apostila pó graduação2002

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Participante : _________________________________ 1 PSICOLOGIA R. Desembargador Westephalen, 295 / 36 - Curitiba / Pr - Fone: (41) 273.6521 ou 222-7615 e-mail : [email protected]

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Page 1: Apostila Pó Graduação2002

Participante : _________________________________

1

PSICOLOGIA

R. Desembargador Westephalen, 295 / 36 - Curitiba / Pr - Fone: (41) 273.6521 ou 222-7615

e-mail : [email protected]

Page 2: Apostila Pó Graduação2002

PERSONALIDADECONCEPÇÃO DE SUA ESTRUTURA E FUNCIONALIDADE

CONCEITO DE PERSONALIDADE

A personalidade existe em função de um meio no qual um indivíduo , procura adaptar-se e tem que sofrer um processo de desenvolvimento.

Na historia pessoal do indivíduo devemos considerar os dados biológicos e psicológicos herdados; o meio, isto é , condições ambientais , sociais e culturais no qual o indivíduo se desenvolve; os dados adquiridos na estruturação hereditariedade - meio; as características e condições de funcionamento do indivíduo nesta interação, possibilitando previsões a respeito de seu comportamento em situações futuras.

Portanto a personalidade deve ser estudada através de dois prismas, um longitudinal, isto é, o da sucessão de diversos estágios, do passado para o presente, e o outro transversal, isto é, o dos comportamentos atuais sob as influências do meio.

ESTRUTURA DA PERSONALIDADE

Devemos pensar na personalidade como possuindo partes ou divisões que realizam funções específicas - em outras palavras possuindo uma ESTRUTURA. Estas partes não devem ser consideradas como realidades concretas ou entidades autônomas, mas como grupo de forças e funções. O conceito de estrutura da personalidade hoje geralmente aceito é o proposto por Freud, que postulou a existência de três segmentos na estrutura da personalidade.

Freud ao conceber para a atividade psíquica uma estrutura, a chamou de aparelho psíquico que é composto de três partes: ID , EGO e SUPEREGO.

ID É a totalidade do aparelho psíquico do indivíduo ao nascer e está voltado

para a satisfação das necessidades básicas da criança no começo de sua vida. Nesta época a criança deseja gratificação imediata e não tolera frustração. Entretanto na medida que cresce terá que adaptar-se às exigências e condições impostas pelo meio.

Para esta adaptação diferencia-se do ID uma nova parte do aparelho psíquico o Ego que terá como função principal agir como intermediário entre o Id e o mundo externo.

Como intermediário entre o mundo interno ( Id) e o mundo externo, o Ego exerce uma série de funções, entre elas, aprende a controlar as demandas dos impulsos, decidindo se estes devem ser satisfeitos imediatamente, mais tarde ou nunca. Em relação ao mundo externo, percebe os estímulos, avaliando sua qualidade e intensidade a partir de lembranças e experiências passadas, protege-se dos estímulos percebidos como perigosos, aproveita os estímulos favoráveis e realiza modificações no meio, que possam resultar em benefícios da própria

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pessoa. Em outras palavras, são funções do Ego: perceber, lembrar, pensar, planejar e decidir.

O SUPEREGO A proporção que se desenvolve, a criança descobre que certas demandas do

meio persistem sob a forma de normas e regras estabelecidas. Desta forma o Ego tem que lidar repetidamente com os mesmos tipos de problemas e aprender a encontrar para estes, soluções socialmente aceitáveis. O indivíduo entretanto, não precisará, indefinidamente parar para pensar cada vez que isto ocorrer. A decisão far-se-á automaticamente pois as regras e normas impostas pelo mundo externo vão se incorporar na estrutura psíquica constituindo o Superego. Ele representa a resposta automática, “certo” ou “errado”, que surge na pessoa diante de várias situações que exigem tomada de posição.

CONSCIENTE, PRÉ-CONSCIENTE E INCONSCIENTE

Topograficamente, o aparelho psíquico esta dividido em três planos ou sistemas: consciente, pré-consciente e o inconsciente.

CONSCIENTEO consciente é uma parte relativamente pequena e inconstante da vida

mental de uma pessoa. Corresponde a tudo aquilo em que o indivíduo está ciente em determinado instante e cujo conteúdo provém de duas fontes principais: o conjunto dos estímulos atuais, percebidos pelo aparelho sensorial e as lembranças de experiências passadas, evocadas naquele instante.

PRÉ-CONSCIENTEÉ a instancia onde se encontram tudo o que pode ser lembrado no instante

seguinte, em outras palavras, as lembranças e demais materiais psíquicos que são facilmente recuperáveis pertencem ao pré-consciente.

INCONSCIENTEResta área da vida psíquica, onde se encontram os impulsos primitivos que

influenciam o comportamento e dos quais não se tem consciência e um grupo de idéias carregadas emocionalmente, que uma vez foram conscientes, mas em vista de seus aspectos intoleráveis foram expulsas da consciência para um plano mais profundo, de onde não poderão vir à tona voluntariamente.

O inconsciente nunca é acessível direta e claramente, só podendo ser explorado através da análise de suas manifestações, tais como os sonhos, os lapsos, os atos falhos, do discurso do paciente em análise, etc. Grande parte das

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As três partes da estrutura psíquica não podem ser consideradas isoladamente no seu desenvolvimento e funcionamento. Elas são interdependentes: O Ego desempenha papel de integrador lidando simultaneamente com as demandas do Id, do Superego e do mundo externo.

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manifestações do comportamento humano é determinada pela ação dos conteúdos inconscientes. Ele é atemporal.

No que diz respeito às partes da estrutura psíquica, o Id é inteiramente inconsciente. O Ego, é parte consciente ( e pré-consciente) e parte inconsciente. O superego sendo a incorporação no psíquico, dos padrões autoritários e idéias da sociedade é inconsciente na medida que funciona automaticamente, mas passível de compreensão consciente, uma vez que se originou do Ego no seu contato com o mundo externo.

OS MECANISMOS DE DEFESA

CONCEITOAtravés do longo período de desenvolvimento a personalidade adquire

várias técnicas psicológicas pelas quais tenta defender-se, estabelece compromisso entre impulsos conflitantes e alivia tensões internas. Essas atividades mediadoras e integradoras são funções do Ego e constituem mecanismos internos de controle selecionados inconscientemente e operados automaticamente

A personalidade desenvolve estas defesas planejadas para lidar com a ansiedade, os impulsos agressivos, as hostilidades, os ressentimentos e as frustrações. Todos nós fazemos uso contínuo dos mecanismos de defesa, em si mesmo eles não são necessariamente patológicos.

O tipo de mecanismo selecionado inconscientemente para satisfazer as necessidades de tensões emocionais e proporcionar uma defesa contra a ansiedade, a extensão do seu emprego e até que grau ele distorce a realidade, domina o comportamento e perturba o ajustamento com os demais determina a medida da “saúde mental”.

OBJETIVOSOs mecanismos de defesa tem funções protetoras e alguns deles são

empregados por todos nós na vida cotidiana, para conseguir a estabilidade emocional. Podem ser usados para auxiliar na integração da personalidade, apoiando-se na adaptação ao meio e nas relações interpessoais . Entretanto seu uso pode ser feito de maneira inadequada ou mesmo destrutiva, tornando-se em si mesmos, ameaças para o bom funcionamento do Ego, levando ao aparecimento de distúrbios psicológicos.

TIPOS DE MECANISMOS DE DEFESA

COMPENSAÇÃOÉ um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo procura compensar uma

deficiência real ou imaginária. A pessoa de baixa estatura, mas possuidora de traços agressivos e dominadores é um exemplo de compensação familiar á todos.

DESLOCAMENTOAtravés desse mecanismo, um impulso ou sentimento é inconscientemente

deslocado de um objeto original para um objeto substituto. O deslocamento é um dos mecanismos fundamentais da neurose conhecida como fobia. Pelo deslocamento o indivíduo é protegido do sofrimento que resultaria da consciência

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da real origem de um problema. Seus efeitos podem vir à tona, mas o motivo original é disfarçado.

FANTASIAAs fantasias podem ser inconscientes, isto é, formadas no próprio

inconsciente ou terem sido conscientes e depois recalcadas. A fantasia reveste-se de um caráter patológico quando tende a impedir continuamente a resolução de conflitos a satisfação real dos impulsos vitais e o contato com a realidade.

FORMAÇÃO REATIVAMecanismo inconsciente pelo qual atitudes, desejos e sentimentos

desenvolvidos pelo Ego são a antítese ( o contrário) do que é realmente almejado pelos impulsos. Na formação reativa, o impulso inconsciente, em geral, consegue uma indireta satisfação.

IDENTIFICAÇÃO OU INTROJEÇÃOA criança absorve as atitudes e os padrões de comportamento de seus pais

e de outras pessoas significativas para ela. Como mecanismo de defesa e identificação pode ser definida como um processo inconsciente, isto é, não envolve uma deliberação consciente , nem uma simples imitação.

NEGAÇÃOÉ um dos mais simples e primitivos mecanismos de defesa. Consiste no

bloqueio de certas percepções do mundo externo, ou seja, o indivíduo frente a determinadas situações intoleráveis da realidade externa, inconscientemente nega a sua existência para proteger-se do sofrimento.

PROJEÇÃOÉ o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa, não aceitos

conscientemente são imputados a outrem, sem levar em conta os dados da realidade. Atuando como uma defesa contra a angustia a projeção se dirige para fora e atribui a outras pessoas aqueles traços de caráter, atitudes, motivos e desejos contra os quais existem obsessões e que se quer negar.

RACIONALIZAÇÃODepois de termos agido em resposta a motivos não conhecidos, formulamos

razões apresentáveis que acreditamos terem determinado nossa conduta, embora elas nada mais sejam do que justificativas. Este mecanismo proporciona explicações intelectuais racionais do comportamento que, na realidade é determinado por motivos não conhecidos.

RECALQUE ( REPRESSÃO) É o processo automático que mantém fora da consciência impulsos, idéias

ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem tornar-se conscientes através da evocação voluntária.

SUBLIMAÇÃO

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O mecanismo pelo qual esta energia é transformada e dirigida a objetivos socialmente úteis é conhecido como sublimação. Necessidades instintivas e impulsos inaceitáveis encontram uma abertura e um modo de expressão aceitáveis quando a ansiedade surgida da ameaça dessas necessidades e desses impulsos é canalizada para padrões de aceitabilidade social.

DISSOCIAÇÃONa dissociação certos aspectos da atividade da personalidade escapam ao

controle do indivíduo, separam-se da consciência normal e assim agregados funcionam como um todo unitário. O ocasionalmente, entretanto, em uma pessoa na qual existe uma ativa incompatibilidade entre elementos reprimidos em sua vida mental e o resto de sua personalidade, os componentes reprimidos podem escapar das forças que os estão reprimindo, separar-se da consciência habitual, organizar uma personalidade à sua maneira e assim determinar o comportamento. Esta personalidade nova ou secundária tem sua própria consciência, que não se recorda da personalidade comum ou primária e executa atos independente dela.

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O COMPORTAMENTO HUMANO E SUAS IMPLICAÇÕES NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Cada pessoa adquire modos de reação ou padrões de comportamento com os quais procura responder aos problemas específicos de cada estágio de seu desenvolvimento. No decorrer da vida, tende a repetir estas formas de conduta na sua maneira de ser ou de se relacionar com os outros. Outra forma de caracterizar as pessoas segundo seus temas predominantes baseia-se em síndromes patológicas. Assim temos histéricos, obssessivos, esquizóides, paranóides, perversos etc.

O HISTÉRICO - Usa a repressão como defesa contra impulsos inaceitáveis principalmente os de ordem sexual. Chama a atenção o narcisismo, a agressividade, o exibicionismo, a dissociação ideo-afetiva, a dramaticidade, a labilidade emocional, a pseudo sexualidade etc., na formação desse caráter contribui fixações orais e edípicas.

O OBSSESSIVO - Procura controlar os impulsos sendo meticuloso, ordeiro, escrupuloso, obstinado, parcimonioso, usando mecanismos de defesa como formação reativa, negação e intelectualização. Caráter obssessivo e caráter anal são praticamente sinônimos.

O ESQUIZÓIDE - Comporta-se com exagerada timidez e retraimento, temendo estabelecer relações intimas com os outros. As pessoas esquizóides em geral tiveram relações emocionalmente dolorosas com figuras importantes, durante as primeiros anos de vida e, como resultado, levantaram barreiras defensivas entre si e os demais.

O PARANÓIDE - Usa a projeção como defesa contra o reconhecimento de impulsos intoleráveis em si mesmo e que são atribuídos aos outros. Pela deficiência no estabelecimento de limites nítidos entre a realidade interna e externa, o indivíduo sente-se constantemente ameaçado, sendo hipersensível a críticas e opiniões como se o mundo estivesse contra ele.

O PERVERSO - Tem com temário central do seu comportamento, objetalizar o outro, isto é, manipula as pessoas à sua volta, para atingir os seus propósitos. Usa os que estão ao seu redor sem qualquer compaixão. O extremo deste tipo é o psicopata, que mata e dificilmente é apanhado. Alguns traços de perversão geralmente estão presentes todos os tipos de personalidade.

As diferentes formas de reação aprendidas no desenvolvimento da personalidade é que acabam por constituir, no seu conjunto, o estilo pessoas do indivíduo relacionar-se com o meio.

Quando um indivíduo procura por um médico, ou assistência para seu problema de saúde, naturalmente ele se apresenta com uma doença, mas por trás desta, existe uma personalidade com seus padrões de comportamento habituais,

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reações peculiares à idade e todo um conjunto de atitudes, opiniões e crenças a respeito da própria medicina, de hospitais e dos postos de saúde.

Nestas situações, diante da tensão e do stress causado pela doença o indivíduo tende a exacerbar o seu ‘estilo pessoal de comportamento’ e intensificar o uso de seus mecanismos de defesa, provocando inúmeras dificuldades nos seus relacionamentos interpessoais, muitas vezes deteriorando as suas relações com os profissionais de saúde que irão atendê-los, se estes não possuírem preparo suficiente para lidar com estas situações.

Devemos considerar, que os profissionais de saúde, também possuem, cada um o seu ‘estilo pessoal de comportamento’ resultante do desenvolvimento da sua personalidade, e vão reagir de acordo com ela, tornando-se assim mais um complicador ou facilitador das relações interpessoais entre paciente e profissional de saúde.

RELACIONAMENTO INTERPESSOALAs relações interpessoais desenvolvem -se em decorrência do processo de

interação.Em situação de trabalho, compartilhadas por duas ou mais pessoas, há

atividades predeterminadas a serem executadas, bem como interações e sentimentos recomendados, tais como: comunicação, cooperação, respeito, amizade. À medida que as atividades e interações prosseguem, os sentimentos despertados podem ser diferentes dos indicados inicialmente e então - inevitavelmente - os sentimentos influenciarão as interações e as próprias atividades. Assim, sentimentos positivos de simpatia e atração provocarão aumento de interação e cooperação, repercutindo favoravelmente nas atividades. Por outro lado, sentimentos negativos de antipatia e rejeição tenderão à diminuição das interações, ao afastamento, à menor comunicação, repercutindo desfavoravelmente nas atividades.

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ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO ACIDENTE DE TRABALHO

Quando as necessidades básicas do indivíduo encontram-se satisfeitas, pode-se dizer que existe um estado de equilíbrio dinâmico do ser humano e seu universo, existindo portanto segurança, isto é, o afastamento de todo o perigo; estado do que nada tem a temer.

Quando se observa um desequilíbrio em qualquer necessidade básica, pode-se dizer que sua segurança está afetada. Não só a segurança física, econômica, religiosa, mas uma segurança que está ligada a todas as necessidades que é a emocional.

Segundo Freud o Ego funcionaria como elemento intermediário nas relações do indivíduo com o mundo, visando soluções harmônicas entre a sua realidade interna e externa.

Qualquer desequilíbrio das necessidades básicas é percebida pelo Ego como sinal de perigo para o qual são mobilizados mecanismos e defesas, visando soluções adequadas na tentativa do restabelecimento da homeostase (equilíbrio).

O acidente de trabalho, é uma situação particular, na qual as necessidades básicas do organismo estão afetadas e consequentemente a segurança emocional também comprometida.

De um modo geral o indivíduo inseguro emocionalmente pode apresentar-se ansioso, tenso, angustiado, desconfiado, com medo, raiva ou temor.

Quando o indivíduo sofre um acidente, o primeiro fator que interfere em sua segurança emocional é o medo do desconhecido, que irá gerar suas ansiedades e angustias. O acidente, provoca uma mudança na vida normal do indivíduo que poderá ocasionar, entre outras coisas, um distúrbio da auto imagem e auto-conceito, esta experiência pode deixar o indivíduo inseguro, pois lhe traz a conscientização de sua vulnerabilidade.

Se houver hospitalização, a insegurança pode aumentar, pois acarreta medo de algum acidente de tratamento, a incerteza sobre a competência das pessoas que lhe darão cuidados, o sentimento de solidão, o próprio ambiente hospitalar impessoal e diferente de sua casa, o receio de lhe darem alta antes do tempo. Medo de sentir dor, do equipamento, de ser manuseado, cortado, de ser tratado impessoalmente, medo de perder o auto-controle, medo da morte, de dar trabalho às pessoas, da dependência física, sentimentos estes originários das fantasias.

As diferenças individuais como idade, sexo, posição sócio econômica e número de vezes em que ficou doente ou hospitalizada, vão influir na maneira de como uma pessoa expressará sua insegurança emocional.

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COMPETÊNCIA EMOCIONAL

Cinco emoções básicas: MEDO, RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO.

Tais padrões emocionais, internalizados e perpetuados em sobreviventes no processo de evolução das espécies, continuam úteis até hoje nos estados de emergências.

Em alta velocidade, as ações desencadeadas pelo nosso cérebro reptiliano (= sistema límbico – corpo amigdaliano) são de um automatismo incrível em defesa da vida. Não há tempo para o cérebro refletir. Toda a agressividade animal é mobilizada no combate.

De repente, o homem moderno, que dispõe de armas mortíferas de fácil acesso, pode entrar em raiva numa situação banal do cotidiano e, intempestivamente, Ter o seu emocional dominando o racional. Assim acontecem agressões verbais, morais e físicas entre colegas, amigos e até entre amantes, culminando com desfecho trágico. O pior é que, em uma grande maioria das vezes, o uso de palavras, tons, gestos e posturas, interpretados inadequadamente, podem causar sérios danos aos relacionamentos, se não à saúde e à própria vida humana, pela expressão de emoções e condutas perniciosas ou assasinas!

Aprender a leitura das emoções em si próprio e nos outros é essencial. A possibilidade de refrear o IMPULSO EMOCIONAL permite ao indivíduo adquirir uma força poderosa. Como disse Maomé:

“O mais forte é aquele que é capaz de conter a raiva na hora da ira”.

Esta verdade traduz um dos pontos cruciais da aptidão emocional: discernir, ao sentir a emoção, qual a que convém e a que não convém expressar e atuar. Em outras palavras, a chamada “Inteligência Emocional” nos permite dominar AS EMOÇÕES NOSSAS, DE CADA DIA, ao invés de deixar que elas nos dominem.

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A equação do sucesso pessoal, em termos de saúde física, psíquica e social, esteja na combinação de razão mais emoção.

SUCESSO = RAZÃO + EMOÇÃO

Como só usamos 10% do nosso potencial, podemos aprender a ampliá-lo no domínio do impulso emocional, e aplicar esta habilidade em nossas relações interpessoais. A chave para isto é o autoconhecimento, a capacidade que podemos adquirir – através de treinamento adequado – de entendermos os nossos próprios sentimentos mais sutis e conduzi-los para nortear as nossas condutas. De posse deste referencial interno (=INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL) é fundamental saber compreender as pessoas com as quais interagimos e, reciprocamente, compreender o que sentem, porquê sentem e como nos relacionarmos da melhor maneira possível. Esta capacidade de entender as motivações e de estabelecer uma relação cooperativa com as com as quais nos relacionamos constituem o que Gardner chamou de INTELIGÊNCIA INTERPESSOAL.

A soma das duas inteligências pessoais (INTRAPESSOAL + INTERPESSOAL) constitui a essência da COMPETÊNCIA EMOCIONAL, que é a base segura para o sucesso pessoal nos papéis que desempenhamos em nossas vidas.

O ALFABETO EMOCIONAL

Todos nós nascemos com uma programação genética para apresentar estas cinco modalidades de emoção (RAIVA, MEDO, TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO). Cada uma delas se manifesta independentemente da outra. Acreditamos que as emoções são excludentes entre si, não ocorrendo duas ou mais de uma só vez. Na prática podemos confirmar que “uma emoção exclui a outra”. Às vezes, por haver um trânsito rápido de uma emoção para outra, podemos Ter a impressão que estamos sentindo, simultaneamente, medo, raiva e tristeza. Na realidade, o que está ocorrendo é o seguinte trânsito em alta velocidade.

Desde o genial estudo de Darwin, no seu “Tratado sobre emoções nos animais superiores e no homem” em que ele chamou a atenção para o poder das

emoções, de induzir movimentos, conforme expressa a etimologia da palavra (EMOVERE, de Ex. = para fora; MOTION = movimento), sabemos que:o

O MEDO tem início súbito ou lento ou insidioso ( falso, pérfido, cilada, estratagema) e induz movimentos de evitação ou fuga.

A RAIVA induz movimentos impetuosos de ataque ou de defesa, aumentando a força corporal significativamente.

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RAIVA

MEDO TRISTEZA

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A ALEGRIA e o AFETO são aproximativos, enquanto

A TRISTEZA induz à cessação dos movimentos, não dá ímpeto e tem início insidioso.

Embora, `a primeira vista, pareça que existem três emoções ruins e duas boas, a verdade é que todas as cinco são importantes para nossa vida.

Por exemplo, diante de um grito súbito: INCÊNDIO!, é importante que você sinta MEDO, e não alegria ou afeto. Com medo, seu corpo é colocado repentinamente em estado de alerta para lutar contra o fogo ou fugir do fogo. Em ambas as alternativas o medo atua preservando nossas vidas.

A RAIVA gera força e energia para superar os obstáculos e adversidades. Todas as vezes que houver uma ameaça à sua vida, ou a sua condição de vida, a RAIVA se apresenta como a defesa natural, uma espécie de força vital que responde à ameaça de impotência. Como não existe uma emoção chamada CORAGEM, a RAIVA é a emoção que funciona como antídoto natural contra o medo, e permite o enfrentamento da situação temida ou perigosa, ao invés simplesmente de fazer o que parece mais cômodo: A EVITAÇÃO ou ESQUIVA.

Convém, de pronto, ressaltar que o ego adulto precisa estar ligado para que não haja confusão entre coragem e insensatez.

O que ocorre, na prática, é que o MEDO, RAIVA e TRISTEZA são emoções DESPRAZEROSAS ou, no jargão psiquiátrico, DISFORIZANTES, enquanto a ALEGRIA e o FETO são emoções prazenteiras ou EUFORIZANTES, sendo que a ALEGRIA expande o ego e tende a provocar movimentos sem finalidade pragmática alguma.

O AFETO expande a alma, engrandecendo-a de modo subjetivo. Correlaciona-se ao PRAZER, ao SEXO e ao AMOR, induzindo-nos a uma aproximação física tão grande que permite a reprodução e a proteção da prole.

A tabela abaixo sumaria a essência do que foi dito, correlacionando cada emoção aos fatores causais e aos efeitos ou consequências condutuais delas.

ESTÍMULO(causa)

EFEITO(emoção)

CONSEQUÊNCIA(conduta)

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Perigo Medo Fuga ou Luta

Obstáculo Raiva Agressão/Superação/Defesa

Perda Tristeza Paralização/Recuperação

Fome de contato Afeto Aproximação e Conjugação

Conquista Alegria Aproximação e Movimentos não finalistas

OS TRÊS TEMPOS DA EMOÇÃODiante de um estímulo do meio externo, o nosso corpo reage de acordo com

a circunstância, desencadeando uma das cinco emoções básicas. Desde a detonação da carga emocional no nosso tronco encefálico até o seu efeito corporal, podemos identificar três tempos:

1º TEMPO: O SENTIR é um processo intrapsíquico. Todo ser humano vem programado geneticamente para sentir todas as cinco emoções básicas. É natural e normal que tanto o homem quanto a mulher sintam MEDO, RAIVA, TRISTEZA, ALEGRIA e AFETO.

2º TEMPO: O EXPRESSAR é traduzir a emoção por palavras. É humano, pois se trata de um processo VERBAL. Até onde sabemos, só os humanos têm a possibilidade de exprimir o que estão sentido através da palavra. É o grande diferencial do homem para os demais animais: o poder da palavra.

Sendo as palavras símbolos mentais, a expressão verbal das emoções é um fenômeno extraordinário na vida humana. A comunicação interpessoal poderá ser saudável ou patológica em função das emoções expressas de modo sutil ou explícito, de modo adequado ou inadequado. Algumas trazem dúvida ou esperança, outras negam e outras afirmam determinados sentimentos.

3º TEMPO: ATUAR é a expressão corporal das emoções ou seja, o modo como a emoção sentida ou verbalizada se exprime através da linguagem do corpo.

Em suma, eis como OS TRÊS TEMPOS DAS EMOÇÕES podem ser resumidos em três PROCESSOS:

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SENTIR

EXPRESSAR

ATUAR

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Algumas pessoas preferem a expressão VERBAL, e outras a expressão CORPORAL DAS EMOÇÕES, a depender do treinamento recebido pelos pais na infância.

O filósofo Schopenhauer (1830) declarou:

“Manifestar cólera ou ódio pelas palavras é perigoso, ridículo e imprudente; não nos podemos vingar senão pelos atos. Os animais de sangue frio são os únicos venenosos.”

Ensinou-nos o mestre Jessé Accioly que as cinco emoções autênticas sofrem um processo terrível de repressão. Entre estas emoções, garante, a alegria é a mais boicotada.

Às vezes o disfarce atinge a expressão verbal da emoção, em razão da repressão sofrida no nosso processo educacional. O recurso mais comum é aprender a expressar as emoções por meio de nomes substitutos ou EUFEMISMOS.

O quadro abaixo dá uma idéia de DISFARCES SEMÂNTICOS com os quais rebuscamos as emoções autênticas.

Emoções autênticas

Nego ter:

Eufemismos usuais (nomes substitutos)E digo: Estou com:

MEDO Temor, receio, ansiedade, preocupação, angústia, timidez, vergonha, fobia, inibição, respeito, etc.

RAIVA Sentido, indignado, frustrado, irado, chateado, revoltado, etc.

TRISTEZA Nostalgia, melancolia, fossa, depressão, desmotivação, baixo-astral, etc.

ALEGRIA Contente, “de bom humor”, “numa boa”, “com sorte”, “satisfeito”, legal, mais ou menos, algo feliz, etc.

AFETO Carinhoso, excitado, doente, apaixonado, troncho, gamado, aloprado, etc.

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APRENDIZADO PEDAGÓGICO DAS EMOÇÕES

Diante das emoções autênticas, espera-se que os pais ou seus substitutos eventuais, inclusive MESTRES, adotem as seguintes condutas, consideradas adequadas à expressão da carga emocional da criança Natural:

EMOÇÃO DO FILHO (ou ALUNO) CONDUTA ADEQUADA DOS PAIS E MESTRES

MEDO PROTEÇÃO

RAIVA PERMITIR EXPRESSÁ-LA

TRISTEZA PROTEÇÃO E PERMISSÃO

AFETO COMPARTILHAR

ALEGRIA COMPARTILHAR

Entretanto, não é bem isso que se verifica na prática; cedo os pais ou figuras representativas na infância, na intenção de “dar o melhor aos filhos” tratam de educá-los. Em outras palavras, reprimem ou proíbem a livre expressão das emoções autênticas, impondo-lhes emoções substitutas. Assim, surgem as EMOÇÕES DE DISFARCE. Estas emoções “REBUSQUES” são consideradas DISFARCES ou falsas emoções, aprendidas mediante treinamento, visando obtenção de afagos, reconhecimento e reforços afetivos ( = carícias) bem como evitar responsabilidades.

DISFARCES: EVOLUÇÃO E CONCEITO

Diferente das emoções autênticas que são programadas geneticamente e se manifestam diante de estímulos no aqui-e-agora, aparecem as emoções substitutas ou “disfarces”. Essa divisão e discernimento das emoções, nestes dois tipos, representa uma importante contribuição de Eric Berne, e faz parte do corpo teórico da Análise Transacional.

O conceito de DISFARCE evoluiu bastante, desde o original de Berne, no qual declarava que “sentimentos se tornam disfarces quando o paciente aprende a explorá-los e coletá-los nos jogos psicológicos”, até Fanita English defini-los em 1971, como sendo “EMOÇÕES substitutas que se manifestam de forma repetitiva e estereotipada, e que são compensatórias de necessidades autênticas não satisfeitas, e que foram proibidas no passado”.

Eis algumas dicas para compreensão dos disfarces:

Sentimentos de disfarces surgem quando as carências bio-psico-afetivas não são preenchidas.

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Disfarces abrangem condutas desenvolvidas de modo intuitivo na infância diante de situações apercebidas como ameaçadoras à sua homeostase, as quais dando certo, em termos dos objetivos imediatos serem atendidos, a criança como tática secreta os fixa. O mecanismo é similar ao de um reflexo condicionado.

Na medida em que se repete (são repetitivas, inclusive pela compulsão de repetição) internaliza-se como uma estratégia de sobrevivência, parte do arsenal de comportamentos “úteis” adquiridos.

Quanto mais alguém pratica o disfarce, mais o trajeto nervoso fica facilitado, como no aprendiz de direção de carro, até se tornar um expert ou virtuose como piloto. Assim é o disfarçador. Neste ponto alguns descobrem vocação artística para o teatro, cinema e novelas ( = parte útil dos disfarces).

Os disfarçadores crônicos e inveterados, além de não viverem em plenitude, saem perdendo por se tornarem pouco confiantes e, menos ainda, confiáveis!

São exemplos comuns do disfarce:

Atitudes sarcásticas, irônicas ou cínicas, repetitivas.

Provocar briga na hora de amar.

Esquivar-se ao receber um abraço afetuoso.

Ficar embaraçado diante de uma anedota inocente.

Fingir que achou graça de um insulto.

Morder, em vez de beijar, beliscar em vez de afagar.

Fingir estar amando alguém, só para ter sexo.

A resposta ao estímulo é desproporcional em intensidade, ou injustificada e bem diferente do habitualmente praticado e aceito como adequado, pelo senso

comum.

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RESILIÊNCIA

O que é resiliência? É o termo que descreve as forças psicológicas e biológicas exigidas para atravessarmos com sucesso as mudanças em nossas vidas.

Vamos considerar o ciclo de vida. Ele é marcado por pontos críticos quando se trata de mudanças. Alguns desses pontos são previsíveis, como entrar na adolescência, se formar no 2º grau, casar, ser pai ou mãe, chegar á meia-idade, se aposentar. Outros pontos críticos, como fracassos pessoais ou profissionais, não são previsíveis; é provável que apareçam na vida de todos nós, mas como isso vai acontecer e quando não podemos prever.

Cada período de mudança é necessariamente estressante, pois envolve conflitos entre uma força poderosa que opera para manter as coisas exatamente como tem sido e outra que nos manda seguir adiante e assumir novas condições.

Tempos estressantes são, por sua própria natureza, destrutivos. Raramente ocorrem sem algum grau de dor e são acompanhados pelo risco de que talvez não consigamos atravessá-los com sucesso. A quantidade de confusão que vai acompanhar cada período particular de mudança será determinada de alguma forma pela intensidade e extensão das mudanças em andamento.

Entretanto, devemos enfrentar o fato de que todos vivemos em tempos radicalmente diferentes. Uma coisa é atravessar períodos de ruptura pessoal e se recuperar quando o mundo ao nosso redor é relativamente estável. Outra coisa bem diferente é ter de fazer isso quando mudanças no mundo são tão aceleradas. um de nós corre riscos maiores.

ENTÃO É NECESSÁRIO QUE AS PESSOAS POSSAM UTILIZAR E DESENVOLVER SUA CAPACIDADE DE SE ADAPTAR À MUDANÇAS QUE É A CAPACIDADE DE SER RESILIENTE.

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A PERSONALIDADE RESILIENTE

As pessoas que possuem um perfil de personalidade resiliente são aquelas que buscam ajuda, são motivados a fazer o melhor, procuram soluções.

As pessoas criativas tem maior possibilidade de atravessar períodos de stress de forma adequada, pois elas possuem um alto grau de habilidade para resolver problemas, dando novas opções e escolhendo as soluções mais adequadas aos vários dilemas, também parecem muito capazes de lidar com o desafio de aguentar ou recuperar a coerência pessoal em situações estressantes.

Isto proporciona, à pessoa resiliente, mais chances de pensar e agir com independência; de ter um forte, embora flexível, sentido de auto-estima; de ser receptiva a novas idéias; de revelar amplo espectro de interesse; tolerar incerteza e insegurança durante um longo período de tempo, mas razoável; gosta tanto de mistério quanto de coisas definidas; e se dedica à vida, ao trabalho e às pessoas com as quais está ligado dentro do contexto de uma significativa filosofia de vida.

Existem certas características na personalidade resiliente: criatividade; capacidade de suportar a dor; percepção de si próprio e das coisas que estamos passando em determinada fase de nossas vidas; independência de espirito; auto-respeito; habilidade de recuperar a auto-estima quando essa diminuiu ou foi temporariamente perdida; capacidade de aprender; habilidade de fazer e manter amizades; liberdade na dependência dos outros, com o talento especial de determinar os limites da profundidade da nossa dependência; uma perspectiva de vida que oferece uma filosofia vital, evolutiva, através da qual podemos interpretar todas as nossas experiências e extrair alguma medida de significado pessoal.

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AS RELAÇÕES EMPRESA-PESSOA

Toda empresa é um conjunto sociocultural organizado para a realização de serviços e implica num sistema de redes, status e papéis. A coordenação das atividades é possibilitada através da divisão de trabalho, hierarquia, autoridade e responsabilidade. Tais atividades visam à satisfação das necessidades organizacionais, mas dependem da eficiência dos indivíduos.

Na cultura empresarial o indivíduo é visto de forma incompleta, apenas por habilidades especificas para a realização de tarefas. Assim, durante a relação indivíduo - empresa, há uma cisão do comportamento: de um lado a força do trabalho com subordinação às regras da empresa, de outro o vivenciar, as emoções, a vida individual.

O processo de firmar contrato de trabalho caracteriza-se por acatar às normas, valores e procedimentos comuns e coletivamente aceitos naquela organização. “ O homem organizacional leva toda sua potencialidade psíquica, física, social, mental sua características anatômicas, fisiológicas e sensitivas para o espaço da empresa.

O contrato psicológico de trabalho caracteriza-se por um conjunto de expectativas que se estabelecem entre o indivíduo e a empresa à respeito das responsabilidades, remuneração, benefícios, etc. Este é um fator decisivo no processo de adaptação da pessoa na empresa e que no entanto, são geralmente propostos pela empresa em forma de modelos estatísticos e limitadores, visando um enquadramento homogêneo ao cargo e a função, gerando com isto um hiato cada vez maior, que o homem moderno muitas vezes não tem como compensar senão através de sintomas( stress).

Mesmo diante de desses dados, o aparecimento de problemas no indivíduo é ainda pouco previsto antes do vinculo empregatício. A vida moderna, as condições atuais de trabalho, a cobrança da produtividade e da qualidade total, tornam o trabalho cada vez mais estressante e insensível às condições humanas. A maioria das empresa coloca a produção como o mais importante, como o objetivo que deve ser cumprido a qualquer peço. Os trabalhadores sacrificam finais de semana, feriados e fazem hora-extra para conseguir concluir a demanda da empresa, sem recompensa adequada. Isto gera um nível muito grande de ansiedade no trabalhador, pois ele se vê privado de seu lazer, sua vida familiar, seu descanso, para dar conta do trabalho. Como conseqüência há um aumento das doenças psicossomáticas relacionadas ao trabalho.

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O homem não pode ser colocado no mesmo patamar que as máquinas para a

execução do trabalho. O lazer e o descanso são primordiais para a manutenção da

qualidade de vida e da saúde.

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A organização do trabalho e a doença .

O sofrimento invisível

Com raras exceções, todas as situações de que trataremos a seguir não

deixam entrever nenhuma doença mental caracterizada. Mesmo intenso, o

sofrimento é razoavelmente bem controlado pelas estratégias defensivas, para

impedir que se transforme em patologia. Resta saber se as descompensações são

sempre evitáveis ou evitadas. As neuroses, psicoses e depressões em situação de

trabalho são compensadas, precisamente, pela utilização dos sistemas defensivos

descritos anteriormente. Se admitirmos a possibilidade de descompensação,

devemos nos perguntar porque não vemos nenhum vestígio dela na fábrica, na

oficina, no escritório. Toda descompensação psiconeurótica traduz-se,

provavelmente, por uma queda no desempenho produtivo. Assim, as neuroses e

psicoses descompensadas são imediatamente detectadas através dos critérios de

rendimento na produção, freqüentemente os primeiros que aparecem, num quadro

psicopatológico. A punição sistemática é a exclusão imediata do trabalho.

Quando o limiar coletivo de tolerância não é ultrapassado, pode acontecer

que um trabalhador, isoladamente, não consiga manter os ritmos de trabalho ou

manter seu equilíbrio mental. Forçosamente, a saída será individual. Duas

soluções lhe são possíveis: largar o trabalho, trocar de posto ou mudar de

empresa. São as fórmulas encobertas pela rotatividade. A segunda solução é

representada pelo absenteísmo. Mesmo sabendo que não está propriamente

doente, o operário esgotado e à beira da descompensação não pode abandonar a

fábrica sem maiores explicações. O sofrimento mental e a fadiga são proibidos de

se manifestarem numa fábrica. Só a doença é admissível. Por isso, o trabalhador

deverá apresentar um atestado médico, geralmente acompanhado de uma receita

de psicoestimulantes ou analgésico. A consulta médica termina por disfarçar o

sofrimento mental: é o processo de medicalização, que se distingue bastante do

processo de psiquiatrização, na medida em que se procura não-somente o

deslocamento do conflito homem-trabalho para um terreno mais neutro, mas a

medicalização visa, além disso, a desqualifição do sofrimento, no que este pode

ter de mental.

As descompensações dependem, em última instância, da estrutura das

personalidades, adquiridas muito antes do engajamento na produção. O

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surgimento de uma descompensação psiconeurótica não deixa de colocar

algumas questões que ainda não foram resolvidas. A estrutura de personalidade

pode explicar a forma sob a qual aparece a descompensação e seu conteúdo.

Mas não é suficiente para explicar o momento "escolhido" pela descompensação.

Certos trabalhos consagraram-se ao estudo e à caracterização das situações reais

que influenciam as descompensações. Mesmo que a realidade tratada nas

descompensações não tenha nenhum poder patogênico, a não ser pelo conteúdo

que veicula, admitamos que a realidade, mesmo sem nenhuma ocorrência

específica, pode favorecer o surgimento de uma descompensação. Deve-se levar

em consideração três componentes da relação homem-organização do trabalho: a

fadiga, que faz com que o aparelho mental perca sua versatilidade; o sistema

frustração/agressividade reativa, que deixa sem saída uma parte importante da

energia pulsional; a organização do trabalho, como correia de transmissão de uma

vontade externa, que se opõe aos investimentos das pulsões e às sublimações. O

defeito crônico de uma vida mental sem saída mantido pela organização do

trabalho, tem provavelmente um efeito que favorece as descompensações

psiconeurótica.

A doença somática

Quando as defesas caracteríais e comportamentais não conseguem se

exercer durante o trabalho, há o risco de uma acumulação de energia que não

consegue se descarregar. Para ser mais exato, é preciso saber que o inverso

também é possível: a contribuição exagerada de uma defesa comportamental ou

de um sistema defensivo caracterial, em detrimento de outros mecanismos de

defesa não colocados em prática, pode conduzir à desorganização. O efeito

principal da neutralização das defesas caracteríais e comportamentais é o

aparecimento de uma doença somática.

Para que compreendamos os efeitos da organização do trabalho na

economia psicossomática:

- As doenças somáticas aparecem sobretudo em indivíduos que apresentam

uma estrutura mental caracterizada pela pobreza ou eficácia das defesas mentais.

Para caracterizar esse tipo de estrutura mental, fala-se de neurose de caráter, de

neurose de comportamento ou de estruturação e de estado-limite.

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- As defesas de caráter e de comportamento são menos flexíveis que as

defesas mentais. Por causa disso, os sujeitos que apresentam esse tipo de

estrutura são mais frágeis diante dos acontecimentos da vida e das situações

conflitais do que os sujeitos que apresentam uma estrutura neurótica.

- Quando as defesas caracteríais e comportamentais não conseguem conter

a gravidade dos conflitos ou a realidade, tais sujeitos não descompensam de um

modo neurótico, nem de um modo psicótico. A desorganização à qual sucumbe o

doente não se traduz por sintomas mentais, mas pelo aparecimento de uma

doença somática (67).

- Ao contrário, a maioria das doenças somáticas aparece em sujeitos que já

apresentavam uma estrutura caracterial ou comportamental. Isso é válido para

todas as doenças, quaisquer que sejam sua origem ou natureza.

- Mas a somatização - processo pelo qual um conflito que não consegue

encontrar uma resolução mental desencadeia, no corpo, desordens endócrino-

metabólicas, ponto de partida de uma doença somática - pode atingir um sujeito

com estrutura neurótica ou psicótica verdadeira.

A referência a essa teoria facilita compreender como a organização do

trabalho age sobre a economia psicossomática. Basta enfatizar que a organização

do trabalho determina o conteúdo da tarefa através da divisão do trabalho. Não

somente o conteúdo significativo (mais restrito quanto mais profunda for a divisão

do trabalho), mas também o conteúdo ergonômico, quer dizer, os gestos, a

postura e os ambientes físicos e químicos que, de certo modo, visam à economia

toda do corpo em situação de trabalho. Quando se ocupa de uma tarefa, o

trabalhador, espontaneamente, procura arrumá-la numa ordem, numa seqüência

de gestos, escolhendo os instrumentos adequados, enfim, executando de certa

maneira uma organização de trabalho de compromisso. A mesma tarefa, realizada

por diferentes trabalhadores, nem sempre é realizada segundo um mesmo e único

protocolo. Ao contrário, a observação demonstra que os diferentes modos

operatórios, que aparecem espontaneamente, são extremamente personalizados.

A livre organização do trabalho é apenas uma estruturação do modo operatório,

que leva em consideração, as atitudes individuais, as necessidades da

personalidade, onde cada gesto harmoniza-se espontaneamente com as defesas

comportamentais e caracteríais. A organização do tempo em fases de trabalho e

em fases de descanso respeita as necessidades da economia psicossomática,

protege o corpo contra uma sobrecarga comportamental, que poderia ser

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prejudicial, e possibilita ao sujeito meios de canalizar suas pulsões durante o

trabalho.

Deste modo, a livre organização do trabalho torna-se uma peça essencial do

equilíbrio psicossomático e da satisfação. Ao inverso da livre estruturação do

modo operatório, que caracteriza o trabalho artesanal, a organização do trabalho

rígida e imposta, que caracteriza a maior parte das tarefas industriais, aparece,

inicialmente, como um obstáculo à livre estruturação da tarefa. A organização do

trabalho, fixada externamente pelas chefias, pode, em certos casos, entrar em

choque com o compromisso operatório favorável, que o trabalhador tenha

instituído espontaneamente. A organização do trabalho, neste sentido, pode

comprometer imediatamente o equilíbrio psicossomático.

Quanto mais rígida for a organização do trabalho, menos ela facilitará

estruturações favoráveis à economia psicossomática individual.

A organização do trabalho é causa de uma fragilização somática, na medida

em que ela pode bloquear os esforços do trabalhador para adequar o modo

operatório às necessidades de sua estrutura. As mesmas observações aplicam-se

à diminuição da longevidade dos trabalhadores à medida que se desce na

hierarquia socio-profissional, pois - via de regra - quanto mais se desce no status

social, mais rigidamente determinada é a organização do trabalho que os

trabalhadores enfrentam.

Nós propomos a seguinte hipótese: a organização do trabalho e, em

particular, sua caricatura no sistema taylorista e na produção por peças é capaz de

neutralizar completamente a vida mental durante o trabalho. Nesse sentido, o

trabalhador encontra-se, de certo modo, lesado em suas potencialidades e

obrigado a funcionar como uma estrutura caracterial ou comportamental que não é

a dele. Efetiva-se assim, artificialmente, pelo choque com a organização do

trabalho, o primeiro passo para uma desorganização psicossomática experimental.

Em nossa opinião, uma das maiores causas da doença somática é o

bloqueio continuo que a organização do trabalho - e, em especial, o sistema

taylorista - pode provocar no funcionamento mental.

Clinicamente, o fracasso do funcionamento mental e a inadequação da

organização do trabalho (conteúdo ergonômico) às necessidades da economia

psicossomática não se traduzem, imediatamente, em uma doença somática.

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Primeiro, aparece uma vivência de insatisfação, cuja expressão é específica e

distingue-se da insatisfação em relação ao conteúdo significativo da tarefa. Essa

vivência exprime-se, sobretudo, pela fadiga. Na realidade, não há nada mais

surpreendente do que observar essa vivência subjetiva tornar-se uma queixa

somática, mesmo não havendo uma doença autêntica. Talvez fosse mais correto

dizer mesmo que não há ainda uma doença somática. Compreendemos melhor,

nesta perspectiva, porque a fadiga não corresponde sempre uma excessiva carga

física de trabalho. Vários autores já debateram a fisiopatologia dessa fadiga

misteriosa, que não corresponde a nenhuma fisiopatologia concreta. Não há

nenhuma necessidade, na realidade, de se ter um desempenho físico excessivo

para justificar a sensação de fadiga. Quando a organização do trabalho entra em

choque com a economia psicossomática, o trabalhador deve desenvolver todos os

recursos de que dispõe para compensar o estreitamento - pela organização do

trabalho - de todos os canais comportamentais, caracteríais e mentais, para sua

energia pulsional. Por ser uma vivência subjetiva, vários autores desqualificam a

fadiga como se ela fosse quase uma simulação. Essa afirmação é, ao mesmo

tempo, falsa e verdadeira; mas, sobretudo, está incompleta, errada. A fadiga é

simultaneamente psíquica e somática. E psíquica porque corresponde a um

obstáculo para o psicossomático; e também por ser uma vivência subjetiva. Mas é

também, e principalmente, somática porque sua origem está claramente no corpo.

O que pode parecer estranho é que não corresponde a um esforço muito grande

dos órgãos do corpo, mas a uma repressão da atividade espontânea desses

órgãos (motores e sensoriais). A fadiga não provém somente da sobrecarga de

um órgão ou de um aparelho. Tal concepção é fortemente influenciada pela

herança histórica da biologia, da fisiologia e das experiências clássicas sobre

energética e esforço muscular. A fadiga pode encontrar sua origem também na

inatividade. Essa inatividade é fatigante porque não é um simples repouso mas, ao

contrário, uma repressão-inibição da atividade espontânea.

Em certas condições, emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma historia individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos, e uma organização do trabalho que os ignora. Este sofrimento, de natureza mental, começa quando o homem, no trabalho, já não pode fazer nenhuma modificação na sua tarefa no sentido de torna-la mais conforme às suas necessidades fisiológicas e a seus desejos psicológicos – isto é quando a relação homem- trabalho é bloqueada.

Neste sentido que a saúde do trabalho deve procurar ver o homem dentro de um contexto maior e não somente sua doença ou sintoma.

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