so consideradas como constitutivas das funes psicolgicas do homem, o que caracteriza o carter interacionista da viso de Vigotski, que deu nfase ao processo de internalizao como mecanismo que intervm no desenvolvimento das funes psicolgicas complexas, fundado nas aes, nas interaes sociais e na linguagem. Vigotski considera que no plano intersubjetivo, na troca entre as pessoas, que tm origem as funes mentais superiores. Teoria do Desenvolvimento de FREUD Freud considera o desenvolvimento sexual como o ncleo em torno do qual toda a personalidade moldada. Segundo ele a energia sexual, ou libido, o impulso para viver e para reproduzir e est envolvida em todos os aspectos do desenvolvimento. Ele identificou conflitos de ordem sexual nos primeiros anos de vida do indivduo. A personalidade, assim, moldada pelas experincias iniciais, quando as crianas passam por uma seqncia de fases psicossexuais. Se as crianas tm concesses em excesso ou so frustradas em uma determinada fase, o desenvolvimento interrompido. A estrutura da personalidade, para Freud, constituda em trs instncias: ID, EGO e SUPEREGO. O Id a instncia primitiva, de onde partem os impulsos, desejos e instintos primrios. O Ego emerge nas crianas em desenvolvimento a fim de tratar de suas transaes dirias com o ambiente. controlado, realstico e lgico, atuando segundo o princpio da realidade. O Superego formado do modo como as crianas se identificam com os pais e internalizam suas restries, valores e costumes, sendo essencialmente uma conscincia moral. Na tentativa de enfrentar o Id, o Superego e a realidade, o Ego desenvolve mecanismos de defesa, modalidades de comportamento que aliviam a tenso, Esses mecanismos de defesa so processos inconscientes pelos quais so excludos da conscincia os contedos indesejveis.

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Os principais Mecanismos de Defesa psicolgicos descritos so2 represso, negao, racionalizao, formao reativa, isolamento, projeo, regresso e sublimao. Estes mecanismos podem ser encontrados em indivduos saudveis, mas a sua presena excessiva indicao de possveis sintomas neurticos. Represso - A Represso consiste em afastar uma determinada coisa do consciente, mantendo-a distncia (no inconsciente). A represso afasta da conscincia um evento, idia ou percepo potencialmente provocadores de ansiedade, entretanto, o material reprimido continua fazendo parte da psique, apesar de inconsciente, e continua causando problemas. Negao - Negao a tentativa de no aceitar na conscincia algum fato que perturba o Ego. Os adultos tm a tendncia de fantasiar que certos acontecimentos no so, de fato, do jeito que so, ou que na verdade nunca aconteceram. O indivduo recorda-se de um acontecimento de forma vvida, depois pode lembrar-se do incidente de maneira diferente e dar-se conta de que a primeira verso era uma construo defensiva. Racionalizao - Racionalizao o processo de achar motivos lgicos e racionais aceitveis para pensamentos e aes inaceitveis. um modo de disfarar verdadeiros motivos e tornar o inaceitvel mais aceitvel. Usa-se a Racionalizao para justificar comportamentos quando as razes para esses atos no so recomendveis. A afirmao cotidiana de que "eu s estou fazendo isto para seu prprio bem" pode ser a racionalizao do sentimento ou pensamento. Formao Reativa - Esse mecanismo substitui comportamentos e sentimentos que so opostos ao desejo real. Trata-se de uma inverso clara e, em geral, inconsciente do verdadeiro desejo. No s a idia original reprimida, mas qualquer vergonha ou auto-reprovao que poderiam surgir ao admitir tais pensamentos em si prprios tambm so excludas da conscincia. Certas posies puritanas e moralistas de algumas pessoas podem ser indicativas desse processo psicolgico. Projeo - um mecanismo pelo qual os aspectos da personalidade de um indivduo so deslocados de dentro deste para o meio externo. A pessoa pode, ento, lidar com sentimentos reais, mas sem admitir ou estar consciente de que a idia ou comportamento temido dela mesma. Sempre que caracterizamos algo de fora de ns como sendo mau, perigoso ou imoral, sem reconhecermos que essas caractersticas podem tambm ser verdadeiras para ns, provvel que estejamos projetando. As pessoas que negam ter um determinado trao de personalidade so sempre mais crticas em relao a este trao quando o vem nos outros. Regresso - Regresso um retorno a um nvel de desenvolvimento anterior ou a um modo de expresso mais simples ou mais infantil. um modo de aliviar a ansiedade escapando do pensamento realstico para comportamentos que reduzem a ansiedade. A regresso um modo de defesa bastante primitivo e, embora reduza a tenso, freqentemente deixa sem soluo a fonte de ansiedade original. Sublimao - A energia associada a impulsos e instintos socialmente e pessoalmente constrangedores , na impossibilidade de realizao destes, canalizada para atividades socialmente meritosas e reconhecidas. Deslocamento - o mecanismo psicolgico de defesa onde a pessoa substitui a finalidade inicial de uma pulso por outra diferente e socialmente mais aceita. Durante uma discusso, por exemplo, a pessoa tem um forte impulso em socar o outro e acaba deslocando tal impulso para um copo, o qual atira ao cho. Os Oito Estgios (ou Idades) do Homem, segundo Erik ERIKSON2

Baseado em FADIMAN, J. e FRAGER, R., Teorias da Personalidade, 1980.Profa. Graa Medeiros

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Para Erikson o que chamamos de "personalidade" resulta da interao de 3 grandes sistemas: o biolgico, o social e o individual, interdependentes e inseparveis. O ser humano psicologicamente saudvel aquele que desenvolveu um "firme sentido de identidade", significando o reconhecimento de que ele uma pessoa nica, com passado, presente e futuro particulares. A identidade, para Erikson, algo que est sempre mudando e se desenvolvendo. um processo de diferenciao crescente e cada vez mais abrangente medida que o indivduo se torna cada vez mais consciente das interaes com outros indivduos. Cada estgio da vida apresenta ao indivduo um desafio caracterstico (conflitos nucleares), desde o nascimento at a morte. Cada conflito ou crise deixa sua marca no indivduo e na sociedade, sublinhando a continuidade das experincias humanas. 1. Estgio: Confiana Bsica X Desconfiana Bsica Nesta fase o beb depende dos outros para a satisfao de suas necessidades, e sua "confiana" depende da regularidade e consistncia da resposta aos seus apelos. Neste perodo a criana aprende a "contar" ou no com as outras pessoas. A confiana do beb um precursor da f na vida adulta. 2. Estgio: Autonomia x Vergonha e Dvida - Nesta fase (aprox. 18 meses a 1 ano) a criana j experimenta seu desejo de autonomia, mas duvida quanto sua prpria capacidade e quanto firmeza de seus pais. A vontade de fazer as coisas evidenciada na criana, demandando dos pais a introduo de um respeito saudvel, no opressivo, s regras e regulamentos. 3. Estgio: Iniciativa X Culpa (entre 2 e 5 anos) - aumenta a conscincia das diferenas entre a sua prpria autonomia e a dos outros. O sentimento de culpa origina-se agora da idia de ter feito alguma coisa errada, em funo de sua impulsividade. Sem culpa excessiva nem iniciativa descontrolada, esta fase pode resultar num sentimento de equilbrio entre o permissvel e as possibilidades. 4. Estgio: Produtividade X Inferioridade - (aprox. 6 a 12 a) - a criana comea a adquirir as habilidades para o trabalho na sociedade, o que requer certo grau de disciplina. O sentimento de produtividade competir com um sentimento de inferioridade, em funo de comparao de desempenho no grupo e da maneira como a criana tratada. Este estgio est relacionado auto-estima e competncia futuras. 5. Estgio: Identidade X Confuso de Papis - adolescncia, comeo da formulao de uma identidade (identificao de caractersticas comuns em relao a outras pessoas e particulares). O adolescente pressionado familiar e socialmente, inclusive sobre suas possibilidades profissionais, podendo sentir-se desorientado e confuso. 6. Estgio: Intimidade X Isolamento - no romance adolescente, em razo da insegurana, h uma projeo recproca de auto-imagens, na tentativa de definio de uma identidade pessoal. A identidade s vezes procurada por meios destrutivos no relacionamento grupal e no isolamento. A capacidade para o amor e o trabalho na vida adulta requer o equilbrio entre essas duas tendncias (intimidade e isolamento). 7. Estgio: Generatividade X Estagnao - Estgio maduro da vida, necessidade de dar continuidade espcie atravs da procriao. Este impulso para a paternidade pode ser dirigido tambm para outros interesses. Aqueles que fazem por fazer, podem experimentar mais tarde um sentimento de estagnao.PSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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8. Estgio: Integridade X Desesperana - fase da velhice, na qual costuma-se fazer uma avaliao do que foi feito e o que se conseguiu realizar no decorrer da vida. Pode ocorrer a desesperana, em razo das limitaes fsicas e restries sociais predominar o sentimento de integridade, de dever cumprido, sem lamentaes e sem inquietaes quanto ao futuro). ROGERS e a Teoria da Pessoa em Pleno Desenvolvimento Em cada um de ns h um impulso inerente em direo a sermos competentes e capazes. Assim como uma semente contm dentro de si impulso para se tomar uma rvore, tambm uma pessoa impelida a se tomar uma pessoa total, completa e auto-atualizada. As foras positivas em direo sade e ao crescimento so naturais e inerentes ao organismo e os indivduos tm a capacidade de experienciar e de se tomarem conscientes de seus desajustamentos. Os obstculos tambm so aspectos normais do desenvolvimento. Aceitar-se a si mesmo um pr-requisito para uma aceitao mais fcil e genuna dos outros. Em compensao, ser aceito por outro conduz a uma vontade cada vez maior de aceitar a si prprio. Este ciclo de auto-correo e auto-incentivo, a forma principal pela qual se minimizam obstculos ao crescimento psicolgico. O amor to importante para a criana que ela acaba por ser guiada, no pelo carter agradvel ou desagradvel de suas experincias e comportamentos, mas pela promessa de afeio que elas encerram. A criana comea a agir da forma que lhe garante amor ou aprovao, sejam os comportamentos saudveis ou no para ela. As crianas podem agir contra seu prprio interesse, tentando agradar os outros. Comportamentos ou atitudes que negam algum aspecto do Self (Eu) so chamados de condies de valor. Essas condies de valor so os obstculos bsicos exatido da percepo e tomada de conscincia realista. Na medida em que essas atitudes e aes so idealizadas, elas constituem reas de incongruncia pessoal. De forma extrema, as condies de valor so caracterizadas pela crena de que "preciso ser respeitado ou amado por todos aqueles com quem tenho contato". O crescimento impedido na medida em que a pessoa nega impulsos diferentes do auto-conceito artificialmente "bom". Para sustentar a falsa auto-imagem a pessoa continua a distorcer experincias: quanto maior a distoro maior a probabilidade de erros e da criao de novos problemas. A terapia centrada no cliente de Rogers esfora-se por estabelecer uma atmosfera na qual condies de valor prejudiciais possam ser postas de lado, permitindo, portanto, que as foras saudveis de uma pessoa retomem sua dominncia original. Uma pessoa recupera a sade reivindicando suas partes reprimidas ou negadas. ........................................................................... PERSONALIDADE O vocbulo personalidade se origina de persona ou personare, que na lngua latina siginficava soar atravs, expresso que se referia mscara que os atoresPSICOLOGIA GERAL/ UEA Profa. Graa Medeiros

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do antigo teatro grego utilizavam para caracterizar as personagens que representavam. Assim, no senso comum, permanece a idia de que personalidade aquilo que refletido, que mostrado por meio dos papis sociais que as pessoas desempenham. O estudo sistemtico da personalidade e do carter (traos de personalidade com sentido tico ou social) comeou com Hipcrates, o primeiro a elaborar uma teoria de tipos. Considerando o temperamento o aspecto mais importante da personalidade, ele agrupou os homens em quatro tipos: colricos, sanguneos, fleumticos e melanclicos. Essa tipologia foi adotada por Pavlov, com a diferena de atribuir ao constituinte nervoso (teoria fisiolgica) a base para a classificao dos tipos. Atualmente as tipologias baseadas em morfologia e temperamento tm valor bem limitado. Uma definio hoje amplamente aceita de personalidade como um conjunto de traos e caractersticas singulares, tpicas de uma pessoa, que a distinguem das demais. Esse conjunto abrange, necessariamente, a constituio fsica, alicerada nas disposies hereditrias, os modos de interao do indivduo com o mundo; seus hbitos, valores e capacidades; suas aspiraes; seus modos experimentar afetos e de se comportar em sociedade e maneira peculiar de lidar com o mundo, incluindo as defesas para se proteger das presses e ajustamento ao contexto social, constituindo um estilo de vida prprio. Assim sendo, a personalidade diz respeito totalidade daquilo que somos, no apenas hoje, mas do que fomes e do que aspiramos ser no futuro. Implica, tambm, que esse modo de ser s pode ser entendido dentro de um contexto scio-histrico, geogrfico e cultural. OS DETERMINANTES DA PERSONALIDADE Em que se alicera essa totalidade dinmica que a personalidade, e como se processa a sua formao? Uma das principais controvrsias da psicologia diz respeito aos considerados dois grandes fatores na formao da personalidade: hereditariedade x meio. Hereditariedade: estudos feitos com gmeos univitelinos em casos de psicoses (Breuler) e prticas criminosas (Lange). Os estudos de Galton sobre genialidade com militares e artistas, a partir de rvores genealgicas, reforaram a concepo de que a hereditariedade tem peso decisivo na formao da personalidade. Meio ambiente: casos como o de Vtor, o selvagem de Aveyron (sculo XVIII) e de Amala e Kamala, de 2 e 7 anos, chamadas meninas-lobo, que viviam numa caverna em companhia de lobos, quanto aprendizagem de condutas tipicamente humanas, serviram aos cientistas partidrios da idia de preponderncia decisiva das influncias ambientais na configurao da personalidade. Hoje j no dvidas de que tanto a hereditariedade quanto meio so decisivos para a formao da personalidade, e que a sua constituio depender das interaes entre um e outro fator. Por exemplo, nem o meio mais favorvel poder tornar um gnio uma pessoa cuja constituio gentica tenha lhe reservado um dficit intelectual, assim como o processo de maturao, prprio da espcie humana, pode sofrer alteraes importantes, favorveis ou desfavorveis ao indivduo, em funo da influncia do meio.

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A maneira como se processam as influncias ambientais tm sido alvos de vrios estudos psicolgicos mais recentes, principalmente no incio da vida da criana. Freud considera as primeiras experincias infantis, principalmente nos cinco primeiros anos, decisivas para as interaes pessoais do indivduo e para o tipo de personalidade a ser formada, bem como para a formao de neuroses, no caso de relaes afetivas negativas. Erikson, em seus estudos sobre a formao da identidade, afirma que os primeiros perodos de desenvolvimento do indivduo so marcados pelo tipo e qualidade das interaes entre a criana e o meio, da dependendo a maior ou menor intensidade de sentimentos de segurana, confiana, autonomia, iniciativa etc. Para ele, do nascimento morte, o que acontecer na vida de uma pessoa pode provocar modificaes em sua personalidade. Alport endossa essa afirmao, apontando a dinamicidade como um dos princpios fundamentais para a constituo da personalidade. TEORIA IMPLCITA DA PERSONALIDADE A maioria das pessoas tem uma teoria implcita a respeito da personalidade humana, isto , um conjunto de crenas e inferncias acerca da personalidade dos outros. Em geral, a partir de um trao atribudo, faz-se inferncia de muitos outros, sem qualquer informao a respeito. Por exemplo, ao inferir que uma pessoa inteligente, possivelmente outros atributos como competente, criativo, eficiente e outros traos no necessariamente relacionados sero atribudos ao indivduo. Essa tendncia de alastrar a positividade ou negatividade chamada pelos estudiosos de efeito de halo. Supe-se que as categorias que compem a teoria implcita da personalidade se formam em funo das caractersticas que cada um julga importantes, estando implicada neste caso a questo da complexidade cognitiva. Ou seja, quanto mais maduro e complexo o indivduo, ou mais sofisticado cognitivamente, possivelmente mais apto estar para apreciar as muitas dimenses e paradoxos da personalidade individual. A teoria implcita da personalidade pode ser constatada pela existncia de idias largamente compartilhadas a respeito de grupos tnicos (negros, ndios, japoneses etc), grupos profissionais (advogados, mdicos etc) ou outros tipos de grupos. Trata-se de uma supergeneralizao de uma caracterstica para toda uma categoria ou grupo de pessoas, provavelmente vinculada aos sistemas de crenas e valores dominantes, denominada esteretipo. Em se tratando de uma generalizao, o esteretipo se constitui em uma grande fonte de erros na percepo social, utilizado, no entanto, por muitas pessoas para perceber as outras. Por personalidade, ento, enfatiza Davidoff3, podem ser entendidos os padres relativamente constantes e duradouros de perceber, pensar, sentir e comportar-se de cada indivduo. Personalidade um constructo sumrio que inclui pensamentos, motivos, emoes, interesses, atitudes, capacidades e fenmenos semelhantes. Freud acreditava que as pessoas continuamente projetam percepes, emoes e pensamentos no mundo externo sem estarem conscientes disso. Os testes projetivos foram criados para revelar este mundo inconsciente de sentimentos e impulsos. Tais como os testes, as teorias da personalidade tambm surgiram de observaes e experimentos controlados, frequentemente apoiadas em estudos de3

Linda Davidoff, em Introduo Psicologia.Profa. Graa Medeiros

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um grande nmero de pessoas. As teorias da personalidade so inclinadas a associar-se s perspectivas psicanalticas, cognitivas, behavioristas e humanistas. TEORIAS PSICODINMICAS DA PERSONALIDADE A Teoria Psicanaltica de Sigmund Freud Enquanto tratava de seus pacientes neurticos, Freud observava tudo cuidadosamente e buscava insights que lhe permitissem entender a personalidade humana, elaborando gradualmente uma teoria que chamou de psicanlise, na qual ele explicava a sua percepo de normalidade e anormalidade psicolgica, assim como o tratamento do indivduo anormal. Para ele, as pessoas esto conscientes apenas de um pequeno nmero de pensamentos, memrias, sentimentos e desejos. Outros so pr-conscientes, enterrados logo abaixo da percepo, de onde so fceis de recuperar, e a vasta maioria inconsciente. Este material inconsciente entra na conscincia de forma disfarada, em sonhos, lapsos de linguagem, enganos, acidentes e durante a livre associao (neste processo a pessoa fala a respeito de tudo que lhe vier mente, sem inibies). Os impulsos, lembranas de experincias