apostila projeto leitura letras de luz

168
ESTRUTURA E DESENVOLVIMENTO

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Page 1: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

estrutura e desenvolvimento

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Page 2: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Projeto Letras de Luz:estrutura e desenvolvimento

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Page 3: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Sumário

1. Histórico e sistematização..................................................................................................................7. 1.1. Definição.e.histórico...................................................................................................................7. 1.2. Eixos...........................................................................................................................................8. 1.3. Público-alvo................................................................................................................................9. 1.4.Tecnologia.social:.metodologia.e.replicação...............................................................................10. . 1.4.1. Diagnóstico.inicial.e.instrumentos.de.acompanhamento.do.projeto.............................10. . 1.4.2. Implantação...................................................................................................................11

2. As oficinas de leitura.......................................................................................................................17. 2.1. Objetivos.e.conteúdos...............................................................................................................17. 2.2. Estratégias.formativas...............................................................................................................18. 2.3. A.equipe.de.formadores............................................................................................................22

3. Capacitação e apresentações teatrais...............................................................................................23. 3.1. Objetivos.e.conteúdos.trabalhados............................................................................................23. 3.2. Estratégias.formativas...............................................................................................................23. 3.3. A.equipe.de.formadores............................................................................................................24. 3.4. Apresentações.teatrais...............................................................................................................25. . 3.4.1. Seleção.de.textos.e.montagem.......................................................................................25. . 3.4.2. Produção.......................................................................................................................25

4. Renovação do acervo de livros literários.........................................................................................27. 4.1. Objetivos.e.critérios.de.seleção.do.acervo.................................................................................27. 4.2. Doação......................................................................................................................................33

Apostilas das oficinas de leitura...........................................................................................................35

Apostilas das oficinas de teatro..........................................................................................................157

Guia de produção teatral....................................................................................................................165

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Page 4: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Sejam.bem-vindos.ao.Projeto.Letras.de.Luz!

Se.você.ou.seu.município.tem.essa.apostila,.é.porque.certamente.já.ouviram.falar.dessa.iniciativa,.que.vem.formando.leitores.apaixonados.por.livros,.por.leitura.e.por.teatro.nos.últimos.quatro.anos.

Desde.2007,.o.projeto.já.passou.por.algumas.cidades.brasileiras,.capacitando.professores,.coordenadores,.diretores,.agentes.de.leitura,.bibliotecários.e.demais.pessoas,.espalhando.suas.ideias.sobre.leitura.e.teatro.com.o.intuito.de.contribuir.para.a.formação.de.uma.comunidade.leitora.nessas.localidades.

Nesse.material,.você.e.seu.município.irão.encontrar.um.pouco.da.história.dessa.iniciativa.e.orientações.precisas.sobre.como.iniciar.ou.dar.continuidade.a.um.trabalho.como.o.realizado.pelo.Letras.de.Luz.em.sua.cidade.

Essa.apostila.apresenta,.detalhadamente,.cada.uma.das.vertentes.dessa.proposta,.com.o.objetivo.de.que.a.metodologia.do.projeto.possa.ser.replicada.em.Secretarias,.Centros.Culturais,.Escolas,.Bibliotecas.e.outras.instâncias.culturais.e.educativas,.ampliando.ainda.mais.o.alcance.das.ideias.veiculadas.pelo.Letras.nos.últi-mos.anos..Com.o.apoio.dessa.sistematização,.esperamos.ajudá-lo.a.desenvolver.uma.intensa.atividade.em.favor.da.magia.e.da.necessidade.da.leitura.e.do.teatro.para.que.você.e.seu.município.possam.tornar-se.ainda.mais.comprometidos.com.a.formação.de.um.número.cada.vez.maior.de.cidadãos.leitores.

Boas.leituras.e.bom.trabalho!

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Page 5: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

1.1 Definição e hiStórico

O.Letras.de.Luz.é.uma.iniciativa.realizada.pela.Fundação.Victor.Civita1.com.patrocínio.da.EDP2,.com.apoio.institucional.da.lei.Rouanet.de.Incentivo.à.Cultura3.e.apoio.do.Instituto.EDP4.

O.projeto.tem.por.principal.objetivo.promover.o.incentivo.à.cultura,.contribuindo.com.as.atividades.teatrais.da.região,.colaborando.para.que.o.gosto.pela.leitura.cresça.cada.vez.mais.e.estimulando.o.há-bito.de.ler.como.parte.do.cotidiano.dos.educadores.brasileiros.

Em.duas.edições.o.projeto.passou.por.quatro.Estados. (São.Paulo,.Espírito.Santo,.Tocantins.e.Mato.Grosso.do.Sul)..Ao.longo.da.história.do.projeto,.já.foram.realizados.mais.de.480.oficinas.de.leitura.e.mais.de.850.apresentações.teatrais..Cerca.de.6.mil.pessoas.participaram.do.projeto.e.mais.de.550.mil.foram.be-neficiados.pelo.desdobramento.das.ações..Aproximadamente.56.mil.novos.livros.foram.doados.para.com-plementação.do.acervo.das.bibliotecas.públicas.dessas.localidades.

1..Oficinas.de.leitura.2..Capacitação.e.apresentações.teatrais.3..Renovação.do.acervo.das.cidades.participantes.

História.da.leitura,.leitura.de.imagens,.trabalho.em.bibliotecas,.clássicos.da.literatura.e.contação.de.his-tória.foram.os.temas.discutidos.nos.dois.primeiros.anos..Além.deles,.trabalhamos.com.alguns.projetos.de.leitura.que.foram.desenvolvidos.nos.mais.diversos.locais..Muitos.cartões-postais.foram.trocados.pelo.Brasil,.muitos. clássicos. foram. lidos,.discutidos.e.dramatizados,. inúmeras.pessoas. se. reuniram.para. ler,. contar. e.apreciar.textos.literários.em.diferentes.espaços,.dentro.e.fora.da.escola.

Os.atores.capacitados.para.a.criação.de.espetáculos.teatrais.levaram.aos.palcos,.às.praças.e.às.ruas.pe-ças.baseadas.em.textos.de.alguns.autores.brasileiros.consagrados,.como.Machado.de.Assis.(A cartomante e Vidros quebrados),.Lima.Barreto.(Nova califórnia e.O homem que sabia javanês),.Alcântara.Machado.(Um apólogo brasileiro sem véu de alegoria e.Tiro de guerra número 5),.Artur.Azevedo.(Como me diverti e.A polêmica),.

1. www.fvc.org.br2. www.edp.com.br3. www.cultura.gov.br4. www.institutoedp.com.br

1. histórico e sistematização

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Page 6: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

8  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Sylvio.Romero.(Maria Borralheira).e.João.do.Rio.(Dona Joaquina)..Os.grupos.também.foram.desafiados.a. interpretar.textos.contemporâneos.mais.voltados.para.o.universo. infantil,.como.os.de.Eva.Furnari.(Cacoete).e.Ricardo.Azevedo.(O rei que ficou cego).

Nos.dois.últimos.anos,.o.trabalho.das.oficinas.de.leitura.concentrou-se.em.dois.eixos.norteadores:.os.gêneros.da.literatura.e.a.formação.do.leitor..O.primeiro.eixo.buscou.evidenciar.algumas.particularidades.do.estudo.da.Língua.e.da.Literatura.por.meio.da.forma.pelas.quais.os.textos.são.escritos,.lidos.e.contados..Já.a.formação.do.leitor.procurou.organizar.momentos.nos.quais.os.participantes.pudessem.apreciar.diferentes.gêneros,.evidenciando.propósitos.e.procedimentos.necessários.ao.ato.de.ler..Perceber.as.diferenças.e.nuances.das.atividades.que.envolvem.a.leitura.–.individual.e.coletiva.–.mostrou-se.fundamental.para.a.formação.eficiente.de.uma.comunidade.leitora.

A.integração.entre.as.ações.dos.grupos.de.teatro.e.das.oficinas.de.leitura.foi.mais.um.dos.pontos.que.evoluíram.ao. longo.da.história.do.projeto..Os. atores. começaram. também.a.participar.desses. encontros,.compartilhando.suas.experiências.leitoras.e.os.textos.encenados.passaram.a.integrar.o.conteúdo.das.aposti-las.e.as.discussões.literárias.com.todos.os.participantes.do.projeto.

Novas.obras.foram.postas.em.cena.e.muitos.desafios.propostos.aos.grupos..Manteve-se.a.aposta.na.adap-tação.de.autores.clássicos,.como.Machado.de.Assis.(Um homem célebre.e.O enfermeiro).e.a.ousadia.de.criar.com.fase.na.diversidade.de.textos.contemporâneos,.como.Ricardo.Azevedo.(A quase morte de Zé Malandro e.Contos de adivinhação),.Heloísa.Prieto.(Raça pura),.Fernanda.Lopes.de.Almeida.(A curiosidade premiada),.Michelle.Iacocca.(Bambolina).e.Qorpo.Santo.(Um credor da Fazenda Nacional).

Durante.todo.esse.trabalho,.a.circulação.de.livros.de.qualidade.foi.fundamental..Os.participantes.pude-ram.conhecer.e.apreciar.obras.de.autores.consagrados,.renovando.o.acervo.literário.já.conhecido.pela.comu-nidade.e.compartilhando.suas.impressões.sobre.as.novas.experiências.leitoras.para.as.quais.foram.convidados.

Enfim,.nessa.curta.e.intensa.história,.podemos.dizer.que.o.Letras.de.Luz.fez.realmente.diferença.nas.cidades.onde.esteve.presente,. iniciando.o.traçado.de.um.diferente.panorama.cultural,.consequentemente.educativo,.em.cada.uma.das.comunidades.atendidas.

Esse.material.traz,.com.o.intuito.de.contribuir.ainda.mais.para.o.incentivo.à.formação.artística.e.cultural.em.municípios.fora.do.circuito.cultural.dos.grandes.centros.urbanos.do.país.por.meio.de.apresentações.de.peças.teatrais.e.de.oficinas.literárias,.a.metodologia.do.projeto.e.os.materiais.de.formação.utilizados.a.fim.de.apoiar.a.continuidade.e.a.implantação.das.iniciativas.em.sua.localidade.

1.2 eixoS

A.proposta.do.projeto.Letras.de.Luz.é.promover.a.cultura.e.levar.a.leitura.aos.moradores.das.cidades.por.onde.passa.e.foi.inspirado.no.ideal.das.cidades.educadoras5.e.nos.vários.projetos.de.leitura.levados.ao.país,.

5  Entenda o que são cidades educadoras – “A.cidade.será.educadora.quando.reconheça,.exercite.e.desenvolva,.além.de.suas.funções.tradicionais.(econômica,.social,.política.e.de.prestação.de.serviços),.uma.função.educadora,.quando.assuma.a.intencionalidade.e.responsabilidade.cujo.objetivo.seja.a.formação,.promoção.e.desenvolvimento.de.todos.seus.habitantes,.começando.pelas.crianças.e.pelos.jovens.”.(Fragmento.da.Introdução da Carta das Cidades Educadoras, Declaração de Barcelona,.1990.).Essa.definição.da.Declaração.de.Barcelona.revela.o.papel.das.cidades.educadoras.–.movimen-to.iniciado.na.Espanha,.em.1990,.durante.o.1º.Congresso.Internacional.de.Cidades.Educadoras..http://www.cidadeseducadorasdobrasil.palegre.com.br/template/template.asp?proj=43&secao=104

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Page 7: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

1. Histórico e sistematização  9

iniciados.especialmente.no.Ano.Ibero-Americano.da.Leitura6,.em.2005..Para.isso,.procura.garantir.o.acesso.a.bens.culturais.(livro.e.teatro),.a.circulação.de.conhecimentos.e.a.troca.de.experiências.leitoras.comuns.por.meio.de.três.vertentes.articuladas.entre.si:

1. oficinas de leitura: (oficinas para professores e outros agentes literários para a multiplicação do hábito

pela leitura): as oficinas de leitura têm como principal objetivo formar comunidades leitoras nas localida-

des onde atua. Seus grupos são formados por amantes da literatura, entre eles, professores, coordenadores

pedagógicos, diretores, agentes de leitura e bibliotecários. As atividades são planejadas de forma que os

participantes ampliem seu repertório leitor: conheçam novos autores, gêneros e coleções de qualidade.

Também que atuem como multiplicadores de leitores, levando os livros para escolas, praças, saraus e

outros ambientes de apreciação literária;

2. capacitação e apresentações teatrais: os grupos de teatro são, primeiramente, formados e capacitados. De-

pois se comprometem com apresentações que levem à comunidade a encenação de obras literárias.

O objetivo das capacitações e do acompanhamento das atividades teatrais é também o de preparar o grupo

para conduzir suas próprias produções e também, incentivá-los, ao longo do processo a tornarem-se autôno-

mos para buscar de textos, produzir espetáculos e até negociar patrocínios e outros apoios.

Depois da primeira formação, a proposta é de que esses novos atores criem peças baseados na adaptação

de textos literários, os quais são previamente selecionados pela equipe do projeto. As montagens circulam

pelas cidades participantes, promovendo não só o contato com essa linguagem artística como também com

a obra literária que lhe serve de base. É literatura nos palcos, praças, no dia a dia da escola e ao alcance em

bibliotecas próximas;

3. renovação do acervo das cidades participantes: variadas obras literárias, infantis, juvenis e adultas fo-

ram doadas a bibliotecas e escolas públicas da região para fomentar o hábito da leitura e garantir que

a comunidade tenha acesso a títulos de qualidade. Os livros utilizados pelos grupos de teatro e pelos

participantes das oficinas de leitura também compõem esse acervo: alguns títulos disponibilizados no

decorrer do ano, ao final dos trabalhos, devem ser repassados, em bom estado de conservação, a uma

biblioteca pública local indicada pela prefeitura.

1.3 PúbLico-ALvo

Por.meio.de.suas.três.vertentes,.o.trabalho.do.Projeto.está.organizado,.de.modo.complementar,.em.torno.de.diferentes.públicos:

1. as escolas e seus atores: professores, orientadores educacionais, coordenadores pedagógicos, diretores,

alunos, funcionários e pais, aproximando-os por meio da leitura e da arte, na elaboração de atividades que

possam ser desenvolvidas conjuntamente e em benefício da comunidade;

2. os agentes culturais: atores, músicos, artistas plásticos, diretores, professores, ensaiadores, dramaturgos,

profissionais liberais ou não, estudantes, funcionários públicos, enfim, todo tipo de entusiasta e interessado

em um trabalho de aproximação entre a literatura e a cena teatral;

6. Entenda o que foi o Ano Ibero-Americano da Leitura.–.O.Ano.Ibero-Americano.da.Leitura.foi.comemorado.em.21.países.da.Europa.e.das.Américas.em.2005..Aprovado,.em.2003,.pela.Cúpula.dos.Chefes.de.Estado.dos.países.ibero-americanos,.foi.coordenado.pela.OEI.(Organização.dos.Estados.Ibero-americanos),.Cerlalc.(Centro.Regional.para.o.Fomento.do.Livro.na.América.Latina.e.Caribe),.Unesco.e.governos.dos.países.da.região..No.caso.do.Brasil,.pelo.Governo.Federal,.através.dos.ministérios.da.Cultura.e.Educação.e.pela.Assessoria.Especial.da.Presidência.da.Repú-blica..http://www.vivaleitura.com.br/inicial.asp

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Page 8: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

10  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

3. a comunidade: desde o início do projeto, sugere-se convidar para participar das oficinas demais cida-

dãos, e não só os membros do universo escolar. O Projeto Letras de Luz opta por incluir a comunidade

(grupos de jovens, de terceira idade, de clubes, associações, bibliotecas, etc.), pois acredita que os

leitores estejam presentes nos mais diversos segmentos da sociedade e não apenas na escola. Para tan-

to, é preciso que ele se estenda aos diferentes ambientes para contribuir, efetivamente, na formação de

uma sociedade leitora.

1.4 tecnoLogiA SociAL: metoDoLogiA e rePLicAção

Uma.Tecnologia.Social.como.a.do.Letras.de.Luz.pode.ser.aplicada.em.qualquer.lugar.onde.a.leitura.quer.ser.considerada.uma.prioridade,.um.direito.e.uma.necessidade.social..A.implementação.de.um.projeto.para.incentivar.a.cultura.local.ou.para.formar.comunidades.leitoras.depende.basicamente.da.capacitação.da.equi-pe.que.irá.aplicar.a.metodologia.no.local,.da.seleção.do.acervo.a.ser.doado.e.do.interesse.pela.literatura.e.pelo.teatro.como.instrumentos.para.a.construção.da.cidadania.

Para.a.condução.de.um.projeto.de.formação.de.comunidades.leitoras,.recomenda-se.atenção.aos.aspectos.abaixo.enumerados.

1.4.1 Diagnóstico inicial e instrumentos de acompanhamento do projeto

Recomenda-se.que.seja.feito.um.diagnóstico.das.especificidades.locais,.no.que.se.refere,.principalmen-te,.aos.projetos.de.incentivo.à.cultura.e.leitura.em.andamento.(nas.escolas.e.em.outras.instituições.edu-cativas),. a.presença.de. livros. (qual.o. atual. acervo),. aos. espaços.de. circulação.de. livros.da. comunidade.(bibliotecas,.bancas,.livrarias),.ao.acesso.a.esses.materiais.(perfil.do.público.frequentador.desses.espaços),.às.entidades.e.atividades.culturais.atuantes.no.município.(associações,.ONGs,.clubes,.grupos.locais.de.teatro).e.à.tradição.literária.e.teatral.local.(presença.de.grupos,.espaços,.festivais.etc).

Todo.projeto.deve.ser.monitorado.e.avaliado.a.fim.de.rever.processos.que.não.estejam.atendendo.às.ex-pectativas.iniciais.e.de.analisar.os.resultados.encontrados.em.função.da.proposta.inicial..Nesse.sentido,.o.diagnóstico.inicial.torna-se.uma.importante.ferramenta,.pois.ele.ajudará.à.equipe.de.coordenação.do.proje-to.definir.quais.serão.os.instrumentos.de.acompanhamento.das.atividades.e.os.indicadores.que.possibilitarão.avaliar.o.resultado.do.trabalho.desenvolvido.

Os.instrumentos.de.acompanhamento.utilizados.pelo.Letras.de.Luz.que.permitem.à.coordenação.avaliar.as.atividades.são:

Leitura: listas de presenças das oficinas de leitura, de responsabilidade das formadoras e da coordenação do projeto;

avaliação dos participantes sobre os encontros realizados;

registros dos participantes sobre as iniciativas de multiplicação nascidas das atividades propostas conduzi-

das por eles, constando deste documento o número de pessoas que essas iniciativas abrangeram;

relatórios dos coordenadores de oficina com registro das atividades realizadas, avaliação da participação

dos formandos e avaliação do formador;

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1. Histórico e sistematização  11

reuniões periódicas com a equipe de formadores no início e no final de cada ciclo de oficina para planeja-

mento e avaliação;

acompanhamento anual dos levantamentos iniciais da localidade para: projetos de leituras em andamento,

acesso a bibliotecas e acompanhamento da inserção de atividades culturais locais, derivadas de atividades

do projeto.

Teatro: listas de presenças das capacitações teatrais, de responsabilidade dos capacitadores e da coordenação do

projeto;

listas de presenças dos ensaios e das apresentações, de responsabilidade do produtor teatral;

relatórios das capacitações teatrais com registro das atividades realizadas e das tarefas deixadas pelos forma-

dores para serem realizadas entre cada uma das apresentações teatrais, de responsabilidade do capacitador;

relatórios parciais e finais feitos pelos grupos teatrais das apresentações teatrais, explicados no guia de pro-

dução teatral anexo, com:

• registro do perfil do público (escolar, docentes, comunitário...) e quantidade de pessoas presentes;

• apoios locais obtidos e forma de apoio (financeiro, material/cenário, espaço, divulgação...);

• presença dos atores e autoavaliação do grupo em reunião posterior à apresentação apontado: dificulda-

des encontradas, resultado final percebido e retorno obtido do público;

relatórios parciais da coordenação teatral e da produção teatral do acompanhamento pontual, das vitórias

e dificuldades do grupo de teatro;

reuniões periódicas com a equipe de capacitadores no final de cada uma das duas capacitações e ao final

das terceira e quarta apresentações teatrais;

acompanhamento anual dos levantamentos iniciais da localidade para: novos projetos de teatro e acompanha-

mento da inserção de atividades de cultura locais derivadas de atividades do projeto.

Acervo: registro e acompanhamento, feito pelos formadores, da utilização e exploração dos acervos locais e pessoas

por meio dos relatos e relatórios dos participantes das oficinas;

acompanhamento dos números locais de acesso às bibliotecas, livrarias ou outros pontos com acervo dis-

ponível à comunidade.

O.processo.de.avaliação.anual.deve.sempre.considerar.a.conquista.da.autonomia.dos.agentes.locais.for-mados.para.multiplicação.ou.reedição.das.atividades.

1.4.2 implantação

Para.implantar.o.projeto,.é.preciso.considerar.os.aspectos.abaixo:

CronogramaO.projeto.tem.um.ciclo.de.vida.mínimo.de.um.ano,.em.que.se.propõe.o.cronograma.a.seguir..Recomenda-

mos.ainda.que.as.oficinas.de.leitura.e.as.capacitações.teatrais.sejam.programadas.de.forma.alternada.a.fim.de.que.o.projeto.possa.correr.o.ano.todo.e.que.se.mantenha.o.interesse.da.comunidade.por.todo.o.ciclo.

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Page 10: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

12  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Planejamento e

diagnóstico

Capacitação teatralcapacitação

inicial

reforço da

capacitação

Apresentação teatral conto 1 conto 2 conto 3 conto 4

Avaliação das

atividades teatrais

Oficinas de leitura oficina 1 oficina 2 oficina 3 oficina 4 oficina 5

Avaliação das

oficinas de leitura

Renovação do

acervo local

Avaliação final

do projeto

Inscrições e renovaçõesÉ.importante.considerar.um.prazo.no.planejamento.do.projeto.em.que.os.interessados.inscrevam-se.Modelos.de.fichas.de.inscrição.devem.ser.elaborados.tanto.para.as.capacitações.teatrais.como.para.as.ofici-

nas.de.leitura..Essas.fichas.devem.não.só.ser.assinadas.pelos.participantes.com.o.intuito.de.comprometê-los.às.atividades.e.regras.propostas,.como.também.devem.ser.instrumentos.de.conhecer.um.pouco.sobre.eles.

Sugerimos.que.as.fichas.de.inscrição.de.leitura.abordem: informações cadastrais;

atuação profissional;

escolaridade;

experiências pessoais com trabalhos comunitários;

expectativas de aprendizado e formas de multiplicação.

Para.as.fichas.de.inscrição.para.a.capacitação.teatral,.sugerimos.os.pontos: informações cadastrais;

atuação profissional;

escolaridade;

experiências pessoais com trabalhos comunitários;

experiências anteriores com teatro amador ou profissional;

atividades culturais que costuma buscar em seus momentos de lazer: teatro, cinema, televisão e leitura,

entre outros;

últimas peças e filme que viu;

últimos livros e periódicos que leu;

percepções sobre: teatro estimulando a leitura; oportunidades culturais de seu município; expectativas de

aprendizado e formas de multiplicação.

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Page 11: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

1. Histórico e sistematização  13

É.preciso.que.fique.claro.aos.participantes.que.a.inscrição.é.para.o.ciclo.todo:.um.ano.de.atividade..E.é.importante.que.a.coordenação.do.projeto.busque.anualmente.renovar.os.participantes.a.fim.de.aumentar.o.potencial.de.disseminação.e.multiplicação.do.projeto.

Recursos humanos e materiaisPara.a.replicação,.será.necessário.o.uso.do.material.teórico.do.projeto.(apostilas,.vídeos.e.bibliografia.indi-

cada),.duas.equipes.distintas.de.formadores.para.as.oficinas.de.leitura.e.para.os.grupos.de.teatro,.um.coordena-dor.para.cada.uma.das.equipes.e.um.produtor.para.propiciar.a.concretização.dos.espetáculos.teatrais.

Como.equipe,.propõe-se:.1.coordenador.geral.do.projeto,.dois.coordenadores.(um.para.as.oficinas.de.leitura.e.outro.para.as.oficinas.de.teatro),.1.educador.para.cada.grupo.de.50.participantes.das.oficinas.de.leitura,.1.edu-cador.para.cada.grupo.de.9.participantes.dos.grupos.de.teatro,.1.produtor.para.gerenciamento.dos.espetáculos.

Lembra-se.aqui.que.o.trânsito.de.materiais.e.equipe.deve.ser.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto,.bem.como.a.estruturação.e.viabilização.de.espaço.físico.para.a.condução.das.atividades.

A.equipe.das.oficinas.de.leitura.realizará.cinco.encontros.bimestrais.com.duração.prevista.de.6.horas.Os.formadores.da.equipe.de.teatro.realizarão.duas.oficinas.semestrais:.a.primeira.com.duração.de.24.

horas,.divididas.em.4.dias.de.trabalho.para.apresentação.da.proposta,.formação.dos.atores.e.orientações.para.a.montagem.do.primeiro.espetáculo,.e.a.segunda.(no.meio.do.semestre).para.reforço.e.acompanhamento.dos.trabalhos.

Para. cada.oficina.de. leitura.e. capacitação. teatral. realizadas,. será.necessário.providenciar:. espaço.com.iluminação.e.ventilação.adequadas,.cadeiras.para.todos.os.participantes,.cópias.das.apostilas.do.encontro,.quadro.para.anotações,.papel.em.branco.ou.bloco/caderno.em.quantidade.suficiente.para.todos,.canetas,.lápis,.aparelho.de.som,.TV.ou.tela.de.projeção,.DVD.ou.data-show,.microcomputador,.cerca.de.50.livros.de.literatura.previamente.selecionados.para.o.acervo.circulante.(distribuídos.em.10.títulos.diferentes,.com.5.volumes.cada.um),.cerca.de.15.livros.relacionados.à.formação.de.atores.e.ao.teatro.e.a.definição.de.livros.de.literatura.para.doação.às.bibliotecas.selecionadas.(contemplando.diferentes.gêneros.e.interesses.de.públicos.diversos),.vídeos.relacionados.aos.temas.das.oficinas.

É. importante.pontuar.que.nas. reuniões. iniciais.de.planejamento,. esses.materiais. sejam.programados.pelos.formadores..E.que.é.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto.observar.e.viabilizar.o.transporte.dos.formadores.e.dos.materiais.necessários.

Recursos financeirosAs.despesas.de.implantação.envolvem:.remuneração.da.equipe.de.coordenadores.e.formadores,.aquisição.

de.acervo.literário.para.os.participantes.das.oficinas.(de.teatro.e.de.leitura).e.para.as.bibliotecas.previamen-te.selecionadas.pelo.município,.reprodução.do.material.de.apoio.do.projeto.(apostilas.e.cadernos).em.quan-tidade. suficiente. para. todos. os. participantes,. a. produção. e. manutenção. dos. grupos. de. teatro. e. das.apresentações,.disponibilização.de.espaço.adequado.para.a.realização.das.oficinas,.transporte,.alimentação.e.estadia.dos.formadores.(quando.vindos.de.outras.localidades),.materiais.de.apoio.do.projeto.e.divulgação.

Como.um.dos.objetivos.do.projeto.é.de.formar.grupos.de.teatro.que.ganhem.caráter.profissional.e.auto-nomia.no.decorrer.do.ano,.recomendamos.à.coordenação.do.projeto.considerar.recursos.financeiros.para.a.remunerar.o.grupo.de.teatro.por.suas.atividades.realizadas..Conduzido.pela.Fundação.Victor.Civita,.o.Le-tras.de.Luz.considerou.como.apoio.ao.grupo.de.teatro:..valores.de.cachê.por.apresentação..Incentivo.mensal.

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Page 12: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

14  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

ao.produtor.para.auxiliar.o.investimento.em.cenário,.figurino.e.outras.necessidades,.pago.com.um.valor.fixo.por.produção.com.até.30.dias.antes.do.início.dos.espetáculos.

Comunicação e imprensaO.Projeto.Letras.de.Luz.tem.demonstrado.em.sua.história.ser.de.muito.interesse.da.mídia.por.seu.im-

pacto.na.vida.cultural.das.cidades..Recomendamos,.portanto,.que.a.coordenação.do.projeto.produza.um.guia.de.comunicação.com.a.imprensa.em.que.se.descrevam.as.características.do.projeto,.seu.histórico.e.contato.da.coordenação.do.projeto.

Reproduzimos,.abaixo,.algumas.dicas.de.contato.com.a.imprensa.para.os.porta-vozes.do.projeto:

Algumas regras básicas para uma comunicação eficiente:

• Assessoria de imprensa – Sempre encaminhe os pedidos de entrevistas e de informa-

ções de jornalistas para a assessoria de imprensa mesmo que já tenha fornecido os

dados solicitados.

• retorno rápido – Atender a imprensa o mais rápido que puder é procedimento indis-

pensável no bom relacionamento com a mídia e na conquista de espaços nos veícu-

los de comunicação.

• Prepare-se para a entrevista – Em caso de entrevista, levante informações sobre o

veículo/programa e perfil do jornalista. Consulte ainda as informações a serem pas-

sadas para a imprensa (as assessorias podem auxiliar nesse trabalho).

• o canal com o seu público-alvo – Tenha em mente que toda entrevista é uma opor-

tunidade que o veículo de comunicação oferece para que a mensagem do projeto

chegue ao público de interesse.

• Quanto mais o jornalista entender, melhor vai explicar para o leitor – Seja claro em

suas respostas e, sempre que preciso, explique o fato.

• tenha em mãos o material de apoio para possíveis consultas – Quando necessário,

consulte as informações sobre o projeto para passar os dados corretos ao jornalista.

• não responda sobre aquilo que não domina – A função do repórter é perguntar. A

do entrevistado é responder o que está ao seu alcance. Você não é obrigado a res-

ponder tudo para satisfazer ao jornalista. Se alguma pergunta lhe pegar de surpresa

e você não souber a resposta, não hesite em dizer que não possui a informação e que

poderá apurá-la com os responsáveis pelo projeto.

• não emita opiniões pessoais em nome do projeto.

• Seja claro e breve nas explicações. não use metáforas – Do contrário, você poderá

gerar interpretações dúbias e comprometer a matéria.

• não use gírias e jargões.

• nunca peça para ler o texto antes de ser publicado.

• tenha em mente que tudo o que for citado é passível de ser publicado, não diga nada

em “off” para o jornalista.

• não se frustre – O jornalista pode gastar horas em uma entrevista, escrever tudo o

que você falou e não citar seu nome.

• erro na matéria – Se for algo sem grande impacto, ignore e deixe para comentar o

fato numa próxima vez. Se o erro for grave, peça para o assessor contatar o repórter

antes de qualquer atitude.

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Page 13: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

1. Histórico e sistematização  15

Essas.dicas.são.importantes.nos.contatos.e.nas.entrevistas.com.todo.tipo.de.mídia:.impressa,.rádio.e.TV..No.entanto,.as.duas.últimas.demandam.maior.cuidado.

No.caso.de.entrevistas.para.rádios,.fale.devagar.para.que.os.ouvintes.acompanhem.o.seu.discurso..Seja.claro.e.objetivo.e.evite.utilizar.termos.rebuscados,.técnicos.e.frases.muito.longas..Procure.saber.se.a.entre-vista.será.gravada.ou.ao.vivo.e.o.tempo.que.você.terá.para.falar.sobre.o.assunto.

Normalmente,. os. espaços. na.TV. são. mais. curtos,. por. isso,. seja  objetivo. e. conciso.. Procure. passar. a.mensagem-chave.logo.no.início.da.entrevista..Não.decore.um.texto,.tampouco.leia.algo.diante.das.câmeras.

Além.dos.cuidados.com.as.respostas,.atente.para.sua.aparência..Seja.discreto.para.transmitir.credibilida-de..Procure.não.usar.roupas.chamativas.para.não.desviar.a.atenção.do.público.

E.lembre:.cuidado.com.o.português..Nunca.é.demais.repetir:.evite.a.linguagem.muito.formal..Escolha.as.palavras.mais.cotidianas.e,.de.preferência,.as.menores.

Lembramos.que.o.projeto.social.Letras.de.Luz.foi.realizado.pela.Fundação.Victor.Civita.com.patrocínio.da.EDP,.com.o.apoio.institucional.da.lei.Rouanet.de.Incentivo.à.Cultura.e.apoio.do.Instituto.EDP..Reco-mendamos,.portanto,.sempre.a.citação.da.fonte.na.replicação.do.projeto.e.o.cuidado.de.avisar.essas.institui-ções.na.sua.replicação..Para.a.utilização.do.nome.do.proponente.e.patrocinadores,.ou.falar.em.nome.deles,.deve.-se.sempre.solicitar.autorização.aos.mesmos.

ParceirosO.projeto.geralmente.é.conduzido.de.forma.a.agregar.parceiros..Em.geral,.os.parceiros.encontrados.lo-

calmente.são:.Secretarias.Municipais.de.Educação,.Secretarias.Municipais.de.Cultura,.escolas.da.rede.pú-blica.ou.particular,.centros.culturais,.universidades.e.teatros.locais,.clubes,.organizações.da.sociedade.civil,.patrocinadores.locais.e.bibliotecas,.entre.outros.

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Page 14: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

2.1 objetivoS e conteúDoS

Tendo.como.foco.principal.a.formação.de.comunidades.leitoras,.as.oficinas.de.leitura.privilegiam.o.con-tato.com.diferentes.gêneros.e.a.reflexão.sobre.os.propósitos.e.procedimentos.posto.em.ação.frente.aos.mais.diversos.portadores.de. texto..O.objetivo.é.que,.ao.experimentar.o.prazer.de. ler,.os.participantes.possam.multiplicar.as.experiências.vividas,.levando-as.aos.diferentes.espaços.em.que.atuam.

As.oficinas.acontecem.em.cinco.encontros,.cada.um.com.um.tema.diferente..São.eles:

1. mil e uma leituras – Livros e leitura: agentes, espaços e formas narrativas.

Nesse primeiro encontro, o objetivo é apresentar o projeto ou retomar o histórico e os conteúdos dos anos

anteriores, reconhecendo a importância de projetos de leitura e dos espaços das bibliotecas para as co-

munidades, sensibilizando e organizando os grupos para algumas das atividades sugeridas, como os

Diários de Leitura. A proposta é que os participantes possam refletir sobre as diferenças entre o leitor in-

dividual e o leitor público, iniciando uma discussão sobre gêneros e sobre a necessidade de valorizar as

atividades de leitura na vida e na comunidade.

conteúdos:

• a literatura e seus primórdios: do mito à literatura;

• os diferentes propósitos leitores e a relação com os diferentes comportamentos leitores;

• a biblioteca: histórico, utilização, acervos e função cultural;

• apresentação e discussão das atividades do Diário de Leitura.

2. crônica: a prosa cotidiana – instantâneos da vida se transformam em textos que entretêm e fazem pensar.

Na segunda oficina, os participantes são convidados a serem apreciadores da leitura de crônicas, se ainda não o

forem. Mas o convite não para aí. Ele se estende para que sejam autores das suas próprias crônicas. Dessa forma,

as atividades desse encontro foram planejadas para atender a estes dois propósitos: ler e produzir crônica.

conteúdos:

• leitura de crônicas;

• breve história do gênero textual crônica;

• o leitor de crônica: expectativas e comportamentos leitores;

2. As oficinas de leitura

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Page 15: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

18  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

• a crônica como gênero da esfera jornalística – a relação entre crônica e notícia;

• a estrutura narrativa da crônica.

3. vozes em cena – A arte de atuar.

O terceiro encontro do projeto tem como foco oferecer informações sobre o teatro e as possibilidades de

atuação envolvendo essa linguagem por meio da experimentação da leitura e discussão de textos dramáti-

cos. A ideia é, que com base nessa oficina, os participantes mergulhem no tema tratado e voltem para suas

comunidades pensando nas atividades que poderão desenvolver como multiplicadores do projeto.

conteúdos:

• o teatro e suas formas dramáticas;

• a leitura dramática;

• características do texto teatral.

4. Uma imagem, mil palavras – Leitura de imagens.

A quarta oficina tem como foco o estudo da cultura visual, estabelecendo relações entre dois elementos

centrais do processo de comunicação em nossa sociedade: a imagem e a palavra. Por meio desse encontro,

os participantes descobrem que toda imagem tem uma história para contar. E que são as nossas percepções

visuais e experiências pessoais que nos tornam capazes de lê-las e interpretá-las para compreender e dar

cada vez mais sentido ao mundo em que vivemos.

conteúdos:

• breve história da leitura de imagens;

• procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens;

• relações entre palavra e imagem;

• a ilustração na literatura.

5. Luz que vem de longe – o gênero poesia e sua celebração na vida de cada dia.

O quinto e último encontro celebra a poesia. A ideia é que os participantes possam apreciar a leitura de

poemas, compartilhar relações entre esse gênero e as cantigas, brincadeiras populares e músicas conhecidas

pelo grupo. É também um encontro de despedida e celebração do projeto, com a organização e realização

de um sarau para leitura e troca de livros e poemas.

conteúdos:

• a poesia e sua história;

• o gênero poesia e suas curiosidades;

• a poesia e a intertextualidade;

• a poesia infantil;

• os saraus poéticos.

2.2 estratégias formativas

A.concepção.do.trabalho.das.oficinas.prioriza.a.vivência.de.experiências.leitoras.significativas..Sendo.assim,.as.atividades.desenvolvidas.em.cada.encontro,.assim.como.a.atuação.dos.educadores.responsáveis.pelo.grupo,.devem.configurar-se.como.um.bom.modelo.a.ser.seguido.por.aqueles.que.desejarem.multiplicar.as.ações.do.projeto.

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Page 16: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

2. As oficinas de leitura  19

Em.todos.os.encontros,.prioriza-se.a. leitura.dos.gêneros.escolhidos.como.tema..A.proposta.é.que.os.participantes. entrem.em.contato. com.os. textos,. socializem. suas. impressões,. percebam. seus.usos. sociais,.discutam.os.propósitos.e.experimentem.diferentes.procedimentos.leitores.

Todas.as.oficinas.se.iniciam.com.uma.leitura.feita.pelo.formador..Ler.ou.contar.histórias.para.o.grupo.cumpre.importantes.funções:.é.modelo.para.os.participantes,.cria.um.clima.de.cumplicidade.entre.todos.e.amplia.o.leque.de.textos.conhecidos..A.seleção.do.que.vai.ser.lido.deve.obdecer.a.alguns.critérios,.tais.como:.qualidade.literária,.pertinência.em.relação.ao.tema.da.oficina,.afinidade.do.leitor.e.perfil.do.grupo.que.acom-panhará.a.leitura..Há.também.sempre.um.resgate.do.encontro.anterior,.das.tarefas.que.foram.solicitadas.e.das.ideias.que.foram.multiplicadas.entre.uma.oficina.e.outra.

As.apostilas.são.compostas.por.vários.Textos-farol:.uma.seleção.de.trechos.de.obras.de.referência,.algu-mas.matérias.da.revista.Nova Escola7.e.de.alguns.periódicos.relacionados.ao.tema.e.outros.materiais.escritos.especialmente.para.cada.um.dos.encontros..Eles.têm.por.objetivo.“iluminar”.as.discussões.e.trazer.novos.conhecimentos.aos.participantes..Cada.formador.elege.quais.textos.abordar.e.quais.deseja.indicar.para.a.leitura.em.outro.momento,.conforme.a.afinidade.apresentada.com.relação.ao.tema.e.a.pertinência.da.discus-são.para.o.grupo..Todas.as.apostilas,.que.se.encontram.ao.final.desta.sitematização,.contêm.um.roteiro.para.o.desenvolvimento.de.cada.encontro,.o.qual.poderá.ser.adequado.à.realidade.local.e.aos.propósitos.do.tra-balho,.dando.abertura.a.outras.possibilidades.de.exploração.dos.temas.

Outra.marca.que.caracteriza.as.oficinas.é.a.realização.do.Mar.de.Histórias.Mar.de.Histórias.foi.o.nome.escolhido.para.uma.atividade.apreciada.por.alunos.e.professores.de.

todas.as.idades..Mar.de.Histórias.é.uma.maneira.de.falar.de.literatura.e.de.livros,.de.leituras,.indicar.títulos,.autores.e.temas.e.ainda.escolher. livros.que.serão. lidos.pela.turma.ou.socializados.de.alguma.outra.maneira.

A.atividade.consiste.em.colocar.no.chão.um.grande.tecido.que.pode.ser.escolhido.com.as.cores.que.lembram.mar.–.azul.e.verde.–.ou.que.seja.feito.pela.comunidade,.como.bordado,.uma.colcha.de.retalhos.ou.outra.solução..Porém.a.beleza.ou.singularidade.do.tecido.não.é.indispensável.à.atividade..O.que.mais.im-porta.é.que.exista.um.tecido.sobre.o.qual.sejam.dispostos.muitos.títulos.e.que.os.ouvintes.possam.aprender.sobre.eles.e.desejar.lê-los..Começa-se.a.atividade.com.uma.conversa.sobre.leitura,.ou.uma.leitura.propria-mente.dita,.ou.sobre.uma.narrativa.apreciada.pelo.formador,.que.a.escolheu.por.determinado.motivo..Sobre.o.tecido,.dispõem-se.os.títulos.que.farão.parte.da.“roda”.daquele.dia..Em.volta.dele,.reúne-se.o.grupo.que.fará.parte.da.roda:.a.sala.de.aula,.o.grupo.de.professores,.o.grupo.de.pais,.etc..Após.a.leitura.e.a.conversa.sobre.a.narrativa,.que.pode.ou.não.ser.conduzida,.pode-se.optar.por.uma.leitura.sem.discussão.posterior,.já.que,.algumas.vezes,.o.desejo.é.apenas.ler.e.ouvir.a.narrativa.sem.se.preocupar.com.nenhuma.discussão.sobre.ela..Os.títulos.colocados.no.Mar.devem.ser.variados.e.obedecer.a.algum.pressuposto.que.se.tenha.estabele-cido.para.aquela.roda..Pode.ser.temática.(um.tema.que.se.queira.aprofundar.ou.trazer.a.tona:.África,.Mito-logia,.Ciência,.Astronomia,.Guerra),.pode.ser.por.autores,.por.gêneros,.comemorativas.de.alguma.data.ou.evento.especial.e.tantas.outras.ideias.podem.surgir.

Em.cada.encontro,.além.do.acervo.exposto.do.Mar.de.Histórias,.dois.livros.pertencentes.aos.gêneros.discutidos.serão.trazidos.para.leitura.em.sistema.de.rodízio..As.obras.escolhidas.devem.ser.lidas.para.a.ofi-cina.seguinte.com.vistas.à.troca.de.comentários.e.impressões.entre.leitores.de.um.mesmo.título..O.acervo.das.bibliotecas.locais.também.pode.(e.deve).ser.trazido.para.leitura.do.grupo,.especialmente.os.títulos.per-tencentes.aos.gêneros.estudados.em.cada.oficina..O.investimento.nesse.acervo.circulante.composto.por.um.

7. Os.conteúdos.da.Fundação.Victor.Civita,.sejam.eles.matérias.das.revistas.Nova Escola.e.Gestão Escolar,.conteúdos.de.projetos.ou.estudos.e.pes-quisas.educacionais.estão.disponíveis.para.leitura.em.www.ne.org.br.e.www.fvc.org.br

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Page 17: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

20  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

pequeno.número.de.títulos.(10).e.uma.maior.quantidade.de.exemplares.de.cada.obra.(em.média,.6.de.cada).tem.por.objetivo.gerar.uma.maior.discussão.entre.os. leitores,.motivando-os.a.expressar.suas.percepções,.impressões.e.sensações.sobre.a.obra.lida..Assim.os.participantes.terão.contato.com.vários.textos.literários.de.qualidade,.compartilhando.leituras.comuns.e,.aos.poucos,.experimentando,.na.prática,.o.funcionamento.de.uma.verdadeira.comunidade.de.leitores..

Eis.algumas.sugestões.de.livros.que.poderão.ser.lidos.durante.o.projeto:

oficinA 1

A sociedade literária e a torta de casca de batata

mary Ann Shaffer e Annie barrows

editora rocco – rio de janeiro

Tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e as dificuldades sofridas pela população da

Ilha Britânica de Guernsey, os livros aparecem como companheiros, refúgio, elo entre os moradores.

Cada qual vai descobrir autores e livros amados e como tais obras vão influenciar sua vida. Escrito

de forma epistolar, é um deleite para aqueles que sabem e que buscam o valor da leitura.

A biblioteca mágica de bibbi bokken

jostein gardner e Klaus hagerup

editora companhia das Letras – São Paulo

Como é apresentado pela Livraria Cultura, o garoto Nils e sua prima Berit moram em cidades dife-

rentes e, para manter contato, decidem escrever um diário a quatro mãos, enviando-o de uma cida-

de a outra por correio. Ao longo da história, eles investigam a vida de Bibbi Bokken e descobrem

uma biblioteca mágica. Uma obra que celebra a magia de um objeto muito especial – o livro.

oficinA 2

boa companhia – crônicas

organização de humberto Werneck

editora companhia das Letras – São Paulo

Quarenta e dois cronistas foram selecionados para essa bela e excelente coletânea de crônicas bra-

sileiras. Humor, política, amor, sociedade, um pastel, uma verdureira, o jornal dobrado no sofá...

Tudo é matéria para o escritor que busca no cotidiano a sua razão para escrever, denunciar, louvar,

entreter. Exercício diário nascido no jornal, a crônica brasileira é um dos mais vigorosos gêneros de

nossa literatura.

o imaginário cotidiano

moacyr Scliar

editora global – São Paulo

O escritor gaúcho Moacyr Scliar reúne em O imaginário cotidiano as crônicas que publica semanal-

mente no jornal Folha de S.Paulo. Todos os textos são, na melhor essência da palavra e do gênero

crônica, baseados em fatos reais! O autor cria suas crônicas depois de escolher uma notícia no jor-

nal. Notícia vira literatura. Esporte, obituário, política, economia, artes e até classificados. Nada

escapa ao olhar apurado de Scliar, que faz aquilo que bem cabe ao cronista: olhar para aquilo que

ninguém notou.

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Page 18: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

2. As oficinas de leitura  21

oficinA 3

tronodocrono

josé rubens Siqueira e gabriela rabelo

editora companhia das Letras – São Paulo

Duas deliciosas peças de teatro para o público infantil-juvenil escritas por quem conhece muito do

assunto. Retomando temas gregos e árabes, com Sherazade e Cronos, e misturando histórias de di-

versas culturas e épocas, os textos tratam com delicadeza e humor de assuntos sérios, como a me-

mória, a razão, a intuição. Para ler e representar.

A falecida

nelson rodrigues

É impossível não delirar com a vida da protagonista Zulmira, que, depois de tantos dissabores da

vida, só espera ter um enterro luxuoso. Para esse enterro é que a personagem vai dedicar toda sua

energia e sonho. Desde 1953, o texto vem sendo lido e relido, montado sob as mais diversas leituras

teatrais. Uma obra-prima do teatro brasileiro.

oficinA 4

o que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador

organização de ieda de oliveira

editora DcL – São Paulo

Definir o que é qualidade em ilustração de livros de literatura infantil e juvenil não é tarefa fácil. No

entanto, Ieda de Oliveira, doutora em Letras e especialista em literatura infantil e juvenil, reuniu um

time de conceituados ilustradores brasileiros e portugueses para discorrer sobre o assunto por meio

de artigos e depoimentos. Uma obra-prima ilustrada pelas palavras dos artistas.

As aventuras de bambolina

michelle Lacocca

editora Ática – São Paulo

O texto está escrito, mas não está lá, não está visível. Quantas aventuras aguardam essa boneca de

pano! Por quantas mãos passará? O que seus donos farão com ela? Um livro só de imagens para o

leitor compor sua história dentro de um enredo que parece estar pronto, mas que reserva muitas

surpresas. Para quem já teve e para quem nunca imaginou ter uma boneca.

oficinA 5

Poesia fora da estante volume 2

vários autores

editora Projeto – Porto Alegre

Deliciosa antologia de poesia brasileira dirigida para adolescentes, na qual a regra é nenhuma regra.

São 31 poetas e 61 poemas, que mesclam passado e presente, literatura consagrada e letra de músi-

ca, folclore e reescrita. Dentre os autores, constam Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Mário

Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Vinicius de Moraes,

Chico Buarque e Cazuza.

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Page 19: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

22  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

os cem melhores poemas brasileiros do século

organização de Ítalo moriconi

editora objetiva – rio de janeiro

Como escolher 100 poemas que traduzam o século 20? Essa foi a árdua tarefa assumida pelo profes-

sor Ítalo Moriconi. Ao final, uma coletânea de belos, estranhos, ácidos, vibrantes, românticos, verti-

ginosos poemas está à disposição dos leitores. Dentre os critérios usados, pode-se destacar o desejo

de que cada poema fosse inesquecível.

Com.base.em.leituras.realizadas.entre.as.oficinas,.os.participantes.são.convidados,.desde.o.primeiro.en-contro,.a.elaborar.Diários.de.Leitura:.espaço.privilegiado.para.anotar.os.livros.lidos,.as.emoções,.as.surpresas.e.até.as.tristezas.ou.as.leituras.que.não.trouxeram.prazer..A.proposta.é.escrever.em.torno.do.literário..Cada.grupo,.junto.com.seu.formador,.decide.o.formato.desse.registro.e.quem.serão.seus.escritores.e.seus.leitores.

Os.Diários.dialogam.com.a.possibilidade.de.uma.atividade.de.escrita.que.é.bastante.intimista,.mas,.que.pode.se.tornar.altamente.coletiva.e.auxiliar.a.espalhar.ideias.sobre.livros.e.leituras.por.meio.não.só.da.orali-dade,.mas.da.escrita..Em.cada.oficina,.os.participantes.se.reúnem,.compartilham.seus.registros.sobre.os.livros.lidos,.fazendo.indicações,.lendo.trechos.que.anotaram,.mostrando.imagens.que.selecionaram,.etc.

Ao.final.de.cada.encontro,.sugere-se.que.seja.realizada.uma.avaliação.para.identificar.se.os.objetivos.foram.cumpridos,.o.que.deve.ser.melhorado.para.as.próximas.oficinas.e.se.há.novas.sugestões..A.possibilidade.de.que.todos.se.pronunciem.é.fundamental.para.que.uma.atividade.de.longa.duração,.como.essa,.atinja.os.resultados.esperados..Sempre.que.possível,.a.avaliação.deve.ser.feita.por.escrito.pelos.formadores.e.pelos.participantes.

2.3 A eQUiPe De formADoreS

A.equipe.de.formadores.das.oficinas.de.leitura.deve.ser.composta,.essencialmente,.por.amantes.da.lite-ratura.e.leitores.experientes..Em.sua.maioria.specialistas.na.área.de.Literatura.e.Pedagogia,.o.fundamental.é.que.esses.educadores.conheçam.muitos.textos. literários.e.tenham.suporte.teórico.e.metodológico.para.conduzir.discussões.em.torno.da.leitura.e.indicar.materiais.de.qualidade.para.o.grupo.

Durante.os.encontros,.esses.profissionais.devem.organizar.um.trabalho.sistemático.que.possibilite.aos.participantes.muitas.leituras,.de.várias.maneiras,.sozinhos,.em.grupos.ou.com.a.mediação.de.um.leitor.mais.experiente..Para.isso,.é.necessário.que.conheçam.autores.e.gêneros,.temas.e.personagens,.propiciando.refle-xões.que.auxiliem.na.construção.de.sentidos.para.as.leituras.realizadas.e.no.traçado.de.um.novo.percurso.leitor.para.cada.um.dos.multiplicadores.

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Page 20: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

3.1 objetivoS e conteúDoS trAbALhADoS

É.parte.da.proposta.do.projeto.oferecer.ao.município.a.capacitação.de.grupos.de.teatro.locais.ou.a.formação.de.um.novo.grupo.por.meio.de.uma.oficina.específica,.ministrada.por.profissionais.da.área.teatral..O.objetivo.é.incentivar.a.formação.artística.e.cultural,.possibilitando.a.adaptação.de.obras.literá-rias.para.o.teatro..Os.participantes.são.instruídos.a.empregar.as.técnicas.e.os.conhecimentos.adquiridos.para.a.montagem.dos.espetáculos,.selecionando.textos.literários.brasileiros.infanto-juvenis.ou.de.interes-se.geral.dos.municípios.envolvidos.

O.projeto.prevê.a.concretização.das.peças.teatrais.em.praças.públicas,.bibliotecas.e.escolas,.sendo.funda-mental.a.transmissão.aos.participantes.da.noção.de.que.o.teatro.pode.acontecer.em.qualquer.espaço.

No.primeiro.dia.de.encontro,.os.participantes.conhecem.as.diretrizes.do.projeto,.a.proposta.que.terão.pela.frente.e.a.rotina.de.trabalho.com.o.grupo..No.segundo.e.no.terceiro.dia,.vivenciam.jogos.teatrais.e.exercícios.de.improvisação.baseados.em.temáticas.abordadas.no.texto.a.ser.encenado..No.quarto.e.último.dia,.conhecem.o.conto.que.irão.apresentar.e.dão.início.ao.trabalho.de.montagem.do.mesmo.

Conteúdos:• histórico do projeto;

• estrutura de trabalho dos grupos de teatro;

• jogos teatrais;

• exercícios de improvisação;

• características das adaptações de textos literários para a encenação;

• teatro dramático x teatro épico;

• produção teatral.

3.2 eStrAtégiAS formAtivAS

Durante.os.quatro.dias.de.encontro,.o.grupo.formado.utilizará.o.modelo.aprendido.para.a.montagem.de.pequenas.peças.teatrais.de.textos.curtos.de.diferentes.autores.e.estilos.para.apresentação.nas.cidades.

3. capacitação e apresentações teatrais

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24  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

abrangidas.pelo.projeto..Ao.longo.do.trabalho.com.o.capacitador,.os.participantes.terão.indicações.fun-damentais.e.um.esboço.da.primeira.montagem..A.partir.daí,.terão.aproximadamente.30.dias.para.–.atra-vés. de. encontros,. ensaios. e. produções. –. dar. um. acabamento. compatível. que. permita. a. apresentação.pública.da.peça.

Como.parte.do.trabalho.desenvolvido,.o.grupo.também.é.convidado.a.participar.das.oficinas.de.leitura,.buscando.uma.maior.integração.entre.as.duas.vertentes.do.projeto..Além.disso,.são.estimulados.a.realizar.um.Diário.de.Bordo,.registrando.o.processo.criativo,.as.descobertas.e.os.impasses.vividos.durante.a.monta-gem.e.a.apresentação.dos.espetáculos.

A.apostila.das.oficinas.do.teatro,.disponível.ao.final.dessa.sistematização,.contém.orientações.precisas.sobre.a.formação.e.a.rotina.dos.grupos,.relações.entre.o.trabalho.das.oficinas.de.teatro.e.de.leitura,..indica-ções.bibliográficas.sobre.o.tema.e.alguns.textos.teóricos.de.apoio..Os.participantes.recebem.também.algu-mas.instruções.para.as.fases:

pré-produção (escrita e organização de um projeto; elaboração de release para apoiadores culturais e para

divulgação das apresentações);

produção (definição de datas e locais para apresentação; organização e necessidades do espetáculo; verbas

e orçamentos; apoios culturais, empréstimos de itens e parcerias; imprevistos durante o percurso; tempora-

das e apresentações esporádicas; administração);

pós-produção (desmontagem; devolução de itens, agradecimentos e retorno a apoiadores e parceiros; clip-

ping; relatório; apresentações fora do projeto).

Além.da.literatura.específica.para.a.área.teatral.doada.pelo.projeto,.o.grupo.teatral.recebe,.por.ocasião.da.oficina.de.capacitação,.uma.pequena.biblioteca.técnica.de.títulos,.que.permanecem.sob.sua.responsabilidade.no.decorrer.do.ano.

A.coordenação.das.atividades.teatrais.estabelece.um.elo.permanente.de.apoio.para.as.questões.inerentes.à.montagem.e.produção,.uma.espécie.de.supervisão.a.distância.–.por.contatos.telefônicos.e.correio.eletrôni-co,.além.do.envio.de.material.didático.e.leituras.

Cada.grupo.escolhe.o.interlocutor.que.fará.a.ponte.entre.grupo,.produção.e.coordenação.do.projeto..Esse.participante.(que.chamamos.de.“produtor.local”).necessariamente.integra.também.a.parte.artística.do.projeto.

3.3 A eQUiPe De formADoreS

A.equipe.de.formadores.das.oficinas.de.teatro.deve.ser.composta,.essencialmente,.de.atores.e.amantes.da.arte.de.representar..Em.sua.maioria,.profissionais.da.área.de.Teatro.e.Arte-Educação,.o.fundamental.é.que.saibam.administrar.a.criação.e.a.gestão.de.um.grupo.e.tenham.suporte.teórico.e.metodológico.para.condu-zir.discussões.em.torno.da.dramaturgia.e.da.encenação,.além.da.adaptação.de.textos.literários.para.o.teatro..Para.isso,.devem.estar.em.contato.permanente.com.as.temáticas.abordadas.pelo.projeto.e.buscar.constante-mente.novos.materiais.relacionados.aos.temas.

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3. Capacitação e apresentações teatrais  25

3.4 APreSentAçõeS teAtrAiS

O.grupo.tem.a.responsabilidade.de.montar. (ensaiar.e.produzir).e.apresentar.quatro.diferentes.peças,.sendo.duas.montagens.no.1o.semestre.e.outras.duas.no.2o.semestre,.conforme.cronograma.proposto.no.iní-cio.deste.material.

O.ciclo.de.cada.peça.é.de.aproximadamente.2.meses:.no.primeiro.mês.o.grupo.ensaia.e.produz.a.peça.(cenário,.figurino,.iluminação,.etc).e.no.segundo.mês.apresenta.nos.diferentes.espaços.da.cidade.

É.fundamental.que.o.grupo.organize.um.cronograma.mais.detalhado.das.épocas.de.ensaios.e.produção.e.dos.espetáculos.

3.4.1 Seleção de textos e montagem

As.obras.para.montagens.serão.contos.da.literatura.brasileira,.escolhidos.segundo.sua.qualidade.artística.e.possibilidades.cênicas..Serão.apresentados.sob.forma.de.texto.ou,.eventualmente,.como.livro,.em.especial,.no.caso.da.literatura.infantil,.em.que.as.ilustrações.ajudam.a.narrar.o.conto.pretendido.

É.importante.que.a.coordenação.do.projeto.cuide.da.disponibilização.desses.textos.e.livros.para.os.atores,.bem.como.cuide.da.autorização.de.utilização.do.obra.com.o.autor.

A.seleção.do.texto.a.ser.encenado.deve.respeitar.as.leis.de.direito.autoral..No.caso.dos.autores.de.domínio.público,.não.é.necessário.solicitar.autorização.para.o.uso.do.texto..Para.as.obras.dos.escritores.contemporâ-neos,.o.grupo.deverá.recorrer.às.editoras.que.detêm.os.direitos.desses.autores.(consultar.se.a.obra.é.de.dominio.público.em.www.dominiopublico.gov.br).ou.à.SBAT.–.Sociedade.Brasileira.de.Autores.(www.sbat.com.br)..

Durante.o.processo.de.montagem,.os.atores. serão.orientados.a. realizar.uma.transposição.do.conto.à.linguagem.teatral,.preservando.em.sua.medida.a.originalidade.do.escrito..A.proposta.é.que.possam.ler.e.aprofundar. diferentes. interpretações. sobre. o. texto,. discutindo. e. experimentando. formas. de. trazê-lo. aos.palcos.e.outros.espaços.

Os.dois.primeiros.contos.já.lhes.serão.entregues.por.ocasião.da.oficina.de.capacitação..Os.outros.dois.restantes.serão.apresentados.à.medida.que.o.projeto.avance.para.um.bom.processo.de.criação.cênica.

3.4.2 Produção

Desde.a.oficina.de.capacitação,.os.grupos.são.encorajados.e.estimulados.a.desenvolverem.seus.trabalhos.contando.com.recursos.próprios.e.adaptando-se.às.realidades.locais.

A.busca.de.parceiros.que.doem,.emprestem,.permutem.materiais.é.um.bom.caminho.para.produzir.um.espetáculo..Muitas.vezes,.uma.produção.teatral.de.pequeno.porte.é.“salva”.pelos.parceiros.chamados.apoia-dores.culturais,.que.podem.fornecer.diversos.tipos.de.produtos..Tecidos,.gráfica.para.imprimir.material.de.divulgação.e.qualquer.outro.tipo.de.produto.pode.ser.conseguido.gratuitamente.em.troca.de.publicidade.da.logomarca.da.empresa.parceira.nas.peças.de.divulgação.do.espetáculo..Para.isso,.faz-se.um.pequeno.release.em.que.os.elementos.principais.do.espetáculo.são.apresentados.ao.futuro.parceiro..É.melhor.que.seja.um..release.curto,.de.fácil. leitura.e.com.ênfase.nos.principais.itens.que.chamem.a.atenção.para.a.peça..Nesse.

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26  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

material,.podemos.colocar.alguns.itens.do.projeto,.como.histórico.da.montagem.e.do.grupo,.ficha.técnica.e.locais.de.apresentação,.público-alvo.e.os.materiais.necessários.

Os.custos.inerentes.aos.deslocamentos.(e.eventuais.alimentação.e.estadia).nos.espaços.de.apresentação.serão.responsabilidade.dos.organizadores.do.projeto.e.parceiros,.conforme.o.caso,.mediante.a.aprovação.da.coordenação.do.projeto.

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Page 24: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

4.1 objetivoS e critérioS De SeLeção Do Acervo

A.renovação.do.acervo.literário.das.bibliotecas.dos.municípios.participantes.do.projeto.tem.o.objetivo.de.ampliar.o.acesso.a.títulos.de.qualidade.e.o.repertório.dos.leitores.locais,.alimentando.a.formação.de.comu-nidades.leitoras.

Os.livros.selecionados.buscam.atender.a.alguns.critérios:

contemplar interesses de leitores em diferentes estágios de aprendizagem da leitura (iniciantes, em processo,

fluentes e críticos);

possibilitar variadas experiências literárias por meio da diversidade de gêneros: poesia, contos, novelas,

romances, textos dramáticos, crônicas, histórias em quadrinhos, textos visuais etc.;

expressar a produção cultural de determinada língua, nação, comunidade (lendas, mitos e obras clássicas);

possibilitar a experimentação de variadas modalidades de leitura;

ampliar o contato com diferentes autores e estilos;

contemplar obras consagradas e textos contemporâneos.

O.processo.de.escolha.do.acervo.é.realizado.pelos.formadores.das.oficinas.de.leitura,.supervisionados.pelo.coordenador..Por.meio.da.consulta.aos.catálogos.das.editoras,.visitas.às.livrarias.e.feiras.e.resgate.de.algumas.obras.do.acervo.pessoal.dos.selecionadores,.uma.lista.de.títulos.é.criada.e.submetida.a.um.intenso.trabalho.de.pesquisa.com.livreiros.a.fim.de.verificar.a.disponibilidade.dos.mesmos.nos.estoques.para.poste-rior.aquisição..É.importante.considerar.a.necessidade.de.adquirir.vários.volumes.de.uma.mesma.obra.para.garantir.o.diálogo.entre.um.número.maior.de.leitores.de.um.mesmo.livro.

O.fundamental.é.que.os.títulos.escolhidos.sejam.conhecidos.pelos.formadores,.já.que.esses.serão.os.responsáveis.por.essa. seleção.e.durante.as.oficinas.deverão.apresentar.parte.desse.material.no.Mar.de.Histórias.

Eis.algumas.sugestões.de.livros.que.poderão.compor.o.acervo.literário.e.que.foram.títulos.componentes.da.doação.de.acervo.feita.nas.edições.do.projeto.Letras.de.Luz.para.os.municípios.participantes:

4. renovação do acervo de livros literários

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Page 25: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

28  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

tÍtULo AUtor eDitorA

1 12 Fábulas de Esopo Hans Gartner Ática

2 20.000 Léguas Submarinas Julio Verne Cia. das Letras

3 A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken Gaarder, Josteins, Hagerup, Klaus, Bertoul e Sonali Cia. das Letras

4 A Bruxa do Armário de Limpeza Pierre Gripari Martins Fontes

5 A Cabana Will P. Young Sextante

6 A Causa Secreta (literatura brasileira em quadrinhos) Machado de Assis Escala Educacional

7 A Celestina Fernando de Rojas L&PM

8 A Curiosidade Premiada Fernanda Lopes de Almeida Ática

9 A Dobradura do Samurai Ilan Brenman Cia. das Letras

10 A Falecida Nelson Rodrigues Nova Fronteira

11 A Formiga Aurélia e Outros Contos Regina Machado Cia. das Letras

12 A Lei do Mais Forte e Outros Males que Assolam o Mundo Fernanda Lopes de Almeida Ática

13 A Loira do Banheiro Heloisa Prieto Ática

14 A Maldição da Moleira Índigo Girafinha

15 A Palavra Feia de Alberto Audrey Wood Ática

16 A Pedra do Meio Dia ou Artur e Isadora Bráulio Tavares Editora 34

17 A Porta Aberta Peter Brook Civilização Brasileira

18 A Professora de Desenho Marcelo Coelho Cia. das Letras

19 A Redação Antonio Skarmeta Record

20 A Santa Joana dos Matadouros Bertolt Brecht Paz & Terra

21 A Sociedade Literária e a Torta da Casca de Batata Annie Barrows Rocco

22 A Vassoura Encantada Chris Allsburg Cia. das Letras

23 A Volta ao Mundo em 52 Histórias Neil Philip Cia. das Letras

24 Abrindo Caminho Ana Maria Machado Cia. das Letras

25 Álbum de Figurinhas Fanny Abramovich Cia. das Letras

26 Alexandre e Outros Heróis Graciliano Ramos Globo

27 Amigos Helme Heine Cia. das Letras

28 Ana Z, Onde Vai Você? Nélida Piñon Cia. das Letras

29 Anjinho Eva Furnari Cia. das Letras

30 Antígona Sófocles L&PM

31 Arsene Lupin, Ladrão de Casaca Maurice Leblanc Ática

32 As 100 Melhores Crônicas Joaquim Ferreira dos Santos Objetiva

33 As 14 Pérolas da Índia ILan Brenman Brique-Book

34 As Aventuras de Bambolina Michele Iacocca Moderna

35 As Bruxas Roald Dahl Martins Fontes

36 As Eruditas Molière L&PM

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Page 26: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

4. Renovação do acervo de livros literários  29

tÍtULo AUtor eDitorA

37 As Fenícias Eurípides L&PM

38 As Grandes Aventuras - 30 Histórias Reais de Coragem e Ousadia Richard Plat Cia. das Letras

39 As Mentiras de Paulinho Fernanda Lopes de Almeida Ática

40 Asas! Jane Yolen Ática

41 Até as Princesas Soltam Pum Ilan Brenman e Ionit Zillberman Brinque Book

42 Auto da Barca do Inferno Gil Vicente L&PM

43 Auto da Compadecida Ariano Suassuna Agir

44 Beijo Roald Dahl Record

45 Belinda Bailarina Amy Young Ática

46 Bertolt Brecht - Teatro Completo, Vol. 3 Bertolt Brecht Paz & Terra

47 Boa Companhia: Haicai Rodolfo Witzig Guttilla Cia. das Letras

48 Bruxa Zelda e os 80 Docinhos Eva Furnari Ática

49 Buracos Louis Sachar Martins Fontes

50 Caixa Especial Shakespeare - Vol. 7 Shakespeare L&PM

51 Cara Sra. Leroy Mark Teague Ática

52 Casa Sonolenta Audrey Wood Ática

53 Casamento do Porcolino Helme Heine Ática

54 Coisas Frágeis Neil Gaiman Conrad Editora

55 Como Papai e Mamãe Se Apaixonaram Katharina Grossman-Hensell Scipione

56 Contos de Adivinhação Ricardo Azevedo Ática

57 Contos de Bichos do Mato Ricardo Azevedo Ática

58 Contos de Enganar a Morte Ricardo Azevedo Ática

59 Contos de Grimm - Vol. 1 Irmão Grimm Ática

60 Contos de Grimm - Vol. 2 Irmãos Grimm Ática

61 Cordel Patativa do Assaré Edras

62 Dia Brinquedo Fernando Paixão Ática

63 Dom Quixote em Quadrinhos Caco Galhardo Peirópolis

64 Doze Contos Peregrinos Gabriel García Márquez Record

65 Édipo Rei Sófocles L&PM

66 Entre o Mediterrâneo e o Atlântico - Uma Aventura Teatral Maria Lúcia Pupo Perspectiva

67 Escolas como a Sua Penny Smith Ática

68 Essa História Está Diferente

Xico Sá, Luis Fernando Verissimo, Cadao Volpato, Rodrigo Fresan, Mia Couto, Alan Pauls, Mario Bellatin, Carola Saavedra, Andre Sant’Anna e João Gilberto Noll

Cia. das Letras

69 Eu Nunca Vou Comer Tomate Lauren Child Ática

70 Faca sem Ponta, Galinha sem Pé Ruth Rocha Ática

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30  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

tÍtULo AUtor eDitorA

71 Fedra Racine L&PM

72 Feliz por Obrigação Chris Wormell Ática

73 Felpo Filva Eva Furnari Moderna

74 História do Lobo Marco Antonio Carvalho Ática

75 Histórias à Brasileira - Vol. 1 Ana Maria Machado Cia. das Letras

76 Histórias à Brasileira - Vol. 2 Ana Maria Machado Cia. das Letras

77 Histórias à Brasileira - Vol. 3 Ana Maria Machado Cia. das Letras

78 Histórias de Encantamento Hugh Lupton Martins Fontes

79 Histórias do Cisne Hans Christian Andersen Cia. das Letras

80 Histórias do Encantado Miriam Portela Moderna

81 Histórias para Acordar Diléa Frate Cia. das Letras

82 Histórias para Aprender a Sonhar Oscar Wilde Cia. das Letras

83 Ilíada e Odisséia de Homero - Uma Biografia Alberto Manguel Jorge Zahar

84 Ilíada e Odisséia em Quadrinhos Márcia Williams Ática

85 Improvisação para o Teatro Viola Spolin Perspectiva

86 Jogos para Atores e Não Atores Augusto Boal Civilização Brasileira

87 Lé com Crê José Paulo Paes Ática

88 Liberdade, Liberdade Millôr Fernandes e Flávio Rangel L&PM

89 Liga-Desliga Camila Franco, Jarbas Agnelli e Marcelo Pires Cia. das Letras

90 Lisístrata - A Greve Do Sexo Aristófanes L&PM

91 Lolo Barnabé Eva Furnari Moderna

92 Luas e Luas James Thurber Ática

93 Malasaventuras - Safadezas do Malasarte Pedro Bandeira Editora Moderna

94 Mania de explicação Adriana Falcão Salamandra

95 Maria Borralheira Silvio Romero Scipione

96 Matilda Roald Dahl Martins Fontes

97 Meu Livro de Folclore Ricardo Azevedo Ática

98 Meu Primeiro Livro de Contos de Fadas Mary Hoffman Cia. das Letras

99 Mitos, o Folclore do Mestre André Marcelo Xavier Formato

100 No Meio da Noite Escura tem um Pé de Maravilha Ricardo Azevedo Ática

101 Nossa Rua Tem um Problema Ricardo Azevedo Ática

102 Novas Velhas histórias Rosane Pamplona Brinque Book

103 O Careca Silvio Romero Scipione

104 O Carteiro Chegou Eduardo Brandão Cia. das Letras

105 O Casamento Suspeitoso Ariano Suassuna José Olympio

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4. Renovação do acervo de livros literários  31

tÍtULo AUtor eDitorA

106 O Caso da Borboleta Atíria Lúcia Machado de Almeida Ática

107 O Cavalinho Azul Maria Clara Machado Cia. das Letras

108 O Clube do Livro - Ser Leitor: Que Diferença Faz? Luzia de Maria Globo

109 O Diário de Zlata Zlata Filipovic, Heloisa Jahn e Antonio de Macedo Soares Cia. das Letras

110 O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá Jorge Amado Cia. das Letras

111 O Gênio do Crime João Carlos Marinho Editora Global

112 O Gigante de Meias Vermelhas Pierre Gripari Martins Fontes

113 O Grande Livro do Medo Adaptação de Xavier Valls Girafinha

114 O Homem do Princípio ao Fim Millôr Fernandes L&PM

115 O Imaginário Cotidiano Moacyr Scliar Global Editora

116 O Livro dos Pontos de Vista Ricardo Azevedo Editora Ática

117 O Livro Inclinado Peter Newell Cosac Naify

118 O Mensageiro das Estrelas Peter Sis Ática

119 O Noviço Martins Pena L&PM

120 O Outro Lado Istvan Banya Cosac Naify

121 O Presente da Vovó Sara Ghazi Abdel Qadir Edições S.M.

122 O Santo e a Porca Ariano Suassuna José Olympio

123 O Último Cavaleiro Andante: Uma Adaptação de Dom Quixote Will Eisner Cia. das Letras

124 Odisséia Ruth Rocha Cia. das Letras

125 Onda Suzy Lee Cosac Naify

126 Os Cem Melhores Poemas do Século Italo Moriconi Objetiva

127 Os Livros e os Dias Alberto Manguel Cia. das Letras

128 Os Pestes Roald Dahl Editora 34

129 Os Saltimbancos Ziraldo e Chico Buarque José Olympio

130 Outra Vez Ângela Lago Moderna

131 Papagaio do Limo Verde Silvio Romero Scipione

132 Para Gostar de Ler - Vol. 1 - CrônicasCarlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga

Ática

133 Para Gostar de ler - Vol. 2 - CrônicasCarlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga

Ática

134 Para Gostar de Ler - Vol. 8 - Contos Brasileiros

Graciliano Ramos, Ignácio de Loyola Brandão, José J. Veiga, Lima Barreto, Luiz Vilela, Marcos Rey e Stanislaw Ponte Preta

Ática

135 Para Gostar de Ler - Vol. 11 - Contos Universais

Anton Tchekhov, Edgar Allan Poe, Franz Kafka, Guy de Maupassant, Jack London, Miguel de Cervantes e Voltaire

Ática

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Page 29: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

32  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

tÍtULo AUtor eDitorA

136 Para Gostar De Ler - Vol. 36 - Feira de Versos

João Melquíades F. da Silva, Leandro Gomes de Barros e Patativa do Assaré

Ática

137 Para Gostar de Ler - Vol. 38 - Histórias de Ficção Cientfica

André Carneiro, Arthur C. Clarke, Bruce Sterling, Edgar Allan Poe, Eduardo Goligorsky, H. G. Wells, Isaac Asimov, Jean-Louis Trudel, Jorge Luiz Calife, Miguel de Unamuno, Millôr Fernandes e Rubens Teixeira

Ática

138 Pequeno Dicionário Poético Humorístico Elias Jos Paulinas

139 Persépolis Marjane Satrap Cia. das Letras

140 Poemas 1913-1956 Bertolt Brecht Editora 34

141 Poesia Fora da Estante - Vol. 2 Vera Aguiar Editora Projeto

142 Ponte para Terabítia Katherine Paterson Editora Salamandra

143 Que História é Essa? - Vol. 1 Flávio de Souza Cia. das Letras

144 Que História é Essa? - Vol. 2 Flávio de Souza Cia. das Letras

145 Raposa Margaret Wild Brinque Book

146 Rei Gilgamesh Ludmila Zeman Projeto

147 Robin Hood Neil Philip Cia. das Letras

148 Rosa Maria no Castelo Encantado Érico Verissimo Cia. das Letras

149 Sapatinhos Vermelhos Imme Ross Ática

150 Sete Histórias para Contar Adriana Falcão Salamandra

151 Sete Histórias para Sacudir o Esqueleto Ângela Lago Cia. das Letras

152 Sumri Amós Oz Ática

153 Teatro de Sombras de Ofélia Michael Ende Ática

154 Teatro IV Maria Clara Machado Agir

155 Teatro V Maria Clara Machado Agir

156 Toda Nudez Será Castigada Nelson Rodrigues Nova Fronteira

157 Totó Michael Rosen e Neal Layton Cia. das Letras

158 Trem de Alagoas Ascenso Ferreira WMF Martins Fontes

159 Tronodocrono Gabriela Rabelo e José Rubens Siqueira Cia. das Letras

160 Um Bonde Chamado Desejo Tennessee Williams L&PM

161 Um Contrato com Deus Will Eisner Livraria Devir

162 Viagem ao Brasil em 52 Histórias Silvana Salerno Cia. das Letras

163 Viagem ao Céu Monteiro Lobato Globo

164 Vice-Versa ao Contrário Heloisa Prieto Cia. das Letras

165 Zé Diferente Lúcia Pimentel Góes Melhoramentos

166 Zoo João Guimarães Rosa Nova Fronteira

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Page 30: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

4. Renovação do acervo de livros literários  33

4.2 DoAção

É.parte.da.proposta.do.projeto,.quando.conduzido.pela.Fundação.Victor.Civita,.a.doação.de.acervo.lite-rário.para.uma.biblioteca.previamente.selecionada.pelo.município.

A.doação.ou.renovação.do.acervo.deve.ser.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto,.que.pode.viabilizá-la.por.meio.de.parcerias.ou.investimentos.públicos.

A.escolha.deve.privilegiar.os.espaços.que.possam.garantir.maior.acesso.da.comunidade.a.esse.material..por.isso,.o.Letras.de.Luz.prioriza.a.doação.às.bibliotecas.públicas.municipais.

A.etapa.de.entrega.do.acervo.deve.ser.prevista.para.ocorrer.juntamente.com.a.terceira.oficina.de.leitura.do.projeto..Essa.opção.justifica-se.pelo.fato.de.que,.nesse.momento,.os.grupos.de.participantes.já.se.consti-tuíram.como.uma.comunidade.leitora.e,.de.alguma.forma,.já.tiveram.contato.com.as.outras.vertentes.do.projeto(oficinas.e.apresentações.teatrais).

A.proposta.é.de.que.organize-se.um.evento,.convidando.os.principais.envolvidos.com.o.trabalho.(parti-cipantes.das.oficinas,.grupo.de.teatro,.formadores,.autoridades.locais,.representantes.da.comunidade.e.dos.parceiros).e.nesta.ocasião.fazer.a.entrega.do.acervo.à(s).biblioteca(s).previamente.selecionada(s)..Pode-se,.tornar.esse.momento.ainda.mais.rico,.convidando.o.grupo.de.teatro.para.apresentar-se..É.um.dia.de.festa,.no.qual.o.município.celebra.o.investimento.na.formação.de.leitores.e.compartilha.a.experiência.de.fazer.parte.de.um.projeto.que.vê.a.leitura.como.prioridade.

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Page 31: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

AnexoS

APoStiLA 1oficinA 1 – mil e uma Leituras

Livros e leitura: agentes, espaços e formas narrativas

QUeStionÁrio De chegADA

Ouvi falar do Projeto Letras de Luz ...........................................................................

Estou chegando e espero que ....................................................................................

Já participava do Projeto e espero que ......................................................................

Eu atuo com..............................................................................................................

Penso que participar das oficinas me ajudará a .........................................................

Na minha participação anterior, aprendi ...................................................................

Meu último livro lido foi ...........................................................................................

Minhas leituras amadas são ......................................................................................

O que tenho feito para a formação de uma comunidade leitora ................................

objetivos:

• apresentar ou retomar histórico, conteúdos e objetivos do projeto;

• reconhecer a importância de projetos de leitura para as comunidades, sensibilizando e organizando o grupo

para as atividades propostas;

Apostilas das oficinas de leitura

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Page 32: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

36  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

• refletir sobre as diferenças entre o leitor individual e o leitor público;

• refletir sobre os diferentes propósitos e comportamentos leitores;

• iniciar uma discussão sobre gêneros literários;

• compreender e iniciar atividades ligadas ao projeto;

• reconhecer a importância da biblioteca como um centro de leitura e difusão cultural;

• promover gestos de aproximação e cumplicidade com o espaço da biblioteca.

conteúdos:

• a literatura e seus primórdios: do mito à literatura;

• os diferentes propósitos leitores e a relação com os diferentes comportamentos leitores;

• a biblioteca: histórico, utilização, acervos e função cultural;

• apresentação e discussão das atividades do Diário de Leitura.

Desenvolvimento

1. Abertura: boas-vindas e reconhecimento do grupo. O formador pode começar com uma contação de his-

tória ou uma leitura. Ler ou contar histórias na abertura de oficinas cumpre importantes funções: é modelo

para os participantes, cria um clima de cumplicidade entre todos e aumenta o leque de textos conhecidos.

Invariavelmente, as pessoas começam a trazer, com o decorrer da formação, seus textos para ler na abertura

e fechamento das oficinas.

É importante que o formador conheça o público participante, o que deseja, o que faz, seus anseios e sonhos.

Ao conhecer essas motivações é possível obter um breve panorama da realidade local e dos desafios que se

tem pela frente. Acima há um Questionário de Chegada, que pode servir de guia para essa apresentação. É

importante lembrar que precisamos recolher informação sobre o leitor na vida e leitor na escola/comunida-

de desde esse primeiro contato, pois essa discussão norteará todo o projeto.

2. Apresentação do projeto: caso seja a primeira vez que o projeto acontece na cidade, esse é o momento de

apresentar a iniciativa, sensibilizando o grupo para a proposta. Caso o município já tenha participado da

iniciativa, a conversa deve ser útil e prazerosa para que os participantes consigam perceber a abrangência

do projeto e o quanto já foi realizado.

O diálogo sobre leitura é indispensável: o que apreciam e costumam ler, as leituras inesquecíveis, as que

deixaram gosto amargo, as obrigatórias, as feitas para outros públicos. Aqui também é importante lembrar,

e instigar, que os participantes de edições anteriores possam falar dos livros lidos durante o projeto nos anos

anteriores, os livros que foram procurados da doação do acervo, aqueles que foram mais queridos. Enfim, é

momento importante de sabermos um pouco como esse projeto está interferindo na comunidade de leitores.

3. Apresentação dos conteúdos: fazer a leitura dos conteúdos e objetivos, questionando o que esperam e o que

sabem sobre eles. Para aqueles que já estavam no projeto, é importante investigar se conseguem visualizar as

mudanças introduzidas e no que elas contribuem na formação de uma comunidade leitora. Nesta apresenta-

ção de conteúdos, as questões-chave do projeto devem ser lembradas: o trabalho cada vez mais intenso na

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Page 33: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  37

formação de um leitor que se aprimore na sua leitura individual e na coletiva; que enfrente leituras diversifica-

das e que consiga falar delas e reconhecê-las dentro de um leque grande de produções; que saiba, cada vez

mais e melhor, escolher suas leituras dentro de parâmetros, necessidades e desejos bem definidos. Não se

pode, também, esquecer que nossa escolha pelo trabalho com gêneros em função da riqueza linguística e

literária e da preocupação com o conhecimento das diversas manifestações literárias que um acervo pode

conter e do qual não podemos manter alunos e demais leitores afastados.

4. Por que gêneros: o primeiro texto-farol da apostila, Narrativas iluminam, retoma um tema querido e já bas-

tante trabalhado pelo projeto, que é o da necessidade de contar histórias, porém agora traz novas conside-

rações, quais sejam, o nascimento da própria literatura e os gêneros literários. Quando leio um texto, estou

lendo um gênero específico. Acreditamos que diferentes gêneros e propósitos leitores solicitam diferentes

comportamentos leitores. Lê-se um poema de maneira diferente de uma crônica. Assim como a epopeia e o

cordel exigem leituras distintas. Reconhecer e trabalhar com essa diversidade é também pensarmos em au-

tores, estilos e épocas que fazem parte da rica história da literatura. Cabe aqui uma rodada de conversa que

instigue os participantes a pensarem sobre esse tema, o que lembram de ter aprendido e lido. Quais livros

leram, como leram? Quais gêneros são conhecidos? O que sabem sobre eles?

5. Discussão sobre os propósitos leitores: hora de estudar e discutir como lemos, para que e para quem. O

texto Ler na vida, ler na escola/comunidade, que está no final desta apostila, trata dos propósitos leitores

que desejamos que os participantes discutam. O formador pode dividir os participantes em vários grupos

e propor a leitura de diferentes gêneros (contos, manuais, artigos, mapas, notícias, etc.), com diferentes

objetivos (ler para localizar uma informação precisa, ler para estabelecer relações entre diferentes textos,

ler para apreciar, ler para se informar, etc.). Em seguida, o grupo pode discutir as atividades leitoras que

são individuais ou coletivas e a maneira como o leitor se comporta diante de cada uma delas. O objetivo

é que os participantes percebam que não existe uma única forma de ler e que, no caso do nosso projeto,

ao longo de todas as oficinas, exercitaremos diferentes propósitos e comportamentos leitores, focando

alguns gêneros literários.

6. espaço biblioteca: à segunda parte da oficina é dedicada à Biblioteca e se possível realizada na Biblioteca,

espaço tão privilegiado de fomento à leitura. Pode -se começar a discussão com a leitura do texto A Sala dos

Livros Mortos, de Inácio de Loyola Brandão (O Estado de S.Paulo, 4/7/2008) ou de outro belo conto que

aborde o amor pelos livros e, após a leitura, os participantes podem responder ao questionário inspirador,

ambos ao final da apostila. Por tratar-se de um questionário mais afetivo que aferidor de dados, as respostas

podem ser dadas coletivamente, em voz alta, por aqueles que o desejarem; porém é muito importante que

todos o respondam para que cumpram essa breve análise do uso das bibliotecas de sua cidade. Uma atenção

especial deve ser dada ao responsável pela biblioteca local, que é convidado a falar do lugar, da quantidade

de livros, do funcionamento e outros dados que julgar importantes. Ele é nosso anfitrião! É importante ques-

tionar quais os livros mais queridos, mais retirados e lidos, quais os esquecidos.

7. o trabalho nas bibliotecas: a apostila propõe uma reflexão sobre bibliotecas a partir do texto Manifesto da

UNESCO, o qual pode ser lido coletivamente e “inspirar” uma boa conversa. O importante é pensar no es-

paço – afetiva e funcionalmente; – social e pedagogicamente. O objetivo maior dessa leitura e discussão é

refletir sobre o papel de cada um na valorização das bibliotecas escolares, públicas, particulares e daquelas

que se formam nos mais distintos lugares sob as também mais distintas condições.

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Page 34: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

38  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Algumas sugestões de atividades a serem desenvolvidas, caso a oficina seja

realizada em uma biblioteca:

• Organizar um sebo e feira de trocas em todas as oficinas;

• Selecionar do acervo os livros, gêneros, autores e temas que serão tratados na

próxima oficina para possibilitar uma maior aproximação do participante com o

conteúdo;

• Trabalhar na formação de um canal de comunicação entre todos os trabalhadores

de bibliotecas e salas de leitura do projeto;

• Discutir o acervo, as oficinas, as possibilidades de troca;

• Manter um painel com notícias do projeto e das atividades literárias e culturais da

cidade;

• Convidar participantes a fazer carteirinha de usuário, caso seja possível.

8. Apresentação do projeto diários de leitura: como última parte do encontro, apresentamos atividades nas

quais possamos exercitar alguns conhecimentos e saberes discutidos na oficina e que complementem os

objetivos centrais do projeto. Nessa oficina, apresentamos os Diários de Leitura: proposta que dialoga

justamente com essa possibilidade de uma atividade que é bastante intimista e particular (como é, em

essência, esse tipo de escrita), mas que pode se tornar altamente coletiva e auxiliar a espalhar ideias sobre

livros e leitura por meio não só da oralidade, mas da escrita. Por que é importante fazer anotações em

diários? Eles são individuais ou coletivos? O que é possível aprender com os registros feitos pelos diários

que estão na apostila? Por onde circularam e circulam tais diários? Qual contribuição dos diários para as

atividades de leitura?

Ao responder coletivamente tais questões, o grupo pode eleger quais diários deseja fazer, se com o

grupo, se com os alunos, se com os pais. Importante não esquecer que o formador é sempre modelo e,

portanto, pode inaugurar uma página de um diário que ele fará do projeto ou das oficinas ou ainda

levar algumas outras sugestões de trabalho com diários que partam de sua própria experiência. Nesse

primeiro encontro, os participantes poderão iniciar seus diários escrevendo suas memórias leitoras,

contando seu processo de aprendizagem da leitura e da escrita, os primeiros livros lidos, experiências

marcantes, livros inesquecíveis, etc. Poderão também optar por iniciar seus diários redigindo uma Car-

ta de intenções sobre o seu papel leitor, basedos em algumas reflexões, como: de que forma pretendo

avançar como leitor individual? De que forma posso melhorar minha atuação como leitor coletivo?

Muitos outros combinados podem ser feitos com e para essa atividade. Como circularão os diários?

Como serão preenchidos? Como se dará um uso social e coletivo a eles? São exemplos de questões

importantes. Uma dica que pode funcionar, caso se deseje fazer o diário do grupo, é que ele também

contenha trechos dos livros lidos ao longo do ano e que, assim, seja uma pequena antologia de textos

a ser compartilhada por muitos leitores.

9. Atividade final – mar de histórias: nosso encontro termina com o Mar de Histórias. Nesse primeiro dia,

estarão navegando no Mar os livros doados pela coordenação do projeto para esse encontro e outros títulos

que o formador levou para ilustrar a oficina.

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Page 35: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  39

Se o espaço da oficina for uma biblioteca pública e for possível retirar livros, os participantes podem colocar

os livros que levarão para leitura e fazer comentários dos motivos que os levaram à escolha daquele título. É

importante recomendar que os participantes procurem em casa e nos acervos que lhe são disponíveis livros de

crônicas para a próxima oficina. A atividade do Mar de Histórias deve servir de modelo para que os professo-

res e demais participantes sintam-se inspirados a reproduzir em suas comunidades, sejam salas de aula ou não.

É importante lembrá-los de que os livros deverão ser lidos até o próximo encontro para que os participantes pos-

sam circular por todos os gêneros que serão abordados. Cabe aqui pensar em como essa leitura pode ser estimu-

lada com cada grupo. Podem retirar outros títulos na biblioteca? Podem se valer do acervo dos anos anteriores?

Podem trocar com amigos e colegas de trabalho ao longo do ano? Como farão a socialização das leituras?

10. conto do grupo de teatro: procurando aproximar ainda mais as relações entre o trabalho dos grupos de

teatro e as oficinas de leitura, as apostilas trarão os contos que serão encenados ao longo do ano. Nesse

momento, o formador pode solicitar que alguém do grupo de teatro comente sobre o trabalho que está sen-

do desenvolvido com o texto e convidar o grupo a ler o conto escolhido. Nesse caso, como exemplo de

proposta, encontra-se ao final da apostila o texto O enfermeiro, de Machado de Assis, coletivamente como

despedida da oficina.

11. Anexo: o formador pode indicar para o próximo encontro a leitura do material produzido por outro projeto da

Fundação Victor Civita, o Projeto Entorno8. Essa leitura é a do texto da Ana Flávia Castanho Biblioteca de

sala:espaço de formação de leitores, que apresenta várias propostas de atividades (projeto, sequência, atividade

permanente) de leituras que podem ser realizadas em bibliotecas.

12. Avaliação: é importante fazer uma avaliação do encontro para identificar se os objetivos foram cumpri-

dos, o que deve ser melhorado para os próximos encontros e se há novas sugestões. Vale incluir na ava-

liação questões voltadas para as ações de fomento à leitura, como leitor individual ou público,

desenvolvidas pelos participantes ou que estiveram presentes. A possibilidade de que todos se pronun-

ciem é fundamental para que sejam atingidos bons resultados. Sempre que possível, a avaliação deve ser

feita por escrito.

13. Preparando o próximo encontro: prepara-se a turma para a segunda oficina, anunciando o tema que será

trabalhado (veja conteúdos no começo da apostila) e solicitando que tragam contribuições, orientando -os

para a socialização das reflexões dos diários de leitura que serão apresentadas para o grupo.

recomendações de bibliografia básica e sites interessantes

COELHO,.Nelly.Novaes..O conto de fada..2ª.ed..São.Paulo,.Ática,.1991

Nelly.é.a.grande.especialista.de.Literatura.Infantil.e.Juvenil.da.USP.e.construiu.uma.pequena.obra.prima.sobre.o.conto.de.fadas.e.o.conto.maravilhoso..Um.livro-pesquisa.fundamental.que.deu.origem.a.muitos.outros.estudos.poste-riores..Pertence.a.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora.

MANGUEL,.Alberto..Uma história da leitura. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.1997

O.autor.é.um.grande.especialista.da.história.da.leitura..Neste.seu.livro.inaugural.sobre.o.tema,.Manguel.fala.dos.movimentos.políticos,.sociais.e.culturais.nos.quais.o.livro,.ou.a.sua.falta,.exerceu.um.papel.fundamental..Como.ele.diz:.“...a.leitura.é.a.mais.civilizada.das.paixões...”

8. http://www.fvc.org.br/projeto-entorno.shtml

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Page 36: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

40  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

____A cidade das palavras. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.2008

Mais.um.belíssimo.livro.de.Manguel,.agora.investigando.o.motivo.pelo.qual.a.humanidade.continua.junta..É.a.li-teratura.que.vai.dar.algumas.respostas:.nas.histórias.que.contamos.para.saber.quem.somos..Uma.leitura.absolutamen-te.encantadora.

MATOS,.Gislayne.Avelar.e.SORSY,.Inno..O ofício do contador de histórias. 2ª.ed..São.Paulo,.Martins.Fontes,.2007

Gislayne,.arte.terapeuta.brasileira.de.Minas.Gerais.e.Inno,.contadora.de.histórias.africana.se.juntaram.na.tarefa.de.fazer.um.delicioso.e.importante.livro.sobre.a.arte.(e.necessidade).de.contar.histórias..Livro.traz.teoria.e.muitas....mui-tas....histórias.

SILVEIRA,.Julio.(org.)..A Paixão pelos livros..1ª.ed..Rio.de.Janeiro,.Casa.da.Palavra,.2004

Antologia.de.diversos.textos.e.autores,.em.diversas.épocas..Exemplos.singulares.de.manifestações.de.amor.aos.li-vros,.testemunhos.dos.prazeres.escondidos.nas.bibliotecas,.casos.de.paixão.explicita.pelo.livro.e.pela.leitura.

SOARES,.Angélica..Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.2005

A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea,.num.esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.tão.complexos.textos.literários..Pertence.a.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora.

STALLONI,.Yves..Os Gêneros literários..1ª.ed..Rio.de.Janeiro,.DIFEL,.2001

Yves,.da.Universidade.de.Toulon.na.França,.discute.a.questão.dos.gêneros.e.pretende.que.o.leitor.reconheça-os.dentro.de.uma.perspectiva.histórica.literária.e.também.da.crítica.analítica.

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Page 37: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  41

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textos citados na apostila da oficina 01

texto-farol: Narrativas iluminam, de celinha nascimento

Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto

Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e trata da im-

portância das histórias na maneira como a humanidade foi se constituindo e se

compreendendo.

Você.certamente.já.ouviu.muitas.histórias.na.vida..O.tempo.todo.estamos.contando.histórias,.mesmo.que.não.saibamos..Quando.dizemos.bom.dia,.como.vai.e.logo.começamos.a.contar.como.foi.nossa.manhã,.nos-

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Page 38: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

42  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

so.dia.de.trabalho,.nosso.dia.em.casa,.o.que.fizemos.para.o.jantar,.o.que.compramos.no.mercado,.o.que.disse.o.chefe,.o.que.ouvimos.no.rádio,.enfim,.nossa.existência.é.uma.extensa.e.ininterrupta.narrativa..É.pra-ticamente.impossível.viver.sem.narrativas.

Antes.de.começar.a.ler.este.primeiro.texto.da.apostila.de.2009,.certamente.o.formador.já.contou.alguma.história.para.começar.o.curso,.contou.a.história.do.Letras.de.Luz.nos.dois.anos.que.ele.aconteceu.e.contou.alguma.história.de.si.mesma,.talvez.vocês.também.já.tenham.contado.o.que.estão.fazendo.aqui,.o.que.espe-ram.do.curso.e.tantas.outras.pequenas.histórias.

A.humanidade.sempre.precisou.de.histórias..Melhor.dizendo,.sempre.se.constitui.através.e.com.as.his-tórias..Desde.que. começou.a.pintar. em.cavernas,. e.muito.provavelmente. antes.disso,.precisava. contar. e.narrar..Nas.belas.palavras.do.escritor.Daniel.Pennac.em.seu.livro Como um romance:.“O.homem.escreve.li-vros.porque.se.sabe.mortal”..Precisa,.portanto,.guardá-las.bem,.gravá-las.para.posteridade.

Provavelmente.a.maneira.mais.ancestral.de.criar.e.cultivar.histórias.nos.chegue.através.dos.mitos,.das.narrativas.mitológicas..Os.mitos.ocuparam.um.espaço.fundamental.na.vida.do.homem:.era.preciso.dar.res-postas.para.o.cotidiano.e.as.narrativas.foram.um.caminho.de.beleza.e.confiança.para.solução.das.dúvidas,.medos,.preocupações.e.curiosidades.do.homem..Os.mitos.cumpriam.uma.função.delirante.para.a.humani-dade.que.não.conseguia.entender.as.maravilhas.e.sustos.que.os.cercavam..A.grandiosidade.e.a.hostilidade,.a.exuberância.e.o.surpreendentemente.apavorante.conviviam.diária.e.cotidianamente.de.maneira.fascinante..Como.entender.aquele.mundo.todo?

Os.mitos.sobreviveram.durante.séculos.e.séculos,.contados,.recriados,.explicavam.e.davam.beleza.ao.mundo,.davam.harmonia.e.compreensão.a.um.caos.aparente..Num.indeterminado.tempo,.o.homem.come-çou,.em.especial.o.homem.grego,.a.filosofar..Começou.a.colocar.ciência.nas.coisas.que.via.e.desejava.en-tender.de.maneira.mais.ampla.e.complexa..A.ciência.começa.a.tomar.o.lugar.do.mito..Evidente.que.isso.não.aconteceu.num.estalar.de.dedos,.nem.ocupou.de.maneira.rápida.toda.uma.existência.ditada.pelos.mi-tos..Mas.tem.início.uma.migração.de. ideias,. sentimentos.e.crenças..Talvez.possamos.dizer.que.nasce.a.partir.dessa.nova.postura.do.homem.diante.do.mundo,.numa.mistura.bonita.e.infinita.de.realidade.e.ficção,.de.verdade.e.não.verdade,.de.história.narrada,.contada,.vivida.e.desejada..Num.momento.precioso,.perdido.no.tempo.que.pesquisadores.tentam.alcançar,.mas.que.reserva.seu.fascínio.e.seu.segredo,.surge.uma.nova.forma.de.se.comunicar.e.acreditar.no.mundo:.começam.a.surgir.os.contos..Que.se.diferencia.do.que.então.havia..Narrar.passa.a.ter.outra.função..A.divisão.entre.realidade.e.ficção.se.torna.mais.profunda..Narrar.ainda.ilumina,.mas.com.outras.luzes,.com.outros.formatos.e.maneiras..Outras.narrativas.aparecem,.agora.sim.completamente.inventadas.e.não.se.colocam.dúvidas.que.assim.sejam..É.a.passagem.do mito a razão.que.deu.uma.nova.perspectiva.para.a.narrativa..Nascedouro.do.que.seria.a.literatura.propriamente.dita..Nas.palavras.de.Gislayne.Avelar,.em.seu.livro.O oficio do contador de histórias: “como.nos.mitos,.os.contos.reve-lam.um.mundo.que.não.é.o.da.realidade.e.que.tem.sua.representação.no.inconsciente.coletivo.dos.povos..Seu.conteúdo.é.arquetípico,.ou.seja,.formado.pelas.imagens.primordiais.ou.símbolos.comuns.a.toda.huma-nidade”.

Histórias.míticas,.vividas.ou.inventadas.tinham.(e.têm).objetivos.iguais..Preenchem.o.mundo.e.o.deixam.mais.bonito,.mais. iluminado..Surgem.o.que.chamaríamos.depois.Conto.Maravilhoso.e.Conto.de.Fadas..Junto.deles.já.se.ouviam.os.cantos,.a.poesia..E.nunca.mais.a.humanidade.deixou.de.contar.as.mais.diferentes.histórias.e.também.foi.criando.maneiras.de.dizer.tais.narrativas..Jamais.abandonaram.a.ideia.de.poder.dizer.tudo.que.viam.e.tudo.aquilo.que.não.viam,.mas.que.imaginavam.

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Apostilas das oficinas de leitura  43

Esta.prática.de.contar,.que.depois.se.torna.a.prática.de.escrever,.depois.de.publicar,.depois.de.estudar.sofreu.tantas.e.tamanhas.mudanças.que.se.mistura,.evidentemente,.com.a.história.cultural.da.humanidade..A.necessidade.de.dizer.coisas,.não.era.somente.a.necessidade.de.dizer.coisas,.mas.como.dizer.essas.coisas..Forma.e.conteúdo.têm.um.casamento.antigo..Nasciam.assim.os.gêneros..Sua.importância.vem.sendo.discu-tida.desde.Platão.e.Aristóteles,.os.primeiros.a.catalogar.e.a.experimentar.uma.divisão.e.um.estudo..400.anos.antes.de.Cristo!

Não.a.toa,.gênero.–.do.latim.genus-eris.–.significa.tempo.de.nascimento,.origem,.classe,.espécie,.geração.Para.iluminar.nossa.discussão,.citamos.Nelly.Coelho,.especialista.na.história.das.histórias.em.seu.livro.O

Conto de Fadas..“Desde sempre o homem vem sendo seduzido pelas narrativas que, de maneira simbólica ou realista, direta ou indiretamente, lhe falam da vida a ser vivida ou da própria condição humana, seja relacionada aos deuses, seja limitada aos próprios homens. Entre as múltiplas causas capazes de explicar esse fascínio estaria o fato de que provavelmente, desde as origens do tempo, o homem deve ter sentido a presença (ou a força) de poderes muito maio-res do que sua própria vontade e poder pessoal ou de mistérios que o atingiam, sem que sua mente conseguisse explicar, conhecer ou compreender. Mas, como sabemos, nenhum obstáculo consegue deter o ser humano. O desconhecido exerce sobre ele um desafio constante. Assim, como a História nos mostra, desde os primórdios, os homens lançaram-se no encalço do conhecimento e tentaram vencer os poderes e mistérios que ultrapassavam os limites daquilo que, neles, era simplesmente humano..A literatura é, sem dúvida, uma das expressões mais significativas dessa ânsia permanente de saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas as épocas. Ânsia que permanece latente nas nar-rativas populares legadas pelo passado remoto. Fábulas, apólogos, parábolas, contos exemplares, mitos, lendas, sagas, contos jocosos, romances, contos maravilhosos, contos de fadas...fazem parte dessa heterogênea matéria narrativa que está na origem das literaturas modernas e guarda um determinado saber fundamental. Todas essas formas de narrar pertencem ao caudal de narrativas nascidas entre os povos da Antiguidade, que, fundidas, confundidas, transforma-das...se espalharam por toda parte e permanecem até hoje como uma rede, cobrindo todas as regiões do globo: o caudal de literatura folclórica e de velhos textos novelescos que, apesar de terem origens comuns, assumem em cada nação um caráter diferente”.

Fonte: O texto Narrativas iluminam foi escrito especialmente para esta apostila.

texto-farol: Ler na vida, ler na escola/comunidade, de celinha nascimento

Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto

Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e discute o

papel dos leitores em diferentes espaços.

Muito.se.tem.escrito,.falado.e.discutido.sobre.os.prazeres.da.leitura,.sobre.as.conquistas.sociais.propor-cionadas.pelos.livros,.por.tudo.que.podemos.aprender.e.nos.maravilhar.com.as.narrativas.e.com.os.mais.diversos.mundos.que.as.histórias.fazem.chegar.até.nós.

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44  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Muito.também.se.tem.discutido.sobre.a.liberdade.de.ler,.quesito.que.para.muitos.é.considerado.fun-damental.quando.se.fala.em.escolha.de.livros..Especialistas,.professores.e.mesmo.pais.e.leigos.em.litera-tura.discutem.se.a.leitura.deve.ser.obrigatória,.se.cobrar.resultados.ou.quantidades.ajuda.ou.não.a.formar.leitores..Sabemos.não.ter.a.resposta.pronta,.mesmo.porque.não.se.trata.de.uma.resposta.única.para.con-textos.tão.variados.de.leitura,.que.dialogam.com.os.variados.grupos.sociais.e.culturais.como.a.escola.e.as.famílias.

Apesar.de.não.adotarmos.ou.defendermos.uma.resposta.acabada,.acreditamos.num.formato.de.trabalho.que,.sem.abandonar.a. liberdade.e.o.alto.grau.de.encantamento,.ou.seja,.nada.palpável.ou.mensurável,.se.preocupa.com.a.qualidade.do.que.é.lido.e.com.os.espaços.diferentes.nos.quais.acontecem.as.leituras..Daí.pensarmos.numa.diferença.entre.ler.na.vida.e.ler.na.escola/comunidade.

Escolher.livremente.as.leituras.está.na.esfera.do.ler na vida. Esta.sim,.leitura.sem.nenhum.compro-misso,.que.a.ninguém.deve.ser.dado.nenhum.tipo.de.devolutiva,.ler.no.tempo.e.com.a.qualidade.que.é.natural. desse. leitor.. Leitura. feita. para. nós. mesmos,. para. a. qual. podemos. escolher. apenas. biografias,.apenas.um.autor,.um.tema,.um.gênero,.leituras.complexas.ou.as.mais.simples,.se.é.que.podemos.classi-ficar.de.maneira.tão.breve.assim..Alguns.leitores.afirmam.que.esta.é.a.mais.prazerosa.de.todas,.já.que.livre.de.qualquer.cobrança..Também.é.aquela.que.se.reserva.a.todo.público,.a.todas.as.idades.e.em.qual-quer.situação.

Porém.quando.lemos.para.alguém.que.não.nós.mesmos,.precisamos.de.outro.conjunto.de.atitudes.e.ex-periências..Num.dizer.mais.científico,.uma.nova.postura.e.estética.

A.responsabilidade.de.uma.leitura.que.se.faz.para.um.outro.não.é.só.de.ler.por.prazer.e.se.deixar.en-cantar.pelas.narrativas..Ainda.que.sem.esta.finalidade,.talvez.não.valha.a.pena.ler.para.outro..Ler.na.es-cola/comunidade.representa.também.formar.leitores.que.possam,.dentro.de.um.leque.variado.e.amplo,.escolher.seus.próprios.caminhos.e.também.reproduzir.atitudes.leitoras..Todos.sabemos.que.ensinamos.bem.quando.sabemos.do.que.estamos.falando,.conhecemos.nosso.assunto..É.uma.tarefa.não.fácil,.pois.precisamos.abrir.mão.de.nossos.gostos.pessoais,.de.nossas.escolhas.e.nos.manter.absolutamente.abertos.para.outras.leituras,.que.nem.nos.pareçam.prazerosas..Não.podemos.ensinar.apenas.aquilo.que.gostamos,.é.preciso.ler.também.o.que.não.gostamos,.o.que.criticamos,.o.que.não.nos.agrada..Nossos.alunos.precisam.ter.contato.com.todo.tipo.de.texto.e.seus.gostos.podem.ser.bastante.distintos.dos.nossos..Além.disso,.é.tarefa.do.professor.oferecer.uma.grande.diversidade.de.opções.na.qual.os.alunos.se.sintam.livres.e,.ao.mesmo.tempo,.tentados..Mas.ainda.não.é.só:.é.preciso.aprender.a.ler.diferentes.tipos.de.texto.e.para.tal.o.professor.precisa.se.preparar.cada.vez.mais,.tornar-se.um.aficionado.real.pela.leitura,.procurar.os.textos.que.não.conhece.e.não.se.acostumar.num.único.tipo.de.texto..Como.dito.acima,.não.é.tarefa.fácil,.já.que.nossa.tendência.primeira.é.seguir.em.busca.de.nossas.escolhas.e.dos.títulos.que.mais.gostamos,.que.mais.nos.fazem.sentir.bem.

Esse.desafio.produz,.geral.e.inevitavelmente,.um.encontro.com.o.inusitado..Não.é.raro.ouvir.comentá-rios.de.professores.e.demais.leitores.públicos.que.agregam.um.tanto.a.mais.na.sua.lista.de.livros.preferidos.quando.se.lançam.a.uma.busca.por.novos.e.inusitados.títulos..O.leitor.coletivo,.o.leitor.público,.o.professor.tem.a.responsabilidade.de.ser.um.leitor.mais.preparado.que.seus.ouvintes,.pode.e.sempre.aprende.com.eles,.mas.deve.pesquisar.e.levar.a.cada.encontro.com.o.ouvinte,.um.conjunto.de.narrativas.que.se.distingam,.que.formem.uma.lista.e.uma.coletânea.aberta.a.muitas.tendências..Diante.de.um.acervo.de.uma.sala.de.leitura,.ou.de.uma.biblioteca.é.comum.procurarmos.por.aquilo.que.já.conhecemos.ou.nos.guiarmos.por.alguns.

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Apostilas das oficinas de leitura  45

critérios.como.nome.do.autor,.ilustrações,.imagens.que.constituem.o.livro,.até.mesmo.somente.a.capa,.o.tema,.a.espessura.do.livro,.a.quantidade.de.páginas..Tais.práticas.são.muito.comuns.e.acabam.por.repetir.as.mesmas.práticas.de.nossos.alunos.quando.buscam.suas.leituras..Quem.procura.algo.absolutamente.inusi-tado?.Algo.que.nunca.imaginou.que.um.dia.pudesse.ler?.Assim.é.a.escolha.de.muitos.leitores..Esse.receio.é.absolutamente.compreensível.e.legítimo,.pois.não.costumamos.nos.aproximar.do.desconhecido,.mas.a.leitura.exige.essa.nova.postura..Não.gosto.de.biografia?.É.preciso.buscar.e.ler..Nunca.ouvi.falar.de.ensaio,.que.gênero.será.esse?.É.para.lá.que.eu.vou..Histórias.em.Quadrinhos,.oh.não,.é.para.pequenos!.Será.que.tenho.certeza.disso?

Podemos.também.colocar.nessa.discussão,o.item.da.qualidade.do.que.se.lê..Se.é.verdade.que.podemos.aliar.liberdade.de.escolha.com.uma.boa.dose.de.ajuda.na.escolha,.também.podemos.e.devemos.(na.leitura.na.escola/comunidade).nos.esforçarmos.para.atingir.cada.vez.graus.maiores.de.qualidade.daquilo.que.é.lido..A.palavra.qualidade.assume.aqui.dois.significados.ou.duas.dimensões..A.primeira.delas.se.refere.ao.grau.de.compreensão.e.apreensão.do.texto.lido..Nesta.dimensão,.queremos.indagar.não.apenas.se.a.leitura.é.autôno-ma,.se.é.rápida,.se.é.integral,.mas.questionamos.se.o.leitor.foi.capaz.de.mergulhar.com.intensidade.na.nar-rativa.e. consegue.extrair.dela.o.máximo.que.o.autor.escreveu..Nunca.mergulhamos.numa.única.obra,. a.leitura.sempre.nos.indica.novos.mundos.e.novas.leituras.e.é.isso.que.chamamos.de.extrair.o.máximo!.Outra.dimensão.da.palavra.qualidade.se.refere.a.escolha.de.bons.textos..Dimensão.difícil.de.se.avaliar,.pois.chega-mos.até.ela.não.só.com.um.bom.conhecimento.de.livros,.mas.com.o.exercício.constante.e.apaixonado.da.leitura..Quanto.mais.se.lê.e.se.busca.novos.autores,.gêneros,.estilos.e.épocas;.quanto.menos.se.conforma.com.que.já.foi.lido,.mais.se.ganha.experiência.para.qualificar.os.textos..A.opinião.e.julgamento.sobre.as.duas.dimensões.da.qualidade.é.bastante.difícil.pois.necessita.de.um.alinhamento.entre.gostos.e.atividades.pes-soais.e.coletivas.

Neste.ano,.vamos.exercitar.e.discutir.nossas.tarefas.como.leitor.na.vida.e.na.escola/comunidade.Como.estou.me.saindo.nas.duas.atividades?.O.que.tenho.escolhido.para.ler.para.meus.alunos?.Tenho.me.

esforçado.para.pesquisar.títulos,.editoras,.gêneros.e.temas.que.desconheço?.Tenho.exigido.de.meus.alunos.uma.postura.leitora.que.seja.exigente.consigo.mesma,.ou.seja,.que.persiga.uma.grande.abrangência.de.títulos.e.que.perceba.a.riqueza.dessa.atividade?.Tenho.lembrado.que.posso.descobrir.outros.mundos.de.que.nem.suspeitava?

Antes.de.fazer.uma.leitura.coletiva,.ou.seja,.uma.leitura.escolhida.para.um.grupo,.que.não.seja.apenas.para.o.leitor-solitário,.podemos.tentar.esse.auto-questionário.

Preparei a leitura antes de fazê-la?

Conheço meu público? Sei como me comportar com ele e o que pedir em troca?

Sei a qual gênero pertence o livro escolhido, que ideias traz, que temas discute?

Já li algo sobre o autor, ilustrador, tradutor?

Esta leitura me lembra outras narrativas?

Por que escolhi este texto e não outro?

Fiz comparações, procurei outros títulos que dialoguem com este escolhido?

Posso e consigo falar do livro escolhido? Explorei suas imagens, li a apresentação, o prefácio, as orelhas,

explorei-o como um objeto e com “um todo” de informações?

Procurei outras versões, outras traduções ou adaptações (se acaso existem)?

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46  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Conformei-me com a ideia de ler as mesmas leituras de todos os anos ou fui em busca de mais títulos para

deixar meu grupo mais sábio?

Não descansei enquanto não tive certeza de reunir e procurar um elevado grau de excelência com a leitura

feita e com o que pude aprender lendo para mim e depois levando esta leitura para um outro público?

Procurei o que não conhecia e mergulhei no seu conhecimento?

A cada encontro existe um convite para que sua performance leitora fique ainda melhor. O que você pode-

ria dizer de suas leituras experimentadas no dia de hoje?

Fonte: O texto foi escrito especialmente para esta apostila.

texto-farol: Leituras e leitores públicos, de celinha nascimento

Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto

Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e discute a

importância das leituras públicas na formação social e estética.

O.que.é.um.leitor.público?É.um.leitor.muito.especial,.que.contraiu.um.vírus.terrível!Esse.vírus.se.instala.no.leitor.e.faz.com.que.ele.não.consiga.guardar.só.para.si.as.emoções.e.conhecimen-

tos.que.adquiriu.com.as.leituras.feitas,.com.os.livros.lidos..Ele.precisa,.urgente.e.ardentemente,.espalhar.para.todos..E.faz.isso.através.de.leituras.coletivas,.diários,.cartas,.postais,.blogs,.e-mails.

A.figura.do.leitor.público.existe.desde.a.Idade.Média,.era.uma.necessidade.e.um.entretenimento..Nas.palavras.de.Alberto.Manguel,.em.seu.maravilhoso.Uma história da.leitura.“Nas.cortes.e.nas.casas.mais.hu-mildes,.os.livros.eram.lidos.em.voz.alta.para.familiares.e.amigos,.tanto.com.a.finalidade.de.instrução.quanto.de.entretenimento..Leituras.públicas. informais.em.reuniões.não.programadas.eram.ocorrências.bastante.comuns.no.século.XVII..Parando.numa.estalagem.durante.sua.busca.do.errante.Dom.Quixote,.o.padre.que.queimou.tão.diligentemente.os.livros.da.biblioteca.do.cavaleiro.explica.aos.circunstantes.como.a.leitura.de.novelas.de.cavalaria.afetou.a.mente.de.dom.Quixote..O.estalajadeiro.não.concorda.com.tal.afirmação,.con-fessando.que.gosta.muito.de.escutar.essas.histórias.em.que.o.herói.luta.valentemente.contra.gigantes,.estran-gula.serpentes.monstruosas.e.derrota.sozinho.exércitos.enormes..Diz.ele:.na.época.da.colheita,.durante.as.festividades,.muitos.trabalhadores.reúnem-se.aqui.e.há.sempre.uns.poucos.que.sabem.ler,.e.um.deles.pega.um.desses.livros.nas.mãos.e.mais.de.trinta.amontoam-se.em.torno.dele,.e.ouvem-no.com.tanto.prazer.que.nossos.cabelos.brancos.ficam.jovens.de.novo”.

Leituras.públicas.nunca.deixaram.de.existir..Professores.e.pais.são.leitores.públicos.e.qualquer.leitor.que.o.desejar.pode.assumir.esta.tarefa.que.reúne.conhecimento.e.prazer..Ainda.nas.palavras.de.Manguel:.

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Apostilas das oficinas de leitura  47

“Porque.ler.em.voz.alta.é.um.ato.privado,.a.escolha.do.material.de.leitura.deve.ser.socialmente.aceitável.tanto.para.o.leitor.como.para.o.público..Ler.em.público.dá.ao.texto.versátil.uma.identidade.respeitável,.um.sentido.de.unidade.no.tempo.e.uma.existência.no.espaço.que.ele.raramente.tem.nas.mãos.de.um.leitor.solitário”.

O.projeto.Letras.de.luz.promove.intensamente.a.ideia.do.leitor.público.e.seu.objetivo.é.espalhar.ativida-des.de.leitura..Em.cada.encontro,.veremos.uma.proposta.de.atividade.dessa.leitura.que.estamos.chamando.de.pública,.pois.se.espalha,.saindo.da.solidão.do.leitor.em.sua.casa.e.desejando.atingir.muitos.outros.leitores.e.ouvintes.

São.essas.as.atividades.que.teremos.ao.longo.do.ano.

1ª. Oficina – Os diários de leitura.

2ª. Oficina – O leitor cronista.

3ª. Oficina – A oralidade, o teatro e a leitura.

4ª. Oficina – A leitura de imagens.

5ª. Oficina – Os saraus poéticos.

Livros se espalham, sem sair do lugar... é a voz do leitor...

texto-farol: Os diários de leitura, de celinha nascimento

Querido Diário...

Como.já.foram.importantes.as.anotações.particulares.quase.secretas.que.gerações.e.gerações.fizeram.em.cadernos.escolhidos.e.escritos-preenchidos.como.um.amuleto!.A.importância.de.muitos.diários.foi.tama-nha,.que.eles.se.tornaram.públicos,.lidos.por.milhares.de.leitores.e.trouxeram.a.tona.questões.das.quais.a.história.oficial.viria.a.se.alimentar.

Como.não.lembrar.dos.diários.de.Anne.Frank.e.Zlata.Filipovic.para.entender.a.guerra.numa.perspecti-va.juvenil?.Ou.não.valorar.a.contribuição.do.texto.febril.e.vivaz.de.Helena.Morley.no.final.do.século.XIX,.único.documento.juvenil.desta.época?O.que.seria.das.pesquisas.cientificas.sem.os.diários.de.Darwin,.Eins-tein. e. todos. os. viajantes. naturalistas?. Recentemente. a. descoberta. dos. diários. de. Guimarães. Rosa. nos.trouxe.a.figura.admirável.de.sua.esposa.Aracy.de.Carvalho.Guimarães.Rosa.que.ajudou.judeus.na.Segunda.Guerra,.tornando-se.uma.heroína.para.eles..Nada.saberíamos.sem.as.anotações.preciosas.do.escritor..E.tantos,.tantos.outros.diários.que.generosa.e.pacientemente.foram.escritos.para.nos.ajudar.a.entender.ainda.mais.o.mundo.

Nossos.diários.serão.de.Leitura..Espaço.privilegiado.para.anotar.sobre.os. livros. lidos,.as.emoções,.as.surpresas.e.até.as.tristezas.ou.os.livros.que.não.deram.prazer..Vamos.escrever.sobre.literatura.

Reunimos.aqui.alguns.exemplos.de.diários.para.inspirar.os.participantes..Muitas.outras.possibilidades.podem.ser.pensadas.

Cabe.ao.grupo.decidir.que.formato.terá,.quem.serão.seus.escritores.e.seus.leitores.

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48  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

1. Diários da cidade de Lorena – São Paulo

transcrição:

Nesse recesso em julho fui conhecer Parati-RJ. Entre as ruas do Centro Histórico, ouvi histórias sobre a cida-

de. Em um momento encontrei um artista vestido de escravo e que contava histórias sobre os escravos que

trabalhavam em Parati na época da escravidão. Adorei e aproveitei. Espero voltar lá.

2. Páginas de diário coletivo do Projeto Letras de Luz 2008 – escrito pelos professores Hamilson, Anizete,

Silvana, Margarida, Janete, Vanessa e Sirley, da cidade de Paranaíba, Mato Grosso do Sul, Escola Municipal

Major Francisco D. Dias. Os professores registravam suas atividades de contadores de histórias.

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Apostilas das oficinas de leitura  49

3. Diário da professora rosana Sandrini da cidade de cachoeiro do itapemirim – espírito Santo

Obs: não.é.possível.fazer.toda.a.transcrição..Trata-se.de.alegre.texto.sobre.viagem.de.férias.e.as.leituras.feitas.nos.lugares.visitados..Na.página.da.direita,.o.livro.comentado.é.Sociedade.Literária.e.a.Torta.de.Cas-ca.de.Batata,.já.citado.

4. Diário coletivo – professores e alunos – da cidade de Ponta Porã – mato grosso do Sul

transcrição:

Texto 1 – Acima da foto: “A leitura promove o desenvolvimento cognitivo da criança, que constitui o eixo

fundamental para a aquisição de escrita e o aprimoramento da capacidade simbólica”.

Texto 2 – Ao lado da foto: “O instante da leitura é revestido de uma mágica que não se repete”.

Texto 3 – Abaixo da foto: “Formar um bom leitor é mais que pôr um bom livro nas mãos de alguém. Há que

despertar, em quem lê, o prazer da leitura, prazer que resulta em encantamento, da emoção da descoberta,

da adesão a um ”mundo de papel” que nos ajuda a conceber e compreender o nosso próprio mundo”.

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50  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

QUeStionÁrio inSPirADor

1. Qual foi a última vez em que estive nessa biblioteca? ............................................

2. Qual atividade realizei? .........................................................................................

3. Retirei livros para leitura ou pesquisa? ...................................................................

4. Com qual frequência venho à biblioteca? ..............................................................

5. O que sei sobre a história e o acervo dessa biblioteca? ..........................................

6. O que é, para mim, uma boa biblioteca? ...............................................................

7. Quais lembranças tenho de bibliotecas? Cheiros, cores, sensações, pessoas. .........

texto-farol: O Manifesto UNESCO IFLA

O MANIFESTO UNESCOPARA.BIBLIOTECAS.ESCOLARES

International.Federation.of.Librarians.Association/UNESCO(FederaçãoInternacional.de.Associações.de.Bibliotecários/UNESCO),

A biblioteca escolar no ensino e aprendizagem para todos

A.biblioteca.escolar.(BE).propicia.informação.e.ideias.fundamentais.para.o.sucesso.de.seu.funcionamen-to.na.atual.sociedade,.baseada.na.informação.e.no.conhecimento..A.BE.habilita.os.estudantes.para.a.apren-dizagem.ao.longo.da.vida.e.desenvolve.sua.imaginação,.preparando-os.para.viver.como.cidadãos.responsáveis.

A missão da biblioteca escolar

A.biblioteca.escolar.promove.serviços.de.apoio.à.aprendizagem.e.livros.aos.membros.da.comunidade.escolar,.oferecendo-lhes.a.possibilidade.de.se.tornarem.pensadores.críticos.e.efetivos.usuários.da.informação,.em.todos.os.formatos.e.meios..As.bibliotecas.escolares.ligam-se.às.mais.extensas.redes.de.bibliotecas.e.de.informação,.em.observância.aos.princípios.do.Manifesto.Unesco.para.Biblioteca.Pública.

O.quadro.de.pessoal.da.biblioteca.constitui-se.em.suporte.ao.uso.de.livros.e.outras.fontes.de.informação,.desde.obras.de.ficção.até.outros.tipos.de.documentos,.tanto.impressos.quanto.eletrônicos,.destinados.à.con-sulta.presencial.ou.remota..Este.acervo.se.complementa.e.se.enriquece.com.manuais,.obras.didáticas.e.me-todológicas.

Está.comprovado.que.bibliotecários.e.professores,.ao.trabalharem.em.conjunto,.influenciam.o.desempe-nho.dos.estudantes.para.o.alcance.de.maior.nível.de.literacia.na.leitura.e.escrita,.aprendizagem,.resolução.de.problemas,.uso.da.informação.e.das.tecnologias.de.comunicação.e.informação.

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Apostilas das oficinas de leitura  51

Os.serviços.das.bibliotecas.escolares.devem.ser.oferecidos.igualmente.a.todos.os.membros.da.comunida-de.escolar,.a.despeito.de.idade,.raça,.sexo,.religião,.nacionalidade,.língua.e.status.profissional.e.social..Serviços.e.materiais.específicos.devem.ser.disponibilizados.a.pessoas.não.aptas.ao.uso.dos.materiais.comuns.da.bi-blioteca.

O.acesso.às.coleções.e.aos.serviços.deve.orientar-se.nos.preceitos.da.Declaração.Universal.de.direitos.e.liberdade.do.homem,.das.Nações.Unidas,.e.não.deve.estar.sujeito.a.nenhuma.forma.de.censura.ideológica,.política,.religiosa,.ou.a.pressões.comerciais.

financiamento, legislação e redes

A.biblioteca.escolar.é.essencial.a.qualquer.tipo.de.estratégia.de.longo.prazo.no.que.respeita.a.competên-cias.a.leitura.e.escrita,.educação.e.informação.e.desenvolvimento.econômico,.social.e.cultural..A.responsabi-lidade.sobre.a.biblioteca.escolar.cabe.às.autoridades.locais,.regionais.e.nacionais,.portanto.deve.essa.agência.ser.apoiada.por.política.e.legislação.específicas..Deve.também.contar.com.fundos.apropriados.e.substanciais.para.pessoal.treinado,.materiais,.tecnologias.e.instalações..A.BE.deve.ser.grtauita.

A.biblioteca.escolar.é.parceira.imprescindível.para.atuação.em.redes.de.biblioteca.e.informação.tanto.em.nível.local,.regional.como.nacional.

Os.objetivos.próprios.da.biblioteca.escolar.devem.ser.devidamente.reconhecidos.e.mantidos,.sempre.que.ela.estiver.compartilhando.instalações.e.recursos.com.outros.tipos.de.biblioteca,.em.particular.com.a.biblio-teca.pública.

os objetivos da biblioteca escolar

A.biblioteca.escolar.é.parte.integral.do.processo.educativo.Para.o.desenvolvimento.da.literacia.e/ou.competência.na.leitura.e.escrita.e.no.uso.da.informação,.no.

ensino.e.aprendizagem,.na.cultura.e.nos.serviços.básicos.da.biblioteca.escolar,.é.essencial.o.cumprimento.dos.seguintes.objetivos:

apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais definidos na missão e no currículo da escola;

desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos

recursos da biblioteca ao longo da vida;

oferecer oportunidade de vivências destinadas à produção e ao uso da informação voltada ao conhecimen-

to, à compreensão, à imaginação e ao entretenimento;

apoiar todos os estudantes na aprendizagem e na prática da habilidades para avaliar e usar a informação,

em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as for-

mas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos;

prover acesso em nível local, regional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os

aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões;

organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como de sensibilidade;

trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o alcance final da missão

e dos objetivos da escola;

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52  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são pontos fundamentais à

formação de cidadania responsável e ao exercício da democracia;

promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar na comunidade escolar e ao seu derredor.

À.biblioteca.escolar.cumpre.exercer.todas.essas.funções,.por.meio.de.políticas.e.serviços;.seleção.e.aqui-sição.de.recursos;.provimento.do.acesso.físico.e.intelectual.a.fontes.adequadas.de.informação;.fornecimento.de.instalações.voltadas.à.instrução;.contratação.de.pessoal.treinado.

O.presente.manifesto.foi.preparado.pela.IFLA.e.aprovado.pela.UNESCO.em.sua.Conferência.Geral.de.novembro.de.1999..Edição.em.língua.portuguesa.para.o.Brasil,.de.autoria.da.professora.doutora.Neusa.Dias.de.Macedo.

conto já encenado por grupos de teatro do Projeto Letras de Luz

O enfermeiro

(machado de Assis)

O texto a seguir foi escolhido para ser o primeiro conto encenado pelo grupo

de teatro formado pelo Projeto em 2010. Trata-se de um dos contos mais famosos

do célebre escritor brasileiro Machado de Assis. Narrado em primeira pessoa a um

interlocutor imaginário, o texto trata da conflituosa relação entre um coronel rabu-

gento e seu último enfermeiro.

Parece-lhe.então.que.o.que.se.deu.comigo.em.1860,.pode.entrar.numa.página.de.livro?.Vá.que.seja,.com.a.condição.única.de.que.não.há.de.divulgar.nada.antes.da.minha.morte..Não.esperará.muito,.pode.ser.que.oito.dias,.se.não.for.menos;.estou.desenganado.

Olhe,.eu.podia.mesmo.contar-lhe.a.minha.vida.inteira,.em.que.há.outras.cousas.interessantes,.mas.para.isso.era.preciso.tempo,.ânimo.e.papel,.e.eu.só.tenho.papel;.o.ânimo.é.frouxo,.e.o.tempo.assemelha-se.à.lam-parina.de.madrugada..Não.tarda.o.sol.do.outro.dia,.um.sol.dos.diabos,.impenetrável.como.a.vida..Adeus,.meu.caro.senhor,.leia.isto.e.queira-me.bem;.perdoe-me.o.que.lhe.parecer.mau,.e.não.maltrate.muito.a.arru-da,.se.lhe.não.cheira.a.rosas..Pediu-me.um.documento.humano,.ei-lo.aqui..Não.me.peça.também.o.império.do.Grão-Mogol..nem.a.fotografia.dos.Macabeus;.peça,.porém,.os.meus.sapatos.de.defunto.e.não.os.dou.a.ninguém.mais.

Já.sabe.que.foi.em.l860..No.ano.anterior,.ali.pelo.mês.de.agosto,.tendo.eu.quarenta.e.dois.anos,.fiz-me.teólogo..–.quero.dizer,.copiava.os.estudos.de.teologia.de.um.padre.de.Niterói,.antigo.companheiro.de.colé-gio,.que.assim.me.dava,.delicadamente,.casa,.cama.e.mesa..Naquele.mês.de.agosto.de.1859,.recebeu.ele.uma.carta.de.um.vigário.de.certa.vila.do.interior,.perguntando.se.conhecia.pessoa.entendida,.discreta.e.paciente,.que.quisesse.ir.servir.de.enfermeiro.ao.Coronel.Felisberto,.mediante.um.bom.ordenado..O.padre.falou-me,.

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Apostilas das oficinas de leitura  53

aceitei.com.ambas.as.mãos,.estava.já.enfarado.de.copiar.citações.latinas.e.fórmulas.eclesiásticas..Vim.à.corte.despedir-me.de.um.irmão,.e.segui.para.a.vila.

Chegando.à.vila,.tive.más.notícias.do.coronel..Era.homem.insuportável,.estúrdio,.exigente,.ninguém.o.aturava,.nem.os.próprios.amigos..Gastava.mais.enfermeiros.que.remédios..A.dous.deles.quebrou.a.cara..Respondi.que.não.tinha.medo.de.gente.sã,.menos.ainda.de.doentes;.e.depois.de.entender-me.com.o.vigário,.que.me.confirmou.as.notícias.recebidas,.e.me.recomendou.mansidão.e.caridade,.segui.para.a.residência.do.coronel.

Achei-o.na.varanda.da.casa.estirado.numa.cadeira,.bufando.muito..Não.me.recebeu.mal..Começou.por.não.dizer.nada;.pôs.em.mim.dous.olhos.de.gato.que.observa;.depois,.uma.espécie.de.riso.maligno.alumino--lhe.as.feições,.que.eram.duras..Afinal,.disse-me.que.nenhum.dos.enfermeiros.que.tivera,.prestava.para.nada,.dormiam.muito,.eram.respondões.e.andavam.ao.faro.das.escravas;.dous.eram.até.gatunos!

–.Você.é.gatuno?–.Não,.senhor.Em.seguida,.perguntou-me.pelo.nome:.disse-lho.e.ele.fez.um.gesto.de.espanto..Colombo?.Não,.senhor:.

Procópio.José.Gomes.Valongo..Valongo?.achou.que.não.era.nome.de.gente,.e.propôs.chamar-me.tão-so-mente.Procópio,.ao.que.respondi.que.estaria.pelo.que.fosse.de.seu.agrado..Conto-lhe.esta.particularidade,.não.só.porque.me.parece.pintá-lo.bem,.como.porque.a.minha.resposta.deu.de.mim.a.melhor.ideia.ao.coro-nel..Ele.mesmo.o.declarou.ao.vigário,.acrescentando.que.eu.era.o.mais.simpático.dos.enfermeiros.que.tivera.

A.verdade.é.que.vivemos.uma.lua-de-mel.de.sete.dias..No.oitavo.dia,.entrei.na.vida.dos.meus.predeces-sores,.uma.vida.de.cão,.não.dormir,.não.pensar.em.mais.nada,.recolher.injúrias,.e,.às.vezes,.rir.delas,.com.um.ar.de.resignação.e.conformidade;.reparei.que.era.um.modo.de.lhe.fazer.corte..Tudo.impertinências.de.mo-léstia.e.do.temperamento..A.moléstia.era.um.rosário.delas,.padecia.de.aneurisma,.de.reumatismo.e.de.três.ou.quatro.afeições.menores..Tinha.perto.de.sessenta.anos,.e.desde.os.cinco.toda.a.gente.lhe.fazia.a.vontade..Se.fosse.só.rabugento,.vá;.mas.ele.era.também.mau,.deleitava-se.com.a.dor.e.a.humilhação.dos.outros..No.fim.de.três.meses.estava.farto.de.o.aturar;.determinei.vir.embora;.só.esperei.ocasião.

Não.tardou.a.ocasião..Um.dia,.como.lhe.não.desse.a.tempo.uma.fomentação,.pegou.da.bengala.e.atirou--me.dous.ou.três.golpes..Não.era.preciso.mais;.despedi-me.imediatamente,.e.fui.aprontar.a.mala..Ele.foi.ter.comigo,.ao.quarto,.pediu-me.que.ficasse,.que.não.valia.a.pena.zangar.por.uma.rabugice.de.velho..Instou.tanto.que.fiquei.

–.Estou.na.dependura,.Procópio,.dizia-me.ele.à.noite;.não.posso.viver.muito.tempo..Estou.aqui,.estou.na.cova..Você.há.de.ir.ao.meu.enterro,.Procópio;.não.o.dispenso.por.nada..Há.de.ir,.há.de.rezar.ao.pé.da.minha.sepultura..Se.não.for,.acrescentou.rindo,.eu.voltarei.de.noite.para.lhe.puxar.as.pernas..Você.crê.em.almas.de.outro.mundo..Procópio?

–.Qual.o.quê!–.E.por.que.é.que.não.há.de.crer,.seu.burro?.redargüiu.vivamente,.arregalando.os.olhos.Eram.assim.as.pazes;.imagine.a.guerra..Coibiu-se.das.bengaladas;.mas.as.injúrias.ficaram.as.mesmas,.se.

não.piores..Eu,.com.o.tempo,.fui.calejando,.e.não.dava.mais.por.nada;.era.burro,.camelo,.pedaço.d’asno,.idiota,.moleirão,.era.tudo..Nem,.ao.menos,.havia.mais.gente.que.recolhesse.uma.parte.desses.nomes..Não.tinha.parentes;.tinha.um.sobrinho.que.morreu.tísico,.em.fins.de.maio.ou.princípios.de.julho,.em.Minas..Os.

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54  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

amigos.iam.por.lá.às.vezes.aprová-lo,.aplaudi-lo,.e.nada.mais;.cinco,.dez.minutos.de.visita..Restava.eu;.era.eu.sozinho.para.um.dicionário.inteiro..Mais.de.uma.vez.resolvi.sair;.mas,.instado.pelo.vigário,.ia.ficando.

Não.só.as.relações.foram-se.tornando.melindrosas,.mas.eu.estava.ansioso.por.tornar.à.Corte..Aos.quarenta.e.dous.anos.não.é.que.havia.de.acostumar-me.à.reclusão.constante,.ao.pé.de.um.doente.bravio,.no.interior..Para.avaliar.o.meu.isolamento,.basta.saber.que.eu.nem.lia.os.jornais;.salvo.alguma.notícia.mais.importante.que.le-vavam.ao.coronel,.eu.nada.sabia.do.resto.do.mundo..Entendi,.portanto,.voltar.para.a.Corte,.na.primeira.ocasião,.ainda.que.tivesse.de.brigar.com.o.vigário..Bom.é.dizer.(visto.que.faço.uma.confissão.geral).que,.nada.gastando.e.tendo.guardado.integralmente.os.ordenados,.estava.ansioso.por.vir.dissipá-los.aqui.

Era.provável.que.a.ocasião.aparecesse..O.coronel.estava.pior,. fez.testamento,.descompondo.o.tabelião,.quase.tanto.como.a.mim..O.trato.era.mais.duro,.os.breves.lapsos.de.sossego.e.brandura.faziam-se.raros..Já.por.esse.tempo.tinha.eu.perdido.a.escassa.dose.de.piedade.que.me.fazia.esquecer.os.excessos.do.doente;.trazia.dentro.de.mim.um.fermento.de.ódio.e.aversão..No.princípio.de.agosto.resolvi.definitivamente.sair;.o.vigário.e.o.médico,.aceitando.as.razões,.pediram-meque.ficasse.algum.tempo.mais..Concedi-lhes.um.mês;.no.fim.de.um.mês.viria.embora,.qualquer.que.fosse.o.estado.do.doente..O.vigário.tratou.de.procurar.-me.substituto.

Vai.ver.o.que.aconteceu..Na.noite.de.vinte.e.quatro.de.agosto,.o.coronel.teve.um.acesso.de.raiva,.atrope-lou-me,.disse-me.muito.nome.cru,.ameaçou-me.de.um.tiro,.e.acabou.atirando-me.um.prato.de.mingau,.que.achou.frio;.o.prato.foi.cair.na.parede,.onde.se.fez.em.pedaços.

–.Hás.de.pagá-lo,.ladrão!.bradou.ele.Resmungou.ainda.muito.tempo..Às.onze.horas.passou.pelo.sono..Enquanto.ele.dormia,.saquei.um.livro.

do.bolso,.um.velho.romance.de.d’Arlincourt,.traduzido,.que.lá.achei,.e.pus-me.a.lê-lo,.no.mesmo.quarto,.a.pequena.distância.da.cama;.tinha.de.acordá-lo.à.meia-noite.para.lhe.dar.o.remédio..Ou.fosse.de.cansaço,.ou.do.livro,.antes.de.chegar.ao.fim.da.segunda.página.adormeci.também..Acordei.aos.gritos.do.coronel,.e.le-vantei-me.estremunhado..Ele,.que.parecia.delirar,.continuou.nos.mesmos.gritos,.e.acabou.por.lançar.mão.da.moringa.e.arremessá-la.contra.mim..Não.tive.tempo.de.desviar-me;.a.moringa.bateu-me.na.face.esquerda,.e.tal.foi.a.dor.que.não.vi.mais.nada;.atirei-me.ao.doente,.pus-lhe.as.mãos.ao.pescoço,.lutamos,.e.esganei-o.

Quando.percebi.que.o.doente.expirava,.recuei.aterrado,.e.dei.um.grito;.mas.ninguém.me.ouviu..Voltei.à.cama,.agitei-o.para.chamá-lo.à.vida,.era.tarde;.arrebentara.o.aneurisma,.e.o.coronel.morreu..Passei.à.sala.con-tígua,.e.durante.duas.horas.não.ousei.voltar.ao.quarto..Não.posso.mesmo.dizer.tudo.o.que.passei,.durante.esse.tempo..Era.um.atordoamento,.um.delírio.vago.e.estúpido..Parecia-me.que.as.paredes.tinham.vultos;.escutava.uma.vozes.surdas..Os.gritos.da.vítima,.antes.da.luta.e.durante.aluta,.continuavam.a.repercutir.dentro.de.mim,.e.o.ar,.para.onde.quer.que.me.voltasse,.aparecia.recortado.de.convulsões..Não.creia.que.esteja.fazendo.imagens.nem.estilo;.digo-lhe.que.eu.ouvia.distintamente.umas.vozes.que.me.bradavam:.assassino!.assassino!

Tudo.o.mais.estava.calado..O.mesmo.som.do.relógio,.lento,.igual.e.seco,.sublinhava.o.silêncio.e.a.solidão..Colava.a.orelha.à.porta.do.quarto.na.esperança.de.ouvir.um.gemido,.uma.palavra,.uma.injúria,.qualquer.cousa.que.significasse.a.vida,.e.me.restituísse.a.paz.à.consciência..Estaria.pronto.a.apanhar.das.mãos.do.coronel,.dez,.vinte,.cem.vezes..Mas.nada,.nada;.tudo.calado..Voltava.a.andar.à.toa,.na.sala,.sentava-me,.punha.as.mãos.na.cabeça;.arrependia-me.de.ter.vindo..–”Maldita.a.hora.em.que.aceitei.semelhante.cousa!”.excla-mava..E.descompunha.o.padre.de.Niterói,.o.médico,.o.vigário,.os.que.me.arranjaram.um.lugar,.e.os.que.me.pediram.para.ficar.mais.algum.tempo..Agarrava-me.à.cumplicidade.dos.outros.homens.

Como.o.silêncio.acabasse.por.aterrar-me,.abri.uma.das.janelas,.para.escutar.o.som.do.vento,.se.ventasse..Não.ventava..A.noite.ia.tranqüila,.as.estrelas.fulguravam,.com.a.indiferença.de.pessoas.que.tiram.o.chapéu.a.

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Apostilas das oficinas de leitura  55

um.enterro.que.passa,.e.continuam.a.falar.de.outra.cousa..Encostei-me.ali.por.algum.tempo,.fitando.a.noite,.deixando-me.ir.a.urna.recapitulação.da.vida,.a.ver.se.descansava.da.dor.presente..Só.então.posso.dizer.que.pensei.claramente.no.castigo..Achei-me.com.um.crime.às.costas.e.vi.a.punição.certa..Aqui.o.temor.complicou.o.remorso..Senti.que.os.cabelos.me.ficavam.de.pé..Minutos.depois,.vi.três.ou.quatro.vultos.de.pessoas,.no.terreiro,.espiando,.com.um.ar.de.emboscada;.recuei,.os.vultos.esvaíram-se.no.ar;.era.uma.alucinação.

Antes.do.alvorecer.curei.a.contusão.da.face..Só.então.ousei.voltar.ao.quarto..Recuei.duas.vezes,.mas.era.preciso.e.entrei;.ainda.assim,.não.cheguei.logo.à.cama..Tremiam-me.as.pernas,.o.coração.batia-me;.cheguei.a.pensar.na.fuga;.mas.era.confessar.o.crime,.e,.ao.contrário,.urgia.fazer.desaparecer.os.vestígios.dele..Fui.até.a.cama;.vi.o.cadáver,.com.os.olhos.arregalados.e.a.boca.aberta,.como.deixando.passar.a.eterna.palavra.dos.séculos:.“Caim,.que.fizeste.de.teu.irmão?”.Vi.no.pescoço.o.sinal.das.minhas.unhas;.abotoei.alto.a.camisa.e.cheguei.ao.queixo.a.ponta.do.lençol..Em.seguida,.chamei.um.escravo,.disse-lhe.que.o.coronel.amanhecera.morto;.mandei.recado.ao.vigário.e.ao.médico.

A.primeira.ideia.foi.retirar-me.logo.cedo,.a.pretexto.de.ter.meu.irmão.doente,.e,.na.verdade,.recebera.carta.dele,.alguns.dias.antes,.dizendo-me.que.se.sentia.mal..Mas.adverti.que.a.retirada.imediata.poderia.fazer.despertar.suspeitas,.e.fiquei..Eu.mesmo.amortalhei.o.cadáver,.com.o.auxílio.de.um.preto.velho.e.mío-pe..Não.saí.da.sala.mortuária;.tinha.medo.de.que.descobrissem.alguma.cousa..Queria.ver.no.rosto.dos.outros.se.desconfiavam;.mas.não.ousava.fitar.ninguém..Tudo.me.dava.impaciências:.os.passos.de.ladrão.com.que.entravam.na.sala,.os.cochichos,.as.cerimônias.e.as.rezas.do.vigário..Vindo.a.hora,.fechei.o.caixão,.com.as.mãos.trêmulas,.tão.trêmulas.que.uma.pessoa,.que.reparou.nelas,.disse.a.outra.com.piedade:

–.Coitado.do.Procópio!.apesar.do.que.padeceu,.está.muito.sentido.Pareceu-me.ironia;.estava.ansioso.por.ver.tudo.acabado..Saímos.à.rua..A.passagem.da.meia-escuridão.da.

casa.para.a.claridade.da.rua.deu-me.grande.abalo;.receei.que.fosse.então.impossível.ocultar.o.crime..Meti.os.olhos.no.chão,.e.fui.andando..Quando.tudo.acabou,.respirei..Estava.em.paz.com.os.homens..Não.o.estava.com.a.consciência,.e.as.primeiras.noites.foram.naturalmente.de.desassossego.e.aflição..Não.é.preciso.dizer.que.vim.logo.para.o.Rio.de.Janeiro,.nem.que..vivi.aqui.aterrado,.embora.longe.do.crime;.não.ria,.falava.pou-co,.mal.comia,.tinha.alucinações,.pesadelos...

–.Deixa.lá.o.outro.que.morreu,.diziam-me..Não.é.caso.para.tanta.melancolia.E.eu.aproveitava.a.ilusão,.fazendo.muitos.elogios.ao.morto,.chamando-lhe.boa.criatura,.impertinente,.é.

verdade,.mas.um.coração.de.ouro..E,.elogiando,.convencia-me.também,.ao.menos.por.alguns.instantes..Ou-tro.fenômeno.interessante,.e.que.talvez.lhe.possa.aproveitar,.é.que,.não.sendo.religioso,.mandei.dizer.uma.missa.pelo.eterno.descanso.do.coronel,.na.igreja.do.Sacramento..Não.fiz.convites,.não.disse.nada.a.ninguém;.fui.ouvi-la,.sozinho,.e.estive.de.joelhos.todo.o.tempo,.persignando-me.a.miúdo..Dobrei.a.espórtula.do.padre,.e.distribuí.esmolas.à.porta,.tudo.por.intenção.do.finado..Não.queria.embair.os.homens;.a.prova.é.que.fui.só..Para. completar. este. ponto,. acrescentarei. que. nunca. aludia. ao. coronel,. que. não. dissesse:. “Deus. lhe. fale.n’alma!”.E.contava.dele.algumas.anedotas.alegres,.rompantes.engraçados...

Sete.dias.depois.de.chegar.ao.Rio.de.Janeiro,.recebi.a.carta.do.vigário,.que.lhe.mostrei,.dizendo-me.que.fora.achado.o.testamento.do.coronel,.e.que.eu.era.o.herdeiro.universal..Imagine.o.meu.pasmo.

Pareceu-me.que.lia.mal,.fui.a.meu.irmão,.fui.aos.amigos;.todos.leram.a.mesma.cousa..Estava.escrito;.era.eu.o.herdeiro.universal.do.coronel..Cheguei.a.supor.que.fosse.uma.cilada;.mas.adverti.logo.que.havia.outros.meios.de.capturar-me,.se.o.crime.estivesse.descoberto..Demais,.eu.conhecia.a.probidade.do.vigário,.que.não.se.prestaria.a.ser.instrumento..Reli.a.carta,.cinco,.dez,.muitas.vezes;.lá.estava.a.notícia.

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56  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

–.Quanto.tinha.ele?.perguntava-me.meu.irmão.–.Não.sei,.mas.era.rico.–.Realmente,.provou.que.era.teu.amigo.–.Era....Era...Assim,.por.uma.ironia.da.sorte,.os.bens.do.coronel.vinham.parar.às.minhas.mãos..Cogitei.em.recusar.a.

herança..Parecia-me.odioso.receber.um.vintém.do.tal.espólio;.era.pior.do.que.fazer-me.esbirro.alugado,.Pensei.nisso.três.dias,.e.esbarrava.sempre.na.consideração.de.que.a.recusa.podia.fazer.desconfiar.alguma.cousa..No.fim.dos.três.dias,.assentei.num.meio-termo;.receberia.a.herança.e.dá-la-ia.toda,.aos.bocados.e.às.escondidas..Não.era.só.escrúpulo;.era.também.o.modo.de.resgatar.o.crime.por.um.ato.de.virtude;.pareceu--me.que.ficava.assim.de.contas.saldas.

Preparei-me.e.segui.para.a.vila..Em.caminho,.à.proporção.que.me.ia.aproximando,.recordava.o.triste.sucesso;.as.cercanias.da.vila.tinham.um.aspecto.de.tragédia,.e.a.sombra.do.coronel.parecia-me.surgir.de.cada.lado..A.imaginação.ia.reproduzindo.as.palavras,.os.gestos,.toda.a.noite.horrenda.do.crime...

Crime.ou.luta?.Realmente,.foi.uma.luta.em.que.eu,.atacado,.defendi-me,.e.na.defesa....Foi.uma.luta.des-graçada,.uma.fatalidade..Fixei-me.nessa.ideia..E.balanceava.os.agravos,.punha.no.ativo.as

pancadas,.as.injúrias....Não.era.culpa.do.coronel,.bem.o.sabia,.era.da.moléstia,.que.o.tornava.assim.rabu-gento.e.até.mau....Mas.eu.perdoava.tudo,.tudo....O.pior.foi.a.fatalidade.daquela.noite....Considerei.também.que.o.coronel.não.podia.viver.muito.mais;.estava.por.pouco;.ele.mesmo.o.sentia.e.dizia..Viveria.quanto?.Duas.semanas,.ou.uma;.pode.ser.até.que.menos..Já.não.era.vida,.era.um.molambo.de.vida,.se.isto.mesmo.se.podia.chamar.ao.padecer.contínuo.do.pobre.homem....E.quem.sabe.mesmo.se.a.luta.e.a.morte.não.foram.apenas.coincidentes?.Podia.ser,.era.até.o.mais.provável;.não.foi.outra.cousa..Fixei-me.também.nessa.ideia...

Perto.da.vila.apertou-se-me.o.coração,.e.quis.recuar;.mas.dominei-me.e.fui..Receberam-me.com.para-béns..O.vigário.disse-me.as.disposições.do.testamento,.os.legados.pios,.e.de.caminho.ia.louvando.a.mansi-dão.cristã.e.o.zelo.com.que.eu.servira.ao.coronel,.que,.apesar.de.áspero.e.duro,.souber.ser.grato.

–.Sem.dúvida,.dizia.eu.olhando.para.outra.parte.Estava.atordoado..Toda.a.gente.me.elogiava.a.dedicação.e.a.paciência..As.primeiras.necessidades.do.in-

ventário.detiveram-me.algum.tempo.na.vila..Constituí.advogado;.as.cousas.correram.placidamente..Duran-te.esse.tempo,.falava.muita.vez.do.coronel..Vinham.contar-me.cousas.dele,.mas.sem.a.moderação.do.padre;.eu.defendia-o,.apontava.algumas.virtudes,.era.austero...

–.Qual.austero!.Já.morreu,.acabou;.mas.era.o.diabo.E.referiam-me.casos.duros,.ações.perversas,.algumas.extraordinárias..Quer.que.lhe.diga?.Eu,.a.princípio,.

ia.ouvindo.cheio.de.curiosidade;.depois,.entrou-me.no.coração.um.singular.prazer,.que.eu,.sinceramente.buscava.expelir..E.defendia.o.coronel,.explicava-o,.atribuía.alguma.cousa.às.rivalidades.locais;.confessava,.sim,.que.era.um.pouco.violento....Um.pouco?.Era.uma.cobra.assanhada,.interrompia-me.o.barbeiro;.e.todos,.o.coletor,.o.boticário,.o.escrivão,.todos.diziam.a.mesma.cousa;.e.vinham.outras.anedotas,.vinha.toda.a.vida.do.defunto..Os.velhos.lembravam-se.das.crueldades.dele,.em.menino..E.o.prazer.íntimo,.calado,.insidioso,.crescia.dentro.de.mim,.espécie.de.tênia.moral,.que.por.mais.que.a.arrancasse.aos.pedaços,.recomponha-se.logo.e.ia.ficando.

As.obrigações.do.inventário.distraíram-me;.e.por.outro.lado.a.opinião.da.vila.era.tão.contrária.ao.coronel,.que.a.vista.dos.lugares.foi.perdendo.para.mim.a.feição.tenebrosa.que.a.princípio.achei.neles..Entrando.na.posse.da.herança,.converti-a.em.títulos.e.dinheiro..Eram.então.passados.muitos.meses,.e.a.ideia.de.distribuí-

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Page 53: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  57

-la.toda.em.esmolas.e.donativos.pios.não.me.dominou.como.da.primeira.vez;.achei.mesmo.que.era.afetação..Restringi.o.plano.primitivo;.distribuí.alguma.cousa.aos.pobres,.dei.à.matriz.da.vila.uns.paramentos.novos,.fiz.uma.esmola.à.Santa.Casa.da.Misericórdia,.etc.:.ao.todo.trinta.e.dous.contos..Mandei.também.levantar.um.túmulo.ao.coronel,.todo.de.mármore,.obra.de.um.napolitano,.que.aqui.esteve.até.1866,.e.foi.morrer,.creio.eu,.no.Paraguai.

Os.anos.foram.andando,.a.memória.tornou-se.cinzenta.e.desmaiada..Penso.às.vezes.no.coronel,.mas.sem.os.terrores.dos.primeiros.dias..Todos.os.médicos.a.quem.contei.as.moléstias.dele,.foram.acordes.em.que.a.morte.era.certa,.e.só.se.admiravam.de.ter.resistido.tanto.tempo..Pode.ser.que.eu,.involuntariamen-te,.exagerasse.a.descrição.que.então.lhes.fiz;.mas.a.verdade.é.que.ele.devia.morrer,.ainda.que.não.fosse.aquela.fatalidade...

Adeus,.meu.caro.senhor..Se.achar.que.esses.apontamentos.valem.alguma.cousa,.pague-me.também.com.um.túmulo.de.mármore,.ao.qual.dará.por.epitáfio.esta.emenda.que.faço.aqui.ao.divino.sermão.da.montanha:.“Bem-aventurados.os.que.possuem,.porque.eles.serão.consolados.”

Anexo:

Biblioteca de sala: espaço de formação de leitores,de Ana flávia castanho

Ana Flávia Castanho é educadora, formadora de professores, coordenadores

pedagógicos e diretores e atua também no Projeto Entorno, da Fundação Victor

Civita. A atividade permanente e a sequência de atividades apresentadas abaixo

são parte do cardápio de projetos institucionais de leitura, produzido em 2010,

para uso nas formações de educadores do Entorno.

biblioteca de sala9: espaço de formação de leitores

Para.que.uma.criança.possa.constituir-se.enquanto.leitora,.de.forma.a.fazer.da.leitura.uma.parte.querida.e.importante.de.sua.vida,.é.preciso.que.ela.tenha.a.oportunidade.de.conviver.com.livros.e.leitores,.compar-tilhando.práticas.de.leitura..Algumas.das.crianças.têm.essa.convivência.assegurada.na.sua.vida.familiar,.mas.muitas.dependem.da.escola.para.ter.acesso.a.ela..Esse.projeto.institucional.de.leitura.é.pensado.para.garan-tir.as.condições.para.que.essa.convivência.ocorra.

Para.isso,.ele.se.divide.em.duas.partes:.a.primeira.trata.de.como.instituir.atividades.habituais.de.leitura.a.fim.de.que.a.biblioteca.de.sala.efetivamente.se.constitua.como.um.espaço.de.convivência.entre.leitores:

“organizando a biblioteca de sala”;

“instituindo o empréstimo de livros para leitura em casa”;

“preparando-se para atuar como modelo de leitor”.

9. Ou.biblioteca.da.escola..Nesse.caso,.é.interessante.consulta.à.Cartilha Biblioteca Ativa,.do.Instituto.Avisa.Lá,.que.traz.orientações.importantes.para.a.organização.e.instituição.do.trabalho.com.leitura.na.biblioteca.escolar.

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58  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

E.uma.segunda.parte.com.propostas.de.rodas.de.comentários.e.indicação.de.leituras.e.de.círculos.de.leitura:

“conversando sobre livros: as rodas de biblioteca”;

“trabalhando com círculos de leitura”.

organizando a biblioteca de sala

1. Seleção dos livros:

Sendo a biblioteca de sala o espaço privilegiado em que as crianças poderão conviver com livros e leitores,

a escolha do acervo é um passo importantíssimo. No contexto da escola pública, esse acervo é parte de um

conjunto maior: o dos livros da escola ou o dos livros da biblioteca escolar. Por isso é fundamental que o

professor os conheça bem, para fazer suas escolhas. Também é importante que a equipe de professores da

escola explore coletivamente esse acervo e troque ideias sobre boas escolhas de livros tendo em vista o que

conhece sobre as preferências leitoras da faixa etária com a qual trabalha.

Tendo em mente que novos leitores são formados na interação com leitores experientes e materiais de leitu-

ra de qualidade, os livros escolhidos para a biblioteca de sala devem ter o potencial de ampliar o universo

leitor das crianças: ou seja, devem contemplar diferentes gêneros, conter livros de variada extensão, de

autores nacionais e estrangeiros, clássicos e contemporâneos, pensados para o público infantil e pensados

para o público em geral, apresentados em variados portadores. Além disso, sempre que possível é interes-

sante que alguns livros desse acervo sejam escolhidos pelas crianças.

2. organização do acervo:

Selecionado o acervo, a próxima etapa é apresentar esses livros para as crianças para organizá-lo. A organi-

zação e o cuidado com o acervo devem ser tarefas compartilhadas com as crianças: estabelecendo coleti-

vamente critérios para classificação dos livros (ex: etiquetas vermelhas para livros de contos, verdes para

livros que falem sobre curiosidades dos animais, ou separar livros de uma mesma coleção etc.). Também

devem ser compartilhados os cuidados e o compromisso com a conservação dos livros. É importante ressal-

tar que quanto mais as crianças estão envolvidas com a organização do acervo e apresentadas a leituras que

as encantam, maior é o compromisso que elas passam a ter com a conservação dos livros, já que lhes foi

possível atribuir sentido a práticas de leitura e ao uso desse objeto tão especial que é o livro.

3. escolha do espaço:

O espaço onde ficam os livros deve ser organizado de forma a convidar a leitura: livros acessíveis, visíveis, num

espaço da sala onde as crianças possam se sentar para ler, compartilhar a leitura de um livro com um amigo.

4. renovação do acervo:

É importante que o acervo da biblioteca de sala seja periodicamente renovado, a fim de que as crianças

possam encontrar novas histórias, novos autores e gêneros. A oportunidade de se defrontar com o novo, de

se surpreender, de fazer novas descobertas é algo fundamental para criar o hábito da leitura. Uma boa solu-

ção para isso é rodiziar o acervo entre as salas da escola, a cada dois ou três meses.

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Apostilas das oficinas de leitura  59

Preparando-se para atuar como modelo de leitor

Mas.não.basta.o.acesso.aos.livros,.o.essencial.é.conviver.com.leitores.e.poder.compartilhar.de.suas.práti-cas..Delia.Lerner10,.nos.coloca.que:.realmente, para comunicar às crianças os comportamentos que são típicos do leitor, é necessário que o professor os encarne em sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alunos de parti-ciparem em atos de leitura que ele mesmo está realizando, que trave com eles uma relação ‘de leitor para leitor.

Assim,.por.meio.da.mediação.do.professor11,.a.criança.atribui.significado.às.diferentes.práticas.de.leitura,.desenvolve.gostos.e.preferências.quanto.a.autores.e.gêneros,.cria.laços.afetivos.com.livros.e.histórias.e.vai.começando.a.ver.a.si.mesma.como.uma.leitora.

E.o.professor.é.aquele.que,.ao.compartilhar.motivos,.estratégias.e. interesses,.abre.para.as.crianças,.as.portas.do.mundo.maravilhoso.da.literatura.e.da.poesia.e.mostra.como.ler.e.escrever.são.instrumentos.im-portantíssimos.para.interagir.em.sociedades.como.a.nossa..Ele.faz.isso.quando.compartilha.com.as.crianças,.lendo.para.elas,.uma.notícia.que.o.espantou.ou.lhe.despertou.a.curiosidade;.quando.procura.junto.com.as.crianças,.em.livros.ou.enciclopédias,.respostas.para.temas.que.interessam.sua.turma;.quando.lê.um.poema.que.o.emocionou;.quando.apresenta.um.livro.de.um.autor.que.considera.especial.e.divide.a.leitura.dele.com.seus.alunos...

Esse.papel.do.professor.como.um.leitor.experiente.que.compartilha.sua.prática.com.as.crianças.é.tão.mais.essencial.quanto.menores.elas.sejam,.mas.nunca.deixa.de.ser.importante,.mesmo.quando.os.alunos.já.sabem.ler,.o.professor.é.aquele.que.apresenta.para.eles.novos.gêneros,.livros.mais.extensos,.novos.autores,.pois.esses.momentos.de.leitura.compartilhados.com.o.professor.são.um.dos.grandes.trunfos.que.temos.à.mão.para.evitar.que.o.fascínio.que.os.pequenos.tinham.pela.leitura.e.seu.desejo.de.ler.não.desapareça.ao.longo.da.escolarização,.como,.infelizmente,.muitas.vezes.vemos.acontecer.

Assim,.é.fundamental.que.o.professor.se.prepare.para.exercer.esse.papel,.lendo.previamente.os.livros.cuja.leitura.irá.compartilhar.com.as.crianças,.pensando.em.que.comentários.e.relações.ele.pode.compartilhar,.planejando.como.irá.apresentar.o.livro,.que.boas.questões.podem.animar.uma.conversa.coletiva.sobre.a.lei-tura.(a.esse.respeito,.ver.o.próximo.item).

instituindo o empréstimo de livros para leitura em casa

A.pesquisadora.espanhola,.Tereza.Colomer,.certa.vez,.em.uma.de.suas.palestras.em.São.Paulo,.fez.a.se-guinte.analogia.para.tratar.da.formação.do.leitor:.para.ser.leitor.é.preciso.muitas.horas.de.leitura,.da.mesma.forma.que.para.ser.um.piloto.de.avião.é.necessário.muitas.horas.de.vôo.antes.de.se.tirar.o.brevê..Explicou.que.são.necessárias.variadas.experiências.de.leitura,.continuadas.ao.longo.do.tempo,.para.que.se.desenvol-vam.preferências,.para.que.a.leitura.se.torne.crítica,.e.para.que.ela.se.torne.uma.parte.importante.da.vida.de.uma.deter.‘minada.pessoa..Assim,.o.empréstimo.de.livros.da.biblioteca.da.escola.ou.de.sala,.é.essencial.para.multiplicar.as.oportunidades.de. leitura.possíveis.para.cada.uma.das.crianças:.pois.além.das.situações.de.leitura.propostas.na.escola,.um.novo.espaço.se.abre:.ler.livros.de.sua.própria.escolha.em.casa,.compartilhan-do.essa.leitura.com.a.família.

10. Lerner,.Delia..Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário..Porto.Alegre:.Artmed,.2002,.p..85.11. Seja.o.professor.titular.da.turma.ou.o.professor.responsável.pela.biblioteca.da.escola.

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60  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Atividade permanente – conversando sobre livros e indicando leituras: as rodas de biblioteca12

As.rodas.de.biblioteca.devem.ser.realizadas.como.uma.atividade.planejada.e.permanente.de.leitura.na.escola.(semanal.ou.quinzenal),.em.que.se.conversa.sobre.as.leituras.que.as.crianças.realizaram.em.casa.(com.o.empréstimo.de.livros).e.abre-se.um.espaço.para.que.as.crianças.indiquem.o.livro.que.leram.para.um.(ou.alguns).colega(s),.levando.em.conta.características.do.livro.e.preferências.leitoras.do(s).amigo(s).

Essa.atividade,.ao.ser.inserida.no.cotidiano.da.classe,.traz.em.si.o.potencial.de.ajudar.a.construir,.na.escola,.uma.comunidade.de.leitores.e.escritores,.onde.as.crianças.tenham.múltiplas.oportunidades.de.explorar.novos.livros,.escolher.suas.leituras,.apreciar.os.efeitos.que.cada.uma.delas.lhes.trazem,.falar.sobre.essas.sensações,.re-comendar.leituras.e.analisar.as.recomendações.recebidas.dos.colegas.a.fim.de.seguir.aquelas.que.parecem.mais.interessantes,.desenvolvendo,.ao.longo.desse.processo,.gostos.e.preferências.por.livros,.gêneros.e.autores.

objetivos:

• ampliar o repertório literário;

• interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entre-

tenimento;

• compartilhar experiências leitoras;

• confrontar interpretações;

• estabelecer relações com outros textos;

• ampliar os conhecimentos acerca de um determinado autor, utilizando-os como critério de seleção na es-

colha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e inter-

pretações;

• ampliar os conhecimentos acerca de determinado gênero, utilizando-os como critério de seleção/indicação

na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e

interpretações;

• conhecer diferentes ilustradores e ilustrações, compartilhando o efeito que uma ilustração produz, confron-

tando interpretações e considerando tais conhecimentos na seleção/indicação de livros;

• conhecer diferentes coleções, ampliando os conhecimentos acerca das características deste tipo de publi-

cação e utilizando-os como critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados ou em sua indicação.

conteúdos:

• valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento;

• interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos;

• desenvolvimento de estratégias de argumentação, para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos;

• desenvolvimento de critérios de escolha e de indicação de livros.

12. In: Dime –.Aidan.Chambers..México,.FCE,.2007..Capítulo.13.

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Apostilas das oficinas de leitura  61

Ano:.Educação.Infantil.e.Ensino.Fundamental.I.

Tempo estimado:.atividade.permanente.ao.longo.do.ano.ou.do.semestre,.com.uma.frequência.quinzenal.ou.semanal.

encaminhamentos:

As.perguntas.abaixo,.retiradas.do.livro.Dime,.de.Aidan.Chambers,.são.um.repertório.importante.para.o.professor.criar.um.movimento.de.troca.de.ideias,.considerações,.indicações.entre.os.pequenos,.usando,.quan-do.necessário.uma.pergunta.ou.outra.com.cada.criança.na.roda13..Com.o.tempo,.as.crianças.vão.construindo.uma.autonomia.cada.vez.maior.para.compartilhar.essas.impressões.sobre.as.leituras.realizadas.e.com.isso.assumindo.um.protagonismo.cada.vez.maior.nessa.troca.

Teve alguma coisa que vocês gostaram nesse livro?

O que te chamou especialmente a atenção?

Você gostaria que algo tivesse acontecido de forma diferente?

Teve alguma coisa que você não gostou?

Teve parte que você achou cansativa?

Você pulou alguma parte? Qual?

Se você parou de ler, em que parte isso aconteceu?

Teve alguma coisa que te causou espanto?

Houve algo que você achou maravilhoso?

Encontrou alguma coisa que você nunca havia visto em um livro?

Você se surpreendeu com alguma coisa?

Alguma coisa não combinava, ou não ficou bem explicada?

A primeira vez que você viu esse livro, antes de ler, como você pensava que ele seria?

O que te fez esperar isso?

E depois de ler, foi o que você esperava?

Você já leu livros como este?

Você já leu esse livro antes? Se sim, foi diferente dessa vez?

O que você diria a seus amigos sobre esse livro?

Há quanto tempo vocês acham que aconteceu essa história?

Sobre quem é essa história?

Que personagem você achou mais interessante?

Em que lugar se passa a história?

Ao.final.da.roda,.novos.empréstimos.de.livros.são.feitos.e.é.combinada.a.data.da.próxima.roda.

13. Não.há.nenhum.sentido.em.transformar.essas.perguntas.num.questionário,.pois.isso.afastaria.as.crianças.da.leitura,.em.vez.de.aproximá-las..A.ideia.é.dar.ao.professor.um.repertório.que.o.ajude.a.animar.uma.discussão.sobre.livros.e.leituras.

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62  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Avaliação:

Para.avaliar.se.o.trabalho.com.o.projeto.está.cumprindo.seus.objetivos.de.aprendizagem.para.as.crianças,.observe.se.elas:

demonstram interesse em selecionar livros para levar para ler em casa;

compartilham impressões, opiniões e passagens preferidas sobre os livros e as situações de leitura em casa;

recomendam a leitura do livro que leram levando em conta suas características e os gostos da pessoa para

quem a recomendação é feita;

estabelecem relações entre a história lida em casa e outras histórias conhecidas.

Além.disso,.o.acompanhamento.dos.avanços.das.crianças.deve.orientar.o.professor.no.planejamento.de.intervenções.individualizadas,.quando.necessário,.criando.condições.e.demandas.para.que.todos.te-nham.a.oportunidade.e.o.espaço.de.participar.das.conversas.sobre.a.leitura,.ajudando-as.na.escolha.de.títulos.para.o.empréstimo,.a.fim.de.criar.condições.para.que.todos.avancem.nos.seus.comportamentos.leitores.

Sequência de atividades – trabalhando com círculos de leitura

Enquanto.a.roda.de.biblioteca.se.articula.com.as.leituras.realizadas.em.casa.(empréstimos.de.livros),.a.proposta.dos.círculos.de.leitura.é.criar.momentos.no.cotidiano.escolar.em.que.todos.param.para.ler.e.depois.comentam.essa.leitura.com.os.colegas.que.leram.o.mesmo.livro.e.posteriormente.com.toda.a.sala..Essa.pro-posta,.apresentada.por.Harvey.Daniels,.um.especialista.norte-americano.em.formação.de.leitores,.se.estru-tura.da.seguinte.forma14:

1. os alunos escolhem o que irão ler;

2. pequenos grupos temporários são formados, de acordo com a escolha do livro que cada aluno fez;

3. diferentes grupos leem diferentes livros;

4. os grupos se reúnem de forma regular e pré-planejada para discutir as leituras que estão realizando;

5. as crianças escrevem ou desenham notas para guiar tanto a leitura como a discussão;

6. os tópicos da discussão são levantados pelos próprios alunos;

7. os encontros do grupo devem funcionar como reais conversas entre leitores, portanto, apresentação de

pontos de vista pessoais, questionamento sobre pontos da história que permitem várias interpretações e di-

gressões são práticas bem vindas;

8. o professor funciona como facilitador, não como instrutor;

9. a avaliação é feita a partir da observação do professor e da auto avaliação realizada pelos alunos;

10. o prazer de ler e compartilhar impressões sobre livros deve dar o tom dos encontros;

11. quando a leitura do livro lido pelo grupo acaba, as crianças compartilham com toda a sala os pontos altos

dessa leitura e, com isso, novos grupos são formados.

14. Excerto.do.capítulo.2:.A closer look: literature cicles defined,.do.livro:. Literature Circles: voice and choice in book clubs and reading groups,.de.Harvey.Daniels,.Stenhouse.Publishers,.2001

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Apostilas das oficinas de leitura  63

objetivos:

• ampliar o repertório literário;

• interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entre-

tenimento;

• compartilhar experiências leitoras;

• estabelecer relações com outros livros, outras épocas/lugares e autores diferentes;

• confrontar interpretações e saber articular argumentos que sustentem seu ponto de vista;

• engajar-se em “discussões” sobre leituras realizadas, levando em conta o ponto de vista dos colegas e usan-

do as questões trazidas por eles para rever suas próprias ideias e impressões.

conteúdos:

• valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento;

• interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos;

• desenvolvimento de estratégias de argumentação, para defender ideias e pontos de vista sobre os livros

lidos;

• desenvolvimento de procedimentos do leitor como estabelecer relações entre o livro que se está lendo e

outros livros conhecidos ou acontecimentos vividos, selecionar passagens preferidas, pensar em outros

desfechos possíveis, levantar hipóteses para explicar a motivação por traz de atos dos personagens etc.

Ano:.Ensino.Fundamental.I.

Tempo estimado:.cada.círculo.de.leitura.leva.em.torno.de.um.mês.para.ser.realizado,.o.ideal.é.que.o.trabalho.se.repita.algumas.vezes.para.que.cada.criança.tenha.a.oportunidade.de.explorar.a.leitura.de.alguns.títulos.nesse.contexto.privilegiado.que.o.círculo.de.leitura.proporciona.

Materiais necessários: Diversos.títulos.de.livros,.cada.um.com.vários.exemplares.

encaminhamentos15:

1. apresentação da ideia de trabalhar com círculos de leitura, trazendo crianças ou adultos leitores para dar

seu depoimento sobre seus livros preferidos;

2. providencie uma ampla gama de bons livros e convide as crianças a escolherem um16 livro que elas desejam

ler. A partir dessas escolhas, forme grupos de 4 ou 5 crianças que querem ler o mesmo título. Isso vai levar

alguns minutos de negociação;

3. discutir coletivamente o que as crianças acham que vale a pena anotar17, retomando o depoimento do leitor

que elas tiveram a oportunidade de ouvir, registrar as ideias das crianças e, se necessário, chamar a atenção

15. Idem,.baseado.em.propostas.do.capítulo.5.16. No.caso.de.alguma.criança.escolher.um.livro.que.mais.ninguém.escolheu,.é.necessário.ajudá-la.a.fazer.uma.nova.escolha.17. As.crianças.pequenas.também.fazem.anotações,.desenhando.personagens.preferidos,.marcando.páginas.que.tenham.os.“pontos.altos”.da.his-tória,.etc..

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64  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

para outras possibilidades (sentimentos, relações, palavras em que se têm dúvidas, trechos que se deseja

guardar, questionamentos, comentários, relações entre a história e a vida delas; perguntas que vierem à

mente; como imaginam uma determinada cena; “truques” do autor, boas ideias ao longo da escrita; palavras

interessantes, etc.);

4. peça que o grupo combine a leitura do trecho inicial (que possa ser lido em 20 ou 30 minutos);

5. quando todos terminarem a leitura e fizerem suas anotações, convide os grupos a conversarem o que leram,

compartilhando suas anotações (por 10 a 15 minutos);

6. durante essas conversações, visite cada um dos grupos, como observador. Anote exemplos e comentários

para compartilhar na discussão geral;

7. terminado esse momento de troca inter-grupos, organize a sala num grupo só e fale sobre os livros. Peça que

cada grupo dê um exemplo, conte algo interessante que compartilharam durante a conversa após a leitura.

Depois reflita com as crianças sobre o processo de conversar sobre a leitura, listando os procedimentos que

ajudaram a discussão. Organize essas informações num cartaz;

8. peça que os grupos decidam por um novo trecho do grupo para o próximo encontro.

Avaliação:

Para.avaliar.se.o.trabalho.com.o.projeto.está.cumprindo.seus.objetivos.de.aprendizagem.para.as.crianças,.observe.se.elas:

demonstram interesse em participar dos círculos de leitura;

compartilham suas anotações sobre o livro que estão lendo, sabendo que é possível falar dos sentimentos

que a leitura despertou, das relações que estabeleceram com outros livros e situações, perguntar sobre pa-

lavras em que se tem dúvida, mostrar trechos preferidos, levantar questões sobre a história, fazer comentá-

rios sobre as ações dos personagens, contar como imaginam uma determinada cena, etc.

O.professor.deve.acompanhar.os.grupos.(círculos.de.leitura),.anotando.questões.para.discutir.no.coletivo.a.fim.de.ampliar.o.rol.de.procedimentos.e.relações.que.as.crianças.põem.em.ação.durante.a.leitura.

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Apostilas das oficinas de leitura  65

APoStiLA 2oficinA 2 – crÔnicA – A prosa cotidiana

instantâneos da vida se transformam em textos que entretêm e fazem pensar

objetivos:

Espera-se que os participantes como leitores particulares:

• apreciem ler crônicas;

• conheçam alguns dos importantes cronistas brasileiros;

• compreendam a relação que a crônica tem com os fatos do cotidiano, tomando como inspiração as notícias

da imprensa falada e escrita, tanto quanto os acontecimentos vividos ou observados;

• estabeleçam relação entre as crônicas lidas e o fato que as inspirou;

• percebam o jornal como rico material de leitura;

• experienciem a produção escrita de uma crônica.

Espera-se que os participantes como leitores públicos:

• compreendam a crônica como gênero da literatura para ser lida e apreciada individualmente, na escola e

em outros espaços públicos;

• percebam o jornal como valioso material didático: portador de diferentes gêneros textuais, em especial, as

crônicas.

conteúdos:

• leitura de crônicas;

• breve história do gênero textual crônica;

• o leitor de crônica: expectativas e comportamentos leitores;

• a crônica como gênero da esfera jornalística – a relação crônica e notícia;

• a estrutura narrativa da crônica.

material necessário:

A.inspiração.das.crônicas.são.os.acontecimentos.cotidianos.vividos.ou.estampados.em.fotos.e.notícias..Elas.podem.ser.encontradas.em.diferentes.suportes:.em.jornais,.revistas,.blogs.e.livros..Em.muitos.casos,.os.livros.são.compilações.de.crônicas.publicadas.nos.jornais..É.importante.que.o.formador.reúna.para.levar.

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Page 62: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

66  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

para.a.oficina:.jornais.nacionais.e.locais;.revistas.de.notícias;.fotos.jornalísticas;.recortes.de.notícias.e.crôni-cas;.livros.de.diferentes.autores.e.épocas.que.abordem.o.gênero.trabalhado.e.indicação.de.blogs,.entre.outros..O.formador.deve.ter.o.cuidado.de.selecionar.os.textos.com.antecedência..Se.houver.cronistas.da.região,.deve-se.procurar.dar.destaque.a.eles..Esses.certamente.falarão.de.temas.familiares.aos.participantes,.aproxi-mando-os.da.leitura.de.crônicas.

Desenvolvimento:

O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá.-lo.à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.

1. mar de crônicas: ele tem a função de inspirar e seduzir os participantes da oficina para a leitura desses

textos. O Mar de Crônicas será composto do material levado para a oficina pelo formador e pelos partici-

pantes e exposto sobre um belo tecido, de preferência no chão. Pode estar pronto antes do início da oficina

ou ser montado em outro momento. O importante é que o material seja conhecido do formador e fique à

mostra para manuseio e leitura.

2. Abertura: o formador apresenta suas reflexões sobre as aprendizagens do grupo, com relação à oficina 1.

Depois retoma as atividades sugeridas para o presente encontro: que os participantes mostrem e comentem

o registro da experiência no Diário de Leitura. Esse breve momento pode ser realizado em duplas e depois

aqueles que assim desejarem poderão socializar no grupo maior, contando se praticaram alguma atividade

relacionada à leitura e aos espaços de biblioteca e como isso se deu e apresentando as crônicas e seus au-

tores trazidos para enriquecer a oficina.

Ao socializar os registros dos diários, os participantes também comentam as leituras das obras do acervo

circulante: quais suas impressões sobre os livros sugeridos? Foi possível concluir a leitura? Houve dificulda-

des em compreender o texto? Quais? Se fossem indicar o título para outros participantes, quais aspectos

ressaltariam?

Nesse momento, o formador poderá propor uma nova troca de títulos entre os participantes, acrescentando

ao acervo doado outros livros trazidos pelo grupo de seus acervos pessoais. Sugerimos que em todas as

oficinas os participantes tragam outras obras para emprestar entre si, organizando como atividade perma-

nente uma “Feira de troca de livros”.

3. Apresentação da apostila: o formador faz a leitura das páginas iniciais da apostila, ressaltando os objetivos

e os conteúdos que serão desenvolvidos na oficina 2, que tem como título Crônica – a prosa cotidiana.

4. A leitura de uma bela crônica dará início à oficina: o formador iniciará a oficina com uma conversa sobre

as crônicas queridas e os cronistas preferidos da turma. Em seguida, lê para o grupo uma crônica escolhida

por ele. A escolha poderá tomar como base um fato de conhecimento da turma, um autor conhecido da

região ou de reconhecimento nacional, uma crônica antológica, uma crônica muito querida do formador

etc. É importante que o formador tenha objetivos claros quando for selecionar o texto que dará início à

oficina e que apresente seus motivos para o grupo, pois esse é o momento da sensibilização para o tema do

encontro. É uma leitura para escutar e se deliciar.

A apostila sugere vários textos que podem ser lidos na abertura do encontro. A crônica Conversinha mineira

(do livro A mulher do vizinho, Editora Sabiá Rio de Janeiro, 1962, p. 144) é uma sugestão para esse momento.

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Apostilas das oficinas de leitura  67

Escrita por Fernando Sabino, ela está estruturada apenas em diálogos bem-humorados e pode ser uma exce-

lente oportunidade para que os participantes identifiquem a prosa cotidiana presente no texto que será o

tema dessa oficina. Outra sugestão de leitura para este momento é a crônica de Luis Fernando Verissimo.”

Crônica e Ovo” disponível em Para Gostar de Ler (O nariz e outras crônicas). São paulo: Ática:1995

5. cronistas explicam seu ofício: não são poucos os cronistas que escreveram sobre o seu próprio fazer literá-

rio. Ler o que escreveram é uma forma de conhecer e apreciar mais este gênero textual.

Nesse momento, o formador apresenta duas crônicas que se encaixam nesse caso. Seus autores são dois

importantes escritores brasileiros: Machado de Assis, em O nascimento da crônica (1/11/1877), disponível

na apostila, e Vinicius de Moraes, em O exercício da crônica disponível na obra Para Viver um Grande Amor

(crônicas e poemas, 1962, Ed. do Autor, RJ).

Orientação para a leitura dessas crônicas:

• a turma é dividida em dois grupos. Cada grupo lê uma crônica;

• depois da leitura, cada grupo expõe o que leu levantando as características do fazer literário dos cronistas

apontados pelos dois autores;

• enquanto os grupos apresentam suas conclusões, o formador poderá organizar o registro para sistematizar as

conclusões dos participantes.

6. Leitura dos textos-farol disponíveis ao final desta apostila: o Texto-farol I Crônica: a prosa cotidiana aborda

o conceito e a origem da crônica. Já Texto-farol II, A relação crônica & notícia, propõe o exercício de trans-

posição de um fato noticiado nos jornais em tema para a produção de crônicas.

O formador pode propor a leitura dos textos em voz alta, discutindo seus temas e utilizando as crônicas para

exemplificar os conceitos que serão abordados durante a oficina.

7. Atividades de Leitura: nesse momento da oficina, serão realizadas atividades de leitura que exigem compor-

tamentos leitores que implicam interações com outras pessoas acerca dos textos lidos. O objetivo é que os

participantes saboreiem a leitura de uma crônica em parceria com um colega.

A seguir, sugerimos uma atividade a partir da leitura da crônica A outra noite ,de Rubem Braga (publicada

no livro Ai de ti, Copacabana, editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1969, p. 183-184.), escritor considerado por

muitos o maior cronista brasileiro, desde Machado de Assis. A proposta é ler para o outro, escutar a leitu-

ra feita por outra pessoa e dialogar sobre o que se leu. O formador propõe que se formem duplas e que

um leia para o outro. O objetivo é que a leitura e a apreciação do texto sejam realizadas de modo intera-

tivo. Após a leitura, a dupla conversa sobre o ponto de vista do cronista a respeito do que ele chama de

“presente de rei” e sobre o que a crônica fez cada leitor pensar.

Em seguida, abre-se uma discussão coletiva para o confronto com outros leitores das interpretações geradas pela

crônica lida. O formador, nesse momento, pode ampliar a discussão, propondo a reflexão sobre outros elemen-

tos do texto, dizendo que A outra noite é uma crônica de beleza singela. Seus ingredientes são os mais corri-

queiros e tudo dito de modo coloquial. Há um jogo de sentidos com as expressões: a outra noite; uma noite de

vento sul e chuva; acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra – pura, perfeita e linda.

Ficam as perguntas: o cronista fala de uma noite só, ou de mais de uma noite? Como é que uma noite pode

ser, ao mesmo tempo, chuvosa e enluarada?

O motorista do táxi, ouvindo o passageiro contar a história para o amigo, fica surpreso com as declarações.

Diz o texto que Ele chegou a pôr a cabeça para fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Além

disso, que frases disse o motorista? O que elas revelam?

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68  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

No último parágrafo, o narrador diz: “(...) como se eu lhe tivesse feito um presente de rei”. O que o narrador

está chamando de presente de rei?

Para concluir a leitura e apreciação da crônica, os participantes podem contar se já ganharam ou se já deram

um presente de rei para alguém. E como foi isso?

O formador poderá também propor um círculo de leitura do gênero utilizando os textos que estão no anexo

da apostila. Divididos em grupos, os participantes fazem a leitura de uma mesma crônica, primeiro indivi-

dualmente, anotando suas impressões sobre o texto (palavras que não entenderam, trechos que consideram

bem escritos, relações entre as situações abordadas no texto e suas vidas, etc.). Em seguida, trocam suas

anotações com outros participantes que leram o mesmo texto e, juntos, escrevem uma recomendação para

os demais colegas. Para finalizar a atividade, o formador organiza a socialização das indicações.

8. texto dramático do grupo Qorpo-Santo: o formador apresenta outro texto que já foi encenado por grupos

de teatro do Letras de Luz: Um credor da Fazenda Nacional, anexo.

9. tarefas:

a) de leitor a escritor – Como foi dito no início, um dos objetivos da oficina 2 é que o participante escreva

sua própria crônica. De posse dos conhecimentos que já tinham e com os que adquiriram nessa oficina,

os participantes deverão elaborar uma crônica, que será levada na oficina 3 para ser apresentada e lida.

É preciso que se lembre que o cronista, por meio de uma história, transmite ao leitor uma visão pessoal

dos acontecimentos que o cercam. A crônica pode ser elaborada a partir de:

• uma foto significativa;

• uma notícia que esteja nas páginas dos jornais ou revistas;

• um acontecimento vivido ou presenciado.

Tudo pode ser assunto para uma crônica. É importante que o tema escolhido cause no autor alguma

sensação: entusiasmo, surpresa, indignação, alegria, etc. Também é fundamental que o ponto de vista

esteja presente na crônica de forma implícita ou explícita;

b) ir a uma biblioteca pública e retirar um livro de crônicas para ler. Registrar as impressões da leitura no

Diário de Leitura;

c) escolher o local e realizar a leitura de uma crônica em situação pública. Registrar a atuação de contador

e a reação dos ouvintes numa página do Diário de Leitura.

10. Avaliação: os participantes e o formador avaliam se os objetivos da oficina foram atingidos, comentam os

aspectos positivos e negativos e dão sugestões, preferencialmente por escrito.

11. Preparando o próximo encontro: para a terceira oficina, Vozes em cena ficam propostas as atividades: registrar

suas leituras no Diário de Leitura, ler um texto teatral – o formador dará sugestões de títulos para serem pesquisa-

dos no acervo doado pelo projeto – e vir com roupas confortáveis e que permitam movimento.

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Page 65: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  69

bibliografia básica

CANDIDO,.Antônio.[et..al.]..A.Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil..São.Paulo:.Editora.da.UNICAMP;.Rio.de.Janeiro:.Fundação.Casa.de.Rui.Barbosa,.1992.

A.obra.reúne.estudos.e.artigos.apresentados.em.outubro.de.1988.em.seminário.sobre.a.crônica.realizado.na.Fundação.Casa.de.Rui.Barbosa..Retoma.as.discussões.a.respeito.das.origens,.fontes.e.traços.característicos.do.gênero,.de.sua.popu-larização.e.de.suas.transformações.no.Brasil.do.século.XIX.e.do.início.do.século.XX,.do.seu.meio.de.veiculação.(a.impren-sa),.além.de.aproximações.a.outros.gêneros.(o.relato.de.viagem,.a.crônica.histórica),.à.charge.e.à.fotografia.

____.A.vida.ao.rés-do-chão..In:.Para gostar de ler: crônicas..4..Editora.São.Paulo:.Ática,.1984..v..5.

Texto.introdutório.do.volume.5,.da.Coleção.Para Gostar de Ler:.crônicas,.em.que.o.autor.expõe.sua.teoria.sobre.crônica.

DIONISIO,.Ângela;.MACHADO,.Anna.Rachel.&.BEZERRA,.M..Auxiliadora.(Orgs.)..(2002)..Gêneros textuais & ensino. Rio.de.Janeiro:.Lucerna.

O.que.são.exatamente.gêneros.textuais.e.de.que.forma.utilizá-los.no.cotidiano.das.escolas?.Essas.perguntas,.e.várias.outras,.estão.respondidas.em.Gêneros textuais e ensino,.coletânea.de.estudos.de.linguística.aplicada.organizada.pelas.professoras.Ângela.Paiva.Dionísio,.Anna.Rachel.Machado.e.Maria.Auxiliadora.Bezerra..A.obra.divide-se.em.dois.momentos:.no.primeiro,.estão.os.estudos.relacionados.à.definição.do.conceito.de.gêneros.textuais.e,.na.segunda.parte,.estão.trabalhos.desenvolvidos.a.partir.dos.vários.gêneros.textuais,.incluindo.aqueles.surgidos.com.a.internet,.como.o.correio.eletrônico.(e-mail).e.os.bate-papos.virtuais.(chats)..Trata-se.de.obra.dedicada.a.instrumentalizar.os.profissio-nais.de.ensino.de.línguas.

DOLZ,.J;.NOVERRAZ,.M.&.SCHNEUWLY,.B..Gêneros orais e escritos na escola. Campinas,.SP:.Mercado.de.Letras,.2004.

A.obra.discute.as.questões:.por.que.trabalhar.com.gêneros.e.não.com.tipos.de.textos?.Em.que.esses.trabalhos.e.esses.conceitos.são.diferentes?.O.que.é.gênero.de.texto?.Como.entender.a.noção?.Que.gêneros.selecionar.para.ensino.e.como.organizá-los.ao.longo.do.currículo?.Como.pensar.progressões.curriculares?.Deve-se.trabalhar.somente.com.os.gêneros.de.circulação.escolar?.De.circulação.extraescolar?.Ambos?.Quais.são.os.mais.relevantes.em.cada.caso?.O.livro.oferece.encaminhamentos.e.procedimentos.possíveis.para.o.ensino.de.gêneros.na.escola.

JAFFE,.Noemi.&.BIGNOTTO,.Cilza..Crônica na sala de aula..2..ed..São.Paulo:.Itaú.Cultural,.2004.

Publicação.elaborada.especialmente.para.professores,.com.o.objetivo.de.auxiliá-los.no.trabalho.com.esse.gênero.literário..Organizado.em.módulos.aos.quais.se.integram.análises.originais,.simples.e.instigantes.de.textos.de.autores.consagrados.

LERNER,.Delia..Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário..Porto.Alegre:.Artmed,.2002.

Segundo.Regina.Scarpa.em.resenha.publicada.na.revista.Nova Escola.(ago/2008),.nesse.livro,.partindo.de.um.em-basamento.teórico.consistente,.a.autora.“ajuda.os.educadores.na.compreensão.do.que.precisa.ser.ensinado.quando.se.quer.formar.leitores.e.escritores.de.fato..Delia.também.explicita.a.importância.de.o.professor.criar.condições.para.que.os.alunos.participem.ativamente.da.cultura.escrita.desde.a.alfabetização.inicial,.uma.vez.que.constroem.simultanea-mente.conhecimentos.sobre.o.sistema.de.escrita.e.a.linguagem.que.usamos.para.escrever”.

SOLE,.Isabel..Estratégias de leitura..6..ed..Porto.Alegre:.Artmed,.1998.

O.livro.escrito.por.Isabel.Solé.aborda.diferentes.formas.de.trabalhar.com.o.ensino.da.leitura..Seu.propósito.princi-pal.é.promover.nos.alunos.a.utilização.de.estratégias.que.permitam.interpretar.e.compreender.de.forma.autônoma.os.textos.lidos..Enfatizando.sempre.que.o.ato.de.ler.é.um.processo.complexo,.a.autora,.utilizando.um.texto.simples.e.agradável.de.ser.lido,.explicita-o.dentro.de.uma.perspectiva.construtivista.da.aprendizagem.

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Page 66: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

70  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Para saber mais

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/galeria.htm

TV.Cultura.–.Alô escola – Sabor crônicas:.apresenta.o.conceito.de.crônicas.e.tem.uma.galeria.com.textos.de.alguns.cronistas.brasileiros.

http://vejasp.abril.com.br/revista/cronicas

Crônicas.da.Revista.Veja:.crônicas.publicadas.na.revista.Veja.

http://www.dominiopublico.gov.br

Domínio.Público.–.Site.com.obras.completas.de.alguns.dos.principais.cronistas.brasileiros.

http://www.itaucultural.org.br..

O.Instituto.Cultural.Itaú.possui.uma.videoteca.com.documentários.e.depoimentos.que.podem.ser.acessados.no.computador.ou.retirados.em.sua.sede..Sobre.crônicas,.indicamos.o.vídeo:.Moacyr Scliar com Luís Fernando Verissimo.–.A.opção.pela.crônica.–.Duração:.4min.e.32seg.

http://www.museudapessoa.org.br

Museu.da.Pessoa.também.garante.acesso.a.vários.depoimentos..Lá.é.possível.ver.e.ouvir.Heloisa.Seixas.falando.sobre.a.crônica,.gênero.textual.que.transita.entre.jornalismo.e.literatura.e.assistir.ao.vídeo.sobre.a.leitura.de.crônicas.para.e.com.cegos Livros além da Visão.

http://www.cronistas.com.br.

Site.em.que.é.possível.postar.uma.crônica.pessoal.e.ler.outras.dos.mais.variados.autores.

http://www.tvbrasil.org.br.

Pode-se.procurar.os.textos.da.antiga.Rádio.MEC..Lá,.Paulo.Autran.leu.por.muitos.anos.crônicas.diárias.de.nossos.maiores.cronistas.num.programa.que.se.tornou.lendário:.Quadrante!

http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata..

Página.do.cronista.Antonio.Prata,.nascido.em.São.Paulo,.em.1977..O.autor.publica.seus.textos.uma.segunda.sim,.outra.não,.na.última.página.do.caderno.Metrópole,.do.jornal.O Estado de S.Paulo.

Livros:.Além.da.coleção.Para gostar de ler,.da.editora.Ática,.várias.editoras.possuem.coleções.desse.gênero.lite-rário,.como.a.Global,.com.a.sua.As melhores crônicas,.a.Record,.que.publica.cronistas.de.todo.o.Brasil,.a.Cosac.&.Naify,.que.recentemente.publicou.crônicas.antigas.e.históricas.de.Manuel.Bandeira,.a.Cia..das.Letras.e.Objetiva,.que. têm,. respectivamente,.as.excelentes.edições.Em boa companhia.–.Crônicas. e.as.100 melhores crônicas do século,.entre.tantas.outras.

CD: da.Editora.Luz.da.Cidade:

Rubem.Braga.–.Crônicas.escolhidas,.interpretadas.por.Edson.Celulari.

Machado.de.Assis.–.Poesias,.crônicas.e.contos,.interpretadas.por.Othon.Bastos.

Muitas.crônicas,.de.tão.famosas.e.significativas,.foram.adaptadas.para.teatro,.cinema.e.televisão..Veja.algumas.delas:

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Page 67: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  71

TV: a.mais.famosa.adaptação.foi.Comédia da Via Privada,.da.TV.Globo,.escrita.por.Jorge.Furtado.e.Carlos.Gerva-se..Apresentada.de.1995.a.1997,.tem.como.enredo.acontecimentos.do.cotidiano.de.pessoas.da.classe.média.brasileira..As.histórias.eram.baseadas.em.crônicas.de.Luís.Fernando.Verissimo.publicadas.na.revista.Domingo do Jornal do Brasil..Em.1994,.elas.foram.reunidas.em.livro,.que.ficou.meses.entre.os.mais.vendidos.na.lista.das.livrarias.

Cinema: a.adaptação.mais.famosa.é.a.crônica.O homem nu,.de.Fernando.Sabino,.que.já.teve.duas.filmagens.dife-rentes..A.primeira.é.de.1968,.direção.de.Roberto.Santos,.tendo.no.elenco.Paulo.José.e.Leila.Diniz,.com.música.do.famoso.maestro.Rogério.Duprat..Em.1997,.nova.adaptação,.com.Cláudio.Marzo.e.Lúcia.Veríssimo.nos.papéis.princi-pais.e.Hugo.Carvana.na.direção.

O.filme.O homem nu,.nas.duas.versões,.é.uma.comédia.que.narra.as.confusões.causadas.por.um.homem.que.fica.acidentalmente.trancado.pelo.lado.de.fora.do.apartamento.completamente.nu..A.partir.daí,.o.homem.–.do.jeito.como.veio.ao.mundo.–.passa.por.uma.série.de.situações.inusitadas,.fugindo.de.um.lado.para.outro.para.se.proteger.de.uma.população.inteiramente.escandalizada.

SANTOS,.Roberto..O homem nu..Brasil,.Cinematográfica.Pelimex.e.Wallfilmes,.1968..181.min.

CARVANA,.Hugo..O homem nu..Brasil,.Europa.Filmes,.1997..75.min.

Outra. importante.adaptação.é.Crônica da cidade amada.de.1965,.dirigido.por.Carlos.Hugo.Christensen..É.o.primeiro.filme.brasileiro.colorido,.em.cinemascope..O.Rio.de.Janeiro.é.visto.pelo.olhar.dos.cronistas.Paulo.Mendes.Campos,.Carlos.Drummond.de.Andrade,.Dinah.Silveira.de.Queiroz,.Fernando.Sabino,.Paulo.Rodrigues,.Orígenes.Lessa,.entre.outros..O.roteiro.foi.escrito.por.Millor.Fernandes,.Manuel.Bandeira,.Pedro.Bloch,.Carlos.Hugo.Chris-tensen,.Carlos.Drummond.de.Andrade,.Orígenes.Lessa,.Paulo.Mendes.Campos,.Fernando.Sabino,.Dinah.Silveira.de.Queiroz,.Paulo.Rodrigues..O.filme.relata.11.situações.e.histórias.inspiradas.na.vida.carioca,.com.narração.de.Paulo.Autran,.que.recita.trechos.de.textos.de.cronistas.como.Carlos.Drummond,.Paulo.Mendes.Campos,.Fernando.Sabino,.Orígenes.Lessa,.Dinah.Silveira.de.Queiroz.e.Paulo.Rodrigues.

cronistas explicam seu ofício

o nascimento da crônica (1/11/1877), de machado de Assis

Machado de Assis (1839-1908), nosso maior escritor, foi cronista, contista,

dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Suas obras

mais conhecidas: Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro (1899).

Há.um.meio.certo.de.começar.a.crônica.por.uma.trivialidade..É.dizer:.Que.calor!.Que.desenfreado.calor!.Diz-se.isto,.agitando.as.pontas.do.lenço,.bufando.como.um.touro,.ou.simplesmente.sacudindo.a.sobrecasaca..Resvala-se.do.calor.aos.fenômenos.atmosféricos,.fazem-se.algumas.conjeturas.acerca.do.sol.e.da.lua,.outras.sobre.a.febre.amarela,.manda-se.um.suspiro.a.Petrópolis,.e.la glace est rompue; está.come-çada.a.crônica.

Mas,.leitor.amigo,.esse.meio.é.mais.velho.ainda.do.que.as.crônicas.que.apenas.datam.de.Esdras..Antes.de.Esdras,.antes.de.Moisés,.antes.de.Abraão,.Isaque.e.Jacó,.antes.mesmo.de.Noé,.houve.calor.e.crônicas..No.

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Page 68: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

72  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

paraíso.é.provável,.é.certo.que.o.calor.era.mediano,.e.não.é.prova.do.contrário.o.fato.de.Adão.andar.nu..Adão.andava.nu.por.duas.razões,.uma.capital.e.outra.provincial..A.primeira.é.que.não.havia.alfaiates,.não.havia.sequer.casimiras;.a.segunda.é.que,.ainda.havendo-os,.Adão.andava.baldo.ao.naipe..Digo.que.esta.razão.é.provincial,.porque.as.nossas.províncias.estão.nas.circunstâncias.do.primeiro.homem.

Quando.a.fatal.curiosidade.de.Eva.fez-lhes.perder.o.paraíso,.cessou,.com.essa.degradação,.a.vantagem.de.uma.temperatura.igual.e.agradável..Nasceu.o.calor.e.o.inverno;.vieram.as.neves,.os.tufões,.as.secas,.todo.o.cortejo.de.males,.distribuídos.pelos.doze.meses.do.ano.

Não.posso.dizer.positivamente.em.que.ano.nasceu.a.crônica;.mas.há.toda.a.probabilidade.de.crer.que.foi.coetânea.das.primeiras.duas.vizinhas..Essas.vizinhas,.entre.o.jantar.e.a.merenda,.sentaram-se.à.porta,.para.debicar.os.sucessos.do.dia..Provavelmente.começaram.a. lastimar-se.do.calor..Uma.dizia.que.não.pudera.comer.ao.jantar,.outra.que.tinha.a.camisa.mais.ensopada.do.que.as.ervas.que.comera..Passar.das.ervas.às.plantações.do.morador.fronteiro,.e.logo.às.tropelias.amatórias.do.dito.morador,.e.ao.resto,.era.a.coisa.mais.fácil,.natural.e.possível.do.mundo..Eis.a.origem.da.crônica.

Que.eu,.sabedor.ou.conjeturador.de.tão.alta.prosápia,.queira.repetir.o.meio.de.que.lançaram.mãos.as.duas.avós.do.cronista,.é.realmente.cometer.uma.trivialidade:.e.contudo,.leitor,.seria.difícil.falar.desta.quinzena.sem.dar.à.canícula.o.lugar.de.honra.que.lhe.compete..Seria;.mas.eu.dispensarei.esse.meio.quase.tão.velho.como.o.mundo,.para.somente.dizer.que.a.verdade.mais.incontestável.que.achei.debaixo.do.sol,.é.que.nin-guém.se.deve.queixar,.porque.cada.pessoa.é.sempre.mais.feliz.do.que.outra.

Não.afirmo.sem.prova.Fui.há.dias.a.um.cemitério,.a.um.enterro,.logo.de.manhã,.num.dia.ardente.como.todos.os.diabos.e.suas.

respectivas.habitações..Em.volta.de.mim.ouvia.o.estribilho.geral:.–.Que.calor!.Que.sol!.É.de.rachar.passa-rinho!.É.de.fazer.um.homem.doido!

Íamos.em.carros;.apeamo-nos.à.porta.do.cemitério.e.caminhamos.um.longo.pedaço..O.sol.das.onze.horas.batia.de.chapa.em.todos.nós;.mas.sem.tirarmos.os.chapéus,.abríamos.os.de.sol.e.seguíamos.a.suar.até.o.lugar.onde.devia.verificar-se.o.enterramento..Naquele.lugar.esbarramos.com.seis.ou.oito.homens.ocupados.em.abrir.covas:.estavam.de.cabeça.descoberta,.a.erguer.e.fazer.cair.a.enxada..Nós.enterramos.o.morto,.vol-tamos.nos.carros,.e.daí.às.nossas.casas.ou.repartições..E.eles?.Lá.os.achamos,.lá.os.deixamos,.ao.sol,.de.ca-beça.descoberta,. a. trabalhar. com.a. enxada..Se.o. sol.nos. fazia.mal,.que.não. faria. àqueles.pobres-diabos,.durante.todas.as.horas.quentes.do.dia?

Fonte: Obra Completa de Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994.Crônicas, Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938.

Publicado originalmente na Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro.

Na crônica de Machado de Assis, algumas expressões antigas podem trazer dificuldade para o entendimento: La glace est rompue, expressão francesa que significa “o gelo está quebrado”. No texto, o sentido é metafórico. Adão an-dava baldo ao naipe, isto é, Adão não tinha o que fazer; coetânea, é o mesmo que contemporânea; debicar significa comentar zombando; tropelias, o mesmo que estripulias; alta prosápia, significa importante origem; canícula, o mes-mo que intenso calor.

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Apostilas das oficinas de leitura  73

texto-farol 1:

crônica – A prosa cotidiana, de heloisa ramos

Heloisa Ramos é graduada em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa, pela

PUCCAMP, especialista em Linguística, Semântica e Didática da Língua Portugue-

sa, pela PUC-SP, e formadora do Projeto Letras de Luz.

Sabe da última?.Deu no jornal. Abrimos.o.jornal.e.lá.estão.elas.–.as.notícias..Notícias.boas,.notícias.más,.notícias.daqui,.notícias.de.lá,.notícias.de.todo.lugar...

O jornal é um rico veículo de informação – Com.textos.de.gêneros.variados,.fotografia.e.recursos.grá-ficos,.os.jornais.são.uma.fonte.de.pesquisa.e.de.obtenção.de.informação.sobre.o.mundo.atual..São.vendidos.por.assinatura.ou.em.bancas.de.jornal,.lojas,.livrarias,.supermercados.etc..Também.podem.ser.lidos.gratuita-mente.em.bibliotecas.e.acessados.na.internet..Vários.são.os.gêneros.textuais.que.compõem.os.jornais:.notí-cia,.editorial,.crônica,.entrevista,.reportagem,.artigo.de.opinião,.carta.do.leitor,.resenha,.artigo.de.divulgação.científica,.horóscopo,.HQ/tira,.previsão.do.tempo,.charge,.cartum,.anúncio,.propaganda,.palavra.cruzada,.previsão.do.tempo,.programação.de.lazer.(tv,.rádio,.cinema,.teatro,.shows,.museus...).etc.

Leitura de jornal e a formação do cidadão crítico – A.leitura.frequente.dos.jornais.nos.leva.a.conhecer.os.principais.fatos.que.estão.acontecendo.no.mundo.e.nos.ajuda.a.compreender.melhor.a.realidade.que.nos.cerca..A.imprensa.não.apenas.relata,.mas.também.comenta.e.interpreta.os.fatos..As.notícias.contam.os.acontecimen-tos.e.os.artigos.de.opinião,.os.editoriais,.as.crônicas.e.as.entrevistas.nos.auxiliam.a.refletir.sobre.eles..É.comum.um.jornal.publicar.mais.de.um.ponto.de.vista.sobre.um.mesmo.fato..Os.textos.jornalísticos.conversam.entre.si,.não.só.no.mesmo.exemplar.como.de.um.dia.para.o.outro..Um.fato.é.notícia.num.dia,.nos.outros.dias.pode.ser.tema.de.editorial,.de.artigos.de.opinião,.de.reportagem,.de.entrevista.ou.de.uma.crônica.

A notícia, a crônica e o leitor –.Em.meio.a.tanta.notícia,.a.crônica.surge.na.página.do.jornal.ou.da.revis-ta.como.para.arejar.o.peso.das.manchetes.diárias..Sua.leitura.ajuda.a.aliviar.a.tensão.que.as.notícias.graves.podem.causar.

Notícia & crônica – Assim.como.acontece.com.a.notícia,.a.crônica.também.se.alimenta.dos.fatos.do.cotidiano..Onde,.então,.está.a.diferença.entre.estes.dois.gêneros?.A.diferença.principal.está.na.intencionali-dade.de.cada.um.deles..As.notícias.são.escritas.para.informar.o.leitor.de.jornais.e.revistas.dos.principais.acontecimentos.políticos,.esportivos,.culturais,.científicos,.econômicos.etc.,.nacionais.e.internacionais..E.as.crônicas.são.escritas,.sobretudo,.para.entreter.esse.mesmo.leitor.

Linguagem – Outra.diferença.é.a. linguagem..Um.texto.escrito.para. informar.não.pode.ter.a.mesma.linguagem.de.um.texto.que.pretende.entreter.o.leitor..A.linguagem.de.um.texto.que.tem.o.compromisso.de.dar.informações.precisa.ser.objetiva.e.fornecer.dados.com.precisão..De.outro.lado,.o.texto.que.não.tem.esse.mesmo.compromisso.com.a.realidade.permite.ao.escritor.ter.mais.liberdade.no.uso.da.linguagem..O.escritor,.neste.caso,.tem.que.ser.criativo..Ele.deve.encontrar.novas.formas.para.dizer.coisas.corriqueiras..Para.isso,.ele.

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74  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

precisa.dar.novos.sentidos.às.palavras,.diferentes.dos.sentidos.conhecidos..Por.meio.de.suas.crônicas,.com.lirismo,.humor,.ironia.ou.sarcasmo,.o.cronista.reflete.sobre.a.realidade.que.nos.rodeia.e.a.critica.de.forma.explícita.ou.implícita,.ajudando.a.ampliar.nossa.visão.das.coisas.

O que diz Antonio Cândido – Escritor,.ensaísta,.professor.universitário.e.o.mais.importante.crítico.lite-rário.brasileiro,.Antônio.Cândido.(1918).diz.que.na.crônica,.“Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e re-flexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida...”..(Antonio.Cândido,.em.A vida ao rés-do-chão,.prefácio.do.livro.Para gostar de ler, volume 5, Crônicas,.Ática,.1984)

Para exemplificar – Vamos.exemplificar.o.que.dissemos.até.agora.com.uma.crônica.de.Fernando.Bonas-si..No.final.dos.anos.90,.os.ônibus.urbanos.da.cidade.de.São.Paulo.foram.equipados.com.bancos.que.ficam.de.frente.um.para.o.outro..Bonassi,.paulistano,.nascido.em.1962,.traduziu.numa.crônica.o.que.ele.pensava.sobre.esses.bancos..O.texto.foi.publicado.na.coluna.Da rua,.no.caderno.Ilustrada,.do.jornal.Folha.de.São.Paulo,.em.abril.de.2000.

bAnco DoS boboS

Fernando Bonassi

Moura não consegue entender o que leva a indústria a construir esses ônibus,

que podem fazer três idiotas chegar a passar algumas horas olhando pra cara de

outros três imbecis, conforme a duração da viagem. Não há livro, videogame ou

walkman que distraia todo o tempo. Logo estão olhares enviesados se cruzando,

escapando, rebatendo nas vidraças, que ainda teimam em refletir. Aqueles enge-

nheiros devem estar acreditando que a raça humana é um troço geneticamente

dotado de simpatia. Parecem não imaginar o quanto um mísero contato é difícil

por aqui.

A.crônica.nos.faz.refletir.sobre.o.comportamento.humano:.Como.nos.sentimos.andando.de.ônibus.sen-tados.de.frente.para.pessoas.que.não.conhecemos?.Ficamos.à.vontade.ou.nos.sentimos.constrangidos?.Pu-xamos.conversa.com.o.vizinho.da.frente.ou.desviamos.nossos.olhos.dos.olhos.dele?.Todas.as.pessoas.reagem.do.mesmo.jeito,.ou.depende.de.pessoa.para.pessoa,.ou.ainda.de.cultura.para.cultura?.A.simpatia.não.faz.parte.da.natureza.humana.e.estabelecer.contato.com.seu.semelhante.é.difícil.para.o.ser.humano?

Outro.ponto.a.observar.nessa.crônica.é.a.linguagem..O.autor.faz.uso.de.linguagem.informal,.de.expres-sões.bastante.populares.como.“imbecil”,.“idiota”.e.“troço”..Ele.inventa.um.personagem.chamado.“Moura”.e.é.por.intermédio.do.“Moura”.que.podemos.perceber.o.que.o.cronista.pensa.da.raça.humana.

A fonte de inspiração dos cronistas – Alguns.cronistas.se.baseiam.nos.fatos.noticiados.na. imprensa..Outros.vão.buscar.inspiração.nos.temas.mais.banais.e.comuns.da.vida.de.qualquer.pessoa..Crônicas.são.dirigidas.a.um.público.específico.–.o.leitor.dos.jornais.ou.revistas..São.escritas.para.colunas.mantidas.nos.periódicos..Não.é.um.gênero.textual.simples.de.definir,.como.bem.disse.Luiz.Fernando.Veríssimo.no.texto.Crônica e Ovo.

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Apostilas das oficinas de leitura  75

Definição da palavra crônica –.Encontramos.no.Novo.Dicionário.da.Língua.Portuguesa,.de.Aurélio.Buarque.de.Holanda,.editora.Nova.Fronteira,.em.edição.de.1999,.a.seguinte.definição:

Crônica. [Do.lat..chronica.].S.f..1..Narração.histórica,.ou.registro.de.fatos.comuns,.feitos.por.ordem.cro-nológica..[...].4..Texto.jornalístico.redigido.de.forma.livre.e.pessoal,.e.que.tem.como.temas.fatos.ou.ideias.da.atualidade,.de.teor.artístico,.político,.esportivo,.etc.,.ou.simplesmente.relativos.à.vida.cotidiana.

Origem da palavra crônica.–.A.palavra.crônica.deriva.do.Latim chronica,.que,.por.sua.vez,.deriva.do.grego.chronos,.que.significa.“tempo”..A.relação.com.o.“tempo”,.que.desde.sua.origem.existe,.mantém-se.até.hoje.

Um pouco de História –.No.início.da.era.cristã,.significava.o.relato.de.acontecimentos.em.ordem.cronológica..Era.um.registro.de.eventos,.a.chamada.crônica histórica..Na.Europa,.no.século.XIX,.com.o.desenvolvimento.da.imprensa,.a.crônica.passou.a.fazer.parte.dos.jornais..Eram.textos.que.comentavam,.de.forma.crítica,.os.acontecimentos.da.época..Tinham,.portanto,.um.sentido.histórico.e.serviam,.assim.como.outros.textos.do.jornal,.para.informar.o.leitor..Essa.prática.foi.trazida.para.o.Brasil.na.segunda.metade.do.século.XIX..Com.o.passar.do.tempo,.a.crônica.brasileira.foi,.pouco.a.pouco,.distanciando-se.daquela.crônica.com.sentido.de.documento.histórico..Ela.ficou.mais.leve,.fazendo.uso.de.linguagem.literária..Mas.não.perdeu.a.ligação.com.o.“tempo”,.sua.característica.definidora,.que.é.a.relação.com.os.fatos.contemporâneos.

A primeira crônica brasileira – A.carta.que.Pero.Vaz.de.Caminha.escreveu.a.D..Manuel,.rei.de.Portugal,.contando.o.descobrimento.do.Brasil,.é.considerada.a.primeira.crônica.brasileira..Ela.se.inicia.assim:

Senhor:

Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a

Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação ago-

ra se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor

que eu puder, ainda que – para o bem contar e falar –, o saiba fazer pior que todos.

[...]

Beijo as mãos de Vossa Alteza.

Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de

Maio de 1500.

Pero Vaz de Caminha

É.possível.ler.A.Carta.na.íntegra.em.www.dominiopublico.gov.br.Pedro.Vaz.de.Caminha.lendo.a.Pedro.Álvares.Cabral.e.frei.Henrique.Coimbra.a.carta.que.escreveu.a.

El-Rei.D..Manuel.e.de.que.Gaspar.de.Lemos,.comandante.do.navio.dos.mantimentos,.era.portador,.(quadro.do.pintor.brasileiro.Aurélio.de.Figueiredo)»,.reproduzido.em.Carlos.Malheiro.Dias.(org.),.História da Colo-nização Portuguesa do Brasil,.1923,.vol..II..Reprodução.fotográfica.de.Isabel.Rochinha.

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76  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Na.época.de.Caminha,.século.XVI,.crônica significava.registro.de.acontecimentos.históricos..É.isto.que.sua.carta.é..No.século.XVIII,.o.termo.com.esta.significação.foi.substituído.pela.palavra.história. Desde.então,.história.é.o.registro.e.a.interpretação.de.acontecimentos.históricos.

Folhetins ocupam o espaço menos nobre do jornal: o rodapé – Entre.o.final.do.século.XIX.e.o.início.do.século.XX,.escritores.já.consagrados.ocupavam.o.rodapé,.a.parte.inferior.das.páginas.dos.jornais.com.pequenos.textos:.contos,.artigos,.ensaios.etc..Eram.os.chamados.folhetins, destinados.ao.entretenimento.do.leitor.e.muito.apreciados.na.época. Machado.de.Assis.e.José.de.Alencar.são.alguns.dos.grandes.nomes.da.literatura.brasileira.que.foram.folhetinistas..Às.vezes,.escreviam.romances.em.capítulos,.que.eram.acompa-nhados.com.tanto.interesse.como.o.são.as.novelas.de.televisão.de.hoje;.às.vezes,.escreviam.crônicas..Assim,.a.crônica.atual.nasceu.dos.folhetins.

Fonte: Este texto foi elaborado para esta apostila e é uma adaptação do capítulo dedicado ao estudo da crônica da Coleção Viver, Aprender – Ensino Fund. II – vol. 5, editora Global (2010), da mesma autora.

texto-farol 2

A relação crônica & notícia, de heloisa ramos

Heloisa Ramos é graduada em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa, pela

PUCCAMP, especialista em Linguística, Semântica e Didática da Língua Portuguesa,

pela PUC-SP, e formadora do Projeto Letras de Luz.

Antes.mesmo.de.ler.um.texto,.sabendo.apenas.que.se.trata.de.uma.notícia,.uma.carta,.uma.propa-ganda.ou.um.conto,.já.antecipamos.alguns.de.seus.significados..Por.exemplo,.sabendo.que.se.vai.ler.uma.notícia,.o.que.se.espera.encontrar?.Uma.provável.resposta.será:.um.texto.publicado.em.jornal.ou.revis-ta,.que.relata.um.acontecimento.notável.que.tem.alguma.importância.para.o.leitor.da.publicação,.se-gundo.seu.editor.

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Page 73: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  77

Os.títulos.também.são.reveladores..A.notícia.que.vem.a.seguir.foi.publicada.no.jornal.Folha de S.Paulo,.no.dia.16.de.outubro.de.2006,.no.caderno.Cotidiano,.e.foi.escrita.pela.repórter.Daniela.Tófoli. O.título.é.Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo.

Antes.de.ler.uma.notícia.com.tal.título,.o.leitor.provavelmente.começará.a.imaginar.quem.são.esses.la-drões.e.o.que.roubam.nas.igrejas..Serão.imagens.antigas.de.santos.ou.objetos.de.valor.histórico?.O.que.eles.fazem.com.o.material.roubado?

Só.mesmo.lendo.o.texto.para.saber:

igrejAS São ALvoS De LADrõeS em São PAULo

Só a proteção divina não está mais dando conta. Os assaltos a igrejas torna-

ram-se tão freqüentes que padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos

santos e passaram a contratar seguranças, instalar alarmes e até colocar câmeras

no altar para evitar furtos e roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse aparato é

suficiente.

Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os reli-

giosos da igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul) constatarem que,

pela terceira vez em dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre

onde estavam as oferendas do dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas

do ladrão.

Três semanas atrás, porém, um dos quatro seguranças que se revezam no local

identificaram um assaltante. “A polícia o prendeu e recuperou o dinheiro. Era o

mesmo ladrão que nos roubou há menos de dois meses”, diz o padre Augusto Pe-

reira, um dos vigários da igreja. “Ainda não temos câmeras, mas a segurança se

tornou preocupação nas paróquias.

Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias consultadas pela

Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto neste ano ou no passado. Ou seja,

65% das paróquias foram vítimas de ladrões. De agosto para cá, foram sete

assaltos.

“Não tem ano que a gente não seja roubado, mas agora está demais”, diz o

padre João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. “Em agos-

to, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma festa. Não se res-

peita mais nem a igreja.”

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78  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

fUrtoS De PÁrA-rAioS

Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da São Januário, na Mooca

(zona leste). “A situação é terrível, não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam

e só a guarda de Deus não dá conta de tudo.”

A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em março, os ladrões le-

varam cálices, depredaram o sacrário e roubaram até o pára-raios. “Como era de

cobre, levaram para vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a igreja da Con-

solação, no centro, foi mais uma que teve os fios de seu pára-raios furtados.

O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz de R$ 3.000 que adornava a igreja

Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os religiosos de lá. Já a Bom Je-

sus, no Brás, não sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Senhora Aparecida,

furtada há um mês.

Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano passado, roubaram o

ofertório no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na Bela Vista

(centro). Também em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa Senho-

ra do Rosário, na Pompéia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre

do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro.

Repórter Daniela Tófoli – Folha de S.Paulo/Caderno Cotidiano – 16/10/2006

Notícia inspira crônica – O.mesmo.jornal.que.publicou.a.notícia.acima,.poucos.dias.depois,.publicou.a.crônica.abaixo..Este.é.um.caso.de.crônica.cujo.autor.toma.como.base.uma.notícia..O.autor.Moacyr.Scliar.todas.as.segundas-feiras,.no.caderno.“Cotidiano”,.da.Folha.de.São.Paulo,.escreve.uma.crônica..Ele.parte.do.tema.de.uma.notícia.e.cria.um.texto.de.ficção..A.crônica,.publicada.em.23/10/2006,.foi.inspirada.na.notícia.“Igrejas.são.alvos.de.ladrões.em.São.Paulo”.

O autor – Moacyr.Jaime.Scliar.nasceu.em.23/3/1937,.em.Porto.Alegre.(RS)..É.um.dos.mais.produtivos.escritores.brasileiros,.com.mais.de.setenta.títulos.publicados.

Para pensar antes de ler a crônica – O.que.será.que.passa.na.cabeça.de.um.ladrão,.antes.de.decidir.se.vai.ou.não.roubar.uma.igreja?.Scliar.diverte.o.leitor,.contando.o.que.aconteceu.com.um.ladrão.de.igreja.

O.título.da.crônica.é.um.dos.dez.mandamentos.do.cristianismo:.“Não.roubarás”. A.influência.da.temá-tica.bíblica.é.marcante.nas.obras.de.Moacyr.Scliar..O.título.Não roubarás.é.uma.ordem?.É.o.desejo.de.al-guém?.É.um.artigo.de.um.código.moral?

Intertextualidade – Textos.conversam.com.textos,.sejam.verbais.ou.não..Quanto.mais.um.leitor.conhece.outros.textos.mais.ele.amplia.sua.compreensão.leitora..Um.exemplo.disto.é.que.para.compreender.melhor.esta.crônica,.o.leitor.precisa.saber.que.existe.um.filme.americano.chamado.O diabo veste Prada..Prada.é.o.nome.de.uma.centenária.e.famosa.marca.italiana.de.moda.de.luxo..No.filme.de.2006,.a.atriz.Meryl.Streep,.sob.a.direção.de.David.Frankel,.faz.o.papel.de.uma.exigente.executiva.de.uma.importante.revista.de.moda..Ela.é.o.“diabo”.que.veste.Prada.

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Apostilas das oficinas de leitura  79

não roUbArÁS

Moacyr Scliar

Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais

tarde seria castigado

Verdade seja dita, ele hesitou muito. Porque, apesar de já ter assaltado gente

em bares, em restaurantes, nas ruas, em carros, nunca o fizera numa igreja. Um

amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é

mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem

usar arma. A ele, aquilo parecia um sacrilégio, uma tentação.

Não era religioso, mas acreditava em Deus e na justiça divina. Tinha certeza de

que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado.

Mas então teve um sonho, um sonho que foi decisivo. Sonhou que estava num

lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto. Sem saber o

que fazer, olhava ao redor, desorientado, quando de repente avistou um homem.

Uma figura exótica, sinistra mesmo: vestia uma espécie de fraque, usava cavanha-

que e exibia um sorriso malicioso. Você está indeciso, disse o estranho, você não

sabe se assalta uma igreja ou não, mas você está só perdendo tempo: é a coisa

mais fácil do mundo.

Acordou resolvido: naquele mesmo dia faria o assalto. E, para a estréia, esco-

lheu uma pequena e modesta igreja de bairro. O que se revelou uma verdadeira

decepção. Quando lá chegou, estava começando a chover e, talvez por causa

disso, o lugar estava deserto.

Nenhum fiel ali, nem homem, nem mulher, ninguém para ser assaltado. E na igre-

ja propriamente dita, nada que aparentemente valesse à pena carregar; apenas algu-

mas modestas imagens de santos. Foi até o ofertório, sacudiu-o: nada, estava vazio.

Uma violenta trovoada fez estremecer o templo, o que lhe deu uma ideia: o

pára-raios. Sempre podia render alguma coisa, afinal era de cobre, e ele conhecia

um ferro-velho que pagaria uma boa grana.

Sem muito esforço, retirou o pára-raios, uma haste com o seu fio, e foi embora

sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu aquilo que sempre pode

ocorrer com quem carrega pára-raios: foi atingido por uma descarga elétrica fulmi-

nante. A última coisa que viu foi o homem que aparecera em seu sonho, mostran-

do os caninos num sorriso irônico. E estava bem abrigado da chuva. Porque, em

ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada.

O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima para quem tem de seguir peca-

dores sob a tormenta.

Folha de S.Paulo – Caderno Cotidiano, 23/10/2006

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80  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Uma conversa com a crônica Não roubarás – Todo.leitor,.mesmo.diante.de.um.texto.que.está.lendo.pela.primeira.vez,.reconhece.nele.algum.traço..São.os.traços.e.vestígios.conhecidos.que.permitem.o.entendimen-to.de.um.texto.lido.pela.primeira.vez..Quanto.mais.elementos.são.familiares.ao.leitor,.mais.fácil.será.sua.interpretação.

Reconhecer.o.gênero.do.texto,.por.exemplo,.é.um.traço.importante.para.a.sua.compreensão..Saber.que.o.texto.é.uma.crônica.já.permite.antecipar.algumas.informações..O.leitor.de.crônicas.sabe,.por.exemplo,.que:

esse gênero é ficcional;

o autor inventa uma história, ou faz reflexões sobre um acontecimento que ele presencia no seu cotidiano

ou que está nos noticiários;

em geral, são críticas bem-humoradas;

por trás do humor, o autor critica um comportamento de sua época.

Títulos e subtítulos podem dar pistas do que vai acontecer numa narrativa –.O.texto.tem.um.subtítu-lo:.“Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado”. A.certeza.do.castigo.se.confirmou?.O.assaltante.foi.castigado?.Como?

Crônica e humor – Em.geral, os.cronistas.tratam.com.humor.os.assuntos.das.notícias.do.jornal.e.os.fatos.comuns.do.cotidiano.das.pessoas..A.crônica.Não roubarás.é.um.exemplo.disto..Uma.das.formas.de.criar.humor.é.quebrar.a.expectativa.do.leitor.ou.do.ouvinte..As.quebras.de.expectativa.dessa.crônica.estão,.por.exemplo,.em:

a figura do ladrão é diferente da imagem que se tem de um criminoso. Espera-se que um ladrão não tenha

valores morais, seja seguro, descrente e destemido. No texto, o assaltante não corresponde a essa imagem.

Ele acredita em Deus e teme ser castigado, se assaltar uma igreja;

o local escolhido para ser assaltado foge dos padrões. Espera-se que um ladrão queira roubar lugares que

tenham objetos de valor. No entanto, a igreja escolhida para o assalto é modesta, as imagens dos santos não

têm valor comercial e até o ofertório está vazio;

a tentativa de roubo se transforma numa seqüência desastrosa para o ladrão: começa a chover; a igreja está

vazia, sem ninguém para ser assaltado; uma trovoada violenta estremece o templo; ele rouba e leva embora

o pára-raios sob temporal; uma descarga elétrica fulminante o atinge. Essa seqüência lembra o humor das

comédias tipo pastelão do cinema e de alguns programas humorísticos da televisão, com heróis trapalhões,

como nos seriados Chaves (SBT), A Grande Família (GLOBO) e Os Trapalhões (GLOBO);

o fato de o personagem estar correndo num descampado, sob forte chuva, carregando um objeto inusitado

– um pára-raios – e ser atingido por uma descarga elétrica pode provocar o riso do leitor;

o jogo de palavras o diabo não veste Prada, em que o autor brinca com o nome do filme O diabo veste

Prada, cria a imagem de um diabo que se veste bem;

Intertextualidade – Já.dissemos.que.intertextualidade.é.a.referência.explícita.ou.implícita.que.um.texto.faz.a.outro(s).texto(s)..Na.crônica.que.estamos.analisando,.a.intertextualidade.está.presente.em.diferentes.momentos:

ela faz referências implícitas à Bíblia. O autor usa como título um dos dez mandamentos do Antigo Testa-

mento: “Não roubarás” (Êxodo 20-15). Também cita a figura do diabo e fala em castigo, em Deus e na jus-

tiça divina;

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Apostilas das oficinas de leitura  81

Além da Bíblia, há outra marca intertextual. O narrador diz que “o diabo não veste Prada”. Ao fazer esta

citação, ele está fazendo referência ao filme “O diabo veste Prada”.

explorando o universo textual da crônica Não roubarás

Ao.contrário.da.notícia,.a.crônica.é.um.texto.ficcional..Isto.significa.que.o.escritor.não.tem.compro-misso.com.a.realidade.e.pode.inventar.todos.os.elementos.da.sua.história..Assim.fez.Moacyr.Scliar.no.texto.Não roubarás.

Essa. crônica. apresenta. as. características. essenciais. de. qualquer. texto. narrativo:. um. narrador,. enredo.numa.seqüência.de.fatos,.personagens,.espaço.e.tempo.

Narrador –.Toda.história.precisa.ser.contada.por.“alguém”;.esse.“alguém”.que.conta.a.história.é.o.narra-dor..É.através.dele.que.tomamos.conhecimento.do.enredo,.das.características.das.personagens,.da.descrição.dos.cenários.etc..Nessa.crônica,.o.narrador.conta.a.história.de.um.assalto.a.uma.igreja.praticado.por.um.homem..O.narrador.não.participa.da.história.

Enredo numa sequência de fatos –.O.enredo.é.a.própria.história.que.se.desenrola.em.fatos.numa.sequência.temporal..A.sequência.dos.fatos.na.crônica.Não roubarás.está.assim.encadeada:

1º o narrador explica por que o criminoso ainda não tinha assaltado uma igreja;

2º o assaltante tem um sonho decisivo;

3º o ladrão assalta uma igreja;

4º o assaltante é atingido por uma descarga elétrica.

Personagens –.Os.três.personagens.da.crônica.são:.o.assaltante,.um.amigo.e.o.homem.elegante.do.sonho.Espaço –.São.os.cenários,.espaços. físicos.naturais,.ambientais,.geográficos..Na.crônica,.aparecem.

três.espaços:.o.lugar.do.sonho.é.um deserto distante,.desolado,.perdido.entre.dunas.de.areia;.o.assalto.acontece.numa.igreja.de.bairro.pequena.e.modesta;.uma.descarga.elétrica.atinge.o.assaltante.num.des-campado.

Tempo –.Os.fatos,.acontecimentos.e.ações.das.personagens.se.articulam.no.plano.temporal;.eles.têm,.necessariamente,.uma.duração..Na.crônica.de.Scliar,.tudo.acontece.num.curto.espaço.de.tempo,.entre.uma.noite.e.um.dia.

Personagem e pessoa – Nas.notícias,.é.obrigatório.dizer.o.nome.completo.das.pessoas.citadas..Já.nas.crônicas,.o.autor.inventa.uma.história.com.personagens.imaginados.por.ele,.que.podem.ter.nome.ou.não..Na.crônica.que.estamos.analisando os.personagens.não.têm.nome..O.personagem.principal.é.chamado.simples-mente.de.“ele”.

Linguagem formal e linguagem coloquial – O.personagem.principal.do.texto.Não roubarás.é.um.assal-tante..Quando.ele.está.em.dúvida,.sem.saber.se.vai.ou.não.assaltar.uma.igreja,.um.amigo,.também.assaltan-te,.tenta.convencê-lo.a.praticar.o.crime..Neste.trecho,.o.autor.abandona.o.padrão.culto.da.língua.para.adotar.uma.linguagem.com.gíria:.“....é.mole,.cara,...”

Mais. adiante,.outro.personagem,.um.homem.elegante,. vestindo.uma.espécie.de. fraque,. aparece.num.sonho.e.também.tenta.convencer.o.ladrão.a.roubar.a.igreja..Neste.caso,.a.linguagem.é.mais.formal:.“Você.está.indeciso,.disse.o.estranho,.você.não.sabe.se.assalta.uma.igreja.ou.não,.mas.você.está.perdendo.tempo:.é.a.coisa.mais.fácil.do.mundo.”

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82  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Para.convencer.o.ladrão.a.roubar.a.igreja,.o.amigo.assaltante.e.o.homem.elegante.do.sonho.usaram.o.mesmo.argumento:.roubar.igreja.é.fácil..No.entanto,.a.linguagem.usada.por.cada.um.não.é.igual..O.assal-tante.diz:.“....é.mole,.cara,...”..E.o.homem.bem.vestido.fala:.“....é.a.coisa.mais.fácil.do.mundo.”

As palavras são selecionadas para criar os efeitos de sentido desejados pelo autor –.Para.criar.o.clima.de.uma.história,.o.autor.seleciona.palavras.que.criam.o.efeito.desejado..Para.um.bom.escritor.não.serve.qualquer.palavra..As.palavras.são.selecionadas.para.criar.os.efeitos.de.sentido.desejados.pelo.autor..As.pas-sagens.abaixo.mostram.as.escolhas.que.Scliar.fez:

referindo-se à insegurança do assaltante: “Verdade seja dita, ele hesitou muito.” / “Você está indeciso, disse

o estranho (...)”;

o homem que aparece no sonho do ladrão é chamado de figura exótica e sinistra;

na primeira vez em que o homem aparece no sonho ele exibe um sorriso malicioso. Na segunda vez, mos-

tra os caninos num sorriso irônico.

O tempo verbal na notícia e nas histórias – Títulos.de.notícia.geralmente.têm.verbo.no.presente.e.no.corpo.da.notícia,.o.verbo,.quase.sempre,.está.no.passado. Nos.textos.narrativos,.os.verbos.em.geral.são.usados.no.passado..Isto.ocorre.por.uma.necessidade.do.próprio.ato.de.contar.histórias..Escritores.ou.contadores.orais.contam.histórias.acontecidas.num.tempo.anterior.ao.tempo.da.leitura.ou.da.audição.da.história..Assim.acontece.não.só.com.as.crônicas,.mas.também.com.as.lendas,.as.fábulas,.os.mitos,.os.contos.e.os.romances..O.passado.é.o.tempo.verbal.predominante.nas.narrativas,.mas.não.é.o.único..Na.crônica.Não roubarás, o.verbo.roubar.do.título,.por.exemplo,.está.no.futuro.

A pontuação serve para criar efeitos de sentido desejados pelo autor –.A.crônica. jornalística. é.um.texto.breve..Isto.porque.o.espaço.reservado.no.jornal.para.a.crônica.é.pequeno.e.o.autor.não.pode.ultrapas-sar.um.número.limitado.de.linhas..Nesta.situação,.um.cronista.precisa.saber.dizer.o.que.quer.em.poucas.palavras..Um.dos.recursos.de.síntese.é.a.pontuação..Na.crônica,.podemos.perceber.a.competência.de.Moacyr.Scliar.no.uso.da.pontuação..Seu.grande.recurso.neste.texto.são.os.dois.pontos:

no lugar de aspas ou travessão, o autor usa os dois pontos como uma forma de ocupar menos espaço para

introduzir uma fala: Um amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é

mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem usar arma;

o cronista sintetiza uma explicação, usando os dois pontos para substituí-la. É um recurso usado diversas

vezes no texto. Por exemplo: Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia:

um deserto.

Fonte: Este texto foi elaborado para esta apostila e é uma adaptação do capítulo dedicado ao estudo da crônica da Coleção Viver, Aprender – Ensino Fund. II – vol. 5, editora Global (2010), da mesma autora.

outras leituras recomendadas

1.  A outra noite: Esta.crônica.foi.escrita.por.Rubem.Braga.(1913-1990),.escritor considerado.por.muitos.o.maior.cronista.brasileiro,.desde.Machado.de.Assis.

Foi.publicada.no.livro.Ai de ti, Copacabana, editora.Sabiá,.Rio.de.Janeiro,.1969,.p..183-184..A.obra.reúne.crônicas.publicadas.entre.1955.e.1960,.nos.jornais.Correio da Manhã, Diário de Notícias e O Globo e.nas.re-vistas.Manchete e.Mundo Ilustrado.

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Apostilas das oficinas de leitura  83

2.  A última crônica: O.texto.é.de.autoria.do.grande.escritor.Fernando.Sabino..Mineiro.de.Belo.Horizon-te,.ele.nasceu.em.12.de.outubro.de.1923.e.morreu.em.11.de.outubro.de.2004..Essa.crônica.foi.publicada.no.livro.A Companheira de viagem, pela.Editora.Record,.em.1965..É.uma.narração.em.primeira.pessoa,.em.que.o.autor.conta.como.ele.gostaria.que.fosse.sua.última.crônica.

3.  15 de setembro de 1876: Nessa.crônica,.Machado.de.Assis.comenta.as.comemorações.do.Dia.da.Inde-pendência.daquele.ano..É.interessante.saber,.e.a.crônica.nos.conta,.quantas.pessoas.viviam.na.cidade.do.Rio.de.Janeiro,.em.1876.

15 de setembro de 1876

Machado de AssisEste ano parece que remoçou o aniversário da Independência. Também os ani-

versários envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem. O dia 7 por ora está muito criança.

Houve realmente mais entusiasmo este ano. Uma sociedade nova veio festejar a data memorável; e da emulação que houver entre as duas só teremos que lucrar todos nós.

Nós temos fibra patriótica; mas um estimulante de longe em longe não faz mal a ninguém. Há anos em que as províncias nos levam vantagem nesse particular; e eu creio que isso vem de haver por lá mais pureza de costumes ou não sei que outro motivo. Algum há de haver. Folgo de dizer que este ano não foi assim. As iluminações foram brilhantes; e quanto povo nas ruas, suponho que todos os dez ou doze milhões que nos dá a Repartição de Estatística estavam concentrados nos largos de São Francisco e da Constituição e ruas adjacentes. Não morreu, nem pode morrer a lembrança do grito do Ipiranga.

Fonte: Obra Completa de Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994.

Crônicas, Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938.Publicado originalmente na Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro.

4.  A crônica como gênero da literatura e do jornalismo:.O.autor.Carlos.Heitor.Cony nasceu.no.dia.14.de.março.de.1926.na.cidade.do.Rio.de.Janeiro..O.jornalista,.romancista.e.cronista,.em.6/12/2002,.neste.texto.publicado.no.caderno.“Ilustrada”,.da.Folha de S.Paulo,.explica.o.que.para.ele.é.jornal,.jornalismo.e.literatura.

A.crônica.do.Cony.está.repleta.de.comparações..O.leitor.deve.observá-las..O.escritor.inicia.dizendo.que.alunos.de.curso.de.comunicação.pediram.a.ele.uma.definição.do.jornalismo.literário.e,.em.complemento,.o.papel.da.crônica.nesse.tipo.de.jornalismo..Afirma,.ainda,.que,.embora.não.se.considere.a.pessoa.indicada.para.falar.sobre.o.tema,.tentará.dar.uma.resposta..Cita.Franz.Kafka,.João.do.Rio.e.Humberto.de.Campos..Sugere-se.que.aos.que.escolherem.este.texto.para.ler,.o.formador,.se.for.necessário,.explique.quem.foram.essas.personalidades:

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84  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Franz Kafka (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã, nasceu em Praga. É considerado um dos princi-

pais escritores de literatura moderna. Sua obra retrata as ansiedades e a alienação do homem do século XX.

Seu livro mais conhecido é “Metamorfose”;

João do Rio (1881-1921) foi o pseudônimo mais constante do carioca João Paulo Emílio Coelho Barreto,

jornalista, contista, romancista, autor teatral. Entre outros livros deixou Dentro da noite, A mulher e os espe-

lhos, Crônicas e frases de Godofredo de Alencar, A alma encantadora das ruas, Vida vertiginosa, Os dias

passam, As religiões no Rio e Rosário da ilusão;

Humberto de Campos Veras (1886-1934) nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, estado do Mara-

nhão. Deixou obra extensa e variada, incluindo crônicas e contos humorísticos, além de sonetos refinados,

que o tornaram um dos autores mais populares em sua época. Suas Memórias são apontadas como seu livro

mais importante.

5.  A tua presença:.Crônica.de.Fernando.Bonassi,.publicada.na.Folha.de.São.Paulo.(07/03/1998.-.Seção.DA.RUA)..Sugere-se.que.a.leitura.da.crônica.seguinte.seja.feita.em.dupla.e.que.o.leitor.diga.ao.seu.ouvinte.que.escute.a.narração.e.tente.responder,.antes.do.final,.a.quem.o.narrador.se.dirige,.quando.diz:.“Sei.que.é.você.”.

6.  Conversinha mineira: Sugere-se.que.seja.feita.uma.leitura.dramática.da.crônica.de.Fernando.Sabino,.publicada.no.livro A mulher do vizinho,.Editora.Sabiá,.Rio.de.Janeiro,.1962,.p..144..O.jeito.dito.mineiro.de.não.se.pronunciar,.de.“esconder.o.leite”,.é.revelado.com.muito.humor.na.crônica.do.também.mineiro.Sabino.

7.  Felicidade instantânea: Martha.Medeiros,.natural.de.Porto.Alegre,.é.cronista.e.poeta..Atualmente.é.colunista.do.jornal.O.Globo.(RJ)..A.crônica.Felicidade instantânea.faz.parte.do.livro.de.crônicas.Non stop.lançado.pela.L&PM.em.2001..Nela,.a.autora.faz.um.apelo.bem.humorado.ao.resgate.da.literatura,.em.de-trimento.dos.livros.dos.livros.de.auto-ajuda.frequentemente.presentes.nas.listas.dos.mais.vendidos.

o leitor torna-se autor

Os.participantes.do.ano.de.2009.do.Projeto.Letras.de.Luz.de.municípios.de.São.Paulo,.Mato.Grosso.do.Sul,.Espírito.Santo.e.Tocantins.foram.convidados.a.produzir.crônicas..O.resultado.foi.um.conjunto.signifi-cativo.de.textos.bem.variados..Variam.o.tema,.o.estilo,.os.lugares,.os.personagens..Alguns.cheios.de.humor,.outros.introspectivos,.nostálgicos,.singelos,.mas.todos,.de.um.jeito.ou.de.outro.provocam.o.leitor.e.fazem.pensar..Reproduzimos.abaixo.uma.dessas.crônicas.que.passam.a.compor.a.antologia.desta.apostila.

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Apostilas das oficinas de leitura  85

StreSS

Maria do Carmo Berthoud Oliveira

– Alô...

– Severino?! Como vai?...

– Tudo bem, mas...

– Eu sabia!... sempre tem um “mas”...

– É que...

– Não precisa nem falar, eu já soube o que aconteceu no HTPC.

– HTPC?...

– Não precisa disfarçar, mas eu sei que a Leontina, a professora de Geografia,

não conseguiu terminar o projeto de meio ambiente com os alunos e, por isso, não

fez a inscrição na Câmara Municipal.

– Leontina? De Geografia?!...

– É! Ela mesma!... E o Tibúrcio de Inglês? Já sei que ele trocou os pés pelas

mãos, ou seja, “feet” por “hands”. Nem tente negar, que eu já sei de tudo!

– Como?...

– É!... Não negue!... E os outros professores? Se desentenderam no meio da di-

nâmica? Que baixaria foi aquela?... Meu Deus!... E você? Não conseguiu esclare-

cer tudo?... É a coisa está mesmo feia!... Só resta fazer um relatório para o DEC.

– DEC? Que vem a ser isso?

– Você está brincando, não é?...

– Não estou, não! É só você me deixar falar que eu explico!

– Fale, então!...

– Em primeiro lugar, eu não me chamo Severino. Meu nome é Ribamar. Sou

corretor de imóveis, não entendo nada de aulas, muito menos de escola. Você

discou o número errado.

– Aí não é 3537 3940?

– Não. É 3537 3640.

– Des-des-desculpe. Tchau!

Taubaté (SP) – 24/11/2009

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86  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

conto já encenado por grupos de teatro do projeto Letras de Luz

Um credor da fazenda nacional

Qorpo-Santo

Personagens:

CredorPorteiroUm.MajorUm.ContínuoEmpregados.da.repartiçãoOutros.credorLeopoldino,.ContadorChefe.de.secçãoSr. Barbosa

Ato primeiro

UM CREDOR –.(entrando em uma repartição pública; para o Porteiro).–.Está.o.Sr..Inspetor?PORTEIRO –.Está;.mas.não.se.lhe.pode.agora.falar.CREDOR –.Por.quê?PORTEIRO –.Está.muito.ocupado!CREDOR –.Em.quê?PORTEIRO –.Tem.gente.aí.com.ele.CREDOR –.Quem.é?PORTEIRO –.Um.Major!CREDOR –.Demorar-se-á.muito?PORTEIRO –.Ignoro.CREDOR –.Pois.diga-lhe.que.lhe.quero.falar!PORTEIRO –.Não.posso.ir.lá.agora.CREDOR –.Quantas.horas.estarei.eu.aqui.à.espera.que.o.Sr..Major.saia.para.que.eu.entre!

(Passeia). (O MAJOR, saindo e encontrando-se com o Credor.)

CREDOR (para o MAJOR) –.Oh!.O.Sr..por.aqui!.Julgava-o.quem.sabe.onde!.Disseram.-me.que.tinha.ido.para.Rio.Pardo.há.dias!

MAJOR –.Tenho.tido.aqui.numerosos.afazeres,.por.isso.não.sei.quando.irei.CREDOR –.Fique.certo.que.sinto.o.mais.vivo.prazer.em.vê-lo.no.gozo.da.mais.perfeita.saúde.MAJOR –.Onde.é.aqui.a.tesouraria?CREDOR –.Na.Tesouraria.estamos;.mas.o.Tesoureiro.está.lá.embaixo.

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Apostilas das oficinas de leitura  87

PORTEIRO –.Lá,.não;.lá.está.o.pagador!CREDOR –.Ah!.Então.é.cá.em.cima;.porém.nos.fundos;.creio.que.na.última.sala.MAJOR –.Então.para.lá.vou..(Segue.)CREDOR –.Agora.entro.eu..(Dirigindo-se à repartição.)PORTEIRO –.Está.lá.o.Sr..Leopoldino.Contador!CREDOR –.É.célebre!.Então.vou.à.secção.respectiva.saber.se.foi.informado.o.meu.requerimento!.(Cami-

nha, e entra.)PORTEIRO –.Que.diabo.de.homem.este!.Tem.vindo.mais.de.um.cento.de.vezes.à.repartição....se.há.de...CONTÍNUO –.Faz.ele.muito.bem.[em].vir.cá!.Deve-se.lhe,.por.que.não.se.lhe.há.de.pagar?CONTÍNUO –.Homem;.isso.é.verdade!.Qual.a.razão.por.que.esta.repartição.há.de.paliar.meses.e.anos!?PORTEIRO –.Custa.a.crer.a.retardação.de.pagamento.ou.a.preguinha,.segundo.dizem.alguns.empregados!CONTÍNUO –.O.caso.é.que.ele.tem.procedido.sempre.com.a.maior.prudência!PORTEIRO –.Isso.é.verdade..Mas.quantos.terão.sofrido.pela.falta.de.cumprimento.de.deveres.de.alguns.

funcionários.públicos?CONTÍNUO –.Ë.verdade!.Tem.havido.tantos.males,.que.enumerá-los.talvez.fosse.impossível.PORTEIRO –.Mas.tu.sabes.o.que.os.empregados.querem?.Talvez.não.saibas..Pois.eu.te.digo:1º.–.Acabar.com.a.Monarquia.Constitucional.e.Representativa!2º.–.Pôr.termo.às.repartições.públicas;.isto.é,.acabarem.com.todas.estas.imposturas!3º.–.Mudar.a.forma.de.governo.para.República.4º.–.Fazerem.uma.liga.entre.todos.que...CONTÍNUO –.(pondo as mãos na cabeça e puxando as orelhas) –.Estás.louco!.Homem!. D’onde.vieram-te.esses.pensamentos!?.Se.não.mudas.de.modo.de.pensar,.vais.parar.à.Caridade.PORTEIRO –.Ah!.Tu.não.ouves!.És.surdo!.Não.vês..Tens.olhos.e.não.enxergas!. Ouvidos,.e.não.ouves!.Só.falas!.Tu.verás.a.revolução.que.em.breve.se.há.de.operar!.Olha;.eu.estou.

vendo.o.dia.em.que.entra.por.aqui.uma.força.armada;.vai.aos.cofres,.papéis..e.rouba.quanto.neles.se.acha..Acende.um.facho,.e.laça.fogo.em.tudo.quanto.é.papéis.

CONTÍNUO –.(A correr) –.Ih!.Ih!.Ih!.Parece.que.já.estou.ouvindo.o.tinir.das.espadas!.A.voz.do.canhão.troar..Deus.meu!.Acudi-me!.Ai!.Que.eu.morro! (Cai sentado.) Ai!.Ai!.Estou.cansado!.Fadigado!.Quase....Meu.Deus!.Quantas.mortes.vos.aprazerá.ainda.fazer!?.Quando.vos.compadecereis.de.vossos.entes.ainda.que.maus!?.Quando.se.aplacará.a.vossa.ira!?.Quando.se.saciará.a.vossa.vingan-ça!.Céus!.Que.vejo!.(Como amparado com as mãos; pondo o corpo de lado; ao ouvir o som da trovoada que em cima se faz.) Ah!...

PORTEIRO –.(querendo acudi-lo).–.Não.é.nada,.companheiro.e.amigo!.São.os.primeirospreparativos.para.a.estralada.que.logo.mais.terá.de.ver.e.ouvir..Tranqüiliza.o.teu.coração..Ainda.não.desce-

ram.raios,.fogo,.e.tudo.o.mais.que.se.há.preparando.para.grande.revolução!.Começará.de.cima;.e.descerá.à.terra,.como.a.saraiva.em.certos.dias.chuvosos. (Ouve-se nova trovoada; relâmpagos.)

CONTÍNUO –.(melhorando pouco; e levantado-se) – Acho-me.um.pouco.mais.animado?. Parece-me.que.isto.não.é.comigo..Que.dizes?.Hem?.(batendo no ombro do porteiro.) Que.diabo,.pois.

eu.nada.fiz,.o.que.devo.temer!?.Sou.muito.pusilânime.PORTEIRO –.Tu.sempre.foste.um.poltrão..De.tudo.te.assustas;.de.tudo.tens.medo!.Diabo!. (Empurra-o) Toma.juízo!.Deixa-te.de...

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88  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

CONTÍNUO –.Ora,.ora!.E.não.entendo.o.que.é.ter.juízo,.pelo.que.vejo,.e.pelo.que.ouço.. Vivo.em.minha.casa..Trabalho.incessantemente.em.proveito.meu,.e.da.minha.família..Não.ofendo.

a.pessoa.alguma!.Sucede-me.isto!.Dizei-me:.–.O.que.é.ter.juízo?PORTEIRO –.Ter.juízo.é.cometer....e....ai!ai!.(pondo as mãos no rosto) que.também.estou.ficando.doente!CREDOR (voltando) –.Ainda.hoje.não.recebo.dinheiro!.Prometeu-me.um.Empregado,.e.a.mais.um.indi-

víduo.que.espera....Como.de....(Sai.).Veremos.se.se.pode.receber.segunda-feira!UM DOS EMPREGADOS – Por.que.razão.não.se.há.de.pagar.a.este.homem!?OUTRO – Eu.sei.disso!?CREDOR – (voltando) – Não.tenho.melhor.resolução.a.tomar,.que.a.de.sentar-me.em.uma.das.cadeiras.

desta.repartição.e.nela.esperar.até.que.se.me.pague.CERTO INDIVÍDUO –.Então,.por.quê?CREDOR –.Ora,.porque!?.Porque.não.dou.um.passo.que.não.encontre.um,.que.não.me.peça.o.aluguel.da.

casa..Outro,.que.não.me.peça....que.não.me.fale!...O INDIVÍDUO –.Tudo.isso.é.bom!CREDOR –.É;.é;.para.certos.indivíduos;.para.mim.é.péssimo!.Nunca.gostei.de.ser.atacado.em.casa,.quan-

to.mais.pelas.ruas.da.cidade!.Todos.os.que.compelem.a.honra,.ou.aos.que.desejam.viver.com.se-riedade,.–.a.essas.cenas,.–.deveriam.em.minha.opinião.ficar.condenados.a.idênticos;.ou.a.outros.procederes.piores,.contrários.à.sua.vontade,.ou.desejos.

O INDIVÍDUO (com a mão querendo fazer uma cruz) – Resquié.d’impace!.Resquié.d’impassere;.Amem!.Amem!.N’amem!.N’amem! (Saindo). E.vou.m’embora.(Sai)

Ato segundo

Salão em que trabalham diversas secçõesCREDOR (entrando) – É.a.vigésima....não.me.lembro.se.quinta.ou.sétima.vez.que.venho.a.esta.casa.haver.

aluguéis.de.casa!.E.talvez.ainda.hoje.saia.sem.dinheiro!.(À parte:) Mas.eles.hão.de.se.arranjar!.(A um dos empregados, o Contador) Vossa.Senhoria.faz-me.o.obséquio.de.dizer.se.está.despachando.o.conteúdo,.ou.quer.que.seja,.quando.a.um.requerimento.que.aqui.tenho?

CONTADOR –.Será....(lendo) Castro....Car....Cirilo,.Dilermando!?CREDOR –.Não!.É.um.requerimento.meu,.assinado.–.José.Joaqim.de.Qampos.Leão,.Qorpo-Santo.CONTADOR –.Ah!.Esse.está.no.chefe.da.quarta.secção.CREDOR –.Bem,.então.lá.irei..(Dirigindo-se ao chefe:) Faz-me.o.obséquio.de.dizer.se.já.está.despachado.

um.requerimento.que.aqui.tenho?CHEFE (apontado) – Fale.ali.com.o.Sr..Barbosa.CREDOR (dirigindo-se a este) –.Ainda.não.encontrou.o.que.procurava.a.meu.respeito?BARBOSA –.Ainda.não!.Há.aqui.tantos.papéis!CREDOR –.Ora,.com.efeito!.Pois.tanto.custa.ver.um.ofício.da.Presidência,.ou.ver.o.assentamento.que.em.

virtude.desse.ofício.deve.existir.no.livro.competente?.Isto.é,.no.mesmo.em.que.se.acham.debitados.tais.aluguéis!?.(Senta-se.)

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Apostilas das oficinas de leitura  89

CHEFE –.V..Exa..Não.adianta.nada.em.esperar.aqui!.Antes.atrasa.o.serviço.para.conseguir.o.que.quer;.deixe.estar.que.está.se.trabalhando!

CREDOR –.Eu,.nem.venho.interromper,.nem.venho.adiantar!.Mas.apenas.saber!.Parece-me.cousa.tão.simples;.tão.fácil...

BARBOSA –.São.três.ofícios.da.Presidência.que.o.Sr..Inspetor.quer.ver!.Não.é.um.só.CREDOR –.Srs.,.eu.já.sei.o.que.hei.de.fazer,.o.que.os.Srs..querem!.Voltarei.em.tempo!

(Ao sair, encontra-se com outro.)

O OUTRO –.Então,.não!?.(Dá-lhe uma caixa de fósforos.)CREDOR –.Estou.doente;.e.assim.fico.todas.as.vezes.que.venho.a.esta.casa,.e.dela.saio.sem.dinheiro!O OUTRO –.Então.fico.eu.pelo.Sr.!.(O Credor sai; e o Outro entra.)O OUTRO –.Muito.custa.esta.casa.pagar.a.quem.deve!.Faz-se.uma.dúzia.de.requerimentos.para.se.obter.

um.despacho!.Cada.requerimento.leva.outra.dúzia.de.informações!.O.despacho.definitivo.obtém--se.por.milagre!.E.a.paga.ou.dinheiro.que.a.alguém.se.deve.–.quase.à.força,.ou.pela.força!

UM DOS EMPREGADOS –.(para esse Indivíduo) –.Com.efeito!.O.Sr..é.audaz.de.mais!O OUTRO –.Não!.Não.é.por.audácia!.É.apenas.referir.o.que.se.passa....o.que.é.verídico!EMPREGADO –.Sim;.mas.nós.não.temos.culpa!O OUTRO –.Nem.eu.inculpo.a.alguém!.Mas.receio,.Srs.,.que.os.numerosos.incômodos.que.tenho.sofri-

mento,.pelo.procedimento.que.esta.repartição.para.comigo.–.vai.tendo;.os.vexames;.as.faltas;.as.privações;.e.até.as.enfermidades.que.tem.me.causado.e.numerosos.outros.transtornos,.farão.de.repente.com.que.se.espalhe.fogo.nestes.papéis.–.e.tudo.se.incendie.(Toca uma caixa de fósforos numa mesa; esta incendeia-se; ele a atira para as mesas de um dos lados; faz o mesmo à outra, e atira para outro lado; enquanto os empregados trabalham para apagar o fogo em alguns papéis que começam a incendiar--se, ele sai.)

. (Já se vê que há descompostura; repreensões; atropelamento, carreiras em busca d’ água; ligeireza para se-apagar; aparecimento de alguns outros empregados, ao ouvirem o grito de fogo, etc.)

. Pode.acabar.assim;.ou.com.a.cena.da.entrada.do.Inspector,.repreendendo.a.todos.pelo.mal.que.cumprem.seus.deveres;.e.terminando.por.atirarem.com.livros.e.penas;.atracações.e.descompostu-ras,.etc.

José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo.Em Porto Alegre, de 26 a 27 de Maio de 1866.

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APoStiLA 3

oficinA 3 – vozes em cena

A arte de atuar

Tragédia e ComédiaMáscaras símbolo do teatro.

objetivos:

• realizar leituras dramáticas;

• conhecer especificidades do texto dramático;

• compreender o que é necessário para realizar uma leitura dramática, uma improvisação e a encenação de

uma peça teatral;

• conhecer algumas curiosidades da história do teatro.

conteúdos:

• o teatro e suas formas dramáticas;

• a leitura dramática;

• características do texto teatral.

Desenvolvimento:

O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá.-lo.à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.

1.  Abertura:a)..para.sensibilizar.para.o.gênero.abordado.nesse.encontro,.o.formador.pode.iniciar.a.oficina.com.a.lei-

tura.de.um.texto.dramático.de.sua.escolha..De.preferência,.ele.deve.apresentar.os.motivos.de.sua.es-colha,. as. razões. pelas. quais. o. texto. merece. ser. partilhado,. trechos. de. que. mais. gosta,. etc.. Há. na.apostila.alguns.exemplos.de.textos.que.podem.ser.lidos.nesse.momento;

b)  o. formador.apresenta. suas. considerações. sobre.as. aprendizagens.do.grupo,. com.relação.à. segunda.oficina:.Crônica.–.A.prosa.cotidiana;

c)..em.seguida,.pode.realizar.uma.conversa.sobre.a.produção.dos.Diários.de.Leitura.para.garantir.a.socia-lização.dos.encaminhamentos.dados.por.cada.leitor.–.O.que.foi.lido.pelo.participante?.O.que.escreveu.sobre.as.leituras.realizadas,.os.cronistas.favoritos?.Quais.são.suas.impressões.sobre.a.produção.do.diá-

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Apostilas das oficinas de leitura  91

rio?.Ele.foi.apresentado.para.alguém?.Em.algum.diário.foi.colada.uma.imagem.ou.outro.tipo.de.texto?.Por.fim,.o.formador.também.pode.fazer.a.leitura.de.um.trecho.de.seu.diário,.pois.ele.é.sempre.um.modelo.para.o.grupo;

d)  ao.socializar.os.registros.dos.diários,.os.participantes.também.comentam.as.leituras.das.obras.do.acer-vo.circulante:.quais.suas.impressões.sobre.os.livros.sugeridos?.Foi.possível.concluir.a.leitura?.Houve.dificuldades.em.compreender.o. texto?.Quais?.Se. fossem.indicar.o. título.para.outros.participantes,.quais.aspectos.ressaltariam?.Alguém.seguiu.alguma.recomendação.feita.no.encontro.anterior?

Nesse.momento,.o.formador.poderá.retomar.a.atividade.da.Feira.de.Troca.de.Livros.e.propor.uma.nova.troca.de.títulos.entre.os.participantes,.acrescentando.ao.acervo.doado.outros.livros.trazidos.pelo.grupo.nes-sa.oficina.

2.  Apresentação da apostila e conteúdos do encontro:.a.apresentação.da.apostila.com.a.leitura.e.reali-zação.de.comentários.sobre:.título,.tema,.objetivos.e.conteúdos,.bibliografia.e.filmografia.utilizadas.possibi-lita.ao.grupo.a.aproximação.e.sensibilização.com.as.propostas.da.oficina.

3.  O que é teatro?: o.formador.seleciona.apenas.um.trecho.do.vídeo.do.site.www.teatroparaalguem.com.br,.do.texto.Anúncio,.de.Richard..C.Haber.com.Heitor.Goldflus,.Antônio.Petrin,.Miriam.Mehler.e.Lulu.Pavarin..Para.isso,.ele.deve.assistir.ao.vídeo.com.antecedência,.selecionar.o.trecho.a.ser.reproduzido.e.plane-jar.como.o.mesmo.deve.ser.abordado.

Em.seguida,.abre.uma.conversa.com.as.seguintes.questões:.o.que.é.o.teatro?.O.que.é.preciso.para.fazer.teatro?.É.importante.que.as.respostas.sejam.registradas.e.possam.ser.retomadas.ao.final.da.oficina.

Teatro gregoNa Grécia antiga o público se espalhava nas arquiban cadas do teatro. Muitas foram as festas anuais em honra a Dionísio, deus das festas, do vinho, do lazer e do prazer. Os festivais duravam quase uma semana e o povo podia apreciar os poe‑tas, autores de tragédias ou de comédias. O público passava muitas horas assistindo as apresen tações e lá fazia suas refei‑ções. Muitos eram os aplausos quando apreciavam uma apre‑sentação, mas, o protesto também se fazia grande com muito barulho (que chegava a interromper o espetáculo) ou até mes‑mo com alimentos atirados nos atores.

4.  Preparando o corpo:a)..O.corpo.é.o.instrumento.de.trabalho.do.ator..Para.isso,.ele.deve.investir.no.seu.preparo..O.formador.

pode.propor.alguns.exercícios.para.o.aquecimento.do.corpo.e.da.voz.Todos.em.círculo: soltar mãos e pés;

girar pescoço;

soltar ombros;

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92  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

massagear o próprio rosto;

fazer exercícios de voz:

• pronunciar com exagero: FAÇAXÁ, FECEXÉ, FICIXI, FOÇOXÓ, FUÇUXU. O mesmo deve se repetir com

MANANHÁ e PATACÁ, BADAGÁ;

• vibrar lábios;

• estalar língua;

• e outros que souber ou pesquisar.

b)  Jogo: O porto – Nesse.exercício,.algumas.pessoas.participam.e.outras.observam,.para.depois.fazerem.comentários.sobre.as.expressões.utilizadas,.as.informações.e.os.sentimentos.transmitidos..A.proposta.que.o.formador.fará.é.a.seguinte:.você.está.em.um.porto.aguardando.a.chegada.de.alguém.muito.que-rido.que.não.vê.há.muito.tempo..Não.vale.falar,.apenas.expressar-se.corporalmente,.por.meio.do.olhar.e.dos.gestos.–.o.corpo.fala!.Passados.dois.ou.três.minutos,.o.exercício.é.encerrado.e.os.colegas.obser-vadores.falarão.de.suas.impressões,.sentimentos.e.quais.foram.as.ações.realizadas.que.provocaram.isso.

5.  Leitura e discussão – Texto-farol. Corpo e texto,. de.Celinha.Nascimento,.disponível. ao.final.desta.apostila..Para.realizar.a.atividade,.o.formador.pode.apresentar.o.conteúdo.do.texto.e.selecionar.trechos.para.a.leitura..Desse.modo,.poderá.contextualizar.a.experiência.vivida.na.atividade.anterior.(O.porto).

6.  Vamos criar uma cena? O.formador.divide.a.sala.em.grupos.de.no.máximo.oito.pessoas.e.oferece.uma.situação.do.cotidiano.para.a.criação.de.uma.cena:.sala.de.espera,.fila.de.ônibus,.no.telefone.público,.no.su-permercado,.etc.

Os.grupos.se.dividem.e.em.15.minutos.planejam.e.ensaiam.a.cena..Depois.os.grupos.se.apresentam.e.fazem.uma.conversa.sobre.atuações,.ideias,.criações,.improvisos,.etc.

Máscaras do teatro grego

Para serem vistos das arquibancadas, os atores usavam grandes máscaras feitas com pedaços de tecidos engomados, sa‑patos de sola alta e roupas acolchoadas. As vozes eram projetadas com o auxílio das máscaras.

7.  A mesma frase com várias intenções: no.teatro,.o.texto.é.um.pretexto,.o.que.interessa.também.é.o.subtexto..Qual.a.intenção.do.ator?.O.que.ele.quer.transmitir?.Para.compreender.melhor.esse.fundamento.do.teatro,.o.formador.pede.aos.participantes.que.falem.a.frase:

MAS.O.QUE.VOCÊ.QUER.QUE.EU.FAÇA?A.frase.será.dita.com.diferentes. intenções:.de.alguém.aflito,.nervoso,.com.raiva,.sedutor,.provocativo,.

compreensivo,.cansado,.etc.

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Apostilas das oficinas de leitura  93

Idade MédiaA princípio são encenados dramas litúrgicos em la‑tim, es critos e representados por membros do clero. Os fiéis participam como figurantes e, mais tarde, como atores e misturam ao latim a língua falada no país. As peças, sobre o ciclo da Páscoa ou da Paixão, são longas, podendo durar vários dias.Na Idade Média também surgem os trovadores que contam lendas em canções.Por volta de 1300 nasce o teatro Nô no Japão.

8.  Leitura dramática: a.leitura.dramática.é.a.leitura.em.voz.alta.de.um.texto.teatral.para.um.público..Uma.leitura.que.exige.interpretação.por.meio.da.entonação,.expressões.faciais.e.poucos.gestos..A.leitura.dramática.também.precisa.de.uma.direção,.da.mesma.forma.que.uma.peça.teatral,.e.pode.fazer.uso.de.ilu-minação,.trilha.sonora,.figurino.e.até.mesmo.cenário.ou.alguns.objetos.de.cena.

Antes.de. iniciar.a.atividade,.o. formador.deve.apresentar.o.Texto-farol:.Traços e formas dramáticas,.de.Angélica.Soares,.disponível.nesta.apostila..Se.tiver.tempo,.pode.comentar.as.características.de.algumas.das.formas.dramáticas,.como.a.comédia.e.o.drama.

Algumas.propostas.para.realizar.esta.atividade:

a)..“leitura.branca”.de.um.trecho.da.obra.selecionado.previamente.pelo.formador..Chama-se.de.leitura.branca.quando.não.há.a.preocupação.em.trabalhar.com.entonações.e.interpretações,.apenas.entrar.em.contato.com.o.que.diz.o.texto..Para.essa.atividade,.o.formador.pode.propor.os.textos.teatrais.anexados.a.esta.apostila;

b)..assistir.à.mesma.cena.em.duas.versões.diferentes..A.ideia.aqui.é.que.os.participantes.observem.as.atuações.dos.atores.(voz,.corpo,.olhar,.pausas,.jogo.entre.os.atores.durante.a.cena)..Sugerimos.que.as-sistam.às.duas.adaptações.para.o.cinema.do.texto.O auto da compadecida,.de.Ariano.Suassuna,.indica-das.na.filmografia.desse.material;

c)..realizar.leituras.dramáticas.da.mesma.cena.e.de.outras.(veja trechos de textos teatrais em anexo)..É.ne-cessário.que.o.formador.possa.oferecer.alguns.instantes.para.a.leitura.silenciosa.do.texto..A.cada.lei-tura,.são.comentadas.as.interpretações,.possibilitando.que.o.grupo.perceba.as.diferenças.interpretativas.e.de.expressão.

A leitura em voz altaAo.ler.uma.história.em.voz.alta,.os.ouvintes.não.se.inteiram.apenas.do.conteúdo,.mas.também.entram.

em.contato.com.a.linguagem.escrita.e.suas.características.Esta.atividade.tem.uma.grande.importância.para.o.desenvolvimento.da.competência.na.leitura.e.na.escri-

ta,.pois,.além.de.o.leitor.público.colocá-los.em.contato.com.textos.escritos,.oferece.um.modelo.de.como.se.lê.

Trovadores

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94  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Commedia dell’arte – Forma teatral única no mundo desenvolveu ‑se na Itália no século XVI e difundiu‑se em toda Europa nos séculos sucessivos, contribuiu na construção do teatro moderno. Teatro espe‑tacular baseado na improvisação e no uso de máscaras e personagens estereotipados. O ator na commedia dell’arte, tinha um papel funda‑mental cabendo‑lhe não só a interpretação do texto, mas também a contínua improvisação e inovação do mesmo. Malabarismo canto e outros feitos eram exigidos continuamente ao atorO uso das máscaras (exclusivamente para os homens) caracterizava os personagens geral‑mente de origem popular: os zanni, entre os mais famosos vale a pena citar Arlequim, Pantaleão e Briguela. A enorme responsabilidade que tinha o ator em desenvolver o seu papel, com o passar do tempo, por‑tou a uma especialização do mesmo, limitando‑o a desenvolver uma só personagem e a mantê‑la até a morte.

9.  Conversa e leitura: retomar.a.conversa.sobre.a.questão:.o.que.é.teatro?.e.verificar.se.os.participantes.gostariam.de.acrescentar.algo.em.suas.respostas..Oferecer.outra.questão:.por.que.trabalhar.com.textos.tea-trais?.O.que.podemos.aprender.com.eles?.Leitura.de.trechos.do.texto.O que os textos de diálogos escondem,.de.Priscila.Ramalho,.disponível.ao.final.desta.apostila.

10.  Planejamento da tarefa:.nesta.atividade,.o.objetivo.é.planejar.uma.atividade.de.teatro.para.ser.realiza-da.com.um.grupo.da.escola,.comunidade.ou.pessoal..O.formador.apresenta.os.textos.da.revista.Nova Escola.em.anexo.e.pede.que.a.turma.se.divida.em.pequenos.grupos,.de.acordo.com.o.texto/proposta.de.sua.preferência.

11.  Para o próximo encontro:.anotações.no.Diário.de.Leitura.sobre.a.atividade.realizada.Os.participantes.deverão.trazer.ou.colar.em.seus.Diários.de.Leitura.uma.imagem.(fotografia,.quadro,.

desenho,.filme).que.consideram.significativa,.justificando,.por.meio.de.um.pequeno.texto,.o.porquê.da.esco-lha.dessa.imagem.

12.  Avaliação:.é.importante.fazer.uma.avaliação.do.encontro.para.identificar.se.os.objetivos.foram.cum-pridos.e.o.que.deve.ser.melhorado.para.os.próximos.encontros..A.possibilidade.de.que.todos.se.pronunciem.é.fundamental.para.que.um.trabalho.de.longa.duração.atinja.os.resultados.esperados..O.formador.dará.re-torno.dessa.avaliação.no.quarto.encontro.

bibliografia básica

BALL,.David Para trás e para frente: um guia para leitura de peças teatrais..Ed..Perspectiva

Segundo.o.site.da.Livraria.da.Travessa,.esse.livro.é.um.guia.universal.para.a.leitura.de.roteiros.teatrais.e,.como.tal,.complementa.e.retifica.os.métodos.tradicionais.de.análise.literária.de.scripts..O.autor.ilustra.seu.método.com.excertos.do.Hamlet,.de.Shakespeare,.utilizando.uma.obra.de.importância.e.exemplaridade.mundialmente.reconhecida.e.oferece.grande.riqueza.de.elementos.para.a.abordagem.analítica.

MANGUEL,.Alberto..Uma história da leitura. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.1997

O.autor.é.um.grande.especialista.da.história.da.leitura..O.capítulo.A leitura ouvida.fala.do.impacto.da.leitura.reali-zada.em.voz.alta.para.os.ouvintes.e.leitores.em.diferentes.épocas.e.lugares.

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Page 91: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

Apostilas das oficinas de leitura  95

REVERBEL,.Olga..Jogos teatrais na escola. 1ª.ed..São.Paulo,.Scipione,.1993.

Obra.que.apresenta.vários. jogos.teatrais.e.dramáticos.adaptados.às.diferentes.faixas.etárias,.os.quais.favorecem,.entre.outros.aspectos,.o.relacionamento,.a.espontaneidade,.a.imaginação.e.a.percepção.das.crianças.de.ensino.funda-mental.

SOARES,.Angélica..Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.2005

A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea,.num.esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.os.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.tão.complexos.textos.literários..Pertence.à.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora.

____.O teatro no mundo. São.Paulo:.Melhoramentos,.1995.

Um.livro.lindo.para.ler.e.explorar.e.que.fala.sobre.as.origens.do.teatro.e.suas.manifestações.no.mundo.

filmografia

A compadecida,.de.George.Jonas,.Alpha.Filmes,.Brasil,.1967.

O auto da compadecida,.de.Guel.Arraes,.Globo.Filmes,.Brasil,.2000.

Os.dois.filmes,.um.produzido.em.1967.e.o.outro.em.2000,.foram.baseados.na.peça.teatral.de.Ariano.Suassuna..A.história.se.passa.em.Taperoá,.sertão.da.Paraíba..Chico.e.João.Grilo.são.amigos.e.andam.pelas.ruas.anunciando.a.Paixão de Cristo..Eles.se.metem.em.muitas.confusões,.que.são.solucionadas.com.artimanhas.e.trazem.novos.problemas..Com.a.chegada.do.cangaceiro.Severino,.João.Grilo.e.outros.personagens.morrem.e.se.encontram.no.Juízo.Final,.onde.serão.julgados.por.um.Jesus.negro.e.pelo.diabo..Nossa.senhora,.a.compadecida,.intercederá.por.cada.um.deles.e.em.especial.por.João.Grilo..No.primeiro.filme,.a.personagem.de.Nossa.Senhora.é.interpretada.por.Regina.Duarte.e.no.segundo.por.Fernanda.Montenegro.

Mais estranho que a ficção, de.Marc.Foster,.Columbia.Pictures,.EUA,.2006.

A.comédia.conta.a.história.de.um.homem.que.um.dia.passa.a.ouvir.uma.voz.feminina,.que.narra.exatamente.seus.pensamentos,.atos.e.sentimentos..Apenas.ele.pode.ouvir.a.voz..Quando.ela.diz.que.ele.está.prestes.a.morrer,.ele.busca.algum.meio.de.evitar.que.isso.ocorra..Com.Dustin.Hoffman,.Emma.Thompson.e.outros.

Sites interessantes

www.cbtij.org.br.

O.CBTIJ.–.Centro.Brasileiro.de.Teatro.para.a.Infância.e.Juventude.criado,.em.dezembro.de.1995,.por.profissionais.da.área.de.teatro.para.crianças..Uma.entidade.sem.fins.lucrativos.que.visa.à.união.dos.profissionais.da.área.e.a.expansão.de.um.teatro.de.qualidade.que.contribua.para.a.formação.da.infância.e.da.juventude.brasileira..Entre.os.objetivos.da.entidade.está.o.de.promover.ações.para.a.divulgação,.a.difusão.e.o.desenvolvimento.do.teatro,.defendendo.a.profissio-nalização.da.classe.

www.ctac.gov.br..

Site.do.Centro.Técnico.de.Artes.Cênicas.–.Programas.de.ação,.estilos.de.teatro,.pesquisa.bibliográfica.

www.teatroparaalguem.com.br..

Uma.casa.transformada.em.teatro.para.assistir.a.peças.pela.internet..Dica:.Assistam.no.sótão.da.casa:.Anúncio,.de.Richard.C..Haber,.com.Heitor.Goldflus,.Antônio.Petrin,.Miriam.Mehler.e.Lulu.Pavarin.

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Page 92: Apostila Projeto Leitura Letras de Luz

96  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

www.canalkids.com.br/arte/teatro/historia.htm..

Site.para.as.crianças..Dentre.outras.atrações,.conta.de.uma.maneira.muito.gostosa.e.divertida.a.história.do.teatro.

www.teatrocompleto.hpg.ig.com.br/cultura_e_curiosidades/53/index_pri_1.html..

Site.com.a.História.do.teatro.–.Textos.didáticos.e.peças.teatrais.de.João.Pedro.Roriz.

www.sbat.com.br..

Sociedade.Brasileira.de.Autores,.criada.em.1917.em.defesa.do.direito.autoral.

Willian Shakespeare (1564‑1616)Comediante e poeta dramático inglês, um dos maiores nomes do teatro mundial de todos os tempos.

 Maria Clara Machado (1921‑2001) Escritora e dramaturga brasileira, autora de famosas

peças infantis, dentre elas: Pluft, o fantasminha. Fundadora do Tablado, escola de teatro do

Rio de Janeiro

Eugène Ionesco (1912‑1994)Nasceu na Romênia e viveu na França até os 13 anos. Em 1959, tornou‑se o líder do “teatro do absurdo”.Sua primeira peça – A cantora careca – desconcertou os espectadores da época.

Nelson Rodrigues (1912-1980)  Importante jornalista, cronista de futebol,  

escritor e dramaturgo.Vestido de noiva é considerada até hoje como o marco 

inicial do moderno teatro brasileiro

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Apostilas das oficinas de leitura  97

texto-farol 1

Corpo e texto, de celinha nascimento

Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto

Letras de Luz. O texto apresentado é um trecho da Palestra Corpo e Texto, durante

15º COLE – Unicamp – 2005.

“Atravessando.as.chamas.do.Purgatório,.sobem.Virgílio,.Estácio.e.Dante.uma.escada.onde.o.sono.vence.o.florentino..Despertando,.ouve.Virgílio.anunciar.terminada.a.missão.que.Beatriz.lhe.confiara..Nada.mais.terá.a.dizer-lhe.pela.voz.ou.pelo.aceno:.–.Non aspettar mio dir piu né mio cenno..E.não.fala.mais..Admira-se.das.maravilhas.vistas.e,.quando.Dante.procura-o,.não.mais.o.vê..A.grande.alma.pagã.regressara.ao.nobile castello,.afastando-se.das.proximidades.da.Redenção.paradisíaca..A.Voz.e.a.Gesto.valiam,.para.ele,.a.mesma.função.transmissora..O.Povo.concorda.”

Debatemos.a.origem.da.voz.articulada.e.a.época.do.seu.aparecimento..Falaria.o.Homem.Musteriano,.o.infra-homem.de.Neandertal?.A.maioria.dos.etnólogos.é.pela.afirmativa,.concedendo-lhes.rudimentos.de.linguagem..Nenhum.fundamento.anatômico.evidenciará.a.decisão..Teria,.provavelmente,.a sua.linguagem,.meio.de.convívio.do.pensamento,.que.não.é.privativo.da.espécie.humana..Indiscutível.é.que.falava.o.Homo sapiens.do.Paleolítico.superior,.o.alto,.robusto.e.equilibrado.povoador.do.Aurnacense..Pintando,.esculpindo,.gravando..Não.podia.evidentemente.ser.o.Homo aladus..E.houve.época.no.Mundo.em.que.o.Homem,.em.qualquer.escala.anterior.à.sua.mutação,.fosse.incomunicado,.mudo,.silencioso?.O.Gesto,.antes.das.interjei-ções.e.onomatopéias,.supriria.essa.deficiência.oral..Dante,.há.sete.séculos,.proclamava.a.comunicação.tátil.entre.as.formigas..Traduz.Xavier.Pinheiro:

Assim.da.negra.legião.saída,Em.marcha,.toca.em.uma.outra.formiga,Por.saber.do.caminho.ou.sorte.havida.

Toda.a.bibliografia.sobre.o.Gesto,.tradutor.da.ideia.e.primeira.linguagem.humana,.demonstra.a.univer-salidade.de.alguns.acenos.sobre.os.próprios.vocábulos.mais.essenciais.e.vivos..Há.gestos.cobrindo.áreas.de-marcadas. de. uso,. jamais. correspondentes. à. equivalência. verbal.. De. sua. valorização. como. documento.psicológico,.anormal.e.normal.da.sinergia.nervosa,.potência.de.evocação,.indispensabilidade.como.fórmula.complementar.da.voz,.elemento.excitador.do.desenvolvimento.cerebral..Pai.da.Inteligência,.todas.as.pesqui-sas.ainda.não.fixaram.os.justos.limites.da.grandeza.positiva.no.alcance.da.repercussão.comunicante..A.geo-grafia. de. determinados. ademanes,. antiguidade. de. uns. e. modificações. de. outros,. os. instintivos. e. os.convencionais.com.ampla.franja.intermediária.dos.gestos.interdependentes,.de.novas.atitudes.provocadoras.de.sua.utilização,.os.processos.mecânicos.e.renovadores.da.significação,.levam.os.problemas.da.investigação.e.da.análise.a.um.nível.distinto.de.exame.e.de.cultura.especializada..O.estudo.do.Gesto,.o.gesto.popular.e.geral.e.o.gesto.dos.profissionais,.característicos.como.uma.“permanente”.etnografia,.os.típicos.ligados.a.uma.ação.e.os.indefinidos,.tendentes.à.abstração.negaceante.consistiriam.uma.sistemática.tão.preciosa.quanto,.no.campo.filológico,.é.a.Semântica.

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98  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

O.Gesto.é.anterior.à.Palavra..Dedos.e.braços.falaram.milênios.antes.da.Voz..As.áreas.do.Entendimento.mímico.são.infinitamente.superiores.às.da.comunicação.verbal..A.Mímica.não.é.complementar,.mas.uma.provocação.ao.exercício.da.oralidade..Sem.gestos,.a.Palavra.é.precária.e.pobre.para.o.entendimento.temáti-co..Antes.das.interjeições.primárias,.a.Mão.traduzia.a.mensagem.útil.

O.Gesto.é.a.comunicação.essencial,.nítida,.positiva..Não.há.retórica.mímica,.apenas.reiteração.da.men-sagem..Essa.limitação.recorda.o.inicial.uso.entre.seres.humanos,.quando.o.metal.era.pedra.e.a.caverna.abri-gava.a.família.nas.horas.da.noite.misteriosa..“Aprende.com.os.mudos.o.segredo.dos.gestos.expressivos”,.aconselhava.Leonardo.da.Vinci..A.Palavra.muda..O.Gesto.não”.

Tomamos.emprestadas.as.sábias.palavras.de.Câmara.Cascudo.na.apresentação.do.seu.livro-documento.“História.dos.Nossos.Gestos”,.para.alinhavar.nosso.começo.de.conversa.sobre.a.viagem.da.palavra..Palavra.que.nasce.no.corpo,.via.gesto,.via.ideia,.via.dança,.via.canto,.via.grito,.via.choro,.via.gargalhada..Depois.de.ser.corpo,.virou.e.vira.palavra.escrita.e.precisa.novamente.de.um.corpo.para.ser.compreendida.e.para.isso.volta.a.ser.gesto,.dança,.canto,.grito,.choro,.gargalhada.e.pode.ser.lida,.dita,.cantada,.na.quietude.do.colo.de.leito-res.solitários.ou.na.multidão.dos.teatros.e.apresentações.públicas.

Nessa.viagem,.a.palavra.se.encontra.com.alguns.de.seus.trabalhadores:.o.escritor,.o.leitor.e.o.ouvinte,.cada.qual.contribuindo.para.que.ela.ganhe.sentido.e.carregue.emoções.

Cada.qual.a.sua.maneira.e.dentro.de.sua.especialidade:.leitores,.contadores.de.história,.cantores,.bailari-nos,.atores,.tradutores.em.braile.e.em.libras.emprestam.seu.corpo.para.que.as.palavras.sejam.compreendidas.

E.acontece.agora.uma.viagem.da.multiplicação..A.flor.que.foi.ideia.do.escritor.e.virou.palavra.escrita.e.depois.virou.palavra.viva.lida.e.interpretada,.se.transforma.em.muitas.flores.nas.vozes.e.gestos.dos.seus.tra-dutores.e.no.corpo.que.as.vê,.ouve,.ou.sente.de.alguma.maneira.

Daí.dizermos.que.a.palavra.escrita.ou.falada.possui.muitas.vozes,.tantas.quantas.são.seus.leitores.e.ou-vintes.

Saber.dizê-la.bem.é.contribuir.para.que.ela.cumpra.o.destino.de.ser.compreendida.em.inúmeros.contex-tos.diferentes.por.ouvintes.que.nunca.tiveram.nenhuma.experiência.com.o.que.está.sendo.dito,.podendo.nesse.esforço.perder.ou.ganhar.características,.sem,.porém,.abandonar.o.desejo.e.necessidade.de.ser.fiel.com.quem.a.criou.

texto-farol 2

Traços e formas dramáticas, de Angélica Soares

Angélica Soares é doutora em Letras e professora da universidade Federal do

Rio de janeiro. Publicou entre outros títulos, o poema, construção às avessas e A

celebração da poesia.

JOÃO.GRILO.–.Padre.João!.Padre.João!PADRE.(aparecendo na Igreja).–.Que.há?Que.gritaria.é.essa?(Fala afetadamente com aquela pronúncia e aquele estilo que Leon Bloy chamava “sacerdotais”.)

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Apostilas das oficinas de leitura  99

CHICÓ.–.Mandaram.avisar.para.o.senhor.não.sair,.porque.vem.uma.pessoa.aqui.trazer.um.cachorro.que.está.se.ultimando.para.o.senhor.benzer.

PADRE.–.Para.eu.benzer?CHICÓ.–.Sim.PADRE.–.(Com desprezo).–.Um.Cachorro?CHICÓ.–.Sim.PADRE.–.Que.maluquice!.Que.besteira!JOÃO.GRILO.–.Cansei.de.dizer.a.ele.que.o.senhor.não.benzia..Benze.porque.benze,.vim.com.ele.PADRE.–.Não.benzo.de.jeito.nenhum.CHICÓ.–.Mas,.padre,.não.vejo.nada.de.mal.em.se.benzer.o.bicho.JOÃO.GRILO.–.No.dia.em.que.chegou.o.motor.novo.do.Major.Antonio.Morais.o.senhor.não.benzeu?PADRE.–.Motor.é.diferente,.é.uma.coisa.que.todo.mundo.benze..Cachorro.é.que.eu.nunca.ouvi.falar.CHICÓ.–.Eu.acho.cachorro.uma.coisa.melhor.do.que.motor.PADRE.–.É,.mas.quem.vai.ficar.engraçado.sou.eu,.benzendo.o.cachorro..Benzer.motor.é.fácil,.todo.mundo.

faz.isso,.mas.benzer.cachorro?JOÃO.GRILO.–.É.Chico,.o.padre.tem.razão....Quem.vai.ficar.engraçado.é.ele.e.uma.coisa.é.benzer.o.mo-

tor.do.Major.Antônio.Morais.e.outra.é.benzer.o.cachorro.do.Major.Antônio.Morais.PADRE.–.(Mão em concha no ouvido?) Como?JOÃO.GRILO.–.Eu.disse.que.uma.coisa.era.o.motor.e.outra.é.o.cachorro.do.Major.Antônio.Morais.PADRE.–.E.o.dono.do.cachorro.de.quem.vocês.estão.falando.é.Antonio.Morais?JOÃO.GRILO.–.É,.eu.não.queria.vir,.com.medo.de.que.o.senhor.se.zangasse,.mas.o.Major.é.rico.e.pode-

roso.e.eu.trabalho.na.mina.dele..Com.medo.de.perder.meu.emprego,.fui.forçado.a.obedecer,.mas.disse.a.Chico:.o.padre.vai.se.zangar.

PADRE.–.(desfazendo em sorrisos) –.Zangar.nada,.João!.Quem.é.um.ministro.de.Deus.para.ter.direito.de.se.zangar?.Falei.por.falar,.mas.também.vocês.não.tinham.dito.de.quem.era.o.cachorro.

Citamos,.acima,.um.trecho.do.Auto da compadecida,.de.Ariano.Suassuna..Auto.é.uma.modalidade.do.gê-nero.dramático.ligada.aos.mistérios.e.às.moralidades.e,.na.Idade.Média,.designou.toda.peça.curta.de.tema.religioso.ou.profano..Ele.equivaleria.a.um.ato.que.viesse.a.integrar.um.espetáculo.maior.e.completo,.daí.o.nome.de.auto. Os.mistérios.são.peças.teatrais,.cujos.temas.são.retirados.das.sagradas.escrituras.para.transmi-tir.ao.povo,.de.forma.acessível.e.concreta,.a.história.da.religião,.os.dogmas.e.os.artigos.da.fé. Nas moralidades,.os.temas.histórico-concretos.dos.mistérios.são.substituídos.por.argumentos.abstrato-típicos,.que.mostram.o.conflito.do.homem,.em.face.do.Bem.e.do.Mal.

Suassuna.traz.para.os.nossos.dias.aquela.forma.dramática,.que.teve.com.Gil.Vicente,.um.dos.maiores.escritores.portugueses.do.século.XVI,.seu.apogeu.em.língua.portuguesa..O.auto.vicentino.era.de.temática.religiosa..A.designação.de.farsa.era.dada.às.peças.de.assunto.profano.

No.nosso.exemplo,.podemos.observar.que.o.dramático,.como.indica.a.própria.origem.da.palavra.(drama.vem.do.verbo.grego.dráo.=.fazer),.é.ação..Por.isso,.o.mundo.nele.representado.(pois.o.texto.dramático.se.completa.na.representação).apresenta-se.como.se.existisse.por.si.mesmo,.sem a interferência de um narrador..Importante.é.notarmos.que.o.objetivo.do.escritor.não.é.cada.passagem.por.si,.como.na.epopéia,.nem.o.modo.especial.de.transmitir.emocionalmente.um.tema,.como.no.poema.lírico,.mas.a meta a alcançar. Assim.

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100  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

é.que.tudo.se.projeta.para.o.final,.através.da.manutenção.de.uma.forte expectativa,.que.desemboca.no.des-fecho.ou.solução.

Arlecchino, personagem da Commedia dell’ Arte – semelhanças com os personagens Chicó e João Grilo.

O.curto.trecho.do.Auto da compadecida.nos.leva.a.querer.saber.o.que.acontecerá.depois.que.o.padre,.leva-do.pela.cobiça,.começa.a.admitir.a.possibilidade.de.benzer.o.cachorro,.cujo.dono.ele.pensava.que.era.o.Major..Isto.porque.cada.parte.de.uma.peça.dramática.se.liga.a.outras,.de.tal.forma.que.é.sempre.consequên-cia.da.anterior.e.causa.da.seguinte..Essa.interdependência.das.partes.é.responsável.pela.tensão.que,.por.sua.vez,.exige.a.concentração.no.essencial.e.a.aceleração.do.tempo,.para.que.nada.se.perca,.nem.se.veja.prejudi-cado.o.sentido.do.todo..É.o.que.Aristóteles.chamou.de.unidade.de.ação.

O.diálogo.é.a.forma.própria.para.que.as.personagens.ajam.sem.qualquer.mediação,.dando-nos.sempre.a.impressão,.até.mesmo.nos.dramas.históricos,.de.que.tudo.está.acontecendo.pela.primeira.vez.

Segundo.Emil.Staiger,.o.dramático.reúne.o.pathos.e.o.problema..Conceitua.pathos.como.o.tom.da.lingua-gem.que.comove,.que.provoca.paixão,.envolvendo.o.espectador.que.passa.a.vivenciar,.com.o.ator,.a.dor.ou.o.prazer..Já.o.problema.seria.a.proposição,.aquilo.que.o.autor.do.texto.dramático.se.propõe.a.resolver..Assim,.unem-se.o.querer.do.patético.e.o.questionar.do.problemático,.conduzindo.sempre.a.ação.para.adiante,.para.o.futuro,.que.equivale.ao.desfecho..As.perguntas.do.problema.vão.sendo.respondidas.pela.força.progressiva.do.pathos.que,.eliminando.as.distâncias.entre.ator.e.espectador,.leva.este,.obrigatoriamente,.à.simpatia.

(...)

Pathos é uma palavra grega que significa “paixão, excesso, catástrofe, passa-

gem, passividade, sofrimento e assujeitamento”.

Obtido em “http://pt.wikipedia.org/wiki/Pathos”

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Apostilas das oficinas de leitura  101

A tragédia

É.forma.dramática.surgida.no.século.V.a.c..no.mundo.grego,.época.de.crise.de.valores,.de.choque.entre.o.racional.e.o.mítico..E,.segundo.Aristóteles,.teria.origem.no.ditirambo.(canto.em.louvor.a.Dionísio),.pas-sando.por.uma.fase.satírica,.até.fixar-se.com.todas.as.suas.características..A.proposta.aristotélica.liga-se.à.etimologia.da.palavra.tragédia:.de.tragos.(bode).+.oide.(canto)..O.coro.dionísico.era.formado.por.coreutas.que.cantavam.e.dançavam.usando.máscaras.de.sátiros.

No.capítulo.VI.de.sua.Poética,.Aristóteles.conceitua.a.tragédia.como.a.mímesis.de.uma.ação.de.caráter.elevado.(importante.e.completa),.num.estilo.agradável,.executada.por.atores.que.representam.os.homens.de.mais.forte.psique,.tendo.por.finalidade.suscitar.terror.e.piedade.e.obter.a.catarse.(libertação).dessas.emoções.

O.herói.trágico.vê-se.sempre.entre.duas.forças.opostas:.o.ethos,.seu.próprio.caráter,.e.o.dáimon.(destino),.e.se.movimenta.em.um.mundo.também.trágico,.no.qual.se.encontram.em.tensão.a.organização.social.e.ju-rídica,.caracterizadora.da.época,.e.a.tradição.mítica.e.heróica..(...)

Ainda.hoje.temos.o.sentido.do.trágico.toda.vez.que.vemos.destruída.a.razão.de.uma.existência,.toda.vez.que.o.homem.se.vê.impelido.a.uma.fatalidade..No.entanto,.a.tragédia,.tal.como.a.conceituamos,.não.é.mais.possível.em.nossos.tempos.de.valores.tão.relativos,.quando.não.mais.podemos.responder.qual.é.a.medida.do.homem.

A comédia

Para.conceituar.a.comédia.podemos.recorrer.ainda.a.Aristóteles..Segundo.ele,.essa.forma.dramática.se.volta.para.os.homens.de.mais.fraca.psique,.através.da.mímesis.daqueles.vícios.que,.não.causando.sofrimento,.caem.no.ridículo.e.produzem.o.riso..A.etimologia.do.vocábulo.“comédia”.(komoidía).nos.permite.ligar.a.origem.dessa.forma.dramática.ao.festejo.popular.(komos).ou.a.kómas.(aldeia),.pois.os.atores.cômicos.anda-vam.de.uma.aldeia.para.outra,.por.não.serem.prestigiados.na.cidade.

Na.comédia,.a.tensão.própria.do.gênero.dramático.é.extravasada.com.o.riso..O.problema.apresentado,.cuja.resposta.deve.ser.conseguida.através.da.linguagem.do.pathos,.resolve-se.em.etapas.sucessivas.e.se.dis-persa. em. tiradas. ridículas.. Há,. assim,. uma. acomodação. no. cômico,. que. impede. o. desmoronamento. do.mundo.da.personagem..Alguns.teóricos.acentuam,.na.comédia,.o.sentido.do.insólito,.do.imprevisível.ou.da.surpresa,.bem.como.o.aspecto.de.sátira.de.situações.sociais.ou.individuais,.como.um.efeito.de.correção.de.costumes..Costuma-se.destacar.ainda.o.fato.de.que.o.cômico.e.o.riso.incluem.uma.contradição.ou.incon-gruência,.manifestada.na.reunião.de.objetos,.acontecimentos.ou.significados.que,.em.geral,.não.são.vivencia-dos.conjuntamente.

(...)

o drama

A.palavra.drama.se.emprega:.1º).para.designar.o.gênero.dramático.em.geral;.2º).como.sinônimo.de.peça.teatral;.3º).como.uma.forma.dramática.específica,.que.resulta.do.hibridismo.da.tragédia.com.a.comédia.

Com.essa.terceira.acepção,.surge.o.drama,.na.primeira.metade.do.século.XVIII,.como.criação.do.dra-maturgo.francês.Nivelle.de.La.Chaussée,.que.o.designou.“comedie.larmoyante”.(comédia.lacrimejante),.

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102  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

sendo.acompanhado.pelo.drama.burguês.de.Diderot,.que.substitui.personagens.da.história.greco-romana.por.cidadãos.burgueses.de.seu.tempo,.localizados.em.seu.espaço.próprio.e.em.condições.específicas.de.sua.classe.social.

Com.o.Romantismo,.caracterizado,. sobretudo,.pela.oposição.às. regras.clássicas.de.produção. literária,.propõe-se.a.mistura.de.gêneros,.fervorosamente.defendida.por.Victor.Hugo,.em.seu.famoso.“Prefácio“.de.Cromwell.(1827),.onde.apresenta.o.drama.romântico.como.resultado.da.fusão.entre.o.grotesco.e.o.sublime,.o.terrível.e.a.bufonaria,.a.tragédia.e.a.comédia.

Em.meados.do.século.XIX,.o.drama.vai.abandonando.os.temas.históricos.(“drama.de.capa.e.espada”).e.volta-se.para.a.produção.de.um.teatro.de.atualidade.(“drama.de.casaca”).iniciado.pela.célebre.Dama.das.Camélias,.de.Alexandre.Dumas.Filho..Essa.modalidade.do.drama.atravessaria.o.Realismo.e.o.Naturalismo.

Contemporaneamente.chamamos.de.drama,.em.oposição.à.comédia,.a.peça.teatral.construída.com.base.em.tensões.sociais.ou.individuais,.que.recebem.um.tratamento.sério.e.até.solene.

Dois.designativos.são.ainda,.de.alguma.forma,.ligados.ao.drama:.a.tragicomédia.(peça.que.mesclava.o.cômico.e.o.trágico,.do.século.XVI.ao.XVIII,.quando.se.defendia.a.pureza.dos.gêneros).e.o.melodrama.(peça.que,.explorando.um.sentimentalismo.exagerado,.não.raro.desemboca.no.patético,.em.mistérios,.cenas.de.medo,.comicidade.e.enganos,.que.se.desfazem.milagrosamente).

Fonte: Texto extraído do livro Gêneros literários, de Angélica Soares. Editora Ática, São Paulo, 2005 páginas 57 a 64

AnexoS DA APoStiLA 3

O que os textos de diálogos escondem

“Não.basta.ler.as.falas..É.preciso.dominar.o.contexto.para.compreender.plenamente.um.texto.de.teatro.ou.uma.entrevista.”

Priscila Ramalho

Textos.em.forma.de.diálogo.costumam.atrair.o.leitor.iniciante..Por.dois.motivos:.porque.em.geral.são.mais.leves.e.porque.a.conversação.é.uma.das.práticas.mais.comuns.no.dia-a-dia..As.pessoas.se.cumprimen-tam,.dão.orientação,.argumentam,.expressam.ideias.e.opiniões....“Pelo.que.dizemos.é.possível.identificar.crenças,.valores.e.posições.ideológicas”,.explica.a.consultora.Maria.José.Nóbrega..Na.literatura.não.é.mui-to. diferente.. As. declarações. dos. personagens. complementam,. esclarecem,. trazem. informações. novas. e.importantes.que.se.juntam.ao.que.é.relatado.pelo.narrador..“Essa.pluralidade.de.vozes.abre.espaço.para.a.polêmica.”

O.problema.é.que.muitas.vezes.o.aluno.aborda.o.diálogo.de.forma.ingênua..Ele.tende.a.se.fixar.no.con-teúdo.das.falas.e.não.percebe.que.o.modo.como.são.enunciadas.também.revela.muito..As.expressões.usadas,.o.vocabulário,.a.estrutura.sintática,.o.trecho.em.que.foram.encaixadas.num.texto.bem.elaborado,.nada.está.ali.à.toa.

É.exatamente.nesse.“conteúdo.oculto”.que.você.deve.focar.seu.trabalho..Parta.do.pressuposto.de.que.o.autor.se.preocupou.com.cada.detalhe.durante.a.construção.das.conversações..E.que,.portanto,.existem,.es-condidas.nas.entrelinhas,.informações.riquíssimas..É.preciso.inferi-las.por.meio.de.uma.análise.cuidadosa.

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Apostilas das oficinas de leitura  103

Outra.dificuldade.dos.jovens,.segundo.Maria.José,.é.perceber.as.relações.entre.o.trecho.dialogado.e.o.restante.do.texto..Para.ajudá-los.a.integrar.as.partes,.chame.a.atenção.para.as.técnicas.usadas.pelo.autor..Conheça.alguns.mecanismos.usados.na.redação.de.uma.entrevista.e.de.uma.peça.de.teatro,.dois.gêneros.em.que.há.o.predomínio.do.diálogo,.e.confira.dois.planos.de.aula.para.trabalhar.esse.conteúdo.com.turmas.de.5ª.a.8ª.série..

A leitura do teatro

Os.diálogos.teatrais.são.os.que.mais.bem.imitam.as.situações.reais..Neles.os.personagens.conversam.entre.si.para.dar.ao.espectador.a.sensação.de.estar.dentro.da.cena..Na.peça.de.teatro.não.existe.a.figura.do.narrador,.apenas.os.diálogos.e.as.rubricas.que.orientam.o.leitor.ou.o.diretor.sobre.a.montagem.da.cena,.o.figurino.usado.pelos.personagens.e.a.entonação.da.voz,.por.exemplo..A.maneira.como.as.coisas.são.ditas.permite.ao.leitor.fazer.inferências.sobre.as.características.de.cada.personagem.e.compreender.os.conflitos.da.trama.

Veja,.abaixo,.um.trecho.extraído.da.peça.O beijo no asfalto,.de.Nelson.Rodrigues..Nele.não.são.as.palavras.em.si,.mas.a.estrutura.das.frases,.as.observações.das.rubricas.e.a.pontuação.que.revelam.a.insegurança.do.personagem..“Explicar.o.processo.de.construção.de.uma.peça.de.teatro,.o.que.são.as.rubricas.e.como.são.divididas.as.cenas.também.facilita.muito.a.leitura”,.afirma.o.professor.Alexandre.Mate,.mestre.em.teatro.pela.Universidade.de.São.Paulo.

CUNHA.(rápido e incisivo) Gosta.de.sua.mulher,.rapaz?.

(Arandir, por um momento, acompanha o movimento do fotógrafo que se prepara para bater uma nova fotografia).

ARANDIR.Naturalmente!.CUNHA (com agressividade policial).E.não.usa.nada.no.dedo.por.quê?.ARANDIR (atarantado).Um.dia,.no.banheiro,.caiu..Caiu.a.aliança..No.ralo.do.banheiro..AMADO Casado.há.quanto.tempo?.ARANDIR Eu?.CUNHA Gosta.de.mulher,.rapaz?.ARANDIR (desesperado).Quase.um.ano!.

Plano de aula

Quando.trabalhar.a.leitura.de.peças.de.teatro.em.sala.de.aula,.procure.levar.os.estudantes.a.enxergar.além.do.conteúdo.explícito.no.texto..Sugira.que.os.jovens.descrevam.os.traços.que.caracterizam.os.personagens.que.participam.da.ação..É.preciso.chamar.a.atenção.para.a.relação.entre.essas.características.e.o.modo.como.eles.se.expressam.e.para.as.alterações.no.discurso.quando.conversam.uns.com.os.outros.

Num.segundo.momento,.peça.à.turma.que.transforme.alguns.contos.e.crônicas.em.peças.teatrais..O.exercício.permite.adquirir.maior.clareza.da.história.e.dominar.os.mecanismos.usados.no.processo.de.cons-trução.desse.gênero.

Escolha.um.autor..Convide.os.alunos.a.selecionar.um.conto.ou.uma.crônica.desse.escritor.para.transfor-mar.em.peça.de.teatro..Repare.que.para.encontrar.o.melhor.texto.eles.vão.precisar.ler.muito.

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104  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Selecione.algumas.peças.de.teatro.e.leve.para.a.classe..Esses.textos.são.essenciais.para.a.turma.ter.como.parâmetro..Todos.devem.ler.vários.deles.para.se.apropriar.das.características.específicas.do.gênero.

Solicite.que.os.estudantes.passem.a.obra.selecionada.para.a.forma.dramática..O.trabalho.inclui.a.elabo-ração.dos.diálogos.e.a.redação.de.várias.rubricas.com.as.indicações.sobre.os.cenários,.as.movimentações,.a.entonação.da.voz.dos.diferentes.personagens...

Para.finalizar.a. tarefa,.convide.os.estudantes.a.ensaiar.a. leitura.dramática..Se.houver.possibilidade,.o.melhor.é.montar.o.espetáculo.e.apresentá-lo.às.demais.turmas.

(...)

Um pouco de história

Os primeiros e mais conhecidos diálogos são atribuídos ao filósofo grego Platão

(429-347). Apesar de ter aprendido a importância da conversação com Sócrates,

de quem era discípulo, foi Platão o primeiro a adotar esse método para escrever

textos filosóficos. As ideias têm de ser deduzidas com base no que dizem os per-

sonagens criados por ele.

O personagem principal dos primeiros diálogos de sua autoria é Sócrates. Foi a

forma encontrada por Platão para eternizar as ideias do mestre, que não deixou

nada escrito. À medida que vai amadurecendo as próprias concepções, no entan-

to, ele passa a criar personagens para exprimi-las. Eles discutem assuntos comple-

xos como a natureza humana, a virtude, a sabedoria, a justiça e, principalmente,

a política seu tema preferido. Os diálogos, enriquecidos com exemplos da vida

cotidiana, contribuíram para que as ideias platônicas atingissem mais facilmente o

grande público. Veja o trecho abaixo, extraído de O Banquete, em que os persona-

gens Sócrates e Diotima discutem sobre o amor:

– Que seria então o amor, ó Diotima? Um mortal?

– Como nos casos anteriores, algo entre mortal e imortal.

– O que, então, ó Diotima?

– Um grande gênio, ó Sócrates. E, com efeito, tudo o que é gênio está entre um

deus e um mortal.

– E com que poder?

O de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens

o que vem dos deuses, de um as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e

recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de

modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo.

Fonte: revista Nova Escola – ed. 163 – junho/2003.

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Apostilas das oficinas de leitura  105

Dramaturgia e memória

A produção de uma peça sobre o poeta e ator mário Lago ensina a turma a interpretar e a cantar antigos sucessos

Paulo Araújo ([email protected])

Apaixonada.por.teatro.e.literatura,.a.professora.Maria.Lúcia.Peres,.da.EM.Raymundo.Corrêa,.no.Rio.de.Janeiro,.levou.seus.alunos.da.4a.série.para.visitar.uma.exposição.de.fotos.e.vídeos.sobre.o.século.19.no.Ins-tituto.Moreira.Salles..Lá,.ela.mostrou.aos.pequenos.como.eram.a.cidade.e.os.personagens.daquela.época.e.encerrou.a.visita.contando.o.enredo.de.Memórias.Póstumas.de.Brás.Cubas,.de.Machado.de.Assis..“O.as-pecto.misterioso.da.narrativa.não.saiu.da.cabeça.da.garotada.durante.várias.semanas”,.conta.Maria.Lúcia..Na.mesma.época,.a.Secretaria.Municipal.de.Educação.propôs.às.escolas.da.rede.a.realização.de.um.projeto.de.dramaturgia.para.resgatar.a.memória.de.artistas.cariocas.falecidos..Bingo!.Essa.era.uma.ótima.chance.de.reviver.a.história.do.defunto.que.volta.para.contar.a.própria.vida..Decidiram.então.fazer.um.musical.com.o.mesmo.argumento.para.retratar.a.trajetória.do.ator,.poeta.e.ativista.político.Mário.Lago.(1911-2002)..“Os.alunos.aprenderam.ao.longo.de.três.meses.a.decorar.textos,.interpretar,.coreografar,.combinar.figurinos.e.cenários.e.desenvolver.um.script”,.enumera.Mirian.Bittencourt,.professora.da.3a.série.convidada.por.Maria.Lúcia.a.participar.do.projeto.O.Corpo.Fala..A.experiência,.que.envolveu.também.a.disciplina.de.Língua.Portuguesa,.resultou.num.bonito.espetáculo..P.A..

Sequência de atividades

1. Pesquisa e adaptaçãoProduzir.um.musical.exige.organização..Ao.montar.um.cronograma,.o.ideal.é.reservar,.todos.os.dias,.pelo.

menos.50.minutos.para.as.atividades,.que.começam.com.as.pesquisas..Divididos.em.grupos,.os.alunos.do.Rio.buscaram.em.jornais,.revistas.e.internet.informações.sobre.Mário.Lago.e.descobriram.que.o.simpático.ator.de.novelas.era.também.compositor.de.canções.famosas,.como.Amélia.e.Nada.Além..Nas.aulas.de.Lín-gua.Portuguesa,.foram.exploradas.paródias.e.paráfrases.na.criação.de.músicas.e.poemas.

2. Elenco e busca de referências Para.a.escolha.do.elenco,.que.não.deve.privilegiar.só.os.que.têm.mais.facilidade,.uma.saída.é.promover.

audições.em.que.os.alunos.façam.leituras.em.voz.alta,.cantem.e.dancem.para.que.todos.possam.avançar..O.júri.é.formado.pela.própria.garotada..Durante.uma.das.reuniões.do.grupo,.os.alunos.lembraram.dos.

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106  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

programas.de.entrevistas.exibidos.na.TV.e.decidiram,.junto.com.as.professoras,.montar.o.roteiro.nesse.for-mato..Todos.assistiram.a.atrações.do.gênero.na.TV.e,.para.enriquecer.a.parte.musical,.trechos.de.desenhos.animados..Quatro.estudantes.que.tocavam.cavaquinho.e.pandeiro.ficaram.responsáveis.pela.trilha.sonora..

3. Criação visual e de roteiro Quando.a.peça.toma.corpo,.é.hora.de.pensar.nos.cenários.e.figurinos..É.tarefa.dos.estudantes.trazer.

acessórios.e.adereços..Na.Raymundo.Corrêa,.as.professoras.orientaram.a.escolha.das.roupas,.da.cortina.e.do.sofá.que.compuseram.a.cena.Enquanto.isso,.Maria.Lúcia.escrevia.o.roteiro.junto.com.as.crianças,.mostran-do.modelos.para.elas.conhecerem.as.marcações.de.cena.feitas.pelo.autor.ou.diretor..

4. Apresentação A.produção.se.completa.com.a.exibição.para.a.comunidade.escolar.e.o.público.externo..Os.15.alunos.

subiram.ao.palco.e.Charles.Alli,.10.anos,.intérprete.de.Mário.Lago,.apareceu.para.conversar.sobre.sua.vida.com.o.entrevistador.vivido.por.Igor.Bial,.9.anos..Entre.uma.revelação.e.outra,.a.platéia.se.deliciou.com.as.poesias.e.as.canções.mais.conhecidas..Depois.da.estréia,.as.crianças.experimentaram.o.que.é.uma.turnê.e.levaram.a.peça.para.uma.escola.municipal.e.uma.faculdade.

Fonte: revista Nova Escola, Edição Especial, abril/2007

O teatro ensina a viver

A turma perde a timidez, amplia os horizontes culturais e trabalha bem em grupo quando a arte cênica faz parte do currículo

Paulo Araújo

Mesmo.sem.se.dar.conta,.todos.os.dias.ao.entrar.na.sala.de.aula.você.e.seus.alunos.tomam.emprestados.alguns.recursos.da.linguagem.teatral..Ao.ler.um.conto.em.voz.alta,.os.estudantes.naturalmente.impostam.a.voz.e.mudam.a.entonação.marcando.os.diferentes.personagens..Para.manter.a.atenção.da.turma.em.suas.explicações.é.bem.provável.que.você.imponha.ao.corpo.uma.postura.mais.rígida,.abuse.dos.gestos.e.ca-priche.nas.expressões.faciais..Mas.o.teatro.pode.ser.usado.também.como.uma.ferramenta.pedagógica..“Uma.das.grandes.riquezas.dessa.atividade.na.escola.é.a.possibilidade.do.aluno.se.colocar.no.lugar.do.outro.e.experimentar.o.mundo.sem.correr.riscos”,.avalia.Maria.Lúcia.Puppo,.professora.de.licenciatura.em.Artes.Cênicas.da.Universidade.de.São.Paulo.(USP)..E.são.muitas.as.habilidades.desenvolvidas.com.essa.prática.

O.contato.com.a.linguagem.teatral.ajuda.crianças.e.adolescentes.a.perder.continuamente.a.timidez,.a.desenvolver.e.priorizar.a.noção.do.trabalho.em.grupo,.a.se.sair.bem.de.situações.onde.é.exigido.o.improviso.e.a.se.interessar.mais.por.textos.e.autores.variados..“O.teatro.é.um.exercício.de.cidadania.e.um.meio.de.ampliar.o.repertório.cultural.de.qualquer.estudante”,.argumenta.Ingrid.Dormien.Koudela,.consultora.do.Ministério.da.Educação.na.elaboração.dos.Parâmetros.Curriculares.Nacionais.(PCN).na.área..

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Apostilas das oficinas de leitura  107

A criatividade é o único recurso indispensável

“A.escola.não.precisa.de.um.espaço.com.poltronas.confortáveis.ou.ricos.figurinos.para.montar.uma.peça”,.avisa.a.atriz.e.orientadora.pedagógica.Beth.Zalcman,.da.Escola.Eliezer.Steinbarg-Max.Nordau,.do.Rio.de.Janeiro..

O.professor.Leandro.Karnal,.da.Universidade.de.Campinas,.vai.no.mesmo.caminho.que.Beth..Ele.lem-bra.que.ainda.durante.a.época.colonial.os.jesuítas.já.utilizavam.o.teatro.como.exercício.escolar.com.bons.resultados.e.sem.grandes.recursos..“Cabe.a.cada.professor.descobrir.os.recursos.necessários.para.o.trabalho.que.pretende.desenvolver..Mas.o.principal.é.sempre.a.criatividade”,.alerta..

A.linguagem.lúdica,.multifacetada.e.pouco.dependente.da.escrita.é.ideal.para.colocar.em.cartaz.com.a.garotada.espetáculos.sobre.a.cultura.local.ou.os.acontecimentos.cotidianos,.por.exemplo..A.atividade.desen-volve.a.oralidade,.os.gestos,.a.linguagem.musical.e,.principalmente,.a.corporal..

contato com companhias profissionais é valioso

A.presença.efetiva.da.arte.de.representar.na.educação.brasileira.é.um.fenômeno.recente..O.ensino.de.Educação.Artística,.regulamentado.em.1971,.sempre.priorizou.as.artes.plásticas..Com.o.passar.do.tempo,.a.aproximação.entre.escolas.e.grupos.teatrais.e.o.crescimento.dos.cursos.de.graduação.em.Artes.Cênicas.pelo.país.contribuíram.para.o.aumento.e.a.valorização.do.teatro.em.sala.de.aula..

Você.pode.incluir.atividades.baseadas.nessa. linguagem.em.seu.planejamento.e. ir.além..Uma.forma.é.fazer.parcerias.com.grupos.de.teatro.da.região..O.contato.com.atores.profissionais.é.muito.rico..Ele.possibi-lita.a.discussão.sobre.o.aproveitamento.dos.espaços.físicos.da.escola.e.o.intercâmbio.de.ideias.e.experiências..

Vale.a.pena.também.ficar.atento.à.programação.cultural.da.cidade..Entre.em.contato.com.companhias.teatrais.e.veja.a.possibilidade.de.trazê-las.para.a.escola..E,.se.possível,.leve.a.turma.a.uma.sala.de.espetáculos.para.assistir.a.montagens.profissionais..“O.hábito.de.ir.ao.teatro.também.deve.ser.desenvolvido.nas.aulas.de.Artes”,.conclui.Ingrid.

os cuidados para montar um bom projeto

. Fazer teatro na escola não é simplesmente encenar uma passagem da nossa história ou levar para o palco

os personagens e a trama do livro lido pela turma no encerramento do semestre. De acordo com Tuna

Serzedelo e Maíra Silveira, professores do Colégio São Luís, de São Paulo, trabalhar com a arte da represen-

tação exige conhecimento técnico. Por isso, para desenvolver um trabalho que introduza crianças e jovens

nessa linguagem, os professores das diversas disciplinas devem se associar ao de Artes. Aprenda com a ex-

periência da dupla.

. Coloque a classe em contato com diversos livros de autores com estilos variados e observe o tipo de texto

(tragédia, comédia, situações do cotidiano, mistério etc.) que mais chama a atenção do grupo.

. Em uma encenação, podem ser transmitidos conhecimentos culturais, históricos, científicos ou morais, por

exemplo, mas eles não devem ser vistos como objetivo, e sim como conseqüência. O ideal é que os alunos

se envolvam com a trama e os personagens e sintam prazer em representar.

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108  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

. Peça que os estudantes façam um mapeamento dos folguedos populares, festas, autos e outras manifesta-

ções folclóricas que possam ser representadas na escola.

. Evite montar um espetáculo que já esteja pronto e não busque se aproximar do que foi encenado por alguma

companhia famosa. Incentive o grupo a criar suas próprias encenações. “Cada montagem é única”, apregoa

Serzedelo. O professor dirigiu uma adaptação feita pelos próprios alunos do Ensino Médio de O Caso dos

Dez Negrinhos, da escritora inglesa Agatha Christie.

. Deixe as crianças ousarem. Maíra já trabalhou com a garotada na montagem de uma peça que uniu elemen-

tos dos clássicos Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O

resultado foi o espetáculo Auto da Barca da Paulista, numa referência à famosa avenida da capital paulista,

que passa próxima ao colégio. Ações como essas, sugeridas pelos adolescentes, têm maior chance de fazer

sucesso.

. Estimule a participação de todos os estudantes, sem exigir profissionalismo. Há os que falam baixo ou os

que ficam de costas para a platéia. Mas todos podem aprender.

. Fotografe e filme as encenações. Depois, convide a classe para analisar a montagem. Esse exercício de auto-

-avaliação serve para afinar as próximas apresentações.

Fonte: revista Nova Escola, edição 170, Março/2004

Anexo 4

vai começar o teatro de bonecos – monte uma oficina de fantoches e inicie a turma na arte de representar

Com.um.fantoche.na.mão,.até.adultos.mudam.o.tom.de.voz.para.dar.vida.aos.personagens..Gente.pe-quena,.então,.se.diverte.à.beça.com.esses.bonecos.feitos.de.retalhos.de.feltro.e.linha.e.agulha.de.bordar..A.turma.solta.a.criatividade.rapidamente,.mas,.para.a.atividade.ganhar.um.contexto.maior,.é.preciso.dar.alguns.pontos.

Primeiro.combine.com.as.crianças.uma.história.que.queiram.encenar..Com.base.nela,.defina.quem.vai.construir.os.fantoches,.quem.vai.interpretar.os.personagens.e.quem.vai.assistir.à.apresentação..A.professora.de. artes.plásticas.Maria.Silvia.Monteiro.Machado,.da.Escola.Municipal.de. Iniciação.Artística,. em.São.Paulo,.faz.um.alerta.em.relação.às.expectativas.do.professor:.“As.crianças.fazem.o.trabalho.segundo.a.própria.capacidade,.ou.seja,.cortam.o.pano,.colam.os.acessórios.e.costuram.o.fantoche.do.jeito.que.conseguem,.e.não.de.acordo.com.o.que.o.educador.quer”..

Ainda.nessa.linha,.é.importante.afastar.estereótipos.e.não.direcionar.a.produção.da.turma.com.falas.do.tipo.“o.leão.é.sempre.dessa.cor”.ou.“o.palhaço.não.é.assim”..Isso.inibe.a.expressão..“Às.vezes,.o.adulto.não.reconhece.a.figura,.mas.a.criança.sabe.cada.detalhe.de.seu.boneco”,.conta.Ana.Tatit,.também.professora.da.Escola.de.Iniciação.Artística..Se.necessário,.pergunte.onde.está.o.olho.e.a.boca,.por.exemplo,.para.começar.a.entender.as.representações.de.cada.um..

Outro.cuidado.é.sobre.o.material.apresentado.à.garotada..Apesar.de.ser.uma.atividade.indicada.para.turmas.a.partir.de.4.anos,.é.preciso.adequá-la.a.cada.faixa.etária..Ana.sugere.tecidos,.meias.e.sucatas.para.os.menores..Com.os.maiores,.é.possível.explorar.técnicas.como.a.do.papel.machê..

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Apostilas das oficinas de leitura  109

ensino médio

Subo nesse palco...

bases legais Linguagens e códigos

conteúdo

• Teatro

objetivos

• Conhecer a história do teatro e dos métodos de preparação de atores através dos tempos.

introdução

A.reportagem.de.VEJA.sobre.Fátima.Toledo.é.bastante.esclarecedora.sobre.os.métodos.de.preparação.de.atores.para.o.cinema.e.o.teatro.brasileiros.na.atualidade..O.texto.nos.conta.que.essa.profissional.realiza.uma.tarefa.bastante.valorizada.na.indústria.cinematográfica.em.todo.o.mundo..Os.especialistas.acreditam.que.Fátima.criou.um.método.e.está.por.trás.de.filmes.nacionais.de.grande.sucesso.de.bilheteria.como.Cidade de Deus.e.Tropa de Elite..Aproveite.a.oportunidade.e.analise.com.seus.alunos.um.pouco.da.história.do.teatro.e.das.técnicas.que.consagraram.atores.de.Hollywood..

Atividades

1ª aula.–.Solicite.aos.jovens.uma.pesquisa.sobre.o.nascimento.do.teatro.na.Grécia.antiga..Eles.descobri-rão.que.a.arte.teria.surgido.naquela.civilização.em.função.das.manifestações.em.homenagem.ao.deus.do.vinho,.Dionísio..A.cada.nova.safra.de.uva,.era.realizada.uma.festa.em.agradecimento.ao.deus,.marcada.por.procissões..Com.o.passar.do.tempo,.elas.ficaram.conhecidas.como.“Ditirambos”.e.tornaram-se.cada.vez.mais.elaboradas..Até.que.apareceram.os.“diretores.de.coro”.–.os.organizadores.da.festança..Nelas,.os.participantes.cantavam,.dançavam.e.apresentavam.diversas.cenas.da.vida.e.das.peripécias.de.Dionísio..Reuniam-se.de.20.mil.a.30.mil.pessoas.nas.cidades,.enquanto,.em.manifestações.rurais,.o.número.de.pessoas.era.menor..O.primeiro.diretor.de.coro.foi.Téspis,.que.desenvolveu.o.uso.de.máscaras.no.palco..Por.causa.da.imensa.platéia,.era.impossível.que.todos.escutassem.os.relatos..Mas.com.os.apetrechos.os.espectadores.podiam.visualizar.o.sentimento.da.cena.e.dos.personagens.representados..

O.coro,.por.sua.vez,.narrava.a.história.com.o.auxílio.de.música.e.balé..Ele.era.o.intermediário.entre.o.ator.e.os.espectadores.e.trazia.os.pensamentos.e.sentimentos.à.tona,.além.de.revelar.a.conclusão.e.a.moral.da.peça..Também.podia.haver.o.“corifeu”,.um.representante.do.coro.que.se.comunicava.com.a.platéia..Em.uma.dessas.procissões,.Téspis.inovou.ao.subir.em.um.tablado.e,.assim,.tornou-se.o.primeiro.respondedor.de.coro..Em.razão.disso,.originaram-se.os.diálogos.e.Téspis.foi.considerado.o.primeiro.ator.grego..

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2ª aula –.Encomende.aos.meninos.uma.pesquisa.na.internet.sobre.os.métodos.de.preparação.de.atores..Eles. encontrarão.vários.–.um.dos.mais. conhecidos. foi.desenvolvido.pelo. russo.Constantin.Stanislavsky.(1863-1938)..Nascido.em.uma.família.rica,.decidiu.ser.ator.a.partir.dos.14.anos.e.ajudou.a.fundar.o.Teatro.de.Arte.de.Moscou..Quando.começou.a.atuar,.ele.estava.às.voltas.com.duas.formas.distintas.de.representa-ção.que.marcaram.a.evolução.dessa.arte.no.século.XIX:.o.teatro.tradicional.(bastante.estilizado,.em.que.o.ator.exibia.gestos.“quase.falsos”).e.a.técnica.recém-surgida.de.representação.realista..

O.diretor.observou,.então,.os.atores.consagrados.de.seu.tempo,.além.de.contar.com.sua.própria.experi-ência..Constatou.que.alguns.intérpretes.agiam.de.forma.natural.e.intuitiva.–.mas.também.percebeu.que.não.havia.nada.escrito.sobre.esse.tipo.de.atuação..Resolveu,.portanto,.criar.um.sistema.batizado.com.seu.nome,.que.passou.a.ser.reconhecido.pelas.gerações.futuras.como.O.Método.e.ainda.hoje.serve.de.base.para.a.for-mação.de.todo.bom.ator..

O.núcleo.desse.sistema.está.na.chamada.“atuação.verossímil”,.uma.série.de. técnicas.e.princípios.que.atualmente.são.considerados.fundamentais.para.o.desempenho.do.ator..Ao.contrário.da.percepção.de.natu-ralidade.que.observara,.descobriu.que.a.atuação.realista.era,.na.verdade,.muito.artificial.e.difícil.–.e.que.so-mente.seria.desenvolvida.mediante.estudos.e.práticas,.que.ele.fez.questão.de.organizar..Desde.o.lendário.Actor.s.Studio,.de.Nova.York,.uma.das.instituições.mais.reconhecidas.no.meio.artístico,.até.as.escolas.de.atuação.brasileiras,.esse.método.tem.sido.amplamente.utilizado.na.preparação.de.atores..Alguns.famosos.que.o.adotaram.são:.Jack.Nicholson,.Marilyn.Monroe,.James.Dean,.Marlon.Brando,.Paul.Newman,.Dustin.Hoffman,.Robert.de.Niro.e.Al.Pacino..Entre.os.mais.novos,.o.talentoso.e.carismático.Johnny.Depp..

3ª aula.–.Convoque.os.alunos.para.que.assistam.a.um.trecho.de.um.filme.com.um.desses.atores,.como,.por.exemplo,.James.Dean,.em.Assim caminha a humanidade.ou.Juventude transviada..Da.carreira.de.Jack.Nicholson,.há.Um estranho no ninho ou.O iluminado..E,.de.Al.Pacino,.não.dá.para.ficar.de.fora.da.trilogia.de.O poderoso chefão.ou.Perfume de mulher..Peça.que.analisem.a.atuação.dos.artistas..Após.a.exibição.do.trecho.do.filme,.leia.para.a.classe.a.definição.de.Stanislavsky.sobre.seu.sistema.de.atuação:.“Todos.os.nossos.atos,.mesmo.os.mais.simples,.aqueles.que.estamos.acostumados.em.nosso.cotidiano,.são.desligados.quando.sur-gimos.na.ribalta,.diante.de.uma.platéia.de.mil.pessoas..Isso.é.por.que.é.necessário.se.corrigir.e.aprender.novamente.a.andar,.sentar,.ou.deitar..É.necessário.a.auto-reeducação.para,.no.palco,.olhar.e.ver,.escutar.e.ouvir.”.Proponha.aos.adolescentes.que.escolham.uma.cena.de.algum.dos.filmes.listados.neste.plano.de.aula.para.que.a.reproduzam.na.sala.de.aula.

Veja.também:

filmografia

Gata em teto de zinco quente,.Richard.Brooks,.1959,.Warner.Home.VideoQuanto mais quente melhor,.Billy.Wilder,.1959,.Fox.Home.Video

Consultoria.Ricardo BarrosProfessor.de.História.do.Colégio.Paulista,.de.São.Paulo

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/subo-nesse-palco-427983.shtml

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Apostilas das oficinas de leitura  111

trechoS De PeçAS teAtrAiS DA APoStiLA 3

A lição

Eugène Ionesco.(trad..Paulo.Neves)ATO.ÚNICO(...)A.ALUNA.–.Não.sei,.senhor.O.PROFESSOR.–.Vamos,.reflita..Não.é.fácil,.admito..No.entanto,.você.é.bastante.culta.para.poder.fazer.

o.esforço.intelectual.exigido.e.chegar.a.compreender..E.então?A.ALUNA.–.Não.consigo,.senhor..Não.sei.O.PROFESSOR.–.Tomemos.exemplos.mais.simples..Se.você.tivesse.dois.narizes.e.eu.lhe.arrancasse.um.

deles,.com.quantos.estaria.agora?A.ALUNA.–.Nenhum.O.PROFESSOR.–.Como.nenhum?A.ALUNA.–.Sim,.é.justamente.porque.o.senhor.não.me.arrancou.nenhum.que.eu.tenho.um.agora..Se.

o.tivesse.arrancado,.eu.não.o.teria.mais.O.PROFESSOR.–.Você.não.compreendeu.meu.exemplo..Suponha.que.tivesse.só.uma.orelha.A.ALUNA.–.Sim,.e.então?O.PROFESSOR.–.Eu.lhe.acrescento.uma,.quantas.teria?A.ALUNA.–.Duas.O.PROFESSOR.–.Certo..Acrescento-lhe.mais.uma..Quantas.teriam?A.ALUNA.–.Três.orelhas.O.PROFESSOR.–.Eu.retiro.uma.delas....Você.fica...,.com.quantas.orelhas?A.ALUNA.–.Duas.O.PROFESSOR.–.Certo..Eu.retiro.mais.uma,.com.quantas.ficaria?A.ALUNA.–.Duas.O.PROFESSOR.–.Não..Você.tem.duas,.eu.pego.uma.delas,.eu.como.uma.delas,.quantas.orelhas.lhe.

restam?A.ALUNA.–.Duas.O.PROFESSOR.–.Eu.como.uma.delas....uma.A.ALUNA.–.Duas.O.PROFESSOR.–.Uma.A.ALUNA.–.Duas.O.PROFESSOR.–.Uma!A.ALUNA.–.Duas!O.PROFESSOR.–.Uma!!!A.ALUNA.–.Duas!!!O.PROFESSOR.–.Uma!!!A.ALUNA.–.Duas!!!O.PROFESSOR.–.Uma!!!

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A.ALUNA.–.Duas!!!O.PROFESSOR.–.Não,.não..Não.é.isso,.O.exemplo.não.é....não.é.convincente..Escute-me..(...).Vamos.

proceder.de.outro.modo....Limitemo-nos.aos.números.de.um.a.cinco,.para.a.subtração....Espere,.senhorita,.você.vai.ver..Vou.fazê-la.compreender..(O Professor põe-se a escrever numa lousa imaginária. Ele se aproxima da Aluna, que se vira para olhar.).Veja,.senhorita..(Ele finge desenhar, na lousa, um bastão; finge escrever abaixo o número 1; depois, dois bastões, sob os quais escreve o número 2; faz o mesmo com 3 e o 4.) Veja...

A.ALUNA.–.Sim,.senhor.O.PROFESSOR.–.São.bastões,.senhorita,.bastões..Isso.aqui.é.um.bastão;.aqui.são.dois.bastões;.ali,.três.

bastões;.depois,.quatro.bastões;.depois,.cinco.bastões..Um.bastão,.dois.bastões,.três.bastões,.quatro.e.cinco.bastões....são.números..Quando.contamos.bastões,.cada.bastão.é.uma.unidade,.senhorita....O.que.acabo.de.dizer?

A.ALUNA.–.“Uma.unidade,.senhorita!.O.que.acabo.de.dizer?”O.PROFESSOR.–.Ou.algarismos!.Ou.números!.Um,.dois,.três,.quatro,.cinco,.são.elementos.da.nume-

ração,.senhorita.A.ALUNA.–.(Hesitante.).Sim,.senhor..Elementos,.algarismos,.que.são.bastões,.unidades.e.números...O.PROFESSOR.–.Ao.mesmo.tempo....Ou.seja,.em.suma,.toda.a.aritmética.consiste.nisso.A.ALUNA.–.Sim,.senhor..Certo,.senhor..Obrigada,.senhor.(...)

Fonte: A lição e as cadeiras. Eugène Ionesco. Trad. Paulo Neves. Editora Peixoto Neto, 2004.

Pluft, o fantasminha

Maria Clara MachadoPRÓLOGOO prólogo se passa à frente da cortina. Pela esquerda surgem os 3 marinheiros amigos, meio bêbados, cantando.

O da frente é Sebastião, o mais corajoso. Leva um toco de vela aceso ou um lampião. Segue-se Julião, segurando um mapa. Deve-se ouvir a canção antes de avistá-los.

Ainda.era.uma.criança,Quando.saiu.para.o.marA.aprender.a.navegarO.Capitão.Bonança!Depois.morreu.no.mar,Deixou.de.navegar.Onde.está.a.herançaDo.Capitão.Bonança!?

Quando aparecem no palco, devem estar acabando o canto.

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Apostilas das oficinas de leitura  113

SEBASTIÃODeve.ser.aqui!.Veja.o.mapa,.Julião!JULIÃOVeja.você,.Sebastião..(Troca o mapa pela vela do Sebastião.)SEBASTIÃOÉ.melhor.o.João.ver;.João.é.o.encarregado.do.mapa..(Troca a garrafa com João e bebe um traguinho. Fazem

várias vezes este jogo de trocar.)JOÃO(Com o mapa).Uma.casa.perdida.na.areia.branca.perto.do.mar.verde....Deve.estar.por.perto....Pega.na.

luneta,.Julião.JULIÃO(Olhando pelo gargalo da garrafa) Estou.vendo.um.mar.calmo.com.algumas.ondinhas.brancas.SEBASTIÃOEntão.vamos!JOÃO(Desanimado).Já.andamos.muito!.Pobre.Maribel!JULIÃOPobre.Maribel!SEBASTIÃOPobre.Maribel!(Os três se abraçam e sentam-se no chão.)SEBASTIÃO(Levantando-se).Precisamos.salvar.a.neta.do.nosso.grande.capitão.Bonança!JOÃO(Mesmo) Precisamos.achar.o.tesouro.da.neta.do.grande.Capitão.Bonança!JULIÃOPrecisamos.pegar.o.ladrão.do.tesouro.da.neta.do.grande.capitão.Bonança!SEBASTIÃOViva.o.grande.capitão.Bonança!TODOSVivaaaa!SEBASTIÃO(Para Julião) Vamos!JULIÃO(Para João).Vamos!JOÃO(Para alguém imaginário que o segue) Vamos!(Os três recomeçam a cantar e saem pela direita, descendo o proscênio.)Fim.do.prólogo

Fonte: Pluft, o fantasminha. Maria Clara Machado. Nova Fronteira, 2009.

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O beijo no asfalto

Nelson RodriguesTERCEIRO.ATO(Trevas. Luz na casa de Selminha. Dália vai entrando. Sente-se em tudo o que Selminha diz ou faz, o trauma

da polícia. Ela, que está lendo um jornal, ergue-se ao ver Dália.)SELMINHA (sempre em tensão).–.Quem.era?DÁLIA.(sôfrega).–.Arandir!SELMINHA (frenética e esganiçando).–.E.só.telefona.agora?DÁLIA.(querendo acalmá-la) –.Selminha,.você.está.nervosa.SELMINHA (anda de um lado para outro numa angústia de insana e na sua cólera).–.Passa.uma.noite.e.um.

dia.sem.telefonar!DÁLIA.(gritando também) –.O.telefone.aqui.está.desligado!SELMINHA (mais contida).–.Fala!DALIA.–.Arandir.telefonou.SELMINHA (varada de arrepios) –.Arandir.DALIA.–.Escuta..Está.num.hotel.SELMINHA (repetindo por um mecanismo de angústia).–.Hotel?DALIA.(sôfrega).–.Mandou.dizer.que.SELMINHA (com brusca irritação).–.Mas.que.hotel?DALIA.–.E.te.espera.lá..Disse.que.SELMINHA.–.Onde?DALIA.–.O.endereço..Eu.tomei.nota..É.no...(Sente-se pouco a pouco e de uma maneira cada vez mais nítida, que Selminha não quer ir.)SELMINHA.(para si mesma com voz surda).–.E.quer.que.eu.vá.lá!DÁLIA.–.Arandir.pediu..Olha,.Selminha,.pediu.que.você.fosse.imediatamente..Agora..Fosse.agora..O.

endereço..Está.escondido.num.hotel..A.rua.é...SELMINHA.(cortando).–.Dália,.escuta..É.claro.que.eu..Mas.todo.o.mundo!.Todo.o.mundo.acha,.tem.

certeza..Certeza!.Que.os.dois.eram.amantes!DÁLIA.(com desprezo) –.É.uma.gente.que.nem.sei!SELMINHA.(na sua obsessão) –.Amantes!DÁLIA.–.Mas,.o.Arandir.mandou.dizer.que.o.hotel..O.hotel.é.pertinho.do.largo.de.São.Francisco..Olha..

Escolheu,.de.propósito,.está.ouvindo,.Selminha?.Selminha,.ouve,.escolheu.um.hotel.ordinário,.porque.dá.menos.na.vista..Agora.vai,.Selminha,.vai.

SELMINHA.–.Vou.DÁLIA.(sôfrega) –.Apanha.um.táxi.(Selminha não se mexe.)SELMINHA.(com súbita revolta) –.E.se.a.polícia.me.seguir?DÁLIA (com irritação).–.Arandir.está.esperando!SELMINHA.(com certa malignidade) –.E.daí?DÁLIA.–.Você.é.a.mulher!

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Apostilas das oficinas de leitura  115

SELMINHA (gritando) –.Mas.se.eu.for.presa. (desatando a chorar) Você.quer.que.eu.seja.presa..(com desespero) E.que.façam.outra.vez.aquilo.comigo,.outra.vez?

DÁLIA (conciliatória).–.Selminha!SELMJNHA.(trincando os dentes).–.Nunca.pensei.que..Me.puseram.nua!.Fiquei.nua.pra.dois.sujeitos!DÁLIA.–.Mas.não.vá.contar.isso.pra.o.Arandir!SELMINHA.–.E.o.miserável,.o.cachorro.ainda.me.disse.que.me.queimava.o.seio.com.o.cigarro! (solu-

çando).Nua!.Nua!(Dália agarra a irmã pelos dois braços com súbita energia.)DÁLIA.–.Você.vai?SELMINHA (ofegante e caindo em si).–.Vou..Claro.que.vou..Eu.disse.que.ia.e.vou..Mas.olha. (muda de

tom).E.se.ele.quiser.me.beijar?DÁLIA.(sem entender) –.Ora,.Selminha!SELMINHA (com angústia) –.Vai.me.beijar.e.eu!.(continua sem coerência) Quando.a.viúva.disse,.cara.a.

cara.comigo,.que.tinham.tomado.banho.juntos.DÁLIA (com violência) –.Nem.se.conheciam!SELMINHA.(sem ouvi-la e só escutando a própria voz interior) –.Uma.coisa.que.me.dá.vontade.de.morrer..

Como.é.que.um.homem.pode.desejar.outro.homem. (veemente e voltando-se para a irmã) Dália,.você.enten-de?.Entende,.eu?.Sei.que,.agora,.quando.um.homem.olhar.para.o.meu.marido..Vou.desconfiar.de.qualquer.um,.Dália!.(com uma brusca irritação) Aliás,.Arandir.tem.certas.coisas..Certas.delicadezas!.E.outra.que.eu.nunca.disse.a.ninguém..Não.disse.por.vergonha..(com mais veemência).Mas.você.sabe.que.a.primeira.mulher.que.Arandir.conheceu.fui.eu..Acho.isso.tão!.Casou-se.tão.virgem.como.eu,.Dália!

DÁLIA.–.Arandir.só.tem.você!SELMINHA.(numa explosão) –.Se.eu.for,.já.sei..Ele.vai.querer.beijar..Na.certa..Eu.não.quero.um.beijo.

sabendo.que..(hirta de nojo) O.beijo.do.meu.marido.ainda.tem.a.saliva.de.outro.homem!(Trevas.)

Fonte: Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária e O beijo no asfalto. Nelson Rodrigues. Nova Fronteira, 2006.

Romeu e Julieta

Ato.II.–.Cena.II. (...)JULIETAAi.de.mim!ROMEUFale!.Fale,.anjo,.outra.vez,.pois.você.brilhaNa.glória.desta.noite,.sobre.a.terra,Como.o.celeste.mensageiro.alado

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Sobre.os.olhos.mortais.que,.deslumbrados,Se.voltam.para.o.alto,.para.olhá-lo,Quando.ele.chega,.cavalgando.as.nuvens,E.vaga.sobre.o.seio.desse.espaço.JULIETARomeu,.Romeu,.por.que.há.de.ser.Romeu?Negue.o.seu.pai,.recuse-se.esse.nome;Ou.se.não.quer,.jure.só.que.me.amaE.eu.não.serei.mais.dos.Capuletos.ROMEU(A.parte).Devo.ouvir.mais,.ou.falarei.com.ela?JULIETAÉ.só.seu.nome.que.é.meu.inimigo:Mas.você.é.você,.não.é.Montéquio!Que.é.Montéquio?.Não.é.pé,.nem.mão,Nem.braço,.nem.feição,.nem.parte.algumaDe.homem.algum..Oh,.chame-se.outra.coisa!Que.é.que.há.num.nome?.O.que.chamamos.rosaTeria.o.mesmo.cheiro.com.outro.nome;E.assim.Romeu,.chamado.de.outra.coisa,Continuaria.sempre.a.ser.perfeito,Com.outro.nome..Mude-o,.Romeu,E.em.troca.dele,.que.não.é.você,Fique.comigo.ROMEUEu.cobro.essa.palavra!Se.me.chamar.de.amor,.me.rebatizo:E.de.hoje.em.diante.eu.não.sou.mais.Romeu.JULIETAQuem.é.que,.assim,.oculto.pela.noite,Descobre.o.meu.segredo?ROMEUPelo.nome,Não.sei.como.dizer-lhe.quem.eu.sou,Meu.nome,.cara.santa,.me.traz.ódio,Porque,.para.você,.é.de.inimigo.

Fonte: Romeu e Julieta. Willian Shakespeare. Trad. de Bárbara Heliodora. Nova Fronteira, 1997.

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Apostilas das oficinas de leitura  117

APoStiLA 4

oficinA 4 – Uma imagem, mil palavras

A leitura de imagens

objetivos:

• experienciar a leitura de imagens;

• evidenciar os procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens;

• conhecer um pouco mais sobre a história das imagens;

• compreender as relações entre a palavra e a imagem;

• ter clareza da importância da exploração das imagens na literatura para a produção de sentido, estabelecen-

do diálogos com base nas interações entre a imagem e a palavra.

conteúdos:

• procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens;

• breve história da leitura de imagens;

• relações entre palavra e imagem;

• a ilustração na literatura infantil e juvenil.

Desenvolvimento:

O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá-lo.à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.

1.  Abertura:a)..Nessa.oficina,.o.formador.deve.começar.retomando.o.encontro.anterior,.conversando.com.os.partici-

pantes.sobre.as.atividades.desenvolvidas,.em.especial.a.leitura.do.texto.teatral.ou.as.outras.propostas.sugeridas..Como.foi.a.seleção.do.texto?.O.que.foi.lido.pelos.participantes?.Fizeram.leituras.dramáti-cas?.De.que.forma.abordaram.os.textos.teatrais.com.seus.alunos?.Quais.os.principais.desafios.enfren-tados?.Alguém.registrou.a.leitura.dramática.no.diário?.Como.foi.realizado.esse.registro?

. .Pode-se.formar.duplas.ou.trios.para.que.compartilhem.suas.histórias.e.seus.diários.com.o(s).com-panheiro(s),.narrando.como.foi.o.trabalho,.lendo.ou.apresentando.os.registros.que.gostariam.de.socia-lizar,.trocando.dicas.de.livros.lidos.e.filmes.assistidos.

b)..Em.seguida,.retomar.a.conversa.coletiva.e.deixar.que.alguns.participantes.falem.livremente.sobre.suas.impressões.acerca.da.atividade,.envolvendo.textos.dramáticos.e.dos.diários..O.objetivo.é.verificar.de.que.forma.o.grupo.se.apropriou.dos.conteúdos.abordados.e.criar.um.ambiente.acolhedor.para.a.dis-

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118  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

cussão.sobre.a.leitura.e.formação.de.uma.comunidade.leitora..O.formador.também.pode.aproveitar.esse.momento.para.retomar.a.discussão.da.terceira.oficina.e.a.atividade.da.Feira.de.Troca.de.Livros,.propondo.uma.nova.troca.de.títulos.entre.os.participantes,.acrescentando.ao.acervo.doado.outros.li-vros.trazidos.pelo.grupo.nessa.oficina.

2. Apresentação da apostila e dos conteúdos da oficina: para.aproximá-los.e.sensibilizá-los.com.rela-ção.ao.tema.do.encontro,.fazer.uma.leitura.dos.conteúdos.e.objetivos.dessa.oficina,.questionando.quais.as.expectativas.e.o.que.já.sabem.sobre.tais.conteúdos..Essa.pode.ser.uma.oportunidade.para.levantar.as.hipó-teses.sobre.o.que.será.discutido.e.também.para.que.os.participantes.de.anos.anteriores.comentem.o.que.aprenderam.sobre.a.leitura.de.imagens.e.de.que.forma.as.atividades.realizadas.nas.oficinas.foram.incorpo-radas.à.sua.prática.

3. Provocando o olhar:.a.primeira.parte.da.oficina.terá.como.foco.as.imagens.e.os.diferentes.compor-tamentos.e.propósitos.leitores.sugeridos.por.elas..O.formador.poderá.iniciar.com.a.leitura.de.uma.ima-gem.significativa,.em.vez.de.um.conto.ou.poema..A.escolha.pode.ser.desde.uma.fotografia.pessoal.ou.profissional,.uma.gravura,.uma.pintura,.uma.escultura.ou,.até.mesmo,.um.curta-metragem.ou.o.trecho.de.um.filme.cujas.imagens.possam.suscitar.uma.reflexão.para.o.grupo..Sugerimos.algum.curta-metragem.da.Pixar.ou.o.curta.de.animação.indicado.ao.Oscar.2009.La maison en petit cubes,.os.primeiros.capítulos.do.longa.metragem.de.animação.Persépolis,.os.livros.Onda.e.Espelho,.de.Suzy.Lee,.ou.qualquer.outra.obra.que.trabalhe.a.narrativa.com.base.em.imagens..O.importante.é.que.o.material.apresentado.já.tenha.sido.ex-plorado.anteriormente.pelo. formador.e.que.essa. leitura.possa.servir.de.modelo,.oferecendo.elementos.para.ampliar.a.visão.dos.participantes.sobre.alguns.aspectos.constitutivos.da.mesma,.tais.como:.o.que.ela.narra,.como.narra,.as.cores.utilizadas,.o.enquadramento,.seus.aspectos.expressivos,.lúdicos,.descritivos,.a.composição,.o.tema,.etc.

4. Por que lemos imagens? Para que lemos imagens?: retomar.a.tarefa.solicitada.na.oficina.anterior,.propondo.aos.participantes.que.exponham.as.imagens.que.trouxeram.e.justifiquem.a.escolha.das.mesmas..O.formador.poderá.organizar.um.Mar.de.Imagens,.dispondo.o.material.trazido.em.um.pano.colorido.e.convidando.o.grupo.para.observá-las.atentamente..Se.for.possível,.as.imagens.também.poderiam.ser.colo-cadas.em.um.varal..Em.seguida,.pedir.que.escolham.uma.delas,.formem.pequenos.grupos.(de.quatro.ou.cinco.componentes).e.discutam:.o.que.a.imagem.escolhida.apresenta?.Como.apresenta?.Quem.ou.o.quê.está.retratado?.Há.sugestão.de.movimento?.Emoções?.É.possível.identificar.a.que.tempo.ela.pertence?.Em.se-guida,.pedir.que.formem.grupos.elegendo.uma.das.imagens.para.uma.análise.mais.detalhada,.abrindo.espa-ço.para.a.discussão.dos.propósitos.de.leitura.desse.tipo.de.texto..Por.que.lemos.imagens?.Para.que.lemos.imagens?.O.formador.poderá.selecionar.anteriormente.quais.imagens.serão.analisadas.pelo.grupo.(mapas,.fotografias,.quadros,.desenhos,.tirinhas,.charges,.etc.).de.acordo.com.diferentes.propósitos:.ler.por.prazer,.ler.para.apreciar.qualidades.estéticas,.ler.para.acompanhar.uma.sequência.de.fatos,.ler.para.reconstituir.costu-mes.de.determinado.tempo,.ler.para.identificar.comportamentos.e.valores.sociais,.ler.para.conhecer/apren-der. algo,. ler. para. localizar. um. ponto. no. espaço,. ler. para. traçar. uma. rota,. ler. para. identificar. diferentes.elementos.de.uma.composição,.etc..O.objetivo.é.retomar.um.dos.eixos.de.nosso.projeto,.discutindo.as.dife-rentes.possibilidades.de.leitura.que.um.texto.nos.oferece.com.base.nos.propósitos.que.temos.durante.a.ati-vidade.. Nesse. caso,. por. exemplo,. um. mapa. pode. ser. lido. para. localizarmos. um. país. para. aprendermos.aspectos.geográficos.de.um.território,.para.traçar.uma.rota.até.determinada.localidade,.para.identificarmos.o.conhecimento.geográfico.de.um.período,.etc..E,.para.cada.um.desses.propósitos,.poderemos.acionar.dife-

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Apostilas das oficinas de leitura  119

rentes.procedimentos..O.formador.poderá.sistematizar.as.conclusões.do.grupo,.registrando-as.em.um.qua-dro.para.que.todos.possam.organizar.as.ideias.experimentadas.com.base.nesse.exercício.

Para que lemos imagens? Como lemos imagens?

5. Imagem  e  narrativa:  realizar. a. leitura. compartilhada. do. texto. farol. Lendo imagens,. de. Alberto.Manguel,.disponível.nesta.apostila..Pode-se.optar.pela.leitura.de.trechos.relevantes,.previamente.selecio-nados.pelo.formador..O.objetivo.é.ampliar.o.que.foi.discutido.até.o.momento..Nesse.texto,.o.autor.defen-de.a.ideia.de.que.a.leitura.de.imagens.é.feita.com.nossas.próprias.experiências.e.questiona.a.necessidade.de.existência.de.uma.“gramática”.do.olhar.para.a.compreensão.desse.tipo.de.texto..Para.ele,.toda.imagem.tem.uma.história.para.contar..Se,.como.Manguel.afirma,.“cada.imagem.é.um.mundo”.e.só.conseguimos.enxergar.o.que.faz.parte.do.nosso.universo.de.conhecimento,.é.impossível.nos.prendermos.a.único.rotei-ro.para.o.olhar..Todas.elas.podem.ser.lidas.e.traduzidas.em.palavras.pelo.público,.ainda.que.ele.não.seja.especialista.em.leitura.de.imagens..Sendo.assim,.todo.leitor.da.palavra.é.também.leitor.da.imagem,.e.vice--versa.

6.  Estabelecendo outras relações entre imagem e texto: após.exercitarem.o.olhar.para.apreender.dife-rentes. sentidos.nas. imagens,.os.participantes. serão. convidados. a. estabelecer. relações. entre. as. imagens. e.outros.tipos.de.texto..O.objetivo.é.mostrar.que,.mesmo.estando.imersos.em.uma.sociedade.cercada.de.inú-meros.estímulos.visuais,.as.palavras.produzem.imagens,.e.as.imagens.geram.textos,.ampliando.mutuamente.seus.sentidos..Para.isso,.o.formador.pode.conduzir.o.exercício.proposto.no.texto-farol.Palavra e imagem:.leituras cruzadas,.de.Ivete.Lara.Camargos.Walty,.Maria.Nazareth.Soares.Fonseca.e.Maria.Zilda.Ferreira.Cury,.apresentando.aos.participantes.a.fotografia.de.Sebastião.Salgado.e.propondo.que.observem.o.que.ela.retrata.e.troquem.impressões.com.o.restante.da.turma..Deixar.que.falem.livremente.sobre.a.imagem.e.o.impacto.causado..Em.seguida,.dividi-los.em.sete.grupos:.para.cada.um.deles,.entregar.um.dos.outros.textos.sugeridos.pelas.autoras.(legenda.da.foto.escrita.por.Sebastião.Salgado,.a.letra.da.música.Brejo da Cruz,.o.poema.O bicho,.o.cartaz.da.LBV,.as.outras.duas.imagens.publicadas.no.jornal,.o.trecho.do.texto.publicado.referente.às.imagens.e.o.poema.Fim de feira,.de.Drummond)..Pedir.a.cada.grupo.para.ler.o.texto.que.lhe.foi.entregue.e.discutir.se.as.informações.apresentadas.ampliam/atribuem.mais.sentido.às.fotografias..Em.caso.afirmativo,.de.que.forma.essas.diferentes.linguagens.conversam?.Por.fim,.assistir.ao.curta.-metragem.Ilha das Flores.ou.a.trechos.do.documentário.Estamira.e.deixar.que.o.grupo.apresente.suas.impressões.sobre.o.que.conseguiram.observar.ao.longo.da.atividade.

7.  Muitas imagens, infinitas palavras: para.iniciar.a.discussão.sobre.as.relações.entre.imagem.e.palavra.na.literatura,.apresentaremos.o.livro.que.sugerimos.compor.o.acervo.do.projeto,.cujo.texto.poderá.ser.abor-dado. pelo. grupo. de. teatro. na. próxima. montagem:. As aventuras de Bambolina,. de. Michele. Iacocca. (São.Paulo:.Ática,.2006)..Sob.a.orientação.do.formador,.a.dinâmica.de.leitura.e.análise.do.livro.pode.ser.realiza-da. coletivamente..Entretanto,. as. atividades.propostas.devem. ser.desenvolvidas. em.grupos.menores.para.garantir.a.participação.e.a.agilidade.de.todos. Depois.da.realização.da.atividade,.é.preciso.que.se.faça.uma.reflexão.sobre.elas,.se.contribuem.para.ampliar.a.compreensão.sobre.a.leitura.de.imagens.e,.em.caso.afirma-tivo,.por.qual.motivo..Nesse.momento,.os.grupos.podem.socializar.suas.atividades.e.descobertas..O.objetivo.é.experimentar.a.análise.de.uma.obra,.desconstruindo-a.para.ampliar.o.seu.sentido,.apontando.diferentes.caminhos.para.a.compreensão.das.imagens.

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8.  A ilustração na literatura infantil: a.partir.desse.momento.da.oficina,.nos.dedicaremos.a.discutir.um.pouco.mais.a.ilustração.na.literatura.e.sua.importância.para.a.construção.de.sentido.dos.textos.escritos..Para.isso,.o.formador.deverá.realizar.uma.leitura.compartilhada.de.textos,.para.a.qual.sugerimos.O que é uma imagem narrativa?,.de.Ciça.Fittipaldi.(O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil ,.São.Paulo,.DCL,.2008.–.título.que.faz.parte.do.acervo.circulante).e.Um casamento perfeito,.de.Maria.Ligia.Pagenoto.(revista.Leituras,.março.de.2007,.ano.II,.vol..2)..Caso.considere.relevante,.ao.longo.da.leitura.o.formador.poderá.utilizar.alguns.dos.livros.citados.pelos.autores.para.exemplificar.os.conceitos.trazidos.em.seus.textos.

9.  Representações visuais das bruxas na literatura infantil – Um estudo de caso do conto: talvez.ne-nhum.outro.personagem.seja.tão.presente.no.imaginário.coletivo.construído.por.meio.das.histórias.de.tra-dição.oral.como.as.bruxas..No.texto-farol.4,.disponível.ao.final.da.apostila,.os.participantes.serão.convidados.a.observar.algumas.ilustrações.e.descrições.literárias.de.bruxas.de.vários.contos,.procurando.refletir.sobre.a.maneira.como.elas.foram.representadas.por.diferentes.ilustradores.da.literatura.infantil.nacional.e.interna-cional..O.formador.pode.dividir.a.turma.em.grupos.e.entregar.cópias.de.alguns.contos.tradicionais.para.cada.um.deles.( João.e.Maria,.Rapunzel,.Branca.de.Neve.e.Baba-Yaga,.entre.outros)..Os.participantes.devem.fazer.a. leitura.dos.mesmos,.observando.os.comportamentos,.estados.mentais.(o.que.pensam,.como.pensam).e.características.das.bruxas.retratadas.(como.são.vistas,.como.se.vestem,.o.que.fazem.e.sentem,.que.sentimen-tos.causam.naqueles.que.encontram)..Em.seguida,.os.grupos.socializam.suas.impressões..Se.quiser,.o.forma-dor.poderá.anotá-las.em.um.quadro,.registrando.o.título.do.conto,.o.nome.da.bruxa.e.os.principais.aspectos.observados.pelo.grupo..Para.finalizar.a.atividade,.o.formador.apresenta.imagens.dessa.personagem.nos.vá-rios.contos.abordados.para.que.os.grupos.possam.responder.à.pergunta: de.que.forma.os. ilustradores.se.apropriaram.em.suas.representações.das.diferentes.informações.sobre.a.personagem.apresentadas.nos.con-tos?.Caso.sinta-se.mais.à.vontade.em.abordar.outro.personagem,.o.formador.poderá.selecionar.outras.ima-gens.e.seguir.o.mesmo.encaminhamento.proposto.nessa.atividade.

10.  Texto já encenado por grupos de teatro do Projeto letras de Luz: os.grupos.de.teatro.do.projeto,.em.2010,.foram.convidados.a.eleger,.para.a.última.apresentação.do.ano,.os.contos.do.livro.Contos de adivi-nhação,.de.Ricardo.Azevedo.(Ática,.2008).

11.  Atividade final – Mar de histórias: nosso.encontro.termina.com.o.Mar.de.Histórias..Nele.estarão.expostas.as.várias.imagens.exploradas.ao.longo.do.encontro,.além.dos.livros.do.acervo.e.outros.levados.pelo.formador..É.importante.que.o.formador.atue.como.mediador,.apresentando.as.obras,.os.autores.e.seu.con-texto,.incentivando.o.grupo.a.pesquisar.outros.títulos.que.explorem.o.uso.de.imagens.e.suas.inúmeras.pos-sibilidades.de.leitura.

12.  Tarefa:.a) Organizar.a.leitura.de.um.livro.de.imagens.ou.de.um.vídeo.em.um.espaço.público..Os.participantes.poderão,.inclusive,.reproduzir.as.atividades.realizadas.na.oficina,.adaptando-as.aos.seus.grupos..b) Fazer.anotações.no.Diário.de.Leitura.sobre.a.seleção.do.livro.ou.da.imagem.utilizada,.preparação.para.o.trabalho,.da.própria.atuação.e.do.retorno.dos.ouvintes.

13.  Avaliação: como.nas.oficinas.anteriores,.avaliar.o.encontro.para. identificar.se.os.objetivos. foram.cumpridos,.quais.aspectos.podem.ser.aprimorados.e.sugestões.do.grupo..Sempre.que.possível,.a.avaliação.deverá.ser.feita.por.escrito.

14.  Para o próximo encontro: prepara-se.a.turma.para.o.próximo.encontro,.anunciando.o.tema.que.será.trabalhado.e.solicitando.aos.participantes.algumas.tarefas:.a) Trazer.um.livro.de.literatura.para.dar.de.presente.para.um.colega,.seja.comprado.ou.de.seu.acervo.pessoal;.b).Escolher.um.poema.para.ser.lido.no.sarau..Impor-tante:.a.escolha.deve.ser.feita.em.livro.(e.não.na.internet)..Esse.livro.deverá.também.ser.apresentado.no.sarau.

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Apostilas das oficinas de leitura  121

bibliografia básica

BANYAI,.Istvan..O outro lado..São.Paulo:.Cosac.Naify,.2007.

Este.é.um.livro.que.diz.muito.–.sem.usar.uma.palavra.sequer..O.autor,.Istvan.Banyai,.é.artista.gráfico.dos.bons,.perito.em.narrativas.com.imagens..Logo.na.primeira.página,.uma.menina.observa.da.janela.um.aviãozinho.de.papel.voando.lá.fora..De.onde.ele.vem?.Ao.virar.a.página,.um.garoto.do.apartamento.de.cima.se.diverte.arremessando.as.dobraduras..Assim.o.livro.segue,.sempre.com.uma.cena.que.se.transforma.na.próxima.página,.despertando.nossa.curio-sidade.para.folhar.este.livro-imagem.em.busca.de.outro.ponto.de.vista.

BERGER,.John..Modos de ver..Rio.de.Janeiro:.Rocco,.1999.

Modos de ver.é.composto.de.sete.ensaios,.que.podem.ser.lidos.em.qualquer.ordem,.sendo.que.três.deles.usam.apenas.imagens..Ao.todo,.são.utilizadas.155.reproduções.de.obras.que.hoje.pertencem.a.acervos.de.importantes.museus.da.Europa..Apesar.de.ser.estruturado.com.base.em.ponderações.sobre.a.história.da.arte,.o.livro.transcende.a.sua.função.de.pensar.a.questão.estética.e.acaba.fazendo.o.leitor.refletir.sobre.a.sua.visão.de.mundo.

EISNER,.Will..Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos quadrinhos..São.Paulo:.Devir,.2008.

A.obra.discute.os.princípios.da.narrativa.com.a.combinação.sofisticada.de.texto.e.imagem..Apresentando.exemplos.utilizados.na.prática.pelo.próprio. autor,. além.de. artistas. como.Art.Spieglman,.All.Capp,.Milton.Caniff.e.Robert.Crumb,.entre.outros,.esse.tratado.abrange.as.etapas.da.narrativa.gráfica.até.uma.visão.mais.ampla.de.suas.aplicações..Embora.as.histórias.em.quadrinhos.sejam.o.seu.alvo.principal,.Narrativas gráficas.também.revela.e.ensina.métodos.que.podem.ser.aplicados.no.cinema,.na.TV.e.na.internet.

GUIMARÃES,.Luciano..A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores..São.Paulo:.Annablume,.2000.

O.livro.apresenta.capítulos.que.abordam.o.tema.em.sua.complexidade,.mostrando.considerações.que.esclarecem.e.enriquecem.o.repertório.de.todos.aqueles.que.utilizam.a.cor.na.comunicação..Desde.a.exata.delimitação.da.cor.como.informação.cultural.e.suporte.para.a.expressão.simbólica.na.comunicação.humana.até.a.investigação.dos.processos.de.percepção.e.seus.‘comportamentos’.para.a.geração.de.sentido,.o.autor.expõe.um.universo.interdisciplinar,.ancorado.no.que.há.de.mais.recente.na.bibliografia.da.semiótica.da.cultura.e.das.ciências.da.cultura.

MANGUEL,.Alberto..Lendo imagens..São.Paulo:.Cia..das.Letras,.2001.

Nesse.livro,.Manguel.passa.ao.largo.do.vocabulário.árduo.da.crítica.e.defende.a.ideia.de.que.os.não-especialistas.têm.o.direito.de.ler.imagens.como.quem.lê.um.texto..O.autor.narra.histórias.que.se.ocultam.em.pinturas,.esculturas,.fotografias.e.projetos.arquitetônicos.desde.a.Roma.antiga.até.as.arrojadas.experiências.da.arte.do.século.XX.

OLIVEIRA,.Ieda..O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador..São.Paulo:.DCL,.2008.

Definir.o.que.é.qualidade.em.ilustração.de.livros.de.literatura.infantil.e.juvenil.não.é.tarefa.fácil..No.entanto,.Ieda.de.Oliveira,.doutora.em.Letras.e.especialista.em.literatura.infantil.e.juvenil,.reuniu.um.time.de.conceituados.ilustrado-res.brasileiros.e.portugueses.para.discorrer.sobre.o.assunto.por.meio.de.artigos.e.depoimentos..Uma.obra-prima.ilus-trada.pelas.palavras.dos.artistas.

WALTY,.Ivete.Lara.Camargos,.FONSECA,.Maria.Nazareth.Soares.e.CURY,.Maria.Zilda.Ferreira..Palavra e imagem: leituras cruzadas..Belo.Horizonte:.Autêntica,.2006.

As.palavras.gerando.imagens.e.as.imagens.gerando.textos.verbais,.num.processo.de.deslocamentos.e.condensações,.metonímias.e.metáforas.são,.pois,.o.objeto.desse.livro,.que.se.propõe.a.instigar.leituras.críticas,.em.tempos.e.espaços.diversos..Tradição.e.ruptura.se.articulam.na.prática.de.leitura.tematizada.na.casa.e.na.terra,.com.que.as.autoras.ilustram.suas.reflexões.teóricas,.associando.poemas,.crônicas,.notícias.de.jornal,.letras.de.músicas,.fotos,.propagandas.ilustrações.

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122  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

filmografia:

Estamira. Marcos Prado, 2004. Estamira que dá nome ao documentário tem 63 anos. Com problemas mentais, ela trabalha há mais de duas décadas no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. O filme traça um perfil dessa interes‑sante mulher, colocando em pauta assuntos como a saúde pública, a vida nos aterros cariocas e a miséria brasileira.

Ilha das Flores. Jorge Furtado, 1989. Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompa‑nhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.

La maison en petit cubes. Kunio Kato, 2008. Curta indicado ao Oscar em 2009, o filme narra a história de um velhinho solitário que mora em uma casa no meio do mar, formada por vários andares em forma de cubos. Quando seu cachimbo cai por um buraco no assoalho da casa, o protagonista sai à sua procura, evocando, em cada andar submerso, a memória de outros tempos vividos.

Persépolis. Vincent Parranoud e Marjane Satrapi, 2007. Animação baseada nos quadrinhos (autobiográficos) de Marjane Satrapi que conta a história de jovem iraniana muito precoce e sincera. Durante a Revolução Islâmica, ela começa a desco‑brir que está chegando à maturidade e deve lidar com mais responsabildades não só de seus atos, mas no modo de pensar.

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Apostilas das oficinas de leitura  123

Sites interessantes

http://www.houseofillustration.org.uk/

Casa.das.ilustrações.-.Primeiro.site.do.mundo.inteiramente.dedicado.aos.mais.variados.tipos.de.ilustração..Orga-nizado.pelo.ilustrador.inglês.Quentin.Blake.

http://www.childrensillustrators.com/.

Site.que.reúne.material.disponível.na.web.sobre.ilustradores.de.livros.infantis.de.todo.o.mundo.

www.magnumphotos.com

MAGNUM.-.Maior.e.mais.famosa.cooperativa.de.fotógrafos.do.mundo..O.site.disponibiliza.algumas.imagens.e.informações.bibliográficas.de.seus.membros.

http://www.masp.art.br

MASP.-.Site.do.Museu.de.Arte.de.São.Paulo..Disponibiliza.parte.de.seu.acervo.digitalizado,.com.imagens.das.obras.e.informações.básicas.sobre.as.peças.e.seus.autores.

http://www.metmuseum.org/

METROPOLITAN.-.Também.chamado.de.“Met”,. é.um.dos.maiores.e.mais. importantes.museus.do.mundo..Possui.mais.de.2.milhões.de.obras.de.arte.que.abrangem.5.000.anos.de.história.e.recebe.mais.de.5.milhões.de.visitan-tes.por.ano..Pelo.site,.é.possível.conhecer.algumas.das.obras.que.estão.disponíveis.em.seu.acervo.

http://www.louvre.fr

MUSEU.DO.LOUVR.-.Site.de.um.dos.maiores.museus.do.mundo,.responsável.por.algumas.das.obras.de.arte.mais.famosas.da.história.da.humanidade.

http://www.pinacoteca.org.br/

PINACOTECA.DO.ESTADO.DE.SÃO.PAULO.-.Disponibiliza.imagens.do.acervo.e.informações.sobre.as.obras.em.exposição.

www.ruideoliveira.com.br

Rui.de.Oliveira.-.Site.oficial.do.premiado. ilustrador.brasileiro..Navegando,.é.possível.visualizar.alguns.de.seus.maravilhosos.livros.de.imagens.

http://www.sib.org.br/

Sociedade.dos.ilustradores.do.Brasil.-.Dispõe.de.uma.galeria.com.imagens.de.ilustradores.de.todo.o.país,.além.de.algumas.informações.sobre.o.seu.trabalho.

www.surlalunesfairytailes.com.

Site,.em.inglês,.com.rico.material.sobre.os.contos.de.fadas.tradicionais..Repleto.de.imagens,.com.a.história.das.histórias.e.indicações.de.versões,.é.uma.excelente.fonte.de.pesquisa.para.os.interessados.no.assunto..

PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO

http://www.pinacoteca.org.br/

Disponibiliza.imagens.do.acervo.e.informações.sobre.as.obras.em.exposição.

Rui.de.Oliveira

www.ruideoliveira.com.br

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124  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Site.oficial.do.premiado.ilustrador.brasileiro..Navegando,.é.possível.visualizar.alguns.de.seus.maravilhosos.livros.de.imagens.

Sociedade.dos.ilustradores.do.Brasil

http://www.sib.org.br/

Dispõe.de.uma.galeria.com.imagens.de.ilustradores.de.todo.o.país,.além.de.algumas.informações.sobre.o.seu.trabalho.

www.surlalunesfairytailes.com

Site,.em.inglês,.com.rico.material.sobre.os.contos.de.fadas.tradicionais..Repleto.de.imagens,.com.a.história.das.histórias.e.indicações.de.versões,.é.uma.excelente.fonte.de.pesquisa.para.os.interessados.no.assunto.

texto-farol 1

Lendo imagens, de Alberto manguel

Alberto Manguel é argentino, naturalizado canadense. É escritor, tradutor e

antologista conhecido mundialmente, com diversos livros publicados. O texto, a

seguir, corresponde à introdução de sua obra Lendo imagens e propõe algumas

reflexões sobre o tema proposto nessa oficina.

Uma.das.primeiras.imagens.de.que.me.lembro,.com.plena.cons.ciência.de.ter.sido.criada.sobre.a.tela.e.pintada.por.mão.huma.na,.foi.um.quadro.de.Vincent.Van.Gogh,.de.barcos.de.pesca.so.bre.a.praia.de.Saintes--Maries..Eu.tinha.nove.ou.dez.anos,.e.uma.tia,.que.era.pintora,.me.convidara.para.ir.ao.seu.ateliê.para.co-nhecer.o.local.onde.ela.trabalhava..Era.verão.em.Buenos.Aires,.quente.e.úmido..O.pe.queno.aposento.estava.frio.e.tinha.um.cheiro.maravilhoso.de.terebinti.na.e.óleo;.as.telas.armazenadas,.apoiadas.umas.nas.outras,.me.pareciam.livros.deformados.no.sonho.de.alguém.que.soubesse.vagamente.o.que.eram.livros.e.os.houvesse.imaginado.enormes,.feitos.de.uma.única.pági.na,.dura.e.grossa;.os.esboços.e.os.recortes.de.jornal.que.minha.tia.havia.pendurado.na.parede.sugeriam.um.local.de.pensamentos.particulares,.fragmentados.e.livres..Em.uma.estante.de.livros.baixa,.havia.volumes.grandes.de.reproduções.coloridas,.a.maioria.publicada.pela.firma.suíça.Skira,.um.nome.que,.para.ela,.era.sinônimo.de.excelência..Minha.tia.puxou.o.volume.dedicado.a.Van.Gogh,.acomodou-me.em.uma.poltrona.e.pôs.o.livro.sobre.os.meus.joelhos..Em.seguida,.deixou-me.só.

A.maioria.dos.meus.livros.tinha.ilustrações.que.repetiam.ou.explica.vam.a.história..Algumas,.eu.sentia,.eram.melhores.do.que.outras:.eu.preferia.as.reproduções.de.aquarelas,.da.minha.edição.alemã.dos.Con tos de fada de.Grimm,.às.ilustrações.a.nanquim.da.minha.edição.ingle.sa..Creio.que,.a.meu.juízo,.aquelas.ilustrações.condiziam.melhor.com.a.forma.como.eu.imaginava.um.personagem.ou.um.lugar,.ou.forneciam.mais.deta-lhes.para.completar.minha.visão.daquilo.que.a.página.me.dizia.estar.acontecendo,.realçando.ou.corrigindo.as.palavras..Gustave.Flaubert.opunha-se.de.forma.intransigente.à. ideia.de. ilustrações.acom.panharem.as.palavras..Ao.longo.da.sua.vida,.recusou-se.a.admitir.que.qualquer.ilustração.acompanhasse.uma.obra.sua.porque.achava.que.imagens.pictóricas.reduziam.o.universal.ao.singular..“Ninguém.jamais.vai.me.ilustrar.enquanto.eu.estiver.vivo”,.escreveu.ele,.“porque.a.des.crição.literária.mais.bela.é.devorada.pelo.mais.reles.desenho..Assim.que.um.personagem.é.definido.pelo.lápis,.perde.seu.caráter.geral,.aquela.concordância.com.

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milhares.de.outros.objetos.conhecidos.que.le.va.o.leitor.a.dizer:.‘eu.já.vi.isso’,.ou.‘isso.deve.ser.assim.ou.assa-do’..Uma.mulher.desenhada.a.lápis.parece.uma.mulher,.e.só.isso..A.ideia,.portan.to,.está.encerrada,.completa,.e.todas.as.palavras,.então,.se.tornam.inú.teis,.ao.passo.que.uma.mulher.apresentada.por.escrito.evoca.milha-res.de.mulheres.diferentes..Por.conseguinte,.uma.vez.que.se.trata.de.uma.questão.de.estética,.eu.formalmen-te.rejeito.todo.tipo.de.ilustração.”.Nunca.concordei.com.essas.segregações.inflexíveis.

Mas.as.imagens.que.minha.tia.me.apresentou.naquela.tarde.não.ilustravam.nenhuma.história..Havia.um.texto:.a.vida.do.pintor,.fragmen.tos.das.cartas.ao.seu.irmão,.que.não.li.senão.muito.mais.tarde,.o.título.das.pin-turas,.sua.data.e.local..Mas,.em.um.sentido.muito.categórico,.aquelas.imagens.se.mantinham.isoladas,.desafia-doras,.me.aliciando.para.uma.leitura..Nada.havia.para.eu.fazer.exceto.olhar.para.aquelas.ima.gens:.a.praia.cor.de.cobre,.o.barco.vermelho,.o.mastro.azul..Olhei.para.elas.demorada.e.atentamente..Nunca.as.esqueci.

A.praia.multicolorida.de.Van.Gogh.vinha.à.tona.com.frequência.na.imaginação.da.minha.infância..Em.algum.momento.do.século.XVI,.o.eminente.ensaísta.Francis.Bacon.observou.que,.para.os.antigos,.todas.as.imagens.que.o.mundo.dispõe.diante.de.nós.já.se.acham.encerradas.em.nossa.memória.desde.o.nascimento..“Desse.modo,.Platão.tinha.a.concepção”,.escreveu.ele,.“de que todo conhecimento não passava de recordação; do.mesmo.modo,.Salomão.proferiu.sua.conclusão.de que toda novidade não passa de esquecimento.” Se.isso.for.verdade,.esta.mos.todos.refletidos.de.algum.modo.nas.numerosas.e.distintas.imagens.que.nos.rodeiam,.uma.vez.que.elas.já.são.parte.daquilo.que.somos:.ima.gens.que.criamos.e.imagens.que.emolduramos;.imagens.que.compo.mos.fisicamente,.à.mão,.e.imagens.que.se.formam.espontaneamente.na.imaginação;.imagens.de.ros-tos,.árvores,.prédios,.nuvens,.paisagens,.ins.trumentos,.água,.fogo,.e.imagens.daquelas.imagens.–.pintadas,.escul.pidas,. encenadas,. fotografadas,. impressas,.filmadas..Quer.descubramos.nessas. imagens. circundantes.lembranças.desbotadas.de.uma.beleza.que,.em.outros.tempos,.foi.nossa.(como.sugeriu.Platão),.quer.elas.exi.jam.de.nós.uma.interpretação.nova.e.original,.por.meio.de.todas.as.pos.sibilidades.que.nossa.linguagem.tenha.a.oferecer.(como.Salomão.in.tuiu),.somos.essencialmente.criaturas.de.imagens,.de.figuras.

As.imagens,.assim.como.as.histórias,.nos.informam..Aristóteles.su.geriu.que.todo.processo.de.pensamen-to.requeria.imagens..“Ora,.no.que.concerne.à.alma.pensante,.as.imagens.tomam.o.lugar.das.percepções.di-retas;.e,.quando.a.alma.afirma.ou.nega.que.essas.imagens.são.boas.ou.más,.ela.igualmente.as.evita.ou.as.persegue..Portanto.a.alma.nunca.pen.sa.sem.uma.imagem.mental.”.Sem.dúvida,.para.o.cego,.outras.formas.de.percepção,.sobretudo.por.meio.do.som.e.do.tato,.suprem.a.imagem.mental.a.ser.decifrada..Mas,.para.aqueles.que.podem.ver,.a.existência.se.passa.em.um.rolo.de.imagens.que.se.desdobra.continuamente,.ima-gens.capturadas.pela.visão.e.realçadas.ou.moderadas.pelos.outros.senti.dos,. imagens.cujo.significado.(ou.suposição.de.significado).varia.constantemente,.configurando.uma.linguagem.feita.de.imagens.traduzidas.em.palavras.e.de.palavras.traduzidas.em.imagens,.por.meio.das.quais.tentamos.abarcar.e.compreender.nos-sa.própria.existência..As.imagens.que.formam.nosso.mundo.são.sím.bolos,.sinais,.mensagens.e.alegorias..Ou.talvez.sejam.apenas.presenças.vazias.que.completamos.com.o.nosso.desejo,.experiência,.questionamento.e.remorso..Qualquer.que.seja.o.caso,.as.imagens,.assim.como.as.palavras,.são.a.matéria.de.que.somos.feitos.

Mas.qualquer.imagem.pode.ser.lida?.Ou,.pelo.menos,.podemos.criar.uma.leitura.para.qualquer.imagem?.E,.se.for.assim,.toda.ima.gem.encerra.uma.cifra.simples.mente.porque.ela.parece.a.nós,.seus.espectadores,.um.sistema.auto-suficiente.de.signos.e.regras?.Qualquer.imagem.admite.tradução.em.uma.linguagem.compre-ensível,.revelando.ao.espectador.aquilo.que.po.demos.chamar.de.Narrativa.da.imagem,.com.N.maiúsculo?

As.sombras.na.parede.da.caverna.de.Platão,.os.letreiros.de.néon.em.um.país.estrangeiro.cuja.língua.não.falamos,.o.formato.de.uma.nuvem.que.Hamlet.e.Polônio.vêem.no.céu,.certa.tarde,.o.letreiro.Bois-Char-bons

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que.(segundo.André.Breton).se.lê.Police quando.visto.de.determi.nado.ângulo,.a.escrita.que.os.antigos.sumé-rios.acreditavam.poder.ler.nas.pegadas.dos.pássaros.sobre.a.lama.do.rio.Eufrates,.as.figuras.mito.lógicas.que.os.astrônomos.gregos.identificavam.na.concatenação.dos.pontos.assinalados.por.estrelas.distantes,.o.nome.de.Alá.que.o.fiel.vis.lumbrou.num.abacate.aberto.e.no.logotipo.dos.artigos.esportivos.da.Ni.ke,.a.escrita.ar-dente.de.Deus.na.parede.do.palácio.de.Baltazar,.sermões.e.livros.que.Shakespeare.encontrou.em.pedras.e.em.regatos,.as.cartas.do.tarô.por.meio.das.quais.o.viajante.de.Calvino.lia.narrativas.universais.em.O castelo dos destinos cruzados, paisagens.e.imagens.identificadas.por.viajantes.do.século.XVIII.nos.veios.de.pedras.de.mármore,.o.bilhete.rasgado.de.um.quadro.de.avisos.e.realojado.em.uma.pintura.de.Tàpies,.o.rio.de.Herácli-to.que.é.também.o.fluxo.do.tempo,.as.folhas.de.chá.no.fundo.de.uma.xícara.na.qual.os.sábios.chineses.acreditam.poder. ler.nos.sas.vidas,.o.vaso.estilhaçado.do.Sahib Lurgan.que.quase.se.recompõe.por. inteiro.diante.dos.olhos.incrédulos.de.Kim,.a.flor.de.Tennyson.na.parede.gretada,.os.olhos.do.cão.de.Neruda.nos.quais.o.poeta.descrente.via.Deus,.o.He kohau rongorongo, ou.“pau.que.fala”,.da.ilha.da.Páscoa,.que.sabemos.guardar.uma.mensagem.indecifrada.até.hoje,.a.cidade.de.Buenos.Aires.que,.para.o.cego.Jorge.Luis.Borges,.era.“um.mapa.de.mi.nhas.iluminações.e.de.meus.fracassos”,.os.pontos.de.costura.na.roupa.de.Kisima.Kama-la,.alfaiate.de.Serra.Leoa,.nos.quais.ele.viu.o.futuro.al.fabeto.da.escrita.mande,.a.baleia.errante.que.são.Bren-dan.tomou.por.uma.ilha,.os.três.picos.das.Montanhas.Rochosas.que.delineiam.o.perfil.de.três.irmãs.contra.o.céu.ocidental.do.Canadá,.a.geografia.filosófica.de.um.jardim.japonês,.os.cisnes.selvagens.em.Coole,.nos.quais.Yeats.deci.frou.nossa.transitoriedade.–.tudo.isso.oferece.ou.sugere,.ou.simples.mente.comporta,.uma.leitura.limitada.apenas.pelas.nossas.aptidões..“Como.saber.se.cada.pássaro.que.cruza.os.caminhos.do.ar/.não.é.um.imenso.mundo.de.prazer,.vedado.por.nossos.cinco.sentidos?”,.indagou.William.Blake.

Se.a.natureza.e.os.frutos.do.acaso.são.passíveis.de.interpretação,.de.tradução.em.palavras.comuns,.no.vocabulário.absolutamente.artificial.que.construímos.a.partir.de.vários.sons.e.rabiscos,.então.talvez.esses.sons.e.rabiscos.permitam,.em.troca,.a.construção.de.um.acaso.ecoado.e.de.uma.natureza.espelhada,.um.mundo.paralelo.de.palavras.e.imagens.mediante.o.qual.podemos.reconhecer.a.experiência.do.mundo.que.cha.mamos.de.real..“Pode.ser.chocante.falar.da.Divina comédia ou.da.Mo na Lisa como.uma.‘réplica’”,.diz.Elaine.Scarry,.autora.de.um.livro.incomum.sobre.o.significado.da.beleza,.“visto.serem.eles.tão.desprovidos.de.antecedentes,.porém.o.mundo.recorda.o.fato.de.que.algo,.ou.alguém,.deu.origem.à.criação.dessas.obras.e.permanece.silenciosamente.presente.no.objeto.recém-nascido.”.Ao.que.podemos.acrescentar.que.o.objeto.recém-nascido.pode,.por.sua.vez,.dar.origem.a.uma.miríade.de.objetos.recém-nascidos.–.as.experiências.receptivas.do.espectador.ou.do.leitor.–.que,.todos.e.cada.um.deles,.também.o.contêm.

Quando.eu.tinha.catorze.ou.quinze.anos,.nosso.professor.de.histó.ria,.que.nos.mostrava.slides de.arte.pré-histórica,.nos.pediu.que.imagi.nássemos.o.seguinte:.durante.toda.a.sua.vida,.um.homem.vê.o.sol.se.pôr,.ciente.de.que.isso.assinala.o.fim.cíclico.de.um.deus.cujo.nome.sua.tribo.não.pronuncia..Certo.dia,.pela.primeira.vez,.o.homem.ergue.a.ca.beça.e,.subitamente,.com.toda.a.clareza,.vê.o.sol.de.fato.mergulhar.em.um.lago.de.chamas..Em.resposta.(e.por.razões.que.ele.não.tenta.expli.car),.o.homem.afunda.as.mãos.na.lama.vermelha.e.pressiona.a.palma.das.mãos.de.encontro.à.parede.da.sua.caverna..Após.um.tempo,.outro.homem.vê.as.marcas.da.palma.das.mãos.e.sente-se.atemorizado,.ou.co.movido,.ou.simplesmente.curioso.e,.em.resposta.(e.por.razões.que.ele.não.tenta.explicar),.se.põe.a.contar.uma.história..Em.algum.local.dessa.narrativa,.não.mencionado,.mas.presente,.encontra-se.antes.de.tudo.o.pôr-do-sol.contemplado.e.o.deus.que.morre.todo.dia,.antes.do.cair.da.noite,.e.o.sangue.desse.deus.derramado.pelo.céu.ocidental..A.imagem.dá.origem.a.uma.história,.que,.por.sua.vez,.dá.origem.a.uma.imagem..“O.consolo.do.discurso”,.disse.o.

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melancólico.filósofo.Soren.Kierkegaard.(e.poderia.ter.acrescentado,.“e.de.criar.imagens”),.“é.que.ele.me.traduz.para.o.universal.”

Formalmente,.as.narrativas.existem.no.tempo,.e.as.imagens,.no.es.paço..Durante.a.Idade.Média,.um.úni-co.painel.pintado.poderia.repre.sentar.uma.sequência.narrativa,.incorporando.o.fluxo.do.tempo.nos.limites.de.um.quadro.espacial,. co.mo.ocorre.nas.modernas.histórias.em.quadrinhos,. com.o.mesmo.per.sonagem.aparecendo.várias.vezes.em.uma.paisagem.unificadora,.à.medida.que.ele.avança.pelo.enre.do.da.pintura..Com.o.desenvolvi.mento.da.perspectiva,.na.Renas.cença,.os.quadros.se.congelam.em.um.instante.único:.o.momento.da.visão.tal.como.percebida.do.ponto.de.vista.do.espectador..A.narrativa,.então,.passou.a.ser.trans-mitida.por.outros.meios:.mediante.“simbolismo,.poses.dramáticas,.alusões.à.li.teratura,.títulos”.–.ou.seja,.por.meio.daquilo.que.o.espectador,.por.ou.tras.fontes,.sabia.estar.ocorrendo.

Ao.contrário.das.imagens,.as.palavras.escritas.fluem.constantemente.para.além.dos.limites.da.página:.a.capa.e.a.quarta.capa.de.um.livro.não.estabelecem.os.limites.de.um.texto,.que.nunca.existe.integralmente.co.mo.um.todo.físico,.mas.apenas.em.frações.ou.resumos..Podemos,.com.um.rápido.esforço.do.pensamento,.evocar.um.verso.de.“The.Rime.of.the.Ancient.Mariner”.ou.um.resumo.de.vinte.palavras.de.Crime e casti go, mas.não.os.livros.inteiros:.sua.existência.repousa.na.estável.corrente.de.palavras.que.os.encerra,.a.qual.flui.do.início.até.o.fim,.da.capa.até.a.quarta.capa,.no.tempo.que.concedemos.à.leitura.desses.livros.

As.imagens,.porém,.se.apresentam.à.nossa.consciência.instantanea.mente,.encerradas.pela.sua.moldura.–.a.parede.de.uma.caverna.ou.de.um.museu.–.em.uma.superfície.específica..Os.botes.de.pesca.de.Van.Gogh,.por.exemplo,.foram.para.mim,.naquela.primeira.tarde,.pronta.mente.reais.e.definitivos..Com.o.correr.do.tempo,.podemos.ver.mais.ou.menos.coisas.em.uma.imagem,.sondar.mais.fundo.e.descobrir.mais.de.talhes,.associar.e.combinar.outras.imagens,.emprestar-lhe.palavras.para.contar.o.que.vemos.mas,.em.si.mesma,.uma.imagem.existe.no.espaço.que.ocupa,.independente.do.tempo.que.reservamos.para.contemplá.-la:.só.vários.anos.mais.tarde.fui.notar.que.um.dos.botes.tinha.o.nome.Ami-tié pintado.no.casco..Mais.tarde,.também,.vim.a.saber.que,.em.junho.de.1888,.Van.Gogh,.que.estava.em.Aries,.caminhara.o.longo.percurso.até.Saintes-Maries-de-la-Mer,.uma.aldeia.de.pescadores.à.qual.ciganos.de.toda.a.Europa.ainda.hoje.fazem.uma.peregrinação.anual..Em.Sain-tes-Maries,.ele.fez.desenhos.de.botes.e.de.casas,.e.depois.transformou.esses.desenhos.em.pinturas..Foi.a.pri-meira.vez.que.viu.o.Mediterrâneo..Tinha.35.anos..Seis.meses.depois,.cortaria.sua.orelha.esquerda.para.dar.de.presente,.embrulhada.em.uma.folha.de.jornal,.para.uma.prostituta.de.um.bordel.próximo..Para.mim,.todas.essas.informações.vieram.mais.tarde.–.os.pormenores,.os.detalhes.geográficos,.a.cronologia,.o.inci.dente.da.orelha.amputada,.que,.a.exemplo.do.círculo.à.mão.livre.traça.do.por.Giotto.ou.do.pincel.que.o.rei.Carlos.V.apanhou.para.Ticiano,.fa.zia.parte.da.história.convencional.da.arte.que.nos.era.ensinada.na.escola.de.forma.graciosa.–.e.elas.apoiaram.ou.questionaram.a.validade.da.mi.nha.primeira.leitura..Mas.no.início.não.havia.nada,.exceto.a.própria.pin.tura..É.desse.ponto.fixo.no.espaço.que.partimos.

Histórias.e.comentários,.legendas.e.catálogos,.museus.temáticos.e.livros.de.arte.tentam.guiar-nos.através.de.escolas.distintas,.de.épocas.distintas.e.de.países.distintos..Mas.aquilo.que.vemos.quando.percorre.mos.as.salas.de.uma.galeria,.ou.quando.contemplamos.imagens.em.uma.tela,.ou.quando.seguimos.as.páginas.suces-sivas.de.um.volume.de.repro.duções,.termina.por.escapar.de.tais.inibições..Vemos.uma.pintura.como.algo.definido.por.seu.contexto;.podemos.saber.algo.sobre.o.pintor.e.so.bre.o.seu.mundo;.podemos.ter.alguma.ideia.das.influências.que.molda.ram.sua.visão;.se.tivermos.consciência.do.anacronismo,.podemos.ter.o.cui-dado.de.não.traduzir.essa.visão.pela.nossa.–.mas,.no.fim,.o.que.ve.mos.não.é.nem.a.pintura.em.seu.estado.fixo,.nem.uma.obra.de.arte.aprisionada.nas.coordenadas.estabelecidas.pelo.museu.para.nos.guiar.

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O.que.vemos.é.a.pintura.traduzida.nos.termos.da.nossa.própria.ex.periência..Conforme.Bacon.sugeriu,.infelizmente.(ou.felizmente).só.podemos.ver.aquilo.que,.em.algum.feitio.ou.forma,.nós.já.vimos.antes..Só.podemos.ver.as.coisas.para.as.quais.já.possuímos.imagens.identificá.veis,.assim.como.só.podemos.ler.em.uma.língua.cuja.sintaxe,.gramática.e.vocabulário.já.conhecemos..Na.primeira.vez.em.que.vi.os.botes.de.pesca.de.Van.Gogh,.coloridos.de.forma.radiante,.algo.em.mim.reconhe.ceu.algo.espelhado.neles..Misteriosamente,.toda.imagem.supõe.que.eu.a.veja.

Quando. lemos. imagens. –. de. qualquer. tipo,. sejam. pintadas,. escul.pidas,. fotografadas,. edificadas. ou.encenadas.–,.atribuímos.a.elas.o.caráter.temporal.da.narrativa..Ampliamos.o.que.é.limitado.por.uma.mol-dura.para.um.antes.e.um.depois.e,.por.meio.da.arte.de.narrar.histórias.(sejam.de.amor.ou.de.ódio),.con-ferimos. à. imagem. imutável. uma. vida. infinita. e. inesgotável.. André. Malraux,. que. participou. tão.ativamente.da.vida.cultural.e.da.vida.política.francesa.no.século.XX.(como.soldado,.ro.mancista.e.ministro.da.Cultura.pioneiro.na.França),.argumentou.com.lucidez.que,.ao.situarmos.uma.obra.de.arte.entre.as.obras.de.arte.cria.das.antes.e.depois.dela,.nós,.os.espectadores.modernos,.tornávamo-nos.os.primeiros.a.ouvir.aquilo.que.ele.chamou.de.“canto.da.metamorfo.se”–.quer.dizer,.o.diálogo.que.uma.pintura.ou.uma.escultura.trava.com.outras.pinturas.e.esculturas,.de.outras.culturas.e.de.outros.tempos..No.passado,.diz.Malraux,.quem.contemplava.o.portal.esculpido.de.uma.igreja.gótica.só.poderia.fazer.comparações.com.outros.portais.esculpi.dos,.dentro.da.mesma.área.cultural;.nós,.ao.contrário,.temos.à.nossa.disposição.in-contáveis. imagens.de.esculturas.do.mundo. inteiro. (desde.as. estátuas.da.Suméria. àquelas.de.Elefanta,.desde.os.frisos.da.Acrópole.até.os.tesouros.de.mármore.de.Florença).que.falam.para.nós.em.uma.língua.comum,.de.feitios.e.formas,.o.que.permite.que.nossa.reação.ao.portal.gótico.seja.retomada.em.mil.outras.obras.esculpidas..A.esse.pre.cioso.patrimônio.de. imagens. reproduzidas,.que.está.à.nossa.disposição.na.página.e.na.tela,.Malraux.chamou.“museu.imaginário”.

E,.no.entanto,.os.elementos.da.nossa.resposta,.o.vocabulário.que.em.pregamos.para.desentranhar.a.nar-rativa.que.uma.imagem.encerra.(se.jam.os.botes.de.Van.Gogh.ou.o.portal.da.Catedral.de.Chartres),.são.de.terminados.não.só.pela.iconografia.mundial,.mas.também.por.um.amplo.espectro.de.circunstâncias,.so-ciais.ou.privadas,.fortuitas.ou.obrigatórias..Construímos.nossa.narrativa.por.meio.de.ecos.de.outras.narrati-vas,.por.meio.da.ilusão.do.auto-reflexo,.por.meio.do.conhecimento.técnico.e.histórico,.por.meio.da.fofoca,.dos.devaneios,.dos.preconceitos,.da.ilu.minação,.dos.escrúpulos,.da.ingenuidade,.da.compaixão,.do.engenho..Nenhuma.narrativa.suscitada.por.uma.imagem.é.definitiva.ou.exclusiva..E.as.medidas.para.aferir.a.sua.jus-teza.variam.segundo.as.mesmas.cir.cunstâncias.que.dão.origem.à.própria.narrativa..Ao.percorrer.um.mu.seu.no.século.I.d.C.,.o.amante.rejeitado.Encolpius.vê.as.numerosas.ima.gens.de.deuses.pintadas.pelos.grandes.artistas.do.passado.–.Zêuxis,.Protógenes,.Apeles.–.e.exclama,.em.sua.angústia.solitária:.“Então.mes.mo.os.deuses.nos.céus.são.abalados.pelo.amor!”..Encolpius.reconhece.nas.cenas.mitológicas.que.o.cercam,.e.que.representam.as.aventuras.amorosas.do.Olimpo,.reflexos.das.suas.próprias.emoções..As.pinturas.o.comovem.porque.parecem,.metaforicamente,.falar.dele..As.pinturas.são.emolduradas.pela.sua.apreensão.e.pelas.cir-cunstâncias;.elas.agora.exis.tem.no.tempo.de.Encolpius.e.compartilham.o.passado,.o.presente.e.o.futuro.dele..As.obras.tornaram-se.autobiográficas.

Stendhal,.em.seu.relato.de.uma.visita.a.Florença.em.1817,.descre.veu.os.efeitos.do.seu.encontro.com.a.arte.italiana.em.termos.que,.mais.tarde,.tornaram-se.sintomáticos.de.uma.doença.psicossomática.diagnos-ticável..“Ao.sair.da.igreja.de.Santa.Croce”,.escreveu.ele,.“senti.uma.pal.pitação.no.coração..A.vida.se.esvaía.de.mim.enquanto.eu.caminhava,.e.tive.medo.de.cair.”.A.chamada.síndrome.de.Stendhal.afeta.visitantes.(sobre-

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Apostilas das oficinas de leitura  129

tudo.de.países.da.América.do.Norte.e.da.Europa,.exceto.a.Itália).que.vêem.as.obras-primas.da.Renascença.pela.primeira.vez..Algo.nes.sas.obras.de.arte.colossais.as.assombra,.e.a.experiência.estética,.em.lu.gar.de.ser.uma.experiência.de.revelação.e.de.conhecimento,.torna-se.caótica.e.simplesmente.desnorteante,.a.autobio-grafia.como.pesadelo.

A.imagem.de.uma.obra.de.arte.existe.em.algum.local.entre.percep.ções:.entre.aquela.que.o.pintor.imagi-nou.e.aquela.que.o.pintor.pôs.na.tela;.entra.aquela.que.podemos.nomear.e.aquela.que.os.contemporâ.neos.do.pintor.podiam.nomear;.entre.aquilo.que.lembramos.e.aquilo.que.aprendemos;.entre.o.vocabulário.co-mum,.adquirido,.de.um.mundo.social,.e.um.vocabulário.mais.profundo,.de.símbolos.ancestrais.e.secre.tos..Quando.tentamos.ler.uma.pintura,.ela.pode.nos.parecer.perdida.em.um.abismo.de.incompreensão.ou,.se.preferirmos,.em.um.vasto.abis.mo.que.é.uma.terra.de.ninguém,.feito.de.interpretações.múltiplas..O.crítico.pode.resgatar.uma.obra.de.arte.até.o.ponto.da.reencarnação;.o.artista.pode.repudiar.uma.obra.de.arte.ate.o.ponto.da.destruição..Auguste.Renoir.conta.como,.por.ocasião.do.seu.regresso.da.Itália,.em.companhia.de.um.amigo,.foi.visitar.Paul.Cézanne,.que.trabalhava.no.Midi..O.amigo.de.Renoir.teve.um.violento.ataque.de.diarréia.e.pediu.algumas.folhas.para.se. limpar..Cézanne. lhe.ofereceu.uma.folha.de.pa.pel..“Era.uma.das.aquarelas.mais.perfeitas.de.Cézanne;.ele.a.havia.jo.gado.no.meio.das.pedras.depois.de.ter.trabalhado.nela.como.um.escra.vo,.durante.vinte.sessões.”

Leituras. críticas. acompanham. imagens. desde. o. início. dos. tempos,. mas. nunca. efetivamente. copiam,.substituem.ou.assimilam.as.imagens..“Não.explicamos.as.imagens”,.comentou.com.sagacidade.o.historiador.da.arte.Michael.Baxandall,.“explicamos.comentários.a.respeito.de.ima.gens.”.Se.o.mundo.revelado.em.uma.obra.de.arte.permanece.sempre.fora.do.âmbito.dessa.obra,.a.obra.de.arte.permanece.sempre.fora.do.âmbito.da.sua.apreciação.crítica..“A.forma”,.escreve.Balzac,.“em.suas.representações,.é.aquilo.que.ela.é.em.nós:.ape-nas.um.artifício.para.co.municar.ideias,.sensações,.uma.vasta.poesia..Toda.imagem.é.um.mun.do,.um.retrato.cujo.modelo.apareceu.em.uma.visão.sublime,.banhada.de.luz,.facultada.por.uma.voz.interior,.posta.a.nu.por.um.dedo.celestial.que.aponta,.no.passado.de.uma.vida.inteira,.para.as.próprias.fontes.de.expressão.”.Nossas.imagens.mais.antigas.são.simples.linhas.e.cores.borradas..Antes.das.figuras.de.antílopes.e.de.mamutes,.de.homens.correndo.e.de.mulheres.férteis,.riscamos.traços.ou.estampamos.a.palma,.das.mãos.nas.paredes.de.nossas.cavernas.para.assinalar.nossa.presença.para.preencher.um.espaço.vazio,.para.comunicar.uma.memó-ria.ou.um.aviso,.para.sermos.humanos.pela.primeira.vez.

Por.“mais.antigas”,.é.claro,.queremos.dizer.“mais.novas”:.aquilo.que.foi.visto.pela.primeira.vez,.no.alvo-recer.mais.remoto.em.nossa.memória,.quando.essas.imagens.surgiram.para.nossos.ancestrais.puras.e.por-tentosas,. incontaminadas. pelo. hábito. ou. pela. experiência,. livres. da. vigilância. da. crítica.. Ou,. talvez,. não.completamente.livres,.como.sugeriu.Rudyard

Kipling:Quando o rubor de um sol nascente caiu pela primeira vez no verde[e no dourado do Éden,Nosso pai Adão sentou-se sob a Árvore e, com um graveto, riscou[na argila;E o primeiro e tosco desenho que o mundo viu foi um júbilo para o[coração vigoroso desse homem,Até o Diabo cochichar, por trás da folhagem: “É bonito, mas será Arte?”

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130  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Para.o.bem.ou.para.o.mal,.toda.obra.de.arte.é.acompanhada.por.sua.apreciação.crítica,.a.qual,.por.sua.vez,.dá.origem.a.outras.apreciações.críticas..Algumas.destas.transformam-se,.elas.mesmas,.em.obras.de.arte,.por.seus.próprios.méritos:.a.interpretação.que.Stephen.Sondheim.fez.da.pintura.La Grande Jatte, de.Georges.Seurat,.os.comentários.de.Samuel.Beckett.sobre.a.Divina comédia, de.Dante,.os.comentários.musicais.de.Mussorgsky.sobre.as.pinturas.de.Viktor.Gartman,.as.leituras.pictóricas.que.Henry.Fuseli.fez.de.Shakespe-are,.as.traduções.que.Marianne.Moore.fez.de.La.Fontaine,.a.versão.de.Thomas.Mann.da.oeuvre musical.de.Gustav.Mahler..O.romancista.argentino.Adolfo.Bioy.Casares.sugeriu,.certa.vez,.uma.cadeia.infinita.de.obras.de.arte.e.de.seus.comentários,.a.começar.por.um.único.poema.do.século.XV,.do.poeta.espanhol.Jorge.Man-rique..Bioy.sugeriu.a.construção.de.uma.estátua.para.o.compositor.de.uma.sinfonia.baseada.em.uma.peça.sugerida.pelo.retrato.de.um.tra.dutor.dos.“Dísticos.sobre.a.morte.de.seu.pai”,.de.Manrique..Cada.obra.de.arte.se.expande.mediante.incontáveis.camadas.de.leituras,.e.cada.lei.tor.remove.essas.camadas.a.fim.de.ter.acesso.à.obra.nos.termos.do.pró.prio.leitor..Nessa.última.(e.primeira).leitura,.nós.estamos.sós.

Ser.capaz.(e.ter.disposição).de.ler.uma.obra.de.arte.é.crucial..Em.1864,.o.crítico.de.arte.inglês.John.Ruskin,.reagindo.com.ira.esclarecida.contra.o.conformismo.da.sua.época,.proferiu.uma.palestra.no.Rushol-me.Town.Hall,.perto.de.Manchester,.na.qual.repreendeu.a.platéia.por.não.dar.bastante.valor.à.arte.e.atribuir.demasiada.importância.ao.di.nheiro..O.propósito.da.palestra.era.convencer.as.pessoas.eminentes.de.Rushol-me.da.necessidade.de.uma.boa.biblioteca.pública,.coisa.que.Ruskin.considerava.um.serviço.público.essencial.em.qualquer.cidade.digna,.no.Reino.Unido..Mas,.no.decorrer.da.sua.argumentação,.Ruskin.ficou.cada.vez.mais.inflamado.e.censurou.violentamente.as.pessoas.ilus.tres.do.local.por.haverem.“desprezado.a.Ciência”,.“desprezado.a.Arte”,.“desprezado.a.Natureza”..“Eu.afirmo.que.os.senhores.desprezaram.a.Arte!.‘Como?’,.os.senhores.vão.me.retrucar..Pois.não.temos.exposições.de.arte.com.milhas.de.extensão?.E.não.pagamos.mi-lhares.de. libras.por. simples.pinturas?.E.não. temos.escolas.de.Arte.e. instituições.artísticas,.mais.do.que.qualquer.nação.jamais.teve?’.Sim,.é.verdade,.mas.tudo.isso.existe.em.proveito.do.comércio..Os.senhores.se.contentariam.em.ven.der.quadros.assim.como.vendem.carvão,.e.porcelana.assim.como.ferro;.os.senhores.tomariam.o.pão.da.boca.de. todas.as.nações,. se.pudessem;.como.não.podem.fazê-lo,. seu. ideal.de.vida.é.postar-se.nas.avenidas,.co.mo.aprendizes.de.Ludgate,.e.berrar.para.todos.os.passantes:.‘O.que.lhe.falta?’.”.E.como.eles.não.davam.a.mínima.para.as.obras.da.humanida.de.e.atribuíam.todo.o.valor.ao.lucro.financeiro.e.ao.estímulo.da.ganân.cia,.Ruskin.lhes.disse.que.haviam.se.transformado.em.criaturas.que.“desprezam.a.com-paixão”,.broncos.incapazes.de.se.importar.com.os.se.melhantes..Como.eram.incapazes.de.ler.as.imagens.que.a.arte. tinha.a. lhes.oferecer,. ele.acusou.seus.contemporâneos.de. serem.também.mo.ralmente.analfabetos..Ruskin.nutria.esperanças.elevadas.quanto.à.utili.dade.da.arte.

Não.sei.se.é.possível.algo.como.um.sistema.coerente.para.ler.as.ima.gens,.similar.àquele.que.criamos.para.ler.a.escrita.(um.sistema.implícito.no.próprio.código.que.estamos.decifrando)..Talvez,.em.contraste.com.um.texto.escrito.no.qual.o.significado.dos.signos.deve.ser.estabelecido.antes.que.eles.possam.ser.gravados.na.argila,.ou.no.papel,.ou.atrás.de.uma.tela.eletrônica,.o.código.que.nos.habilita.a.ler.uma.imagem,.conquanto.impregnado.por.nossos.conhecimentos.anteriores,.é.criado.após a.imagem.se.constituir.–.de.um.modo.mui-to.semelhante.àquele.com.que.criamos.ou.imaginamos.significados.para.o.mundo.à.nossa.volta,.construindo.com.audácia,.a.partir.desses.significados,.um.senso.moral.e.ético,.para.vivermos..Nos.últimos.anos.do.século.XIX,.o.pintor.James.McNeill.Whistler,.esposando.essa.ideia.de.uma.criação.inexplicável,.re.sumiu.seu.ofício.em.poucas.palavras:.“A.arte.acontece”..Não.sei.se.ele.o.disse.com.um.sentimento.de.resignação.ou.de.alegria.

Fonte: Lendo imagens, de Alberto Manguel, págs. 19-33.

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Apostilas das oficinas de leitura  131

texto-farol 2

orientações didáticas para o livro As aventuras de Bambolina,de michele iacocca

Denise Silva

Denise Silva é educadora, mestre em Educação pela PUC-SP e formadora do

projeto Letras de Luz. As orientações propostas neste texto foram escritas especial-

mente para esta apostila e pretendem contribuir com algumas ideias para o traba-

lho com a leitura de imagens.

“Perceber.é.um.processo.tão.dinâmico.que.uma.mesma.imagem.vista.e.compreendida.por.um.observa-dor.pode.ter.seu.sentido.alterado,.colocando.outra.imagem.ao.seu.lado..A.percepção.de.uma.imagem.de-pende.de.quem.olha.e.do.que.está.em.seu.entorno.”

Cristina Biazetto

Antes da leitura detalhada do texto

Comece.explorando,.o.autor,.o.título,.a.ilustração.da.capa..Será.que.as.crianças.já.conhecem.alguma.outra.obra.de.Michele.Iacocca?.Eleja.alguns.aspectos.para.que.levantem.hipóteses.sobre.o.conteúdo.do.livro..Leia.o.título.e.pergunte.se.ele.oferece.alguma.ideia.sobre.o.assunto:.Quem.seria.Bambolina?.Que.aventuras.ela.poderia.viver.ao.longo.dessa.história?

A.capas.de.um.livro.pode.oferecer.muitas.pistas.sobre.o.conteúdo.da.obra..Muitas.vezes,.ela.é.quem.seduz.o.leitor.para.aproximar-se.e.sentir-se.atraído.pela.história..Por.isso,.explore.essas.pistas,.chamando.a.atenção.para.o.tipo.de.letras.que.compõe.o.nome.da.boneca..O.padrão.imita.tecidos.e.há.um.botão.no.lugar.da.letra.“o”..Alguém.saberia.explicar.o.por.quê?

Explore.o.texto.do.canto. inferior.direito.da.capa:.“uma.história.sem.palavras”.É.possível.contar.uma.história.sem.palavras?

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132  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Direcione.o.foco.para.a.imagem.da.capa:.Que.sentimentos.são.transmitidos.pela.personagem.retratada?.Que.detalhes.da.ilustração.nos.ajudam.a.perceber.esses.sentimentos?.Por.que.só.é.possível.ver.a.cabeça.e.uma.pequena.parte.do.corpo.(a.mão).de.Bambolina?.Onde.está.escondido.o.restante?.E.o.que.seria.esse.fundo.vermelho?.Deixe.que.as.crianças.apresentem.suas.hipóteses.e,.não.se.esqueça.de.retomá-las.ao.final.da.leitura.

Durante a leitura extensiva do texto

Leia.o.texto.da.quarta.capa.e.discuta.com.o.grupo.se.as.informações.trazidas.por.ele.estão.ou.não.de.acordo.com.as.ideias.levantadas.pela.turma.

Mostre.a.folha.de.rosto..Nela.aparece.a.boneca.inteira..Ajude-os.a.observar.que.a.mesma.não.está.em.pé.ou.sentada.porque.é.feita.de.pano.e.por.isso,.sua.estrutura.não.permite.que.ela.possa.apoiar.seu.corpo.de.maneira.rígida.

Explore.a.sequência.de.imagens.da.primeira.página.da.história..Ela.representa.um.tipo.de.ilustração.de.função.predominantemente.narrativa..A.cada.“quadro”,.novas.ações.são.introduzidas.e,.com.isso,.é.possível.contar.o.que.está.acontecendo..Deixe.que.as.crianças.“acrescentem”.palavras.às.imagens.

A.cena.toda.mostra.a.relação.de.uma.criança.com.a.boneca..No.entanto,.um.elemento.novo.no.fim.da.página.muda.o.foco.de.quem.está.com.a.boneca:.um.pacote..O.que.será.que.a.criança.ganhou.de.presente?

Continue.lendo.o.livro.para.as.crianças..Mostre.os.desenhos.página.por.página..O.livro.todo.é.repleto.de.imagens.seqüenciadas,.nas.quais.o.cenário.permanece.o.mesmo.em.alguns.quadros,.mudando.apenas.as.ações.dos.personagens..Explore.essas.mudanças..Ajude-os.a.observar.a.função.expressiva.das.ilustrações.ao.transmitir.as.emoções.das.personagens:.posição.do.rosto,.língua.de.fora,.gestos,.traçado.dos.lábios..O.autor--ilustrador.emprega.alguns.recursos.comuns.às.histórias.em.quadrinhos.para.demonstrar.movimento,.falas.e.emoções..Desafie.as.crianças.a.encontrarem.essas.marcas.

Peça-lhes.que.argumentem..Ponha.em.discussão.as.respostas..Não.hesite.em.deixar.que.as.crianças.reto-mem.a.página.anterior.para.resgatar.algum.elemento.que.não.tenha.sido.observado.na.primeira.leitura.

Ao.retirar.a.boneca.do.portão,.o.mendigo.tem.uma.ideia..De.que.forma.a.ilustração.nos.demonstra.isso?.Na.série.de.imagens.que.se.segue,.como.o.autor.nos.faz.perceber.que,.mais.uma.vez,.Bambolina.parece.ter.sido.encontrada.por.outra.pessoa?.Ajude-os.a.notar.que.esse.mesmo.recurso.também.aparece.em.outros.momentos.da.história..Convide.a.sala.a.reproduzir.o.diálogo.entre.o.policial.que.encontrou.a.boneca.e.seu.colega.de.trabalho..O.que.eles.esperavam.encontrar.dentro.da.boneca?

Mostre.como.o.autor.ilustra.a.passagem.do.tempo.depois.que.Bambolina.é.abandonada.pelos.policiais..Explore.a.forma.como.as.cenas.desenhadas.quadro.a.quadro.apresentam.pequenas.variações.nos.gestos.e.nos.detalhes.que.demonstram.as.ações.dos.personagens..Ajude-os.a.perceber.quantos.papeis.Bambolina.pôde.interpretar.depois.que.foi.encontrada.pelo.bonequeiro.(princesa,.anjo,.fada,.bruxa,.soldado,.Chapeuzinho.Vermelho,.onça.etc.)..De.quais.histórias.conhecidas.pelas.crianças.esses.personagens.poderiam.fazer.parte?

Por.fim,.apresente-lhes.a.última.cena.e.retome.as.hipóteses.levantadas.pelo.grupo.no.início.da.leitura:.o.que.era.o.pano.vermelho.que.cobria.parte.do.corpo.de.Bambolina.no.começo.da.história?

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Apostilas das oficinas de leitura  133

Depois da leitura do texto

Atividade 1: Objetivo: trabalhar.a.seqüência.temporal.de.algumas.cenas.Eleger.um.conjunto.de.cenas.e.escrever.(ou.contar.oralmente).uma.narrativa.estabelecendo.relações.entre.

as.ações.e.transformações.dos.personagens,.acompanhando.as.ilustrações.Atividade 2: Objetivo: representar.a.partir.de.imagens.outras.narrativas,.com.base.na.história.original.Selecionar.uma.seqüência.de.imagens.do.livro.e.substituir.a.personagem.principal.(Bambolina).por.outro.

brinquedo,.fazendo.as.alterações.necessárias.na.narrativa.buscando.manter.a.coerência.do.texto.Atividade 3: Objetivo: representar.a.partir.de.imagens.outras.aventuras.de.Bambolina.Produzir.narrativas.com.imagens.(desenhos,.fotografias,.pinturas,.colagens.ou.gravuras).novas.aventuras.

de.Bambolina.imaginadas.pelas.crianças.(no.circo,.na.televisão,.na.escola,.viajando.para.uma.paisagem.dife-rente.etc.).

Atividade 4:.Objetivo: ampliar.o.repertório.das.crianças.oferecendo.outras.histórias.contadas.apenas.por.ilustrações,.sem.uso.do.texto.verbal.

Cada.vez.mais.o.mercado.dispões.de.excelentes.livros.que.fazem.uso.dessa.proposta:.Onda.e.Espelho.de.Suzi.Lee.(Cosac.Naify),.A flor do lado de lá,.de.Roger.Melo.(Global),.Chapeuzinho Vermelho.e outros contos por imagens,.de.Rui.de.Oliveira.(Cia.das.Letrinhas).são.alguns.deles.

Proponha.a.leitura.dos.mesmos.e.discuta.com.a.sala.as.semelhanças.e.diferenças.entre.os.recursos.em-pregados.pelos.autores.ao.narrarem.suas.histórias.a.partir.de.imagens.

Fonte: Texto escrito especialmente para esse material.

texto-farol 3

Palavra e imagem: leituras cruzadas, de ivete Lara camargos Walty, maria nazareth Soares fonseca e maria Zilda ferreira cury

Ivete Lara Camargos Walty, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira

Cury são professoras de graduação e pós-graduação de Teoria da Literatura na PUC-Minas

e UFMG. Neste texto, as autoras se propõem a instigar leituras críticas, associando poe-

mas, notícias de jornal, fotografias, filmes e propagandas em tempos e espaços diversos.

Ler.a.imagem,.construindo.um.texto.verbal?.Ou.ler.um.texto.verbal,.construindo.imagens?.Eis.um.de-safio.que.se.corporifica.neste.mundo,.marcado.pela.proliferação.das.ima.gens,.que.continuamente.nos.bom-bardeiam:. outdoors, no.ticiários,. propagandas,. multimídia.. Da. fotografia. que. se. pretende. fiel. ao. fato. que.busca.documentar,.à.realidade.vir.tual.criada.pelos.computadores,.tudo.se.faz.imagem.

Há.uma.anedota.reveladora.da.hipertrofia.que.adqui.riu.a.imagem.no.mundo.contemporâneo..A.jovem.mãe,.dian.te.das.amigas.que.vêm.visitar-lhe.a.filha.recém-nascida.e.que.lhe.elogiam.a.beleza,.responde,.or-gulhosa:.–Vocês.acham.a.criança.bonita.porque.não.viram.ainda.o.vídeo!.Como.se.vê,.a.imagem.sobrepuja.o.real,.ou.melhor,.é.mais.real.que.o.próprio.real..Félix.Guattari.(1993).constata,.porém,.que.a.diver.sidade.de.

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134  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

imagens.não.significa.por.si.só.riqueza.de.senti.dos,.já.que,.num.mundo.globalizado,.as.imagens,.embora.sendo.muitas,.podem.tornar-se.iguais,.repetitivas,.previsí.veis..A.repetição.homogeneizadora.pode.levar.ao.seu.es.vaziamento.e.consequente.amortecimento.da.consciência.crítica.do.receptor.

Em.razão.disso,.os.educadores.se.perguntam.se.a.su.premacia.da.imagem,.por.seu.caráter.facilitador,.pre-judica.a.leitura.do.texto.verbal..Importa.refletir.mais.detidamente.sobre.essa.questão.uma.vez.que.a.escrita.é.um.parâmetro.norteador.de.nossa.cultura.

Como.se.viu,.os.bens.simbólicos.produzidos.pelo.ho.mem.em.sociedade.codificam-se.de.diversas.formas.que.mantêm.uma.relação.estreita.entre.si.e.se.expressam.no.que.se.convencionou.chamar.semiose.cultural,.rede.ampla.de.sig.nificações..Imagens,.sons,.gestos,.cores,.expressões.corpo.rais.tornam-se.signos.abertos.à.decodificação..Nesse.sentido,.reitere-se,.a.recepção.desses.bens.simbólicos.pode.ser.vista.como.leitura,.na.medida.em.que.todo.recorte.na.rede.de.significações.é.considerado.um.texto..Pode-se,.pois,.ler.o.traçado.de.uma.cidade,.a.moda,.o.corpo.humano.em.suas.várias.posturas,.um.filme,.um.livro..Colocar.imagem.e.escrita.em.campos.opostos.e.excludentes.é,.no.mínimo,.ingenuidade,.já.que,.mesmo.à.nossa.revelia,.tais.códigos.se.encontram.em.constante.interação.

Dominando.o.maior.número.possível.de.códigos,.o.cida.dão.pode.interferir.ativamente.na.rede.de.signi-ficação.cultural.tanto.como.receptor,.quanto.como.produtor..Na.escola.ou.na.sociedade,.o.processamento.de.relações.que.se.dá.no.nível.da.produção.também.pode.ocorrer.no.nível.da.recepção.

A.escola.pode.ser,.pois,.um.espaço.privilegiado.para.a.recepção.crítica.dos.diferentes.códigos.e,.sobretudo,.deve.proporcionar,.de.forma.democrática,.acesso.mais.amplo.a.eles..Estabelecer.relações,.inclusive.interdis-ciplinares,.é.fator.fundamental.de.inserção.político-social.

De terra

A.relação.entre.o.curta-metragem.Ilha das Flores, filme.de.Jorge.Furtado,.fotografias.do.livro.Terra, de.Sebastião.Sal.gado,.uma.música.de.Chico.Buarque.e.poemas.de.Manuel.Bandeira.e.Drummond,.aqui.pro-posta.por.nós,.pode.exem.plificar.o.processo.de.articulação.intersemiótica.feito.pela.lei.tura..Nós,. leitoras,.estabelecemos,.num.universo.amplo.de.produções,.algumas.conexões.temáticas.que.não.esgotam.as.possibi-lidades.desses.textos.e.de.sua.ligação.com.outros.

O.filme.Ilha das Flores por si.só.já.propõe.relações.várias.entre.imagem.e.palavra,.integrando.discursos.diversos:.his.tórico,.técnico-científico,.bíblico,.mítico,.literário,.sociológico..A.partir.de.uma.classificação.do. que. seria. o. ser. humano. –. animal. com. o. telencéfalo. altamente. desenvolvido. e. polegar. opositor. –.constrói-se.uma.denúncia.das.aviltantes.condi.ções.de.vida.de.parcelas.da.população,.cujas.necessidades.básicas.são.colocadas.abaixo.daquelas.dos.porcos..A.enfáti.ca.repetição.de.características.que.definiriam.o.homem,.ao.lado.de.episódios.e.percalços.de.sua.história.no.mundo.–.a.criação,.as.invenções,.a.constru-ção.do.patrimônio.cultural,.o.domínio.da.natureza,.as.relações.de.trabalho.e.produção,.mas.também.o.nazismo,.a.bomba.atômica,.a.exploração.do.homem.pelo.homem.–.desconstroem.ironicamente.a.pró.pria.definição.de.homem..O.discurso.técnico-científico,.cari.caturado,.vai,.pouco.a.pouco,.transformando-se.em.discurso.artístico,.ao.caminhar.de.uma.função.estritamente.informati.va.para.a.função.estético-refle-xiva..Por.meio.dos.deslocamen.tos.operados.na.produção.do.homem.na.História,.seja.no.plano.das.ima-gens,.seja.no.das.palavras,.estabe.lecem-se.crí.ticas.a.regimes.sociopolíticos.que.sobrepõem.os.interesses.econômicos.aos.humanos.

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Apostilas das oficinas de leitura  135

O.acompanhamento.da.trajetória.de.um.tomate,.des.de.a.plantação.até.seu.destino.final.num.depósito.de.lixo,.ironicamente.situado.na.chamada.Ilha.das.Flores,.evidencia.a.superioridade.do.animal.sobre.o.homem,.já.que.este.só.tem.acesso.àquilo.que.é.considerado.inadequado.para.a.ali.mentação.dos.porcos..O.filme.ter-mina.com.a.imagem.de.um.caminhão,.com.imensa.pá,.revolvendo.e.recolhendo.auto.maticamente.o.lixo..Depois,.em.câmera.lenta,.aparece.a.figu.ra.de.um.homem.colocando.nos.ombros.o.saco.de.lixo.recolhido..O.narrador.finaliza.recuperando.a.definição.de.homem.mencionada.reiteradas.vezes.no.decorrer.de.todo.o.filme,.acrescentando.a.ela.a.ideia.de.liberdade:

O.ser.humano.se.diferencia.dos.outros.animais.pelo.telencéfaio.altamente.desenvolvido,.polegar.opositor.e.por.ser.li.vre..Livre.é.o.estado.daquele.que.tem.liberdade.

Finalmente,.um.filme.tão.rico.em.imagens,.cuja.força.tan.tas.vezes.até.dispensou.a.palavra,.fecha-se.com.uma.defini.ção,.agora.tirada.ao.discurso.poético.de.Cecília.Meireles.(1972):

Liberdade.é.uma.palavra.que.o.sonho.humano.alimenta, que.não.há.ninguém.que.explique.e.ninguém.que.não.entenda.

É.significativa.a.presença.do.verbo.alimentar.na.consti.tuição.da.imagem..O.alimento.do.sonho.liga-se.ao.alimento.do.corpo,.ambos.fundamentais.à.condição.humana.

No.livro.Terra (1997),.Sebastião.Salgado.expõe.fotogra.fias.de.pessoas.em.sua.difícil.relação.com.a.terra..Dedicado.aos.brasileiros.despossuídos,.o.livro.denuncia.a.luta.pela.sobrevivência.daqueles.que.não.têm.“um.pedaço.de.terra.para.produzir.e.viver.com.dignidade”..Numa.das.fotos,.per.tencente.ao.conjunto.denomina-do.“A.força.da.vida”,.adultos.e.crianças.disputam.o.lixo.com.urubus:

Para.sobreviver,.esta.gente.se.entrega.às.mais.variadas.atividades.ou.expedientes,.às.vezes.inimagináveis,.que.se.des.dobram.indefinidamente.No.grande.depósito.de.lixo.de.Fortaleza,.foi.criada.toda.uma.estratificação.social..Existe.o.grupo.que.trabalha.ape.nas.na.busca.de.objetos.metálicos.a.serem.vendidos.às.pequenas.indústrias.locais,.que.os.reciclam.nas.fundições;.outros.grupos.se.ocupam.de,.respectiva-mente,.materiais.de.plástico,.restos.de.madeiras,.papéis.usados,.etc.,.tendo.cada.um.seu.próprio.circuito.de.comercialização..Na.base.dessa.subescala.social,.encontram-se.as.pes-soas.que,.recém-expulsas.do.ventre.do.sertão.pelo.latifúndio.e.ou.pela.seca,.disputam.com.os.urubus.os.restos.de.alimentos..Ceará,.1983..(salgado,.1997,.p..140)

Este.texto.se.encontra.na.parte.final.do.livro.–.“Legen.das”.–.com.o.objetivo.de.contextualizar.a.foto.

Homens e bichos no lixão

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A.imagem.fotográfica.a.que.ele.se.refere.é.por.si.só.significativa,.podendo.até.prescindir.do.texto,.embo-ra.o.diálogo.entre.ambos.se.reforce.em.outro.tipo.de.ima.gem,.a.verbal:.“recém.expulsos.do.ventre.do.sertão.pelo.latifúndio.ou.pela.seca”..A.expressão.“ventre.do.sertão”.aponta.para.a.ideia.de.útero.protetor,.de.origem.da.vida.e.da.forte.interação.homem-terra..A.expulsão,.símbolo.de.um.parto,.denuncia.a.violência.das.rela-ções.sociais.que.privilegiam.a.posse..Paradoxalmente,.o.retorno.do.homem.à.terra.faz-se.através.do.lixo,.aquilo.que.é.rejeitado.por.outros..E.mesmo.aí,.reduplicam-se.as.hierarquias.de.posse..A.atmosfera.da.foto.é.difusa,.não.se.vêem.os.rostos.das.pessoas,.curvadas.e.diminuídas.sob.o.peso.dos.latões.que.trazem.aos.om-bros..Em.perspectiva,.os.urubus.são.maiores.que.os.homens.

Interessante.relacionar.essa.fotografia.com.outra.veicu.lada.pelo.Jornal.Hoje em dia, na.reportagem.“Vida.brota.das.sobras.encontradas.em.lixões”,.escrita.por.estudantes.de.Comunicação.Social.da.PUC-Minas.

Que mundo o nosso! Homens disputando os restos.

Além.da.fotografia,.documental,.observe-se.a.semelhan.ça.da.situação.descrita.nos.textos.

Homens.disputando.restos.de.alimentos.com.porcos,.urubus,.ratos,.moscas.e.até.cavalos..Essa.cena.parece.ser.de.um.fil.me.de.ficção.sobre.como.seria.a.vida.na.terra.depois.de.um.acidente.nuclear..Mas,.é.a.realidade.de.dezenas.de.famílias.pobres.da.região.metropolitana.de.Belo.Horizonte,.que.so.brevivem.de.restos,.transformando.lixões.em.supermerca.dos..(Hoje em dia, 7/11/96,.p..3)

O.enfoque.jornalístico.não.difere.do.artístico.na.medi.da.em.que.opera.uma.denúncia,.focalizando.cenas.já.impres.sas.no.quotidiano.das.grandes.cidades..O.texto.impactual.obriga.o.leitor.a.prestar.atenção.naquilo.que,.muitas.vezes,.não.quer.ver.

Urubus,.na.foto.de.Sebastião.Salgado,.porcos,.no.filme.de.Jorge.Furtado,.ou.moscas.e.ratos,.na.reporta-gem,.sobre.põem-se.ao.“bicho.homem”..E.é.deste.bicho.que.fala.Manuel.Bandeira.no.poema.denominado.“O.Bicho”:

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Apostilas das oficinas de leitura  137

O BICHOVi.ontem.um.bichoNa.imundície.do.pátioCatando.comida.entre.os.detritos.Quando.achava.alguma.coisa,Não.examinava.nem.cheirava:Engolia.com.voracidade.O.bicho.não.era.um.cão,Não.era.um.gato,Não.era.u.m.rato.O.bicho,.meu.Deus,.era.um.homem..(bandeira,1974,.p..196)

Mais.uma.vez,.pelo.consumo.de.detritos,.o.homem.se.iguala.ao.bicho..O.paralelismo.dos.versos.“não.era.um.cão,.não.era.um.gato,.não.era.um.rato”.expressa.a.perplexidade.do.poeta.diante.da.situação.desumana.imposta.pela.fome,.traduzida.ainda.no.uso.reiterado.do.advérbio.de.negação..De.forma.semelhante.ao.que.se.deu.em.Ilha das Flores, a.definição.de.homem.se.dá.pela.contradição..A.metáfora.–.o.bicho.–.indiciada.desde.o.título,.desdobra-se.em.frases.des.critivas.que.só.alcançam.seu.efeito.de.denúncia.no.último.verso:.“O.bicho,.meu.Deus,.era.um.homem”..Observe-se.que.o.poema,.pequeno.e.de.versos.curtos,.constrói-se.como.um.quadro,.atingindo.o.leitor.pela.força.de.suas.imagens..As.palavras,.como.se.viu,.também.se.condensam.em.imagens,.enredando.o.leitor.

Como.um.quadro.em.movimento.é.que.também.se.constrói.um.poema.de.Drummond.sobre.a.mesma.temática:

FIM DE FEIRANo.hipersupermercado.aberto.de.detritos,ao.barulhar.de.caixotes.em.pressa.de.suor,mulheres.magras.e.crianças.rápidascatam.a.maior.laranja.podre,.a.mais.belabatata.refugada,.juntam.no.passeioseu.estoque.de.riquezas,.entre.risos.e.gritos.(andrade,.1978,.p..113)

A.crítica.à.sociedade.de.consumo.se.faz.desde.o.nível.do.significante,.como.na.repetição.dos.prefixos.–.hiper.e.super–.na.formação.da.palavra.que.caracteriza.o.depósito.de.lixo.onde.pessoas.buscam.alimentos,.catando.o.que.foi.refugado..O.uso.de.advérbios.de.intensidade,.ao.lado.de.adjetivos.que.indicariam.a.quali-dade.dos.alimentos,.esva.zia-se,.ironicamente,.na.adição.de.outros.adjetivos.como.podre.e.refugada..A.alegria.e.o.movimento.das.pessoas.acen.tuam.a.ironia.da.ideia.de.acúmulo.antevista.na.expressão.“estoque.de.rique-zas”,.numa.alusão.desconstrutora.da.ga.nância.consumista..Como.no.filme.já.citado.e.na.fotografia.de.Sebas-tião.Salgado,.até.o.lixo.se.disputa,.até.nele.se.seleciona.e.escolhe..A.imagem.visual,.cena.de.palavras,.opera.a.denúncia.social.

É.também.pela.força.da.imagem.que.uma.propaganda.da.Legião.da.Boa.Vontade.busca.atrair.o.leitor,.persuadindo-o.a.contribuir.com.uma.campanha.de.auxílio.ao.menor.abandonado..Aí.a.imagem.visual.de.uma.criança,.deitada.na.calçada.em.situação.de.desamparo,.une-se.a.imagem.verbal.que.aproxima.gente.e.bicho.

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De.forma.agressiva,.inverte-se.a.proposta.dos.outros.tex.tos.já.que.se.invoca.para.o.homem.um.tratamen-to.semelhan.te.ao.dispensado.ao.animal..O.discurso.ecológico.de.proteção.e.preservação.de.animais.em.ex-tinção.é.deslocado,.ironica.mente,.para.o.apelo.de.salvação.da.criança:.“Gente.também.é.bicho..Preserve.a.criança.brasileira”..Originalmente.na.cor.verde,.relacionada.à.ecologia,.a.propaganda.destaca,.pelo.tama.nho.das.letras,.as.palavras:.gente,.bicho,.criança..A.força.deste.recurso.tipográfico.intensifica.a.denúncia.de.ani-malização.do.ser.humano,.ou,.mais.do.que.isso,.da.humanização/enobreci.mento.de.alguns.animais.em.de-trimento.do.homem.

Num.outro.tom,.a.fome.é.tema.da.letra.da.música.“Brejo.da.Cruz”,.de.Chico.Buarque,.que.integra.o.livro.Terra, anterior.mente.citado..De.forma.curiosa,.o.lixo.é.substituído,.metafori.camente,.pela.luz,.imagem.liri-camente.construída.da.ausência.de.alimento,.sugerindo.carência.absoluta.de.um.povo.

BREJO DA CRUZA.novidadeQue.tem.no.brejo.da.cruzÉ.a.criançadaSe.alimentar.de.luzAlucinadosMeninos.ficando.azuisE.desencarnandoLá.no.brejo.da.cruz

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Apostilas das oficinas de leitura  139

EletrizadosCruzam.os.céus.do.BrasilNa.rodoviáriaAssumem.formas.milUns.vendem.fumoTem.uns.que.viram.JesusMuito.sanfoneiroCego.tocando.blues

Uns.têm.saudadeE.dançam.maracatusUns.atiram.pedraOutros.passeiam.nus

Mas.há.milhões.desses.seresQue.se.disfarçam.tão.bemQue.ninguém.perguntaDe.onde.essa.gente.vem

São.jardineirosGuardas.noturnos,.casaisSão.passageirosBombeiros.e.babás

Já.nem.se.lembramQue.existe.um.Brejo.da.CruzQue.eram.criançasE.que.comiam.luzSão.faxineirosBalançam.nas.construçõesSão.bilheteirasSaleiros.e.garçonsJá.nem.se.lembramQue.existe.um.Brejo.da.CruzQue.eram.criançasE.que.comiam.luz(holanda,.In: salgado,.1997,.p..97-98)

No.tratamento.dado.à.questão,.o.compositor,.mesmo.falando.da.degradação.do.ser.humano,.não.lhe.retira.sua.con.dição.superior,.na.medida.em.que.o.dignifica.pelo.sofrimento.e.pela.morte..Isto.não.anu-la. o. tom. de. denúncia. do. texto,. an.tes. o. intensifica:. “É. a. criançada/Se. alimentar. de. luz/Alucina.dos/Meninos.ficando. azuis/E.desencarnando/Lá.no.Brejo.da.Cruz”..Crianças,. quase. anjos,.metamorfo-

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140  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

seiam-se.em.Jesus,.metonímia,.juntamente.com.o.nome.do.lugar,.Brejo.da.Cruz,.do.sofrimento.e.do.sacrifício..A.metamorfose.continua.na.represen.tação.de.outros.marginalizados.e.oprimidos:.babás,.ba-leiros,.bombeiros,.bilheteiros.e.garçons,.massa.de.subempregados.vin.dos.das.rodoviárias.das.grandes.cidades.do.país..Contrapõem-se-.no.texto,.pelo.menos,.dois.espaços:.o.Nordeste.e.o.Sul,.mesclados.nos.deslocamentos.dos.migrantes..Tal.mescla.se.reforça.na.fusão.das.duas.culturas,.como.se.pode.observar.na.referência.ao.maracatu.e.na.figura.do.“sanfoneiro.cego.tocando.blues”..Presença.comum.nas.feiras.nordestinas,.o.sanfoneiro.cego.urbaniza-se,.adotando.a.música.norte-americana..No.plano.da.música.propriamente.dita,.essa.imagem.é.reiterada.com.uso.de.instrumentos.nordestinos,.como.o.triângulo,.ao.lado.dos.convencionalmente.usados.pela.música.popular.produzi.da.no.sul..Na.descrição.das.figuras,.adaptadas.ao.novo.siste.ma.de.vida.ou.enlouquecidas,.percebe-se.a.voz.do.autor.implícito.que.questiona.os.conceitos.do.senso-comum.sobre.essa.gente:.Mas há milhões desses seres/Que se disfarçam tão bem/Que ninguém pergunta/De onde essa gente vem. Dessa.forma,.evidencia-se.a.indiferença.por.essa.gente.e.sua.vida.de.risco.–.balançam nas construções–ou.quase.morte,.na.cidade.grande.que.reproduz.seu.lugar.de.origem:.a.cruz.continua.sendo.a.marca.de.sua.vida.

Como.se.viu,.a.linguagem.literária.constrói.imagens.e é construída.por.elas.num.jogo.de.deslocamentos.e.conden.sações..A.força.de.tais.imagens,.embora.de.natureza.diferen.te.da.imagem.visual,.continua.atingin-do.o.leitor,.mesmo.num.tempo.em.que.o.visual.ganha.dimensões.hipertrofiadas.

Seja.na.fotografia.de.Sebastião.Salgado,.numa.propa.ganda,.num.poema.de.Drummond,.numa.monta-gem.fílmica.ou.numa.letra.de.música,.a.imagem.é.mais.do.que.uma.repre.sentação.de.um.referente,.do.que.habitualmente.costuma.mos.chamar.de.real..Antes,.ela.é.parte.integrante.da.produção.simbólica.e.como.tal.também.constrói.o.real..Sem.querer.isen.tar.a.arte.de.um.caráter.ideológico.e.da.possibilidade.de.ma-nipulação. política,. reiteramos. que,. nos. textos. analisados,. o. papel. da. imagem. foi. deslocar. significados.instituídos.

Fonte: Palavra e imagem: leituras cruzadas, de Ivete Lara Camargos Wally, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury, p. 89-100.

texto-farol 4

Representações visuais das bruxas na literatura infantil – Um estudo de caso

Denise SilvaDenise.Silva.é.educadora,.mestre.em.Educação.pela.PUC-SP.e.formadora.do.projeto.Letras.de.Luz..O.

estudo.de.caso.a.seguir.foi.organizado.especialmente.para.essa.apostila.e.pretende.contribuir.com.algumas.ideias.para.o.trabalho.com.a.leitura.de.imagens.na.literatura.infantil.

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Apostilas das oficinas de leitura  141

joão e maria

. 1.. . 2..

. 3.. . 4..

1. Lang, Andrew, ed. The blue fairy book. New York: Dover, 1965. (Original published 1889.)

2. Grimm, Jacob and Wilhelm. The fairy tales of the brothers Grimm. Mrs. Edgar Lucas, translator. Arthur Rackham, illustrator. Londo: Constable & Company Ltd, 1909.

3. Jacobs, Joseph, ed. European folk and fairy tales. John Batten, illustrator. New York: G. P. Putnam’s Sons, 1916.

4. Anne Anderson, illustrator. Anne Anderson’s old, old fairy tales. Racine, Wisconsin: Whitman Publishing Company, 1935.

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rapunzel

. 1.. .. 2..

. 3.. . 4..

1. Anne Anderson, illustrator. Old, old fairy tales. New York: Thomas Nelson & Sons, n.d.2 e 3. Grimm, Jacob and Wilhelm. The fairy tales of the brothers Grimm. Mrs. Edgar Lucas, translator. Arthur Rackham,

illustrator. London: Constable & Company Ltd, 1909.4. Grimm, Jacob and Wilhelm. Hansel and Gretel and other stories by the brothers Grimm. Kay Nielsen, illustrator. Lon‑

don: Hodder and Stoughton, 1925.

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Apostilas das oficinas de leitura  143

branca de neve

. 1.. . 2..

. 3.. . 4..

1. Van Der Hoeven, G. Snowdrop. W. C. Drupsteen, illustrator. London: S. W. Partridge & Co., 1909.2. Lang, Andrew, ed. The red fairy book. New York: Dover, 1966. (Original published 1890.)3. Golding, Harry, editor. Fairy Tales. Margaret Tarrant, illustrator. London: Ward, Lock & Co., 1915.4. Vredenburg, Eric, editor. My book of favourite fairy tales. Jennie Harbour, illustrator. London: Raphael Tuck & Sons,

1921.

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144  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

baba-Yaga

. 1.. . 2..

3..

1. Bilibin, Ivan, illustrator. Vassilisa the Beautiful. Moscow: Department for the Production of State Documents, 1900.2. NIADA: ART DOLLS3. https://allencentre.wikispaces.com/file/view/BabaYaga2.jpg/82297043/BabaYaga2.jpg

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APoStiLA 5

oficinA 5 – Luz que vem de Longe

o gênero poesia e sua celebração na vida de cada dia

objetivos:

• ler, ouvir e se emocionar com a leitura de muitos poemas;

• conhecer um pouco mais do gênero poesia;

• trabalhar a palavra poética pela análise e pela escrita de poemas;

• fazer um balanço do projeto;

• criar um clima de despedida e de união pela leitura e de amor pelos livros com o fortalecimento dos laços

estreitados pelo projeto.

conteúdos:

• a poesia e sua história;

• o gênero poesia e suas curiosidades;

• a poesia e a intertextualidade;

• a poesia infantil;

• os saraus poéticos.

Desenvolvimento:

O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá-lo.à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.

1.  Abertura:.a.poesia.ocupa.todo.o.conteúdo.da.apostila.cinco..É.um.verdadeiro.mergulho.na.arte.poé-tica.e.no.convite.a.leitura.desses.textos,.que.tão.profundamente.marcaram.a.humanidade..O.formador.pode.convidar.o.grupo.para.se.sentar.em.volta.do.Mar.de.Histórias.preenchido.pelos.livros.de.poesia.trazidos.por.ele.e.pelo.grupo.e.abrir.o.encontro.com.a.leitura.de.um.belo.poema...Aviso.importante:.por.tratar-se.de.nosso.último.encontro,.esse.é.um.dia.afetivamente.singular.e.que.também.necessita.de.um.alinhavo.especial.sobre.a.oficina.e.sobre.o.futuro.leitor.das.pessoas.envolvidas..É.dia.de.festa.e.trabalho:.verdadeiramente.um.dia.de.poesia..No.momento.de.leitura.sugerimos.os.poemas:

Emergência, de Mario Quintana;

Parem, de Paulo Leminski;

Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade;

Se o poeta falar num gato, de Mario Quintana.

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146  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

2.  Apresentação dos conteúdos :.Luz.que.Vem.de.Muito.Longe.é.o.título.dessa.oficina,.pois.nos.reme-te.ao.passado.remoto.da.poesia,.que.nasce.junto.dos.mitos.e.dos.contos..O.gênero.que.mais.sofreu.mudanças.em.todo.seu.percurso!.O.que.mais.admitiu.mudanças.de.forma.e.conteúdo,.o.mais.dilacerado.por.autores.e.leitores,.que.mais.de.perto.seguiu.as.transformações.culturais.ao.longo.dos.séculos.e,.ainda.assim,.conservou--se.o.mais.popular..Por.isso,.um.bom.começo.depois.da.leitura.do.poema.escolhido.para.abertura.é.sem.dúvida.questionar.o.grupo.sobre.seus.poetas.preferidos,.seus.poemas.inesquecíveis..Difícil.imaginar.alguém.que.passou.pela.vida.escolar.sem.ter.lido.um.poema.em.voz.alta,.sem.ter.estudado.rimas.e.estrofes,.sem.ter.passado.pelos.poetas.e.poemas.canônicos. Nesta.oficina,.além.de.conheceremos.um.pouco.mais.sobre.poesia,.faremos.um.balanço.do.projeto..Os.participantes.serão.convidados.a.falar.sobre.seu.ano.leitor,.sobre.suas.conquistas,.sobre.os.projetos.que.realizaram.e.ainda.haverá.um.sarau.de.despedida.

3.  Poesia – Histórias e curiosidades:.vários.caminhos.são.possíveis.na.aproximação.com.a.poesia..Nos-sas.escolhas.recaíram.sobre.a.intertextualidade.e.as.formas.poéticas..Essa.escolha.permite.que.os.participan-tes.tenham.uma.relação.mais.complexa.com.o.gênero.e.percebam.o.quanto.a.poesia.se.alimenta.dela.mesma,.diferentemente.de.todos.os.outros.gêneros..Depois.da.conversa.inicial.sobre.poetas.e.poemas.preferidos,.o.formador.encaminha.a.leitura.dos.textos.Luz que vem de muito longe.e.Como e por que ler poesia,.disponíveis.ao.final.desta.apostila..Além.de.boas-vindas.e.poética.abertura.de.discussão,.abre.para.a.reflexão.sobre.a.poesia.e.o.papel.dos.autores.e.seus.leitores..O.formador.pode.ler.em.voz.alta.ou.pedir.que.leiam.em.peque-nos.grupos.para.depois.fazerem.uma.socialização.coletiva..O.texto Poemas de forma fixa – Formas e gêneros tradicionais,.de.Norma.Goldstein,.é.indicado.para.leitura.em.casa..Esse.texto.foi.escolhido.pela.sua.curiosi-dade.acadêmica:.ele.nos.apresenta.a.riqueza.das.formas.poéticas,.com.suas.variações,.nomes.estranhos.e.características.tão.próprias..Um.poema.para.casamento.não.é.tão somente um poema:.é.um.epitalâmio!.Cabe.aqui.ressaltar.a.beleza.dessa.classificação.e.o.quanto.a.poesia.é.intrinsecamente.dominada.pela.procura.da.perfeição.entre.forma.e.conteúdo,.mais.que.em.qualquer.outro.gênero.

4.  Poesia.se alimenta de poemas:.a.intertextualidade.é.um.prazer.à.parte.na.leitura.da.poesia..Descobrir.poemas.dentro.de.poemas.e.poemas.filhos.de.outros.poemas.constitui-se.num.exercício.de.linguagem.fabu-loso..A.dinâmica.pensada.para.este.momento.inaugura.nossa.tarefa.de.ler.poemas.em.voz.alta:.é.um.come-cinho.bem.tímido.de.nosso.sarau.

Para.esta.atividade.sugerimos.o.texto.A poesia se alimenta de poesia,.de.José.de.Nicola.e.Ulisses.Infante,.o.qual.pode.ser.encontrado.no.livro.Análise e interpretação de poesia.(Scipione,.1995)..O.formador.lê.o.poema.original.(que.deu.origem.aos.outros).de.Gonçalves.Dias.e.divide.o.grupo,.solicitando.que.leia.e.discuta.o.poema.que.lhe.for.determinado..Espera-se.que.o.grupo.perceba.a.“brincadeira.séria”.que.os.autores.fizeram.com.o.original..O.formador.pode.se.valer.de.seus.conhecimentos.de.poesia,.a.métrica,.o.ritmo,.as.figuras.de.linguagem.para.enriquecer.a.reflexão..Não.se.trata.de.analisar.com.profunda.complexidade,.mas.de.enxergar.os.exercícios.de.linguagem.–.forma.e.conteúdo.–.feitos.em.cada.poema..Importante.perceber.que.cada.poe-ma.retrata.uma.época,.um.período.histórico.e.que,.portanto,.a.ideia.original.de.Gonçalves.Dias.vai.sofrendo.alterações.conforme.a.sociedade.vai.se.transformando.política,.social.e.literariamente,.tudo.isso.sem.esque-cer.o.próprio.estilo.de.cada.poeta..No.momento.de.socialização.das.reflexões,.os.participantes.devem.ler.os.poemas.em.voz.alta..Aqueles.que.quiserem.podem.produzir.a.sua.própria.Canção do exílio.

5.  Exercício poético:.hora.de.convidar.o.grupo.para.fazer.poesia..Cabe.aqui.uma.pequena.rodada.de.conversa:.quem.já.escreveu.poesia?.Quem.sente.necessidade?.Quem.rabisca.seus.versos.na.solidão.ou.na.algazarra?.Para.a.leitura.do.jogo.poético.pode-se.dividir.o.grupo.em.subgrupos.para.que.se.tenha.variados.

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Apostilas das oficinas de leitura  147

exemplos.de.leitores-poetas..Os.textos.produzidos.podem.compor.um.grande.varal.poético.que.ficará.expos-to.no.sarau.de.despedida..Podem.ser.escolhidos.alguns.poemas.para.leitura.coletiva,.pois.não.haverá.tempo.para.apreciação.de.todos..O.essencial.nesse.momento.é.que.as.pessoas.se.sintam.inspiradas.a.escrever.sem.medo.de.censura,.pois,.antes.de.tudo,.é.um.exercício.de.escrita..A.socialização.dos.poemas.é.fundamental.para.valorizar.a.produção.dos.participantes.

6.  Apreciação de poemas infantis: a.escolha.desse.panorama.da.poesia.infantil.deve-se.ao.fato.de.que.muito.provavelmente.o.grupo.tenha.professores.que.trabalhem.com.poesia.dentro.de.sala.de.aula.e,.mais.que.isso,.a.poesia.infantil.é.extremamente.prazerosa.para.o.público.adulto.também..Possui.todos.os.elementos.da.poesia.para.adultos,.valoriza.incrivelmente.o.ritmo,.a.métrica,.a.metáfora.e.as.repetições.e,.como.não.poderia.deixar.de.fazer.mesmo.que.quisesse,.traz.as.marcas.de.seu.tempo,.reconstitui.épocas.e.seus.pensa-mentos..Os.estilos.e.as. linguagens. são.deliciosamente.observáveis..Recomendamos.para.essa.atividade.a.leitura.de.Breve (brevíssimo) panorama da poesia infantil brasileira,.de.Luis.Camargo.(Cadernos de Poesia Bra-sileira,.Instituto.Cultural.Itaú,.São.Paulo,.1996).

O.formador.pode.sugerir.os.tópicos.que.deseja.que.o.grupo.valorize.em.sua.análise:.estilo.e.época.do.autor,.valores.sociais.colocados.no.texto,.elementos.da.poesia:.rima,.versos.em.estrofes,.eleger.alguns.versos.para.um.debruçar.mais.apurado,.a.linguagem.de.cada.poema,.entre.outros..Se.for.possível.ouvir.os.poemas.de.Arca.de.Noé.e.“assistir”.aos.poemas.de.Sérgio.Capparelli.em.sua.página.na.internet.(www.caparelli.com.br),.teremos.um.complemento.importante.daquilo.que.o.texto.diz:.as.crianças.estão.imersas.em.diversas.lingua-gens.que.se.os.desafia..Sentir.um.poema.lido,.cantado.e.“escrito.e.idealizado”.no.e.para.o.computador.será.perfeito.para.o.entendimento.dessas.diversas.linguagens.

7.  As oficinas estão acabando!: Como.se.trata.de.um.último.encontro.é.importante.fazer.um.balanço.de.como.foi.o.ano,.dos.desafios.enfrentados,.das.conquistas.e.descobertas.feitas.com.as.leituras.e,.em.es-pecial,.retomar:.o.que.fizeram.para.a.formação.de.uma.comunidade.de.leitores?.Por.se.tratar.de.um.leque.grande.de.questões,.o.formador.decide.com.o.grupo.qual.a.melhor.forma.de.fazer.esse.balanço:.cada.par-ticipante.ganha.“um.minuto”.para.falar,.fala-se.em.blocos,.por.atividade.desenvolvida,.entre.outras.opções..Como.o.diário.foi.nosso.amigo.fiel.desde.o.primeiro.encontro,.o.grupo.pode.trocar.seus.diários.para.que.um.colega.escreva.uma.despedida.em.suas.páginas..Apesar.da.liberdade.extrema.desse.momento.de.ava-liação,.algumas.perguntas.se.fazem.importantes:.algum.dos.gêneros.estudados.foi.mais.significativo?.A.apreciação.dos.textos.fez.sentido.para.você?.Como.avalia.seu.desempenho.leitor.no.ano.que.passou?.O.que.pretende.fazer.(ou.continuar.fazendo).para.a.formação.de.uma.comunidade.leitora?.O.que.conseguiu.ensinar. de. tudo. que. aprendeu?. Além. dos. questionários,. o. grupo. decide. que. outras. atividades. podem.ocorrer.nesse.momento.e.se.tais.atividades.não.podem.acontecer.juntamente.com.o.sarau,.com.a.troca.de.livros,.de.textos.e.exposição.dos.diários.

8.  Sentindo poesia: hora.de.começar.o.sarau!.O.objetivo.não.é.ensinar.a.fazer,.mas.viver.um.sarau ver-dadeiramente..O.formador.pode.comentar.o. texto.Receitinha de sarau,.de.Celinha.Nascimento,.ou. lê.-los,.destacando.aspectos.que.considerar.mais.importante..Lida.a.receitinha,.pode-se.começar.com.o.pedido.de.bênção.e.a.escolha.dos.mestres.de.cerimônia..Antes.de.passar.a.condução.do.sarau.para.os.mestres,.o.forma-dor.faz.o.aquecimento.proposto.na.“receitinha”..O.formador.pode.ainda.cantar.músicas.e.levar.CDs.para.esse.encontro..Se.as.letras.estiverem.disponíveis,.fica.fácil.para.a.turma.acompanhar.e.fazer.o.exercício.de.aquecimento..Depois.do.aquecimento,.e.antes.de.passar.a.palavra.aos.mestres,.o.formador.pode.utilizar.po-esia.em.cinema.com.trechos.do.filme.O carteiro e o poeta.e.pedir.que.o.grupo.rapidamente.faça.uma.frase.

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148  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

poética.para.abrir.o.sarau,.inspirados.na.descoberta.da.poesia.que.acontece.na.vida.do.carteiro..Então,.passa.a.palavra.aos.mestres.de.cerimônia.que,.ajudados.pela.receitinha.e.por.sua.própria.inspiração,.conduzirão.o.sarau.até.seu.final.

9.  Despedida: salve,.salve.todos.participantes.do.projeto!.Que.a.gente.possa.continuar.espalhando.nar-rativas.por.onde.passamos.E.que.a.poesia.nos.salve,.já.que.Vinicius.de.Moraes.assim.declamava:.“A.esse.mundo,.só.a.poesia.poderá.salvar”.

bibliografia básica

BACHELARD,.Gaston..A poética do espaço..1ª.ed..São.Paulo,.Martins.Fontes,.1998.

O.autor.faz.um.intenso.trabalho.sobre.a.poesia.espalhada.por.todo.o.mundo,.muito.além.das.palavras..Considerado.uma.verdadeira.tese.da.filosofia.de.poesia,.os.títulos.dos.capítulos.não.deixam.dúvida.sobre.o.mergulho.do.autor.na.intimidade.da.poesia:.“A.gaveta”,.“O.ninho”,.“A.concha”,.“A.imensidão.íntima”.e.outros,.todos.dedicados.a.uma.ideia.de.poesia.que.toma.toda.o.existir.humano.

BERALDO,.Alda..Trabalhando com poesia..1ª.ed..São.Paulo..Ática,.1990.

Sem.pretender.impor.modelos.e.técnicas.de.composição,.o.livro.objetiva.despertar.a.sensibilidade.para.o.mundo.poético.das.palavras..Feito.especialmente.para.escolas,.traz.muitos.exercícios.realizados.por.alunos.

BOSI,.Alfredo..Reflexões sobre a arte..7ª.ed..São.Paulo..Ática..2000.

Reconhecido.autor,.professor.de.Literatura.da.USP-SP,.Bosi.faz.importantes.reflexões.sobre.as.três.dimensões.da.arte:.um fazer, um conhecer e um exprimir. Em.seu.trabalho,.a.poesia.é.tratada.como.uma.forma.de.arte.que.engloba.todas.as.dimensões.

GOLDSTEIN,.Norma..Versos, sons, ritmos..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.1990.

Da.importante.Coleção.Princípios,.o.livro.trata.da.análise.de.poemas:.ele.mergulha.em.sua.interpretação,.unindo.metrificação,.rimas,.versos,.estrofes..O.ritmo.poético.e.a.sensibilidade.própria.de.cada.leitor.de.poesia.são.as.bandeiras.levantadas.pela.autora.

INSTITUTO.CULTURAL.ITAÚ.(editor)..Cadernos Poesia Brasileira – Poesia Infantil –1ª.ed..São.Paulo.. ICI,.1996.

Publicação.do.Instituto.que.faz.uma.pequena.retrospectiva.da.poesia.infantil.de.Olavo.Bilac.a.Arnaldo.Antunes.

MORAIS,.Vinícius.de..A arca de Noé..Cia..das.Letras..São.Paulo,.2001.

O.site.da.Livraria.Cultura.diz.que.crianças.e.adultos.sabem.de.cor.alguns.dos.poemas.infantis.de.Vinicius.de.Mo-raes.graças.ao.ritmo.inteligente.e.bem-humorado.dos.seus.versos..As.deliciosas.versões.musicais.de.A arca de Noé.são.exemplo.dessa.simpatia.que.o.poeta.conquistou.entre.pequenos.e.grandes.leitores.

MORICONI,.Ítalo..Como e por que ler a poesia brasileira do século XX..1ª.ed..Rio.de.Janeiro..Objetiva,.2002.

O.livro.traz.um.roteiro.precioso.de.tempos.e.espaços.da.poesia..O.melhor.de.Drummond,.o.melhor.de.Bandeira.e.outros.estão.ali.com.comentários.saborosos.do.autor,.que.também.organizou.a.antologia.Os Cem Melhores Poemas Bra-sileiros do Século.

NICOLA,.José.e.INFANTE,.Ulisses..Análise e interpretação de poesia..1ª.ed..São.Paulo..Scipione,.1995.

Especialmente.escrito.para.alunos.de.Ensino.Médio,.o.livro.foi.dividido.em.dois.capítulos.teóricos.e.outros.dois.de.mergulho.intenso.e.livre.na.obra.de.autores.brasileiros.e.estrangeiros.

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Apostilas das oficinas de leitura  149

PAIXÃO,.Fernando..O que é poesia..6ª.ed..São.Paulo..Brasiliense,.1991.

Da.importante.coleção.Primeiros.Passos,.o.texto.busca.amarrar.as.tantas.faces.e.definições.da.poesia.ao.longo.do.tempo.e.da.história..Mais.que.complexa.teoria,.o.autor.defende.a.leitura.da.poesia.com.os.ouvidos,.o.nariz,.a.boca,.a.pele.

SOARES,.Angélica. Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo..Ática..2005.

A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea.num.esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.textos.literários.

texto-farol 1

Luz que vem de muito longe, de fernando Paixão

Fernando Paixão é poeta. Nasceu em Portugal e veio para o Brasil ainda me-

nino. Foi editor da Editora Ática e tem se dedicado a muitos projetos ligados à

poesia. Gosta de se apresentar como um militante da palavra e um defensor impla-

cável do valor da poesia. O trecho faz parte do livro O que é poesia, escrito para

uma importante coleção.

Do grito à poesia eletrônica?

Na.Grécia.lendária,.quando.era.o.início.da.primavera,.os.habitantes.se.dirigiam.aos.oráculos,.geralmente.pequenas.grutas.ou.abismos.de.montanhas,.considerados.sagrados,.e.se.reuniam.em.torno.da.pitonisa,.que.se.acreditava.na.época.ter.o.poder.e.a.capacidade.de.predizer.o.futuro..Ao.acompanhar.o.ritual.da.sacerdo-tisa,.todos.os.homens.se.punham.a.gritar,.fazer.seus.lamentos.e.dançar,.enquanto.ela.declamava.suas.profe-cias,.inspirada.nos.deuses.

Concebidos.para.estabelecer.contato.com.as.forças.das.divindades,.esses.rituais.se.transformavam,.pelo.seu.brilho.e.encanto,.na.expressão.de.grandes.emoções.coletivas..Era.a.oportunidade.que.o.homem.tinha.de.se.reunir.e.reconhecer.com.outros.homens.e,.dessa.maneira,.se.estabelecia.uma.comunhão.de.todos.no.mes-mo.ritmo..Recebiam,.através.da.pitonisa,.a.luz.e.a.orientação.dos.deuses.

Mas,.por.que.isso.acontecia?Afirmam.alguns.autores.que,.na.luta.pela.sobrevivência,.o.homem.primitivo.entendia.os.fenômenos.da.

natureza.predominantemente.de.acordo.com.as.concepções.religiosas..Isso.quer.dizer.que.os.mitos.eram.criados.a.partir.da.própria.necessidade.de.se.explicar.a.causa.de.acontecimentos.que.o.homem.não.com-preendia:.como.era.o.caso.da.chuva,.o.trovão,.a.morte,.a.seqüência.das.estações.etc..Por.causa.disso,.era.muito.grande.a.importância.que.os.rituais.desempenhavam.dentro.da.vida.dessas.sociedades.

Em.tais.ocasiões.de.caráter.sagrado,.a.vontade.de.se.exprimir.aparecia.com.maior.vigor.entre.esses.ho-mens..Pode-se.inclusive.imaginar.que,.para.se.aproximar.dos.deuses,.eles.faziam.da.linguagem.um.ato.puro..Na.dança,.no.canto.e.na.poesia.oral..Cada.gesto.e.cada.palavra.tinham.para.eles.um.significado.vital,.em.íntima.relação.com.os.mecanismos.da.vida.e,.na.magia.desses.momentos,.eles.reviviam.as.lendas.antigas..A.linguagem.poética.acabava.tendo.um.sentido.purificador,.original.

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150  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Com.o.passar.do.tempo,.os.dizeres.foram.se.repetindo.e.a.declamação.de.versos.se.tornou.predominante.nos.ritos..(...)..A.abordagem.desses.costumes.ancestrais.gregos.não.nos.interessa.aqui.pelo.seu.aspecto.his-tórico,.já.que.não.pretendo.remontar.à.origem.e.à.evolução.da.poesia.através.dos.tempos,.mas.sim.pelo.seu.valor.intrínseco..Isto.é,.o.que.se.deseja.enfatizar.é.que.nas.sociedades.primitivas.(assim.chamadas.na.falta.de.outro.nome),.o.ser.humano.mantinha.uma.relação.muito.mais.criativa,.mágica.e.umbilical.com.a.linguagem.do.que.temos.entre.nós.

Enquanto.naquele.tempo.a.expressão.poética.era.um.ato.de.criação,.praticado.por.todos.os.homens.que.participavam.dos.rituais.–.e.a.condição.humana.assim.o.determinava.–,.atualmente.nas.sociedades.tecnoló-gicas,.e.divididas.em.classes,.a.criação.e.a.convivência.com.a.poesia.ficou.sendo.o.privilégio.(ou.o.sacrifício?).de.alguns.poucos.considerados.malucos.

E.não.foi.só.na.Grécia.que.a.poesia.teve.uma.importância.fundamental..São.inúmeros.os.poemas.egíp-cios.antigos.que.manifestam.poeticamente.uma.estreita.relação.com.a.experiência.da.cultura.do.povo,.inti-mamente.ligada.à.agricultura..Com.os.chineses.a.mesma.coisa,.e.também.com.boa.parte.dos.povos.orientais..A.poesia,.em.alguns.casos,.quase.confunde.com.a.função.religiosa..E.alguns.filósofos,.o.italiano.Vicio.é.um.deles,.consideram.que.a.poesia.constitui.a.própria.origem.das.línguas.

Isto.não.quer.dizer.que.as.sociedades.tecnológicas.e.modernas.não.produzem.poesia..É.claro.que.produ-zem,.e.até.de.ótima.qualidade,.como.nos.Estados.Unidos.da.América,.que.é.um.país.moderno.por.excelên-cia,.e.onde.surgiram.alguns.dos.melhores.poetas.ocidentais.do.ultimo.século..De.maneira.radical,.podemos.pensar.que.não.existe.sociedade.em.que.não.se.desenvolva.a.expressão.poética.

Mudou,.no.entanto,.a.função.que.a.poesia.desempenha.socialmente..Deixou.de.ser.a.expressão.coletiva.de.religiosidade.para.ser.a.manifestação.dos.poetas.que.se.revoltam.contra.o.caráter.desumano.e.pouco.so-lidário.de.seu.tempo..Da.atividade.poética.já.não.participam.todos.os.homens,.em.conjunto,.mas.apenas.aqueles.que,.expressando.seus.sentimentos.em.versos,.tentam.responder.à.pergunta.que.em.todos.desperta:.o.que.é.viver.neste.lugar.e.nesta.hora?

Escrever.poemas.é.estar.constantemente.a.dar.respostas.a.essa.questão..Octavio.Paz,.notável.crítico.e.poeta.mexicano,.é.um.dos.escritores.contemporâneos.que.têm.desenvolvido.fecundas.ideias.sobre.esse.tema..No.seu.livro.“O.arco.e.a.Lira”,.ele.escreve:.“o.poeta.moderno.não.fala.a.linguagem.da.sociedade.nem.comun-ga.os.valores.da.atual.civilização..A.poesia.de.nosso.tempo.não.pode.escapar.da.solidão.e.da.rebelião,.a.não.ser.através.de.uma.mudança.da.sociedade.e.do.próprio.homem”.

(...).Com.a.firme.intenção.de.resistir.à.massificação,.o.poeta.insiste.em.falar.dos.valores.fundamentais.do.ser.humano:.o.amor,.a.solidariedade,.a.importância.da.morte,.etc.

E.enquanto.na.política.tradicional.e.nos.jornais,.quase.sempre.a.linguagem.é.usada.para.repetir.mensa-gens. sem. novidade,. apelando. muitas. vezes. para. o. sensacionalismo. ou. para. a. demagogia,. nos. livros. dos.grandes.poetas.a.linguagem.permanece.viva.e.sua.leitura.é.fascinante..E.mais:.a.experiência.transmitida.nas.palavras.desses.poetas.não.é.apenas.a.experiência.de.uma.só.pessoa,.mas.de.todos,.pois.o.seu.tema.continua.a.ser.coletivo..Refere-se.à.minha,.à.tua,.à.nossa.existência.

A.poesia.continua.viva.entre.nós,.resistindo.a.todas.as.tempestades.

Fonte: Coleção Primeiros Passos – número 63 – O que é poesiaEditora Brasiliense – São Paulo – 6ª Edição – 1991

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Apostilas das oficinas de leitura  151

texto-farol 2

Como e por que ler poesia, de Ítalo moriconi

Ítalo Moriconi é doutor em Letras e professor de literatura brasileira e compa-

rada na universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenou duas grandes obras

Os Cem Melhores Contos Brasileiros e Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século.

Em seu livro Como e por que ler poesia, o autor mostra que é possível entender

poesia e descobrir o prazer de buscar suas próprias interpretações.

A.palavra.poesia.apresenta.certa.flutuação.de.sentidos..Para.alguns,.soa.ameaçadora,.sugerindo.ou.lem-brando.exercícios.difíceis.dos.tempos.de.escola..No.universo.literário,.é.tida.como.a.mais.refinada.das.pai-xões.. Em. princípio,. imagina-se. que. poetas,. assim. como. leitores. de. poesia,. sejam. indivíduos. singulares,.atacados.por.uma.espécie.de.mania,.dizem.que.rara.e.inatural:.a.mania.de.ler.literatura,.mania.de.cultivar.as.letras..Cultivar.as.letras.é.querer.saber.das.coisas,.é.cultivar.o.intelecto,.a.força.de.entendimento..Alguém.deseja.enveredar.por.esse.caminho,.recomenda-se.leia.os.bons.romances,.descubra.os.filósofos.sérios,.apren-da.a.amar.poesia..Na.cama,.na.rede,.na.poltrona,.na.mesa.de.trabalho..Sempre.foi.assim..É.como.nasce.a.tribo.dos.letrados..Para.a.tribo.dos.leitores,.a.poesia.traz,.sobretudo,.promessa.de.prazer..É.gostoso.ler.poesia..Poesia.respira,.joga.com.pausas,.alterna.silêncios.e.frases.(os.versos)..Poesia.é.bonito.na.página,.é.festa.tipo-gráfica..Festa.para.os.olhos..Ritmo.visual.que.vira.sonoro,.quando.lemos.o.poema.em.voz.alta..Imaginação.e.sabedoria.combinadas.numa.certa.vertigem,.a.velocidade.das.estrofes..Linguagem.concentrada.que,.no.en-tanto,.pode.distender-se,.estender-se..Todos.os.cinco.sentidos. traduzidos,.por.meio.da.palavra,.em.coisa.mental..Coisa.mental.que.se.pode.comunicar.pela.fala,.guardar.na.página.ou.na.memória,.que.nem.talismã.

Toda.linguagem.tem.seu.quê.de.poesia..Mas.a.poesia.é.onde.o.“quê”.da.linguagem.está.mais.em.pauta..A.poesia.brinca.com.a.linguagem..Chama.atenção.para.possibilidades.de.sentido..Explora.significativamente.coincidências.sonoras.entre.palavras..Fabrica.identidade.por.analogias,.através.das.imagens.ou.metáforas:.mulher.é.flor,.rapaz.é.rocha,.amor.é.tocha..Nuvem.é.pluma..Pedra.é.sono.

Ocorre.que.a.palavra.poesia.abrange.sentidos.que.vão.além.da.linguagem.verbal,.oral.ou.escrita..Ela.também.se.refere.a.um.universo.muito.mais.amplo.e.menos.exclusivo.ou.especializado.que.o.do.livro.e.da.leitura..É.o.lado.além,.que.tem.a.ver.com.o.universo.todo.da.cultura,.tem.a.ver.com.o.ar.que.nos.envolve..Um.filme.pode.ter.poesia..Um.gesto,.comum.ou.excepcional,.pode.ter.poesia..A.poesia.está.no.ar..A.poesia.é.popular..A.poesia.está.na.boca.do.povo,.vem.da.boca.do.povo..Espera-se.que.a.poesia.enquanto.arte.específica.das.palavras.de.algum.modo.revele.ou.esteja.articulada.com.essa.poesia.além--livro,.essa.poesia.da.vida.

Aliás,.a.poesia.da.vida.pode.ser.bem.rude..Nem.sempre,.ou.quase.nunca,.confunde-se.com.romantismos,.delicadezas,.águas-de-cheiro..Descobrir.a.poesia.da.vida.tem.mais.a.ver.com.realismo.que.com.idealismos.de.Polyanna..Brutalidade.jardim..Por.outro.lado,.aquilo.que.consideramos.“poético”.na.vida.está.menos.na.própria.vida.que.nas.convenções.de.linguagem,.de.pensamento.e.sentimentos.que.nos.regem.enquanto.seres.sociais..A.realidade,.tal.como.a.conhecemos,.é.produto.dinâmico.da.linguagem.humana.e.não.vice-versa..Este.é.um.princípio.filosófico.fundamental.na.civilização.moderna.

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O.mundo.é.um.ato.de.criação.poética..Nós.todos.o.herdamos,.compartilhamos,.interferimos.mesmo.que.não.queiramos..Interferimos.em.qualquer.perspectiva..Seja.como.religiosos.ou.místicos,.devotos.de.um.ou.de.muitos.deuses..Seja.como.céticos,.devotos.da.ciência,.conformados.ao.fato.de.estarmos.limitados.ao.ape-nas.humano,.demasiadamente.humano.

O.poema,.ao.ser.lido.sobre.a.página,.ou.ouvido.com.atenção,.aproxima.o.leitor.do.poeta..Todo.leitor.ou.leitora.de.poesia.é.um.pouco.poeta.também,.mesmo.que.não.profissional..O.ato.criador.do.poema.sobre.a.linguagem.evoca.a.criação.poética.do.mundo.implícita.na.própria.existência.dela,.linguagem,.que.é.de.todos..Por.isso.a.leitura.do.poema.ativa.o.poeta.que.somos,.o.criador.ou.a.criadora.que.somos,.nesse.sentido.amplo.da.palavra..Daí.por.que.a.poesia.pede.tanto.para.ser.decorada..Mesmo.no.caso.de.poemas.mais.longos,.so-mos.levados.a.memorizar.os.trechos.que.mais.amamos..Quando.o.poeta.e.a.poeta.profissionais.escrevem.um.poema,.sonham.em.transformá-lo.em.parte.integrante.da.intimidade.psíquica.de.seus.leitores..Como.disse.o.poeta.anglo-americano.T.S..Eliot,.a.leitura.é.em.si.uma.experiência.de.vida..Somos.feitos.daquilo.que.vi-vemos.e.daquilo.que.lemos.

Fonte: Como e por que ler a poesia brasileira do século XXEditora Objetiva, Rio de Janeiro, p. 7, 8, 9 e 10.

texto-farol 3

Poemas de forma fixa – Formas e gêneros tradicionais,de norma goldstein

A autora é professora da Universidade de São Paulo e autora de diversas obras

de estudo da literatura. Em seus livros, busca aliar a teoria com muita liberdade de

análise poética.

Algumas.composições.em.verso.têm.um.padrão.fixo.determinante.de.sua.estrutura..O.mais.conhecido,.dentre.os.poemas.de.forma.fixa,.é.o.soneto,.formado.por.dois.quartetos.e.dois.tercetos,.querido.dos.poetas.de.todas.as.épocas..O.mais.popular.é.a.quadrinha,.o.quarteto.de.sentido.completo..Há.muitos.outros,.dentre.os.quais.destaco.alguns,.em.rápida.descrição.

Balada:.feita.para.ser.cantada,.baseia-se.no.princípio.da.repetição.que.facilita.gravar.o.texto.na.memória..A.mesma.ideia.ou.a.mesma.frase.repete-se.ao.término.de.cada.estrofe..Costuma.apresentar.três.oitavas.(es-trofes.de.oito.versos),.geralmente.com.versos.de.oito.sílabas.

Vilancete: começa.com.um.“mote”.ou.motivo,.tema.a.ser.desenvolvido..O.mote.está.contido.numa.estro-fe.curta.inicial..A.seguir,.vêm.as.voltas,.três.ou.mais.estrofes.maiores.que.desenvolvem.e.glosam.o.mote..Nas.estrofes.da.volta.repete-se.um.dos.versos.do.mote.

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Apostilas das oficinas de leitura  153

Ode:.entre.os.antigos.gregos.e.romanos,.ligava-se.à.música,.passando.depois.a.um.poema.lírico.em.que.se.exprimem.os.grandes.sentimentos.da.alma.humana..Pode.celebrar.fatos.heróicos,.religiosos,.o.amor.ou.os.prazeres..Sem.obedecer.a.regras.rígidas,.a.ode.costuma.ser.dividida.em.estrofes.iguais.pela.natureza.e.pelo.número.de.versos.

Canção:.é.uma.composição.curta,.cujo.teor.pode.ser.ora.melancólico,.ora.satírico..Permite.todos.os.temas.e.nem.sempre.se.destina.a.ser.cantada..Pode,.ou.não,.apresentar.estribilho.ou.refrão..As.“canções.nacionais”.incorporam-se.à.tradição.de.todos.os.povos.

Madrigal:.composição.curta,.destinada.a.homenagear.alguém,.ora.com.galanteio,.ora.com.uma.confissão.de.amor..Pode.ser.estruturado.em.qualquer.metro,.mas.geralmente.emprega.a.redondilha,.ou.mescla.versos.de.6.e.de.10.sílabas.

Elegia:.composição.destinada.a.exprimir.tristeza.ou.sentimentos.melancólicosIdílio: égloga ou pastoral:.composições.que.celebram.a.vida.no.campo,.a.natureza,.a.atividade.agrícola.e.

pastoril,.ou.seja:.o.bucolismo.Rondó ou rondel:.sucedem-se.tipos.iguais.de.quadras.ou.estrofes.maiores,.em.versos.de.sete.sílabas..Os.

dois.primeiros.versos.de.uma.estrofe.são.retomados.adiante,.em.outra.estrofe.Epitalâmio:.poema.composto.para.celebrar.um.casamento.Triolé:.compõe-se.de.uma.ou.mais.oitavas.em.versos.de.sete.ou.oito.sílabas..Aparecem.dois.tipos.de.

rima..O.quarto.verso.repete.o.primeiro,.e.os.dois.versos.finais.da.estrofe.retomam.os.dois.primeiros.Sextina:.compõe-se.de.seis.sextilhas,.geralmente.em.versos.decassílabos,.seguidos.de.um.terceto.final..Os.

versos.devem.terminar.com.palavras.de.duas.sílabas..As.palavras.finais.dos.versos.da.primeira.estrofe.devem.reaparecer.em.versos.das.outras.estrofes.

Haicai:.tipo.de.poema.japonês,.composto.de.17.sílabas,.distribuídas.em.três.versos.apenas:.o.primeiro.de.cinco,.o.segundo.de.sete,.e.o.terceiro.de.cinco.sílabas..Originalmente.sem.rima,.no.Brasil.vem.sendo.reto-mado.de.maneira.rimada..Consiste.na.anotação.poética.e.espontânea.de.um.momento.especial..

Fonte: Versos, sons, ritmos. Editora Ática, São Paulo, 6ª Edição, 1990, p. 55, 56 e 57.

texto-farol 4

Receitinha de sarau, de celinha nascimento

Celinha Nascimento é educadora, participa e organiza saraus em São Paulo.

Este texto foi escrito especialmente para esta apostila.

Esta.“receita”.é.apenas.uma.possibilidade.de.acontecer.de.um.sarau,.já.que.não.existem.(felizmente).mo-delos.oficiais.a.serem.seguidos.rigorosamente.

Resultado.de.muitos.saraus.realizados.em.várias.e.distintas.localidades.brasileiras,.é.como.uma.receita.de.bolo.que.a.vovó.faz.com.maior.carinho.e,.mesmo.sem.saber.as.quantidades.exatas.ou.tempo.de.forno,.fica.sempre.gostoso!

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154  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Nesta.receita,.o.sarau.começa.sempre.com.a.escolha.de.um.casal.de.mestre.de.cerimônia,.um.homem.e.uma.mulher.escolhidos.sem.antecedência..Essa.é.uma.pitada.especial..O.casal.é.escolhido.pelo.padrinho.ou.madrinha.do.sarau,.(padrinho.ou.madrinha.é.a.pessoa.que.oferece.o.sarau,.aquele.que.é.dono.da.casa.ou.responsável.pelo.espaço.ou.atividade).e.referendado.pelos.participantes.através.de.uma.salva.de.palmas.ou.outra.aclamação..Depois.de.aclamados,.o.casal.recebe.uma.flor.ou.buquê.–.para.a.mulher.–.e.um.chapéu.–.para.o.homem..Flor.e.chapéu.embelezam.o.sarau.e.identificam.o.casal.que.cuidará.para.que.tudo.saia.bem..Os.mestres.precisam.ser.bem.escolhidos.entre.os.presentes,.pois.levarão.as.atividades.até.o.fim.e.têm.a.tare-fa.de.animar.a.todos.fazendo.com.que.participem.e.se.apresentem.

Depois.da.escolha,.o.padrinho.se.junta.ao.restante.do.grupo.e.os.mestres.iniciam.o.pedido.de.bênçãos.que.servem.para.iluminar.filosófica.e.poeticamente.a.atividade.do.sarau.

O.primeiro.pedido.é.dos.mestres.de.cerimônia.

–.Nós,.Rodolpho.e.Lúcia,.mestres.dedicados.deste.encontro.de.sexta-feira,.pedimos.a.benção.para.Ma-nuel.Bandeira.para.iluminar.nosso.sarau.e.colocar.ainda.mais.poesia.na.nossa.tão.poética.noite!.–(exemplo)

Cada.participante.vai.pedindo.a.benção.a.quem.deseja:.um.poeta,.um.músico,.alguém.querido.da.comu-nidade,.alguém.a.que.se.ama,.etc..A.benção.é.individual,.sem.censura.e.não.é.necessário.que.cada.participan-te. faça. sua. benção. isoladamente.. Os. pedidos. podem. acontecer. simultaneamente,. ecoando. em. todos. os.espaços.do.salão.do.sarau..O.ambiente.fica.bonito.e.sonoro.com.cada.participante.fazendo.sua.evocação.sem.ter.de.esperar.sua.vez.

Terminadas.as.bênçãos,.é.hora.de.aquecer.voz.e.coração..Todos.são.convidados.a.cantar.alguns.versos.de.canções.conhecidas..Quem.começa.são.os.mestres.de.cerimônia.que.iniciam.(puxam).uma.canção.sem.ne-cessidade.de.acompanhamento.instrumental..Não.é.preciso,.nem.recomendável,.que.se.cante.toda.a.canção,.apenas.alguns.versos..Também.é.bom.que.a.música.escolhida.seja.conhecida.para.favorecer.que.os.partici-pantes.acompanhem.com.alegria.e.realmente.possam.se.aquecer..Depois.de.alguns.versos,.passa-se a música pra frente, ou.seja,.a.mestre.joga.a.flor.ou.buquê.para.alguém.escolhido..A.pessoa.que.recebe.o.buquê.come-ça.(puxa).–.imediatamente.–,.outra.música.e.também.canta.apenas.alguns.versos.e.também.passa.pra.frente.e.assim.sucessivamente.

O.aquecimento.é. sempre.muito.gostoso,.pois.os.participantes.precisam. lembrar-se.de.uma.canção.e.tentar.ser.acompanhado..Caso.o.sarau.tenha.muitos.participantes,.o.aquecimento.pode.ser.feito.em.duplas.ou.trios,.o.importante.é.que.todos.cantem.um.pouquinho.para.realmente.aquecer.e.colocar.sua.memória.poético-musical.em.alerta.

Todos.devidamente.aquecidos,.os.mestres.preparam.o.enredo-programação.do.sarau..Trata-se.agora.de.anotar.nomes.das.pessoas.que. se. apresentarão. e. suas. atividades:.Música,. poesia,. contação.de.história,.anedota,.dança..Os.mestres.devem.fazer.uma.programação.bem.organizada.buscando.alternar.as.ativida-des..Caso.aconteça.de.poucos.se.inscreverem,.cabe.aos.mestres.incentivar.o.grupo,.chamando.para.a.ati-vidade.

Enquanto.os.mestres.organizam.as.apresentações,.pode-se.colocar.música.para.dançar,.poetas.declaman-do.em.CDs.ou.vídeos.ou.outra.programação.que.os.mestres.criarem.

Os.participantes.vão.se.apresentando.de.acordo.com.a.programação.feita.pelos.mestres.até.o.fim.da.lista.

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Apostilas das oficinas de leitura  155

Dicas:

Levar.para.o.sarau.livros.ou.textos.soltos.de.poesia..Alguns.participantes.podem.ficar.com.desejo.de.decla-mar,.mas.talvez.não.se.lembrem.de.nenhum.verso,.então.poderão.recorrer.ao.arsenal.trazido..Quanto.mais.contagiante.forem.os.mestres.de.cerimônia.e.as.apresentações,.mais.pessoas.ficarão.com.desejo.de.participar.

Dança.combina.muito.com.sarau,.e,.em.geral,.as.pessoas.têm.pouca.oportunidade.de.dançarem.juntas.em.tempos.modernos..Valsas,.maxixes,.lundus.e.modinhas.que.relembram.os.saraus.antigos.dão.um.toque.de.leveza.e.cadência.aos.encontros.poéticos.

Aproveitar.o.espaço.para.outras.atividades.literárias:.a.troca.e.empréstimo.de.livros,.o.varal.de.textos.inéditos,.homenagem.a.algum.poeta.especial,.etc.

Procurar.fazer.saraus.rotineiros:.o.grupo.estará.sempre.mais.à.vontade.e.cada.vez.aprendendo.e.partici-pando.com.mais.energia,.levando.seus.textos.e.se.esmerando.na.atividade.

Os.saraus.estão.voltando!.Muitos.leitores.e.amantes.da.poesia.estão.reunindo.amigos,.alunos.e.público.em.geral.para.essa.atividade.que.já.estava.sendo.esquecida..Veja.o.exemplo.abaixo..Não.é.inspirador?

Um exemplo a ser seguido – o Sarau da cooperifa em São Paulo

Há.certo.brilho.no.olhar.dos.que.se.amam..O.sinal.de.uma.estima.mútua,.uma.segurança,.uma.sensação.de.pertencimento,.uma.vontade.de.ultrapassar.limites,.quebrar.barreiras,.contestar.obstáculos..Esse.brilho.anda.raro.por.aí..Vez.por.outra.o.encontramos.num.casal.apaixonado.que.passa.abraçadinho.distraidamente.pela.rua..Na.troca.de.olhares.entre.uma.mãe.e.um.filho..Na.gratidão.do.amigo,.cujos.olhos.sorriem.pelo.simples.fato.de.ter.sido.assim.escolhido.

Em.um.lugar.muito.especial,.um.boteco,.como.alguns.o.chamam,.esse.brilho,.de.tão.abundante,.se.torna.intenso,.beirando.o.ofuscante..Lá,.pessoas.se.abraçam,.se.ouvem.e.se.aplaudem.ao.compartilhar.sentimentos,.emoções,.angústias.e.prazeres.destilados.em.forma.de.poesia..Toda.quarta-feira,.das.oito.à.meia.noite,.no.bar.do.Zé.Batidão,.no.chamado.Sarau.da.Cooperifa.(Cooperativa.de.Cultura.da.Periferia).pode-se.ver.pessoas,.em.espírito. comunitário,. valorizando.o.outro,.mas,.principalmente. sentindo.e.demonstrando.aquilo.que.cantava.a.música.The greatest love of all.(o.maior.amor.de.todos):.“aprender.a.amar.a.si.mesmo.é.o.maior.amor.de.todos”..Isso.pode.não.ser.nenhuma.novidade.e.parecer.até.um.clichê,.porém,.nunca.foi.tão.difícil,.nem.tão.necessário,.promover.esse.tipo.de.estima.nas.pessoas.

Longe.de.ser.um.lugar.comum,.este.sarau.abriga.exemplos.de.pessoas.que.saíram.de.uma.situação.de.maus.tratos.e.desesperança,.e.hoje.caminham.confiantes.e.seguros.para.frente.do.palco.improvisado.do.bar.e.recitam.orgulhosamente.seus.poemas..“Adolescentes.antes.envolvidos.com.drogas,.sem.muito.rumo.na.vida,.hoje.procuram.ler.cada.vez.mais.para.aprender.palavras.novas.e.bonitas.para.seus.poemas”..Atra-vés.do.Sarau.da.Cooperifa,.a.comunidade.descobriu.que.pode.produzir.cultura.de.boa.qualidade.e,.prin-cipalmente,.que.fale.na.sua.linguagem,.dos.seus.sentimentos.e.de.suas.necessidades.e.vontades..Tanto.os.poetas.quanto.as.poetisas.da.Cooperifa,.quanto.todos.que.ali.pertencem,.compartilham.da.mesma.opinião.sobre.a.importância.do.sarau:.com.o.peito.inflado.e.o.eterno.brilho.no.olhar,.aprender.o.amor.maior.de.todos,.a.auto-estima..E.é.esse.amor.a.si.mesmo,.essa.dignidade,.esse.respeito.por.si.e.pelo.próximo,.que.poderá.gerar.cidadãos.seguros,.com.uma.sensação.de.pertencimento,.uma.vontade.de.ultrapassar.limites,.de.quebrar.barreiras.e.de.contestar.obstáculos..Se.isso.não.for.cidadania,.o.que.mais.será?

Fonte: Revista Eletrônica do Centro de Estudos da Cidade – diverCIDADEBoletim abril-maio de 2009

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cAPAcitAção DoS grUPoS LocAiS De teAtro

capacitação e apresentações teatrais

É.parte.da.proposta.do.projeto.trazer.para.promover.a.capacitação.de.um.grupo.de.teatro.local,.por.meio.de.uma.oficina.específica,.ministrada.por.profissionais.da.área.teatral,.o.que.possibilitará.a.adaptação.de.obras.literárias.para.o.teatro.no.decorrer.do.ano.do.projeto.

O.projeto.prevê.a.concretização.de.peças.teatrais.em.praças.públicas,.bibliotecas.e.escolas,.sendo.funda-mental.a.transmissão.aos.participantes.da.noção.de.que.o.teatro.pode.acontecer.em.qualquer.espaço.

De.acordo.com.o.cronograma.estabelecido,.a.capacitação.dos.atores.acontecerá.nos.meses.de.fevereiro.e.março.e.já.a.partir.do.mês.de.março.alguns.dos.grupos.teatrais.começarão.as.apresentações.nas.suas.cidades.e,.se.possível,.em.cidades.vizinhas.

Diretrizes do projeto na área de teatro:

1. serão quatro os contos montados durante o ano;

2. é importante que a montagem de um dos contos vise especificamente o público infantil;

3. o projeto deve contemplar a programação de reforços de capacitação;

4. é importante promover a integração mais efetiva entre as oficinas de leitura oferecidas aos municípios e as

apresentações teatrais, por meio de uma gama de ações das quais participarão os grupos teatrais;

5. a renovação do acervo local, bem como a antecipação de títulos para as oficinas, devem também contem-

plar as capacitações teatrais. Uma pequena biblioteca técnica de títulos, que permanecem sob sua respon-

sabilidade do produtor local no decorrer do ano deve circular entre os atores e devem ser repassados à uma

biblioteca pública municipal indicada pela prefeitura ao final do ano.

Apostilas das oficinas de teatro

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Algumas perguntas e respostas

1. Quem são os agentes locais (atores) que participam dessa oficina? Quais as tarefas após a sua conclusão?

São atores, diretores, professores, ensaiadores, dramaturgos, profissionais liberais ou não, estudantes, fun-

cionários públicos, enfim, todo tipo de entusiasta e interessado em um trabalho de aproximação entre a li-

teratura e a cena teatral. O grupo de atuação tem entre 6 (mínimo) e 10 (máximo) vagas, sendo destinado a

pessoas com o ensino médio completo.

Após a oficina de quatro dias, o grupo formado utilizará o modelo aprendido para a montagem de pequenas

peças teatrais baseadas outros textos curtos de diferentes autores e estilos para apresentação em diferentes

espaços no município.

2. como será a atuação do grupo formado? Que responsabilidades terá?

Após a oficina, o grupo terá as indicações fundamentais e um esboço de uma primeira montagem. A partir

daí, terá aproximadamente 30 dias para – por meio de encontros, ensaios, produções – dar um acabamento

compatível, que possibilite a apresentação pública da peça.

Caberá ao grupo criar sua divisão interna (quem dirige, quem presta assistência, quem cuida do cenário,

figurino, luz, etc.), bem como estipular seu cronograma de trabalho (ensaios e produção).

Pronta a peça (após os 30 dias de ensaio), o grupo inicia uma série de apresentações em seu próprio muni-

cípio e naqueles indicados pelo projeto.

As datas de apresentações nas devidas cidades serão definidas pelo produtor e pela coordenação do projeto.

(veja mais detalhes no Guia de Produção Teatral)

3. Quantas peças serão montadas? e quando e onde serão apresentadas?

O grupo tem a responsabilidade de montar (ensaiar e produzir) e apresentar quatro diferentes peças em sua

cidade em um ano, sendo duas montagens no primeiro semestre (entre março e junho) e outras duas no

segundo semestre (entre agosto e novembro); durante o mês de julho – férias – não haverá apresentações

teatrais. O projeto ocupa um período total de nove meses.

Explicando melhor: o ciclo de cada peça é de aproximadamente dois meses: no primeiro mês o grupo en-

saia e produz a peça (cenário, figurino, iluminação, etc.) e no segundo mês apresenta.

4. como será a relação com a coordenação do projeto após os quatro dias de oficinas?

O projeto estabelece um elo permanente de apoio para as questões inerentes à montagem e à produção,

uma espécie de supervisão à distância – por meio de contatos telefônicos e correio eletrônico, além do

envio de material didático e leituras.

Cada grupo estabelecerá o seu interlocutor que fará a ponte grupo – produção – coordenação do projeto. Esse

interlocutor (que chamamos de “produtor local”) necessariamente participa também da parte artística do projeto.

O próprio Diário de Bordo, que começará a ser produzido durante a Oficina, será um guia importante sobre

a história do processo do grupo, seus produtos e suas consequências. E a qualquer momento, fonte de con-

sulta para dúvidas e procedimentos.

Além disso, o Grupo receberá, por ocasião da Oficina de Capacitação, um conjunto de livros significativos

de apoio ao cotidiano dos ensaios e exercícios do grupo. Ao final do ano, esses livros – em bom estado de

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Apostilas das oficinas de teatro  159

conservação deverão ser doados a uma biblioteca pública municipal para que outros cidadãos possam fazer

uso desse material.

5. existe algum evento de reforço nessa capacitação? Quando?

O projeto prevê um segundo momento de Capacitação para os atores do projeto, ainda no primeiro semes-

tre. Esse reforço consistirá de Oficina de Capacitação de três dias.

Ressaltamos que, no decorrer do programa e da supervisão permanente, serão disponibilizados pela coor-

denação do teatro materiais para reciclagem, leitura e reflexão, sempre que necessário.

6. como se dá a participação do músico no grupo?

Além dos atores e produtor(a) (que também participa artisticamente no grupo), o projeto propõe que tenha-

mos a participação de um músico.

Com isso, proporcionamos um acréscimo na qualidade artística das montagens e ganhamos um gama enor-

me de possibilidades a serem exploradas para cada conto.

Pode ser um músico profissional ou amador – ou mesmo algum ator participante que domine algum instru-

mento musical.

Proposta para continuidade do trabalho

Sobre o coletivo

O.grupo.deve.ter.a.consciência.de.que.a.montagem.de.uma.peça.–.por.menor.que.seja.seu.“tamanho”.–.exige.dos.participantes.determinada.dedicação..Apresentamos.abaixo.uma.proposta.sobre.a.sequência.do.trabalho,.que.deve.ser.adaptada.à.realidade.do.grupo,.do.local.e.dos.participantes:

marcar pelo menos dois ensaios por semana. Esse número poderá ser intensificado na medida em que se

aproxima a data de estreia;

ter claro o que foi combinado (o “contrato” do grupo) sobre as questões de disciplina de trabalho, principal-

mente no que se refere ao horário e à presença. Não relativizar a indisciplina de quaisquer participantes: o

Teatro é uma arte coletiva e faltas e atrasos são nocivas ao todo, mas não é por isso que o trabalho deve parar;

. coletivizar telefones e/ou e-mails. E utilizá-los como instrumentos efetivos para a solução de problemas que

não dependam da reunião coletiva;

. realizar coletivamente uma proposta de cronograma de produção e da estrutura dramática;

. a qualquer momento, o grupo pode sentir necessidade de rediscutir o seu “contrato” de conduta grupal. Da

mesma forma que “limpar a casa” é saudável (e sempre urgente), essa atividade não pode ocupar o espaço

dos ensaios artísticos. Procurem reservar tempos extraensaios para discussões sobre as relações grupais e

pessoais;

. colocar as metas de realização passo a passo.

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160  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

exemplo: mês X

dia 2 Início dos ensaios

dia 4 Levar figurinos para visualização de possibilidades

dia 9 Primeira análise geral da estrutura trabalhada

dia 15 Divisão das tarefas do grupo (sonoplastia, figurino etc)

dia 28 Apresentação da peça para o próprio grupo

. estar sempre em comunicação com o responsável do local de ensaio e/ou pelo projeto na região (diretor do

departamento, professor designado pela prefeitura, chefe do equipamento, etc.);

. ter certeza da disponibilidade do espaço de ensaio durante os horários e períodos de trabalho e, caso con-

trário, prever opções. Zelar pelo espaço de trabalho cedido – isso interfere diretamente na qualidade dos

ensaios;

. iniciar todos os dias de ensaio com um aquecimento (realizado em círculo) e um jogo (cantiga de roda,

pega-pega...) para harmonizar as qualidades de energia do coletivo. Importante: escolher uma pessoa dife-

rente para propor o aquecimento e jogo todos os dias;

. realizar exercícios de relação e confiança entre os atores. Isso ajuda a consolidar um pensamento em co-

mum e um agradável ambiente de trabalho;

. dar continuidade e aprofundar as possibilidades de registros do Diário de Bordo (Manual da Experiência) – a

qualquer momento, os seus registros podem ser os indicadores de soluções que muitas vezes esquecemos.

Além do caderno coletivo, cultive o hábito de registrar seu próprio Diário Pessoal;

. buscar um resultado concreto em cada dia de ensaio;

. realizar uma avaliação em círculo no final de cada ensaio. Importante: preservar esse tempo para que não

haja pressa na avaliação;

. finalizar cada ensaio com uma canção ou jogo para harmonizar as energias do coletivo;

. exercitar o aprendizado da “escuta”. Quando nos propomos a deixar o outro terminar a sua fala, para daí

então podermos falar, essa relação aos poucos se torna orgânica. Ao contrário disso, o formato orgânico que

o grupo vai estabelecendo é do atropelo e do caos;

. respeito e sabedoria em relação às diferenças do outro. Sempre.

Sobre a estrutura dramática

. Aprofundar o entendimento das orientações dadas durante a capacitação.

. Trazer para o grupo material que complemente, enriqueça, aprofunde o conteúdo com que estamos traba-

lhando.

Ex: outro texto literário que fale sobre o tema, matéria de jornal sobre um caso semelhante, uma história

semelhante que alguém lembrou, fotos da época em que se passa a história ou imagens que lhe venham a

mente sobre o clima onde se passa a ação (pode ser um quadro, uma escultura, uma fotografia...). Assim,

aos poucos, todos irão buscando o mesmo clima para a cena;

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Apostilas das oficinas de teatro  161

. Levantar exercícios que contribuam para o aprofundamento da matéria.

. Exercitar as possibilidades do espaço (ex: onde pode ser feita cada cena). Isso é fundamental nesse projeto,

onde nem sempre contaremos com locais convencionais para apresentação e realizaremos o trabalho em

praças e locais abertos, sujeitos a todo tipo de intempérie e de interferências externas.

. Exercitar as possibilidades das narrações e dos diálogos, experimentando vários narradores e tendo em vista

que uma história é sempre contada baseada em um ponto de vista.

. Buscar sempre a melhor visualização e compreensão do público do que está sendo dito ou acontecendo.

. A dinâmica da peça: cada acontecimento tem um ritmo próprio. As sequências desses acontecimentos re-

sultam em uma dinâmica específica. É necessário buscar uma dinâmica que cause interesse ao público.

. Lembrar que sempre deve haver ações. O texto deve ser dito em consequência da ação. Mesmo uma cena

narrativa deve ser feita de narrativa de ações. Sem ação o teatro se enfraquece.

. Não mostrem tudo, não contem tudo, não deem todas as imagens prontas para o público, devemos sempre,

mantendo a clareza da história que estamos contando, deixar um espaço para o público trabalhar com a

imaginação também.

. Buscar o equilíbrio entre prazer/diversão e o comprometimento/concentração (Importante: essas duas partes

são essenciais para a realização de qualquer obra artística!).

Pequena bibliografia sugerida

Anatol.Rosenfeld,.O teatro épico,.ed..Perspectiva

Augusto.Boal,.Jogos para atores e não-atores,.ed..Civilização.Brasileira

Teatro do oprimido e outras poéticas políticas,.ed..Civilização.Brasileira

Elie.Bajard,.Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito,.ed..Cortez.

Fernando.Peixoto,.Brecht.–.Vida e obra,.ed..Paz.e.Terra

Walter.Benjamin,.Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política,.ed.Brasiliense.–.“O.Narrador”

lngrid.Dourmien.Koudela,.Brecht: um jogo de aprendizagem,.ed..Perspectiva

Jogos teatrais,.ed..Perspectiva

Texto e jogo,.ed..Perspectiva

Um vôo brechtiano,.ed..Perspectiva

J.Guinsburg,.João.Roberto.Faria.e.Mariângela.Alves.de.Lima,.Dicionário do teatro brasileiro,.ed..Perspectiva.

José.Antonio.Pasta.Jr.,.–.Trabalhos de Brecht,.ed..Atica

Maria.Lúcia.de.Barros.Pupo,.Entre o mediterrâneo e o atlântico, uma aventura teatral,.ed..Perspectiva

Manfred.Werkwerth,.Diálogo sobre a encenação,.ed..Hucitec

Patrice.Pavis,.Dicionário de teatro,.ed..Perspectiva

Paulo.Freire,.Pedagogia da autonomia,.ed..Paz.&.Terra

Peter.Brook,.O espaço vazio,.ed..Civilização.Brasileira

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162  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

A porta aberta,.ed..Civilização.Brasileira

Viola.Spolin,.Improvisação para o teatro,.ed..Perspectiva

Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin,.ed..Perspectiva

Jogos teatrais no livro do diretor,.ed..Perspectiva

Relação de títulos afins ao nosso trabalho e que podem ser doados às bibliotecas dos municípios:

teoria e estudos teatrais

Arte.poética.–.Aristóteles.(Martin.Claret)

Construção.da.personagem,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)

Criação.do.papel,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)

Diário.de.trabalho.–.Volume.II.–.Brecht,.Bertolt.(Rocco)

Entre.o.mediterrâneo.e.o.Atlântico.–.Pupo,.Maria.Lúcia.(Perspectiva)

Estudos.sobre.teatro.–.Brecht,.Bertolt.(Nova.Fronteira)

História.concisa.do.teatro.brasileiro.–.Prado,.Décio.de.Almeida.(Edusp)

Improvisação.para.o.teatro.–.Spolin,.Viola.(Perspectiva)

Jogos.para.atores.e.não-atores.–.Boal,.Augusto.(Civilização.Brasileira)

Jogos.teatrais.–.Koudela,.Ingrid.Dourmien.(Perspectiva)

Jogos.teatrais.–.O.fichário.de.Viola.Spolin.–.Koudela,.Ingrid.Dourmien.(Perspectiva)

Manual.do.ator.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)

Porta.aberta,.A.–.Brook,.Peter.(Civilização.Brasileira)

Preparação.do.ator,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)

Shakespeare.–.biografia.(L&PM.Pocket)

Dramaturgia

Adultérios.–.Allen,.Woody.(L&PM.Pocket)

Alegres matronas de Windsor, As.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Antígona.–.Sófocles.(L&PM.Pocket)

Antônio e Cleópatra –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Auto da barca do inferno.–.Vicente,.Gil.(L&PM.Pocket)

Auto da compadecida.–.Suassuna,.Ariano

Bandoleiros, Os.–.Schiller.(L&PM.Pocket)

Bem está o que bem acaba –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

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Apostilas das oficinas de teatro  163

Bonde chamado desejo, Um –.Williams,.Tennessee.(L&PM.Pocket)

Bruxinha que era boa e O rapto das cebolinhas, A.–.Machado,.Maria.Clara

Celestina, A.–.Rojas,.Fernando.de.(L&PM.Pocket)

Comédia dos erros, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Don Juan.–.Molière.(L&PM.Pocket)

Édipo Rei.–.Sófocles.(L&PM.Pocket)

Eruditas, As.–.Molière.(L&PM.Pocket)

Falecida, A.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira)

Fedra.–.Racine.(L&PM.Pocket)

Fenícias, As –.Eurípides.(L&PM.Pocket)

Flávia, cabeça, tronco e membros.–.Fernandes,.Millôr.(L&PM.Pocket)

Hamlet.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Henrique V –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Histórias de Shakespeare.–.Charles.e.Mary.Lambe.(Ática)

Homem do princípio ao fim, O.–.Fernandes,.Millôr.(L&PM.Pocket)

Inimigo do povo, Um.–.Ibsen.(L&PM.Pocket)

Jardim das cerejeiras, O –.Tchekhov,.Anton.(L&PM.Pocket)

Júlio César.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Liberdade, liberdade.–.Fernandes,.M..E.Rangel,.F..(L&PM.Pocket)

Lisístrata – A Greve Do Sexo,.Aristófanes.(L&PM.Pocket)

Macário.–.Azevedo,.Álvares.(L&PM.Pocket)

Macbeth.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Mercador de Veneza, O.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Megera domada, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Muito barulho por nada –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Noite de Reis.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Noviço, O.–.Pena,.Martins.(L&PM.Pocket)

Otelo.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Pigmaleão.–.Shaw,.G..Bernard.(L&PM.Pocket)

Pluft, o fantasminha –.Machado,.Maria.Clara

Rei Lear –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Ricardo III –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Romeu e Julieta.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Santa Joana dos matadouros, A.–.Brecht,.Bertolt.(Paz.&.Terra)

Santo e a porca, O.–.Suassuna,.Ariano.( José.Olympio)

Sete contra tebas, Os –.Ésquilo.(L&PM.Pocket)

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164  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Sonho de uma noite de verão.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Tempestade, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)

Teatro completo.–.diversos.volumes.–.Brecht,.Bertolt.(Paz.&.Terra)

Tragédias cariocas –.vol..2.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira)

Vestido de noiva.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira)

outros títulos de interesse

Contadores de histórias – Acordais.–.Regina.Machado.(DCL)

Do mundo da leitura para a leitura do mundo –.Marisa.Lajolo.(Ática)

O ofício do contador de histórias (Martins.Fontes)

Procure-os e estude-os na biblioteca de sua cidade!

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introdução

Este.guia.tem.o.intuito.de.sistematizar.a.condução.das.produções.teatrais.do.projeto..Isso.nos.ajudará.a.pautar.o.número.de.apresentações.que.o.projeto.coordenará.durante.o.ano.

Além.disso,.visamos.com.esse.documento.partilhar.informações.acerca.da.produção.teatral..Dicas.que.podem.servir.como.ajuda.em.um.campo.tão.amplo.e.muitas.vezes.imprevisível.como.esse.

Produzir.um.espetáculo.teatral.requer.muito.jogo.de.cintura.para.lidar.com.o.inesperado..E,.exatamente.por.isso,.a.criatividade.para.resolver.problemas.e.a.capacidade.de.vislumbrar.o.que.pode.ou.não.ser.realizado.é.fundamental!

Pré-produção

1.  Projeto – Organizar um projetoO.primeiro.passo.da.etapa.de.pré-produção.é.organizar.no.papel.as.ideias.artísticas..Qualquer.parceiro.

que.o.grupo.busque.precisa.saber.quais.são.os.passos.artísticos.desejados.pelo.grupo,.qual.o.texto.escolhido,.a.proposta.de.encenação,.etc.

O projeto pode conter os seguintes itens:

a. histórico do grupo – Como foi formado e outras informações relevantes;

b. histórico da peça – Porque da escolha do texto e outras informações relevantes sobre autor, data em que o

texto foi escrito, etc;

c. sinopse;

d. ficha técnica;

e. currículos breves dos integrantes: atores e demais artistas envolvidos;

f. necessidades técnicas (se o projeto se destinar a pedido de espaço para apresentações) ou necessidades

materiais;

g. contato do grupo (contendo e-mail, telefones e nome do responsável);

h. anexos – Fotos e material de imprensa, caso o grupo possua.

guia de produção teatral

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166  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

Release para apoiadores culturaisA.busca.de.parceiros.que.doem,.emprestem,.permutem.materiais.pode.ser.um.bom.caminho.para.produ-

zir.um.espetáculo..Muitas.vezes,.uma.produção.teatral.de.pequeno.porte.é.“salva”.pelos.parceiros.chamados.apoiadores.culturais,.que.podem.fornecer.diversos.tipos.de.produto..Tecidos,.gráfica.para.imprimir.material.de.divulgação.e.qualquer.outro.tipo.de.produto.pode.ser.conseguido.gratuitamente.em.troca.de.publicidade.da.logomarca.da.empresa.parceira.nas.peças.de.divulgação.do.espetáculo.

Para.isso,.faz-se.um.pequeno.release.em.que.os.elementos.principais.do.espetáculo.são.apresentados.ao.futuro.parceiro..É.melhor.que.seja.um.release.curto,.de.fácil.leitura.e.com.ênfase.nos.principais.itens.que.chamem.a.atenção.para.a.peça,.no.intuito.de.consolidar.parcerias.

Nesse.release,.podemos.colocar.alguns.itens.do.projeto,.como:.histórico.da.montagem.e.do.grupo,.ficha.técnica.e.locais.de.apresentação,.público-alvo.e.os.materiais.necessários.

Release para a divulgação da apresentaçãoO.release.para.a.divulgação.deverá.conter:

a. apresentação do projeto Letras de Luz (fornecido pela coordenação do projeto);

b. dados específicos de cada grupo: nome do espetáculo, autor, diretor, sinopse, datas, locais e horários de

apresentação, destacando que é uma apresentação com entrada franca, e contato do responsável pela as-

sessoria de comunicação ou imprensa;

c. outras informações, como fotos da peça e currículos (em formato texto, contando somente as informações

mais relevantes) de alguns dos participantes, podem ser incluídas, caso seja necessário.

Produção

1.  Datas e os locais para a apresentação: necessidades do espetáculo e possibilidadesAs.datas.e.os.locais.para.apresentações.deverão.ser.organizados.pelos.produtores.depois.de.consultar.os.

integrantes.do.grupo.Porém.o.grupo.deverá.seguir.o.cronograma.de.trabalho.estipulado.pela.coordenação.do.projeto..Os.pe-

ríodos.destinados.aos.ensaios.e.às.apresentações.teatrais.deverão.ser.cumpridos.pontualmente.IMPORTANTE:.uma.data.agendada.para.a.apresentação.não.deverá.ser.desmarcada.ou.modificada..Além.

de.atrapalhar.o.andamento.geral.do.projeto.(que.contém.outras.ações.simultâneas,.como.oficinas.de.leitura),.o.cancelamento.de.uma.data.pré-agendada.prejudica.o.trabalho.de.divulgação.realizado.anteriormente.

As.informações.completas.sobre.as.apresentações.deverão.ser.enviadas.pelo.produtor.do.grupo.para.a.coordenação.do.projeto.na.data.prevista.em.cronograma..O.não-cumprimento.dessa.data.também.preju-dica.o.andamento.do.projeto,.bem.como.sua.divulgação..As.informações.que.deverão.ser.enviadas.são:

a. data e horário das apresentações;

b. local da apresentação com endereço completo, instalações – Se a apresentação será feita em teatro, sala,

biblioteca, rua, etc.;

c. quantidade de público previsto, duração da peça e status da apresentação – Confirmada ou a confirmar. Se

houver alguma informação pendente, o produtor deverá marcar a confirmar. Se as informações estiverem com-

pletas o produtor deverá considerar a apresentação confirmada e, nesse caso, a data não poderá ser alterada.

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Guia de produção teatral  167

Todas.as.informações.deverão.ser.repassadas.à.coordenação.para.a.aprovação.geral.dos.calendários..O.quanto.antes.esses.locais.e.datas.de.apresentações.forem.definidos.e.confirmados,.melhor.serão.o.trabalho.de.divulgação,.a.adaptação.dos.atores.ao.espaço,.a.organização.de.um.evento.que.faça.a.diferença.no.dia.a.dia.da.cidade.

O.produtor.do.grupo.poderá.procurar.junto.às.prefeituras.e.aos.demais.parceiros.as.datas.mais.ex-pressivas.no.calendário.da.cidade..Ou.seja,.unir.as.apresentações.do.projeto.aos.eventos.festivos.da.ci-dade,.às.festas. já.previstas.no.calendário.cultural..Dessa.forma,.aproveitamos.de.um.evento.que.já.será.amplamente.divulgado.para.incluirmos.as.apresentações.teatrais,.facilitando.a.divulgação.da.peça.e.do.pro-jeto,.acrescentando.mais.público.e.tornando.a.apresentação.teatral.mais.rica.

As.datas.escolhidas.e.os.horários.para.as.apresentações.devem.ter.como.prioridade.facilitar.o.acesso.do.público.ao.evento..Cada.cidade.tem.uma.realidade.que.deverá.ser.analisada.pelo.produtor.no. intuito.de.atingir.o.maior.número.possível.de.espectadores..Cada.produtor.local.deverá.analisar.a.especificidade.de.sua.região.ao.agendar.datas.e.horários..As.apresentações.também.poderão.ser.agendadas.em.escolas.para.um.público.predeterminado,.mas.recomenda-se.um.maior.número.de.apresentações.abertas.ao.público.em.geral,.ou.seja,.as.apresentações.devem.ser.realizadas.preferencialmente.em.locais.públicos.

Lembramos.que.os. locais.normalmente. tidos.como.“ideais”.para.apresentações. teatrais,.os.palcos.italianos,.podem.ser.utilizados..Porém.um.dos.conceitos.do.Projeto.Letras.de.Luz.é.a.apresentação.em.espaços.não.convencionais..Essa.escolha.não.deve.ser.tida.como.uma.possibilidade.menor,.e.sim.um.enriquecedor.da.apresentação.teatral..O.espaço.cênico.é.um.dos.grandes.responsáveis.pelo.sucesso.de.uma.montagem.teatral..Ele.pode.transportar.o.espectador,.criando.climas,.potencializando.a.comuni-cação.entre.interlocutor.e.texto,.ajudando.o.ator.a.criar.imagens.para.a.sua.ação..Logo,.um.espaço.cê-nico.não.convencional.desperta.no.público.um.interesse.maior,.aumentando.as.chances.de.comunicação.entre.ator.e.público.

Dependendo.da.proposta.da.encenação.e.do.próprio.texto,.as.apresentações.podem.ser.agendadas.em.locais.alternativos,.como.salas,.arenas,.casarões,.ruas,.praças,.bibliotecas,.escolas,.coretos,.etc..O.espaço.cêni-co.escolhido.poderá.potencializar.o.texto.literário.

Observação:.em.caso.de.programação.ao.ar.livre,.o.produtor.deve.prever.junto.à.municipalidade.um.local.alternativo.para.apresentação.em.caso.de.intempérie.

2.  Organização das necessidades do espetáculoTodo.o.material.necessário.para.a.realização.de.um.espetáculo.deve.ser.listado.pelo.grupo..Com.base.

nessa.lista.de.necessidades,.integrantes.do.grupo.e.produtor.deverão.verificar.a.melhor.maneira.de.disponi-bilizar.materiais.e.objetos.cênicos..A.produção.do.espetáculo.deverá.ser.simples.e.adaptada.à.verba.que.os.grupos.terão.para.realizá-lo.

Soluções.criativas.e.baratas.agregam.mais.ao.espetáculo.do.que.buscar.grandes.realizações,.difíceis.de.viabilizar.

O.trabalho.em.grupo.requer.o.envolvimento.de.todos.os.seus.integrantes..Muitas.vezes,.temos.um.obje-to.difícil.de.encontrar,.portanto,.quanto.maior.o.número.de.pessoas.envolvidas.nessa.busca,.maior.a.chance.de.encontrá-lo..O.produtor.poderá.distribuir.tarefas.no.grupo.para.que.todos.os.seus.integrantes.estejam.envolvidos.na.produção.

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168  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

A.figura.do.produtor.organiza.as.necessidades,.faz.os.contatos.com.a.equipe.do.projeto,.contata.os.par-ceiros.nas.prefeituras,.agenda.datas,.pensa.em.estratégias.de.divulgação,.etc..Porém.os.membros.do.grupo.devem.saber.que.o.sucesso.desse.projeto.é.de.responsabilidade.de.todos.

OrçamentoSempre.que.for.possível,.procure.encontrar.uma.parceria.que.viabilize.materiais.a.custo.zero.(tecidos.para.

figurinos.e.cenários,.madeiras,.móveis,.impressão.gráfica,.etc.)..Façam.sempre.uma.previsão.de.gastos.para.não.terem.problemas.depois.

Apoios culturais/empréstimos de itens/parceriasOs.apoiadores.culturais.serão.parceiros.fundamentais.nesse.percurso,.para.o.empréstimo.ou.a.doação.de.

materiais.necessários.Para.os.itens.emprestados,.é.necessário.devolvê-lo.em.perfeitas.condições.Parcerias.com.gráficas.e.órgãos.públicos,.como.prefeituras,.etc..são.muito.bem-vindos.para.a.realização.

de.outras.necessidades,.mas.não.se.esqueça.de.aprovar.com.a.coordenação.do.projeto.

3.  DivulgaçãoA.divulgação.deverá.ser.feita.de.acordo.com.o.calendário.de.cada.cidade..Depende.da.demanda.de.jornais.

e.revistas.e.do.tempo.de.antecedência.necessário.para.o.envio.de.material..Outros.tipos.de.publicidade,.como.flyers.distribuídos.em.bares,.cabeleireiros,.escolas,.faculdades,.lojas,.restaurantes,.carros.de.som,.etc.,.podem.funcionar.de.acordo.com.o.público-alvo.e.com.a.cidade.

4.  Temporada/apresentações extrasA.quantidade.de.apresentações.de.cada.conto.será.definida.pela.coordenação.do.projeto.de.acordo.com.

o.orçamento.e.o.cronograma.previstos.no.início.dos.trabalhos..Ao.final.de.cada.apresentação,.o.grupo.pode-rá.divulgar.para.o.público.presente.a.próxima.apresentação.do.projeto.

Sugerimos.também.que.cada.grupo.tenha.um.caderno,.que.fique.à.disposição.do.público.na.saída.para.que.os.espectadores.possam.registrar.sua.opinião.sobre.a.peça..Os.cadernos.podem.conter.ainda.as.seguintes.informações:.nome,.idade,.impressões.e.como.ficou.sabendo.da.peça.

Em.apresentações.fechadas,.para.escolas.e.associações,.pode.ser.feito.um.bate-papo.ao.final.com.o.públi-co.presente,.que.deverá.também.ser.registrado.no.Diário.de.Bordo.

Sugerimos.no.início.deste.guia.a.tentativa.de.unir.as.apresentações.do.grupo.a.eventos.importantes.da.cidade..Buscar.parceiros.nas.prefeituras.que.ajudem.na.divulgação.do.espetáculo.e.do.projeto.é.fundamental.

Qualquer.apresentação.extra.agendada.pelo.grupo.fora.do.calendário.oficial.do.projeto.deverá.ser.comu-nicada.e.validada.pela.coordenação..Essas.apresentações.não.poderão,.em.hipótese.nenhuma,.ter.cobrança.de.ingressos.dos.espectadores.

5.  AdministraçãoÉ.função.do.produtor,.com.apoio.da.coordenação.do.projeto,.administrar.as.viagens.para.os.espaços.nos.

quais.ocorrerão.as.apresentações..Isso.inclui:.checar.transporte,.contato.com.o.local.nos.dias.que.antecedem.a.viagem.para.confirmar.detalhes,.organizar.a.agenda.e.a.alimentação.do.grupo,.checar.a.limpeza.e.salubri-dade.do.local,.acomodação.dos.artistas,.etc.

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Guia de produção teatral  169

O.produtor.acompanha.e.organiza.a.entrada.e.a.saída.do.público.e.fica.atento.se.há.alguma.necessidade.emergencial..Como.o.espetáculo.é.entrada.franca,.ele.checa.o.número.de.pessoas.antes.de.abrir.para.ver.se.a.quantidade.de.cadeiras.colocadas.é.suficiente.e.organiza.a.distribuição.de.senhas.por.ordem.de.chegada.

Os.produtores.dos.grupos.também.atuam.nos.espetáculos..Nesse.caso,.é.necessário.que.todas.as.funções.a.ele.designadas.sejam.distribuídas.entre.os.participantes.

Pós-produção

1.  DesmontagemDa.mesma.forma.que.o.produtor.deve.organizar.uma.tabela.com.os.responsáveis.pela.montagem.do.

espetáculo.(montar.cenários,.afinar.a.luz,.passar.os.figurinos),.a.desmontagem.deverá.ser.cumprida.com.o.mesmo.rigor.

Alguém.ou.um.grupo.de.pessoas.deve.se.responsabilizar.pela.desmontagem.do.cenário,.outros.integran-tes.ficam.responsáveis.para.conferir.os.figurinos.e.adereços.e.outras.ficam.responsáveis.para.checar.o.espaço.(limpeza.do.espaço.utilizado,.recolhimento.de.todos.os.materiais).

Lembramos.que.a.boa.imagem.do.grupo.está.diretamente.relacionada.com.a.qualidade.dos.contatos.e.relações.humanas.criadas.e.desenvolvidas,.bem.como.com.o.cuidado.em.relação.aos.espaços.utilizados.e.bens.materiais.disponibilizados..Num.projeto.em.que.o.grupo.retornará.mais.vezes.ao.mesmo.local.de.apresen-tação,.esse.é.um.“cartão.de.visita”.fundamental.

2.  Devolução de itensOs.itens.emprestados,.ao.final.de.todas.as.apresentações.daquele.texto,.são.devolvidos.aos.parceiros..O.

grupo.poderá.escrever.uma.carta.agradecendo.o.apoio.

3.  Agradecimentos e retorno a apoiadores/parceirosPara.poder.contar.sempre.com.o.apoio.de.empresas.parceiras,.é.necessário.ao.final.da.temporada.não.só.

agradecer.a.parceria.mas.também.divulgar.como.foi.a.realização.do.evento:.o.número.de.pessoas.que.estive-ram.presentes,.como.foi.a.recepção.da.peça,.o.público.atingido,.etc.

4.  ClippingO.grupo.deverá.procurar.(via.internet,.em.jornais.locais,.revistas,.rádios.ou.TVs.locais,.agendas.culturais.

das.cidades,.etc.).por.fotos.e.toda.e.qualquer.matéria.de.divulgação.que.fale.sobre.o.espetáculo.e.sobre.o.projeto.

O.produtor.deverá.recolher.todo.o.material.publicado.e.enviá-lo.à.coordenação.do.projeto.via.e-mail.ou.correio..A.entrega.desses.materiais.deverá.ser.concomitante.à.entrega.do.relatório.

5.  Relatórios e listas de presençaO.projeto.prevê.dois.relatórios.por.grupo:1) um relatório parcial – Após as apresentações de cada montagem;

2) um relatório final – Com data de entrega ao final do ano e a ser definida pela equipe do projeto e comuni-

cada aos grupos no decorrer do ano.

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170  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento

E.dois.tipos.de.listas.de.presença:1) lista de presença de ensaios – Contendo datas e horários dos ensaios realizados;

2) listas de presença de apresentações – Contendo datas e horários das apresentações realizadas.

Relatório parcial.–.O.grupo,.juntamente.com.o.produtor,.deverá.analisar.as.apresentações.feitas.baseada.em.três.vértices:

as condições de produção – Agendamento das apresentações/datas/locais de apresentação, realização do

espetáculo/material conseguido gratuitamente/gastos, grau de parceria das cidades, condição das apresen-

tações e da recepção do grupo, identificação do parceiro na prefeitura de cada cidade;

a recepção do espetáculo – O retorno do público, o impacto da realização na cidade, se houve a presença

de autoridades, cobertura da mídia, que tipo de repercussão foi registrada;

a divulgação do espetáculo – Número de espectadores, engajamento da prefeitura local na divulgação,

quantidade de material feito pelo grupo, estratégias utilizadas.

O.modelo.do.relatório.parcial.será.enviado.pela.coordenação.do.projetoTudo.isso.deverá.ter.um.olhar.do.grupo.e.sua.análise,.no.intuito.de.melhorar.as.condições.das.apresen-

tações,.os.contatos.com.as.prefeituras.e.a.comunicação.com.a.equipe.do.projeto.A.data.de.entrega.do.relatório.parcial.constará.no.cronograma.de.trabalho.estabalecido.pela.coordenação.

do.projeto.e.deverá.ser.cumprida.pontualmente..Todo.o.tipo.de.material.coletado.deverá.ser.enviado,.junta-mente.com.o.relatório.(fotos,.matérias.de.jornal,.sites,.etc.),.também.via.e-mail.ou.correio.

Relatório final.–.O.grupo.deverá.fazer.um.relatório.contando.sua.experiência.com.o.projeto.desde.a.capacitação.até.a.fase.de.produção.do.espetáculo.e.as.apresentações.

O.relatório.deverá.analisar.pontos.positivos.e.negativos.do.percurso.e.conter.uma.apreciação.do.trabalho.do.grupo..Uma.apreciação.do.projeto.e.suas.reverberações.positivas.no.dia.a.dia.do.grupo,.das.cidades.e.dos.espectadores.envolvidos.também.é.fundamental.

O.número.de.pessoas.presentes.nas.apresentações,.público-alvo.atingido,.a.recepção.da.peça,.como.foi.feita.a.divulgação,.quem.do.grupo.esteve.presente.nas.apresentações,.quais.os.resultados.das.parcerias.entre.grupos.e.municípios,.outros.parceiros.que.contribuíram.e.cópia.do.material.de.imprensa.divulgando.o.espe-táculo,.são.itens.necessários.para.o.conteúdo.do.relatório.

Listas.de.presença.de.ensaios.e.listas.de.presença.de.apresentações.–.Os.modelos.das.listas.serão.elabo-rados.e.disponibilizados.pela.coordenação.do.projeto.

A.lista.de.presença.de.apresentações.deverá.ser.entregue.juntamente.com.o.relatório.parcial..A.lista.de.presença.de.ensaios.deverá.ser.entregue.em.data.que.constará.no.cronograma.de.trabalho.e.deverá.ser.cum-prida.pontualmente.

6.  Apresentações fora do projetoa. Os grupos podem realizar apresentações extras desde que não prejudiquem o andamento das atividades

planejadas para o projeto.

b. Estamos lidando com um projeto educativo cujo objetivo é o fomento à leitura. Assim, com exceção do

cachê negociado com a instituição que solicitou a(s) apresentação(ões) extra(s), é absolutamente proibida

qualquer cobrança de ingresso de espectadores, sob pena de desligamento do projeto.

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eQUiPe fUnDAção victor civitA

Diretores executivos

Angela DannemannDavid Saad

coorDenação PeDagógica

Regina ScarpaMaria Slemenson

estuDos, Pesquisas e Projetos

Mauro MorellatoAdriana DeróbioSimone LozanoArtur Teixeira

coorDenação Do Letras De Luz

José Luiz Goldfarb

coorDenaDor De ativiDaDes teatrais

Heitor Goldflus

coorDenaDora De ProDução teatraL e caPacitação teatraL

Erica Montanheiro

concePção Do Programa De caPacitação teatraL

Naum Alves de Souza

equiPe De caPacitação teatraL

Cris RochaLuciano GentileMarcelo Klabin

Cátia PiresDedé Pacheco

Paulo BarcellosRenata Jesion

Tatiana Schunck

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equiPe De Formação De Leitores

Celinha NascimentoDenise Silva

Edilene FonsecaHeloisa Ramos

Essa apostila do projeto Letras de Luz foi desenvolvida pela consultora Denise Guilherme da Silva sob encomenda da Fundação Victor Civita.

AgrADecimento À eQUiPe Do inStitUto eDP

Diretor executivo

Pedro Sirgado

Diretora De reLações institucionais e resPonsabiLiDaDe sociaL

Tereza Rodrigues

assessor Da Diretoria

Paulo Ramicelli

equiPe

Ana Maria SchneiderTalita Feliciano

Tatiana de Toledo Lopes

AgrADecimento À eQUiPe DA eDP no brASiL

gestora executiva De marca e comunicação

Flávia Ramos

equiPe

Ana Paula NogueiraFernanda Santiago

Lorena PaterliniMarcela Rodrigues

assessoria De imPrensa

Flávia Fonseca

©.2010.Fundação.Victor.Civita..Todos.os.direitos.reservados.

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